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Teatro em movimento
Rolês Teatrais no Recife
em meados de novembro

O Açougueiro, com Alexandre Guimarães. Foto: Elimar Caranguejo / Divulgação (FIG 24072017)

Eu, Romeu, solo de Marcos Camelo. Foto: Silvia Patricia /_Divulgação

Enquanto o Recife aguarda a 24ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional, que acontece entre 20 e 30 de novembro abrindo com  cidade oferece uma programação teatral com montagens que transitam entre tradições afrobrasileiras, clássicos adaptados, monólogos premiados e experimentos cênicos contemporâneos.

Depois de dez anos percorrendo palcos nacionais e acumulando diversos prêmios, O Açougueiro retorna mais uma vez às terras pernambucanas. O monólogo com texto e direção de Samuel Santos e atuação de Alexandre Guimarães mergulha na história de Antônio, homem de origem humilde que conquistou o sonho de abrir o próprio açougue, e sua esposa Nicinha, ex-prostituta de um vilarejo sertanejo.

A narrativa, baseada no Teatro Físico e Antropológico, busca combater os estereótipos nordestinos para falar de amor, preconceito, intolerância e feminicídio. Guimarães se desdobra em nove personagens diferentes, entrelaçando diálogos com manifestações da cultura popular como aboios, toadas de vaqueiro e cantigas de reisados. A montagem já conquistou mais de 7 mil espectadores em 15 cidades brasileiras.

Shakespeare Encontra a Periferia – Da zona norte carioca, mais especificamente de Rocha Miranda, surge uma releitura ousada do clássico shakespeariano. Eu, Romeu traz Marcos Camelo em solo que celebra “a insistência petulante dos improváveis”, questionando sistemas que impõem limites por ascendência, cor de pele e CEP.

A Adorável Companhia constrói uma ponte entre a tragédia renascentista e a realidade suburbana contemporânea. Camelo, ator que “provavelmente não teria chance” de interpretar personagens shakespearianos em montagens tradicionais, se apropria do clássico misturando música, teatro e circo. O resultado é descrito pelo próprio intérprete como “Shakespeare do hip hop ao samba”, uma experiência de extrema intimidade com a plateia onde cada espectador pode se reconhecer no “Eu” do título.

Espetáculos Afrobrasileiros em Circulação

Eu conto, tu contas nós contamos – Ubuntu, uma linda aventura na floresta Afrobrasilândia, da São Gens

A ancestralidade ganha voz através de múltiplas linguagens teatrais na Sambada da Mestra Lusitânia, que acontece gratuitamente até 22 de novembro no Ilê Axé Oxum Ipondá, em Olinda. O Grupo São Gens apresenta uma fábula que questiona representatividade através de duas flores pretas intrigadas pela ausência de suas cores no arco-íris. Em Eu conto, tu contas nós contamos – Ubuntu, uma linda aventura na floresta Afrobrasilândia, (14/11, às 19h), as protagonistas embarcam numa jornada mágica conduzidas pela energia do Ubuntu e pela força dos Orixás, explorando identidade, diversidade e pertencimento através de músicas, danças e narrativas que celebram a cultura afrobrasileira. O espetáculo também circula gratuitamente por escolas públicas do interior pernambucano.

Paralelamente, outros trabalhos exploram memórias e identidades dentro da mesma programação do terreiro. Raquel Franco propõe o intimismo do Teatro lambe-lambe Igbá Itan (15/11, às 17h), formato onde poucos espectadores por vez vivenciam pequenas encenações em estruturas portáteis. Já Agrinez Melo tece recordações pessoais em Histórias Bordadas em Mim (15/11, às 19h), conectando experiência individual com coletividade na formação identitária.

Compondo este panorama de diversidade, HBLynda em TRANSito (16/11, às 19h) apresenta vivências interseccionais de uma pessoa gorda, preta, candomblecista e não binária, oferecendo múltiplas perspectivas sobre os trânsitos pelos diferentes espaços sociais contemporâneos.

Dança Musical e Tradições Populares

A linguagem coreográfica ganha destaque com duas propostas distintas. No Teatro do Parque, a Fênice Dance – Cia Guilherme Queirós adapta o conto clássico em A Bela e a Fera (16/11, 17h), prometendo “um show de dança, emoção e magia” que conta a história de amor através do movimento.

