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Teatro de Santa Isabel:
175 Anos de Palco,
Resistência e Memória

Tombado pelo IPHAN em 1949, o TSI é um 14 teatros-monumentos do país. Foto: Andréa Rêgo Barros / PCR

É impactante sua arquitetura neoclássica. Foto: Andréa Rêgo Barros / PCR

Lançamento de livro e apresentação do Grupo Magiluth na celebração de aniversário. Foto: Andréa Rêgo Barros

Em 2025, o Teatro de Santa Isabel completa 175 giros em sua espiral temporal, entrelaçando passado e presente no coração do Recife. Esse corpo arquitetônico respira memórias e performa histórias que se acumulam em camadas, como uma máquina do tempo em movimento, onde cada apresentação deixa seus rastros invisíveis. Inaugurado em 18 de maio de 1850, o edifício neoclássico é um organismo cultural que pulsa, absorve e reflete as vibrações sociais de quase dois séculos.

Concebido pelo Barão da Boa Vista e materializado pelo engenheiro francês Louis Léger Vauthier, suas paredes testemunharam momentos da história, desde os debates da Revolução Praieira até os discursos que culminaram na declaração de Joaquim Nabuco: “Aqui vencemos a causa da abolição”. O incêndio de 19 de setembro de 1869, que destruiu quase toda a estrutura do teatro, deixando apenas paredes laterais, alpendre e pórtico, não silenciou sua importância. Em 16 de dezembro de 1876, o teatro ressurgiu para continuar sua missão como palco da efervescência cultural pernambucana.

Desse palco, revoluções saltaram para as ruas. Suas colunas sustentam ideais de liberdade que permeiam gerações. Ao visitá-lo hoje, conectamo-nos diretamente com um capítulo fundamental da história cultural do Brasil, apreciando tanto sua relevância arquitetônica quanto sua contribuição para a formação da identidade pernambucana. Em um país que luta para não esquecer sua memória, esperamos que o Santa Isabel permaneça – resistente, vivo e necessário – como artéria pulsante da cultura que segue reinventando o futuro a partir das lições do passado.

Para a celebração de aniversário, o Santa Isabel recebe no domingo, dia 18 de maio, às 19h, o Grupo Magiluth com o espetáculo Estudo Nº 1: Morte e Vida, uma releitura do poema de João Cabral de Melo Neto. E nesta sexta-feira (16 de maio), às 19h, ocorre o lançamento do livro digital Ponto de Vista: crítica e cena pernambucana, pesquisa minuciosa do jornalista e historiador Leidson Ferraz, que faz uma palestra sobre os primórdios da crítica no Recife.

 

Estudo Nº 1: Morte e Vida

Uma reconfiguração contemporânea do clássico severino

Cena faz alusão à precarização do trabalho, e a Thiago Dias, trabalhador de aplicativo que morreu de exaustão Foto_Vitor Pessoa/ Divulgação

Essa cena do canavial, cruza Michael Jacson com maracatu rural, com Bruno Parmera. Foto_Vitor Pessoa

 

Crises climáticas e migrações são discutidas no espetáculo. Foto_Vitor Pessoa/ Divulgação

Como parte das celebrações de 175 anos, o Teatro de Santa Isabel recebe no domingo, 18 de maio, uma das mais instigantes produções do teatro pernambucano contemporâneo. Estudo Nº 1: Morte e Vida, do Magiluth, sob direção de Luiz Fernando Marques (Lubi) e assistência de Rodrigo Mercadante, propõe uma releitura radical do clássico Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Os ingressos  para o espetáculo são distribuídos na bilheteria do teatro, a partir das 18h.

A dramaturgia expandida torna-se um “manifesto-palestra” que entretece o texto original com narrativas urgentes do presente, preservando a força poética cabralina, amplificando-a nas discussões atuais, evidenciando como as questões de migração, precarização do trabalho e crise climática permanecem dolorosamente atuais.

Podemos pensar sobre episódios trágicos do mundo real, que, embora não estejam diretamente em cena, chegam por associação, como a brutalidade sofrida por Moïse Mugenyi Kabagambe – refugiado congolês no Brasil, assassinado em 2022 no Rio de Janeiro após cobrar salários atrasados. Ou em um dos  episódios centrais da encenação, que reflete a precarização do trabalho e o desprezo pela vida, a história de Thiago Dias – trabalhador nordestino que sucumbiu em 2020 por exaustão após jornadas extenuantes como entregador de aplicativo em São Paulo.

Essas tragédias estabelecem pontes temporais que apontam a persistência das desigualdades sociais, que vem muito antes da publicação de Morte e Vida Severina (1955).

A força do texto cabralino não fica aprisionada em uma redoma de contemplação, mas, ao contrário, é potencializada ao ecoar em narrativas urgentes do presente. Quando os atores alternam entre os versos e intervenções performativas que incorporam narrativas atuais, criam um campo dialógico onde passado e presente se interpenetram, expondo as estruturas de poder e as continuidades históricas da exploração no contexto das novas configurações das ordens mundiais.

A encenação rompe radicalmente com a ilusão teatral ao expor deliberadamente seus mecanismos de produção. Microfones, mesas técnicas à vista, projeções em painéis desnudos – todos estes elementos compõem um dispositivo metateatral que transforma o espetáculo em uma “oficina” visível de criação.

A estrutura espiral da montagem sobrepõe camadas temporais através de projeções que justapõem imagens de arquivo, recortes digitais e colagens visuais. Esta fragmentação sensorial reflete a própria natureza caótica da experiência contemporânea, criando uma malha de significados que desafia interpretações lineares. O título “Estudo” não é casual: carrega a natureza investigativa de um teatro que se propõe como pesquisa contínua e menos como produto acabado.

Um dos aspectos mais provocativos da montagem é seu questionamento da própria figura do “Severino”. Ao utilizar ferramentas de busca digital para expor representações estereotipadas do nordestino, o espetáculo desnaturaliza imagens cristalizadas no imaginário nacional. O personagem insiste em dizer que não é uma entidade fixa para mostrar-se como um conceito em constante movimento, atravessado por muitas vozes e experiências.

 

Primórdios da crítica teatral no Recife

Leidson Ferraz lança livro digital e faz palestra. Foto: Léo Mota. Capas do livro. Design: Claudio Lira.

Uma investigação sem precedentes sobre os primórdios da crítica teatral pernambucana será apresentada ao público nesta sexta-feira (16 de maio), às 19h, no Teatro de Santa Isabel. Fruto de meticuloso trabalho em vários periódicos dos séculos 19 e 20, o livro Ponto de Vista: crítica e cena pernambucana, de Leidson Ferraz, doutor em Artes Cênicas pela UNIRIO, inaugura as celebrações pelos 175 anos da casa de espetáculos. A obra desvenda o universo das primeiras publicações críticas sobre teatro na imprensa recifense, reconstruindo o panorama cultural da época através de documentos raros e análises. O acesso ao evento é gratuito.

Durante a palestra, o pesquisador compartilha curiosidades sobre os embates e polêmicas que marcaram a cena teatral pernambucana, desde os críticos anônimos que usavam pseudônimos como “O Kapla” e “O Sentinela” até a profissionalização da crítica no início do século 20. Entre os destaques da pesquisa está o momento de transição dos gêneros teatrais, quando as operetas e o teatro de revista substituíram o teatro romântico e realista, causando reações intensas como a ocorrida em 1869, quando apresentações de óperas-buffa provocaram tumultos no mesmo ano em que o teatro sofreria um devastador incêndio. A publicação, que contou com incentivo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB/PE), já está disponível gratuitamente em formato digital no link Livro

 

Entrevista – Romildo Moreira – diretor do Teatro de Santa Isabel

Romildo Moreira. Foto: Pedro Portugal / Divulgação

Aproveitando o momento significativo das comemorações dos 175 anos do Teatro de Santa Isabel, realizamos uma entrevista com Romildo Moreira, atual diretor dessa casa histórica das artes pernambucanas. Com experiência na gestão cultural e conhecimento sobre o legado deste patrimônio, Moreira compartilha reflexões sobre os desafios de preservar e administrar um espaço que testemunhou importantes capítulos da história brasileira desde 1850.

– O Teatro de Santa Isabel é um verdadeiro patrimônio cultural e arquitetônico. Quais aspectos da história e da vocação do teatro o senhor destacaria como fundamentais para sua identidade?

Romildo Moreira – O Teatro Santa Isabel é um patrimônio cultural e arquitetônico, sim. Foi tombado pelo IPHAN em 1949, já ressaltando exatamente esse patrimônio com uma ênfase da cultura local, na cidade do Recife, e patrimônio nacional da arte e da cultura, como depois ele foi eleito a esta condição.

Ele participa dos 14 teatros-monumentos do país e hoje ele é considerado pelo próprio IPHAN como um dos teatros antigos do Brasil, um dos mais bem equipados e com programação permanente.

O tanto que a gente aqui fica recebendo solicitações de pauta o tempo inteiro e já está com a pauta para 2025, por exemplo, lotada até o dia 21 de dezembro. Ou seja, tanto a produção local quanto a produção nacional e até produções internacionais, quando vem para o Nordeste, pensa no Recife e no Teatro de Santa Isabel.

De fato, ele é almejado não só pela produção local, mas, como falei, nacional e internacional.

 – Considerando a importância histórica e a relevância na cena cultural do Recife, como o teatro se posiciona para cumprir seu papel frente aos desafios contemporâneos?

Romildo Moreira – Com relação aos desafios contemporâneos, mesmo o teatro sendo muito antigo, com 175 anos de existência, a gente não faz discriminação de espetáculos contemporâneos, de teatro, dança, circo, ópera etc., desde que não haja nenhum prejuízo físico ou moral para casa, a gente tem todo o prazer em receber essas produções aqui no palco do Teatro Santo Isabel. Isso tem ocorrido frequentemente. Inclusive, a nossa comemoração dos 175 anos do Teatro Santo Isabel é com o Grupo Magiluth, que tem um espetáculo muito contemporâneo, um espetáculo que não tem uma pegada cênica de antigamente, muito pelo contrário, é um espetáculo jovem, atemporal, contemporâneo etc.

Gostaria de entender melhor o que significa “prejuízo físico ou moral para casa”.

Romildo Moreira – Prejuízo físico é que danifique alguma coisa de palco, da plateia, das cadeiras, do gradil que é tombado etc. Então, prejuízo físico seria exatamente danificar algo que caracteriza o patrimônio. E prejuízo moral seria espetáculos de cenas explícitas, de pornografias, de sexo etc.

