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Auricéia Fraga faz 50 anos
de teatro e ganha homenagem
de festival recifense

Auricéia Fraga narra suas próprias história no novo trabalho, Não Se Conta o Tempo da Paixão

A atriz com o diretor Rodrigo Dourado e a equipe do projeto

Nos tempos do Vivencial. Foto: Arquivo

No dia 12 de março de 2026, quando Olinda e Recife completam mais um aniversário, a atriz pernambucana Maria Auricéia Vasconcelos Fraga celebrará seus 80 anos de vida. Quase simultaneamente, ela marca meio século de uma carreira teatral que começou “por acaso” e se transformou em paixão duradoura. Hoje, ela é uma das homenageadas (a outra é Augusta Ferraz) do 24º Festival Recife do Teatro Nacional, que ocorre de 20 a 30 de novembro em diversos espaços da capital pernambucana.

A honraria chega em um momento especial. Após uma década dedicada principalmente ao audiovisual, Auricéia retorna aos palcos com Não Se Conta o Tempo da Paixão, espetáculo sob direção de Rodrigo Dourado que apresenta nesta sexta-feira sua abertura de processo. É um retorno às origens para uma artista que nunca imaginou seguir a carreira artística.

Um Começo Inesperado – Em 1972, recém-chegada do Rio de Janeiro, Auricéia soube de um curso na Escola de Belas Artes e decidiu experimentar, apenas para ocupar o tempo enquanto buscava uma colocação no mercado de trabalho. “Eu não pretendia ser atriz, nunca imaginei ser atriz, mas adorei a convivência com as pessoas da classe”, relembra. O professor Isaac Gondim Filho logo identificou seu talento, considerando-a “um sucesso do curso” já na primeira prova pública.

O teatro profissional veio em 1976, quando foi convidada para integrar A Lição, de Ionesco, dirigida por Antonio Cadengue. Era o início de uma trajetória que a levaria pelos principais palcos do Recife e por grupos fundamentais da cena teatral pernambucana.

O Vivencial e a Transgressão Necessária – Foi através de Guilherme Coelho, que assistiu a A Liçãoe a convidou para integrar o Vivencial, que Auricéia encontrou sua verdadeira escola teatral. O grupo, conhecido por sua irreverência, pautas libertárias e crítica social afiada, ofereceu exatamente o que ela precisava: “Eu vinha de uma família, de uma criação muito repressora. Eu estava com vontade de me soltar.”

No Vivencial, onde permaneceu por quatro anos e quatro espetáculos, Auricéia viveu alguns dos momentos mais marcantes de sua formação. Guilherme Coelho respeitava suas limitações – ela deixava claro que “nua não ficava” – mas a conduzia gradualmente a superar barreiras, tanto artísticas quanto pessoais. Era ali que se discutia política, questões de gênero e se experimentava com a linguagem cênica de forma inovadora.

Os anos de formação de Auricéia coincidiram com o período mais duro da ditadura militar. Em Sobrados e Mocambos, de Hermilo Borba Filho, dirigido por Guilherme Coelho, ela experimentou diretamente os efeitos do autoritarismo. Quando uma cena foi cortada pela censura, Guilherme encontrou uma solução criativa: “A gente faz de mímica.” Nos dias em que não havia censor presente, o elenco era avisado: “Não tem censura hoje não. Aí a gente solta o texto todinho.”

Essa experiência marcou profundamente a atriz, que admirava a capacidade do diretor de “driblar aquela violência” através da arte.

Desafios e Transformações – Ao longo de quase cinco décadas, Auricéia enfrentou desafios que testaram seus limites como intérprete. Em Esta Noite se Improvisa, de Pirandello, precisou provar que merecia manter o papel de protagonista quando o grupo questionou sua ausência durante os ensaios devido ao acidente do marido. Voltou “afiada” e conquistou o prêmio de melhor atriz.

Mas foi em O Mistério das Figuras de Barro, de Osman Lins, com direção na época do jovem  Rodrigo Dourado que encontrou seu maior desafio: interpretar sozinha dois homens e uma mulher. A experiência foi tão intensa que até seu cachorro estranhou quando ela experimentava a voz do personagem Claraval.

Do Palco às Telas – A partir dos anos 2000, Auricéia expandiu sua atuação para o cinema e a televisão, participando de produções como O Baile Perfumado (1996), Árido Movie (2003), Tatuagem (2013) e mais recentemente Agreste (2024) e Chabadabada (2024). Apesar do sucesso nas telas, sua paixão permanece no teatro: “Quando eu estou no cinema eu me jogo também, mas o meu chamego é o teatro mesmo.”

Não Se Conta o Tempo da Paixão nasceu durante a pandemia, quando Auricéia começou a escrever memórias de sua infância no Engenho Águas Finas. O que eram “historinhas pequenininhas” se transformou, com o incentivo de Quiercles Santana e sua companheira Bruna, em material teatral. Para se sentir mais confortável com a exposição, criou a narradora que conta a história de Maria – seu primeiro nome.

