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Édipo REC mais que vibrante
na sua incubadora em Caruaru
Crítica

Giordano Castro e Gabriela Cicarello, com Édipo e Jocasta. Foto: Jorge Farias

Erivaldo Oliveira como Coro no prólogo fora do teatro. Foto: Jorge Farias / Divulgação

Édipo REC, do Grupo Magiluth, do Recife, é um acontecimento cênico vibrante e desafiador. Gestada no Teatro Lycio Neves, em Caruaru, local que acolheu seu retorno no Festival de Teatro do AgresteFeteag 2025, a peça se apropria de uma narrativa trágica para questionar a sua perene relevância e a capacidade do teatro de provocar, desestabilizar e dialogar com as sensibilidades contemporâneas. A concepção do Magiluth, ligada ao conceito de “jogo” (escolha que valoriza a experimentação, a interação e a imprevisibilidade, convidando o espectador à coautoria da experiência), transforma o palco em um espaço de vivência contínua. Aqui, a plateia é ativamente convidada a participar de uma peça que desestrutura a cronologia linear e as expectativas tradicionais de fruição teatral.

O espetáculo começa antes mesmo da abertura formal dentro do teatro, com os atores circulando entre os espectadores no exterior do teatro, inaugurando um clima de cumplicidade e imersão imediata. Essa introdução festiva, pontuada pela distribuição de cervejas e a presença de personagens já em cena – como Kréonte, Tirésias, o Mensageiro e Corifeu que, munido de uma câmera, filma incessantemente – cria uma ponte fluida entre o cotidiano do espectador e o ritual cênico. O palco se transmuta em uma balada efervescente, com DJ Édipo (interpretado por Giordano Castro) mixando ritmos que vão de Rihanna e Pabllo Vittar a MC Poze do Rodo. Essa trilha sonora pop serve como uma lente para a atemporalidade dos dilemas humanos, justapondo o hedonismo contemporâneo à iminência da tragédia.

Nesse cenário de frenesi, o Coro, interpretado por Erivaldo Oliveira em um figurino provocativo e andrógino de Chris Garrido, assume o papel de anfitrião-provocador e de voz da consciência coletiva. Ele anuncia a festa, mas também alerta para a “vida decepcionante” que se esconde sob o verniz da celebração, encarnando a dualidade entre o júbilo e a premonição.
A plateia, especialmente na sessão em Caruaru, foi rapidamente arrastada para essa atmosfera de confluência entre o hedonismo e a premonição. A primeira hora do espetáculo, vivenciada em pé, em meio a uma balada caótica, permitiu experimentar o teatro como acontecimento, como uma troca mútua e palpável entre quem o faz e quem o assiste. A entrega do público de Caruaru, que se mostrou “animal” e “contagiante”, diz muito da estratégia do Magiluth em estabelecer uma conexão, utilizando a proximidade física e a quebra de protocolos para intensificar a experiência e desmantelar a barreira convencional entre palco e plateia.

Em um dos momentos de maior engajamento, o Coro estimula a “não-monogamia” e um “beijaço” geral. No entanto, apesar da efervescência desde o início da peça para a dança, a resposta do público ao estímulo do “beijaço” foi notavelmente discreta, até mesmo acanhada. 

Roberto Brandão, como Tirésias. Foto: Jorge Farias

Lucas Torres como Mensageiro. Foto Jorge Farias

Gabriela Cicarello como Jocasta

A atuação do elenco – dirigido com criatividade e irreverência por Luiz Fernando Marques, Lubi – assemelha-se a uma partida de basquete em que os jogadores, além de entrosados e estrategicamente alinhados através de um rigoroso trabalho de conjunto, têm espaço para o brilho individual, e todos contribuem para a “cesta” – um jogo perfeito de entrega e colaboração na sessão em Caruaru. Roberto Brandão, assumindo o papel de Tirésias, o cego vidente, com um cinismo elegante e um deboche quase felino, cumpre com dignidade a tarefa de suceder o impacto de Pedro Wagner, injetando uma nova camada de complexidade e impertinência ao profeta.

Enquanto isso, Gabriela Cicarello, substituindo Nash Laila como Jocasta, entrega uma figura altiva e permeada por lutos não verbalizados, transmitindo através de sua postura e olhar uma profundidade melancólica à sua personagem, capaz de transitar entre diferentes estados emocionais e funções narrativas, do desdém à desesperança.

A trilha sonora, festiva e dramática, serve como um motor potente da dramaturgia, carregada de ironia e pensamento. O karaokê de Toda forma de amor, de Lulu Santos, é uma instigação que ressoa com as tensões da peça, indagando sobre os limites e as complexidades do amor, que abarca inclusive os proibidos e os incestuosos, reverberando os dilemas intemporais da tragédia.