Já o 1º Festival de Cultura Popular do Sítio da Trindade, o universo da cultura popular brasileira se materializa em Chama de Griô (16/11, a partir das 15h). Este teatro musical gratuito conduz crianças e adultos pela aventura de um menino curioso que mergulha no mundo encantado das manifestações culturais, explorando danças, brincadeiras e ritmos tradicionais que compõem o mosaico da identidade brasileira.

Memórias, Identidades e Novas Dramaturgias

Tempo de Vagalume. Foto: Divulgação

Entre as propostas mais experimentais, destaca-se a sensibilidade de Tempo de Vagalume no Teatro Arraial Ariano Suassuna, em Garanhuns (14-15 de novembro, às 19h, com entrada gratuita), onde Joesile Cordeiro utiliza o brilho dos vagalumes como metáfora para reconectar com memórias de infância. O monólogo autobiográfico explora questões LGBTQIAP+ através de discursos dançantes onde memórias, movimentos e mutações se entrelaçam.

Samuel Santos e Grupo O Postinho que faz leitura de Maria Preta

A literatura periférica também encontra espaço cênico através de Samuel Santos, que transforma seu livro infantil em manifesto de representatividade negra com leituras dramatizadas gratuitas do Núcleo O Postinho. Maria Preta narra a fantástica jornada de uma menina de sete anos que, durante parada cardíaca, realiza o desejo de conhecer o próprio corpo por dentro. As apresentações acontecem no Quilombo do Catucá, em Camaragibe (15/11, às 18h) e na Escola Pernambucana de Circo, na Macaxeira (18/11, às 15h), ambas com interpretação em Libras.

FLIPORTO até 16 de Novembro

A 20ª Festa Literária Internacional de Pernambuco celebra duas décadas até 16 de novembro no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem com o tema Literatura, tecnologia, sustentabilidade, interfaces e diálogos. Entre os destaques, o espetáculo Carlos Pena Filho e Miró da Muribeca cantam o Recife une poesia, música e performance sob idealização e direção de Ronaldo Correia de Brito no Teatro Luiz Mendonça.

Este trabalho homenageia dois poetas de gerações distintas que compartilham vínculos afetivos e líricos com o Recife, transformando a palavra poética em experiência cênica que celebra a cidade através de diferentes vozes e temporalidades.

VEM AÍ: Debates Urgentes e Vozes Femininas

Para Meu Amigo Branco discute o racismo estrutural.

A partir de 20 de novembro, a CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife) recebe Para Meu Amigo Branco, montagem que expõe o racismo estrutural através de situação escolar concreta. A trama acompanha pai que confronta a escola após sua filha de 8 anos sofrer injúria racial, descobrindo que a instituição prefere tratar a questão como mero bullying. A tensão dramática se intensifica quando um pai branco, inicialmente solidário, muda de postura ao descobrir que seu filho é o agressor. Reinaldo Junior e Fernão Lacerda interpretam os protagonistas sob direção de Rodrigo França.

Lady Tempestade, com Andréa Beltrão

Ana Beatriz Nogueira em Tudo que Eu Queria te Dizer

Helô em Busca do Baobá Sagrado. Foto: Dudu Silva

116 Gramas: Peça para Emagrecer questiona padrões corporais a partir da experiência de Letícia Rodrigues

Uma das homenageadas do festival do Recife, Auricéia Fraga compartilha suas memórias em Não se conta o tempo da Paixão

Corteja Paulo Freire, celebração poética e musical itinerante que homenageia o educador pernambucano

Restinga de Canudos a partir da perspectiva de duas professoras. Fotos: Alecio Cesar

O aguardado 24º Festival Recife do Teatro Nacional ocorre de 20 a 30 de novembro, com programação gratuita em diversos teatros da cidade, com o tema Vozes Femininas – Histórias que Ressoam, com realização da Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura do Recife e Fundação Cidade do Recife. A programação reúne 24 espetáculos em 37 sessões, celebrando perspectivas, criatividades e forças de grandes mulheres das artes cênicas.

Andréa Beltrão protagoniza Lady Tempestade no Teatro de Santa Isabel (20, 21 e 22/11), reconstruindo a trajetória de Mércia de Albuquerque, advogada que defendeu mais de 500 presos políticos durante a ditadura militar. Ana Beatriz Nogueira apresenta Tudo que Eu Queria te Dizer no Teatro do Parque (22/11 às 20h e 23/11 às 19h), interpretando seis mulheres através de cartas sobre amor, rejeição e desejo baseadas no livro de Martha Medeiros.

