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Bordados da memória

Primeiro solo da atriz Agrinez Melo.  Foto: Divulgação

Primeiro solo da atriz Agrinez Melo. Foto: Divulgação

Agulhas, linhas e costura. Cortar, coser, cerzir com música e poesia é a proposta do espetáculo Histórias bordadas em mim, que estreia neste 19 de agosto e fica em cartaz até 26 de setembro, todas as sextas, às 20h, no Espaço O Poste Soluções Luminosas. O solo com a atriz Agrinez Melo aposta na delicadeza das memórias pessoais dessa mulher, negra, mãe, guerreira e trabalhadora.

O tom é confessional e aconchegante para expor dores, amores, alegrias e conquistas. A intérprete compartilha os fatos da própria vida com a plateia. Das memórias de infância às vivências atuais. Ela investe no resgate da fé no amor com a possibilidade de, no palco, ressignificar as próprias experiências.

“As histórias narradas, tão minhas, também serão do outro, pois se assemelham a diversas pessoas”, pensa Agrinez, que trabalha com a ancestralidade e a oralidade.

Neste primeiro monólogo a atriz, que também assinada produção, direção, dramaturgia, figurino e cenografia, contou com o apoio de consultores como Ana Paula Sá que assume a função de assessora em dramaturgia, além de Samuel Santos, Quiercles Santana e Naná Sodré.

Agrinez Melo criou uma campanha no site Catarse para arrecadar recursos para a produção do espetáculo. Quem puder e quiser colaborar pode fazer sua contribuição até hoje. O teatro pernambucano agradece.

Espetáculo fica em cartaz nas sextas na Espaço O Poste. Foto: Divulgação

Espetáculo fica em cartaz nas sextas na Espaço O Poste. Foto: Divulgação


FICHA TÉCNICA
Atuação, Produção, Dramaturgia, Figurino, Cenografia e Direção: Agrinez Melo
Assessoria em Dramaturgia: Ana Paula Sá
Assessoria em Direção: Naná Sodré, Quiercles Santana e Samuel Santos
Concepção Musical e Sonoplastia: Cacau Nóbrega
Assessoria em toadas: Maria Helena Sampaio (YaKêkêrê do Terreiro Ilê Oba Aganju Okoloyá)
Maquiagem: Vinicius Vieira
Aderecista: Álcio Lins
Cenotécnico: Felipe Lopes
Foto, Áudio e Filmagem: Lucas Hero
Direção e edição de vídeo: Taciana Oliveira (Zest Artes e Comunicação)
Assistente de produção: Nayara Oliveira
Designer: Curinga Comuniquê
Execução de figurino: Agrinez Melo e Vilma Uchoa
Assessoria de imprensa: Alessandro Moura

Serviço
Histórias bordadas em mim – Temporada Recife
Quando: De 19 de agosto a 26 de setembro, Todas as sextas, às 20h
Onde: Espaço O Poste Soluções Luminosas – Rua da Aurora, 529, Boa Vista
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (estudantes, professores e idosos)

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Vamos abraçar O Poste!

Para ajudar na campanha de manutenção do espaço o Programa “Mês Iluminado”, conta com várias atrações, como O Velho Diario da Insônia. Foto: Divulgção

Campanha em prol do espaço conta com várias atrações, como O Velho Diario da Insônia. Foto: Divulgação

O Espaço O Poste Soluções Luminosas é um ponto de resistência cultural do Recife. Desde 2014 funciona no bairro da Boa vista, no térreo do prédio da Rua da Aurora esquina com Princesa Isabel. É neste local que a trupe liderada por Samuel Santos desenvolve uma pesquisa continuada, de matriz africana na busca de uma ancestralidade corporal e vocal. O grupo se lança na investigação para aproximar o Candomblé e Umbanda dos processos de Michael Chekhov, Vsevolod Meyerhold, Eugenio Barba e Jerzy Grotowski. Seus trabalhos sustentam nos procedimentos de construção e reconstrução A Dança dos Ventos, a Antropologia Teatral, a Biomecânica, a irradiação, as entidades xamânicas e o imaginário dos Orixás.

