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Estreia de Mulheres em preto e branco no Recife

Duas mulheres em preto branco estreia hoje no Recife. Fotos: Ivana Moura

Duas Mulheres em preto e branco, a transposição para o palco do conto de Ronaldo Correia de Brito, que consta no livro Retratos Imorais, estreou este mês em Porto Alegre, dentro do Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas. (Confira aqui a matéria que escrevemos durante o festival). Muito mais do que por uma das atrizes ser gaúcha, ter estreado na capital do Rio Grande do Sul evidencia uma parceria com o próprio festival e com Luciano Alabarse, diretor do POA em Cena (que alardeou aos quatro ventos que adorou o espetáculo). A montagem também mostra que é possível estabelecer uma rede entre criadores. A bela direção é do carioca Moacir Chaves, que se estende à iluminação de Aurélio de Simoni. A cenografia de Fernando Mello da Costa investe numa larga cama desequilibrada, como símbolo de amor e traição.

Diferente das montagens do Coletivo Angu de Teatro, em que os contos se unem pela convergência temática, a encenação de Duas mulheres em preto e branco tem uma narrativa de uma única história, mesmo que isso também se dê com idas e vindas ao passado e ao pensamento das personagens. O texto de Ronaldo Correia de Brito não seria assim cronológico e de fácil digestão. As mulheres refletem sobre o sentido do existir.

A peça Duas mulheres em preto e branco tem uma cena potente. Pela narrativa de Ronaldo, pela direção de Moacir Chaves, que marca bem, explora o máximo o potencial das atrizes e cria um encadeamento entre narração e dramatização, tem um olhar generoso quanto às fraquezas humanas. A sonoplastia de Tomás Brandão e Miguel Mendes pontua os climas e dá sustentação para as subversões de tensões e intenções propostas pelo diretor.

Atrizes travam duelo verbal e psicológico no espetáculo

Quanto às atrizes, elas têm presença cênica. E se entregaram a papeis difíceis. O repertório gestual pode crescer. Por ser a figura “humilhada e ofendida”, a personagem de Paula de Renor é quem parte para o ataque. Com palavras, gestos e intenções. Talvez necessitasse de mais modulações nas falas, de jogar mais com as tonalidades diferentes, de brincar mais com as possibilidades sonoras produzidas pelo corpo. Se fosse possível comparar a atuação de Paula de Renor em Duas Mulheres em preto e branco, com sua performance em Carícias, poderia dizer que houve um crescimento como atriz. Mas ela tem condições de fazer seu personagem crescer ainda mais no palco.

Já a personagem de Sandra fala menos e não muda tanto de sentimentos quanto a “amiga/rival”; tira proveito de seus instrumentos vocais e corporais para compor uma figura mais cínica, mais pragmática. As duas juntas sabem tirar proveito das muitas oportunidades de humor do texto.

O espetáculo estreia hoje, às 21h, no Teatro Apolo. E vale ir ao teatro.

Serviço
Duas Mulheres em Preto e Branco
Quando: De sábado (29) a 21 de outubro. Sexta a domingo, às 20h.
Onde: Teatro Apolo – Rua do Apolo, 121 – Bairro do Recife, Centro do Recife
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: (81) 3355.3320

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Duas mulheres no POA em Cena

Duas mulheres em preto e branco estreou em Porto Alegre. Foto: Ivana Moura

Um beijo de um minuto e vinte segundos pode tirar muita gente do sério no espetáculo Duas mulheres em preto e branco. O incômodo pode chegar de alguma forma ao ver aquelas bocas que se comem, que se comem, que se comem. O que poderia ser excitante vira uma escavadeira a buscar as camadas mais profundas. A essa altura o público já sabe que Letícia e Sandra eram grandes amigas, que estudaram juntas, passaram incólume pelo regime militar, que faziam parte da esquerda festiva e que no fundo não acreditavam muito na política.

A peça estreou ontem, no 19º Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas e tem mais duas apresentações, hoje e amanhã, na capital gaúcha. No Recife, a montagem deve ficar em cartaz de 29 de setembro a 21 de outubro.

