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Resistência cultural e inovação em diversos espaços

Agrinez Melo em Histórias Bordadas em Mim

Uma programação diversificada abrange desde comédias autorais até espetáculos que resgatam a ancestralidade afro-brasileira. Entre os destaques, duas produções pernambucanas chamam especial atenção: Histórias Bordadas em Mim, pela sua trajetória de resistência e celebração da cultura negra, e Ayiti, a montanha que assombra o mundo, que marca os 30 anos de carreira de Marconi Bispo com um mergulho inédito na Revolução Haitiana.

Após nove anos de trajetória independente, o espetáculo solo Histórias Bordadas em Mim, da atriz pernambucana Agrinez Melo, reestreia no Espaço O Poste nos dias 10 e 11 de outubro, às 19h, marcando um importante momento de reconhecimento para a produção artística local.

A peça, que já percorreu mais de 50 apresentações entre Pernambuco, Ceará e São Paulo, chegando a um público de mais de 6 mil pessoas, agora conquista pela primeira vez o incentivo público através do edital Funcultura. 

Histórias Bordadas em Mim” é mais que um espetáculo teatral – é um ritual de acolhimento que se inicia com um banho de ervas oferecido ao público. A protagonista, coberta por retalhos e saias, marca os pontos riscados das encruzilhadas entre histórias reais e imaginárias, proporcionando um resgate orgânico da fé e da possibilidade de ressignificar experiências vividas.

A encenação baseia-se na Poética Matricial dos Orixás e Encantados, explorando narrativas teatrais que posicionam uma mulher negra, mãe, candomblecista e nordestina no centro da cena. As referências incluem a oralidade africana ancestral, os ensinamentos de sua mãe costureira e avós benzedeiras, além das trocas com terreiros de matriz afro-indígena.

Em Ayiti, Marconi Bispo celebra 30 anos de arte com peça sobre revolução haitiana. Foto: Arthur Canavarro 

Em um marco histórico para o teatro pernambucano, Marconi Bispo apresenta no dia 14 de outubro, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, o espetáculo Ayiti, a montanha que assombra o mundo – a primeira produção em Pernambuco dedicada exclusivamente à Revolução Haitiana.

O espetáculo, que marca os 30 anos de carreira do artista, representa um mergulho profundo nas conexões históricas entre o Haiti e as insurgências pernambucanas, questionando por que sabemos tão pouco sobre a revolução que fundou a primeira nação negra de ex-escravizados a derrotar o invasor europeu e abolir a escravidão.

Ayiti une história, performance, percussão, poesia e dança em uma experiência cênica única, com dramaturgia assinada por Marconi Bispo e Kamai Freire. A apresentação conta com a participação de artistas locais como Thulio Xambá e Beto Xambá (musicistas do Grupo Bongar), Brunna Martins e Kadydja Erlen (atrizes), criando uma ponte entre a resistência haitiana e a cultura afro-pernambucana.

FETEAG: 34ª Edição Propõe Diálogos entre Arte e Urgências Sociais

Germaine Acogny encerra programação do Feteag com Un endroit du début

O Festival de Teatro do Agreste (FETEAG), dirigido por Fabio Pascoal, estabelece em sua 34ª edição diálogos diretos entre criação artística contemporânea e as urgências sociais do nosso tempo. Entre 9 e 26 de outubro, o evento reúne 21 espetáculos nacionais e internacionais, todos com entrada gratuita, em teatros de Caruaru e Recife.

À mon seul désir, de Gaëlle Bourges (França), abre o festival nos dias 9 e 10 de outubro no Teatro Luiz Mendonça. A coreógrafa francesa parte da tapeçaria medieval A Dama e o Unicórnio para reavaliar construções históricas sobre feminilidade, examinando como a cultura europeia associou mulheres ao mundo vegetal e animal, perpetuando ideais de virgindade através de imagens aparentemente poéticas.

A investigação coreográfica expõe violências simbólicas embutidas nessas representações românticas, utilizando movimento e voz para evidenciar como tapeçarias medievais funcionavam como dispositivos de controle sobre corpos femininos, conectando-se com debates contemporâneos sobre representação e autonomia.

Les Sans (Os Sem), do coletivo Les Récréâtrales-ELAN de Burkina Faso, investiga a questão dos sem-teto e excluídos sociais através de linguagem que combina tradições orais africanas com teatro político contemporâneo. A obra adapta o pensamento de Frantz Fanon para o teatro através do reencontro de dois ex-companheiros de luta, interrogando se a libertação formal constitui verdadeira descolonização.

L’Opéra du villageois, da Compagnie Zora Snake de Camarões, manifesta resistência através de performance-ritual que ressuscita a potência das máscaras africanas roubadas pelos museus europeus, questionando a pilhagem cultural colonial através de rituais com ouro e sal.

Germaine Acogny, lenda da dança contemporânea nascida no Senegal em 1944, encerra o festival no Teatro Santa Isabel com Un endroit du début. Aos 81 anos, ela segue ativa como pesquisadora corporal, tendo fundado a primeira escola de dança contemporânea da África Ocidental em 1977 e desenvolvido técnica própria que combina danças tradicionais africanas com metodologias ocidentais.

A apresentação de La Cocina Pública, do grupo chileno Teatro Container, no Assentamento Normandia em Caruaru estabelece uma das escolhas mais incisivas da curadoria. O espetáculo transforma o preparo coletivo de uma refeição em ritual de reflexão sobre direitos básicos, ganhando ressonâncias particulares sobre soberania alimentar em território conquistado pelo MST.

Édipo REC, do Grupo Magiluth (PE), com direção de Luiz Fernando Marques e dramaturgia de Giordano Castro, constrói releitura não-linear da tragédia sofocliana onde Tebas se transforma no Recife fantasmagórico. O Corifeu é representado pela câmera, espelhando a produção excessiva de imagens das redes sociais e câmeras de segurança.

Neva, montagem de Marianne Consentino (PE), ambienta-se no Domingo Sangrento de 1905 em São Petersburgo, friccionando arte e política através de três atores refugiados em teatro durante massacre nas ruas. A peça de Guillermo Calderón questiona a serventia do teatro através de Olga Knipper, viúva de Tchekhov.

Fábulas de nossas fúrias (Coletivo Atores à Deriva, RN) articula contação de histórias com afirmação política da raiva como elemento transformador, inspirando-se em Paulo Freire para questionar hierarquias conservadoras através de narrativas que invertem lógicas de poder.

Dancemos… que o mundo se acaba!, da BiNeural-MonoKultur (Argentina), propõe áudio-obra interativa que transforma público em dançarinos, questionando coreomanias e epidemias de dança através de jogo que reflete sobre sedução, pandemia e medo de dançar sozinho.

Sonho de uma noite de verão, da Trupe Ave Lola (PR), revisita Shakespeare através de encenação popular com tradução de Bárbara Heliodora, reunindo nove artistas em cena com música original executada ao vivo, criando atmosfera festiva que convida o público a testemunhar momentos de paixão, magia e loucura.

As criações francófonas constroem considerações convergentes sobre precariedade através de perspectivas diversificadas. Le Quai de Ouistreham, da Compagnie la Résolue (França), adapta investigação jornalística sobre mulheres que trabalham em empregos precários e invisíveis, especialmente na limpeza, vivendo à sombra da crise econômica.

La Vérité vaincra / A Verdade Vencerá, da Cie KastôrAgile (França), desenvolve palestra-performance baseada no livro homônimo de Luiz Inácio Lula da Silva, adaptando entrevistas concedidas à editora Ivana Jinkings em janeiro de 2018, transformando documento político em teatro de resistência.

Barbixas e a arte da improvisação

Barbixas: trio formado por Anderson Bizzochi, Daniel Nascimento e Elidio Sanna,

No fim de semana dos dias 11 e 12 de outubro, o Teatro RioMar recebe Improvável, espetáculo de improvisação teatral da Cia Barbixas. O trio formado por Anderson Bizzochi, Daniel Nascimento e Elidio Sanna, com mais de duas décadas de parceria artística, cria cenas inteiramente a partir de sugestões da plateia.

A companhia, que sacudiu o teatro de improviso no Brasil, trabalha com diferentes formatos cênicos incluindo musicais, westerns, novelas e até óperas, sempre mantendo o humor inteligente e a interação constante com o público. Cada apresentação é única, pois depende inteiramente da criatividade coletiva entre artistas e espectadores. No sábado (11), há duas sessões às 18h30 e 21h, enquanto domingo (12) apresenta sessão única às 20h.

Ópera com sotaque regional: La Serva Padrona

 La Serva Padrona: ópera italiana com humor

O Teatro Hermilo Borba Filho recebe, de 8 a 11 de outubro, às 19h30, uma montagem especial da ópera cômica La Serva Padrona, de G. B. Pergolesi. Esta versão recifense é resultado de um trabalho criativo audacioso que ressignifica a obra setecentista italiana através de elementos nordestinos, como expressões vocais.

