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Vida de gado

O açougueiro, com Alexandre Guimarães, aborda temas do preconceito social e seus danos

O açougueiro, com Alexandre Guimarães, aborda temas como o preconceito social e seus danos

Para compor seus personagens do espetáculo O açougueiro, o ator Alexandre Guimarães fez pesquisas para se apropriar dos procedimentos em matadouros público e informal. Isso incluía a postura do homem que abate o boi, as reações do animal durante o processo, os cheiros e os sons. O solo dirigido por Samuel Santos, do grupo O Poste Soluções Luminosas, utiliza as técnicas do teatro físico e antropológico para compor a cena. Alexandre foi busca na Zona Rural de Pernambuco a inspiração para esse corpo extra cotidiano e para romper com os automatismos da rotina urbana.

Sua investigação leva para o palco algumas manifestações culturais de Pernambuco como o aboio, a toada, o reisado, a velação do corpo antes dos enterros. A peça também é costurada por cânticos.

O Açougueiro participa da 9ª Mostra Capiba de Teatro, do Sesc Casa Amarela, que reúne nove montagens em torno da ideia de território do ator solidário e da vastidão proporcionada pelo palco. A programação traz nove espetáculos de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Sergipe, até o dia 22.

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Guimarães se reveza em sete personagens, sendo o principal o sertanejo Antônio. A protagonista luta pelos sonhos de ser dono de um açougue e se casar com Nicinha. Mas a sociedade do entorno do casal exerce o poder de coerção e atua com preconceito para acabar com o relacionamento. E Antônio é abandonado por todos na cidade, menos pelo boi.

ENTREVISTA // ALEXANDRE GUIMARÃES

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Ator investiu suas economias no espetáculo, que não conta com patrocínios. Foto: Reprodução do Facebook

Primeiro gostaria de saber sobre a estética e a ética de O Açougueiro.
O Açougueiro é um ponto de virada. No final de 2014, eu vivia um daqueles momentos em que nos sentimos em dúvida sobre várias coisas. Tinha voltado de uma passagem pelo Sudeste onde fui aprofundar os estudos em audiovisual e tinha acabado de sair do grupo Cênicas, do qual participei por cinco anos. Sentia um vácuo… Mas desses questionamentos surgiu uma certeza que era o fazer teatral.
A estética do espetáculo é o jogo. Eu e Samuel Santos decidimos que esse trabalho era assumidamente um espaço para o intérprete. Buscamos trazer a simplicidade de elementos e cenário para que o público focasse nas nuances do intérprete em cada momento desse transformar. A peça acontece no Sertão, mas não queríamos trazer o óbvio, tipo carcaças de boi, mandacarus… A ideia é provocar a criação das imagens por parte do espectador.
Quanto à ética, sou ator, mas nesse momento da criação do projeto, quando percebi eu já estava produtor. E uma das decisões enquanto produtor foi aceitar que não posso abraçar tudo em um espetáculo. É preciso compartilhar funções… E tão importantemente quanto isso é saber que todos precisam ser pagos nessas funções. Isso cria e fortifica laços em um projeto. Convidei pessoas que de alguma forma tem ligação com minha história e que se identificaram com essa missão. Parece algo complexo mas é bem mais simples na prática. A chave é decidir fazer…

O que O Açougueiro trouxe para sua carreira?
Uma vez ouvi um amigo que disse que grandes ideias todos podem ter, mas a mágica está no concretizar.
Nesses 15 meses de vida do espetáculo já participei de festivais em Pernambuco, Paraná, Santa Catarina, Paraíba e agora estou em temporada até dezembro no Rio de Janeiro. Recebi alguns prêmios como o de melhor ator no Janeiro de Grandes Espetáculos JGE deste ano, o que pessoalmente é uma satisfação enorme. Mas isso também serve para alavancar ainda mais o espetáculo, para projetar ainda mais objetivos.
É um espetáculo quase camaleônico, se adapta às condições. Já fiz em grandes teatros tradicionais, espaços alternativos e até em praça pública no Interior de Pernambuco. Sinto um desejo quase que vital de levar meu ofício aos lugares onde não há acesso a esse teatro dentro da caixa cênica padrão. A peça fala de preconceito, intolerância, violência contra a mulher… Enfim, é preciso parar e falar desses temas com muita seriedade. O teatro tem essa característica de aguçar nossa reflexão através da arte. Mas depois de ir para tantos rincões eu também quis saber qual seria a resposta ao trabalho nos ditos grandes eixos da produção teatral (Rio-SP). E o Rio chegou antes… Foi bem difícil entrar nesse outro mercado…

