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Para que pode servir uma poética identitária? Ou sobre o beco-sem-saída de uma contracultura atual*
Crítica do espetáculo Res Publica 2023

Res Publica 2023 está em cartaz no CCSP até 10 de novembro. Foto: Priscila Prade

*Crítica escrita por Stephan Baumgartel, professor da Universidade do Estado de Santa Catarina/Programa de Pós-Graduação em Teatro. Colaboração especial para o Satisfeita, Yolanda?

Há uma vertente de mestres espirituais conhecida no mundo oriental como os malamati, os mestres do caminho da culpa e da humilhação. São mestres que assumem quase que teatralmente a culpa de outras pessoas, com a intenção de criar situações que servem como oportunidade de ensinamento do caminho do amadurecimento da consciência humana.

Talvez seja esse caminho uma ideia que atravessa mais ou menos, (in)conscientemente, a construção do espetáculo RES PVBLICA 2023, da companhia A Motosserra Perfumada, que assisti no Centro Cultural São Paulo (CCSP), no sábado do dia 26 de outubro de 2019. Seis personagens instalados num apartamento que mais parece um bunker do que um lugar de convivências. Personagens apresentados numa espécie de prólogo como figuras dotadas de clichês e contradições fixas. Estão juntos, mas não sabemos ou entendemos se eles de fato convivem. Cada um em seu mundo e juntos no mesmo espaço. Vivem seus dramas e conflitos afetivos, sexuais, musicais, morais ou amorais – todos declarados pelas figuras ficcionais como problemas existenciais, num contexto em que, lá fora, patrulham os neofascistas de plantão. Ou seja, nesse momento, o paroxismo do mundo privado deve ser visto como força política.

Na tentativa de descrever a poética da cena, quem viveu uma São Paulo dos anos 80 talvez pense no clube Madame Satã, no início da new wave e do pós-punk brasileiro. A comparação não me parece errada, se não fosse a insistência forte do texto na ameaça de uma caça aos amorais, às minorias desviantes da moralidade normatizada. Uma ameaça que paira implacavelmente sobre o mundo ficcional da montagem e até motiva, de certa maneira, o tom ora desesperador, ora niilista, ora quase paranoico presente nas ações e interações das figuras. Uma ameaça, entretanto, que existe concretamente em muitos lugares do país, com consequências nefastas e destruidoras para as pessoas que pertencem a esses grupos. Contra esse fundo, a montagem afirma sua vitalidade, sobretudo pela música pulsante, mas também por meio de atuações vibrantes, que buscam uma teatralidade claramente maior que a vida empírica ou ostensivamente menor, quase minimalista.

Um tom de deboche perante a moralidade normatizada não falta, como também não falta, para que possa desenvolver sua eficácia, a provocação simbólica de colocar o público ora como cúmplice da cena ficcional, ora como representante da maioria silenciosa que apoia, com sua inércia, o espetáculo neofascista. Os tempos, contudo, são mais difíceis do que aqueles anos 80, pois são mais abertamente brutais e intolerantes hoje. Nessa situação, todos nós estamos tentados a nos blindarmos em discursos identitários.

Nisso reside o maior desafio da montagem e, talvez, o beco-sem-saída da abordagem denominada por mim de “malamati”: como mostrar ao público que sua cumplicidade não é só com os gestos revoltados de uma contracultura (que, aliás, há tempo perdeu seu horizonte utópico), mas também com os desdobramentos monológicos de suas vertentes identitárias? Como apresentar a sintomática desse mal-estar a partir de uma posição implicada no sintoma, e ao mesmo tempo provocar uma reflexão crítica? Mas, crítica a partir de que horizonte? Apenas a partir da insustentabilidade dessa contracultura como alternativa à moralidade normatizada? Como lidar com o problema de que (quase) todos no público sabemos dessa ameaça e concordamos sobre o nome do inimigo? Como tornar esse (quase) submundo identitário interessante para além do primeiro reconhecimento de seus impasses? Nesse sentido, a montagem precisa lutar constantemente contra a absoluta ausência de desdobramentos e conflitos produtivos que esse cenário identitário, de moralistas e amoralistas, pode gerar. A atuação cênica, às vezes um tanto histérica, ganha sua justificativa aqui: de ser não apenas sintoma de um desespero temático, mas também da falta de um embate dinâmico e dialético que acredite na possibilidade de sua transformação qualitativa. Não há horizonte de superação, mas a exposição do beco-sem-saída atual, criado também por certa contracultura ensimesmada.

Espetáculo tem texto e encenação assinados por Biagio Pecorelli. Foto: Priscila Prade

Se a montagem investe durante boa parte de sua apresentação na cumplicidade do público com essa contracultura, tentando sutilmente fazer-nos aceitar o monologismo dos personagens por meio de uma vitalidade visceral da apresentação, ela muda de tom no final. Primeiro, por nos lembrar em forma de projeções gravadas de alguns incidentes de perseguição brutal às minorias presentes na ficção da cena, sobretudo a transexuais. Se essa tentativa de certa maneira introduz quase uma moral da história que talvez duvide do gesto crítico anterior e busque forçadamente acusar o público de manter-se inerte perante o tamanho do problema, o mesmo não posso dizer da última cena do espetáculo, quando a atriz Camila Rios chama ao palco o cachorrinho que foi comentado no mundo ficcional como pertencente aos moradores. O cachorro aparece vestido de uma capa de couro sobre a qual foi costurada uma suástica. Nesse gesto, o espetáculo me parece tentar estabelecer um horizonte autocrítico também: esse mundo ficcional da cena não é um contra-mundo, mas compartilha a lógica monológica dos neofascistas?

Dessa maneira, o beco-sem-saída se completa e o caminho de assumir a culpa de todos se abre para que encontremos uma solução fora das condições colocadas pelas estratégias que motivam o mundo ficcional e empírico apresentados na peça. Para tal, talvez deva-se perguntar quais são os grupos ausentes nesse mundo do bunker? Os trabalhadores formais e informais, o “precariado” novo, a pequena burguesia instavelmente ocupada em suas atividades econômicas – em outras palavras, aquela parcela de um possível público que não ganha nada concretamente ao adotar posições moralistas e identitárias, pois essas posições não resolvem nem atenuam a pressão econômica que a leva para o campo dos “perdedores” da sociedade. Em outras palavras, a saída que a peça não sugere diretamente, apenas por meio da criação do beco-sem-saída de uma política moralista, teria que ser uma ponte crítica para o imaginário desses grupos. Uma ponte para a qual uma abordagem crítica focada na política identitária não pode ser outra coisa que uma armadilha bem-intencionada.