Mas além da produção de seus espetáculos – como Cordel do Amor sem Fim-, O Poste abriga outros trabalhos, e é considerado um palco democrático de oficinas, ensaios e montagens. A sede não recebe subvenção pública para manutenção e, como já ocorreu com outros refúgios alternativos, estava ameaçada de interromper suas atividades. Mas artistas de perfis diferentes se uniram para dar uma força.

“A ideia surgiu de uma forma espontânea por parte dos artistas que estão na programação e que souberam que o Espaço O Poste está passando por dificuldades e resolveram fazer uma campanha. O primeiro grupo a nos procurar foi o Grupo de Vitória de Santo Antão que dispôs-se a  doar o cachê da apresentação para o espaço. Achamos isso muito digno. Depois veio Junior Barros e quando vimos vários outros artistas se juntaram nessa ação”, conta o diretor do grupo Samuel Santos.

Humor nordestino à exaustão em Deu com a Pleura. Foto: Divulgação

Humor nordestino à exaustão em Deu com a Pleura. Foto: Divulgação

Até o dia 18 de junho uma programação com espetáculos , leituras dramatizadas, solos de humor e textos poéticos movimentam O Poste. O clássico do teatro brasileiro O Santo Inquérito, de Dias Gomes, ganha leitura dramatizada sob direção de Renata Phaelante. A Cia. Experimental de Teatro de Vitória apresenta a peça O Peso da Carne. Deu Com a Pleura, da Aratu produções, também está entre as atrações e abastece a montagem com humor nordestino.

Entre poesias e canções da era do rádio, um homem reconstrói sua memória. A tragicomédia O Velho Diário da Insônia é costurada por poesias e canções. O tempo, o arrependimento e a saudade ganham relevo na encenação de Alessandro Moura, sob supervisão artística de Márcia Cruz.

Já o humorista Júnior Barros criou um show de humor exclusivamente para o Poste chamado Na Intimidade, desenvolvido por seu personagem Vagiene Cokeluche. A atriz Naná Sodré trafega pela submissão e libertação feminina com o espetáculo A Receita.

Vamos injetar um novo fôlego a esse espaço cultural alternativo. “Participe do nosso ‘Mês Iluminado’ e colabore com a manutenção. O Poste é seu!”, convida Samuel Santos

Programação
Mês Iluminado

02/06, 20h
Apresentação da 2 Gira de Diálogo dentro do projeto O corpo Ancestral Dentro da Cena contemporânea
Entrada Franca

03/06, 20h
Na Intimidade, com Vagiene Cokeluche
Performance com Jr. Barros
Um show de humor feito exclusivamente para o Poste pelo humorista Júnior Barros.
Ingresso: R$ 20

04/06, 20h
Espetáculo Peso da Carne – Uma casa com quatro irmãos, da Cia Experimental de Teatro (Vitória). Direção de César Leão.
Após a morte dos pais, dois deles escravizados por não ter o mesmo sangue. Começa um embate sobre o direito de ser dono de si mesmo ou de se pertencer a alguém.
Diante de um jogo de questionamentos e humilhações, os irmãos de sangue intimidam e pressionam os outros dois a abdicarem de suas liberdades e serem seus servos no contexto de que “tudo que existe tem o seu dono”.
Ingresso: R$ 20

Naná Sodré concentra na personagem várias mulheres do mundo que sofrem com a violência

Naná Sodré concentra na personagem várias mulheres do mundo que sofrem com a violência. Foto: Divulgação

05/06, 19h
A Receita, Com direção e texto de Samuel Santos
A todas as mulheres do mundo! Grita com o corpo a atriz carioca Naná Sodré, nesta obra tragicômica que descreve o universo de uma mulher num processo de libertação.
Num acerto de contas, a inominada confessa como temperou suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha…
Ingresso: R$ 20