Só lembrando também que prejuízo moral também seria espetáculos pornográficos. A gente não teria esta condição de recebê-lo pela própria história e relevância do Teatro Santo Isabel.

 O mês de maio reserva uma programação especial para o aniversário do teatro.

Romildo Moreira – Para a celebração dos 175 anos, na programação oficial nossa aqui do Teatro de Santa Isabel, temos o lançamento do livro Ponto de Vista: Crítica e Cena Pernambucana, de Leidson Ferraz,  na sexta-feira, 16/05, (às 19h) e no domingo, 18/05, a apresentação gratuita de Estudo nº1: Morte e Vida, do grupo Magiluth, em comemoração ao aniversário

Quanto à Orquestra Sinfônica do Recife, os concertos (27/05 e 28/05, às 20h) fazem parte da programação mensal. Não está diretamente vinculado ao aniversário do teatro, mas também não deixa de ser uma oportunidade das pessoas estarem aqui nesta semana de comemoração desta data tão importante para um teatro que está permanentemente ativo. Não é verdade?

– O que motivou a escolha dessa programação especial?”

Romildo Moreira – Com relação ao que motivou essa programação que você chama de especial para o aniversário do teatro, é uma coisa muito simples. Primeiro, o lançamento do livro de Leidson Ferraz trata-se de teatro, e nada melhor do que lançar num teatro, como o Teatro de Santa Isabel, porque muita pesquisa ele fez aqui também, no nosso material. E na própria descrição do livro se fala muito no Teatro de Santa Isabel. E quanto ao Grupo Magiluth, a escolha do Grupo Magiluth é porque é um grupo local importantíssimo que faz apresentações aqui esporadicamente por outras questões, por falta de pauta etc., e pela qualidade do grupo, a qualidade dos espetáculos do grupo, inclusive trazendo uma peça baseada em João Cabral, do Melo Neto. Então a pernambucanidade do espetáculo tem tudo a ver também com a pernambucanidade do Teatro de Santa Isabel. Enfim, mas independente dessa coisa bairrista mesmo, é a qualidade artística que o grupo Magiluth tem nos seus espetáculos.

E esta é a razão mais forte que a gente encontra para dizer que este grupo vai entrar nesse aniversário do teatro tranquilamente.

– O teatro possui algum projeto de curadoria específico para contornar questões contemporâneas e potencializar o uso do espaço cultural? Como esse projeto tem influenciado a escolha e a execução dos eventos?”

Romildo Moreira – Bem, não existe uma curadoria para escolhas dos espetáculos a acontecer no Teatro de Santa Isabel. Existe um decreto de número 21-924, de 10 de maio de 2006, que normaliza as pautas que a gente pode oferecer, pode receber aqui. Então, não pode ter excesso de som, som até 95 decibéis, não pode ter abundância de água em cena, não pode ter fogo, não pode ter drone etc., coisas que possam pôr em risco o patrimônio cultural do Teatro de Santa Isabel. Então isso a gente leva em conta quando recebe as propostas de pauta se esse espetáculo pode ser apresentado aqui ou não. Quando não pode ser apresentado aqui, a gente explica o motivo e sugere uma outra casa de espetáculos. Normalmente, a produção local já sabe disso e não traz esse problema para a gente resolver, mas as produções de fora, quando ocorre, a gente explica e eles entendem completamente bem.

Quais são os critérios adotados para escolher as pautas e os eventos executados no teatro ao longo do ano? Há uma linha diretriz definida para a programação?

Gostaria de compreender com mais profundidade como funciona o processo de distribuição de pautas ao longo do ano no Teatro. Poderia descrever, de forma detalhada, o passo a passo desse procedimento? Por exemplo, se uma produtora local tem interesse em reservar uma pauta para maio de 2026, qual seria o período ideal para entrar em contato, e quais os documentos e informações necessários para formalizar a solicitação?

Romildo Moreira – Não há linha definida para a ocupação da pauta, o que há é a não aceitação de eventos artísticos e culturais que não tem perfil para o Teatro de Santa Isabel. Por exemplo: concurso de miss, eventos evangélicos, espetáculo pornográficos…

Se eu, como produtora cultural, precisar de uma pauta, como consigo? Quais os critérios? Não tem critérios?

Romildo Moreira – Se você precisar de uma pauta, é só encaminhar para o nosso e-mail a solicitação de pauta dizendo o que vai ser utilizado nessa pauta, qual é o espetáculo, se é teatro, dança, circo, ópera, como é que ele se porta, mandar fotos, mandar material em geral sobre a peça, para a gente saber o que é etc.

É isso. Se houver alguma impossibilidade de recebê-lo pela data, já é uma coisa óbvia, porque já está ocupado. Ou então porque o espetáculo não se porta dentro do que a gente já falou antes, se é pornográfico, se tem danos físicos ou morais para o teatro.

É isso, não tem outro critério, que a gente não vai fazer censura estética, entendeu?

Há variação também nos valores dos aluguéis e nas condições de contratação nesses casos, ou são uniformes para todos?

Romildo Moreira – O pagamento da pauta do Teatro de Santa Isabel tem uma diferença da produção local para a produção visitante. A produção local paga 10% da bilheteria bruta com o valor mínimo de R$ 2 mil por apresentação. A produção visitante paga 10% da bilheteria bruta com valor mínimo de R$4.000 por cada apresentação. Só isso que difere, é só o valor mesmo, porque a produção local tem esse abatimento de 50% do valor da pauta.

Por fim na questão das pautas, gostaria de saber se existem restrições específicas para espetáculos destinados ao público infantil ou juvenil e como essas particularidades influenciam a distribuição de pautas.

Romildo Moreira – Inclusive, no mês de julho, existe o Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco, da Metro Produções, e o Teatro de Santa Isabel também recebe esse festival. Então, nós temos o maior prazer também de apresentar espetáculo para criança, que é o público do futuro.

– O Teatro de Santa Isabel, com sua longa trajetória, sempre enfrentou desafios de manutenção e sustentabilidade. Quais estratégias e parcerias têm sido implementadas para garantir sua sobrevivência e modernização sem perder sua essência histórica?

Romildo Moreira – Quanto à manutenção e sustentabilidade, existe uma questão bem presente, como o teatro é da Prefeitura do Recife, a Prefeitura, através da Fundação de Cultura e da Secretaria de Cultura, faz a manutenção permanente através de empresas que são licitadas para tal. Então, a gente tem uma empresa que cuida da manutenção do ar-condicionado, outra que cuida da manutenção estrutural, enfim, e por aí vai. São empresas que permanentemente, como por exemplo os elevadores, têm um problema no elevador, então tem a empresa de manutenção do elevador  que vem e conserta na hora e por aí vai. Isso facilita, porque é um órgão público. Se fosse pela bilheteria do teatro, jamais isso ocorreria, porque a gente não teria disponibilidade financeira para tal. Mas, ao contrário, a gente mantém sempre essas questões em dia por conta dessas parcerias que são com a Fundação de Cultura e Secretaria de Cultura para a manutenção de empresas com esta obrigatoriedade.

– Quantos funcionários compõem a equipe que trabalha no teatro e quais têm sido os principais desafios enfrentados na gestão do espaço atualmente?

Romildo Moreira – 49 funcionários

– Qual tem sido o papel do investimento público no fortalecimento e na manutenção do teatro? De que forma esses recursos têm contribuído para a preservação e renovação do espaço?

Romildo Moreira – Reforçando. Acho importante também falar sobre a manutenção do teatro. Todo mês de fevereiro, anualmente, a gente não abre pautas, não abre para atividades artísticas, a gente faz uma manutenção de equipamento, de som, de luz, de toda parte estrutural do teatro, fazendo também alguns reparos de pintura, etc., para manter o teatro sempre bem quisto e bem visto pela sociedade.

– Como o cidadão, de todas as classes sociais, pode ter acesso ao teatro? Existem projetos ou estratégias que promovem a participação popular e a democratização do espaço?

Romildo Moreira – Quando se trata de sociedade, o teatro tem esse cuidado de não ser uma casa distante da população. Por isso que temos muitos espetáculos gratuitos.

A Orquestra Sinfônica do Recife faz quatro concertos aqui no teatro mensalmente, com sessões gratuitas. Além disso, o teatro tem um projeto chamado Santa Isabel em Cena, que tem duas vertentes. A primeira vertente é que, às terças-feiras, a gente recebe uma média de 300 jovens, entre alunos de escolas públicas, escolas privadas e de ONGs que trabalham com essa faixa etária. Essas pessoas vêm aqui para conhecer o teatro e assistem um espetáculo gratuitamente, um espetáculo local.

E a segunda versão desse Santa Isabel em Cena é que acontece aos domingos, uma vez por mês, um espetáculo direcionado mais à terceira idade, que é uma forma também de a gente trazer e manter este público. Na primeira versão é para os novos frequentadores do teatro, com essa juventude, e nessa segunda versão é para a manutenção desse povo que já acostumou vir ao teatro e assistir a um espetáculo, principalmente de música camerística. Enfim, de forma que a gente tem essa preocupação de um público sempre ampliado e renovado nas apresentações do Teatro de Santa Isabel.

Também temos tido o cuidado de negociar com as produções que vêm para cá, para o Teatro de Santa Isabel, de não fazerem preços muito altos, até mesmo porque o pagamento da pauta é muito pequeno, é 10% da bilheteria bruta, de forma que os ingressos aqui não são de preço tão volumosos exatamente para facilitar uma camada mais ampla de pessoas poderem assistir, já que os ingressos não são tão caros.

– Considerando a situação do entorno do teatro, com calçadas em péssimo estado, a presença de moradores de rua e mendicância, há alguma estratégia integrada ou parceria com órgãos públicos para revitalizar a área?

Romildo Moreira – Com relação a essa questão de moradores de rua, quando o teatro fecha, fica invadido, pessoas dormindo aí, a gente não tem como resolver isso aqui. A prefeitura passa toda quarta-feira aqui, oferece abrigo para essas pessoas, umas já foram, outras já tiveram a família inteira abrigada, mas tem gente que não quer. Então, rua é rua, a gente não tem como fazer. Isso não seria com a Secretaria de Cultura nem com a Fundação de Cultura, muito menos com o teatro. Mas a prefeitura, de um modo geral, tem tido uma ação permanente de fazer com que essas pessoas não agridam o espaço etc. Mas é bem complexo em função disso. Tem gente que não quer sair da rua, enfim. Quando chove, principalmente, eles vão para os lugares onde tem abrigo, como tem aqui no Teatro de Santa Isabel, nessa Dantas Barreto, na Guararapes, é o que mais se vê, como se vê também em outras capitais, Rio de Janeiro, São Paulo etc.