As referências a outras obras, como Beijo no Asfalto de Nelson Rodrigues, enriquecem o intertexto, conectando a tragédia grega a outras explorações da paixão, do destino e do julgamento social na dramaturgia brasileira, especialmente no contexto urbano e suas hipocrisias.

Linguagem audiovisual utilizada na reconstrução da tragédia Foto: Jorge Farias / Divulgação

A linguagem audiovisual é um pilar fundamental na construção de Édipo REC. O espetáculo se inspira fortemente no cinema, transformando Tebas em um Recife fantasmagórico e presentificado, onde o Corifeu, munido de uma câmera em tempo real, atua como um olho onipresente e, por vezes, intrusivo. Ele registra e transmite imagens para telões estrategicamente posicionados, como também media a realidade, manipulando a percepção do público e posicionando-o como voyeur e cúmplice.

Essa escolha tecnológica espelha a superprodução de imagens da era das redes sociais, a vigilância constante e a construção de narrativas digitais, onde a verdade é frequentemente moldada pela perspectiva da câmera e pela curadoria do conteúdo. A integração da tecnologia confere uma camada metalinguística à narrativa, explorando a relação intrínseca entre o real e o encenado, entre o que é filmado e o que é vivido.

O grupo Magiluth buscou referências no cinema experimental e underground, explorando como diferentes estéticas cinematográficas poderiam dialogar com a tragédia clássica e contemporânea. Desde o seminal Édipo Rex (1967) de Pier Paolo Pasolini, que explora a tragédia grega com uma estética brutalista, arcaica e quase documental, utilizando não-atores e locações desérticas para enfatizar os instintos primais e a inevitabilidade do destino de forma crua, Édipo REC absorve essa crueza na performance e na representação de um Recife desolado, onde a miséria e a beleza se entrelaçam sem filtros. O vanguardista Funeral das Rosas (1969) de Toshio Matsumoto, um mergulho no universo contracultural das drag queens de Tóquio, com sua subversão de gênero, fluidez da identidade e fragmentação narrativa, influenciou a estética não-linear e a desconstrução de papéis em Édipo REC, onde a identidade de Édipo é constantemente questionada e reconfigurada pela lente da câmera e pela interação com o Corifeu.

Outros filmes como Hiroshima, meu amor (1959) de Alain Resnais, com sua estrutura não linear e a forma como aborda a memória e o trauma, influenciaram a maneira como Édipo REC lida com o tempo e a persistência do passado no presente, utilizando montagens rápidas e justaposição de imagens para evocar a fragmentação da memória e o peso do trauma coletivo. Cinema Paradiso (1990) de Giuseppe Tornatore, que celebra o poder do cinema e da nostalgia, contribuiu para a reflexão sobre a capacidade das imagens de construir e preservar memórias, e como elas moldam nossa compreensão da realidade e do afeto; em Édipo REC, as imagens capturadas e projetadas tornam-se o registro “oficial” da tragédia, o que será lembrado e transmitido. E Cabaret” (1972) de Bob Fosse, que retrata a decadência social e política da Alemanha pré-Nazista através do microcosmo de um clube noturno, influenciou a estética de performance e a crítica social, mostrando como o entretenimento pode mascarar ou, inversamente, expor as tragédias iminentes, utilizando a teatralidade da encenação e a interação com a plateia para desnudar as tensões sociais latentes na Tebas-Recife.

Transformação do amor de Édipo e Jocasta no segundo ato, do Velório. Foto: Jorge Farias

A transição entre os atos é impactante, como quebra narrativa e também como dispositivo que força o público a uma reorientação. Os espectadores são solicitados a se retirar do espaço cênico por alguns minutos, um ato que simula uma interrupção técnica, como se a cena anterior precisasse ser ‘refilmada’ ou o set ‘reajustado’. Esta pausa deliberada para a interrupção da festividade e da ilusão, um reset forçado prepara o terreno para a iminente catástrofe que assola Tebas-Recife ou Caruaru-Tebas.

Se o primeiro ato foi a “festa” de uma grande celebração, onde Édipo ainda se agarrava à esperança de fugir de seu destino através do hedonismo e da negação, o segundo ato é o “velório”, o “enterro” simbólico da ilusão e da inocência. Os espectadores são arrastados para o olho do furacão da tragédia, acompanhando o protagonista em um mergulho implacável nas consequências devastadoras de suas ações e do destino.