A direção cênica de Luiz Kleber Queiroz e a direção musical da maestrina Maria Aida Barroso criaram uma proposta que mantém a estrutura musical original – com as árias preservadas em italiano – enquanto transpõe os recitativos para o português carregado de regionalismo pernambucano. Esta escolha artística permite que o público local se conecte diretamente com a narrativa sem perder a essência operística da obra.

A produção de Matheus Soares (25 Produções) inova na cenografia e figurinos, incorporando elementos como algodão cru, cestos de palha, tapioca e o icônico chapéu de vaqueiro. O elenco se alterna entre diferentes solistas, acompanhado por um sexteto de câmara que executa a partitura original de Pergolesi, criando um diálogo entre a tradição operística europeia e a cultura popular nordestina.

A trama cômica, baseada na Commedia dell’arte, acompanha as estratégias da esperta criada Serpina para conquistar seu patrão Uberto, numa comédia de costumes que ganha novos contornos quando ambientada no universo cultural pernambucano.

Duas Conversas com Ítalo Sena 

No dia 14 de outubro, às 20h, o Teatro Luiz Mendonça recebe Duas Conversas, o mais recente trabalho de Ítalo Sena, conhecido nacionalmente como o “rei das pegadinhas”. Após o sucesso de Mostrando Meu Trabalho, que percorreu o Brasil, o humorista retorna com uma proposta renovada, resultado de nove meses de intensa preparação artística e física.

Duas Conversas mostra um mergulho nos dois lados da vida artística de Ítalo Sena, explorando aspectos nunca antes revelados ao público. O espetáculo conta com texto desenvolvido pelo próprio humorista, em colaboração criativa com Maurício Meireles.

O destaque fica por conta do cenário digital interativo, que busca surpreender a plateia com elementos tecnológicos integrados à narrativa. A preparação artística de Diógenes De Lima, a produção de Laura Ithamar, a iluminação de Jathyles Miranda e as artes para o cenário virtual assinadas pelo VJ Koala Brito buscam elevar produção a um patamar técnico diferenciado.

Traidor: Marco Nanini e Gerald Thomas revisitam parceria histórica

Nanini em Traidor. Foto: Annelize Tozetto

Traidor, com Marco Nanini sob direção de Gerald Thomas, ocupa o Teatro Luiz Mendonça entre 17 e 19 de outubro. O espetáculo reflete as transformações profundas que o mundo sofreu desde o começo do século: o trauma pós-pandêmico, a revolução digital que substitui o real pelo virtual, e as rupturas democráticas que marcam o cenário político global. Gerald Thomas criou o texto sob influência deste “caldeirão contemporâneo”.

Em Traidor, Marco Nanini está isolado em uma ilha, acusado de algo que não cometeu, dialogando com a própria consciência, seus fantasmas e reflexões sobre passado, presente e futuro. Estes elementos são materializados no elenco formado por Hugo Lobo, Ricardo Oliveira e Wallace Lau. A ação transcorre como se toda a narrativa se passasse dentro da mente do protagonista.

Gerald Thomas define a obra como “um cruzamento entre Kafka e Shakespeare, uma espécie de híbrido entre o Joseph K, de O Processo, e Próspero, de A Tempestade, cuja mente renascentista olha para o futuro da civilização, perdoa seus detratores e os absolve”.

A equipe técnica reúne iluminação de Wagner Pinto, cenografia de Fernando Passetti, figurinos de Antonio Guedes, direção musical e trilha sonora de Alê Martins, direção de movimento de Dani Lima e assistência de direção de Samuel Kavalerskid.

Drama e intensidade: As Bruxas de Salem e Imorais

As Bruxas de Salem na montagem da Cobogó das Artes, com produção executiva de Adriano Portela

Imorais do Bando de Nada – Grupo de Teatro, com texto de Cristiano Primo e direção de Emmanuel Matheus

A terceira semana de outubro (15 e 16) traz duas montagens teatrais de forte apelo dramático. No Teatro Apolo, As Bruxas de Salem apresenta adaptação livre da obra clássica de Arthur Miller, dirigida por Anthony Delarte. A montagem da Cobogó das Artes, com produção executiva de Adriano Portela, ambienta a trama numa pequena vila puritana onde fé e medo se confundem, questionando verdade, manipulação e a coragem necessária para questionar autoridades.

Simultaneamente, o Teatro Hermilo Borba Filho recebe Imorais do Bando de Nada – Grupo de Teatro. O texto de Cristiano Primo, com adaptação e direção de Emmanuel Matheus e produção da Lynda Produções, propõe uma experiência cênica intensa sobre uma família e suas relações complexas. O elenco formado por Aline Santos, Cristiano Primo, Lynda Morais, Felipe Nunes e Tarcila Nunes conduz a narrativa que questiona se sempre temos direito à escolha, em espetáculo classificado para maiores de 18 anos.

Grupo Corpo: Cinco Décadas de Dança Brasileira

Grupo Corpo celebra 50 anos com turnê pelo Brasil

Nos dias 17 e 18 de outubro, o Teatro Santa Isabel recebe o Grupo Corpo de Belo Horizonte em apresentações gratuitas que celebram os 50 anos da companhia. A programação inclui dois espetáculos distintos que demonstram a evolução artística ao longo de cinco décadas desde a fundação em 1975.

Parabelo, coreografia clássica de 1997 de Rodrigo Pederneiras, com música de Tom Zé e Zé Miguel Wisnik, celebra aspectos da vida sertaneja. Já Piracema representa a constante renovação do repertório através de novas parcerias criativas. A criação tem parceria coreográfica entre Rodrigo Pederneiras e Cassi Abranches, com trilha inédita de Clarice Assad que transita do tribal ao eletrônico. A cenografia de Paulo Pederneiras utiliza 82 mil tampas de latas de sardinha para evocar escamas de cardumes, inspirando-se na jornada dos peixes que enfrentam a correnteza para desovar.

Teatro de Rua: Ilha: Dois leva urgência climática para o centro da Cidade

Grupo Bote de Teatro faz apresentações na Praça do Sebo

O Bote de Teatro, em parceria com a Cia. Toda Deseo de Minas Gerais, leva às ruas do centro do Recife uma provocação urgente sobre a crise climática. Nos dias 18 e 19 de outubro, às 19h, a Praça do Sebo se transforma em palco para Ilha: Dois, espetáculo gratuito que confronta a cidade com uma realidade alarmante.

A escolha do espaço urbano não é casual: tratando-se de uma cidade considerada geograficamente uma ilha e que, segundo relatórios da ONU, figura entre as mais vulneráveis ao aumento do nível do mar – ocupando a 16ª posição entre as cidades que podem desaparecer -, a montagem busca provocar reflexões diretas com a população sobre as mudanças climáticas.

Sob direção de Rafael Bacelar, reconhecido nacionalmente e indicado a diversos prêmios, e dramaturgia de David Maurity, o espetáculo mescla poesia, crítica social e resistência. A cantora e atriz Nega do Babado enriquece a trama com intervenções musicais, criando uma linguagem híbrida que dialoga diretamente com o público.

A montagem integra o projeto colaborativo Cidade Líquida e garante acessibilidade completa, oferecendo tradução em Libras e transporte acessível através do programa PE Conduz.

Instituto Ploeg: Encontro Radical entre Clássicos do Teatro

O Instituto Ploeg propõe no dia 11 de outubro um encontro singular entre dois retratos radicais do desejo e da ferida humana através de leituras dramáticas. O ATO apresenta Navalha na Carne, de Plínio Marcos, e Closer, de Patrick Marber, duas obras de tempos e contextos distintos, mas unidas pela mesma intensidade na busca por contato humano, mesmo quando ele causa dor.

Navalha na Carne, clássico do teatro brasileiro escrito em 1967 e censurado à época, encena a tensão brutal entre três personagens à margem da sociedade, num embate visceral de poder, corpo e sobrevivência. A obra continua ecoando como um grito urgente e contemporâneo.

Closer, conhecida pela adaptação cinematográfica de 2004, foi originalmente uma peça de enorme sucesso no teatro britânico. Com diálogos afiados, a obra revela o jogo de sedução e crueldade que sustenta as relações amorosas contemporâneas.

Sonho Encantado de Cordel: Fusão entre Nordeste e Contos de Fadas

Sonho Encantado de Cordel – O Musical

No último fim de semana do mês (25 e 26 de outubro), o Teatro Luiz Mendonça encerra a programação de outubro com Sonho Encantado de Cordel – O Musical. A produção de Thereza Falcão cria uma mistura entre a cultura nordestina e os contos de fadas de Hans Christian Andersen, resultando numa celebração da arte, poesia e poder dos sonhos.