– Que mensagem o senhor deixaria para o público e a comunidade?

Romildo Moreira – A mensagem que deixo para o público e o mundo geral é que não temos aqui a preocupação de fazer censura estética com a utilização do teatro de Santa Isabel. Tanto espetáculo, teatro, dança, circo, ópera, música, enfim, temos só a preocupação prevista no decreto, como já falei anteriormente, porque é para a pluralidade de público mesmo.

Enquanto a gente recebe um espetáculo que requer mais um público jovem, o público jovem vem. Quando requer mais um público mais maduro, terceira idade, etc., esse público vem. E é importante saber que, quando eles vêm, eles veem um bom espetáculo aqui quer mais um público mais maduro, terceira idade etc., esse público vem.

E é importante saber que, quando eles vêm, eles veem um bom espetáculo aqui e ficam sempre aguardando novas oportunidades para retornar, porque o Teatro Santa Isabel é a casa do povo do Recife, e o povo do Recife é plural. E essa pluralidade também a gente mantém na programação exatamente para atender todos os desejos e necessidades de uma sociedade tão ampla como é a nossa.

 

 

 

 

 

 

 

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“O festival tem futuro”, garante Romildo Moreira

 O coordenador do Festival Recife do Teatro Nacional, ator e diretor Romildo Moreira é um homem otimista quanto ao futuro do evento, que chega à 20ª edição. O programa é produzido pela Prefeitura do Recife e já recebeu produções de grandes grupos brasileiros e notórios encenadores.  Já viveu períodos áureos, com rica programação pedagógica e produção de pensamento – como no ano dedicado a Nelson Rodrigues. Ficou um ano sem ser realizado e permanece, em boa dose, graças à determinação de Romildo Moreira. Nessa conversa, feita por whatsApp numa madrugada recente, o coordenador defende a pluralidade como norteador do festival, que não se apega à conceitos, temáticas ou articulação mais explícita entre as peças participantes. E bota fé na nova geração pernambucana, que está “produzindo teatro, criando espaços pra suas produções, inclusive criando festivais temáticos. O movimento existe e o poder público não pode desconsiderá-lo”. 

Mais sobre a programação do Festival Recife do Teatro Nacional, que é realizado de 18 a 25 de novembro no http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/2018/11/16/recife-do-teatro-nacional-chega-aos-20-festivais/

ENTREVISTA: ROMILDO MOREIRA

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Romildo Moreira, coordenador do festival. Foto: Djair Freire / Divulgação

Como você define a 20ª versão do Festival Recife do Teatro Nacional?
Defino essa 20ª versão como um passo importante na manutenção do evento, equilibrando qualidade com as diversas formas de produção nele reunidas, numa mostra bem diversificada da criação atual no teatro brasileiro. Essa pluralidade sempre esteve norteando a programação do FRTN.

Quais os critérios utilizados para fazer a curadoria?
Basicamente são três os critérios definitivos adotados: Qualidade artística; temática provocadora de reflexão; e adequação financeira.

Pegando esse gancho, o Recife é uma cidade cheia de festivais de artes cênicas – Janeiro de Grandes Espetáculos, Trema Festival, CAMBIO festival, Feteag (que é de Caruaru mas tem uma perna no Recife), Cumplicidades, Mostra Luz Negra – O Negro em Estado de Representação, Outubro ou Nada – Mostra de Teatro Alternativo do Recife, os festivais e mostras de dança e outros… Como situar o FRTN nesse mosaico?
Quanto aos tantos festivais que Recife oferece, vejo isso como um ponto super positivo na nossa luta e persistência cultura. Isso retrata bem o nosso espirito de pernambucanidade, sedimentada na diversidade cultural que possuímos e no habito que temos de encontrar espaço pra todos. Nenhum desses festivais sufoca ou invalida o outro.

Qual o orçamento do festival?
O orçamento está em torno de R$ 350.000,00, bancados pela Prefeitura do Recife.

Romildo, você esteve no início, na criação do festival que agora chega aos 20 anos. Esse FRTN já foi um dos grandes do país, perdeu esse status, quase acabou. O que você nos diz sobre a trajetória desse festival?
A trajetória do Festival Recife do Teatro Nacional não difere muito da história dos demais eventos com longevidade na capital pernambucana. Cada versão é um tempo, e cada tempo o seu jeito, principalmente quando se trata de uma realização do poder público como esse nosso.

O FRTN tem futuro? Que futuro se anuncia diante das novas configurações políticas?
Claro que o FRTN tem futuro. Isso fica bem nítido pra mim quando vejo uma nova geração danada produzindo teatro, criando espaços pra suas produções, inclusive criando festivais temáticos. O movimento existe e o poder público não pode desconsiderá-lo. Nem a categoria deixa que isso aconteça. É só lembrar do que aconteceu quando foi anunciado que ele passaria a ser bienal.

O que você nos diz sobre o homenageado?
O meu sentimento em ter Reinaldo de Oliveira como homenageado desse 20º FRTN é de extrema gratidão pelo que ele representa para todas as gerações do teatro no Recife. Acho até que já devíamos ter feito isso muito antes. Reinaldo, além de excelente ator, é um dos artistas mais generosos do teatro pernambucano de todos os tempos. Isso ele herdou dos pais: Valdemar e Diná de Oliveira. Temos recebido muitos cumprimentos por essa escolha.

Além da apresentação dos espetáculos, o que mais o FRTN oferece neste ano?
Em 2018 o festival só oferece espetaculoso, como opção de focar exclusivamente o evento na criação. Até pra ficar, nessa versão, bem diferente dos demais festivais.

Acredito, sinceramente, que esta versão, enxuta como está, servirá de estímulo aos artistas locais em continuar produzindo e ousando na criatividade de suas produções, assim como do público em frequentar mais teatro. Bem, isso pode até ser apenas um desejo meu, mas como desejo é sonho, espero que seja também o sonho perseguido por muitos colegas desse ofício, para torná-lo realidade no futuro próximo. Essa juventude que está nos palcos agora, num tá pra brincadeira não; sabe o que quer e tem disposição para tal.
Só lembrando que hoje o festival está sendo coordenado por mim e Ivo Barreto.

Que conexões você traça entre Preto, da Cia. Brasileira e as outras montagens da programação?
Quando você me pergunta sobre Preto e a trajetória do festival, imediatamente me vem dois questionamentos: O notório e respeitável trabalho da Companhia Brasileira de Teatro que abre essa versão, repete exatamente os primeiros anos do festival que eram abertos por grupos consolidados, com uma temática super atual ou atemporal, com resoluções cênicas bem instigantes. A outra questão é o papel do poder público em facilitar o acesso do público a um produto de excelência artística com preços simbólicos: R$ 10,00 e R$ 5,00

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Recife do Teatro Nacional chega aos 20 festivais

Renata Sorrah, Grace Passô e Nadja Naira em cena de "Preto" – Foto: Tiago Lima/Sesc SP/Divulgação

Renata Sorrah, Grace Passô e Nadja Naira em PRETO. Foto: Tiago Lima/ Sesc SP/Divulgação

De 18 e 25 de novembro ocorre o 20º Festival Recife do Teatro Nacional, promovido pela Prefeitura do Recife. Nesta edição, os coordenadores Romildo Moreira e Ivo Barreto selecionaram 12 espetáculos, sendo cinco pernambucanos: Em Nome do Desejo, da Galharufas Produções; Espera o Outono, Alice, do Amaré Grupo de Teatro; Ligações Perigosas, do Teatro de Fronteira; Próxima, solo da atriz Cira Ramos e Pro(Fé)Ta – O Bispo do Povo, do Coletivo Grão Comum. Além do mezzo Potiguar mezzo pernambucano A Mulher Monstro. O ator Reinaldo de Oliveira, do histórico Teatro de Amadores de Pernambuco – TAP, é o homenageado desta edição.

A companhia brasileira de teatro abre o circuito com Preto, peça que ausculta o racismo e a negação das diferenças a partir da vivência brasileira e em perspectiva com o mundo. Sobre Preto o diretor Márcio Abreu diz na página do grupo que o projeto promove uma investigação sobre o que gera a recusa das diferenças em nossas sociedades, e principalmente sobre as possibilidades de coexistência e campos de interação entre as diferenças. E, a partir daí, reage artisticamente através de múltiplas visões e sentidos.

Em tempos de pós-verdade e pós-ética, o espetáculo LTDA., do Coletivo Ponto Zero, do Rio de Janeiro aposta na pauta das fake News. A outra produção carioca no festival é o infanto-juvenil A Gaiola, da Camaleão Produções Culturais, que conta a história de amor, amizade e liberdade entre uma menina e um passarinho.

O ator pernambucano Samuel Paes de Luna narra as pelejas de uma personagem que vive no Vale do Jequitinhonha, no interior do estado de Minas Gerais, misturando às próprias histórias em O Que Só Passarinho Entende, da Cia Cobaia Cênica, de Santa Catarina.

Woyzek

WOYZECK aproxima o primeiro protagonista proletário da literatura alemã à realidade brasileira do Zé Ninguém.

Woyzeck– Zé Ninguém, do Teatro Terceira Margem e Artistas Independentes da Bahia, é inspirado na obra do dramaturgo alemão Georg Buchner e transporta para a realidade brasileira o primeiro protagonista proletário do teatro moderno. Esse homem, que é usado como cobaia por um médico numa experiência, exibe o show de horrores que é a sua própria vida.

Também da Bahia, o Teatro La Independencia, do Oco Teatro Laboratório traça os conflitos de um grupo de artistas que é confrontado com a ação de venda do espaço teatral em quer reside e trabalha. A trupe ensaia a nova encenação que fala sobre a América Latina.

PRODUÇÃO PERNAMBUCANA

Em Nome do Desejo homenageia Antonio Cadengue. Foto: Yêda B.ezerra de Melo / Divulgação

EM NOME DO DESEJO homenageia Antonio Cadengue. Foto: Yêda B.ezerra de Melo / Divulgação

Baseado no romance homônimo de João Silvério Trevisan, Em nome do Desejo é o último espetáculo dirigido por Antonio Cadengue (1954 – 2018). A montagem sobre amor clandestino de dois seminaristas teve sua primeira versão em 1990. A atual encenação está carregada de homenagens ao legado do diretor, que morreu em 1º de agosto.