A dramaturgia de Giordano Castro, com sua crueza, escancara as feridas da humanidade e as verdades dolorosas detectadas por Sófocles, revelando as consequências inevitáveis do destino e do conhecimento proibido. O amor, antes celebrado e idealizado, assume-se como “horror” para a família de Édipo

Adicionalmente, um evento que marcou o final do primeiro ato – uma “performance” inesperada onde alguém lançou lixo orgânico, com laranjas estragadas, no palco, exalando um cheiro forte e desagradável – adicionou uma camada de caos e crueldade à cena. Ficamos na dúvida sobre a espontaneidade do ato, parecendo até uma cena combinada. Mas não foi. De todo modo, esse gesto metateatral além de mimetizar a desordem e a decadência na cena, materializou a “praga” que assola Tebas, atacando os sentidos do público. A experiência olfativa e visual do lixo orgânico serviu como um presságio sensorial da putrefação moral e social que se revela no segundo ato.

Bruno Parmera. Foto: Jorge Farias

Mário Sérgio e Giordano Castro. Foto: Jorge Farias e Giordano Castro, Kreonte e Édipo. Foto: Jorge Farias

No segundo ato denso, os personagens travam embates de acusação e defesa em um clima crescente do estado de desespero. No desenvolvimento do retorno da memória de Édipo, ganha destaque a projeção de uma gravação em que o protagonista, pilotando uma motocicleta, encontra e mata Laio.

A integração das tecnologias audiovisuais é central para a narrativa e a estética. A presença constante do Corifeu vertido em operador de câmera em cena, que registra e interfere ativamente nos acontecimentos, reflete a ubiquidade da mídia em nossa sociedade e questiona a natureza da verdade e da representação, transformando o público em voyeurs cúmplices da tragédia. A atmosfera torna-se inescapável, remetendo à reflexão de Sófocles sobre a verdadeira medida da vida e da felicidade de uma pessoa, que só pode ser avaliada quando chega ao seu desfecho.

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A máquina de fazer festas e… tiranos
Crítica do espetáculo Édipo REC

Jocasta (Nash Laila) coroa o DJ Édipo (Giordano Castro).Foto Camila Macedo / Divulgação

DESEJO DE SABER: Dançar até os pés ficarem inchados

Pompeia, SP, 28 de setembro de 2024. Dia seguinte à estreia do espetáculo Édipo REC, do Grupo Magiluth, do Recife

O desejo de poder é uma das forças motrizes das ações de Édipo, my love. Tem também o amor… um belo exercício de poder.

E a vida é decepcionante???

Mas será que somos gregas? A democracia foi forjada lá? E o teatro nasceu na Grécia? Gaguinho, personagem da atriz Odília Nunes em A Guará Vermelha, da Cia. do Tijolo, também contestou essa tese. O Corifeu de Édipo REC, na ressaca anos após a festa,  pondera que “já se fazia muito teatro em muitos lugares, nas mais variadas línguas, espalhados num território gigante e plural hoje singularizado na palavra África”.

Mas antes tem “a” festa e ela dura horas, muitas; anos, séculos. E como nos alimentamos desses estímulos de som, do banal ao mais potente, energia pura e outras pujanças de uma luz mágica de Jathyles Miranda que maneja as emoções, dessas que estão à flor da pele, mas busca o tutano.

Fazemos pose, se dói em algum ponto do corpo ninguém vai ver, até a queda final.

A música e o DJ, que será rei, as pequenas invejas e as grandes traições ocupam os espaços, se deslocam, traçam coreografias.

Na festa tão contagiante com suas drags provocadoras, adivinhadoras, somos levadas por tantas sensações e ambientes do poder macro ao micropoder. Do país Brasil, ao universo das nossas bolhas de tantas performances e multiplicações de imagens.

Mas afinal, do que você está falando?

De mim, bebê, pois cada uma fala de si e tenta valer sua narrativa, mesmo quando disfarça com os escudos da teoria.

Mário Sergio, no papel de Creonte, que ambiciosa ser o poderoso chefão. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Do fim da peça Édipo REC passando pelo  drink no templo da Pina Bo, das negociações da galera no Pompeu às tarefas prosaicas de limpar casa, preparar comida, e tentar elaborar algum pensamento sobre o 15º campeonato do Magiluth foram muitos tempos intercalados…. em apenas um dia.

Nem sabemos exatamente como chegamos naquele baile tão cheio de nuances, que o dono da sina só chega muitas poses depois.

Seguimos o Coro drag Erivaldo Oliveira e suas inflexões debochadas, seu modelito brilhante e botas de plataformas enormes.

Ainda na convivência, o clima se instala. Munido com sua máquina de captar imagens, Bruno Parmera de barba e boné (quase um disfarce) se projeta em Corifeu multiplicado por muitos clicks.

Creonte se apresenta ambíguo, quem é ele ?

Caímos na festa – o palco do Sesc Pompeia – com suas arquibancadas vazias e seu dancing lotado de espectadores/colaboradores que seguem o fluxo de Parmera, de Mário, de Erivaldo.