Serviço: 
Res Publica 2023, d’A Motoserra Perfumada
Quando: De quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 20h. Até 10 de novembro
Onde: Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000, Paraíso)
Quanto: R$40 e R$20 (meia-entrada). Os ingressos são vendidos pela internet no site Ingresso Rápido e na bilheteria do teatro duas horas antes do início da peça
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Capacidade: 100 pessoas

Ficha técnica:  
Texto e direção artística: Biagio Pecorelli
Elenco: Biagio Pecorelli, Bruno Caetano, Camila Rios, Edson Van Gogh, Jonnata
Doll e Leonarda Glück
Diretora de produção: Danielle Cabral
Desenho de luz: Cesar Pivetti
Assistente de iluminação e operador de luz: Rodrigo Pivetti.
Preparação Viewpoints: Guilherme Yazbek
Assistente de direção: Dugg Monteiro
Cenário e figurinos: Rafael Bicudo e Coko
Design de som/sonoplastia/trilha sonora: Dugg Monteiro
Produtoras de operações: Victória Martinez e Jessica Rodrigues
Arte de divulgação: Bruno Caetano
Fotos de divulgação: Priscila Prade
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Realização: A MOTOSSERRA PERFUMADA
Produção geral: DCARTE E CONTORNO

 

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Agenda – Primeira semana de novembro

AGENDA SÃO PAULO

ESTREIA

As Mãos Sujas

Peça de Sartre escrita em 1943 reflete sobre a política atual. Foto: Yghor-Boy

O encenador José Fernando Peixoto de Azevedo utiliza recursos cinematográficos inspirados no filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, para propor uma reflexão contemporânea sobre a política, o indivíduo e o coletivo, tendo por base a peça As Mãos Sujas, de Jean Paul Sartre (1905 – 1980). A montagem traça desdobramentos na linguagem de José Fernando e suas investigações que relaciona teatro e cinema.

A peça explora a história de um jovem intelectual que delibera a morte do líder de seu partido quando este propõe uma aliança com partidos conservadores.  A cena surfa em “deslizamentos temporais” e transita entre 1943 (marca em que Sartre situa a ação), o presente e dúvidas sobre um futuro próximo. A guerra ideológica que vivemos nos dias de hoje salta para o centro da cena questionando conceito de partido político, o sentido e as consequências das alianças com forças conservadoras. 

Serviço:
As Mãos Sujas
Quando: De 1º de novembro até 24 de novembro de 2019. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h. No dia 15/11, a sessão será às 18h
Onde: Sesc Ipiranga (Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga)
Quanto: R$ 9 (credencial plena), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 30
Duração: 180 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

Ficha técnica:
Texto: Jean-Paul Sartre
Tradução: Homero Santiago
Atores: Gabriela Cerqueira, Georgina Castro, Paulo Balistrieri, Paulo Vinicius, Rodrigo Scarpelli, Thomas Huszar e Vinicius Meloni.
Câmera e edição: Yghor Boy
Direção musical: Guilherme Calzavara
Desenho de som e sonoplastia: Ivan Garro
Música em cena: Ivan Garro, Rodrigo Scarpelli e Thomas Huszar
Desenho de luz: Guilherme Bonfanti
Figurino: Marcelo Leão e José Fernando Peixoto de Azevedo
Consultoria para o trabalho de voz: Mônica Montenegro
Consultoria teórica: Franklin Leopoldo e Silva
Assistente de direção: Murilo Franco
Operador de luz: David Costa
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
Produção: Corpo Rastreado
Direção e dispositivo de cena: José Fernando Peixoto de Azevedo

ESPECIAL

Sangoma

Sangoma, da Capulanas Cia de Arte Negra, faz sessão única no Sesc Interlagos

Sangoma é um convite a um universo místico cercado de histórias de dor, superação, amores verdadeiros e possibilidades de cura. Dentro das comunidades, Sangomas são as mulheres escolhidas espiritualmente por seus ancestrais para darem continuidade aos trabalhos de cura espiritual e física.

A peça é ambientada dentro de uma casa; os espectadores percorrem cada cômodo, encarando o depoimento das seis personagens que ali vivem. São vozes muitas vezes caladas, que despertaram do silêncio para brotar vida e relatar as enfermidades, consequências das suas relações com o mundo, com o outro, e os caminhos que percorreram para chegar à cura.

A construção dos personagens e das suas histórias de vida foram compiladas a partir de atividades de formação realizadas pelo grupo em 2012. Temas como saúde cultural, física e psíquica de mulheres negras foram fundamentais para o desenvolvimento dos textos, criados em parceria com a escritora Cidinha da Silva.

A peça integra a programação do último final de semana da mostra Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo que, desde o dia 19 de outubro, ocupou o Sesc Interlagos.

Serviço:
Sangoma, da Capulanas Cia de Arte Negra
Quando: sábado (2/11), às 16h
Onde: Sesc Interlagos (Avenida Manuel Alves Soares, 1100, Parque Colonial)
Quanto: Distribuição gratuita
Duração: 75 minutos
Classificação indicativa: 16 anos

Ficha técnica:
Elenco: Adriana Paixão, Carol Ewaci Rocha, Débora Marçal, Flávia Rosa, Priscila Obaci, Rosse de Oyá
Direção: Kleber Lourenço
Texto: Cidinha da Silva e Capulanas Cia da Arte Negra
Direção musical: Naruna Costa
Produção: Euler Alves e Renan Jordan
Designer e operação de luz: Clébio Ferreira (Dedê)
Operação de luz: Thiago Faustino
Cenário: Rodrigo Bueno
Figurino: Ligia Passos e Shirley Rosa

EM CARTAZ

Brian ou Brenda?

Brian ou Brenda? Foto: Heloisa Bortz

O caso ocorreu em meados de 1960, no Canadá. Na trama, os gêmeos Brian e Bruce são circuncidados por volta dos oito meses de idade, por orientação médica. Durante o procedimento, o pênis de Brian é acidentalmente cauterizado. O psiquiatra John Money – que defende a tese de que os bebês nasceriam neutros e teriam seu gênero definido pela criação – aconselha a operação de redesignação sexual. E os pais educam Brian como uma menina. A criança cresce infeliz naquele corpo; só depois de uma tentativa de suicídio, os pais contam a verdade, e Brenda vai em busca de sua real identidade.