Entre as estreias locais, destaca-se Helô em Busca do Baobá Sagrado no Teatro Hermilo Borba Filho (22 e 23/11, às 16h), narrando a jornada de menina que deve encontrar o fruto sagrado para curar seu povo da “doença da tristeza”. Do lado, 116 Gramas: Peça para Emagrecer acontece no Teatro Apolo (22/11 às 18h e 23/11 às 18h), questionando padrões corporais através da experiência de Letícia Rodrigues com um corpo considerado “fora do padrão”.

Uma das homenageadas do festival, Auricéia Fraga compartilha memórias de mais de 50 anos dedicados às artes cênicas em Não se Conta o Tempo da Paixão (21/11, às 19h, Teatro Hermilo Borba Filho), uma abertura de processo dirigida por Rodrigo Dourado que cria espaço de intimidade entre a veterana atriz e o público.

Como parte do Ano cultural Brasil-França, On Veut / A Gente Quer (22 e 23/11, às 16h30, Bairro do Recife) materializa a colaboração da companhia francesa ktha com artistas locais selecionados para criar versão que dialogue com particularidades pernambucanas.

Ainda na programação do primeiro fim de semana, a Cia do Tijolo traz duas montagens que dialogam: Corteja Paulo Freire (22/11, às 16h30, Teatro Luiz Mendonça), celebração poética e musical itinerante que homenageia o educador pernambucano, e Restinga de Canudos (23/11, às 18h, Teatro Luiz Mendonça), que propõe inversão radical sobre o episódio histórico, mostrando Canudos como vitória através da perspectiva de duas professoras que educavam em tempos de paz e se tornaram enfermeiras e combatentes em tempos de guerra.

SERVIÇO

14 de novembro

O Açougueiro
Teatro Capiba, Sesc Casa Amarela | 20h | Gratuito (retirada 1h antes)

Eu, Romeu
Espaço O Poste, Boa Vista | 19h | R$ 20 (2 ingressos)

Eu conto, tu contas nós contamos – Ubuntu
Ilê Axé Oxum Ipondá, Olinda | 19h | Gratuito

14-15 de novembro

Tempo de Vagalume
Teatro Arraial Ariano Suassuna, Garanhuns | 19h | Gratuito

15 de novembro

Teatro lambe-lambe Igbá Itan
Ilê Axé Oxum Ipondá, Olinda | 17h | Gratuito

Histórias Bordadas em Mim
Ilê Axé Oxum Ipondá, Olinda | 19h | Gratuito

Maria Preta – Leitura Dramatizada
Quilombo do Catucá, Camaragibe | 18h | Gratuito

16 de novembro

A Bela e a Fera
Teatro do Parque | Ingressos: @fenicedance ou (81) 99968-0633

HBLynda em TRANSito
Ilê Axé Oxum Ipondá, Olinda | 19h | Gratuito

Chama de Griô – 1º Festival de Cultura Popular
Sítio da Trindade | 15h | Gratuito

FLIPORTOCarlos Pena Filho e Miró da Muribeca cantam o Recife
Parque Dona Lindu, Boa Viagem | sympla.com.br/evento/fliporto-festa-literaria-internacional-de-pernambuco/3196529

18 de novembro

Maria Preta – Leitura Dramatizada
Escola Pernambucana de Circo, Macaxeira | 15h | Gratuito

VEM AÍ

20-29 de novembro

Para Meu Amigo Branco 
CAIXA Cultural Recife | 20/11 às 18h; demais dias às 20h | R$ 30 e R$15 (meia)

24º Festival Recife do Teatro Nacional (20-30 de novembro)
Toda programação gratuita (1kg de alimento)

20/11 (quinta)

Lady Tempestade | Teatro de Santa Isabel | 20h | Com Libras

21/11 (sexta)

Não se Conta o Tempo da Paixão | Teatro Hermilo Borba Filho | 19h | Com Libras
Lady Tempestade | Teatro de Santa Isabel | 20h | Com Libras

22/11 (sábado)

Helô em Busca do Baobá Sagrado | Teatro Hermilo Borba Filho | 16h
On Veut / A Gente Quer | Bairro do Recife | 16h30 | Com Libras
Corteja Paulo Freire | Teatro Luiz Mendonça | 16h30
116 Gramas: Peça para Emagrecer | Teatro Apolo | 18h | Com Libras
Tudo que Eu Queria te Dizer | Teatro do Parque | 20h | Com Libras
Lady Tempestade | Teatro de Santa Isabel | 20h | Com Libras e Audiodescrição