O espetáculo retrata uma época em que “o pai decidia comida, decidia moda, decidia com quem a gente se relacionava, onde estudava”, mas também celebra os sonhos e a capacidade de superação. É um retorno não apenas aos palcos, mas às suas raízes mais profundas.

Reconhecimento e Futuro – A homenagem do Festival Recife do Teatro Nacional representa o reconhecimento de uma trajetória singular. “Foi a maior surpresa que eu tive”, confessa Auricéia, que há dez anos não subia aos palcos. “Você ter o reconhecimento do seu trabalho é uma coisa muito importante, muito boa.”

Aos 79 anos, com a energia de quem ainda tem muito a oferecer, Auricéia Fraga prova que a paixão pelo teatro não envelhece. Sua carreira é um testemunho da capacidade transformadora da arte e da importância de se manter fiel aos próprios sonhos, mesmo quando eles chegam por acaso e se revelam o destino de uma vida inteira.

Entrevista: Auricéia Fraga

A alegria é cultivada em todos os momentos da vida da artista

Gostaria que você falasse sobre a homenagem do 24º Festival Recife do Teatro Nacional. O que significa para você? Como é que você recebe, em seu coração, essa celebração feita pela sua cidade?

Auricéia: Olha, foi a maior surpresa que eu tive, porque inclusive eu já estou há bastante tempo sem fazer espetáculo, fazendo cinema, filme, série, essas coisas assim. Alguma matéria publicitária, mas o palco há 10 anos que eu fiz um espetáculo. E, de repente, no ano que eu resolvi voltar a fazer, arriscar a fazer, aconteceu isso. Ser homenageada, meu Deus, é demais, porque… 50 anos, quase, né? De que eu tô atuando. E a gente não tem como não ficar feliz, surpresa. E, assim, acho que é um reconhecimento. Eu fico sem graça, até, para… Oh, Deus do céu! Parece, assim, uma coisa totalmente inesperada, mas eu fico muito feliz, muito feliz. E isso é, assim, você ter o reconhecimento do seu trabalho, é uma coisa muito importante, muito boa. Eu acho que não podia estar mais feliz.

Qual sua motivação para iniciar essa trajetória no teatro, na década de 70, e o que é que continua a alimentar essa paixão pelo teatro, pela arte da representação?

Auricéia: Começar no teatro foi uma coisa meio por acaso. Eu tinha chegado do Rio de Janeiro, aí soube que estava tendo esse curso na Escola Belas Artes, aí eu disse, por enquanto não estou trabalhando, vou experimentar. Fui e gostei, mas eu não pretendia ser atriz, nunca imaginei ser atriz, mas adorei a convivência com as pessoas da classe, adorei, começou a abrir minha cabeça só a convivência com eles, a experiência com também professores ótimos.

Aí, aconteceu que no meio do ano tinha uma prova pública e no final do ano tinha outra. No meio do ano eu fiz a prova pública e Isaac Gondim Filho, que era meu professor e uma pessoa muito reconhecida, ele considerou que eu tinha sido um sucesso no curso. Me surpreendi. Isso foi em 1972, na Escola Belas Artes. Aí eu toquei a minha vida, fui trabalhar. Fui trabalhar na Fundarpe. Sou a primeira funcionária da Fundarpe.

Em 1976, Zé Mario Austragésilo estava querendo montar A Lição de Ionesco. Ele já tinha três personagens. Aí, Rosário (Austragésilo), que tinha feito o curso comigo, me chamou. (Antonio) Cadengue dirigia. Pensei duas vezes, aceitei. E tive a sorte de pegar um assistente de direção como Beto Diniz, né? Maravilhoso. Aí eu me joguei.

Qual foi a influência do Grupo Vivencial, porque ele tinha uma linguagem diferente dos outros grupos que atuavam aqui, uma linguagem mais transgressora. Como era isso? Como era essa história do Vivencial na sua vida?

Auricéia: Quando eu frequentei o Vivencial era meu amor, era tão grande, porque eu gostava que eles reuniam o elenco, conversava sobre o texto. Sempre eu achava linda aquela coisa de transgredir, de não fazer… Eu precisava de muita transgressão, porque eu vinha de uma família, de uma criação muito repressora. Aí, quando eu cheguei do Rio para cá… Eu passei dois anos lá na casa da irmã minha, que era muito conservadora também, então eu tava com a vontade de me soltar, sabe?

Guilherme (Coelho) é uma maravilha. E ele sabia que eu tinha muita dificuldade, que era muito tímida. Quando falava que a Suzana (Costa) ficava de vedete, a outra ficava de vedete, eu ficava bem à vontade de dizer:  nua não fico. Guilherme me levava, com muito jeito, respeitando muito as minhas limitações, minhas dificuldades, mas, ao mesmo tempo, com um jeitinho, ele ia conseguindo que eu avançasse um pouco em várias questões.