09/06, 20h
A procura DoEU, Finalização do curso de formação/ Iniciação ao Teatro Antropológico.
Performance teatral que consiste em personagens criados a partir do trabalho realizado no Teatro. A partir da frase “A procura de que…” surgiram personagens mitológicos, religiosos e profanos. Um universo real e mágico.
Com Álcio Lins, Aline Gomes, Maria Belo, Luiz Sebastião, Gabirela Fregapane, Darlly Ravanelly, Mariana Lucena, Romulo Moraes, Erica Simona.
Ingresso: R$ 20

10/06, 19h30
Severinos, Virgulinos e Vitalinos.
Texto: Samuel Santos. Direção: Álcio Lins. Trilha sonora ao vivo: Víctor Chitunda. Elenco: Álcio Lins, Duda Martins e Lívia Lins.
Saga de dois filhos de artistas. Um, é filho de palhaço, e o outro, de uma atriz mambembe. Os dois partem para o Sertão na busca dos seus pais e acabam deparando-se com a morte (Severina), a violência (Virgulino) e, por fim, o sonho (Vitalino).
Ingresso: R$ 20

11/06, 20h
Espetáculo Peso da Carne – Uma casa com quatro irmãos, da Cia Experimental de Teatro (Vitória). Direção de César Leão.
Após a morte dos pais, dois deles escravizados por não ter o mesmo sangue. Começa um embate sobre o direito de ser dono de si mesmo ou de se pertencer a alguém.
Diante de um jogo de questionamentos e humilhações, os irmãos de sangue intimidam e pressionam os outros dois a abdicarem de suas liberdades e serem seus servos no contexto de que “tudo que existe tem o seu dono”.
Ingresso: R$ 20

12/06, 20h
O Velho Diário da Insônia, com texto, encenação e atuação de Alessando Moura.
A montagem é feita a partir de lembranças contidas em um diário, remontando uma noite de insônia de um homem à beira da loucura. A reflexão é sobre o tempo, a saudade e o arrependimento. Supervisão artística de Marcia Cruz.
Ingresso: R$ 20

16/06, 20h
Leitura Dramatizada O Santo Inquérito
Texto de Dias Gomes.
Direção Renata Phaelante
Elenco:Tiago Gondim, André Lombardi, Silvio Pinto, Renata Phaelante, Zanel Reis, Carlos Pinto, Eduardo Japiassu e José Barbosa
Conta a história da jovem Branca, condenada pelo tribunal do “Santo Iinquérito”. Sua maior heresia era crer que Deus está na Vida, na Natureza, no prazer, na Luz. Foi queimada viva, numa fogueira. Ela morava no interior da Paraíba, em 1750.
Ingresso: R$ 20

17/06, 19h
A Receita, Com direção e texto de Samuel Santos
A todas as mulheres do mundo! Grita com o corpo a atriz carioca Naná Sodré, nesta obra tragicômica que descreve o universo de uma mulher num processo de libertação.
Num acerto de contas, a inominada confessa como temperou suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha…
Ingresso: R$ 20

18/06, 20h
Espetáculo Deu com a Pleura
Deu Com a Pleura é um resgate da “matutice” que habita as grandes cidades. Na montagem, Deocrécio Gogó de Ganso, Tico Cachacinha e Deco Chupa Prego se reúnem no Bar do Seu Nado para colocar as conversas em dia. Entre um copo e outro, os amigos satirizam os costumes de quem vive na cidade grande. No bom e velho “nordestinês”, eles compartilham situações hilariantes, ao som de canções do universo boêmio.
O elenco é formado por Eduardo Gomes, Benedito Serafim, Alessandro Moura e Talles Ribeiro. A supervisão artística é assinada por Fábio Calamy.
Ingresso: R$ 20

Encerramento fechação
Com música, poesia e performances
Após o espetáculo Deu com a Pleura

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A inveja da carne

Alexandre Guimarães no espetáculo O Açougueiro. Lina Sumizono/Clix. Foto: Lina Sumizono/Clix