O espetáculo conta com cenários e figurinos assinados por Rosa Magalhães e Mauro Leite, que dialogam com projeções de Batman Zavareze e coreografias de Renato Vieira, visando um universo visual que junte tradição popular e fantasia universal.

A trilha sonora é um dos grandes destaques da produção, contando com 10 músicas inéditas compostas especialmente para o espetáculo por três grandes nomes da MPB: Paulinho Moska, Chico César e Zeca Baleiro, sob direção musical de Marcelo Alonso Neves. Esta colaboração musical promete criar uma linguagem sonora que honra tanto as raízes nordestinas quanto a universalidade dos contos de fadas.

As apresentações acontecem no sábado (25) às 17h e no domingo (26) com duas sessões, às 15h e 17h, permitindo que diferentes públicos tenham acesso a esta produção especial.

CAIXA Cultural: Frankenstein em Dose Dupla

Frankenstein do Grupo Gompa, do Rio Grande do Sul

A CAIXA Cultural Recife apresenta entre 25 de outubro e 1º de novembro uma temporada especial do premiado Coletivo Gompa, do Rio Grande do Sul. O grupo apresenta duas montagens inspiradas no clássico de Mary Shelley: Frankenstein (para público adulto) e “Frankinh@ – Uma história em pedacinhos” (infantil).

Frankinh@, vencedor do Prêmio SESC de Artes Cênicas, já circulou por 18 cidades brasileiras e foi apresentado na Rússia e em Cuba. A peça infantil mescla narração, teatro, dança e artes visuais para despertar o imaginário das crianças através da história de Victor Frankenstein, jovem que cria alguém para lhe fazer companhia.

A versão adulta Frankenstein cria paralelos entre o corpo feminino e a Amazônia, explorando questões como pertencimento, violência e identidade com uma narrativa decolonial.

Espaço O Poste: Território de Resistência 

Fabíola Nansurê em Barro Mulher

Stephany Metódio com Luanda Ruanda: Histórias Africanas. Foto tatá costa

Urubatan Miranda com Negaça 

O Espaço O Poste se consolida como um dos principais centros de produções autorais e experimentais do Recife, funcionando como laboratório de criação e plataforma de visibilidade para artistas que desenvolvem pesquisas continuadas sobre identidade, memória e resistência. A programação de outubro reflete essa vocação curatorial, reunindo quatro trabalhos que abordam questões centrais da contemporaneidade através de linguagens cênicas diversificadas.

Além de Histórias Bordadas em Mim, recebe Fabíola Nansurê com Barro Mulher (24 de outubro), Stephany Metódio com Luanda Ruanda: Histórias Africanas (25 de outubro, gratuito) e Urubatan Miranda com Negaça (31 de outubro).

Fabíola Nansurê, reconhecida por suas pesquisas sobre corpo e território, constrói uma dramaturgia sensorial que utiliza barro como elemento cênico central, explorando texturas, plasticidade e simbolismo do material para questionar padrões estéticos e sociais impostos aos corpos femininos. A montagem propõe uma reflexão sobre resistência, autoconhecimento e reconexão com elementos primordiais da natureza.

A encenação dialoga com tradições ceramistas nordestinas e práticas rituais ancestrais, criando pontes entre saberes populares e linguagem cênica contemporânea através de uma experiência imersiva que convida o público a repensar relações entre humanidade e ambiente.

Stephany Metódio apresenta no dia 25 de outubro, às 16h, uma sessão gratuita de Luanda Ruanda: Histórias Africanas, espetáculo que resgata narrativas africanas através de contação de histórias que conecta tradições orais do continente com experiências da diáspora no Brasil.

A artista, especializada em culturas africanas e afro-brasileiras, desenvolve uma dramaturgia que articula contos tradicionais de diferentes regiões da África com reflexões sobre identidade, pertencimento e resistência cultural. Luanda Ruanda utiliza música, dança e elementos visuais para criar atmosfera envolvente que transporta o público para universos narrativos ricos em simbolismo e ensinamentos ancestrais.

A montagem tem particular relevância educativa e cultural, funcionando como instrumento de valorização da herança africana e combate ao racismo através da arte. Stephany Metódio incorpora instrumentos musicais tradicionais, adereços e gestualidade específica para honrar a autenticidade das tradições apresentadas, criando ponte entre continentes e gerações.

O formato de entrada gratuita reforça o compromisso do Espaço O Poste com a democratização cultural e o acesso da comunidade a produções que abordam questões de identidade e representatividade, especialmente relevantes no contexto da educação antirracista.

Urubatan Miranda encerra a programação mensal do espaço no dia 31 de outubro, às 19h, com Negaça, solo que explora construções de masculinidade no contexto nordestino através de autobiografia cênica que articula memória pessoal com questões coletivas sobre identidade de gênero e afetividade.

O artista, reconhecido por trabalhos que abordam questões LGBTQIA+ e regionalismo, desenvolve uma dramaturgia que questiona estereótipos sobre homens nordestinos, explorando sensibilidades, vulnerabilidades e formas de amar que escapam aos padrões heteronormativos dominantes. Negaça utiliza humor, poesia e crítica social para desconstruir imagens cristalizadas sobre masculinidade sertaneja.

A montagem incorpora elementos da cultura popular nordestina – como cordel, música regional e gestualidade característica – para criar linguagem cênica que celebra diversidade sexual e afetiva. Urubatan Miranda propõe um diálogo franco sobre preconceito, aceitação familiar e construção de identidade em contextos conservadores.

Festival de Circo: Novembro Promete

Le Bruit des Pierres do Collectif Maison Courbe da França

O mês de novembro será marcado pelo Festival de Circo do Brasil, que já tem pelo menos três espetáculos confirmados, prometendo dar continuidade à efervescência cultural iniciada em outubro.

Vermelho, Branco e Preto traz Cibele Mateus de São Paulo em solo que mescla riso, poesia e encantamento popular nos dias 5 e 6 de novembro às 19h30 no Teatro Apolo. A artista apresenta a figura cômica “Mateu”, inspirada no tradicional Cavalo-marinho pernambucano, em espetáculo-brincadeira que celebra identidade e ancestralidade.

No dia 6 de novembro, o Teatro Santa Isabel recebe O Vazio é Cheio de Coisa da Cia Nós No Bambu de Brasília. O espetáculo apresenta dança acrobática minimalista que explora a relação entre corpo humano e bambu, criando uma profusão de imagens e significados em dramaturgia poética onde simplicidade e complexidade se encontram.

A programação inclui ainda Le Bruit des Pierres do Collectif Maison Courbe da França, nos dias 8 e 9 de novembro no Teatro Santa Isabel. A criação híbrida combina circo coreográfico e teatro físico, com duas mulheres que encarnam a ganância ocidental pelo ouro através de coreografias realizadas com pedras, questionando a relação entre homem e ambiente.

SERVIÇO COMPLETO

FETEAG À mon seul désir
📅 Datas: 9 e 10 de outubro
📍 Local: Teatro Luiz Mendonça (Av. Boa Viagem, s/n, Boa Viagem)
🎫 Entrada: Gratuita
🎭 Criação: Gaëlle Bourges (França)

La Serva Padrona
📅 Datas: 8, 9, 10 e 11 de outubro
🕘 Horário: 19h30
📍 Local: Teatro Hermilo Borba Filho
🎫 Entrada: Gratuita (ingressos na bilheteria do teatro)
🎭 Direção: Luiz Kleber Queiroz | Direção Musical: Maria Aida Barroso

Histórias Bordadas em Mim
Datas: 10 e 11 de outubro (sexta e sábado)
🕘 Horário: 19h
📍 Local: Espaço O Poste (Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista)
🎫 Ingressos: R15(meia)∣R 30 (inteira) | R$ 10 (estudantes UFPE/Escola O Poste)
♿ Acessibilidade: Sessão de 11/10 com Libras e audiodescrição

Leituras Dramáticas – Navalha na Carne e Closer
📅 Data: 11 de outubro (sábado)
🕘 Horários: Abertura às 15h | Navalha na Carne às 16h | Closer às 18h
📍 Local: Instituto Ploeg (Rua de Santa Cruz, 190, Boa Vista)
🎫 Informações: Consultar @institutoploeg

Improvável – Cia Barbixas
📅 Datas: 11 e 12 de outubro (sábado e domingo)
🕘 Horários: Sábado: 18h30 e 21h | Domingo: 20h
📍 Local: Teatro RioMar
🎫 Informações: Consultar bilheteria do teatro

Duas Conversas com Ítalo Sena
📅 Data: 14 de outubro (terça-feira)
🕘 Horário: 20h
📍 Local: Teatro Luiz Mendonça (Av. Boa Viagem, s/n, Boa Viagem)
🎫 Ingressos: R50aR 100
🎭 Colaboração: Maurício Meireles | Cenário Digital: VJ Koala Brito