Com relação à repressão, porque Sobrados e Mocambos teve também uma coisa bem repressora, né? Como era? O que você percebia desse momento histórico no Brasil, dessa repressão?

Auricéia: Eu vi aquilo tudo, mas eu ficava boba como eles lidavam, conseguiam falar as coisas deles, dizer. Ou usar daquela forma, mesmo com a repressão. Porque nós, naquela época, tinha censura que ficava com um texto e outro examinando a encenação no ensaio geral. Para cortar o texto ou propriamente a encenação.

Aí teve uma cena, que eram várias cenas de Sobrado, que eram os enrabados. A censura, quando viu, cortou. Aí a gente veio para Guilherme. “Pô, a gente vai cortar esse pedaço?!”. Guilherme disse, não, não, a gente faz de mímica.

E como era essa cena?

Auricéia: Era muito palavrão, era muito em cima da coisa do poder, sabe? Da violência do poder.

Quando a censura não tiver, solta o texto todo, dizia Guilherme. E a gente fazia isso. Ficava alguém da portaria para avisar. Ah, não tem censura hoje não, aí a gente solta o texto todinho. E eu achava aquilo uma delícia, sabe? Que ele arrumava formas de, sabe, de driblar aquela violência.

Dessa sua carreira longeva, de quase 50 anos, quais foram os principais desafios e aprendizados que você guarda?

Auricéia: Foram vários. Eu gostava dos desafios, apesar de ser muito insegura. Quando eu fiz Esta Noite se Improvisa, que eu fazia a Mommina, a protagonista, o grupo começou a cobrar, achando que eu devia não ficar nesse personagem porque eu estava muito ausente (cuidando do marido, que tinha sofrido um a acidente de carro) e o ensaio tinha que correr. Aí eu cheguei e conversei com eles e com Cadengue, só para dizer, “você pode me tirar, se eu não der conta. Eu volto daqui a tantos dias, quando voltar, se eu não tiver com as marcas, acompanhar as marcas e o texto, aí você pode dar o meu personagem”. Aí quando eu voltei, eu cheguei afiada, aí não tiveram moral para tirar a personagem. E eu também ganhei o prêmio, melhor atriz.

Mas de todos eu acho que foi O Mistério das Figuras de Barro. Minha filha, quando eu vi o texto, já, o pessoal chegava dizendo assim, olha, ninguém quer fazer essa peça, dá para Auricéia. Quando eu vi qual era o desafio… a sugestão de Osman Lins era que fosse feito por uma mulher, que fizesse os dois homens e a mulher, que arrumasse um indumentário que não identificasse bem. Aí eu, tipo, vou fazer dois homens e uma mulher. Fiz…

Me conte sobre o espetáculo Não Se Conta o Tempo da Paixão. Por que você decidiu voltar ao teatro com esse trabalho?

Auricéia: Na pandemia eu comecei a escrever, assim, vindo lembranças do Engenho, da minha vida no Engenho, me criei do Engenho até a adolescência. Engenho Águas Finas. Eu estava fazendo essas historinhas, historinhas pequenininhas, aí eu mandei para algumas pessoas, aí algumas diziam, manda editar.

Eu estava pensando em montar Senhor Diretor de Lígia Fagundes Teles. Eu estava há dez anos tentando montar a Lígia. Aí chegou aqui, veio o Quiercles Santana com a companheira dele, aí eu com esse meu jeito, falando, contando as coisas, aí ele disse “mas deve ser caro esse direito autoral dela. Aí Bruna disse, “e porque tu não faz, tu tem uma vida tão rica…” Ela achou que minha vida tinha muita coisa dessas, que dava para fazer uma peça.

Para eu não ficar muito desconfortável, vou botar o nome da narradora, a que vai contar a história de Maria. Porque, na realidade, meu nome é Maria também. Maria Auricéia. Então ela vai ser Maria. E Maria conta a história da vida dela.

Depois da abertura do processo do espetáculo Não Se Conta o Tempo da Paixão, quais são os seus planos? Tem já alguns outros projetos?

Auricéia: A gente está dando o nome como se fosse um ensaio aberto. Porque não está pronto. Não está completo. Mas ficaria muito extenso se botasse tudo agora. Muito extenso. Aí ninguém aguentava não. Monólogo extenso ninguém aguenta. Aí eu disse, não, vamos partir esse negócio.

Mas eu pretendo, se Deus quiser, tendo saúde, eu pretendo continuar. Ou com esse texto ou com outro. Quem sabe A Lição” de Lígia, que eu amo de paixão o texto. Que o Guilherme adorou e queria dirigir, mas ele foi para Brasília. 