Espera o Outono, Alice, do Amaré Grupo de Teatro, promete uma reflexão sobre as perdas contabilizadas ao longo da existência, as mortes, as saudades, mas também envereda pela pulsão de vida.

Celebrando 40 anos de teatro, Cira Ramos investiu também na dramaturgia para erguer Próxima, solo que fala de arte, tempo, ciclos e da transitoriedade da vida com muito humor.

Inspirado no conto Creme de alface de Caio Fernando Abreu, A Mulher Monstro trata da intolerância e do preconceito, a partir das atitudes e pensamentos da figura que dá nome à peça e parece um espelho do Brasil de hoje.

Conhecemos a crueldade e perversão moral da aristocracia do período anterior à Revolução Francesa, do famoso romance de Choderlos de Laclos, Ligações Perigosas, que virou filme para cinema e TV. A montagem pernambucana do Teatro de Fronteira escancara a manipulação e intrigas do Visconde de Valmont e a Marquesa de Merteuil.

A atuação de Dom Hélder Camara na renovação da Igreja Católica no século XX e na sua defesa contra as violações dos Direitos Humanos são enforcados em Pro(Fé)Ta – O Bispo do Povo, do Coletivo Grão Comum. A peça fecha a Trilogia Vermelha, composta também pelos espetáculos h(EU)stória – o tempo em transe, sobre a vida e obra do cineasta baiano Glauber Rocha, e pa(IDEIA) – a pedagogia da libertação, em que entram em cena as ideias progressistas do educador pernambucano Paulo Freire.

Nascido em 1997, o Festival Recife do Teatro Nacional ajudou ao longo desse período na formação do artista e do espectador que teve contato com grandes peças da cena contemporânea brasileira. Com a criação de outros festivais e mostras -, como Trema Festival, CAMBIO festival, Feteag (que é de Caruaru mas tem uma perna no Recife), Cumplicidades, Mostra Luz Negra – O Negro em Estado de Representação, Outubro ou Nada – Mostra de Teatro Alternativo do Recife, além do Janeiro de Grandes Espetáculos, que é anterior ao FRTN -, o protagonismo foi dividido. O que, para Romildo Moreira, é um dado bem positivo.

PROGRAMAÇÃO 

20º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL

 

PRETO

Preto

Cássia Damasceno, Felipe Soares e Grace Passô em PRETO. Foto: Nana Moraes/ Divulgação

Companhia Brasileira de Teatro (PR)
Quando: Dias 18 e 19, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Duração: 80 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
O espetáculo se articula a partir da fala pública de uma mulher negra, numa espécie de conferência sobre questões que incluem racismo, a realidade do povo de pele negra no Brasil hoje, o afeto e o diálogo, a maneira como lidamos com as diferenças e como cada um se vê numa sociedade marcada pela desigualdade.
Direção: Marcio Abreu
Elenco: Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja Naira, Renata Sorrah e Rodrigo Bolzan
Músico: Felipe Storino
Dramaturgia: Marcio Abreu, Grace Passô e Nadja Naira
Iluminação: Nadja Naira
Cenografia: Marcelo Alvarenga
Trilha e efeitos sonoros: Felipe Storino
Direção de Produção: José Maria | NIA Teatro
Direção de Movimento: Marcia Rubin
Vídeos: Batman Zavarese e Bruna Lessa
Figurino: Ticiana Passos
Assistência de Direção: Nadja Naira
Orientação de texto e consultoria vocal: Babaya
Consultoria Musical: Ernani Maletta
Adereços | Esculturas: Bruno Dante
Colaboração artística: Aline Villa Real e Leda Maria Martins
Assistência de Iluminação e Operador de Luz: Henrique Linhares
Assistência de Produção e Contrarregragem: Eloy Machado
Operador de Vídeo: Bruna Lessa e Bruno Carneiro
Produção Executiva: Caroll Teixeira
Participação Artística na Residência realizada em Dresden: Danilo Grangheia, Daniel Schauf e Simon Möllendorf
Projeto Gráfico: Fabio Arruda e Rodrigo Bleque | Cubículo
Fotos: Nana Moraes
Produção: companhia brasileira de teatro

 

WOYZESCK – ZÉ NINGUÉM

História de um homem oprimido por todos ao seu redor e que vira um assassino. Foto: Divulgação

História de um homem oprimido por todos ao seu redor e que vira um assassino. Foto: Divulgação

Teatro Terceira Margem e Artistas Independentes (BA)
Quando: Dia 20, às 19h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Duração: 90 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
Investindo na estética do circo e show de horrores, o espetáculo Woyzeck-Zé Ninguém, cujo texto original é do dramaturgo alemão Buchner, propõe transportar o primeiro protagonista proletário da literatura alemã à realidade brasileira. Baseada em fatos reais, a dramaturgia traz a história de um homem que, tomado como experimento por um médico, oprimido circunstancialmente pela sociedade, assassina a mulher amada sob imposição do automatismo. Com cortes abruptos e cenas ritmadas cinematogracamente, a adaptação é composta de elementos que reforçam a aproximação desta história com a realidade social e cultural brasileira. Canções de Gonzaguinha ajudam a compor a trajetória do protagonista, nesta que é considerada uma possível e universal situação dramática do homem comum.
Direção – Caio Rodrigo
Codireção – Guilherme Hunder
Texto original – Georg Buchner
Adaptação – Caio Rodrigo
Elenco – Felipe Viguini, Simone Brault, Wanderlei Meira, Caio Rodrigo, Rui Mantur, Marcos Lopes e Elinas Nascimento.
Produção – Raquel Bosi e Queila Queiroz
Direção musical – Elinas Nascimento
Trilha Sonora – Caio Rodrigo e Elinas Nascimento
Direção de movimento e coreografias – Mônica Nascimento
Cenário – Caio Rodrigo
Figurinos – Guilherme Hunder
Iluminação – Pedro Dultra
Maquiagem – Guilherme Hunder
Desenho de arte – Luís Parras
Operação de Luz – Tarsila Batista Passos
Cenotécnico – Ademir (Escola de teatro da UFBA), Marcos Nunez (Miniusina)
Costureiras – Regina Bosi e Sarai Reis
Fotografia – Diney Araujo
Arte gráfica – Ian Fraser
Realização – Teatro Terceira Margem e Artistas independentes.

 

A MULHER MONSTRO 

Foto: Divulgação

José Neto Barbosa. Foto: Divulgação

S.E.M. Cia de Teatro (RN/PE)
Quando: Dia 20, às 20h
Onde: Teatro Barreto Júnior
Duração: 70 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
A história se baseia no conto Creme de alface de Caio Fernando Abreu, escrito em plena ditadura militar, mas ainda tão atual. A tragicomédia fala da intolerância e do preconceito, parecendo tratar da atualidade política e social do Brasil, por meio da figura de uma burguesa perseguida pela própria visão intolerante da sociedade, que não sabe lidar com a solidão, nem com o próximo, num tempo de ódio e corrupções. Expõe as monstruosidades ditas e praticadas, trazendo à cena falas reais, denunciando expressões e atitudes radicalistas, fundamentalistas ou até mesmo segregacionistas do cotidiano.
Direção, elenco e figurino: José Neto Barbosa
Dramaturgia: José Neto Barbosa, a partir de conto de Caio Fernando Abreu
Direção Musical: Mylena Sousa, Diógenes e José Neto Barbosa
Cenografia: José Neto Barbosa, Diego Alves e Anderson Oliveira
Luz: Sérgio Gurgel Filho e José Neto Barbosa
Produção: José Neto Barbosa, Diego Alves e Anderson Oliveira
Maquiagem: José Neto Barbosa e Diógenes

 

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Os atores Rodrigo Dourado e Rafael Almeida em cena de ‘Ligações Perigosas’. Foto: Ricardo Maciel/Divulgação

Os atores Rodrigo Dourado e Rafael Almeida em Ligações Perigosas. Foto: Ricardo Maciel/Divulgação

Teatro de Fronteira (PE)
Quando: Dia 21, às 20h
Onde: Teatro Apolo
Duração: 70 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
Um dos grupos de teatro mais atuantes do Recife estreia, a partir da obra de Chordelos de Laclos, seu mais novo espetáculo, dirigido por um dos encenadores mais importantes do país: João Denys Araújo Leite. A peça tem quatro vértices de um intrincado polígono amoroso-sexual-teatral. Em cena, os atores/personagens ensaiam e vivem suas peripécias e jogos emocionais.
Direção: João Denys Araújo Leite
Elenco: Rafael Almeida e Rodrigo Dourado
Adaptação Dramatúrgica: Teatro de Fronteira
Figurinos, Adereços e Maquiagem: Marcondes Lima
Cenografia: João Denys Araújo Leite
Cenotécnica: Israel Marinho, Manuel Carlos e Rafael Almeida
Design e Execução de Luz: João Guilherme de Paula (Farol Ateliê da Luz)
Sonoplastia: João Denys Araújo Leite
Realização: Teatro de Fronteira

 

TEATRO LA INDEPENDENCIA

Foto: Diney Araújo

O que é ser latino americano? pergunta o espetáculo. Foto: Diney Araújo

OCO Teatro Laboratório (BA)
Quando: Dias 21 e 22, às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça
Duração: 100 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
O Teatro La Independencia está sendo vendido para um empreendimento e o grupo que reside nele terá que concordar em abandonar o espaço ou permitir que sejam relocados num outro. No meio disso, os atores estão ensaiando o novo espetáculo que fala sobre América Latina. O espetáculo transita entre a realidade que se impõe e as nossas utopias, sonhos, desejos, tendo a também utópica América Latina como cenário. O que é ser latino-americano? Vendemos ou não vendemos La Independência? Eis a questão! É um espetáculo para atravessar diversas sensações, uma sutura em uma ferida que se abre constantemente, transita pela dor de existir em um tempo de ruínas e pela felicidade de – ainda neste tempo – persistir sonhando.
Texto: Paulo Atto.
Com: Evelin Buchegger, Rafael Magalhães, Uerla Cardoso, Caio Rodrigo, Evana Jeyssan e Daniel Farias.
Direção Musical. Luciano Bahia.
Figurinos e Adereços. Agamenon de Abreu.
Cenário. Luis Alonso
Elaboração de cenários. Adriano Passos, André Passos,
Bruno Matos, Cassio Vieira (Tomate), George Santana (Sabará)
Cenotecnica: Agnaldo Queiroz
Desenhos no Cenário. Agamenon de Abreu
Iluminação. Rita Lago.
Assessoria de Imprensa. Dóris Veiga Pinheiro.
Assistente de Produção. Nei Lima
Produção. Rafael Magalhães.
Concepção e Direção. Luis Alonso.