A violência sofrida por David Reimer é um dos episódios mais polêmicos da psiquiatria mundial. Os conservadores usam o caso com escudo para argumentar que uma pessoa biologicamente nascida com o sexo masculino sempre se identificará como homem. Já os teóricos de gênero defendem que o sofrimento causado pela tentativa de impor uma identidade a David é idêntico ao que pessoas transgêneras passam na sociedade conservadora.

Com direção de Yara de Novaes e Carlos Gradim, a montagem propõe uma reflexão sobre gênero e o direito de escolhas e desejos de cada um e os limites dos tratamentos médicos e psiquiátricos.

Serviço:
Brian ou Brenda
Quando: sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h. Até 17/11
Onde: Viga Espaço Cênico, Rua Capote Valente, 1323 – Pinheiros – São Paulo
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Duração: 100 min
Classificação indicativa: 14 anos
Informações: (11) 3801-1843

Ficha técnica:
Texto: Franz Keppler
Direção: Yara de Novaes e Carlos Gradim
Assistência de direção: Ronaldo Jannotti
Elenco: Augusto Madeira, Daniel Tavares, Giovanni Venturini, Jimmy Wong, Kay Sara, Lavínia Pannunzio, Marcella Maia e Paulo Campos
Cenário: André Cortez
Figurino: Cassio Brasil
Iluminação: Aline Santini
Trilha sonora original: Dr. Morris
Preparação corporal: Ana Paula Lopez
Visagismo: Louise Helène
Direção de produção: Ronaldo Diaféria e Kiko Rieser
Produção executiva: Marcos Rinaldi
Assistente administrativa: Juliana Rampinelli
Fotografia: Heloísa Bortz
Design gráfico: Angela Ribeiro
Assessoria de imprensa: Pombo Correio (Douglas Picchetti e Helô Cintra)
Realização: Rieser Produções Artísticas, Diaferia Produções e Da Latta Cultura

Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã

Espetáculo conta a história de um garoto negro de 12 anos que sai para comprar pão. Foto: Alessandra Nohvais

A história não é nova, nem incomum: um garoto negro de 12 anos sai de casa, na periferia, para comprar pão. Tido como suspeito em frente à padaria, corre para não ser baleado pela polícia.Foto: Alessandra Nohvais

Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã carrega poesia e delicadeza para falar de um dos graves problemas brasileiros: a morte de jovens negros da periferia. O coletivo Carcaça de Poéticas Negras desenvolve uma pesquisa de linguagem sobre o corpo negro urbano e suas diásporas, o genocídio e o etnocentrismo.

Com uma narrativa em primeira pessoa, abraçada ao universo do realismo fantástico, o espetáculo apresenta um garoto negro de periferia – personagem nascido e criado em Guaianases, zona leste de São Paulo – que, no primeiro dia do ano, recebe um bacolejo de um policial quando chega à padaria.

Ciente do que acontece com gente preta e pobre diante dessas autoridades, o miúdo começa a correr e sai numa viagem sem rumo certo, passando por países da América Latina e da África, buscando sempre dispositivos de sobrevivência para continuar existindo.

A peça idealizada por Jhonny Salaberg foi contemplada com prêmio de montagem na Mostra CCSP de Pequenos Formatos Cênicos do ano passado.

Serviço:
Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã, do coletivo Carcaça de Poéticas Negras
Quando: Sexta (1/11) e sábado (2/11), às 20h, e domingo (3/11), às 19h [sessões com interpretação em Libras]
Onde: Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, Bela Vista)
Quanto: Gratuito. Distribuição de ingressos para público preferencial: uma hora antes do espetáculo, com direito a um acompanhante – ingressos liberados apenas na presença do preferencial e do acompanhante. Para público não preferencial: uma hora antes do espetáculo, sendo 1 ingresso por pessoa
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Capacidade: 244 lugares

Ficha técnica:
Idealização, coordenação e dramaturgia: Jhonny Salaberg
Direção: Naruna Costa
Elenco: Ailton Barros, Clayton Nascimento e Jhonny Salaberg
Instrumentistas: Erica Navarro e Giovani Di Ganzá
Preparação corporal: Tarina Quelho
Direção musical: Giovani Di Ganzá
Cenografia e figurino: Eliseu Weide
Assistência de cenografia e figurino: Carolina Emídio
Criação de luz: Danielle Meireles
Operação de luz: Danielle Meireles e Thays do Valle
Artista gráfico: Murilo Thaveira
Fotos: Alessandra Nohvais e João Luiz Silva
Vídeos: Lucas Cândido e David Costa
Produção: Bia Fonseca e Iza Marie
Contrarregragem: Douglas Vendramini e Patrick Carvalho
Realização: Carcaça de Poéticas Negras

Enquanto Ela Dormia

Enquanto Ela Dormia. Fotos Mayra Azzi

A primeira versão de A Bela Adormecida, de 1648, é o disparador da peça, que investiga a violência contra a mulher e as relações de poder entre os gêneros. Enquanto Ela Dormia convoca a personagem Dora, uma professora de literatura, que presencia uma cena de abuso em um ônibus e sofre ao relembrar os traumas de infância.

O monólogo explora uma linha cronológica das dores do feminino, como, por exemplo, os pés de lótus das mulheres chinesas e a expulsão da deusa Lilith do Paraíso. A diretora Eliana Monteiro entende que “o espetáculo é um mergulho na geografia da dor das mulheres e uma provocação ao que está acontecendo na nossa sociedade”.

A montagem questiona os mecanismos usados para minimizar, esconder, disfarçar, apagar essas violências. Enquanto Ela Dormia percorre três eixos temáticos: o dos contos de fadas, que integram o imaginário universal do feminino; as histórias de amputações, para que a mulher coubesse na sociedade patriarcal; e as memórias de uma história de amor.

Contemplada na 9ª edição do Prêmio Zé Renato, a peça faz parte da programação do projeto Teatros em Movimento, que prevê a circulação de companhias teatrais, seus trabalhos e processos criativos pelas sedes de outros grupos, em diferentes bairros da capital paulista.