A montagem é uma produção independente. Valeu investir praticamente todos os seus recursos no espetáculo?
Desde a montagem de O Açougueiro planejei um cronograma de ações que abarcasse 24 meses. E felizmente estou conseguindo cumprir as metas e o projeto segue vivo mesmo sem contar com leis de incentivo ou patrocínio. Adoraria tê-los, mas não tive sequer tempo de elaborar projetos de captação e decidi fazer com o investimento pessoal mesmo. Não era muito, na verdade era quase simbólico, mas o planejamento responsável fez toda a diferença. Como todo investimento, esse também envolve riscos, mas tenho conseguido seguir adiante financeiramente de maneira superpositiva e no lado do reconhecimento profissional tenho tido conquistas incríveis.

E então, o futuro.
O futuro é seguir focando nessa temporada no Teatro Poeira no Rio.
O Açougueiro tem a missão de propagar teatro…
Não sou um grupo ou coletivo. Sou um artista independente que buscava se colocar em um lugar onde a procura por pautas é gigante. Mas outra vez a característica de encontrar parceiros fez toda a diferença e graças ao ator e amigo Marcio Fecher, conheci um produtor no Rio que se encantou pelo projeto e entrou comigo nessa jornada em terras cariocas. Tudo isso gira muito, mas sempre volto ao pensamento original que me tocou há um ano: é preciso fazer. Ser ator é se colocar em sacrifício, e ser ator-empreendedor não foge a essa regra.

SERVIÇO
O Açougueiro – com Alexandre Guimarães – Recife – PE
Quando: Sábado, 15/10, às 20h
Onde: Teatro Capiba. SESC Casa Amarela (Av. Professor José dos Anjos, 1190. Bairro: Mangabeira) ​
Ingressos: R$ 20 e R$ 10
teatrocapiba@gmail.com
81 – 3267-4410
Duração: 45’
Classificação etária: 16 anos

O ATOR – Alexandre Guimarães é formado pela Escola Sesc de Teatro. Fez parte do grupo recifense Cênicas Cia de Repertório durante cinco anos. Em 2015, lançou sua primeira produção: O Açougueiro. Entre as montagens que participou estão Diabólica, com direção de  Antônio Rodrigues (2014); Auto do Salão do Automóvel, direção de Kleber Lourenço (2012); Senhora dos Afogados, direção de Érico José (2010/11); Pinóquio e Suas Desventuras, da Cênicas Cia de Repertório (2009); De Uma Noite de Festa, da Escola Sesc de Teatro (2009); Escola de Meninas, do Berlinda Tribo de Atuadores (2008).

Ficha Técnica
Intérprete: Alexandre Guimarães
Texto, encenação e plano Luz: Samuel Santos
Preparação vocal: Nazaré Sodré
Preparação corporal e figurino: Agrinez Melo
Maquiagem: Vinicius Vieira
Fotos/Ilustração: Lucas Emanuel

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A inveja da carne

Alexandre Guimarães no espetáculo O Açougueiro. Lina Sumizono/Clix. Foto: Lina Sumizono/Clix

Alexandre Guimarães no espetáculo O Açougueiro. Fotos: Lina Sumizono/Clix

O monólogo O Açougueiro, com o ator pernambucano Alexandre Guimarães, recebeu elogios no 25º Festival de Teatro de Curitiba e ganhou até sessão extra no Fringe. Essa mostra paralela já revelou para o Brasil a encenadora, dramaturga e atriz Grace Passô e a companhia mineira Espanca!, com a peça Por Elise, na mostra paralela de 2005. Ou A Sutil Companhia de Teatro, em 2000, com A vida é Feita de Som e Fúria, dirigida por Felipe Hirsch com Guilherme Weber no papel principal. Foi também em Curitiba que o Angu de Teatro deu um salto em termos de projeção nacional.

Guimarães voltou ao Recife com mais fôlego para uma temporada. A peça, escrita e dirigida por Samuel Santos, está em cartaz às sextas-feiras de abril, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu.

A encenação destaca como a inveja é uma coisa perigosa e pode destruir vidas. Um açougueiro de um lugarejo do interior do Nordeste, apaixonado pela bela Nicinha, desperta a inveja na cidade. A felicidade é uma arma quente.