23/11 (domingo)

Helô em Busca do Baobá Sagrado | Teatro Hermilo Borba Filho | 16h
On Veut / A Gente Quer | Bairro do Recife | 16h30 | Com Libras
Restinga de Canudos | Teatro Luiz Mendonça | 18h
116 Gramas: Peça para Emagrecer | Teatro Apolo | 18h | Com Libras e Audiodescrição
Tudo que Eu Queria te Dizer | Teatro do Parque | 19h | Com Libras e Audiodescrição

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A retomada do Festival Recife do Teatro Nacional

Viva o povo brasileiro. Foto Annelize Tozetto / Divulgação

Se eu fosse Malcolm. Foto: Rogerio Alves / Divulgação

É ambiciosa a 22ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional que se desenrola entre 16 e 26 de novembro na capital pernambucana. Essa programação, da retomada, junta 28 espetáculos, sendo 15 produções do estado e 13 montagens nacionais inéditas no Recife, que estarão espalhadas pelos teatros de Santa Isabel e Parque, Apolo e Hermilo Borba Filho, Barreto Júnior e Luiz Mendonça. Além de ocupar as ruas da cidade, com apresentações no Morro da Conceição e na Avenida Rio Branco e nos mercados públicos de São José, Afogados, Água Fria e Casa Amarela. Esta edição mais que dobra em quantidade de peças da última, em 2019 (e talvez a mais reduzida, que aglutinou 12 obras cênicas) e tem como meta reavivar em tom maior um festival muito importante para cidade.

A 22ª edição do programa alimenta um clima festivo e de resistência, como a assumir um respiro depois desses últimos anos de pandemia e de pandemônio. E sintoniza com algumas pautas urgentes desse mundo problemático. Há uma diversidade de assuntos, das guerras ao protagonismo feminino, do sagrado ancestral indígena às mudanças climáticas, dos grandes gênios como Shakespeare e Garcia Lorca, passando pelo brasileiro João Ubaldo Ribeiro, ao poeta recifense periférico Miró da Muribeca.

É lógico que os recortes curatoriais poderiam ser outros. Um festival também é feito de possíveis. Dos recursos reservados para essa finalidade, disponibilidades dos grupos teatrais para compor a programação, escolhas e combinações entre produto artístico e espaço para pensamento crítico. Enfim, uma rede de negociações, interesses expostos e secretos, recortes curatoriais (mesmo quando são por chamamento púbico), prioridades de investimento.

De todo modo e preciso destacar a relevância deste festival para a cidade, tanto para o público quanto para os artistas do Recife. Lembro que já ouvi mais de uma vez o depoimento do ator, diretor e dramaturgo Giordano Castro, do Grupo Magiluth, que salienta a relevância para a formação dele mesmo, de sua trupe e dos artistas da cidade ao apontar o Festival Recife do Teatro Nacional como preponderante na construção de caminhos estéticos, éticos e políticos. Não é pouco.

A primeira versão do FRTN ocorreu em 1997, levando ao Recife um panorama de parte da produção cênica brasileira. Nessa edição inaugural algumas peças chegavam para tensionar certezas. Entre os espetáculos participantes estavam Para Dar um Fim no Juízo de Deus, encenada por José Celso Martinez Corrêa, Ensaio para Danton, de Sérgio de Carvalho, Rua da Amargura, do grupo Galpão na montagem de Gabriel Villela, as produções recifenses Duelo com encenação de Carlos Carvalho e a versão teatral controversa de A Pedra do Reino, do romance de Ariano Suassuna encenada por  Romero de Andrade Lima; entre outros.

Miró: Estudo nº 2 , do Grupo Magiluth. Foto: Joao Maria Silva Jr/ Divulgação

 

Yerma Atemporal. Foto Divulgação

O FRTN começa nesta quinta-feira com o musical carioca Viva o Povo Brasileiro (De Naê a Dafé), produzido pela Sarau Cultura Brasileira. A versão cênica do romance Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), é dirigida por André Paes Leme, tem 30 músicas originais compostas por Chico César, e direção musical e trilha original  assinada por João Milet Meirelles (da banda BaianaSystem). Ambientada em Itaparica, na Bahia, a montagem expõe um período de 400 anos, 1647 a 1977, acompanhando uma alma em busca da identidade brasileira, que encarna em personagens invisibilizadas nesse percurso histórico. Três figuras – Caboclo Capiroba, o Alferes e Maria Dafé -, destacam a força da ancestralidade na luta contra a escravidão e por uma igualdade e justiça social até hoje.