Auricéia Fraga em Um rito de mães, rosas e sangue. Foto: Tuca Siqueira

AURICÉIA FRAGA – Principais Trabalhos
DRT/PE: 602

TEATRO – Destaques da Carreira (1976-2016)
Década de 1970 – Formação e Vivencial:

A Lição (Ionesco, 1976) – Direção: Antonio Cadengue
Sobrados e Mocambos (Hermilo Borba Filho, 1977) – Direção: Guilherme Coelho
Esta Noite se Improvisa (Pirandello, 1977) – Direção: Antonio Cadengue
Prêmio Melhor Atriz
Viúva, porém Honesta (Nelson Rodrigues, 1977) – Direção: Antonio Cadengue
Prêmio Melhor Atriz
Repúblicas Independentes, Darling (1978) – Direção: Guilherme Coelho
Notícias Tropicais (1980) – Direção: Guilherme Coelho

Trabalhos Posteriores de Destaque:

O Mistério das Figuras de Barro (Osman Lins, 2003-2004) – Direção: Rodrigo Dourado
Playdog (2009) – Direção: Rafael Barreiros, Rodrigo Cunha e Alisson Castro
Prêmio Melhor Atriz – Janeiro de Grandes Espetáculos 2010
Um Rito de Mães Rosas e Sangue (Federico Garcia Lorca, 2010) – Direção: Cláudio Lira  Circulação Nacional

CINEMA E TELEVISÃO – Principais Produções

Longas-metragens:
O Baile Perfumado (1996) – Direção: Lírio Ferreira e Paulo Caldas
Árido Movie (2003) – Direção: Lírio Ferreira
Tatuagem (2013) – Direção: Hilton Lacerda
O Rio (2025, em montagem) – Direção: Wislam Esmeraldo e Hilton Lacerda

Séries e TV:
Lama dos Dias (2018) – Direção: Hilton Lacerda
Chão de Estrelas (2021) – Direção: Hilton Lacerda
Agreste (2024) – Direção: Alice Gouveia – Canal Cine Brasil
Chabadabada (2024) – Canal Brasil

RETORNO AOS PALCOS (2025)
Não Se Conta o Tempo da Paixão – Direção: Rodrigo Dourado
Abertura de processo – 24º Festival Recife do Teatro Nacional (novembro de 2025)

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Ela enfrentou a ditadura
Lady Tempestade abre
24º Festival Recife do Teatro Nacional

Andrea Beltrão estrela monólogo sobre defensora de presos políticos em Pernambuco, abrindo festival que celebra vozes femininas nas artes cênicas.  Foto: Nana Moraes / Divulgação

Embarque na história de uma mulher que dedicou sua vida a defender aqueles que o Estado considerava inimigos. Mércia Albuquerque foi uma advogada corajosa que, durante os anos mais sombrios da ditadura militar, enfrentou tribunais, burocracias e ameaças para garantir direitos básicos a centenas de presos políticos em Pernambuco. Sua trajetória está no palco através de Lady Tempestade, com Andrea Beltrão, espetáculo que inaugura o 24º Festival Recife do Teatro Nacional, com sessões entre 20 e 22 de novembro no Teatro de Santa Isabel.

Mércia Albuquerque era uma ponte entre famílias desesperadas e um sistema jurídico militarizado. Durante os 21 anos da ditadura civil-militar (1964-1985), ela esteve na linha de frente da defesa dos direitos humanos, documentando violações, organizando defesas e mantendo viva a esperança de inúmeras famílias pernambucanas.

Com texto de Silvia Gomez e direção de Yara de Novaes, a obra baseia-se nos diários pessoais e registros profissionais deixados pela própria Mércia. Trata-se de um trabalho de arqueologia da memória que revela os bastidores da resistência jurídica durante um dos períodos mais sombrios da história brasileira.

Lady Tempestade” oferece uma aula de história viva, demonstrando como funcionava na prática a máquina repressora e, principalmente, como pessoas comuns encontraram formas de resistir dentro da própria lei. Mércia enfrentava verdadeiras tempestades burocráticas e políticas para fazer valer os direitos de seus defendidos.

Andrea Beltrão, uma trajetória de escolhas inteligentes. Foto: Gil Tuchternhagen / Divulgação

Com mais de 40 anos de carreira, Andrea Beltrão conquistou reconhecimento tanto na televisão quanto no teatro, sempre priorizando projetos de relevância artística e social. Na TV, destacou-se em produções como Armação Ilimitada, A Grande Família e Um Lugar ao Sol, enquanto no cinema brilhou em Hebe, A Estrela do Brasil.

No teatro, a atriz emocionou plateias em montagens como “A Prova” e As Centenárias“, demonstrando versatilidade para transitar entre drama e comédia com igual maestria. Essa trajetória sólida reflete uma carreira pautada pela inteligência na escolha dos trabalhos.

Em Lady Tempestade, Beltrão enfrenta um de seus papéis mais desafiadores: interpretar uma mulher real, com responsabilidades históricas e familiares que ainda guardam a memória de Mércia Albuquerque. O monólogo demanda técnica refinada e resistência emocional, já que a intérprete permanece em cena por aproximadamente 90 minutos, conduzindo uma narrativa densa sobre um período traumático da história nacional.