A grande ambição do protagonista é ter o seu próprio açougue. E se casar com a mulher que ama, a prostituta da cidade. O refrão “joga pedra na Geni…” é materializado pela intolerância e estupidez da sociedade, que inveja e condena seu relacionamento.

Com técnicas do Teatro Físico e Antropológico, o ator tira do corpo os sete personagens que, atravessam a trajetória de Antônio, produzindo um teatro altamente visual. O açougueiro vende o boi de abate. E encarna com o gestual, o boi de cercado, boi de rodeio, o boi de engorda, o boi reprodutor, que se metamorfoseiam quando tocados pelo amor. O intérprete se desdobra em muitos para narrar, entre aboios e toadas, essa história.

A dramaturgia é a transposição para o palco de uma conto de Samuel Santos. Ator e encenador traçam conexões entre a carne bovina, o gado, o consumo material e a ideia do corpo feminino, impuro, de Nicinha, a partir da visão dos seus juízes. A peça busca refletir sobre estigmas sociais. E apresenta um homem com expressão animalizada, cuja brutalidade é desconstruída pelo amor. Mas se vê ameaçado pela preconceito e zelotipia.

açougueiro. Lina Sumizono/Clix

Espetáculo está em cartaz no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, às sextas-feiras de abril

FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia, encenação e desenho de luz: Samuel Santos
Atuação: Alexandre Guimarães
Preparação corporal e figurino: Agrinez Melo
Maquiagem: Vinicius Vieira
Preparação vocal: Naná Sodré
Projeto gráfico: Curinga Comuniquê
Operação de Luz: Domdom Almeida
Fotografias: Lucas Emanuel / Curinga Comuniquê

SERVIÇO:
O Açougueiro – Temporada
Quando: sextas-feiras (01, 08, 15 e 22) de abril
Onde: Teatro Luiz Mendonça – Parque Dona Lindu
Quanto: R$ 20,00 e R$ 10,00
Classificação: 16 anos

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Auto do salão do automóvel

Cena da montagem pernambucana Auto do salão do automóvel. Fotos: Divulgação

A montagem de Auto do salão do automóvel integra o projeto Transgressão em 3 atos, produzido pela atriz e jornalista Stella Maris Saldanha em parceria com Alexandre Figueirôa e Cláudio Bezerra. A ideia do projeto é ótima e foca em três grupos teatrais de Pernambuco e suas encenações. São eles o Teatro Popular do Nordeste (TPN), o Teatro Hermilo Borba Filho (THBF) e o Grupo Vivencial (Vivencial Diversiones era o nome da casa de espetáculos, em Olinda, e não o nome da trupe). A primeira peça montada foi Os fuzis da senhora Carrar, de Bertolt Brecht, que foi levada em 2010, como homenagem ao THBF.

A primeira encenação do Auto foi feita pelo TPN, em 1970. A direção seria de Hermilo Borba Filho, mas ele ficou doente e o médico o proibiu de fazer grandes esforços; então a tarefa foi repassada para o jovem diretor José Pimentel. Osman assistiu ao ensaio geral da peça e não gostou do resultado. Isso está registrado em cartas trocadas entre Osman e Hermilo, documentos que a produção teve acesso.

É uma ousadia montar Osman Lins, pela dificuldade que o texto impõe. E a produção merece admiração por isso.

Peça de Osman Lins foi encenada em 1970 pelo TPN

O cenário é o que mais se destaca. Formado por peças de veículos, carcaças de carros, o cenário está distribuído nos vários cantos do palco e isso já determina a encenação. Os atores também ocupam seus lugares em cinco pontos distintos e a partir disso fazem suas movimentações ora no centro ou em outro lugar do palco.

O elenco é formado pelos atores Alexandre Guimarães, Evandro Lira, Roger Bravo, Stella Maris e Zé Ramos, que fazem vários personagens, entre guardas de trånsito, motoristas e outros. A direção é assinada por Kleber Lourenço.  A montagem fez cortes no texto e deu agilidade a alguns fragmentos, com a utilização do diálogo. Mas esse ajuste não se opera a contento no todo da peça. Então é irregular a interferência na dramaturgia osmaniana.