Serviço:
Enquanto Ela Dormia, do Teatro da Vertigem
Quando: Sextas e sábados, às 21h e domingos, às 19h. Até 24 de novembro
Onde: Sede do Teatro da Vertigem (Rua Treze de Maio, 240, 1º andar – Bela Vista)
Quanto: Ingressos gratuitos, distribuídos 1h antes das sessões
Duração: 70 min
Classificação indicativa: 16 anos
Capacidade: 50 lugares

Ficha técnica:
Diretora artística: Eliana Monteiro
Diretor técnico e light designer: Guilherme Bonfanti
Atriz: Lucienne Guedes
Dramaturgismo: Antonio Duran
Texto: Carol Pitzer
Operador de som: José Mario Tomé e Nayara Konno
Diretor de cena/contrarregra: Evaristo Moura
Operadora de vídeo: Aline Sayuri
Operador de luz: Patricia Amorim
Montador de luz: Diego Soares
Montador de vídeo: Rodrigo Silbat
Trilha sonora: Erico Theobaldo
Figurinista: Marichilene Artisevskis
Cenografia: Marisa Bentivegna
Produção geral: Marcelo Leão
Fotos: Mayra Azzi
Assessoria de Imprensa: Márcia Marques – Canal Aberto

Erêndira – A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada

Texto de García Márquez está em cartaz no Centro Cultural Fiesp. Foto: Leekyung Kim

A obra do Nobel colombiano Gabriel García Márquez, que foi publicada em 1972, narra a trajetória de uma menina de 14 anos, que após um incêndio que destrói a casa da família, passa a ser prostituída pela avó. A adaptação para o teatro é de Augusto Boal. Irene Papas defendeu o papel da desalmada e Claudia Ohana fez Erêndira no cinema, no filme de 1983, com direção de Ruy Guerra. A montagem teatral tem direção de Marco Antonio Rodrigues, dramaturgia de Claudia Barral e canções originais compostas por Chico César. Giovana Cordeiro faz seu début no teatro como Erêndira. Com Alessandra Siqueyra, Caio Silviano, Gustavo Haddad, Dagoberto Feliz, Dani Theller, Demian Pinto, Eric Nowinski, Jane Fernandes, Marco França, Maurício Destri e Rafael Faustino. O espetáculo abraça a estética e os recursos do realismo fantástico, seguindo os passos de Gabo.

Serviço:
Erêndira – A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada
Quando: Quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Até 08 de dezembro
Onde: Centro Cultural Fiesp – Teatro do SESI (Avenida Paulista 1313, Bela Vista)
Quanto: Grátis / Reserva de ingressos: Centroculturalfiesp.Com.Br
Duração: 120 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

Ficha técnica:
Baseado no conto de Gabriel Garcia Márquez
Adaptação: Augusto Boal
Dramaturgia: Claudia Barral
Tradução: Cecília Boal
Direção: Marco Antonio Rodrigues
Elenco: Giovana Cordeiro, Maurício Destri, Chico Carvalho, Dagoberto Feliz, Gustavo Haddad, Marco França, Eric Nowinski, Alessandra Siqueyra, Caio Silviano, Dani Theller, Demian Pinto, Jane Fernandes e Rafael Faustino
Cenografia: Marcio Medina
Figurino: Cássio Brasil
Iluminação: Tulio Pezzoni
Músicas originais compostas: Chico Cesár
Preparadora corporal: Marcella Vincentini
Design gráfico: Zeca Rodrigues
Fotografia: Leekyung Kim
Assessoria de imprensa: Adriana Monteiro
Idealização: Instituto Boal
Assistentes de produção: Diogo Pasquim e Carol Vidotti
Produção executiva: Camila Bevilacqua
Direção de produção: Luís Henrique Luque Daltrozo
Produção: Daltrozo Produções
Realização: SESI São Paulo

Eu de Você

Denise Fraga narra histórias reais no seu novo espetáculo. Fotos: Leo Martins / Divulgação

Sartre pregava, ironicamente, que o inferno são outros. Sim, mas também espelho. A atriz Denise Fraga aposta nesse reflexo, nessa reverberação. A intérprete defende a urgência de ver o outro, olhar pelo olhar do outro.  Ela recebe sempre o público na porta do teatro para reforçar a cumplicidade, o laço de afeto. Denise Fraga gosta de gente e de contar suas histórias. Durante nove anos protagonizou um programa de televisão contando histórias reais: o Retrato Falado, na TV Globo.

No solo Eu de VocêFraga leva ao palco histórias do cotidiano de gente comum e a criatividade para encontrar solução para diversos problemas. O humor é uma ferramenta poderosa nessa montagem. Denise convocou o público a enviar suas histórias para esse projeto, anunciou nos jornais, nas redes sociais. De mais de 400 histórias foram selecionadas 33, costuradas dramaturgicamente com literatura, música, imagens e poesia. Estão em cena em ficção Paulo Leminski, Zezé di Camargo, Tchekhov, Beatles, Chico Buarque, Dostoiévski e Fernando Pessoa.

Serviço:
Eu de Você
Quando: sexta, às 20h, sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Até 15 de dezembro
Onde: Teatro Vivo (Av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, Morumbi)
Quanto: De R$ 25 a R$ 70
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos

Ficha técnica:
Idealização e criação: Denise Fraga, José Maria e Luiz Villaça
Com Denise Fraga
Direção: Luiz Villaça
Produção: José Maria
Obra inspirada livremente nas narrativas de Akio Alex Missaka, Anas Obaid, Barbara Heckler, Bruno Favaro Martins, Clarice F. Vasconcelos, Cristiane Aparecida dos Santos Ferreira, Deise de Assis, Denise Miranda , Eliana Cristina dos Santos, Enzo Rodrigues, Érico Medeiros Jacobina Aires, Fátima Jinnyat, Felipe Aquino, Fernanda Pittelkow, Francisco Thiago Cavalcanti, Gláucia Faria, José Luiz Tavares, Julio Hernandes, Karina Cárdenas, Liliana Patrícia Pataquiva Barriga, Luis Gustavo Rocha, Maira Paola de Salvo, Marcia Angela Faga, Marcia Yukie Ikemoto, Marlene Simões de Paula, Nanci Bonani, Nathália da Silva de Oliveira, Raquel Nogueira Paulino, Ruth Maria Ferreiro Botelho, Sonia Manski, Sylvie Mutiene Ngkang, Thereza Brown, Vinicius Gabriel Araújo Portela, Wagner Júnior
Dramaturgia: Cassia Conti, André Dib, Denise Fraga, Kênia Dias, Fernanda Maia, Geraldo Carneiro, Luiz Villaça e Rafael Gomes
Texto final: Rafael Gomes, Denise Fraga e Luiz Villaça
Direção de imagens em vídeo: André Dib
Direção de arte: Simone Mina
Direção musical: Fernanda Maia
Direção de movimento: Kenia Dias
Iluminação: Wagner Antônio
Assessoria de Imprensa SP: Morente Forte Comunicações
Projeto realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura
Coprodução: Café Royal
Produção: NIA Teatro
Patrocínio: BB Seguros
Realização: Secretaria Especial da Cultura, Ministério da Cidadania e Governo Federal