A atriz Sandra Possani interpreta Sandra, que é casada com Paulo. E Paula de Renor faz Letícia, que é casada com Miguel. Formavam um quarteto. Que se desfez com a separação de Sandra e Paulo e desabou de vez quando Letícia descobre que sua grande amiga Sandra é amante de Miguel. Mas no palco só estão as duas mulheres, com suas memórias. E as acusações e ameaças. São personagens despedaçadas.

Paula de Renor e Sandra Possani são dirigidas por Moacir Chaves

Como médicas, elas já ouviram muitos relatos de dor, mas desta vez elas vomitam frustações e medos. Fazem referências aos filmes de Visconti, Fellini e Pasolini. E tentam chegar a algum lugar. E se Letícia assassinasse Sandra, seria uma solução? A intimidação aparece em muitos momentos. E as matanças simbólicas ocupam o palco no embate entre essas duas atrizes.

A montagem é uma transposição para o palco do conto homônimo de Ronaldo Correia de Brito, que faz parte do livro Retratos imorais. Não houve adaptação para o “cárcere” da dramática.

Texto da peça é de Ronaldo Correia de Brito

O diretor Moacir Chaves trabalha com teatro narrativo há algum tempo. Na montagem Duas mulheres em preto e branco ele reforça a quebra na estrutura ao organizar cenas e intercalar falas da dramatização com o discurso narrativo. Com isso, o tempo presente move-se em relação ao passado, num movimento de idas e vindas. Ao passado mais longínquo da década de 1970 até o questionamento do futuro, do que Letícia irá fazer se matar Sandra. As personagens presentificam as ações, narram e comentam e isso cria muitas unidades de descobertas e recomeços. E com isso se constrói uma pluralização de vozes e pontos de vista. Do espectador é exigida uma participação mais plena, pela imaginação dos fatos narrados.

Das atrizes foi exigido muito. Um mergulho em outras águas com muitas preciosidades. Isso é um trabalho que demanda do ator entrega e domínio técnico para que funcione como um jogo em que cada se multiplica. No início do espetáculo de estreia, as atrizes me pareceram um pouco nervosas. Absolutamente natural. Com o andamento da peça, elas foram se soltando e criando a cumplicidade com a plateia. Ficaram mais senhoras dos espaços, das intenções, das ações, com muitas nuances desse texto de Ronaldo Correia de Brito. A luz emana das duas intérpretes.

A parceria entre Moacir Chaves e o iluminador Aurélio de Simoni rende mais uma vez uma cena visualmente bonita e cativante. A cenografia de Fernando Mello da Costa tem principal artefato uma larga cama desequilibrada, como um fetiche do próprio quarto, da própria casa.
Duas mulheres em preto e branco é uma peça verborrágica, com suas duas histéricas a tentar encontrar uma saída digna depois de serem atingidas pelas fraquezas humanas.

Montagem estreia no Recife no dia 29 de setembro

A estreia de Duas mulheres em preto e branco ocorreu na mesma noite da primeira das três aguardadas apresentações do Berliner Ensemble, companhia fundada em 1949 por Bertolt Brecht e Helen Weigel, com Mãe Coragem e seus filhos. O charmoso Teatro de Câmara Túlio Piva não estava lotado. Mas tinha muita gente. Os amigos da gaúcha Sandra Possani, o diretor e toda equipe técnica e uma espectadora bem especial, Cristiane Rodrigues, neta de Nelson Rodrigues.

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Auto de Natal com alma brasileira

Baile do menino Deus, no Marco Zero. Foto: Ivana Moura

A ópera popular de rua Baile do Menino Deus – Uma brincadeira de Natal, como define seu dramaturgo e diretor Ronaldo Correia de Brito, é um espetáculo que agrega manifestações nordestinas. Nesta peça Papai Noel não entra não é porque se tenha algo contra o bom velhinho. Mas aqui a história é contada de forma diferente. Estamos também em volta do nascimento de Jesus, e como todos sabem, existia uma ameaça de Herodes de exterminar as crianças menores de dois anos nascidas em Belém ou cercanias. Talvez por isso, os dois Mateus da peça levem tanto tempo para encontrar a casa da santa família e organizar o baile.

A temporada deste ano, na praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, começou na sexta-feira e terminou ontem, sempre o dia mais lotado. Mateus, multiplicado por dois – os atores Arilson Lopes e Sóstenes Vidal, comanda a brincadeira. Os dois convocam muitos personagens para ajudar a encontrar Jesus, José e Maria. Entre eles o Jaraguá, a Burrinha Zabilin, a Ciganinha e o Anjo Bom, a formosa Ciganinha, entre outros.