E são muitos climas de festa… a chegada de Pedro-Tirésias, num figurino deslumbrante, a dizer alguma verdade e celebrar outros teatros zecelsianos e muitos níveis de influências. A presença do Pedro Wagner traz uma liga, uma segurança, uma propriedade na cena; que o audiovisual permita que ele esteja muitas vezes no teatro. 

A atriz Nash Laila (Jocasta) na estreia, ao lado da diretora Cibele Forjaz. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Nash Laila como Jocasta. Foto: Camila Macedo/Divulgação

Eu danço, tu danças, ela dança, nós dançamos, el_s dançam. E chega o “dono” da festa, o DJ Édipo (Giordano Castro), que conquistou sua Jocasta (Nash Laila) e apaziguou um país. Pelo menos por um tempo…

E que coisa mais linda a presença da atriz Nash Laila. Que coisa boa o Magiluth acolher uma intérprete depois de tantos anos sem a presença feminina no palco. Pareceu-me que o jogo ficou mais… delicioso. O que pode a atuação de uma mulher num elenco masculino? Muchas cosas, cariño. Inventa outras humanidades.

Enquanto dançamos, a máquina de fabricar “estados de felicidade” (que remete à peça Dinamarca) faz seu papel de explorar e questionar as imagens na sociedade contemporânea. A festança esconde, mas não anula com sua tecnologia, esse “clube” em crise existencial, aprisionado em ciclos de consumo, excessos que levam à sensação de vazio.

O jogo cênico com imagens gravadas e em tempo real promovem uma realidade nuançada e desafios interpretativos para quem observa ou se posiciona no palco. Muitas chaves são lançadas para quem busca significados. As ferramentas estão no ar.

 E como já pode ser considerado pré-histórico o costume de fotografar e partilhar vivências íntimas em álbuns de família discretamente… A narrativa visual da era digital é uma guerra extenuante e incessante de exposições públicas, cada qual “palestrando” sua saga no vasto anfiteatro digital da contemporaneidade.

O primeiro jorro / A primeira golfada, poucas horas depois da festa-peste saiu assim… Mas sem conectividade e com as memórias cheias dos meus equipamentos, o texto ficou grudado nas barreiras de saída…

Pedro Wagner- Tirésias em primeiro plano. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Desejo de saber: Pestes, enigmas, sinas.

SP, alguns dias após a estreia de Édipo REC

Traduzida como Édipo Rei em algumas versões (Mário da Gama Kury, Lilian Amadei Sais, Trajano Vieira e outros), e intitulada Édipo Tirano na edição publicada pela Todavia em 2017 (com tradução e comentários de Leonardo Antunes), a peça entrelaça incesto e patricídio. Esta, que é uma das mais renomadas tragédias gregas, foi escrita por Sófocles por volta de 429 a.C. e tem sido revisitada e recriada por artistas de diferentes épocas.

A obra explora a jornada de Édipo, rei de Tebas, em sua busca pela verdadeira identidade e pela solução do assassinato do antigo rei, Laio. A trama desvela gradualmente o terrível destino do protagonista, que, sem saber, matou seu pai e se casou com a própria mãe, cumprindo uma antiga profecia.

No artigo Édipo: a encruzilhada fatal, a psicanalista Maria Homem aponta que o texto dramatúrgico de Sófocles pode ser considerado o primeiro grande thriller ocidental, com várias reviravoltas, girando em torno de um crime central. “Quem matou Laio? Fio condutor do suspense. A essa camada se superpõe uma história de investigação de si mesmo, um processo – trágico – de desvelamento de si. O detalhe é que desde o início somos advertidos pelo cego que mais vê, Tirésias, de que o saber pode ser perigoso… [1]”

Édipo e Jocasta em sua festa. Foto: Camila Macedo/Divulgação

Édipo REC, a 15ª montagem do grupo Magiluth reinterpreta a tragédia de Sófocles da perspectiva contemporânea e podemos pensar nos conceitos desenvolvidos por Jean Baudrillard, de que vivemos em um mundo de simulacros – cópias sem originais – onde a distinção entre realidade e representação se tornou borrada. Neste contexto, a “hiper-realidade” substitui a realidade “autêntica”, e os signos e símbolos se tornam mais reais do que aquilo que supostamente representam. Os indícios que nos guiam por esse caminho revelam-se na encenação, que enfatiza os processos de produção na tecnologia, mídia e cultura da imagem.

O espetáculo está dividido em dois atos: o primeiro é uma celebração exuberante que ecoa o excesso de estímulos visuais da nossa era; o segundo apresenta o desenrolar da tragédia inevitável.

O primeiro, com direito a esquenta-festa na temporada paulistana na área de convivência do Sesc Pompeia, começa enquanto o público aguarda para adentrar no teatro. Alguns personagens – Corifeu (Parmera), Coro (Erivaldo), Creonte (Mário Sérgio) e Mensageiro (Lucas) circulam. Os outros personagens só “aparecem” dentro do teatro.