Alexandre Guimarães no espetáculo O Açougueiro. Fotos: Lina Sumizono/Clix

O monólogo O Açougueiro, com o ator pernambucano Alexandre Guimarães, recebeu elogios no 25º Festival de Teatro de Curitiba e ganhou até sessão extra no Fringe. Essa mostra paralela já revelou para o Brasil a encenadora, dramaturga e atriz Grace Passô e a companhia mineira Espanca!, com a peça Por Elise, na mostra paralela de 2005. Ou A Sutil Companhia de Teatro, em 2000, com A vida é Feita de Som e Fúria, dirigida por Felipe Hirsch com Guilherme Weber no papel principal. Foi também em Curitiba que o Angu de Teatro deu um salto em termos de projeção nacional.

Guimarães voltou ao Recife com mais fôlego para uma temporada. A peça, escrita e dirigida por Samuel Santos, está em cartaz às sextas-feiras de abril, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu.

A encenação destaca como a inveja é uma coisa perigosa e pode destruir vidas. Um açougueiro de um lugarejo do interior do Nordeste, apaixonado pela bela Nicinha, desperta a inveja na cidade. A felicidade é uma arma quente.

A grande ambição do protagonista é ter o seu próprio açougue. E se casar com a mulher que ama, a prostituta da cidade. O refrão “joga pedra na Geni…” é materializado pela intolerância e estupidez da sociedade, que inveja e condena seu relacionamento.

Com técnicas do Teatro Físico e Antropológico, o ator tira do corpo os sete personagens que, atravessam a trajetória de Antônio, produzindo um teatro altamente visual. O açougueiro vende o boi de abate. E encarna com o gestual, o boi de cercado, boi de rodeio, o boi de engorda, o boi reprodutor, que se metamorfoseiam quando tocados pelo amor. O intérprete se desdobra em muitos para narrar, entre aboios e toadas, essa história.

A dramaturgia é a transposição para o palco de uma conto de Samuel Santos. Ator e encenador traçam conexões entre a carne bovina, o gado, o consumo material e a ideia do corpo feminino, impuro, de Nicinha, a partir da visão dos seus juízes. A peça busca refletir sobre estigmas sociais. E apresenta um homem com expressão animalizada, cuja brutalidade é desconstruída pelo amor. Mas se vê ameaçado pela preconceito e zelotipia.

açougueiro. Lina Sumizono/Clix

Espetáculo está em cartaz no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, às sextas-feiras de abril

FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia, encenação e desenho de luz: Samuel Santos
Atuação: Alexandre Guimarães
Preparação corporal e figurino: Agrinez Melo
Maquiagem: Vinicius Vieira
Preparação vocal: Naná Sodré
Projeto gráfico: Curinga Comuniquê
Operação de Luz: Domdom Almeida
Fotografias: Lucas Emanuel / Curinga Comuniquê

SERVIÇO:
O Açougueiro – Temporada
Quando: sextas-feiras (01, 08, 15 e 22) de abril
Onde: Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu
Quanto: R$ 20,00 e R$ 10,00
Classificação: 16 anos

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Espaço O Poste celebra um ano de resistência

Agri Melo, Naná Sodré e Samuel Santos celebram um ano do Espaço

Agri Melo, Naná Sodré e Samuel Santos festejam o Espaço

Em tempos de teatros fechados e poucos questionamentos sobre a política cultural em Pernambuco, manter um espaço privado é um feito. E completar um ano torna-se um ato de resistência digno de aplausos. Pois então é hora de bater palmas para a turma de O Poste Soluções Luminosas, que que comemora neste sábado um ano de atividades do Espaço O Poste, situado na Rua da Aurora, esquina com Princesa Isabel. Só eles sabem os sacrifícios para chegar a esse dia festivo. Nós imaginamos.