Montagem reúne quase 150 profissionais

Com 28 anos de estrada e oito anos no Marco Zero, o espetáculo escrito por Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima, ambos cearenses (o primeiro radicado no Recife e o segundo em São Paulo), e o potiguar radicado em Pernambuco, Antônio Madureira, trouxe algumas novidades.

Uma delas é a entrada dos atores Jorge de Paula e da também cantora Renata Rosa, que acompanham os protagonistas na empreitada de encontrar o menino e seus pais. Para contrapor à performance mais exteriorizada dos Mateus eles são investidos da carga poética de Arlequim, entre o terreno e o celestial. Esses dois personagens não têm fala e exercem a função de guia para mostrar o caminho da casa e da celebração. São aparições pontuais, mas bem exploradas e bonitas. Ele anda com um guarda-chuva e ela tira som de uma rabeca (que desafinou algumas vezes, devido ao vento, suponho).

A montagem reúne quase 150 profissionais, inclusive crianças. A assistência de direção é de Quiercles Santana, a direção de arte de Marcondes Lima, com um figurino rico de criatividade. A iluminação de Játhyles Miranda também acrescentou novos efeitos, como personagens luminosos – o Beija Flor e a Borboleta, por exemplo. A trilha sonora é executada ao vivo por uma orquestra de 15 instrumentistas, um coro adulto de 13 cantores (com preparação de José Renato Accioly) e infantil com 12 crianças (com preparação de Célia Oliveira), tudo sob a regência do maestro José Renato Accioly.

Além dos coros, a encenação conta com as participações dos cantores solistas Silvério Pessoa, a linda voz de Virgínia Cavalcanti, Jadiel Gomes e, estreando este ano, Renata Rosa, que também toca rabeca.

O entrosamento, a garrra, o talento e o domínio de palco da dupla Arilson Lopes e Sóstenes Vidal é para se aplaudir de pé. Esses dois Mateus comadam um grupo de crianças que tentam abrir a porta para celebrar o nascimento de Jesus. Sandra Rino e Tatto Medinni, interpretam com serenidade José e Maria.

Tatto Medinni e Sandra Rino

A coreografias também merecem destaque. E os dez bailarinos (Fláira Ferro, Isaac Souza, Inaê Silva, Jáflis Nascimento, José Valdomiro, Marcela Felipe, Renan Ferreira, Rennê Cabral, Gel Lima e Juliana Siqueira), em conjunto reforçam a alegria e a esperança desse baile.

A produção é da Relicário Produções, da produtora Carla Valença, com Patrocínio do Ministério da Cultura, governo do estado de Pernambuco e Prefeitura do Recife.

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Dança contemporânea no Dona Lindu

Lua Cambará faz última sessão antes de turnê . Foto: Fernando Azevedo

Já que estamos falando em dança, vamos aproveitar para dar uma dica para esta terça-feira à noite. O Ária Social apresenta o musical Lua Cambará às 20h, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu.

O elenco é formado por 52 jovens e conta ainda com a participação da bailarina Cecília Brennand, que assina a coordenação geral da montagem. A coreografia e a direção são de Ana Emília Freire e Carla Machado e a direção musical e a regência de Rosemary Oliveira.

Lua Cambará, que estreou em agosto do ano passado, é inspirada na obra de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, com música de Antonio Madureira. A coreografia traduz em dança contemporânea a história de uma mulher apaixonada que, envolvida em assassinatos, é condenada a vagar eternamente.

Depois da apresentação no Dona Lindu, o grupo segue para a sua primeira temporada fora do Recife. O Ária Social se apresenta no Rio de Janeiro no dia 06 de julho, no Teatro Carlos Gomes; em São Paulo, nos dias 09 e 10, no Teatro Paulo Autran, no SESC Pinheiros; em São João Del Rey (MG), no dia 12 de julho, no Teatro Municipal de São João Del Rey; e em Ouro Preto (MG), no dia 14, no Teatro de Ouro Preto.

Lua Cambará
Quando: nesta terça (14), às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu, Avenida Boa Viagem
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-9823

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