O Coro-drag, equilibrado em suas plataformas e do alto da escada convoca: “Sejamos carnaval. Sejamos essa alegria devastadora embriagada…” para depois cravar “Vamos fazer dessa noite, a noite mais linda do mundo”, um refrão também da música A Noite Mais Linda Do Mundo (A Felicidade), cantada por Odair José, que já faz um diálogo com outra canção popular inserida em Dinamarca, Quando Chegar o Amanhã, gravada por Leonardo Sullivan.

Neste trabalho comemorativo dos 20 anos de trajetória do Grupo Magiluth, a companhia realiza uma retrospectiva artística, tecendo habilmente elementos e temas de seus espetáculos anteriores na trama de Édipo REC. Esse processo de autorreflexão cênica está carregado de  referências sutis e explícitas a produções passadas. A dramaturgia expande as citações, abrangendo desde a mitologia grega até a cultura brasileira.

Erivaldo, Coro-drag. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Erivaldo, Coro-drag. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Ainda no prólogo, o Coro-drag-Erivaldo, entre batidas de leque e toques de sarcasmo, afirma que ninguém poderá ser considerado feliz antes de ter vivido todos os dias até sua morte. Essa ideia constitui um dos pilares de qualquer versão de Édipo, sintetizando uma de suas reflexões mais profundas.

O Coro pergunta, responde, aconselha: “A vida é decepcionante? É decepcionante! Mas é isso que temos! Então finjam ter outra vida…”

O título Édipo REC reporta-se simultaneamente à cidade do Recife e ao ato de gravação (REC). Esta escolha expõe a combinação do mito clássico de Édipo com elementos contemporâneos da era digital, trazendo para a cena as pesquisas do diretor Luiz Fernando Marques – Lubi sobre as intersecções entre teatro e cinema. A obra esquadrinha o impacto da constante documentação e compartilhamento de nossas vidas nas redes sociais e outros meios digitais sobre nossa percepção da realidade e identidade.

Marques, em conjunto com o dramaturgo Giordano Castro e o elenco, desenvolve procedimentos cênicos que desafiam as convenções temporais e espaciais, criando um jogo complexo entre o passado mítico e o presente urbano. A não-linearidade cronológica da montagem aciona um dispositivo questionador da própria natureza do tempo no teatro e na vida.

A festa com o público no palco. Camila Macedo / Divulgação

O cenário transforma o palco em um ambiente frenético de celebração: luzes, fumaça, telões com projeção e música alta, envolvendo a plateia em uma experiência sensorial imersiva. Durante esse momento de “descontração”, muitas pequenas situações são expostas como o chamado para  dançar até os pés ficarem inchados, numa evocação ao nome Édipo ou quando o Coro faz menção a Édipo como elucidador de mistérios, homenageando a figura de Chico Science ao apontar que ele é aquele que fincou uma antena em meio às esculturas de lama e decifrou os enigmas.

A encenação de Édipo REC abraça e explora a noção de simulacro de maneira envolvente. A transformação do palco em uma boate com DJ e interação direta com o público cria uma hiper-realidade que engole tanto atores quanto espectadores. Esta reinterpretação encampa o poder avassalador da mídia e da cultura pop na formação das identidades. 

O uso de tecnologia audiovisual, com câmeras filmando e projetando cenas ao vivo, adiciona uma camada extra. Acompanhamos simultaneamente ao “real” e sua representação mediada. Esta dinâmica se estende à representação de Tebas como um “Recife-Pompéia fantasmagórico”, evocando uma ilusão de comunidade efêmera.

Em meio a esse fluxo, Édipo é coroado. Como diz um personagem: “Ele que é o próprio LSD – Luz, Som e Desejo!”

O jogo é intenso entre o elenco formado por Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner, com a participação da atriz Nash Laila. Os personagens Corifeu, Coro, Édipo, Mensageiro, Tirésias, Creonte e Jocasta coexistem com figuras e dilemas contemporâneos.

O Corifeu convida o público a sair do teatro, sob o pretexto de que precisa filmar tudo novamente. Nesse segundo ato, enfrentamos a tragédia em sua essência. Tirésias, o sábio cego, reitera uma das frases mais lúcidas, belas e devastadoras da dramaturgia de todos os tempos: Nunca digas que uma pessoa foi feliz sem que tenha vivido o último dia de sua vida.

Vinte anos se passaram desde aquela grande festa, das juras de amor e da coroação de Édipo. O clima predominante é diametralmente oposto ao do primeiro ato. A peste se alastrou pela cidade, imperando o medo e a desconfiança. Tudo está à beira do abismo.