A produção local é majoritária nesta edição, pois ficou represada nos três anos sem festival e graças à articulação dos artistas que convenceram a equipe coordenadora do festival que pode ser uma boa ideia de dar uma centralidade aos trabalhos locais, ou seja, ter muitas peças pernambucanas num festival nacional pernambucano. 

Miró: Estudo nº 2, do Magiluth, celebra o poeta e a literatura de Miró da Muribeca, um homem negro e periférico que instalou em seu corpo performático o Recife como seu mundo. Com suas palavras feitas de amor e revolta o artista deslocou a margem para o centro do protagonismo. A partir de Miró, o Magiluth reflete neste espetáculo os lugares dos sujeitos numa peça teatral e para além dela.

Yerma – Atemporal revisita Garcia Lorca numa perspectiva do papel da mulher na sociedade contemporânea, da obsessão da protagonista em ser mãe e dos desejos femininos. A peça tem tradução e adaptação de Simone Figueiredo, e direção dela junto com Paulo de Pontes.

A performance cênico-musical Se eu fosse Malcom, percorre o legado de Malcolm X, uma das mais potentes vozes no combate à segregação racial, num trabalho  atravessado por outras ativistas feito Elza Soares, Lélia González e bell hooks. Com Eron Villar e Dj Vibra.

Grande Prêmio Brazil, performance urbana de Andréa Veruska e Wagner Montenegro,  apresentam duass personagens, Salário Mínimo e Custo de Vida, em quatro sessões nos mercados públicos da cidade.

Livremente inspirada em Gil Vicente, a montagem O Auto da Barca do Inferno, da Cênicas Cia de Repertório com direção de Antonio Rodrigues traz para a atualidade a discussão de moral, convenções sociais e religiosidade da dramaturgia.

O Irôko, a Pedra e o Sol, do grupo O Poste. Foto Ayane Melo

Severino e Sebastião vivem um romance homoafetivo e são perseguidos pela pequena comunidade quilombola evangelizada do Sertão pernambucano onde moram. O espetáculo O Irôko, a Pedra e o Sol utiliza referências da cultura de matriz africana, ancestralidade corporal e vocal. A montagem do grupo O Poste Soluções Luminosas tem elenco formado inteiramente por artistas negros. A trilha sonora foi composta e é tocada ao vivo pelo Grupo Bongar. 

Ao Paraíso tem texto e direção de Valécio Bruno, inspirado no conto Eu, agente funerário, de Hermilo Borba Filho. É a história do herdeiro de uma funerária à beira da falência, mas que vê seu  destino mudar após a chegada de um misterioso andarilho. O espetáculo é o resultado da pesquisa vencedora do edital O Aprendiz em Cena 2020.

Solo Para um Sertão Blues, é baseado no livro de título homônimo, da escritora Cida Pedrosa. O trabalho musical leva para a cena as vozes, climas e memórias de mulheres catadoras de algodão da região do sertão de Pernambuco. A direção é de Cláudio Lira.

Com classificação livre (crianças a partir de 4 anos), o espetáculo Enquanto Godot Não Vem versa sobre o tempo, sobre o que fazemos do nosso tempo. Enquanto esperam um mestre, os três Palhaços, Dodo, Dunga e Cadinho, refletem sobre as pulsações da vida nos dias de hoje.

Vento Forte para Água e Sabão. Foto: Rogerio Alves / Divulgação –

Alguém para fugir comigo. Foto: Divulgação

Fazem parte do repertório do Festival as montagens Deslenhar, do grupo Teatro Miçanga, Alguém para fugir comigo, do Resta 1 Coletivo (leia texto aqui), Pedras, flor e espinho, do grupo ACA Produções Artísticas, Narrativas encontradas numa garrafa pet, do Grupo São Gens de Teatro (leia crítica aqui), o infantil Céu estrelado, do grupo Pedra Polida, além de Vento forte para água e sabão, do Grupo Fiandeiros, fundado por um dos homenageados da 22ª edição do festival recifense, André Filho,

Duas sessões de leitura dramatizada integram o evento:  Justa, com texto de Newton Moreno, também homenageado do festival, encenado por Fabiana Pirro e Ceronha Pontes; e O Sonho de Ent, com texto de André Filho, encenado pela Cia Fiandeiros.