Há Dias Que Não Morro

No elenco estão Aline Olmos, Laíza Dantas e Paula Hemsi. Foto: Paulo Hemsi 

A encenação visa ampliar o debate sobre os aprisionamentos contemporâneos e os corpos em paranoia. Os disparadores são as discussões sobre segurança e liberdade, projetadas na política atual. Três atrizes viram figuras-bonecas em um cubo-jardim, felizes com os dias ensolarados, com o canto dos pássaros e os desenhos das nuvens. Mas alguma coisa está fora da ordem nesse sistema inerte e cíclico, nessa rotina sem acidentes ou perigos. O que há para além desse jardim artificial?

Há Dias Que Não Morro é a segunda parte da Trilogia da Morte, que teve início em 2016 com a estreia de Adeus, Palhaços Mortos. A peça contou com uma pré-estreia em maio na Turquia, tem texto original de Paloma Franca Amorim e direção coletiva de Aline Olmos, José Roberto Jardim, Laíza Dantas e Paula Hemsi.

Serviço:
Há Dias Que Não Morro, da Academia de Palhaços & ultraVioleta_s
Quando: Sábados, às 21h, domingos, às 19h, e segundas, às 21h. Até 02/12
Onde: Galpão do Folias – Rua Ana Cintra, 213 – Campos Elíseos – São Paulo
Quanto: Gratuito
Duração: 50 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Capacidade: 99 lugares
Informações: (11) 3361-2223

Ficha técnica:
Idealização: Academia de Palhaços & ultraVioleta_s
Direção e concepção: Aline Olmos, José Roberto Jardim, Laíza Dantas e Paula Hemsi
Texto: Paloma Franca Amorim
Dramaturgia: Aline Olmos, Laíza Dantas, José Roberto Jardim, Paula Hemsi e Paloma Franca Amorim
Encenação: José Roberto Jardim
Elenco: Aline Olmos, Laíza Dantas e Paula Hemsi
Assistente de direção: Luna Venarusso
Cenografia: Bijari
Direção musical e trilha sonora original: Rafael Thomazini e Vinicius Scorza
Iluminação: Paula Hemsi
Figurino: Carolina Hovaguimiam
Modelista: Juliano Lopes
Visagismo: Leopoldo Pacheco
Cenotecnia: Leo Ceolin
Preparação corporal: Maristela Estrela
Design de sistema de operação sincronizado: Laíza Dantas
Operação de luz, vídeo e som: Murilo Gil e Vinicius Scorza
Técnico de som: Murilo Gil
Técnica de luz: Paula Hemsi
Técnica de vídeo: Laíza Dantas
Técnica de palco: Aline Olmos
Produção executiva: Tetembua Dandara
Direção de produção: ultraVioleta_s
Fotos: Paula Hemsi e Victor Iemini

INTERVENÇÃO
Concepção: ultraVioleta_s e Coletivo Bijari
Assessoria Criativa: Fernando Velázquez

Heather

Laís Marques e Paulo Marcello apresentam texto inédito do autor britânico Thomas Eccleshare. Foto: João Caldas

Uma reclusa autora de livros juvenis vira, do dia para a noite, um fenômeno de vendas. Os jovens leitores se identificam com a heroína Greta, o que é um combustível para outras obras lançadas com tesouros no mercado editorial. Mas o recolhimento da escritora pode esconder razões estranham ou obscuras.

A peça Heather, idealizada pela atriz Laís Marques junto a Cia Razões Inversas, com direção de Marco Aurélio, investe na pergunta: “o que interessa mais: o autor ou sua obra?”

Com texto do britânico Thomas Eccleshare Heather, envereda por um surpreendente jogo de aparências na arte que pode contrastar com fatos da vida cotidiana de uma escritora de sucesso. E questiona até que ponto é real a imagem do artista mitificado pelo público.

Serviço:
Heather, da Cia Razões Inversas
Quando: Quinta, sexta e sábado, às 20h30. Nos feriados (2 e 15/11), às 18h. Até 16 de novembro
Onde: Sesc Pinheiros (Rua Paes Leme, 195, Pinheiros)
Quanto: R$ 9 (credencial plena), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 30
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Informações: (11) 3095-9400

Ficha técnica:
Texto: Thomas Eccleshare
Encenação: Marcio Aurelio
Atuação: Laís Marques e Paulo Marcello
Direção de Arte e Trilha sonora: Marcio Aurelio
Figurino: Cia Razões Inversas
Preparação Corporal: Luciana Hoppe
Produção: Andréa Marques
Fotos: João Caldas
Idealização: Laís Marques

Os Sete Afluentes do Rio Ota

Os Sete Afluentes do Rio Ota: Marjorie Estiano e Caco Ciocler Foto: Michele Mifano/ Divulgação

Os Sete Afluentes do Rio Ota é um épico teatral que traça a jornada do soldado estadunidense Luke, que retorna a Hiroshima, em 1945, para fotografar os sobreviventes da guerra. Essas imagens provocam uma viagem no tempo, até chegar ao ano 2000. O espetáculo da diretora Monique Gardenberg fez um memorável sucesso há 15 anos. A encenadora aposta na atualidade da obra de Robert Lepage para tocar em pautas que ainda estão na ordem do dia, como a intolerância, homofobia, feminismo e posições totalitárias.

O espetáculo é composto por sete capítulos e articula histórias de várias épocas em diferentes partes do mundo faladas em cinco idiomas (português, inglês, francês, alemão e japonês), com legendas. O cenário, criado por Hélio Eichbauer, falecido em 2018, é um elemento fundamental à montagem: são três módulos que se deslocam, se transformam, e atravessam os últimos 50 anos do século 20. A peça possui 350 minutos de duração, com intervalo.