Essa tragédia festivo-pestilenta convoca para o teatro temas políticos e morais da nossa era. Questões éticas e suas consequências são abordadas, como o célebre episódio do fotógrafo que registrou a imagem de uma criança esquelética espreitada por um abutre. [2]

Parmera, o Corifeu, que capta as imagens. Foto: Camila Macedo / Divulgação

O Corifeu propondo a dancinha juntos na festa. Foto: Camila Macedo / Divulgação

As interrupções constantes do Corifeu (“Corta!”) e as mudanças abruptas de cena enfatizam a artificialidade da narrativa, tensionando qualquer noção de realidade coerente e unificada. 

A intensa interatividade e o uso extensivo de tecnologia podem, por vezes, obscurecer a fluidez e as questões filosóficas fundamentais da tragédia original. Há momentos em que o espetáculo corre o risco de priorizar o secundário. Já a apropriação da violência e do trauma levanta questões éticas sobre a estetização da barbárie no teatro. Um aspecto com muita possibilidade de discussão.

Embora por vezes corra o risco de se perder em seus  próprios labirintos, Édipo REC é um espetáculo tão provocador quanto potente em suas interpretações plurais e singulares. É a montagem que celebra os 20 anos do Grupo Magiluth, prosseguindo um trabalho de pesquisa importante de uma companhia que tem a coragem criativa para não deixar os clássicos intocáveis e mete a mão nessas obras para buscar a pulsação dos tempos atuais.

Lembrei de um espetáculo que assisti no Festival de Avignon, França, em 2023, que, embora não dialogue diretamente em temática com o trabalho do Magiluth, apresenta aproximações interessantes em dois aspectos: a celebração festiva e o uso inovador de recursos de projeção de imagem.

Extinction, dirigido por Julien Gosselin, apresenta-se como uma produção ambiciosa de cinco horas que desafia as convenções teatrais tradicionais. A peça inicia com um concerto de techno de uma hora, durante o qual cerveja flui gratuitamente e o público recebe convites para dançar.

Há uma radicalidade no uso de tecnologia visual em Extinction. Uma tela gigante exibe imagens em preto e branco, pontuando momentos de intensidade dramática. A transição para a representação principal é marcada por uma mudança na técnica de apresentação: os atores são vistos em parte na presença teatral e em imagens filmadas ao vivo e projetadas em preto e branco, com cinegrafistas invisíveis ao público. Baseado em textos de Thomas Bernhard, Arthur Schnitzler e Hugo von Hofmannsthal, o espetáculo explora temas complexos da sociedade vienense e suas reverberações. 

A alegria do primeiro ato. Foto: Camila Macedo/Divulgação.

A sisudez do segundo ato, quando Tirésias passa a real para Édipo. Foto: Camila Macedo / Divulgação

A dramaturgia de Giordano Castro e a cena de Lubi são ricas em intertextualidade, incorporando referências de filmes como Édipo Rex de Pasolini, Funeral das Rosas, de Matsumoto; Hiroshima, mon amour, de Alain  Resnais com roteiro da poeta Marguerite Duras. Além de filmagens num Recife soturno e desolado. Essas imagens, juntamente com outras, oferecem insights para significações e camadas que podem amplificar a recepção.

Há muito o que desenvolver sobre o diálogo entre o teatro e o cinema elaborado na montagem, especialmente a partir da questão lógica espectral e fantasmática dos que retornam da memória de outros tempos, bem como da sensação de solidão em meio a essa comunidade efêmera. No entanto, no momento, sinto-me exaurida. Registro apenas o desejo de retornar a esses assuntos e revisitar Édipo REC por outra perspectiva. Talvez depois de assistir ao espetáculo uma segunda vez, quem sabe.

O Édipo de Castro é arrogante, tirânico, que ostenta sua a húbris [3]; charmoso como alguns déspotas e meio infantil; reconhece por um lado seus traumas, mas ainda quer fazer valer o seu poder através de palavras e gestos, parecendo não entender que as “massas” abandonam os derrotados.

Por enquanto, encerro por aqui constatando que em Édipo REC o corpo assume a cidade numa pulsação alucinante. Levar a peça para a festa consagra o poder de ruptura com o tempo cotidiano, enquanto manifestação minúscula do encontro trágico na Antiguidade. E mesmo que não haja aqui o “incêndio das consciências”, na expressão de Roland Barthes, Édipo prossegue sendo o próprio enigma.