No cenário atual, Lady Tempestade oferece algo raro, que são fatos documentados apresentados através de uma perspectiva humana e acessível. A montagem ganha relevância especial por mostrar o papel crucial da advocacia em momentos de crise democrática. 

Para plateias mais jovens, o espetáculo atua como janela para um período histórico frequentemente reduzido a dados estatísticos nos livros didáticos. Dessa forma, através do relato pessoal de Mércia, eventos históricos ganham rostos, nomes e consequências humanas concretas.

Expectativa de alta procura

A organização do festival prevê alta demanda para as três sessões de Lady Tempestade. A produção acumula histórico de salas lotadas em temporadas anteriores, enquanto a combinação do nome de Andrea Beltrão com a relevância do tema tem atraído atenção em várias temporadas.

Há relatos de caravanas organizadas em estados vizinhos interessadas em acompanhar a abertura do festival. Tal expectativa se justifica: além da importância histórica do material, a montagem oferece a rara oportunidade de ver uma das maiores atrizes brasileiras em ação no palco, em um espaço histórico como o Teatro de Santa Isabel.

Festival celebra protagonismo feminino

Tudo que Eu Queria te Dizer, solo de Ana Beatriz Nogueira. Foto: Divulgação

O 24º Festival Recife do Teatro Nacional consolida-se como um dos principais eventos teatrais do país, apresentando 24 espetáculos em onze dias de atividades, sendo 16 deles inéditos na capital pernambucana. Com o tema “Vozes Femininas – Histórias que ressoam”, a edição deste ano celebra as criadoras e criativas do teatro brasileiro, entre dramaturgas, atrizes, diretoras e pesquisadoras.

Entre as principais atrações nacionais, além de “ady Tempestade, está Tudo que Eu Queria te Dizer, solo de Ana Beatriz Nogueira inspirado no best-seller de Martha Medeiros, onde a atriz se desdobra na pele de cinco mulheres distintas para falar sobre amor, rejeição e desejo. A apresentação acontece nos dias 22 e 23, no Teatro do Parque.

Também inédita na capital pernambucana é Mary Stuart, protagonizada por Virginia Cavendish, trazendo um olhar contemporâneo sobre as últimas 24 horas de vida da rainha escocesa, numa trama sobre conspiração e jogos de poder. A montagem paulista estreia no Recife nos dias 28 e 29, também no Teatro do Parque.

116 Gramas: Peça para Emagrecer, solo da paulista Letícia Rodrigues, explora a jornada de uma mulher em busca do emagrecimento, questionando pressões sociais sobre a imagem corporal. A protagonista tenta, a cada apresentação, perder exatamente 116 gramas, utilizando o espetáculo como uma aula de academia performativa. As sessões acontecem nos dias 22 e 23, no Teatro Apolo.

A Cia do Tijolo, companhia paulista reconhecida nacionalmente, traz duas produções inéditas na cidade: Corteja Paulo Freire, celebração poética e musical no Parque Dona Lindu, e Restinga de Canudos, que reconstrói a vida em Canudos a partir da visão feminina de duas professoras do povoado, que eram professoras em tempos de paz e enfermeiras em tempos de guerra. A montagem apresenta uma perspectiva inédita sobre a comunidade, destacando o cotidiano, as resistências e as histórias que ficaram submersas na narrativa oficial sobre o conflito. A apresentação acontece no dia 23, no Teatro Luiz Mendonça.

Homenagens

Augusta Ferraz. Foto Rogério Alves / Divulgação

Auricéia Fraga. Foto: Divulgação

A edição presta tributo a duas grandes atrizes pernambucanas: Auricéia Fraga e Augusta Ferraz, com 50 anos de trajetória cada uma, cujas vidas em cena contam a história do teatro local.

Augusta Ferraz apresenta Sobre os Ombros de Bárbara, mergulho na vida de Bárbara Alencar, heroína da Revolução Pernambucana e considerada a primeira presa política do Brasil. A montagem acontece nos dias 29 e 30, no Teatro de Santa Isabel.

Auricéia Fraga convida o público para  abertura de processo de Não se Conta o Tempo da Paixão, onde narra sua longa relação com o teatro. A abertura de processo acontece no dia 21, no Teatro Hermilo Borba Filho.

Diversidade de propostas e territórios

Das que Ousaram Desobedecer, do Ceará. Foto de Pattie Silva / Divulgação

O festival distribui sua programação estrategicamente por teatros municipais, parques e espaços públicos da cidade. Além dos tradicionais palcos do Santa Isabel, Teatro do Parque, Apolo e Hermilo Borba Filho, a programação alcança o Marco Camarotti, Luiz Mendonça, Espaço Cênicas e Casa de Alzira, chegando também aos parques da Macaxeira e da Tamarineira.