Cabaré Coragem, com o Grupo Galpão. Foto: Mateus Lustosa /Divulgação

Nacionais e inéditos

O tema desta edição é Teatro e Democracia e está presente na peça de abertura Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé) e de alguma forma em todas as montagens.

O Grupo Galpão, coletivo mineiro que já participou de várias edições do festival, desde a primeira, comparece com dois espetáculos inéditos: De tempo somos, um musical que celebra a história da companhia, e Cabaré Coragem, que reafirma a arte como lugar de identidade e permanência, e chama o público para compartilhar um repertório de músicas interpretadas ao vivo com números de variedades e danças, fragmentos de textos da obra de Brecht e cenas de dramaturgia própria.

O Clows de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, leva para as ruas do Morro da Conceição algumas personagens do clássico Ubu Rei, de Alfred Jarry. Sátira política do espetáculo Ubu – O que é bom tem que continuar.

 Com dramaturgia e direção geral de Newton Moreno, Sueño, da Heroica Companhia Cênica, desloca Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare, para uma América Latina em que vigorava o autoritarismo e é ainda assombrada pelas ditaduras de ontem, mas que sempre sonha com liberdade.

Tatuagem, musical da paulistana Cia da Revista, faz uma adaptação para o teatro do filme homônimo do pernambucano Hilton Lacerda, que resgatou a irreverência do grupo de teatro Vivencial. A Direção da peça é de Kleber Montanheiro.

Pelos quatro cantos do mundo. Foto: Divulgação

O solo autobiográfico Azira’i resgata a vivência da atriz Zahy Tentehar com a mãe, Azira’i Tentehar, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. Ancestralidade, amor e sagrado se irmanam no espetáculo, que tem direção é assinada por Denise Stutz e Duda Rios.

Entre os infantis estão na programação Pelos quatro cantos do mundo, da Cia Teatral Milongas, do Rio de Janeiro, que leva ao palco a jornada de uma criança síria refugiada em busca do pai. Boquinha: E assim surgiu o mundo, que trata, como o título aponta, da origem e grandeza do universo; com o Coletivo Preto, da Bahia, e texto do ator Lázaro Ramos.  

Enquanto a trupe de Nuno, formada por Ana, Nico, Jonas, Olivia e Suriá, os A.N.J.O.S. do título da peça, buscam algo que se perdeu, ou que um deles perdeu, eles utilizam dança e circo para conduzirem o público por uma aventura engraçada. com a Cia Nau de Ícaros, de São Paulo, espetáculo de dança e circo.

Confira a programação completa abaixo.

Oficinas

A parte formativa do FRTN inclui cinco oficinas gratuitas, entre os dias 15 e 23 de novembro. Júlio Maciel, do Grupo Galpão, comanda O Ator e o Trabalho em Grupo, no dia 15 (das 9h às 13h, no Teatro Hermilo Borba Filho) com foco nas práticas de trabalho e experiências de escuta, atenção, presença e criação coletivas.

Produção e Gestão de Grupos, com Gilma Oliveira, também do Grupo Galpão, ocorre no dia 16 de novembro, ainda no Hermilo, das 14h às 18h. Na pauta estão alguns princípios norteadores da produção cênica, relacionados a contratos, planejamento, orçamentos, liberações, cargas, roteiros, checklists, cronogramas e logística de viagens, entre outros.

O ator, palhaço, dramaturgo e diretor Duda Rios, um dos fundadores da Barca dos Corações Partidos toca a Oficina Criativa de Atuação e Movimento, entre os dias 21 e 25, das 9h às 13h, no Paço do Frevo. O trabalho busca  potencializar o exercício criativo, a partir da investigação do movimento, da incorporação da natureza (Máscara Neutra) e da construção de universos teatrais particulares surgidos em improvisações.

O dramaturgo pernambucano premiadíssimo e homenageado da edição deste ano do Festival, Newton Moreno, ministra de 21 a 23 de novembro, das 14h às 17h, a Oficina de Dramaturgia, dedicada ao processo de criação do texto teatral, a partir do estudo de caso de alguns textos/processos.