O Mensageiro (Lucas Torres), o amigo de Laio que testemunhou o assassinato. Foto: Camila Macedo / Divulgação

NOTAS

[1] HOMEM, Maria. Édipo: a encruzilhada fatal. In: SÓFOCLES. Édipo Tirano. São Paulo: Editora Todavia, 2017. E-book
[2] A fotografia “O abutre e a menina”, tirada por Kevin Carter em 1993 no Sudão, durante uma grave crise humanitária causada pela guerra civil, tornou-se um ícone do fotojornalismo e desencadeou um intenso debate ético. Carter acompanhava uma missão da ONU quando capturou a imagem de uma criança desnutrida com um abutre ao fundo. A foto, publicada no New York Times, ganhou o Prêmio Pulitzer em 1994, mas também gerou controvérsia sobre a ação do fotógrafo em não ajudar a criança. Carter enfrentou depressão devido às críticas e ao trauma de suas experiências, culminando em seu suicídio em 1994. Anos depois, descobriu-se que a criança era um menino chamado Kong Nyong, que sobreviveu à fome, mas faleceu adulto em 2006 devido a uma febre.
[3 A húbris ou hybris (em grego ὕβρις, “hýbris”) é um conceito grego que pode ser traduzido como “tudo que passa da medida; descomedimento” e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunçãoarrogância ou insolência (originalmente contra os deuses)… https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%BAbris
 Na tragédia grega clássica, húbris era frequentemente uma deficiência fatal que causava a queda do herói trágico. Normalmente, o excesso de confiança levava o herói a tentar ultrapassar os limites das limitações humanas e assumir um status divino, e os deuses inevitavelmente humilhavam o ofensor com um lembrete agudo de sua mortalidade. https://www.merriam-webster.com/dictionary/hubris

Serviço:
Édipo REC
Quando: Até 26/10. Quinta a sábado, 20h. Domingos, 17h. Dia 12/10, sábado, 17h. Dia 23/10, quartas, 20h
Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada), R$ 18 (credencial plena)
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Duração: 105 minutos
Classificação etária: 18 anos

Ficha técnica:
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de Luz: Jathyles Miranda
Design Gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

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Grupo Magiluth encena Édipo REC:
Quando a tragédia grega encontra o Big Brother

Édipo REC faz parte das celebrações dos 20 anos do Grupo Magiluth. Foto: Estúdio Orra / Divulgação

Pedro Wagner, Giordano Castro e a atriz Nash Laila. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Nash Laila e Giordano Castro. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Em um mundo dominado por câmeras e redes sociais, onde cada movimento é potencialmente gravado e compartilhado, como seria a história de Édipo, – aquele herói grego que sem saber, mata seu pai e casa-se com sua mãe, cumprindo uma profecia e enfrentando um destino devastador? O grupo Magiluth, celebrando seus 20 anos de trajetória, propõe essa instigante reflexão no novo espetáculo, Édipo REC, que estreia nesta sexta-feira, 27/09, no Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo. A temporada vai até 26 de outubro, com apresentações de quinta a domingo. 

Imagine o Recife como uma Tebas futurista de 2024, onde o Coro da tragédia grega se transforma em uma onipresente câmera, capturando cada detalhe da vida do protagonista. É nesse cenário que o Magiluth reinterpreta o clássico de Sófocles, mesclando a ancestralidade do mito com a urgência contemporânea da exposição excessiva.

O Magiluth, grupo recifense conhecido por sua pesquisa continuada e provocações cênicas, completa duas décadas de uma jornada artística marcada pela experimentação e diálogo com diferentes linguagens. Ao longo desses 20 anos, o grupo desenvolveu 15 espetáculos, explorando desde clássicos da dramaturgia até criações autorais. Sua perspectiva singular combina elementos do teatro físico, da performance e das artes visuais, buscando novas formas de engajar o público e questionar as fronteiras do fazer teatral.

A peça, dirigida pelo paulista Luiz Fernando Marques, o Lubi, marca o quarto trabalho da parceria entre o diretor e o grupo. Édipo REC joga com a cronologia e questiona a percepção de tempo no teatro, convidando o público a investir em uma experiência que vai da euforia de um reino em festa à tensão crescente de uma tragédia inevitável.

Erivaldo Oliveira na fase festa do espetáculo. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

Lucas Torres e Bruno Parmera. Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos / Divulgação

Na busca por referências cinematográficas, o grupo se inspirou em obras emblemáticas. Édipo Rex (1967), de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), foi uma influência crucial, com sua atualização do mito para a Bolonha dos anos 1960 e sua estrutura narrativa em flashbacks. O experimentalismo de Funeral das Rosas (1969), de Toshio Matsumoto (1932-2017), com seu mergulho no mundo noturno das drags de Tóquio, serviu como referência poética. Além disso, o grupo buscou inspiração em Hiroshima, meu amor (1959) de Alain Resnais (1922-2014), Cinema Paradiso (1990) de Giuseppe Tornatore (1956-); e Cabaret (1972) de Bob Fosse (1927-1987), ampliando o diálogo entre teatro e cinema.