Shá da Meia Noite, com Sharlene Esse. Foto: Divulgação 

Entre as produções locais inéditas, sobressai Helô em Busca do Baobá Sagrado, espetáculo infantil que narra a história de uma menina em missão para encontrar o fruto sagrado e curar seu povo da “doença da tristeza”. As apresentações acontecem nos dias 22 e 23, no Teatro Hermilo.

Outras montagens nacionais inéditas incluem Das que Ousaram Desobedecer (CE), que relembra a luta de mulheres cearenses contra a ditadura; Zona Lésbica (RJ), que enfrenta estereótipos de gênero para reivindicar o direito ao amor; A Mulher Bala (SP), com a palhaça Funúncia tentando se tornar uma bala humana; e Ella (AM), solo de palhaçaria que aborda violência de gênero.

A Mostra OFFRec amplia o alcance do festival com produções locais e nacionais  contemporâneas, incluindo Mi Madre, solo autobiográfico de dança de Jhanaina Gomes; HBLynda em Trânsito, sobre as vivências de uma pessoa gorda, preta e não binária; e Shá da Meia Noite, celebrando os 40 anos da artista que participou do irreverente Grupo Vivencial.

O festival mantém sua vocação pedagógica através de quatro oficinas gratuitas sobre temas como teatro e sagrado feminino, dramaturgia feminista e criação de solos teatrais. As atividades acontecem entre os dias 20 e 27, em diversos equipamentos.

Toda a programação é gratuita, com distribuição de ingressos nas bilheterias dos teatros uma hora antes de cada espetáculo, mediante entrega de um quilo de alimento não perecível. Serão 37 sessões ao longo dos onze dias, convidando a cidade inteira a celebrar o teatro brasileiro.

📅 SERVIÇO 

LADY TEMPESTADE
🎭 Com: Andrea Beltrão
✍️ Texto: Silvia Gomez
🎬 Direção: Yara de Novaes
📅 Datas: 20, 21 e 22 de novembro
⏰ Horários: 20h (todas as sessões)
📍 Local: Teatro de Santa Isabel – Praça da República, Santo Antônio, Recife/PE
🪑 Capacidade: 570 lugares
🎟️ Ingressos: Gratuitos com 1kg de alimento não perecível
♿ Acessibilidade: Libras (todas as sessões) + Audiodescrição (dia 22)

24º FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL
🎨 Tema: “Vozes Femininas – Histórias que ressoam”
📅 Período: 20 a 30 de novembro de 2024
🎭 Programação: 24 espetáculos (16 inéditos na cidade) + 37 sessões
🎟️ Acesso: Gratuito com 1kg de alimento não perecível
🏛️ Equipamentos: 9 teatros e 2 parques da cidade
📱 Informações: @culturadorecife (Instagram) | Canais oficiais da Prefeitura do Recife

OUTROS DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO:

 Abertura de processo de Não se Conta o Tempo da Paixão (Auricéia Fraga) – dia 21, no Teatro Hermilo Borba Filho.
Tudo que Eu Queria te Dizer (Ana Beatriz Nogueira) – 22 e 23/11, Teatro do Parque
Mary Stuart (Virginia Cavendish e elenco) – 28 e 29/11, Teatro do Parque
116 Gramas: Peça para Emagrecer (Letícia Rodrigues) – 22 e 23/11, Teatro Apolo
Restinga de Canudos (Cia do Tijolo) – 23/11, Teatro Luiz Mendonça
Sobre os Ombros de Bárbara (Augusta Ferraz) – 29 e 30/11, Teatro de Santa Isabel

OFICINAS GRATUITAS:
Teatro, Dança e Sagrado Feminino (20-21/11)
Dramaturgia para Infâncias (21-23/11)
Criação de Solos Teatrais (24-27/11)
Dramaturgias Feministas (26/11)

⚠️ INFORMAÇÕES IMPORTANTES:

Chegada com 1h de antecedência recomendada
Programação sujeita a alterações – acompanhar canais oficiais
Espetáculos com classificação indicativa variada
Sessões com recursos de acessibilidade sinalizadas na programação

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Vivencial é referência afetiva no cinema

“Caros caras:
Não sou anormal. Somos. Logo, não somos. É diferente. Um anormal é anormal. Dois anormais são normais. Tanto mais se unidos. Muito poucos fazem muito. De minoria em minoria, a maioria enfia a viola no saco, e a violação no cu.”

“Não adianta fazer ou assistir teatro sem considerarmos as características do tempo em que vivemos. O teatro é o reflexo das realidades de uma época e não um fenômeno isolado cujas dificuldades sejam exclusivamente suas, mas de todo um processo criativo em crise.”