Ayiti, a montanha que assombra o mundo
📅 Data: 14 de outubro (terça-feira)
🕘 Horário: 20h
📍 Local: Teatro Hermilo Borba Filho
🎫 Ingressos: R$ 25 e R$ 50 (Sympla)

Dancemos… que o mundo se acaba!
Data: 15 de outubro
🕘 Horário: 19h
📍 Local: Estação Ferroviária (Caruaru)
🎫 Entrada: Gratuita
📊 Classificação: Livre
🎭 Cia: BiNeural-MonoKultur (Argentina)

Édipo REC
Data: 15 de outubro
🕘 Horário: 20h
📍 Local: Teatro Lycio Neves (Caruaru)
🎫 Entrada: Gratuita
📊 Classificação: 18 anos
🎭 Grupo: Magiluth (PE)

As Bruxas de Salem
📅 Datas: 15 e 16 de outubro (quarta e quinta-feiras)
📍 Local: Teatro Apolo
🎫 Informações: Consultar bilheteria do teatro
🎭 Direção: Anthony Delarte | Produção: Cobogó das Artes

Imorais
Datas: 15 e 16 de outubro (quarta e quinta-feiras)
📍 Local: Teatro Hermilo Borba Filho
🎫 Informações: Consultar bilheteria do teatro
📊 Classificação: +18 anos | Direção: Emmanuel Matheus

Fábulas de nossas fúrias
📅 Data: 16 de outubro
🕘 Horário: 20h
📍 Local: Teatro Lycio Neves (Caruaru)
🎫 Entrada: Gratuita
📊 Classificação: 16 anos
🎭 Cia: Atores à Deriva (RN)

Neva
📅 Data: 17 de outubro
🕘 Horário: 20h
📍 Local: Teatro Lycio Neves (Caruaru)
🎫 Entrada: Gratuita
📊 Classificação: 16 anos
🎭 Direção: Marianne Consentino (PE)

Grupo Corpo – Parabelo e Piracema
📅 Datas: 17 e 18 de outubro (sexta-feira e sábado)
📍 Local: Teatro Santa Isabel
🎫 Entrada: Gratuita
🎭 Celebração: 50 anos da companhia

Traidor com Marco Nanini
📅 Datas: 17 a 19 de outubro (sexta, sábado e domingo)
🕘 Horários: Sexta e sábado às 20h | Domingo às 19h
📍 Local: Teatro Luiz Mendonça (Av. Boa Viagem, s/n, Boa Viagem)
Ingressos: R100aR 200
🎭 Direção: Gerald Thomas | Elenco: Hugo Lobo, Ricardo Oliveira, Wallace Lau

Sonho de uma noite de verão
📅 Datas: 18 e 19 de outubro
🕘 Horário: 17h
📍 Local: Teatro Rui Limeira Rosal (Caruaru)
🎫 Entrada: Gratuita
📊 Classificação: 12 anos
🎭 Cia: Trupe Ave Lola (PR)

La Cocina Pública
Datas: 18 e 19 de outubro
🕘 Horário: Encontro 16h na Estação Ferroviária
📍 Local: Centro de Formação Paulo Freire (Assentamento Normandia, Caruaru)
🎫 Entrada: Gratuita
📊 Classificação: Livre
🎭 Cia: Teatro Container (Chile)

Ilha: Dois
Datas: 18 e 19 de outubro (sábado e domingo)
🕘 Horário: 19h
📍 Local: Praça do Sebo (Centro do Recife)
🎫 Entrada: Gratuita
♿ Acessibilidade: Tradução em Libras e transporte via PE Conduz

Barro Mulher
📅 Data: 24 de outubro (sexta-feira)
🕘 Horário: 19h
📍 Local: Espaço O Poste (Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista)
🎫 Ingressos: R15(meia)∣R 30 (inteira)

Luanda Ruanda: Histórias Africanas
📅 Data: 25 de outubro (sábado)
🕘 Horário: 16h
📍 Local: Espaço O Poste (Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista)
🎫 Entrada: Gratuita

Sonho Encantado de Cordel – O Musical
📅 Datas: 25 e 26 de outubro (sábado e domingo)
🕘 Horários: Sábado: 17h | Domingo: 15h e 17h
📍 Local: Teatro Luiz Mendonça (Av. Boa Viagem, s/n, Boa Viagem)
🎫 Informações: Consultar bilheteria do teatro
🎭 Produção: Thereza Falcão | Músicas: Paulinho Moska, Chico César, Zeca Baleiro

Frankinh@ – Uma história em pedacinhos
📅 Datas: 25 e 26 de outubro e 1º de novembro
🕘 Horários: 17h (sábado) | 11h (domingo)
📍 Local: CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
🎫 Ingressos: R15(meia)∣R 30 (inteira)
♿ Acessibilidade: Sessão de 26/10 com Libras
⏱️ Duração: 50 minutos

Frankenstein
📅 Datas: 30 de outubro a 1º de novembro
📍 Local: CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
🎫 Ingressos: R15(meia)∣R 30 (inteira)

Negaça
📅 Data: 31 de outubro (sexta-feira)
🕘 Horário: 19h
📍 Local: Espaço O Poste (Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista)
🎫 Ingressos: R15(meia)∣R 30 (inteira)

FESTIVAL DE CIRCO (Novembro)
Vermelho, Branco e Preto
📅 Datas: 5 e 6 de novembro
🕘 Horário: 19h30
📍 Local: Teatro Apolo
🎭 Artista: Cibele Mateus (SP)

O Vazio é Cheio de Coisa
Data: 6 de novembro
📍 Local: Teatro Santa Isabel
🎭 Cia: Nós No Bambu (Brasília)

Le Bruit des Pierres
📅 Datas: 8 e 9 de novembro
📍 Local: Teatro Santa Isabel
🎭 Cia: Collectif Maison Courbe (França)

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Festival recifense potencializa
protagonismo de artistas negros

Peça Negra palavra-Solano Trindade, que expõe a trajetória e luta do poeta pernambucano, abre a programação

Meia-Noite, com Orun Santana. Foto: Livia Neves / Divulgação

Francisco Solano Trindade (1908-1974), foi um grande poeta brasileiro. Artista negro nascido no Recife, ele também atuou como folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante do Movimento Negro e do Partido Comunista. Apesar de ter abalado as estruturas em várias áreas, nas cidades onde morou – Recife, Rio de Janeiro, São Paulo – ele não é devidamente conhecido e valorizado. Isso se deve, em parte, ao racismo estrutural da sociedade brasileira.

Combater o racismo, a discriminação, o colonialismo e explorar o protagonismo do artista negro nas mais diversas linguagens são propostas do Festival Luz Negra — O negro em estado de representação, que chega à quarta edição e abre justamente com o espetáculo Negra Palavra – Solano Trindade.

O 4º Festival Luz Negra é executado com incentivos do edital de Festivais da Lei Aldir Blanc Pernambuco. O programa totalmente online, conta com oito espetáculos teatrais de Pernambuco, das quatro macrorregiões de Pernambuco (Sertão, Agreste, Mata e Região Metropolitana do Recife), sendo seis para o público adulto e dois para a infância e a juventude; dois espetáculos de fora do estado; quatro espetáculos de dança, um deles com mulheres trans e outro com jovens da comunidade de Peixinhos; um solo de ópera, uma palestra sobre a história do negro em Pernambuco e uma oficina teatral.

O homenageado desta edição é Guitinho da Xambá, cantor e compositor do grupo Bongar, que morreu em fevereiro.

Realizado desde 2017 pelo grupo O Poste Soluções Luminosas, coletivo formado pelos artistas negros Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos.

“A ação potencializa a construção de identidades e territórios dinâmicos, ambivalentes e de negociação. Queremos com o projeto o rompimento de paradigmas de preconceito através da própria representação negra nos palcos”, afirma Agrinez Melo, atriz, figurinista e integrante d’O Poste.

ENTREVISTA – Grupo O Poste Soluções Luminosas

O trio do grupo O Poste: Naná Sodré, Samuel Santos e Agri Melo.

Qual a importância do festival na descolonização dos sentidos para as artes cênicas de Pernambuco?

Na realidade, queremos trazer um novo sentido ou dar mais um outro sentido à cena pernambucana. O teatro historicamente seja do ponto de vista estrutural e no seu fazer sempre negou o direito dos sentidos, do sentir, do fazer, do ser, do ter, do artístico e da poética negra. Até o direito de ser plateia foi negado!