Serviço:
Os Sete Afluentes do Rio Ota
Quando: Quinta a domingo, às 18h, até 1 de dezembro. Na quarta-feira, 27 de novembro, haverá sessão às 18h
Onde: Sesc Pinheiros (Rua Paes Leme, 195, Pinheiros)
Quanto: R$ 15 (credencial plena), R$ 25 (meia-entrada) e R$ 50
Informações: (11) 3095-9400

Ficha técnica:
Texto: Robert Lepage
Direção e adaptação: Monique Gardenberg
Elenco: Bel Kowarick, Caco Ciocler, Chandelly Braz, Charly Braun, Giulia Gam, Helena Ignez, Jiddu Pinheiro, Johnny Massaro, Lorena da Silva, Madalena Bernardes, Marjorie Estiano, Sergio Maciel, Silvia Lourenço, Thierry Tremouroux
Cenário: Hélio Eichbauer
Figurino: Marcelo Pies
Iluminação: Maneco Quinderé
Trilha sonora: José Augusto Nogueira
Fotografias: André Gardenberg
Direção movimento: Marcia Rubim
Assistente de direção: Arlindo Hartz
Reconstituição cenografia: Luiz Henrique Sá e Carila Matzenbacher
Reconstituição figurino: Sabrina Leal
Produção executiva: Ciça Castro Neves
Direção de produção: Clarice Philigret
Assessoria Imprensa: Morente Forte Comunicações
Assessoria Jurídica: Olivieri Associados
Produção: Dueto

Res Publica 2023

Res Publica 2023. Foto: Priscila Prade

O mundo está tão estranho que uma ficção como Res Publica 2023, uma distopia sobre um futuro próximo no Brasil parece uma visada pela janela ou uma espiada na TV. Escrita e dirigida por Biagio Pecorelli, a peça projeta um Brasil de outro milagre econômico – não para todos, é claro; da valorização de milícias paramilitares conservadoras por meio do poder central e, lógico, a tentativa de banimento e perseguição de qualquer posição crítica. Alguma identificação com a barbárie do presente não é mera coincidência.

Um bando de jovens, que não se sente contemplado com a “prosperidade” do país, vive na pindaíba. Perseguidos justamente por buscarem a liberdade, eles coabitam numa república e trazem da rua entulhos que utilizam para enfrentamento e amparo. Enquanto buscam formas de sobreviver,  erguem manifestos performáticos e exibem números musicais.

Res Pública 2023 foi recentemente censurada pela Funarte, um indício de perseguição do governo da vez à cultura e às artes. A decisão da instituição foi baseada exclusivamente em uma sinopse, com uma explicação que dizia que “o espetáculo não reúne as qualidades artísticas para ocupar o espaço pretendido”.

Serviço: 
Res Pública 2023, d’A Motoserra Perfumada
Quando: De quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 20h. Até 10 de novembro
Onde: Centro Cultural São Paulo )Rua Vergueiro, 1000, Paraíso)
Quanto: R$40 e R$20 (meia-entrada). Os ingressos são vendido pela internet no site Ingresso Rápido, e na bilheteria do teatro duas horas antes do início da peça
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Capacidade: 100 pessoas

Ficha técnica:  
Texto e direção artística: Biagio Pecorelli
Elenco: Biagio Pecorelli, Bruno Caetano, Camila Rios, Edson Van Gogh, Jonnata
Doll e Leonarda Glück
Diretora de produção: Danielle Cabral
Desenho de luz: Cesar Pivetti
Assistente de iluminação e operador de luz: Rodrigo Pivetti.
Preparação Viewpoints: Guilherme Yazbek
Assistente de direção: Dugg Monteiro
Cenário e figurinos: Rafael Bicudo e Coko
Design de som/sonoplastia/trilha sonora: Dugg Monteiro
Produtoras de operações: Victória Martinez e Jessica Rodrigues
Arte de divulgação: Bruno Caetano
Fotos de divulgação: Priscila Prade
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Realização: A MOTOSSERRA PERFUMADA
Produção geral: DCARTE E CONTORNO

Tio Ivan

Montagem do Núcleo Teatro de Imersão está em cartaz na Oswald de Andrade. Foto: Hernani Rocha

O Tio Vania, do escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), menciona algumas questões que parecem que falam do Brasil contemporâneo: o imperativo de trabalhar para um patrão até o fim da vida, o descaso político com a carreira do professor e do pesquisador acadêmico, a destruição das florestas, as precárias condições da saúde pública. O texto escrito em 1897  assombra por sua atualidade.

No enredo, o administrador de fazenda Ivan, sua sobrinha Sônia e Miguel, o médico da família, têm suas vidas desestabilizadas pela chegada à propriedade do célebre professor Alexandre, agora aposentado, e de sua jovem e bela esposa Helena. Na adaptação da diretora e atriz Adriana Câmara, a fazenda russa cede lugar a uma região rural paulista no início da República Velha. Os espectadores percorrem diversos ambientes, como testemunhas invisíveis dos conflitos dos personagens que os rodeiam, sem separação entre palco e plateia.

Serviço:
Quando: Sábados, às 15h30 e às 18h, até 14 de dezembro
Onde: Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363, Bom Retiro)
Quanto: Gratuito. Os ingressos são distribuídos com uma hora de antecedência
Duração: 105 minutos
Classificação: 12 anos
Capacidade: 30 lugares
Informações: (11) 3222-2662

Ficha técnica:
Realização: Núcleo Teatro de Imersão
Direção: Adriana Câmara
Texto: Anton Tchekhov
Adaptação do texto, cenografia, figurino, produção executiva e de arte: Adriana Câmara
Elenco: Adriana Câmara, Áquila Mattos, Ariana Slivah, Glau Gurgel, Klever Ravanelli e Márcio Carneiro
Assistência de palco: Letícia Alves
Programação visual e assistência de cenografia: Hernani Rocha
Confecção do figurino: Ateliê Paz (Samantha Paz e Liduina Paz)
Produção: Menina dos Olhos do Brasil

 

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Res Publica 2023, peça censurada pela Funarte estreia no porão do Centro Cultural São Paulo

res publica 2023. Foto de Priscila Prade

Tom, Billy, Suzanne, Vincent, John e Vallentina não compartilham da euforia que tomou conta do país no Réveillon de 2023. Essa trupe divide uma república no centro de São Paulo e levanta trincheira com objetos que trazem da rua, como vaso sanitário, placa luminosa “2023”, gramofone, entre outros. Eles vivem no limite entre ficção e realidade. Fazem festas, criam números musicais, inventam gêneros, lutam e esperam milagrosamente por dias melhores para o grupo. Nas ruas, o movimento Anaconda Brazil enfileira multidões patrióticas, que comemoram um período de suposta prosperidade econômica.