O espetáculo Cordel do amor sem fim, que está em temporada no local, é apresentado normalmente. Seguido de uma performance do texto Navio Negreiro, de Castro Alves, com Samuel Santos acompanhado da bailarina Luzii Santos. A cantora Jéssica Gabriella exibe um repertório de canções africanas.

A noitada ainda prevê presentes para o público. Serão sorteados o livro A história do negro no teatro brasileiro, de Joel Rufino, que dedica um capítulo ao grupo O Poste, e uma tela do artista plástico Fernando Duarte.

Ao longo deste primeiro ano, o Espaço O Poste promoveu sessões de teatro, dança e música, oficinas de artes cênicas e abrigou apresentações dos festivais O Trema e Janeiro de Grandes Espetáculos.

As próximas batalha são a criação da Biblioteca Luminosa! e a campanha Sócio Iluminado, com a criação de um quadro de sócios. Parabéns Samuel Santos, Naná Sodré e Agri Melo, o núcleo criativo do grupo.

Teatro fica na esquina da Princesa Isabel com a Rua da Aurora

Teatro fica na esquina da Princesa Isabel com a Rua da Aurora

Serviço
Festa de um ano do espaço O Poste
Quando: Sábado, 5 setembro, às 20h
Onde: O Poste, Rua da Aurora, nº 529, loja 1 (prédio amarelo vizinho à Secretaria de Polícia)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10, meia

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Teatro do Parque – Um memorial afetivo

Enquanto a reforma não acaba, os frequentadores do local relembram histórias. Foto: Ivana Moura

Enquanto a reforma não acaba, os frequentadores do local relembram histórias. Foto: Ivana Moura

“Era um tempo de desejos inteiros. Um adolescer. Ia ao Teatro do Parque em busca do encontro. O cinema, os shows e um namorado tão especial, que tudo se fazia cores e o Teatro, era espaço do beijo e da vida em movimento. Ali tudo parecia possível. Ser feliz algo palpável. Ouvir os sons, passear pelas varandas e o jardim. Tão vivo!!! Um parque de buscas e eu com a jornada à frente… A vida saudosa e na intenção de futuro o mais breve.

Luciana Lyra, atriz, diretora, professora

“Não vou lembrar a primeira vez em que pisei os pés no Teatro do Parque, em meus 25 anos de moradora do Recife, mas nunca esquecerei de seus corredores da frente lotados de gente em busca de ingressos em dia de cinema a preço módico ou de festivais lotados como os de teatro e dança da capital pernambucana. Já até pisei no palco como artista – amadora, é verdade, mas me achando a bailarina de verdade, quando fui aluna (sempre uma honra) da Academia Mônica Japiassú, de professores como a própria Mônica, de outra xará, a Lira (do Grupo Experimental de Dança), de Heloísa Duque (do Vias da Dança). Tenho um amigo dos tempos de colégio, hoje morando bem longe daqui, que outro dia me confessou que recorda ter estado na plateia naquela noite, e que eu não estava nem fantasiada de odalisca de dança do ventre, nem de Madonna nos idos de Vogue, com corpete preto de renda e cinta-liga, dançando um jazzão daqueles de jogar a perna lá em cima (sim, guardo estes momentos na memória com carinho, mas não sem alguma vergonha de tê-los enfrentado).

Mas voltemos ao Parque e seu entorno. Lá, fui à primeira sessão de cinema com um ex-amado para assistir ao filme franco-hollywoodiano O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Era começo de semana e o ingresso ficava ainda mais barato. Ele tinha ido naquele dia fazer a carteirinha de estudante (ainda era aluno do curso de Engenharia na faculdade, por muito pouco não havia sido jubilado) para disputar o direito à meia-entrada, mas na hora H esqueceu o dinheiro e quem pagou os dois ingressos fui eu (na faixa de R$ 2 somados, isso lá pelos meados de 2003). E a gente riu da situação e se emocionou com a história de amor do filme vendo tudo do alto, sentados nas cadeiras laterais do primeiro andar.