 

O QUE SÓ PASSARINHO ENTENDE

Foto: Tiago Amado

Pernambucano Samuel Paes de Luna, radicado em Santa Catarina. Foto: Tiago Amado / Divulgação

Cia Cobaia Cênica (SC)
Quando: Dia 22, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Duração: 70 minutos
Livre para todos os públicos
No espetáculo solo, o ator pernambucano Samuel Paes de Luna conta a história de uma personagem que vive no Vale do Jequitinhonha, no interior do estado de Minas Gerais, mesclando a vida real com memórias de sua própria história em sua terra natal. De maneira lúdica e poética, defende que o real valor e beleza de sua existência estão no conhecimento empírico, diretamente ligado à natureza.
Texto: Agatha Duarte
Conto Totonha: Marcelino Freire
Direção: Thiago Becker
Atuação: Samuel Paes de Luna
Trilha: Rodrigo Fronza
Produção: Cia Cobaia Cênica

 

PRÓXIMA

foto Séphora Silva

Cira Ramos comemora 40 anos de teatro. Foto: Séphora Silva / Divulgação

Cira Ramos (PE)
Quando: Dia 23, às 19h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Duração: 60 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
O espetáculo solo sugere um umbral, onde o tempo é inexorável, para próximas etapas e próximos desafios na vida extenuante da mulher contemporânea. Pressionada por todos os lados, numa espiral de sentimentos, travando batalhas com as memórias, dúvidas e incertezas, ora nos faz rir, ora nos incomoda, quando espelho, mas, sobretudo, nos faz refletir sobre o lugar que queremos ocupar como artista, como mulher, como ser humano.
Texto e atuação: Cira Ramos
Direção: Sandra Possani

Assistência: Marcelino Dias
Direção de arte: Séphora Silva
Iluminação: Dado Sodi
Trilha Sonora: Nando Lobo

 

EM NOME DO DESEJO

Foto: Yêda Bezerra de Mello / Divulgação

Foto: Yêda Bezerra de Mello / Divulgação

Galharufas Produções (PE)
Quando: Dia 23, às 19h
Onde: Teatro Barreto Júnior
Duração: 100 minutos
Indicado para maiores de 16 anos
No meio de uma séria crise pessoal, um homem de meia idade volta para o antigo seminário onde estudara. Recorda-se do momento mais crucial de sua adolescência, trinta anos atrás, quando viveu o grande amor de sua vida. Mescla os planos do passado e do presente, que se interpenetram, com o personagem já maduro invadindo a cena e até dialogando com o adolescente, em suas lembranças. Num terceiro plano, a figura da mística Santa Teresa de Ávila comenta e impulsiona a cena, com seus poemas de amor.
EM NOME DO DESEJO, de João Silvério Trevisan
ELENCO
Ticão: Taveira Júnior
Santa Teresa De Ávila: Edinaldo Ribeiro
Tiquinho: Miguel Taveira
Abel: Vinicius Barros
Pe. Reitor: Paulo De Pontes
Pe. Marinho: Angelis Nardelli
Canário: Tarcísio Vieira
Tuim: Raul Lima
Siriema: Adilson Di Carvalho
Anjo De Tiquinho: Ryan Leivas
Chiclete-De-Onça: Rafael De Melo
Tora-Tora/Cristo/Anjo: Gil Paz
Rafael: Dado Santana
Moura/Anjo: José Lucas
Cristão/Seminarista: Alexandre Augusto
Técnica
Adaptação Do Romance: Antonio Cadengue E João Silvério Trevisan
Encenação e Direção Geral: Antonio Cadengue
1º Assistente De Direção: Igor De Almeida Silva
2º Assistente De Direção: Claudio Lira
Trilha Sonora: Antonio Cadengue E Igor De Almeida Silva
Direção De Arte: Manuel Carlos De Araújo
Iluminação: Augusto Tiburtius
Assistente De Iluminação: Luiz Mário Veríssimo
Programação Visual: Claudio Lira
Direção Musical: Samuel Lira
Coreografias, Direção De Movimentos E Preparação Corporal: Paulo Henrique Ferreira
Preparação Vocal: Leila Freitas
Preparação De Elenco (1º Fase De Montagem): Durval Cristovão
Fotos: Yêda Bezerra De Melo
Cenotécnica: Luiz Mário Veríssimo E Gaguinho
Confecção De Cenários: Helena Beltrão
Confecção De Figurinos: Maria Lima
Confecção De Candelabros: Israel Marinho
Operação De Som: Fernando Calábria
Operação De Luz: Icílio Wagner
Contrarregra: Gaguinho
Assessoria De Comunicação: Antonio Nelson
Assistentes De Produção: Alexandre Sampaio, Felipe Endrio E Thalita Gadêlha
Produção Executiva: Taveira Júnior
Gerência De Produção: Galharufas Produções E Companhia Teatro De Seraphim

 

A GAIOLA

Peça infantil trata do amor, amizade, desapegos e prisões. Foto: Guga Melgar

Peça infantil trata do amor, amizade, desapegos e prisões. Foto: Guga Melgar / Divulgação

Camaleão Produções Culturais (RJ)
Quando: Dias 24 e 25, às 16h30
Onde: Teatro de Santa Isabel
Duração: 50 minutos
Indicado para maiores de 12 anos
Baseado no livro infantil de mesmo nome adaptado pela própria Adriana Falcão em parceria com Eduardo Rios, dirigido por Duda Maia, e estrelado pelos atores/cantores Carol Futuro e Pablo Áscoli. Conta a história de um passarinho que cai na varanda de uma menina, e enquanto ela cuida dele, os dois se apaixonam. Quando o passarinho fica curado e eles têm que se despedir, ela resolve aprisioná-lo em uma gaiola.
Adaptação: Adriana Falcão e Eduardo Rios
Direção e Roteiro: Duda Maia
Elenco: Carol Futuro e Pablo Áscoli
Diretor Assistente: Fábio Enriquez
Direção musical e trilha original: Ricco Viana
Cenário: João Modé
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Flávio Souza
Coreografia Aérea: Leonardo Senna
Direção de Produção: Bruno Mariozz
Produção: Palavra Z Produções Culturais
Idealização: Camaleão Produções Culturais

 

ESPERA O OUTONO, ALICE

Foto: Arnaldo Sete.

Foto: Arnaldo Sete.

Amaré Grupo de Teatro (PE)
Quando: Dia 24, às 19h
Onde: Teatro Apolo
Duração: 60 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
Ao misturar textos mais conhecidos de nomes como Pedro Bomba, Felipe André, Marla de Queiroz e Carl Sagan ao dos diretores e atores, o enredo busca provocar uma reflexão sobre as perdas que temos ao longo da vida, as mortes, as saudades, mas também sobre a pulsão de viver que nos habita. Os atores se revezam em vários personagens e trazem fragmentos não-lineares da vida de Alice, uma garota com vida comum, que decide tomar uma decisão extrema.
Encenação: Analice Croccia e Quiercles Santana
Elenco: Gustavo Soares, Isabelle Barros, Micheli Arantes e Natali Assunção
Texto: Analice Croccia, Quiercles Santana e AMARÉ Grupo de Teatro, com trechos de Marla de Queiroz, Pedro Bomba, Carl Sagan, Felipe André
Iluminação: Natalie Revorêdo
Figurino e cenografia: Micheli Arantes e Analice Croccia
Operação de áudio: Paulo César Freire
Narração: Paulo César Freire, Íris Campos e Paulo de Pontes
Pesquisa musical e produção: AMARÉ Grupo de Teatro

 

LTDA. 

Monica Bittencourt e Lucas Lacerda em espetáculo sobre fake news. Foto: Mauricio Fidalgo

Monica Bittencourt e Lucas Lacerda em espetáculo sobre fake news. Foto: Mauricio Fidalgo

Coletivo Ponto Zero (RJ)
Quando: Dias 24 e 25, às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça
Duração: 60 minutos
Indicado para maiores de 14 anos
Com uma trama que se desenrola em um edifício empresarial no centro do Rio de Janeiro, a peça lança um olhar sobre a condição humana em tempos de pós-verdade e pós-ética, desmascarando a ganância do ser humano por poder e dinheiro.
Dramaturgia:Diogo Liberano
Direção:Debora Lamm
Direção de Produção:Lucas Lacerda
Elenco:Brisa Rodrigues, Brunna Scavuzzi, Leandro Soares, Lucas Lacerda e Orlando Caldeira
Direção de Movimento:Denise Stutz
Criação Sonora:Marcelo H
Figurino:Ticiana Passos
Visagismo:Josef Chasilew
Iluminação:Ana Luzia de Simoni
Cenário:Debora Lamm
Assistente de Direção:Junior Dantas
Assessoria de Imprensa:Ney Motta
Programação Visual:Daniel de Jesus
Fotos de Divulgação:Ricardo Borges
Making Off:Mika Makino e Tatiana Delgado
Produção Executiva:Geovana Araujo Marques
Assistente de Produção:Julia Kruger
Realização:Coletivo Ponto Zero

 

PRO(FÉ)TA – O BISPO DO POVO

Os atores Márcio Fecher, Júnior Aguiar e Daniel Barros em peça sobre Dom Helder. Foto: Divulgação

Os atores Márcio Fecher, Júnior Aguiar e Daniel Barros em peça sobre Dom Helder. Foto: Divulgação

Coletivo Grão Comum (PE)
Quando: Dia 25, às 19h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Duração: 50 minutos
Livre para todos os públicos
Finalizando o ciclo da pesquisa do Coletivo Grão Comum intitulada Trilogia Vermelha, a encenação começa com a notícia do sequestro e assassinato do padre Henrique, em 1969, recordando o martírio dos corpos trucidados pela Ditadura e, até mesmo, da realidade do povo indigente sobrevivendo na lama do Recife, e, como testemunhou o evangelho, a miséria e suplício do próprio Cristo. A peça mobiliza um cortejo pelas ruas da cidade, conduzindo os espectadores rumo ao teatro, para o sepultamento do corpo trucidado, denunciando a violência que nos atinge ainda hoje, que ainda é ferida aberta, sempre injusta e desumana. A obra celebra o aclamado bispo Dom Hélder Câmara pedindo silêncio e paz, evocando reza forte, questionando a crença e a dimensão da fé guardada nos nossos corações dilacerados de desilusão.
Pesquisa dramatúrgica, encenação e iluminação: Júnior Aguiar
Elenco: Daniel Barros, Júnior Aguiar e Márcio Fecher
Música Original: Geraldo Maia (com Paulo Marcondes, Rodrigo Samico, Públius, Hugo
Linnis e Amarelo)
Operação de Áudio e Luz: Felipe Hellslaught
Idealização: Coletivo Grão Comum
Produção Geral : Coletivo Grão Comum, Cen@ff e Gota Serena

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Festival Recife mais uma vez na corda bamba

Carta ao Pai, com Denise Stoklos, é principal atração nacional do festival

Carta ao Pai, com Denise Stoklos, é principal atração nacional do festival

O Festival Recife do Teatro Nacional, que começa neste sábado (21) e vai até o dia 29, chega à 17ª edição. Em sua configuração geral, não apresenta uma proposta curatorial, nem traz a excelência da cena brasileira contemporânea, propostas que acompanharam a história do festival. O FRTN foi, ao longo dos anos, um instrumento para fazer chegar ao Recife montagens que dificilmente estariam nos palcos pernambucanos se dependessem apenas de bilheteria ou, sendo mais otimista, que levariam algum tempo para chegar, tendo que depender dos incentivos à circulação, como Myriam Muniz, Caixa Cultural e Petrobras.