As histórias pernambucana e brasileira, como um todo, excluíram a nossa cultura, religião, os nossos ancestrais. Todo esse processo colonizador, que perdurou por séculos, afetou consecutivamente o teatro feito em Pernambuco, direcionando o olhar apenas para uma cultura, um teatro eurocêntrico ou “eurocentralizado”. São poucos os registros de uma cena afrocentrada aqui no estado. No período do Brasil império, república, democracia, ditadura, democracia, a presença do artista preto na cena era quase inexistente. Isso só vem a melhorar um pouco no final da década de setenta e foi evoluindo nas décadas seguintes, mas sem muitas projeções, pois a cena continuava na sua totalidade com o mesmo tom de pele, e a mesma cultura do colonizador.

Aí entra a importância de descolonizar e decolonizar, no sentido de colocar também o nosso trabalho nessa estrutura excludente. E o festival Luz Negra entra nesse vago histórico e com essa proposta.

Aí entra a importância de
descolonizar e decolonizar, no
sentido de colocar também o
nosso trabalho nessa estrutura,
que ainda se mostra excludente.

Que conquistas vocês identificam ao longo desses quase cinco anos que o Luz Negra é realizado?

Primeiramente é importante afirmar que a realização do festival já é uma conquista. Se levarmos em consideração a construção da história do estado, que foi o último a abolir a escravidão. Realizar um festival desse porte já traz novos horizontes em relação a outro olhar para a arte negra daqui e que reverbera em todo país.

Fora isso, o festival é transdisciplinar, entra não só nas esferas artísticas, mas educacional, filosófica, sociológica, antropológica… E os espetáculos abordam temas que ampliam o discurso do negro e sua representatividade de forma positiva. O festival também circula por muitos lugares, evidenciando artistas negres das várias regiões do estado, abrindo espaço para os jovens que moram nas periferias mostrar seus trabalhos, mulheres pretas evidenciando suas conquistas e ampliando discursos, oferece formação e abre espaço de construção desse discurso com o público. Além de ocupar espaços que são nossos por direito. A cada realização nos fortalecemos e ampliamos nossa autonomia. O festival independente de seu formato vem se agigantando e nós do grupo e enquanto indivíduos vamos crescendo com ele.

Realizar um festival desse porte já
traz novos horizontes em relação
a outro olhar para a arte negra
daqui e que reverbera em todo país.

Como vocês analisam a situação das cênicas em Pernambuco no contexto da pandemia. Ou como vocês atravessam esse período?

A nossa pandemia começou bem antes do coronavírus.  E não falo do período colonial.  Não dá para falar do tempo presente, sem falar do tempo antes. A pandemia arrematou algo que já vinha pandêmico para as artes cênicas. Incentivo, apoio, patrocínio, política pública para as artes cênicas em algumas esferas do poder executivo simplesmente dificultou a fruição, a formação, o intercâmbio e sobrevivência dos artistas cênicos.  imagina para o povo preto?

Houve uma mudança de gestão, que particularmente achamos positiva e nos enche de esperança. Mas essa esperança precisa mexer nas estruturas para buscar uma equidade nas artes. O que fizemos nesse período pandêmico foram cursos, oficinas online, criamos o projeto Terças Pretas , onde exibimos no formato live pelo Instagram cerca de dez cenas com  dramaturgias autorais de artistas pretos  e que virou audiovisual e está sendo comercializado, criamos o festival Pretação Online com mulheres negras,  fizemos campanha de financiamento  colaborativo para manter o Espaço O Poste, escrevemos em editais online nossos espetáculos, nossos cursos, oficinas. Costuramos, bordamos, chuleamos, cavamos, plantamos… 

A curadoria do Luz Negra foi feita em que bases?

Dentro da base emergencial. Pouco tempo para tudo. Não dava para criar um conceito único ou basilar. Mas tínhamos e temos um objetivo que era a da valorização das produções pernambucanas, pois edital do LAB é local e teríamos que salvaguardar as nossas produções, os nossos artistas. Não deu para nacionalizar o festival como gostaríamos, mas trouxemos dois espetáculos bem significativos. Negra Palavra- Solano Trindade e Luz Gama ambos do Rio de Janeiro e de poéticas distintas. Temos também a valorização de jovens e produções periféricas, onde suscitamos o fomento para que artistas de Peixinhos criasse um espetáculo para o festival.  Temos espetáculo com mulheres trans. Temos na programação espetáculo de canto lírico, dança contemporânea, dança popular, dança-teatro. Temos uma palestra com historiador, oficina. O público vai acompanhar um festival de várias poéticas distintas.

O que vocês querem dizer que eu não perguntei?

O que é ancestralidade para vocês ?

Vocês vão responder?

Na verdade, nós perguntamos. É uma pergunta que a gente faz. Porque a gente vem falando o tempo inteiro dentro do nosso festival o que é ancestralidade e aí a gente resolve perguntar para o público e para Satisfeita, enfim, para quem quiser responder. O que é ancestralidade? Essa pergunta é tem um cunho reflexivo, para entender a importância real do nosso festival. 

 

PROGRAMAÇÃO
4º Festival Luz Negra — O negro em estado de representação

Negra palavra – Solano Trindade. Foto: Raphael Elias

Dia 18/03 (quinta) — Abertura

19h — Espetáculo gravado Negra Palavra – Solano Trindade – Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo (RJ)
20h — O mesmo espetáculo ao vivo, em novo formato e com audiodescrição.
Corpo, música e poesia são tramadas para refletir a história Solano em seu tempo e a dos homens negros contemporâneos.
Ficha técnica:
Poesias: Solano Trindade
Direção Geral: Orlando Caldeira e Renato Farias
Roteiro: Renato Farias
Elenco: Adriano Torres, André Américo, Breno Ferreira, Drayson Menezzes, Eudes
Veloso, Jorge Oliveira, Leandro Cunha, Lucas Sampaio, Orlando Caldeira, Rodrigo
Átila e Thiago Hypólito
Direção Musical: André Muato
Direção de Movimento: Orlando Caldeira
Direção de Atores: Drayson Menezzes
Assistente de Direção: Thati Moreira
Direção de Arte: Raphael Elias
Assistente de Arte: Julia Marques
Figurino: Julia Marques
Idealização: Renato Farias
Produção: Saideira Produções
Realização: Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo
Classificação etária: 12 anos.

Orun Santana. Foto:  Amanda Pietra 

Dia 19/03 (sexta)

20h — Espetáculo Meia-noite – Orum Santana (PE)
A relação do bailarino Orun Santana com seu pai Mestre Meia Noite, nome artístico de Gilson Santana, movimenta o espetáculo Meia-Noite a partir da capoeira. Das memórias dos corpos, Orun foi buscar na performance solo do pai e mestre artístico, feita para o espetáculo Nordeste, do Balé Popular do Recife, a inspiração para a prática indentitária dos corpos políticos, ousados, buliçosos e inconformados.
Ficha técnica
Intérprete-criador e diretor: Orun Santana
Consultoria artística: Gabriela Santana e Janaina Gomes
Trilha Sonora: Vitor Maia
Iluminação: Natalie Revorêdo
Produção: Danilo Carias/Criativo Soluções
Cenografia: Victor Lima
Classificação etária: 10 anos

Agrinez Melo em Cordel do amor sem fim. Foto: Divulgação

Dia 20/11 (sábado)

20h — Espetáculo Cordel do Amor sem fim – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Na cidade de Carinhanha, sertão baiano, às margens do rio São Francisco, três irmãs convivem com suas diferenças – a misteriosa Madalena, a dissimulada Carminha e a jovem Tereza – por quem José é apaixonado. Mas a vida não é tão simples assim. Carminha sonha com José, que ama Tereza que nutre esperança da volta de Antônio, um viajante forasteiro. Nesse compasso de espera, a vida testa a paciência de cada um dos personagens.
Ficha técnica:
Texto: Claudia Barral
Encenação e Cenografia: Samuel Santos
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Atrizes e ator: Agrinez Melo, Roberta Marcina, Naná Sodré e Madson de Paula
Preparadora Vocal: Naná Sodré
Preparador de Canto: Diogo Lopes
Concepção de Figurino: Agrinez Melo
Diretor de Arte: Fernando Kehrle
Design de Luz: Samuel Santos
Operação de Luz: Samuel Santos
Sonoplastia, violão, Efeitos, instrumentos de bambu Didgeridoo: Diogo Lopes
Efeitos Percussivos: O elenco
Classificação etária: 12 anos

A boneca Ester manipulada pela atriz Odília Nunes . Foto Divulgação

Dia 21/03 (domingo)

10h — Espetáculo infantil Ester – Odília Nunes (PE)
* Com intérprete de libras.
A peça Ester é curtinha, mas chega como um afago aos nossos sentidos tão cansados. A boneca Ester tem apenas 18 centímetros de altura e o sentimento do mundo. Manipulada pela atriz Odília Nunes, a intervenção teatral se derrama em poesia. Do seu teatro portátil – uma caixa-teatro-realejo, Ester semeia esperanças, faz chover e colhe flor.
Ficha técnica:
Criação geral: Odília Nunes
Confecção da boneca: Genifer Guerard
Câmera: Fran Marinho
Classificação: livre.