O sempre bom José Ramos dá seu recado, mas permanence numa zona de conforto de tudo que já conquistou como ator. Lógico que é bom vê-lo no palco, pela força e vitalidade de intérprete. Mas poderia ir além. Roger Bravo cresce nos vários papeis que interpreta, levando em consideração o seu trabalho em Os fuzis da Senhora Carrar. A sempre linda em cena Stella Maris continua bela com sua postura cênica. Mas não há muitas variações entre os personagens que interpreta. Um pouco menos daquela postura professoral, assumida principalmente na voz, daria flexibilidade nas várias figuras que ela defende no palco. O quadro Cruzamentos me pareceu com indicações errôneas para que a atriz empreendesse o grande voo da encenação.

Roger Bravo e José Ramos estão no elenco

O texto de Lins é difícil de se instalar no palco. E mais de 40 anos após sua escritura pegar o caminho do trânsito caótico e da mobilidade urbana parece um reducionismo. Também não consigo perceber a força da mão da direção. O elenco como um todo não arrisca, pega o beco mais fácil, inclusive com alguns vícios. Não vejo transgressão na encenação. E chego à conclusão que esse Auto do Salão do automóvel não alcançou a grandeza de Osman Lins.

Stella Maris Saldanha

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Mais teatro e cinema

Neste sábado estreia o espetáculo Auto do salão do automóvel, com direção de Kleber Lourenço e Stella Maris Saldanha, José Ramos, Evandro Lira, Alexandre Guimarães e Roger Bravo no elenco. Esse projeto faz parte de uma trilogia: um resgate de montagens realizadas por companhias importantes na história do teatro pernambucano. Auto, por exemplo, texto de Osman Lins, foi encenada em 1970, sob direção de José Pimentel, pelo Teatro Popular do Nordeste (TPN). As sessões do espetáculo serão no Teatro Hermilo, sábados e domingos, às 18h, até o dia 21 de outubro.

Mas antes disso, Stella Maris e Cláudio Bezerra lançam hoje o documentário Os fuzis de dentro para fora. É um curta que mostra o processo de montagem de Os fuzis da senhora Carrar, primeira montagem da trilogia, de Brecht, que foi encenada em 2010, com Stella no papel principal. Será às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife.

Os fuzis da senhora Carrar foi a primeira montagem da pesquisa Transgressão em três atos. Foto: Val Lima/Divulgação

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Uma década de companhia

Cênicas realiza nova leitura de Mamãe não pode saber

A Cênicas Cia. de Repertório faz dez anos no dia 12 de junho. Para comemorar (até porque não é todo dia que um coletivo teatral completa uma década!), o grupo montou uma programação especial que começa hoje, no Espaço Muda. A companhia decidiu repetir a leitura de Mamãe não pode saber, realizada no dia 26 de abril. O texto é de João Falcão, foi montado na capital pernambucana na década de 1990, e tinha no elenco nomes como Aramis Trindade, Lívia Falcão e Magdale Alves.

Na leitura da Cênicas, o elenco é formado por Alexandre Guimarães, Ana Souza, Antônio Rodrigues, Bruna Castiel, Sônia Carvalho e Vinícius Vieira, com direção de Antônio Rodrigues. É um jogo divertido que consiste basicamente na interpretação de mais de um personagem por ator. Além disso, a história é cheia de personagem querendo se dar bem! Bruna Castiel se destaca. A jovem atriz tem uma voz forte e talento de sobra para ser lapidado. Uma grande aposta do nosso teatro nos próximos anos! A leitura será às 20h, com contribuição espontânea.

A programação continua no dia 11, também no Muda, às 21h, com ingressos a R$ 10. O grupo apresenta Que muito amou, uma adaptação do livro Os dragões não conhecem o paraíso, de Caio Fernando Abreu. A peça estreou em 2004. Nesse mesmo dia, a partir das 23h, será realizada a festa de dez anos e o lançamento Jornal Virtual – Cênicas Acontece, um informativo sobre as atividades do grupo. A festa é gratuita e outros artistas podem participar com performances.

No dia 18, o grupo reapresenta Que muito amou, às 21h. E no dia 22, às 20h, com contribuição espontânea, Bruna Castiel apresenta Natureza morta, com direção de Antônio Rodrigues. É o lançamento do projeto Cênicas Em Cena, solos construídos a partir das improvisações dos atores do grupo. Esse é ainda um experimento do que será um espetáculo com estréia prevista para agosto.

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