Grande parte da programação do festival este ano é formada por montagens locais que estrearam agora em 2015 ou no ano passado. Uns dizem que é um festival da resistência, da coragem. Vamos destrinchar isso melhor…

Em 2014, o Festival Recife do Teatro Nacional não aconteceu por decisão da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR). A determinação foi anunciada sem haver um diálogo com quem faz teatro na cidade e isso provocou perplexidade e polêmica. A justificativa foi econômica. Falou-se em edições bienais. Falou-se em classe teatral para discutir o planejamento e o formato do festival nos anos seguintes.

Vale relembrar o que dizia o release enviado aos jornalistas sobre o cancelamento do evento:

“A partir deste ano o Festival Internacional de Dança do Recife (FIDR) e o Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN), ambos promovidos pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura (Secult) e da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR), passam a ser bienais, em caráter de alternância. Desta maneira, em 2014 será realizada a 19ª edição do Festival dedicado à dança, em 2015 será a vez da 17ª edição do Festival do Teatro, e assim sucessivamente.

A decisão foi tomada pela Secretaria de Cultura e pela Fundação de Cultura Cidade do Recife no intuito de possibilitar um planejamento adequado a estas iniciativas, uma vez que a gestão reconhece o importante papel que estas ações cumprem na formação dos realizadores das artes cênicas, no intercâmbio entre diferentes expressões artísticas e ainda na formação de plateia. Contudo, são também Festivais que requerem volumes maiores de recursos da pasta e que precisam ser ajustados às demandas dos respectivos segmentos, garantindo investimento significativo para a produção do Teatro e da Dança na capital pernambucana.”

Palavras ao vento.

A ideia de tornar os festivais bienais, ainda bem, não foi à frente, mas continua faltando, justamente, planejamento. Até 2013, o FRTN era realizado através do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, ligado à Secretaria de Cultura. É preciso que se diga que houve, inclusive, nos dois encontros realizados pela Gerência de Artes Cênicas, ligada à Fundação de Cultura, para discutir as ações da gerência, uma reivindicação da classe artística para que o festival fosse realizado pela Gerência e não pelo Apolo-Hermilo. Mas tudo isso com a antecedência necessária ao planejamento, obviamente.

Não foi o que aconteceu. No fim do mês de julho, o Gerente de Artes Cênicas da Prefeitura, Romildo Moreira, recebeu das mãos do Presidente da Fundação de Cultura, Diego Rocha, a incumbência de fazer o FRTN. Para se ter uma ideia, o Festival Internacional de Dança do Recife, já coordenado pela gerência, e que aconteceu em outubro, estava completamente estruturado.

Além do pouquíssimo tempo para a produção de um festival que já não havia acontecido no anterior justamente “no intuito de possibilitar um planejamento adequado”, o presente de grego recebido pela Gerência de Artes Cênicas veio também com a notícia de que, ao invés do recurso de R$ 400 mil com o qual o festival foi produzido em 2013, agora seriam apenas R$ 200 mil.

Resultado? O FRTN ficou sem a possibilidade de fazer as convocatórias por edital, iniciativa que começou no festival de 2013 (que, convenhamos, não é atraente nem para as grandes companhias nem para os grupos mais experimentais) e sem verbas para trazer espetáculos relevantes do teatro brasileiro deste ano. Quer dizer, a cena contemporânea que permitisse a atualização do público do Recife para um teatro que está sendo criado, impregnado de todas as tendências da cena mundial.

Uma boa pergunta é: para onde foi o dinheiro que seria destinado ao FRTN do ano passado? Bem, a não realização do festival no ano passado deixou um hiato que a edição de 2015 não vai preencher. Teremos outra lacuna este ano, da forma como o festival está sendo realizado. Infelizmente. Não teremos as principais companhias no festival nem os experimentos que dificilmente excursionam em caráter comercial.

O olhar do espectador que não circula por festivais de teatro, nacionais e internacionais, foi prejudicado pela decisão da Secretaria que, por sinal, vem demonstrando que não tem garra ou cacife para lutar por mais verbas para sua pasta. Não, não adianta o prefeito Geraldo Julio alardear que a cultura é prioridade, se a sua gestão está fazendo aquele que já foi um dos festivais mais importantes do país, perder pertinência. Alardear que “a produção pernambucana será a grande atração” é querer fazer os artistas pernambucanos de trouxa. A produção pernambucana precisa sim ter representação no Festival Recife do Teatro Nacional. Isso ninguém discute. Mas, para a classe artística e para o público, a importância do FRTN não é levar à cena a produção local. Para isso, já existem outros caminhos, inclusive o Janeiro de Grandes Espetáculos que, mais uma vez, está lutando por verba.

O FRTN precisava acontecer? Sem dúvidas nenhuma. Isso era vital para que o festival não desaparecesse. Mas, justamente para que o festival não morra, é preciso bradar aos quatro cantos que ele não poderia ser realizado assim: sem prioridade, planejamento, orçamento.

Programação

Encenação de Rei Lear, texto de Shakespeare, é assinada por Moacir Chaves. Foto: Guga Melgar

Encenação de Rei Lear, texto de Shakespeare, é assinada por Moacir Chaves. Foto: Guga Melgar

O FRTN este ano homenageia o jornalista, ator e diretor Valdi Coutinho, profissional que durante mais de duas décadas assinou uma coluna crítica de teatro no jornal Diario de Pernambuco.

O festival segue até o dia 29 de novembro, com 16 produções, nacionais e locais, sendo 13 espetáculos pernambucanos (dez adultos e três infantis). Os três espetáculos visitantes são Carta ao Pai, com Denise Stoklos (SP); o Solo Almodóvar, com Simone Brault (BA); e Presente de Vô, do grupo Ponto de Partida (MG).

A comissão de seleção dos espetáculos não teve muitas opções para fazer as escolhas, já que as propostas esbarravam em cachês e estruturas para trazer os espetáculos. O trabalho foi dirigido por Romildo Moreira e teve a participação de representantes de órgãos e entidades da classe teatral. São eles: Jorge Clésio (Secretaria de Cultura de Pernambuco); Andrea Morais Borges (Secretaria de Cultura do Recife); Ivo Barreto (Centro Apolo Hermilo); Ivana Moura (Apacepe); Roberto Xavier (Feteape) e Ivonete Melo (Sated/PE). Certamente voltaremos a tratar sobre esse assunto.

Programação 17º FRTN

Sábado (21):

Solenidade de Abertura com o espetáculo Rei Lear, da Remo Produções (PE) / Teatro Luiz Mendonça, às 20h

Domingo (22):

Salada Mista, com a Cia. 2 Em Cena (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 16h30

Chapeuzinho vermelho vira telenovela em Salada mista

Chapeuzinho vermelho vira telenovela em Salada mista

Como a Lua, da Mambembe Produções (PE) / Teatro Luiz Mendonça, às 16h30

José Manoel Sobrinho assina remontagem de Como a lua. Foto: Laryssa Moura

José Manoel Sobrinho assina remontagem de Como a lua. Foto: Laryssa Moura

Obsessão, Produção de Simone Figueiredo (PE) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Obsessão fez temporada de estreia no Teatro Boa Vista, em maio

Obsessão fez temporada de estreia no Teatro Boa Vista, em maio

Segunda-feira (23):

Na solidão dos campos de algodão, da Cia. do Ator Nu (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 20h

Texto do francês Bernard-Marie Koltès é levado a cena por Edjalma Freitas e Tay Lopez. Foto: Pollyanna Diniz

Texto do francês Bernard-Marie Koltès é levado a cena por Edjalma Freitas e Tay Lopez. Foto: Pollyanna Diniz

Terça-feira (24):

Soledad, com Hilda Torres (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h

Hilda Torres encena monólogo com direção de Malú Bazan sobre história de militante de esquerda

Hilda Torres encena monólogo com direção de Malú Bazan sobre história de militante de esquerda

A Receita, de O Poste Soluções Luminosas (PE) / Teatro Apolo, às 20h30

Espetáculo traz continuidade da pesquisa do grupo O Poste Soluções Luminosas. Foto: Ivana Moura

Espetáculo traz continuidade da pesquisa do grupo O Poste Soluções Luminosas. Foto: Ivana Moura

Quarta-feira (25):

O canto do cisne, com Manoel Carlos (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h

Companhia Fiandeiros participa de festival com monólogo. Foto: Carla Sellan

Companhia Fiandeiros participa de festival com monólogo. Foto: Carla Sellan

Carta ao Pai, com Denise Stoklos (SP) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Quinta-feira (26):

Cabaré Diversiones, com Vivencial Diversiones (PE) / Teatro Apolo, às 19h

Henrique Celibi retoma Vivencial com montagem

Henrique Celibi retoma Vivencial com montagem

Salmo 91, com a Cênicas Cia. de Repertório (PE) / Espaço Cênicas Cia. de Repertório, às 20h30

Cênicas Cia de Repertório leva ao palco texto de Dib Carneiro Neto. Foto: Wilson Lima

Cênicas Cia de Repertório leva ao palco texto de Dib Carneiro Neto. Foto: Wilson Lima

Sexta-feira (27):

Angelicus Prostitutus; da Matraca Grupo de Teatro (PE) / Forte das Cinco Pontas (Museu da Cidade do Recife), às 20h

Rudimar Constâncio dirige comédia que trata da prostituição

Rudimar Constâncio dirige comédia que trata da prostituição

Sábado (28):