A atriz Jhanaina Gomes segue em busca de sua ancestralidade

18h — Espetáculo Mi madre – Jhanaina Gomes (PE)
A artista Jhanaina Gomes foi buscar nas imagens e histórias narradas durante sua infância o material para o espetáculo solo de dança teatro. Dessa memória ancestral ela constrói uma partitura de mulheres fortes, mas feridas no percurso em tensão com a presença masculina e retraça uma convergência com seus próprios passos
Ficha técnica:
Produção executiva: Jhanaina Gomes, Arnaldo Rodrigues e Maria da Conceição
Direção, concepção, dramaturgia, cenografia e coreografia: Jhanaina Gomes
Intérprete: Jhanaina Gomes
Comunicação visual: Júnior Melo
Fotos: Morgana Narjara
Figurino: Aline Lohou
Iluminação: Dado Sodi
Classificação etária: 18 anos

Dia 22/03 (segunda)

9hOficina teatral – O Poste Soluções Luminosas (PE).
Atividade de formação artística que tem como objetivo inserir o participante no universo teatral, utilizando sua presença física e mental em estado de representação artística, buscando desenvolver técnicas e vivências para os atores/intérpretes dentro de uma dimensão transcultural.
Oficineiros: Agrinez Melo, Naná Sodré e Samuel Santos
Carga Horária: 3 horas
Público-alvo: pessoas a partir dos 14 anos
Local: Plataforma digital
Vagas: 20
Inscrições: oposte.oposte@gmail.com

20h — Espetáculo de dança Sem Carnaval – Guerreiros do Passo (PE)
* Contará com intérprete de libras.
Concebido para homenagear foliões e foliãs que passaram este 2021 sem os festejos de Momo, o vídeo Sem Carnaval mostra uma reportagem sobre as ações desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas e Ações em Frevo Guerreiros do Passo. O coletivo atua há 15 anos no Recife, mantendo a metodologia do Mestre Nascimento do Passo.

Ficha técnica:
Passistas: Lucélia Albuquerque, Carlos Mascena (Limão), Laércio Olímpio, Valdemiro Neto e Jamerson Júnior.
Roteirização: Eduardo Araújo e Lucélia Albuquerque
Direção, captação de imagens e fotografia: Eduardo Araújo
Música: Suíte Nordestina (Maestro Duda)
*Reportagem da TV Globo exibida no carnaval de 2018, no programa Carnaval de Pernambuco.
Classificação: Livre

Dia 23/03 (terça)

19h — Espetáculo Faca – Grupo O tabuleiro de Teatro (PE)
Faca é um monólogo de Ingrid Martins, com relatos verídicos de mulheres que sofreram violência, psicológicas, sexuais, físicas, morais. É o primeiro espetáculo do grupo O Tabuleiro de Teatro
Ficha técnica:
Texto: Ingrid Martins
Atriz: Rizo Silva
Sonoridade: Carlinhos Aril
Iluminação: Leo Batista
Direção: Felipe Vidal
Produção: Grupo O tabuleiro de teatro
Classificação: 18 anos

20h — Espetáculo Histórias bordadas em mim – Doce Agri (PE)
sentada em um baú, a atriz conta histórias que viveu. Inspirada em uma pesquisa no griot (povo ancestral africano que passava conhecimento através da oralidade), ela alicerça sua narrativa em técnicas do teatro físico, valorizando a matriz ancestral africana através da energia do Orixás.
Ficha técnica:
Dramaturgia, direção e atuação: Agrinez Melo
Assessoria em Dramaturgia: Ana Paula Sá
Assessoria em Direção: Naná Sodré, Quiercles Santana e Samuel Santos
Concepção Musical: Talles Ribeiro
Execução da Sonoplastia: Talles Ribeiro
Assessoria em toadas: Maria Helena Sampaio (YaKêkêrê do Terreiro Ilê Oba Aganju Okoloyá)
Concepção Maquiagem: Vinicius Vieira
Concepção Figurino: Agrinez Melo
Execução Figurino: Agrinez Melo e Vilma Uchôa
Aderecista: Álcio Lins
Cenotécnico: Felipe Lopes
Designer: Talles Ribeiro
Filmagem do espetáculo na integra: I Pele Ti Odun
Classificação: 12 anos

24/11 (quarta)

18h30 — Palestra Ó pretos, nada de negócios de brancos!: sociabilidades, cultura e participação dos homens de cor no processo de fundação do Estado e da Nação. – Flávio Cabral (PE)
Flavio Cabral é historiador, doutor em História pela UFPE, professor de História da Graduação e do Programa de Pós-Graduação na Unicap. Dedica-se à História de Pernambuco e aos temas ligados à Formação do Estado Nacional. Publicou vários livros e artigos em revistas científicas nacionais e internacionais.
Classificação: Livre

25/03 (quinta)

18h30Oferenda — Recital de canto lírico – Anastácia Rodrigues (PE)
O recital é fruto de pesquisa, vivência e estudo que norteiam o trabalho da mezzosoprano recifense Anastácia Rodrigues. Um olhar de profundo respeito e pertencimento aos povos originários e africanos que deixaram um acervo vivo inestimável e que de alguma forma foi registrado, ou lembrado em partituras. A performance contará com a instrumentação inédita para este formato: Emerson Rodrigues no vibrafone, Sônia Guimarães no ilú.
Ficha técnica:
Canto, agbê: Anastácia Rodrigues
Xilofone, vibrafone: Emerson Rodrigues
Tambor de fala, ilú, motor d´água, maracá: Sonia Guimarães
Classificação: Livre

Espetáculo A Receita, com Naná Sodré. Foto: Thais Lima

19h — Espetáculo A Receita – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Uma mulher num processo de libertação. A anônima confessa como passou a maior parte do tempo temperando suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha… Morte, violência, loucura e a intolerância de uma maneira peculiar são narradas nesse solo explorando diversos pontos de vistas.
Ficha técnica:
Atuação e maquiagem: Nazaré Sodré
Autor, diretor, figurinista, sonoplasta e iluminador: Samuel Santos
Técnica em artes marciais: Mestre Sifu Manoel Ramos
Classificação: 18 anos

Naná Sodré e Agrinês Melo. Foto: Lucas Emanuel/Divulgação

26/03 (sexta)

20h — Espetáculo Ombela – O Poste Soluções Luminosas (PE)
Ombela (a chuva) após cair resolve deixar duas gotas que se transformam em duas entidades. Essas Ombelas inventam rios e desdobram-se ao som do vento e a cada gota faz nascer ou morrer coisas, gente e sentimentos. A peça além de ser interpretada em português tem partes faladas e cantadas na língua africana de Angola, Umbundo.
Ficha técnica:
Texto: Manuel Rui
Encenação, cenografia e plano de luz : Samuel Santos
Desenho de cenografia. Douglas Duan
Atrizes: Agrinez Melo e Naná Sodré
Consultoria/Estudos em Antropologia: Daniele Perin Rocha Pitta
Composição de trilha sonora: Isaar França
Preparação musical: Surama Ramos
Preparação Dança do Jarro: Sylvya Olyveyra
Concepção de figurino e execução: Agrinez Melo
Contra- regra e Video Maker: Talles Ribeiro
Identidade Visual: Curinga Comuniquê e Vicente Simas
Plano de Maquiagem: Naná Sodré
Produção: O Poste Soluções Luminosas
Classificação: 18 anos

Periferia quebra tudo, com jovens de Peixinhos, bairro do Recife. Foto. Thales Ribeiro / Divulgação

27/03 (sábado)

17h — Espetáculo Periferia quebra tudo – Jovens de Peixinhos (PE)
O espetáculo de dança Periferia Quebra Tudo é pautado pela experiência de quatro jovens pretos, periféricos, participantes de movimentos culturais desenvolvidas na comunidade de Peixinhos. Com coreografias de afro, afoxé, coco, passinho e brega funk, eles querem mostrar o que acontece na comunidade. As cenas foram gravadas no Nascedouro de Peixinhos.