O Grupo Vivencial Diversiones foi um furacão, uma perversão, o salto-alto no mangue, o teatro em movimento. E ele mesmo se “explicou” em alguns textos. Esses foram reunidos e publicados por Lúcia Machado no livro A modernidade no teatro, Ali e aqui, Reflexos estilhaçados. Foi lá no Vivencial que o cineasta Hilton Lacerda bebeu. E Tatuagem está surgindo…

Primeiro longa de Hilton Lacerda é inspirado no Vivencial Diversiones. Fotos: Pollyanna Diniz

Visitei o set e escrevi uma matéria para o Diario de Pernambuco, publicada no último sábado e reproduzida aqui:

“O nosso show vai estrear / Mas não se engane / Nós somos perigosas / Bem gostosinhas e amorosas”. A irreverência dos versos cantados por marinheira, bailarina, um diabo provocante se propagava no jardim daquele casarão antigo nas ladeiras históricas de Olinda na quinta-feira passada. O lugar serve como locação do primeiro longa de Hilton Lacerda – Tatuagem, que será filmado até o dia 28 deste mês.

A cena que estava sendo gravada era, na realidade, “um filme dentro do filme, já que um dos personagens grava um Super-8. Era o baile da trupe Chão de Estrelas, uma “referência afetiva” ao grupo de teatro Vivencial Diversiones, que existiu no Recife nas décadas de 1970 e 1980 sob influência da contracultura. “Não queria fazer um documentário, me desagrada o fato de adaptar o real para a ficção. Mas tem essa inspiração”, explica o diretor.

Irandhir Santos interpreta líder da trupe Chão de estrelas

Casarão em Olinda onde foram rodadas algumas cenas

O filme se passa em 1978, mas não está preso ao passado. “Não me interessa fazer um filme fora do que a gente vive. Nesse Super-8 que está sendo gravado no filme, os atores dizem que o futuro será incrível e todos os preconceitos seriam abolidos. Seria uma revolução filosófica e não tecnológica. Mas 1978 era o ano em que o Brasil ia dar certo e acho que estamos passando por isso novamente”, avalia Lacerda.

O protagonista do filme é Irandhir Santos, que começou no teatro aqui em Pernambuco, mas despontou mesmo no cinema em longas como Tropa de Elite 2 e Besouro. Santos faz o líder da trupe tão questionadora quanto polêmica e inventiva; mas que está envolvido numa relação com o lado oposto, um soldado, interpretado pelo também pernambucano Jesuíta Barbosa. O diretor explica que o projeto tem pelo menos cinco anos e que sempre pensou em Irandhir para o papel principal. Os dois já trabalharam juntos – Lacerda como roteirista – em Febre do rato (que teve pré-estreia dentro do Janela de Cinema) e Baixio das bestas. “Adoro fazer roteiros e isso fez com que eu demorasse a dirigir”, complementa.

O longa tem um orçamento de R$ 2,5 milhões, recursos da Petrobras, Eletrobras e Funcultura. 70 pessoas estão na equipe. “Desde setembro temos o elenco, tanto atores quanto não-atores, mas pessoas envolvidas com arte, que, às vezes, são até mais naturais”, conta Rutílio de Oliveira, produtor de elenco. É assim, por exemplo, que Júnior Black faz o DJ Tonho do Som. Ou alguém que trabalhava na arte acabou em cena vestida de bailarina. “Meu personagem fuma um monte para poder criar. Como muitos, saiu de casa por algum motivo. Acho que hoje haveria espaço para um grupo como o Vivencial, mas não sei se com o mesmo nível de provocação”, diz o ator Erivaldo Oliveira, vestido de Marquinhos Odara.

Trupe Chão de Estrelas

Cláudio Assis relembrou o tempo em que foi dirigido por Vital Santos e se apresentou no Vivencial

Que diabos é essa liberdade?
A sede “político-anárquica” do Vivencial Diversiones ficava no Complexo de Salgadinho, numa área de mangue. “Quando eu era ator do Grupo de Cultura de Caruaru, com Vital Santos, nós nos apresentamos no Vivencial. Era meio mangue, me lembro bem, fim da década de 1970”, recorda o diretor Cláudio Assis, que estava acompanhando as gravações de Tatuagem – e iria até entrar em cena. Se a casa do Vivencial ficava no mangue, a da trupe Chão de Estrelas é construída no Nascedouro de Peixinhos, com referências ao tropicalismo e, claro, à liberdade.

O filme ainda terá a participação de alguns atores que integraram o Vivencial, como Auricéia Fraga, que entra na última etapa de gravação, em Bonito. Para a pesquisa, Hilton conversou com nomes como Guilherme Coelho, criador do Vivencial que hoje mora em Brasília, e com o diretor de teatro Antônio Edson Cadengue. “Na realidade, eu queria fazer um filme sobre o personagem Túlio Carella, do livro Orgia. Tinha até um nome…O homem da ponte. Estava conversando com João Silvério Trevisan, que era meu vizinho, e foi ele quem levantou essa ideia do Vivencial, que eu não cheguei a frequentar”, conta.