O espetáculo Res Pública 2023, escrito e dirigido por Biagio Pecorelli, estreia neste 11 de outubro, no Espaço Cênico Ademar Guerra, no porão do CCSP – Centro Cultural São Paulo, onde fica em cartaz até 10 de novembro. O elenco, além do próprio diretor, é formado por Bruno Caetano, Camila Rios, Edson Van Gogh, Jonnata Doll e Leonarda Glück.

Res Pública 2023 foi recentemente censurada pela Funarte. A decisão da instituição foi baseada exclusivamente em uma sinopse, com uma explicação que dizia que “o espetáculo não reúne as qualidades artísticas para ocupar o espaço pretendido”.

Em carta aberta, o grupo A Motosserra Perfumada exaltou a “livre expressão do pensamento e do fazer teatral no Brasil”. E atestou que se tratava de um alerta a todos e todas artistas deste país, pois está aberto um precedente gravíssimo, que um dia o Brasil já conheceu muito bem, o precedente da censura, e que agora tem sido chamado de “filtro”.

O grupo denuncia uma “decisão autocrática e sem qualquer fundamento”. Em agosto de 2019, “o diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte (Ceacen), Roberto Alvim, censurou sumariamente a realização da temporada de estreia da nossa peça Res Publica 2023, em outubro, no Complexo Cultural da Funarte, em São Paulo, tomando por base – pasmem! – apenas a sinopse do texto. Ele não leu a peça. Ele nunca viu o espetáculo, que ainda nem existe. Mesmo assim, sua assessoria afirmou, no e-mail que enviou à Coordenação local da Funarte, no dia 18 de agosto, que a peça Res Publica 2023 não reúne “qualidade artística” para ocupar uma das salas do Complexo”.

Res Publica 2023. Foto: Priscila Prade

Em A República, de Platão, o filósofo grego defende a expulsão dos artistas de sua cidade ideal, pois eles – na ideia platônica – copiam a realidade ao criar ilusões que afastam os cidadãos da Verdade. O Grupo A Motosserra Perfumada ambiciona criar nervuras de conexões entre o terreno filosófico e os ataques que artistas brasileiros têm sofrido nos últimos tempos, por setores conservadores e/ou reacionários da sociedade; cujas obras, segundo essas alas, ferem os “valores morais”.

Para montar Res Publica 2023, A Motosserra Perfumada desenvolveu por dois anos uma pesquisa cênica no centro de São Paulo com a população “expatriada” (imigrantes, gays, prostitutas, michês, travestis, artistas, baixa classe teatral, adictos, etc.) que vive na República. A investigação estética faz referências a pontos estratégicos da vida noturna da região, à geografia urbana do bairro, ao passado de prática de touradas na Praça e às perseguições a esses moradores citados.

“Como a figura do poeta na cidade ideal platônica, essas populações se encontram hoje exiladas, nesse caso, exiladas dentro mesmo da cidade, resistindo aos regimes de ordenação moral e econômica do espaço urbano que sufocam e restringem, muitas vezes silenciosamente, seu usufruto da coisa pública”, instiga o grupo para reflexão de seu público.

Ficha Técnica

Res Publica 2023
Texto e Direção Artística: Biagio Pecorelli
Elenco: Biagio Pecorelli, Bruno Caetano, Camila Rios, Edson Van Gogh, Jonnata
Doll e Leonarda Glück
Diretora de Produção: Danielle Cabral
Desenho de Luz: Cesar Pivetti
Assistente de iluminação e operador de luz: Rodrigo Pivetti.
Preparação Viewpoints: Guilherme Yazbek
Assistente de Direção: Dugg Monteiro
Cenário e Figurinos: Rafael Bicudo e Coko
Design de Som/Sonoplastia/Trilha Sonora: Dugg Monteiro
Produtoras de Operações: Victória Martinez e Jessica Rodrigues
Arte de Divulgação: Bruno Caetano
Fotos de Divulgação: Priscila Prade
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Realização: A MOTOSSERRA PERFUMADA
Produção Geral: DCARTE E CONTORNO

Serviço
RES PÚBLICA 2023, d’A Motosserra Perfumada
Onde:Centro Cultural São Paulo – Espaço Cênico Ademar Guerra – Porão – Rua Vergueiro, 1000, Paraíso – São Paulo
Temporada:11/10 a 10/11. Quinta a sábado, 21h. Domingos, 20h.
Ingressos:R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia-entrada).
Classificação:16 anos.
Capacidade: 100 pessoas
Duração: 100 minutos

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Em busca de um novo homem

Aquilo Que Me Arrancaram Foi a Única Coisa Que Me Restou, do coletivo A Motosserra Perfumada. Foto: Jennifer Glass

Aquilo Que Me Arrancaram Foi a Única Coisa Que Me Restou, do grupo A Motosserra Perfumada.Foto: Jennifer Glass

X Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo

O peso da masculinidade imposta historicamente pode despedaçar os órgãos de um cabra. Diante de tanta pressão, o cara pode perder, junto com o paradigma tradicional de virilidade, seus pedaços pelo caminho. O prejuízo finde a identidade. Extravio ou privação de pernas, fígado, braços, pênis, olhos que foram arrebatados com força (ou astúcia). É de forma radical e poética que o grupo A motosserra perfumada trata dessas questões. O coletivo arrisca uma pesquisa nos limites entre o teatro a e performance. Na Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, a trupe estreou o primeiro espetáculo. A montagem Aquilo Que Me Arrancaram Foi a Única Coisa Que Me Restou é um experimento híbrido, à beira da exaustão física e spoken word, essa palavra falada que ganhou força na cultura Hip Hop nos últimos tempos.