 Sistema 25, com produção de José Manoel (PE) / – Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h e 21h30

Realidade de uma prisão é mote para Sistema 25. Foto: Camila Sérgio

Realidade de uma prisão é mote para Sistema 25. Foto: Camila Sérgio

Solo Almodóvar, com Simone Brault (BA) / Teatro Apolo, às 19h

Espetáculo conta história da travesti Dolores Maria

Espetáculo conta história da travesti Dolores Maria

Presente de Vô, com o Grupo Ponto de Partida (MG) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Domingo (29):

As Travessuras de Mané Gostoso, Cia Meias Palavras (PE) / Teatro Hermilo Borba Filho, às 16h30

Luciano Pontes, Arilson Lopes e Samuel Lira estão em cena em As Travessuras de Mané Gostoso. Foto: Ju Brainer

Luciano Pontes, Arilson Lopes e Samuel Lira estão em cena em As Travessuras de Mané Gostoso. Foto: Ju Brainer

Presente de Vô, com o Grupo Ponto de Partida (MG) / Teatro de Santa Isabel, às 20h30

Grupo mineiro volta ao Recife com Presente de vó. Foto: Guto Muniz

Grupo mineiro volta ao Recife com Presente de vó. Foto: Guto Muniz

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Militância na gestão pública

Romildo Moreira, chefe da Divisão de Artes Cênicas da Fundação de Cultura Cidade do Recife

Romildo Moreira, chefe da Divisão de Artes Cênicas da Fundação de Cultura Cidade do Recife

O nome dele está vinculado a ações significativas no teatro pernambucano. Idealizou o Janeiro de Grandes Espetáculos, o Festival Recife do Teatro Nacional, o Circuito Pernambucano de Artes Cênicas, realizado entre 2001 e 2006, participou da criação do Centro Apolo-Hermilo, lutou pela climatização do Teatro do Parque e pela reforma do Teatro de Santa Isabel. Como gestor, o dramaturgo, diretor e ator Romildo Moreira já passou pela Prefeitura do Recife, pelo Governo do Estado de Pernambuco, pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria da Cultura do Governo do Distrito Federal.

Atualmente, Romildo Moreira é o chefe da divisão de Artes Cênicas, na Fundação de Cultura Cidade do Recife. Por ironia, recentemente viu seus superiores tomarem a decisão de cancelar a edição 2014 do Festival Recife do Teatro Nacional e ainda de torná-lo bienal, sendo realizado alternadamente com o Festival Internacional de Dança do Recife, evento que hoje está sob a responsabilidade de Moreira e que foi realizado no mês passado com apenas R$ 200 mil de desembolso da Prefeitura do Recife. O restante, R$ 450 mil, veio de parcerias construídas pelo gestor e por sua equipe.

Em entrevista ao Satisfeita, Yolanda?, Romildo Moreira diz que não foi consultado sobre as mudanças nos festivais, admite que a Prefeitura do Recife possui um déficit de atuação na área da cultura, mas se diz motivado a continuar militando na atual gestão. A entrevista foi concedida ao blog na semana passada.

ENTREVISTA // ROMILDO MOREIRA

O que você achou do cancelamento do festival deste ano e da transformação do festival em bienal? Como você, enquanto gestor que criou o festival, enxerga isso?
Não dá para separar o artista Romildo Moreira, que esteve na gestão que criou o festival e que coordenou três edições, do atual gestor, que voltou para a Fundação de Cultura, 13 anos depois. Acho que é lamentável. Depois de tanto tempo que o festival se mantém como projeto anual, que ele tenha essa interrupção. Já tive uma experiência parecida: no terceiro ano consecutivo do festival, a gente optou por não torná-lo bienal, quando surgiu essa proposta, porque nós estávamos com pouca verba e tínhamos o compromisso com o Ministério da Cultura para a reforma do Teatro de Santa Isabel. O festival era o único recurso disponível na prefeitura até então para a área das artes cênicas. Então nós nos reunimos com as entidades, chamamos algumas pessoas notórias das artes cênicas, eu lembro bem, Germano Haiut, Reinaldo de Oliveira, discutimos essa proposta e vimos que não seria a melhor opção. Uma das discussões que a gente levantava era: havendo uma crise por algum motivo, no ano em que ele seria executado, o festival deixaria de acontecer não só um ano, mas por três anos. Nesta situação atual, não sei quais os discursos de defesa dessa proposta e quais os discursos que foram postos contrários a essa bienalidade. Talvez tenham até me poupado, em função de que eu estava muito atarefado com a realização do Festival Internacional de Dança.

Você foi consultado com relação a essa decisão?
Eu não fui consultado. Precisamos esclarecer: mesmo que a gestão cultural da Prefeitura seja uma só para a sociedade de modo geral, existem duas instituições públicas que trabalham com ela. O Festival é ligado ao Centro Apolo-Hermilo e o Centro Apolo-Hermilo é ligado diretamente ao gabinete da secretária. Na minha instância de hierarquia, eu passo por outro segmento, que é o da Fundação de Cultura. Isso também não impede que a gente sente, em comum acordo, para discutir. Mas eu não fui consultado; e aí, repito, talvez até em função das minhas atividades, que estavam muito fortes nesse período, em função do festival. Agora, se eu tivesse sido consultado, certamente teria defendido o contrário. Acho que não teria sido difícil mostrar até o ponto de vista do prejuízo político para a instituição. Dezoito anos depois, tornar o festival bienal, quando nenhuma gestão anterior se colocou neste lugar.

Qual o prejuízo político dessa decisão?
A Prefeitura do Recife está com um déficit muito grande dentro da história de sua participação no universo cultural da cidade, em especial nas artes cênicas, que é onde milito. Esse prejuízo é político, quando isso acontece exatamente numa gestão em que a secretária de Cultura é uma pessoa de teatro, sensível às questões teatrais, uma gestão cheia de pessoas de artes cênicas. É difícil para a sociedade entender como o cancelamento do festival é uma necessidade inadiável; não fica muito claro. Esse prejuízo se estende também ao lado artístico, porque passar dois anos alheios ao que está acontecendo em cena no país inteiro é ruim para a história local, como uma cidade receptora de grandes espetáculos, através exatamente do Festival Recife do Teatro Nacional e do Janeiro de Grandes Espetáculos. O Janeiro de Grandes Espetáculos não supre sozinho essa necessidade.

Um dos argumentos utilizados por Carlos Carvalho, coordenador do festival, é de que não teríamos um prejuízo muito grande, já que a cidade possui muitos festivais. Mas sabemos que o Festival Recife do Teatro Nacional tem um perfil e um objetivo muito específicos.
Acho que passa exatamente pelo que você pontua: perfil. Quando o poder público percebe que ele cumpre um papel e define esse papel como uma função sua, ele não pode ser comparado a outros, tem que ter um diferencial. Temos que voltar mesmo à história do festival: quando, nas três primeiras edições, ele tinha uma curadoria enorme, um grupo grande de pessoas para pensar e realizá-lo, do ponto de vista da programação, era exatamente essa discussão que a gente levantava: qual o diferencial que o Festival Recife do Teatro Nacional tem para o Festival de Curitiba, para Porto Alegre, para os grandes festivais de teatro do país que existiam na época? E a gente via que a importância que o festival iria adquirir para o cenário brasileiro, era exatamente esse seu perfil singular. A gente queria reunir, como reunimos, grandes espetáculos, tendo como mote para cada ano um ponto de vista, a partir desse olhar viriam os convites. O primeiro ano foi a reunião de grupos consolidados. Trouxemos pela primeira vez ao Recife, o Galpão, o Latão, que estourou nacionalmente aqui no Recife, porque era muito conhecido por um gueto de intelectuais em São Paulo, mas à medida que veio para cá, com dois espetáculos, despontou para o resto do Brasil – isso está no livro que o Sérgio de Carvalho escreveu quando o grupo completou 15 anos. É este perfil de trazer o que de melhor se produz, na forma como originalmente foi produzido. Uma coisa não substitui outra. Mas sei que deve ter sido bem doloroso também para os diretores da secretaria e da fundação tomarem essa medida, mas é lamentável, porque quebra uma história.

Espetáculo belga L’AssautdesCieux não viria ao Recife através de produtores independentes. Foto: Irandi Souza/PCR

Espetáculo belga L’AssautdesCieux não viria ao Recife através de produtores independentes. Foto: Irandi Souza/PCR

O Festival Internacional de Dança foi realizado sob sua coordenação. Como você conseguiu viabilizar o festival financeiramente, já que a falta de verba seria um dos motivos pelos quais o Festival Nacional foi cancelado?
A viabilidade do Festival de Dança este ano realmente foi muito difícil. Este ano para a cultura no Brasil não foi fácil e para Recife em especial. Politicamente houve uma ruptura entre o governo federal e o governo estadual e, consequentemente, com o municipal. Isso implicou na questão de verbas da Prefeitura. Para se ter uma ideia: parte dos recursos do Ministério do Turismo para o carnaval ainda não foi liberado, da mesma forma com o ciclo junino. Ou seja: a Prefeitura teve que arcar com despesas que não estavam pré-orçadas para tal, teve que tirar de eventos próprios, como foi tirado do Festival de Dança. O Festival de Dança estava orçado em R$ 700 mil, depois baixou para R$ 500 mil. Ele foi realizado com quase R$ 650 mil em desembolso direto, dos quais R$ 200 mil apenas foram da Prefeitura. O restante foi parceria. A programação realizada no Paço Alfândega, por exemplo, se nós fôssemos pagar todas as despesas lá: aluguel de linólio, aluguel de som, aluguel do espaço, por duas semanas, isso ultrapassaria R$ 50 mil e nós conseguimos como parceria. O grupo da Bélgica, que veio com onze pessoas, o Ministério da Cultura da Bélgica pagou as passagens de ida e volta; o grupo do Sesc de Petrolina, com 22 pessoas, foram passagens de avião pagas pelo Sesc. Foram aportes que se somaram, para que o festival acontecesse, inclusive de forma grandiosa. Não foi menor do que o do ano passado, muito pelo contrário, pela opção que fizemos de espalhar a programação pela cidade inteira, essa programação que foi realizada no Paço Alfândega, diariamente, pegando outro tipo de público, no horário do almoço, resultou muitíssimo bem, tudo isso foi ampliando mesmo o volume do festival. O Paço do Frevo também, que foi outro parceiro, apoiador maravilhoso. O espetáculo da filha de Antônio Carlos Nóbrega, Maria Eugênia, apresentado lá, até o cachê do espetáculo foi o próprio Paço quem pagou. Enfim, a gente saiu buscando parceiros para que, de fato, a gente politicamente cumprisse o prometido com a categoria.