Ficha técnica:
Bailarinos e coreógrafos: Fabilio Silva, Luana Vitória, Nandis Vasconcelos e Victor Vicente
Edição musical: Fabilio Silva
Agradecimentos: Balé Afro Raízes, Festival Luz Negra, Ioneide da Silva, Marcos Júnior, Paulo Queiroz e Projeto Artes da Gente -PJMP –JCC
Classificação: Livre

Espetáculo: Luiz Gama Foto: Vivian Fernández

20h — Espetáculo Luiz Gama: uma voz pela liberdade – MS Eventos (RJ)
Jornalista, poeta e advogado abolicionista, Luiz Gama libertou mais 500 escravos do cativeiro ilegal. É a sua biografia que é encenada na peça Luiz Gama: uma voz pela liberdade, que traça um paralelo entre as lutas de ontem e hoje contra as desigualdades.
Ficha técnica:
Dramaturgia: Deo Garcez
Direção, figurino e cenografia: Ricardo Torres
Elenco: Deo Garcez e Soraia Arnoni
Áudio de apresentação (voz): Milton Gonçalves
Trilha sonora: Deo Garcez e Ricardo Torres
Iluminador: Mário Seixas, Vinícius Gaspar e Alan Leite
Operador de luz: André Calazans
Técnico de som: Tom Rocha
Operador de som: Ricardo Torres
Produção: MS Events
Produção executiva: Alan de Jesus e Mário Seixas
Coprodução: Olhos D´Água e Nova Criativa
Programação Visual: Mário Seixas
Caracterização [barba]: Márcia Elias
Assessoria de imprensa: Alan de Jesus e Márcia Araújo
Fotos: Jean Yoshii, Vivian Fernández, Maurício Code e Valmyr Ferreira
Classificação indicativa: 12 anos

Ubuntu. Foto Leandro Lima

28/03 (domingo)

10h — Espetáculo Ubuntu: uma linda aventura na floresta afrobrasilândia infantil – São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções (PE)
A criação do mundo a partir do olhar africano. Entoada pelos sons, ritmos, cores, músicas e muito axé, a montagem apresenta duas lindas flores pretas, que vivem num colorido jardim na floresta Afrobrasilândia, mas que se questionam todos os dias porque suas cores não estão representadas no arco íris. E elas decidem desbravar toda floresta em busca da resposta.
Ficha técnica:
Inspirado na obra de Raul Loudy
Dramaturgia: Coletiva
Encenação: Anderson Leite.
Direção Musical: Helio Machado
Elenco: André Lourenço, Brunna Martins, Clau Barros, Halberys Morais e Monique Sampaio.
Músicos: Dinho Dumonte e Helio Machado.
Cenário: Anderson Leite
Figurino: André Lourenço
Mascareiro/Bonequeiro: Alex Apolônio
Iluminação: Anderson Leite
Adereços: Anderson Leite, André Lourenço.
Produção Cultural: Anderson Leite e Halberys Morais.
Produtora Executiva: Elis Hellen
Realização: São Gens Produções, Palafittas Produções e Ya Orun Produções.
Classificação: Livre

18h — Espetáculo Transpassar | Coletivo Agridoce (PE)
Um conto sobre sonhos perdidos por causa da violência e do preconceito, sobre a solidão da mulher trans, e sobre os problemas sociais passados por esse corpo em transição, como ele é visto e marginalizado pela sociedade. Tudo pela perspectiva de uma garota que tem o sonho de ser tirada para dançar.

Ficha técnica:
Dramaturgia e direção: Sophia William
Colaboração dramatúrgica: Aurora Jamelo
Direção artística: Sophia William e Aurora Jamelo
Sonoplastia: Flávio Moraes
Desenho de luz: Natalie Revorêdo
Execução de luz: Nilo Pedrosa
Figurinos: Sophia William e Aurora Jamelo
Preparação de elenco: Sophia William
Preparação de voz: Flávio Moraes
Argumento: Sophia William
Visagismo: Aurora Jamelo
Social media: Nilo Pedrosa
Produtor técnico: Igor Cavalcante Moura
Fotos: Any Stone
Realização: Coletivo de dança-teatro Agridoce
Classificação: 12 anos

SERVIÇO:
Festival Luz Negra – O negro em estado de representação
De 18 a 28 de março, no perfil O Postes Soluções Luminosas, no YouTube (http://bit.ly/canaloposte)
Todas as ações serão gratuitas. Duas delas contarão com intérprete de libras e uma com audiodescrição.

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Mostra de Mulheres Pretas discute visibilidade

Aline Gomes performa Mãe Maria. Foto: Shilton Araújo

Nesta quinta-feira, 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola do século 18, O Poste Soluções Luminosas abre a programação de uma iniciativa fundamental: a PretAção – I Mostra de Mulheres Pretas.

A invisibilidade da mulher negra é um dos muitos reflexos do racismo institucional. Quando pensamos no contexto da arte, essa realidade não é diferente. Talvez por isso, os trabalhos que compõem a PretAção tratem sobre representatividade, o enfrentamento cotidiano do preconceito e de todas as formas de violência sofridas pelas mulheres negras.

“Queremos visibilizar todas essas artistas que estão participando da primeira edição da PretAção, visibilizar as que vieram antes de nós e, inclusive, quem vem depois, como Eloísa, minha filha, que tem só dois anos. A gente quer deixar esse espaço de representatividade, esse lugar de fala, para que outas pretas, as que estão vindo, as que vão chegar, possam assumir esse lugar. E que o discurso não seja de resistência, mas de existência”, afirma Agrinez Melo, uma das idealizadoras da ação, que não conta com nenhum apoio governamental.

Muitos dos espetáculos e performances transitam pelo documental, pelo autobiográfico, como é o caso de Mi Madre, de Jhanaína Gomes, que traça relações entre a sua história e as histórias de mulheres da sua família, explicitando uma relação de tensão entre a presença masculina e feminina. Ou do solo da própria Agrinez Melo, Histórias Bordadas em Mim, um convite para um chá e para ouvir sobre a trajetória da atriz.

Na PretAção, essas mulheres pretas, artistas, são protagonistas das próprias narrativas. “Os quatro espetáculos falam de nós mesmas, das nossas experiências, das novas vivências ressignificadas. Ressignificar é uma palavra forte neste momento. A partir das nossas vivências, falamos de várias questões, como empoderamento, a reafirmação da mulher negra na sociedade e da artista negra nesse espaço, questionar o porquê dessa invisibilidade”, comenta Agrinez. Para a atriz, a mostra é também um espaço de irmandade. “É uma mostra de comemoração, que festeja o nosso encontro, a nossa união. E nada melhor do que essa data, que nos representa”.

A programação montada por Agrinez e Naná Sodré, ambas do grupo O Poste Soluções Luminosas – um espaço de referência e resistência do teatro negro em Pernambuco e no Brasil –, em parceria com várias artistas, inclui espetáculos, performances e rodas de diálogos.

A programação vai até o próximo domingo (28), no O Poste Soluções Luminosas (Rua da Aurora, 529, Boa Vista). Os ingressos custam R$ 15 + 1 quilo de alimento não perecível ou R$ 20. Os alimentos arrecadados serão doados a instituições que trabalham com o empoderamento da mulher negra e contra a violência.  

Agrinez Melo no solo Histórias Bordadas em Mim. Foto: Fernando Azevedo

Programação:

25 de julho (quinta-feira), às 18h
Abertura PretAção – I Mostra de Mulheres Pretas
Onde:  Ao ar livre, no entorno do Espaço O Poste
Performance de abertura com Camila Mendes (Nós), Jhanaína Gomes (Mi Madre), Yasmmyn Nejaim (poesia) e Odailta Alves (poesia).

26 de julho (sexta-feira)
Onde: Espaço O Poste Soluções Luminosas
19h: A Receita
Sinopse: Morte, violência, loucura e a intolerância de uma maneira peculiar são narradas nesse solo, que traz uma personagem no seu processo limite. A dramaturgia é de Samuel Santos. Atuação: Naná Sodré
20h: Performances Mãe Maria, De Corpo e Dandara
Sinopses:
Mãe Maria: A personagem Mãe Maria nasceu dentro do espetáculo O Mensageiro, a partir da necessidade da atriz, dançarina e pesquisadora Aline Gomes de trazer à cena a condição feminina no início do século XX na Região Metropolitana do Recife. Atuação: Aline Gomes
De Corpo: Resgata a exposição das maranhas ancestrais que percorrem o corpo feminino. Dos fios que cercam de chagas nativas e genéticas a vivência da pele negra. Narra em movimentos o grito do pulso, da pausa, da prosa, da carne, da víscera, da dor e da beleza da mulher preta. Atuação: Brunna Martins
Dandara: Inspirada na heroína Dandara, que lutou ao lado de homens e mulheres nas muitas batalhas e ataques a Palmares, a atriz Érika Nery nos mostra sua força, fé e ancestralidade traduzida em arte. Atuação: Érika Nery
20h30: Roda de Diálogo com as performers