Na trajetória como repórter da editoria de cultura de jornal local, onde permaneci por 14 anos, perdi a conta de quantos espetáculos acompanhei ali. Da Mostra Brasileira de Dança, ao Festival Recife do Teatro Nacional, de obras dedicadas ao público adulto ou infantil, de Du Moscovis ao Palhaço Chocolate, passando por Duda Braz abalando nas sapatilhas de ponta em suas incontáveis piruetas e grupos de escolas ou profissionais dançando e interpretando, enfim…

Quando o carioca José Mauro Brant trouxe um espetáculo de contação de histórias e músicas dos meus tempos de criança (se não me engano, Contos, Cantos e Acalantos ou algo assim), me emocionei na plateia, entrando em contato com a criança que mora dentro de mim, mas andava adormecida.

Saudades das escadarias laterais, das cadeiras bem juntinhas umas das outras, dos camarins nos bastidores, de pegar fila para comprar pipoca, ir ao banheiro ou simplesmente para entrar. Até para estacionar, era um caos. Teve uma época com o ar-condicionado quebrado (igualzinho ao Santa Isabel). Mas o que mais lembro é da saudade.

Tatiana Meira, jornalista

“Teatro do Parque, o que estão fazendo com você? A saudade não tem tamanho. Lugar icônico da cidade do Recife, o Parque era ponto de encontro de gente que consumia cultura em todos os níveis. Como não lembrar das sessões de cinema a preços populares, do projeto Seis e Meia com excelentes shows de MPB e das peças de teatro, seja em temporadas ou em festivais. Vivi lindos momentos naquele lugar como artista e como público. Assisti O Rei da Vela, A Vida é Cheia de Som e Fúria, Melodrama, Fábulas e tantos outros espetáculos que marcaram minha vida. Fui testemunha de um momento histórico, o protesto espontâneo do público na abertura do primeiro Festival de Teatro do Recife, na apresentação da peça A Pedra do Reino, com Ariano Suassuna e Arlete Sales (homenageada do festival) na plateia. Foi uma vaia como eu nunca vi na vida até hoje. Era o teatro vivo, pulsante. Foi o Teatro do Parque que abrigou a temporada do primeiro espetáculo para infância e juventude do nosso grupo, Pinóquio e Suas Desventuras, e tinha um público muito bom que consumia cultura naquele lugar. O seu centenário de portas fechadas, numa obra sem fim que ultrapassa os limites do descaso é algo muito triste de se ver. O Teatro do Parque merece abrir suas portas, se encher de vida e trazer de volta ao Recife as pulsações no coração da cidade.

Antônio Rodrigues, ator e diretor da Cênicas Cia de Repertório

“No Teatro do Parque eu assisti minha primeira peça teatral, Mito ou Mentira, de Luiz Felipe Botelho. Vi tanta coisa boa no projeto Seis e Meia. Vi Elomar, Xangai e Ângela Rô Rô. Vi peças infantis, vi dança e vi espetáculos na pracinha do Parque. Vi uma multidão assistir à peça adulta Concerto para Virgulino dentro do festival Peça a Nota. Vi Cinema Paradiso. Vi e fui visto. Foi no Teatro do Parque que fiz, dentro do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, A Terra dos Meninos Pelados. Foi lá que foi realizado o primeiro festival de vídeo do Recife e participei com o filme Matarás, de Camilo Cavalcante.
O teatro era meio que nosso escritório. Qualquer coisa:
– Vamos marcar no Teatro do Parque?
Ou
– Eu te espero no Teatro do Parque.
Quando não:
– Que horas a gente se encontra no Teatro do Parque?
Era nossa referência.
Eu te espero …
Eu espero Teatro …
Do Parque”
.
Samuel Santos, diretor do grupo O Poste Soluções Luminosas

Quer participar do nosso memorial? É só enviar seu depoimento, texto, poema, vídeo, para o e-mail satisfeitayolanda@gmail.com .

Para acessar outros depoimentos, é só acessar os links: Memorial 1 / Memorial 2.

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