A artista carioca Maria Lucas vai trabalhar a construção de narrativas cênicas individuais e em grupo na Oficina Corpo-Coro, a partir de histórias pessoais, utilizando como ponto de partida três perguntas: de onde venho, quem sou e o que me move? A oficina é direcionada para pessoas com poucas oportunidades de acesso às artes, pessoas trans, LGBTs, pretas e indígenas e se realiza de 17 a 19 de novembro das 14h às 17h, no Paço do Frevo.

As inscrições podem ser feitas no link: https://forms.gle/DTtU2YkbMz5gGacb9.

Sueño, de Newton Moreno. Foto Divulgação

Tatuagem, dirigida por Kleber Montanheiro. Foto: Rodrigo Chueri Divulgação

22º Festival Recife do Teatro Nacional

De 16 a 26 de novembro

Acesso gratuito, mediante entrega de um quilo de alimento não perecível

 Programação

Dia 16 (quinta-feira)

19h – Abertura + Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé), da Sarau Cultura Brasileira, (RJ), no Teatro do Parque

 Dia 17 (sexta-feira)

12hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de São José

19hViva o povo brasileiro (De Naê a Dafé), da Sarau Cultura Brasileira (RJ), no Teatro do Parque

20h – Se eu fosse Malcom, de Eron Villar e DJ Vibra (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

20hDe tempo somos, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça.

Dia 18 (sábado)

16hVento forte para água e sabão (infantil), do Grupo Fiandeiros (PE), no Teatro do Parque

18hAzira’i, solo da indígena Zahy Tentehar (RJ), no Teatro Apolo

18hCabaré Coragem, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

20hSueño, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro Santa Isabel

Dia 19 (domingo)

16hSueño, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro de Santa Isabel

16hEnquanto Godot não vem, da Cia 2 em Cena (PE), no Teatro Barreto Júnior

17h – O Irôko, a Pedra e o Sol, do grupo O Poste Soluções Luminosas (PE), no Teatro do Parque

18hAzira’i, solo da indígena Zahy Tentehar (MA), no Teatro Apolo

18hCabaré Coragem, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

Dia 20 (segunda-feira)

19hMiró: Estudo nº 2, do Grupo Magiluth (PE), no Teatro do Parque

19hDeslenhar, do grupo Teatro Miçanga (PE), na área externa entre os teatros Hermilo e Apolo

20hÓrfãs de Dinheiro, solo de Inês Peixoto (MG), no Teatro Apolo

Dia 21 (terça-feira)

20h – Alguém para fugir comigo, do Resta 1 Coletivo (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 22 (quarta-feira)

10hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Afogados

17hUbu – O que é bom tem de continuar, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), no Morro da Conceição

18h – Leitura dramatizada Justa, com Fabiana Pirro e Ceronha Pontes, na Faculdade de Direito

19hYerma – Atemporal, de Simone Figueiredo e Paulo de Pontes (PE), no Teatro do Parque

20hPedras, flor e espinho, do grupo ACA Produções Artísticas (PE), no Teatro de Santa Isabel

Dia 23 (quinta-feira)

10hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Água Fria

17hUbu – O que é bom tem de continuar, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), na Avenida Rio Branco

19hAuto da Barca do Inferno, da Cênicas Cia de Repertório (PE), no Teatro do Parque

21hSolo para um Sertão Blues, de Cláudio Lira (PE), no Teatro Apolo

21hNarrativas encontradas numa garrafa pet, do Grupo São Gens de Teatro (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 24 (sexta-feira)

11hGrande Prêmio Brazil, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Casa Amarela

15hBoquinha: E assim surgiu o mundo (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

19h – Leitura dramatizada O Sonho de Ent, da Cia Fiandeiro (PE), na sede da companhia (Rua da Saudade, 240, Boa Vista)

20hContestados, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

21hAo Paraíso, de Valécio Bruno (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 25 (sábado)

15h – Boquinha: E assim surgiu o mundo (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

17hA.N.J.O.S (infantil), da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17hPelos quatro cantos do mundo (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20h – “Interior”, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19h – “Tatuagem”, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque

20h – “Contestados”, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

Dia 26 (domingo)

16hCéu estrelado (infantil), do grupo Pedra Polida (PE), no Teatro Apolo

17hA.N.J.O.S, da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17hPelos quatro cantos do mundo (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20hInterior, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19hTatuagem, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque

 

 

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