Depois da apresentação no Centro Cultural São Paulo, a peça começa nesta semana uma temporada no Subterrâneo Theatro Municipal, espaço underground paulistano e a moçada garante que lá o espetáculo vai proporcionar uma experiência mais radical, com a inserção de conteúdos mais fortes. A produção recomenda que o público use calçados fechados. Os personagens quebram coisas como vidros e tijolos.

Aquilo Que Me Arrancaram Foi a Única Coisa Que Me Restou tem texto e direção de Biagio Pecorelli, que está no elenco do programa e é autor do livro de poemas Vários Ovários, publicado pela editora independente Edith. A peça é de uma verborragia apaixonante e questionadora dos desejos e explora as contradições dessa crise do masculino.

As performances são exibidas num longo corredor formado por espectadores dos dois lados. No centro, nesse tapete imaginário, os atores atuam. Uma banda, de um dos lados desse corredor toca rock, derrama poesia, fantasias, fragmentos de vidas.

Matheus, um homem despedaçado que persegue o que perdeu na vida, é defendido por vários atores. Ele quer recuperar seus olhos, entre outras partes do corpo, para conseguir chorar. Nesse percurso imaginário ele bate à porta de ex-namoradas, de garotos (de ou sem programa) que encontrou pelo caminho para matar o tédio.

Entre fios de recordações, estilhaços de mágoas, um quebra-cabeças é erigido nessa cidade “onde os fracos não têm vez”. A cena traz as sujeiras de cacos, de restos de consumo, a fragilidade de um homem frente a virilidade solicitada do vale-tudo do capitalismo da selva de pedra. Seus personagens caminham com suas incertezas desafiando os discursos de verdade e de opressão.

Banda de rock participa do espetáculo

Banda de rock participa do espetáculo

Uma mulher com uma preleção fascista encarna em sua fala aspectos retrógados que ameaçam a democracia. Seu discurso se posiciona contra mulheres libertárias, contra o aborto, as relações homoafetivas, as várias etnias, e defende uma arte absolutamente mercantil. Ela parece ter surgido do nada, como as vozes que ecoam pelo país em suas posições atrasadas.

Esse corpo masculino que padece é exposto em suas partes em ganchos de frigoríficos dispostos no cenário. As demandas contemporâneas produzem fragilidades no campo subjetivo. As relações efêmeras, a situação caótica, essa vida fragmentada produz instabilidade em todos. Mas esse masculino abalado em sua identidade viril abre espaço para essa investigação em Aquilo Que Me Arrancaram Foi a Única Coisa Que Me Restou. Os atributos de coragem e valentia, do super-herói provedor, cede lugar a um mundo de sentimentos na peça, onde a fragilidade permite reflexões sobre guerras e violações, acidentes, condutas e sociais, atitudes sexuais.

O espetáculo reforça que feminilidade e masculinidade são construções culturais que sobrevivem em um determinado contexto. As tensões e conflitos podem gerar o desamparo. Como diz um trecho do texto, essas figuras correm sem cinto de segurança, usam aditivos para dar mais sentido à vida, procuram o amor com poesia, mas sem uma suposta caretice. Depois de tudo isso, alguém pode botar o pé no freio e chamar para a real.

O personagem Matheus é defendido por vários atores

O personagem Matheus é defendido por vários atores

A Motosserra Perfumada é formada por Alex Bartelli (ator e produtor), Biagio Pecorelli (poeta e ator), Camilla Rios (atriz), Felipe Vasconcelos (artista visual e performer), Hugo Cabral (pesquisador, cenógrafo e figurista), Jonnata Doll (ator e músico), Júlio Castilho – “Feiticeiro Julião” (músico) e Paula Micchi (atriz). Em outubro de 2014 o grupo foi contemplado pelo edita “PROAC – Primeiras Obras”, promovido pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, para a montagem do texto inédito de Biagio Pecorelli.

Espetáculo tem dramaturgia e direção de Biagio Pecorelli

Espetáculo tem dramaturgia e direção de Biagio Pecorelli

ATUALIZAÇÃO:
Infelizmente, a temporada do espetáculo foi cancelada. No último domingo (15), o local onde aconteceriam as apresentações, a passagem subterrânea da Rua Xavier de Toledo, no Anhangabaú, foi invadido por integrantes de um movimento de ocupação intitulado Coletivo Laboratório Compartilhado TM13. De acordo com o grupo A Motosserra Perfumada, que prestou queixa na delegacia, os cadeados do local foram arrombados, os camarins foram revirados, sumiram objetos cênicos, figurinos, dinheiro, além da bebida que estava estocada para ser vendida durante a temporada. O dinheiro da bilheteria e da venda da bebida serviria para manter as apresentações, já que o grupo não teve apoio para temporada.

Confira aqui a carta aberta do grupo A Motosserra Perfumada.

Ficha Técnica
Criação: A Motosserra Perfumada
Dramaturgia e direção: Biagio Pecorelli
Elenco: Alex Bartelli, Biagio Pecorelli, Camilla Rios, Felipe Vasconcellos, Bruno Caetano, Jonnata Doll e Paula Micchi
Banda ao vivo: Jonnata Doll, Feiticeiro Julião, Edson Van Gogh e Augusto Coaracy
Direção de arte e figurinos: Hugo Cabral
Desenho de luz: Marcelo Lazzaratto
Trilha composta: Jonnata Doll e Biagio Pecorelli
Ilustração: Mozart Fernandes
Adaptação e operação de luz: Marcela Katzin
Técnico de som: Bruno de Castro
Fotos de cena: Marcos Lobo
Vídeo de divulgação: Saulo Tomé
Direção de produção: Alex Bartelli
Produção executiva: Leandro Brasilio e Marie Auip (Sofá Amarelo Produção e Arte)
Produção geral: AzAyAh P&C

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***A cobertura crítica da X Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo é uma ação da DocumentaCena – Plataforma de Crítica, que articula ideias e ações do site Horizonte da Cena, do blog Satisfeita, Yolanda?, da Questão de Crítica – Revista Eletrônica de Críticas e Estudos Teatrais e do site Teatrojornal – Leituras de Cena. Esses espaços digitais reflexivos e singulares foram consolidados por jornalistas, críticos ou pesquisadores atuantes em Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A DocumentaCena realizou cobertura da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a MITsp (2014 e 2015); do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília (2014 e 2015); da Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, em São Paulo (2014); e do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte (2013).

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