Dandara. Foto: Fernando Azevedo

27 de julho (sábado)
Onde: Espaço O Poste Soluções Luminosas
17h: Mi Madre
Sinopse: Inspirada por imagens e histórias contadas durante seu período de infância, Jhanaína Gomes remonta memórias de suas antepassadas alinhavando pontos de convergência entre sua própria história e a de suas matriarcas, tecendo uma correlação de tensão entre a presença masculina e o feminino ferido no percurso da vida dessas mulheres. Atuação: Jhanaína Gomes
18h15: Performances Kami** e Nada Mais me Deixará Calada
Sinopses:
Kami**: Traz à tona o corpo presente e potente da mulher. Construída a partir de técnicas utilizadas no Teatro Antropológico, das referências dos orixás Oxum e Iansã, e de elementos da natureza, mostra de forma muito simples, coesa e poética, que as mulheres querem liberdade. Atuação: Camila Mendes
Nada Mais me Deixará Calada: Durante sua jornada, enfrentando o processo de aceitação, a mulher negra se depara sempre com a solidão. Entretanto, em um momento crucial, ela acaba descobrindo que toda sua essência foi posta em segundo plano, e depois de ser enganada, maquiada e sexualizada, ela se rebela, mostrando que não irá aguentar mais nada e nem ficará mais calada. Atuação: Yasmmyn Nejaim
19h: Histórias Bordadas em Mim
Sinopse: Uma atriz, um baú, uma borboleta e uma conversa…é assim que se inicia Histórias Bordadas em Mim. Um convite para um chá, acompanhado de tareco e pão doce, e assim vão se alinhavando as histórias reais, vividas pela atriz em diversos momentos de sua vida. Atuação: Agrinez Melo
20h: Roda de Diálogo com as performers

28 de julho (domingo)
18h: Ombela
Sinopse: Ombela é uma palavra africana na língua Umbundo angolana, que em português significa “chuva”. É através da sacralidade da água que o espetáculo se desvela ao público; do elemento físico, Ombela se transforma em duas entidades que ganham corpo e voz. Atuação: Agrinez Melo e Naná Sodré.
19h10: Roda de Diálogo com as performers e encerramento da mostra

Ingressos: R$15,00 + 1kg de alimento não perecível ou R$20,00, sem o alimento.

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Velha carpideira resgata suas memórias

Foto: Antonio Rodrigues

Ator e dramaturgo Álcio Lins quer discutir as relações afetivas e os laços familiares. Foto: Antonio Rodrigues

A fala sarcástica do Primo Basílio, personagem-título de Eça de Queiroz,está impregnada no título da peça e nos desdobramentos do egocentrismo de quem sobrevive ao outro, e pode até comemorar. O espetáculo Morreu! Antes Ela do que Eu expõe o baú de lembranças de Florisbela, uma carpideira centenária cheia de causos para narrar. Das suas vivências, da família e do que presenciou. Ela guarda uma relação mal resolvida com a irmã mais nova, Ninha, esconde segredos de Jr., filho de Ninha e também de Ermitão, pivô da briga entre as manas.

Morreu! Antes Ela do que Eu é um solo do ator Álcio Lins, que assina o texto. Faz curta temporada hoje e no próximo fim de semana, n’O Poste Soluções Luminosas. Foi gestado no curso Antropologia do Ator, ministrado por Agrinez Melo, que dirige o espetáculo. E ganhou robustez no curso, Vozes que Saem pelos Poros, com por Felipe Botelho. E teve apresentação na mostra paralela do 23º Janeiro de Grandes Espetáculos.

Com o espetáculo, Álcio deseja discutir as relações afetivas e os laços familiares e provocar o espectador a pensar sobre as teias que nos une e nos separa, sobre as ações que se cristalizam com o tempo, as decisões de idas e que parecem sem volta, sobre velhice e morte, vida, solidão, abandono e conflitos.

O humor é a chave da encenação que conta com música inédita de Glauco Bellardy, iluminação de Dom Almeida e preparação vocal de Nazaré Sodré.

Ficha técnica
Texto e interpretação: Álcio Lins
Direção: Agrinez Melo
Preparação de ator: Agrinez Melo
Preparação vocal: Nazaré Sodré
Projeto Gráfico: Toni Rodrigues
Iluminação: Dom Dom Almeida
Música inédita: Glauco Bellardy
Músico convidado: Paulo Alves
Fotos de divulgação: Toni Rodrigues
Assessoria de imprensa: Alessandro Moura
Apoio: Cênicas Cia de Repertório, Teatro Santa Isabel, O Poste Soluções Luminosas, Dolce Verona.

Serviço:
Morreu! Antes Ela do que Eu
Quando: Sextas e sábados: 29 de abril – 05 e 06 de maio, 20h
Onde: O Poste Soluções Luminosas ( R. da Aurora, 529 – Boa Vista
Ingresso: R$ 30,00 (Inteira.) / R$ 15,00 (Meia.)
Informações e reservas: Vendas no local ás 19h, no dia das apresentações

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Odin Teatret no Recife

Samuel, Eugenio, Agri, Julia e Naná: encontro do Odin no Recife. Foto: S.Santos

Samuel Santos, Eugenio Barba, Agri Melo, Julia Varley e Naná Sodré: encontro do Odin no Recife. Foto: S.Santos

“Dou ao ofício teatral um valor muito profundo”, comenta o encenador e teórico Eugenio Barba, 80 anos, numa mistura de português, espanhol e italiano. Referência incontestável para as artes cênicas desde meados do século 20 o pensador italiano é uma figura que os artistas da cena, estudantes ou espectadores cultos e interessados em artes sabem, ou deveriam saber, da importância. Barba ainda pensa o teatro de forma inovadora – da criação artística, passando pela pedagogia, pesquisa e reflexão ética. Fundador do Odin Teatret, localizado em Holstebro, na Dinamarca, em 1964 e criador da Antropologia teatral, um estudo comparativo das diferentes habilidades cênicas do ator, performer ou bailarino a partir da sua presença física e mental aperfeiçoadas em algumas partes do mundo, durante várias gerações.

Barba e a atriz e diretora inglesa Julia Varley, companheira de Eugenio, que está no grupo desde 1976, estiveram no Recife de segunda a quarta-feira, a convite do grupo O Poste Soluções Luminosas, cumprindo uma intensa programação no Teatro Hermilo Borba Filho e sede dO Poste) que incluiu o workshop de voz O Eco do Silêncio ministrado por Varley, com demonstração de trabalho; conversa com Eugenio Barba sobre Antropologia Teatral, o que é? e exibição do espetáculo Ave Maria, que tem a morte como tema e traz Mr. Peanut, um alter-ego de Varley, em diversas identidades.

O espetáculo dirigido por Eugenio, faz uma homenagem à atriz chilena María Canépa, amiga de Julia. Ave Maria leva para a cenas as impressões, vivências de Julia ao lado da atriz chilena, que recebeu o Odin em seu país pela primeira vez na época da ditadura de Augusto Pinochet. Ave Maria trata do sentido de fazer teatro e da figura singular que depositava uma grande confiança no ser humano.

A frequência às atividades do Odin no Recife não esteve à altura da relevância do grupo sediado na Dinamarca. A apresentação de Ave Maria foi a mais atingida. Ocorreu no dia seguinte à manifestação contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto dos Gastos Públicos, que começou pacífica, mas que terminou com depredações no centro da cidade e alguns detidos. O dia 14 de dezembro foi de comentários temerosos nas redes sociais (alguns anunciando arrastões), ruas do centro desertas e teatro esvaziado.  

Eugenio Barba e Julia Foto:

Eugenio Barba e Julia Foto: Marcelo Dischinger

O Odin veio à capital pernambucana em 2012, numa ação do projeto Palco Giratório, do Sesc, em que Eugenio participou de uma conversa pública e Julia expôs também O eco do silêncio.

O coletivo anfitrião também exibiu dois espetáculos que têm como norte alguns princípios da antropologia teatral: A Receita, solo com a atriz Naná Sodré que investiga a violência contra a mulher, e Ombela, dueto entre Naná e Agrinez Melo a partir da obra do escritor africano Manuel Rui, ambos dirigidos por Samuel Santos.

Barba tem mais de 20 livros publicados já dirigiu mais de 70 produções, entre as quais Ferai (1969), My Father’s House (1972), Brecht’s Ashes (1980), The Gospel according to Oxyrhincus (1985), Talabot (1988), Kaosmos (1993), Mythos (1998), Andersen’s Dream (2004), Ur-Hamlet (2006), Don Giovanni all’Inferno (2006), The Marriage of Medea (2008), The Chronic Life (2011), Ave Maria (2012) e A Árvore (2016).

Há nove anos o encenador participa com o seu Odin Teatret da residência intitulada A Arte Secreta do Ator, realizada em Brasília (DF) e produzida pela TAO filmes e da Cia. YinsPiração Poéticas Contemporâneas. 

A entrevista em vídeo foi concedida após a demonstração de trabalho O eco do silêncio, de Júlia Varley, e da palestra com Eugenio Barba, no saguão do Teatro Hermilo Borba Filho, no dia 13 de dezembro, terça-feira.  Contei com a colaboração do professor da UFPE Everson Melquíades.

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