O filme tem até uma referência ao próprio Hilton. No filme, o personagem de Irandhir Santos tem um filho de 13 anos, mesma idade que Lacerda tinha em 1978. “Convivi com Cadengue, Jomard Muniz. Teatros mais marginais existiam em vários lugares do Brasil. E o filme discute que diabos é essa liberdade que temos hoje”, diz.

Hilton Lacerda disse que tem vontade de escrever para teatro

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Depois de quase um ano e meio, Prefeitura paga fomento

Recebi uma ligação do ator Tatto Medinni dando uma boa notícia: finalmente, um ano e cinco meses depois de ter o seu resultado divulgado, o Prêmio de Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura do Recife foi pago. A premiação contempla cinco propostas com R$ 20 mil cada. Mesmo que o valor seja pequeno, é um apoio que não pode ser perdido pela classe.

Neste caso específico, algumas montagens até já foram realizadas, como é o caso de Minha cidade, de Ana Elizabeth Japiá. A diretora inclusive fez um empréstimo para fazer a produção, contando com o fomento. Ana tinha me contado um tempo atrás que já tinha nova temporada prevista no Marco Camarotti, mas não sabia se iria conseguir cumprir por conta da grana.

Outra produção contemplada foi Um rito de mães, rosas e sangue, com direção de Claudio Lira, que estreou em maio do ano passado e coincidentemente está voltando em temporada este fim de semana, no Teatro Hermilo Borba Filho. A montagem é formada por três quadros com adaptações de Bodas de sangue, Yerma e A casa de Bernarda Alba, todos de Federico Garcia Lorca. A peça que tem um elenco numeroso – Ana Maria Ramos, Auricéia Fraga, Andrêzza Alves, Daniela Travassos, Luciana Canti, Sandra Rino, Lêda Oliveira, Lano de Lins e Zé Barbosa – fica em cartaz sábados e domingos, às 20h, até 28 de agosto. Ingressos: R$ 15 e R$ 7,50.

Auricéia Fraga em Um rito de mães, rosas e sangue. Foto: Tuca Siqueira

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A Mãe do canavial

A Peleja da Mãe nas Terras do Senhor do Açúcar. Em cena, a Catita, interpretada por Dielson José

O encenador Carlos Carvalho operou muitas mudanças no espetáculo A Peleja da Mãe nas Terras do Senhor do Açúcar. O resultado foi um espetáculo mais orgânico, mais conciso e mais articulado do que o que foi mostrado no último Janeiro de Grandes Espetáculos. Na encenação, a junção de brincantes com atores de formação tradicional mostrou-se mais fluida.

O espetáculo foi visto ontem, dentro do projeto Palco Giratório, do Sesc, no Teatro Marco Camarotti, em Santo Amaro. A montagem ganhou dois reforços que colaboram com a agilidade atingida na apresentação.

O primeiro é o multi-instrumentista André Freitas, que toca ao vivo, criando um ambiente sonoro para variadas ações. A ação dos atores ganha outros contornos quando Freitas alia o seu ritmo. O segundo é o coreógrafo Raimundo Branco, que fez a preparação de elenco e entrou em cena no lugar de Zé Barbosa.

O teatro político continua lá. Mas desta vez parece que o autor/ encenador observa a história com distanciamento, com os olhos de quem enxerga os acontecimento com 30 anos de distância. Isso faz diferença.

A Peleja da Mãe nas Terras do Senhor do Açúcar

A história se passa no final da década de 1960 e começo da década de 1970, época de grande repressão política no Brasil.

Das inspirações de A Mãe de Máximo Gorki e Mãe Coragem, de Bertold Brecht, essa mãe do canavial tem todos os sentimentos de uma figura que não tem muitas informações, mas sabe na prática do que são capazes os poderosos. Só que algo é despertado. E sobreviver ganha outras dignidades.

O rico universo dos folgazões é defendido por Mestre Grimário, Grimário Filho e Dielson José que se harmonizam com os outros atores da montagem, embora a organicidade desse encontro ainda possa crescer muito, principalmente no decorrer das apresentações.

A opressão e a violência é exercida pelo capataz, interpretado pelo ator Flávio Renovatto, que se desdobra também no papel de canavieiro.

Em A peleja da Mãe, depois que o pai Miguel (Mestre Grimário) morre sem atendimento médico (não tinha médico no posto e a ambulância estava quebrada, mas disseram que dava para “esperar”), o filho (Paulo Henrique, do Maracatu Piaba de Ouro) se aproxima ainda mais do movimento sindicalista. A mãe teme pelo filho, mas há o momento da virada, em que ela é obrigada a se posicionar.

Mestre Grimário e Flávio Renovatto

O texto de Carlos Carvalho traça suas intertextualidades dramatúrgicas com Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.

A atriz Auricéia Fraga faz a mãe com suas nuances de ignorância e sabedoria. E sua figura pequena cresce na cena.

A atriz Auricéia Fraga

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