Quem buscou essas parcerias? Quem fez essa produção?
A Gerência de Artes Cênicas, nós, sob minha responsabilidade.

Vocês tiveram algum recurso vindo do setor de captação da própria Prefeitura?
A captação de recursos institucional a gente tentou através das leis de incentivos, que foram poucas, mas não tivemos resposta positiva. Isso foi negociação direta mesmo da Gerência com os apoiadores. O chefe dessa divisão de captação de recursos é Wellington Lima. Eu estive com ele, fizemos projeto para o BNDES e algum outro, que não foram aprovados. Mas essa captação que resultou em verbas alocadas para o 19° Festival Internacional de Dança do Recife veio através de negociação direta com a Gerência.

Como foi a negociação com o Presidente da Fundação de Cultura para que o festival fosse realizado?
Quando eu soube que só tinha R$ 200 mil em desembolso para realizar o festival – porque precisa ainda computar outros gastos, por exemplo, manter um Teatro como o Santa Isabel funcionando a semana inteira em função do festival, isso tem uma despesa muito grande, energia, funcionário, hora extra de funcionário. Mas, de desembolso mesmo, de orçamento para liberação de recursos, só tinha R$ 200 mil. Então tinha duas opções: realizá-lo fazendo a multiplicação dos pães, ou não realizá-lo, porque o dinheiro, de fato, não atenderia às necessidades. E eu, com a minha equipe, resolvemos arregaçar as mangas e investir na realização dele.

Com relação à qualidade artística, não conseguimos acompanhar o festival, mas soubemos de espetáculos imperdíveis; e, ao mesmo tempo, de espetáculos questionáveis…
Realmente, nós tivemos umas oscilações, tivemos alguns espetáculos fracos mesmo. As pessoas até disseram: ‘como uma comissão de avaliação deixa passar isso?’. Mas, em compensação, tivemos outros maravilhosos. Ficamos muito felizes. A exemplo do Dois Mundos, com a atriz e bailarina Mariana Muniz. Ela faz um espetáculo onde o corpo todo se expressa em libras; inclusive ela é daqui, maravilhosa. O grupo da Bélgica, um espetáculo daquele nenhum produtor independente traz, um espetáculo que, para entrar em cena, você tem que adquirir três metros e meio de areia, um botijão de gás hélio que custou R$ 930 só para encher o balão, comprar um monte de tralhas que não dá para trazer da Bélgica, tem que comprar aqui, como pá de construção.

2 Mundos, espetáculo de Mariana Muniz, foi destaque no Festival Internacional de Dança. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

2 Mundos, espetáculo de Mariana Muniz, foi destaque no Festival Internacional de Dança. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Voltando às decisões da Prefeitura, o que foi divulgado é que os Festivais de Dança e de Teatro serão bienais, realizados de forma alternada. Isso envolve o Festival de Dança, sob a sua batuta. Ele virou bienal à sua revelia?
Eu não diria à minha revelia porque não tenho poder de decisão. Tenho superiores. Tenho um cargo muito pequeno diante de quem tem as decisões. Lamento não ter podido estar presente, para defender a manutenção dos festivais. Talvez eu tivesse argumentos suficientes para a gente rever. Para mim, seria muito mais coerente politicamente falando dentro de uma gestão que tem esse elenco de pessoas envolvidas até a medula com a questão da cultura na cidade, como a secretária Leda Alves. Seria muito mais fácil a gente sentar com a comunidade e dizer: “olha, este ano não dá para fazer porque não tem dinheiro. A gente não quer colocar as pessoas para trabalhar e não saber se vai poder pagar. Isso não é uma coisa responsável, não seria uma atitude responsável. Mas, a gente vai se comprometer com vocês que, no ano seguinte, a gente faz o festival, tentar até alocar mais recursos, trazer mais parceiros, para fazer o festival à altura, como a cidade merece”. Acho que as pessoas entenderiam que este ano era impossível fazer, porque foi um ano de Copa, um ano que teve muitos problemas de infraestrutura na cidade, por causa das chuvas, foi um ano atípico, com coisas que justificam a queda de arrecadação da Prefeitura. Agora, o que acho que a gente fica devendo, de fato, é tomar uma medida dessas que não é fácil de ser aceita pela comunidade, sem ter tido esse diálogo, essa oportunidade.

Você já conversou com o presidente depois disso? Você acha que essa é uma decisão reversível? Você vai tentar fazer o Festival Internacional de Dança ano que vem?
Ainda não. Se for uma decisão superior, não posso me opor, muito pelo contrário, tenho que acatar, porque não sou secretário de Cultura, presidente da Fundação ou prefeito do Recife. A possibilidade de voltar a ser anual, acho que tem muito mais a ver com a mobilização da comunidade artística do que da nossa própria interferência lá dentro. Não sei quais os argumentos que levaram a se ter essa decisão, eu não ouvi, pode ser até que essa minha ausência nessa reunião também tenha me deixado sem argumentos suficientes para defender essa posição, porque não ouvi os discursos que levaram a essa decisão, não sei quais foram. Sei que falta de dinheiro existe, mas gostaria mesmo que fosse revista essa posição e que a gente tivesse no próximo ano tanto o festival de dança quanto o de teatro. Até mesmo porque ambos os festivais já têm inscrições em leis de incentivo para o ano de 2015. Então vai ficar muito difícil se um dos projetos que enviamos para uma dessas leis de incentivo for aprovado e a gente não realizá-lo. Ainda tem uma situação delicada, na medida em que se tornou público isso, porque se uma comissão que vai analisar os projetos de 2015 sabe que o nosso festival passou a ser bienal, é óbvio que ela não vai votar no nosso. Já existe um prejuízo. Politicamente é difícil tramitar agora com projetos prévios para um festival que deixou de ser anual, quando a gente já tinha perspectiva de realizá-lo ano que vem.

Na nota que anunciou o cancelamento do Festival Nacional, a Prefeitura aproveitou para anunciar o fomento às artes cênicas. Os artistas sabem do seu empenho, desde o encontro que você teve com a classe no Forte das Cinco Pontas, no início do ano, para que o fomento fosse retomado. Mas como, neste momento, você vai defender esse fomento, com um valor que não é o ideal e que pode ser visto como um ‘cala a boca’ para os artistas?
Ele já estava previsto. A gente precisa fazer um histórico disso também. No último ano que o fomento saiu foi de R$ 20 mil. Quando se descontava os percentuais de praxe, de um desembolso público, isso ficava um valor tão irrisório… Mas o poder público trabalha com orçamentos e a gente não pode pensar num orçamento ilusório, a gente tem que pensar um orçamento real, viável, possível. Então, obviamente, paulatinamente, esses valores vão melhor atendendo às necessidades. Sei que R$ 33 mil, dependendo do tipo de produção é um aporte pequeno, mas é alguma coisa. Até mesmo porque o fomento não impede que um projeto contemplado capte recursos noutras fontes, como o Funcultura. Estamos dando uma pequena parte para incentivar. Fomento não é um patrocínio, é um aporte de apoio mesmo.

Ele não viabiliza. Ele fomenta…
Não produz, ele fomenta. Ele dá o incentivo, não a produção. O Funcultura sim, se você consegue aprovar 100% do seu projeto, é um patrocínio. Agora como foi dito e discutido nesse encontro em fevereiro do ano passado, a gente tinha uma verba de R$ 300 mil. Como dividir? Até porque, ele tinha sido pensado em valores diferentes, para teatro e dança era um e para circo era outro. E lá, nesse encontro, as pessoas de circo não foram favoráveis a esse desnível de valores e conseguiram sensibilizar todos, de que não deveria ser assim. Agora a ideia é que, paulatinamente, a gente vá adequando esses valores, até mesmo porque a inflação existe, é real, está voltando, então a gente precisa fazer com que essas verbas não estacionem. Agora, nunca vai ser suficiente para a montagem. Vai ser sempre uma verba de apoio e nem é um apoio tão pequeno, para iniciar uma produção, já cumpre um bom papel.

R$ 33 mil sem descontos?
A gente está querendo que saia via Fundo, o que tem um implicador burocrático, porque o Fundo é controlado pelo Conselho Municipal de Cultura. Ele tem uma ligação direta com o Conselho. De forma que, se pudermos liberar esses recursos através do Fundo Municipal de Cultura, ele sai como prêmio; caso contrário, o fomento é dado com os descontos normais, de praxe. Mas estamos tentando que ele saia como prêmio do Fundo.

Nós sabemos que, desde sempre, a falta de espaços ou a precariedade dos espaços
Existe já há algum tempo, isso não é recente, não vem dessa gestão atual, um departamento chamado Goe, Gerência de Operação de Espaços, que não está ligada diretamente às artes cênicas. Então todos os teatros, museus, galerias, bibliotecas, os espaços físicos da área de cultura são gerenciados por esse departamento. Existe sempre algum diálogo entre a Divisão de Artes Cênicas e esse departamento. No caso do Barreto Júnior, em especial, ele não está fechado. Está em condições precárias para uso. De forma que os produtores que o buscam sabem que o ar-condicionado de lá não tem mais retorno. Já foi feito agora o processo de levantamento de custos para a compra de um novo equipamento, porque ali é em cima do mar e a maresia acabou com toda a estrutura da máquina. Agora, no Festival, nós usamos o teatro. Teve um custo enorme para colocar aqueles ar-condicionados portáteis, que são alugados para eventos. Colocamos seis aparelhos, quatro no auditório, um nos camarins e um no palco. Ficou um clima agradável. Mas, por exemplo, uma produção independente que vá cumprir temporada não vai conseguir arcar com essa despesa para tirar de bilheteria.

Qual a previsão?
A partir do primeiro semestre de 2015. Essa foi uma notícia recente, que o próprio diretor do teatro, Marcelino Dias, me passou. Que o GOE já está fazendo esse processo de custos, para abrir processo de compra, os trâmites burocráticos. Segundo Marcelino, vai ser adquirido no primeiro semestre de 2015.

Porque além dos festivais, a casa abre edital para ser ocupado, faz parte da política de ocupação do espaço. Então até o fim do primeiro semestre isso não vai acontecer?
Parece que é para bem antes, pelo que Marcelino me passou. Esse processo de compra se encerraria ainda este ano; no Janeiro de Grandes Espetáculos provavelmente ele não vai estar instalado, mas a ideia é que logo após carnaval, o teatro já esteja com o equipamento.

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