No elenco estão Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner e a atriz Nash Laila, conhecida por trabalhos audiovisuais do grupo. Juntos, eles dão vida a personagens que transitam entre o mítico e o contemporâneo, explorando as nuances do humano em diferentes tempos e espaços.

Édipo REC questiona o poder da imagem na sociedade atual. Como pontua o diretor Luiz Fernando Marques, no material de divulgação: “O Édipo acredita tanto nessa projeção que criou para si mesmo, de que é um tirano, que não consegue mais enxergar a sua verdadeira essência. O mesmo acontece hoje, já que as pessoas montam as suas vidas para as redes sociais, independente daquilo que elas estejam de fato vivendo.”

O processo de criação do espetáculo contou com o apoio do FETEAG (Festival de Teatro do Agreste), um dos mais importantes eventos teatrais do Nordeste. O festival proporcionou ao Magiluth uma residência artística, oferecendo espaço para ensaios e suporte financeiro aos artistas durante o período de desenvolvimento da peça. Esta parceria permitiu ao grupo aprofundar sua pesquisa e experimentação, além de desenvolver um processo pedagógico, abrindo os ensaios para observadores interessados no processo criativo.

O espetáculo promete ser uma experiência provocativa, mesclando elementos de vídeo mapping, trilha sonora original e uma cenografia que dialoga diretamente com a linguagem cinematográfica.

O Magiluth convida o público a refletir: em uma era de hiperexposição, quanto tempo dura uma tragédia? 20 anos? Uma vida inteira? Ou talvez, na era do REC perpétuo, por toda a eternidade? Édipo REC revisita um clássico, reinventando-o para nossos tempos, indagando nossa relação com a imagem, a memória e a identidade em um mundo cada vez mais mediado por telas e câmeras.

Mário Sergio Cabral com a camisa do Santa Cruz Foto: Estúdio Orra, por Zé Rebelatto e Gabriela Passos

SERVIÇO
Édipo REC
Quando: De 27/9 a 26/10. Quinta a sábado, 20h. Domingos, 17h. Exceto dias 6 e 27/10. Dia 12/10, sábado, 17h. Dias 9 e 23/10, quartas, 20h. Quanto: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia-entrada), R$ 18 (credencial plena)
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Duração: 105 minutos
Classificação etária: 18 anos

FICHA TÉCNICA
Criação: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Direção: Luiz Fernando Marques
Dramaturgia: Giordano Castro
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner
Design de Luz: Jathyles Miranda
Design Gráfico: Mochila Produções
Figurino: Chris Garrido
Trilha sonora: Grupo Magiluth, Nash Laila e Luiz Fernando Marques
Cenografia e montagem de vídeo: Luiz Fernando Marques
Cenotécnico: Renato Simões
Vídeo Mapping e Operação: Clara Caramez
Captação de imagens: Bruno Parmera, Pedro Escobar e Vitor Pessoa
Equipe de Produção de vídeos: Diana Cardona Guillén, Leonardo Lopes, Maria Pepe e Vitor Pessoa
Produção: Grupo Magiluth e Corpo Rastreado

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A luta do Teatro Oficina continua

Referências aos dias atuais e uma guerra particular (que é de todo o teatro brasieiro)

Referências aos dias atuais e uma guerra particular (que é de todo o teatro brasieiro). Fotos: Ivana Moura

Nada se compara a assistir a um espetáculo do Teatro Oficina em sua sede, na rua Jaceguai, 520, no Bixiga, região central de São Paulo. Mas quem não está em Sampa vale a pena conferir Cacilda!!!! pelo site do Oficina: www.teatroficina.com.br. A transmissão é ao vivo e geralmente funciona muito bem. Essa primeira temporada foi bem curta, começou no dia 16 de agosto e termina nesta segunda-feira (2), às 19h.

O incansável Zé Celso faz o empresário Franco Zampari

O incansável Zé Celso faz o empresário Franco Zampari

O musical, que trata da vida de Cacilda Becker, está dividido em dois atos e embaralha os tempos da atuação da atriz no Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, a partir de 1949 a 1968, quando ocupa a secretaria da Comissão Estadual de Teatro e lidera manifestações contra a censura e a ditadura militar.

Com texto e direção de Zé Celso e Marcelo Drummond, o musical também incorporou a urgência dos movimentos e ações políticas não partidárias de 2013 que ganharam as ruas, criando paralelo com os protestos.

Sylvia Prado no papel de Cacilda

Sylvia Prado no papel de Cacilda

O papel de Cacilda é interpretado por Camila Mota, (época do TBC), Sylvia Prado, nas lutas de 1968, e a pernambucana Nash Laila que faz a personagem Pega-Fogo, numa mise en abyme da personagem-título.

É um pouco de história do teatro, carnavalizado, com as liberdades e a psicodelia que são marcas do grupo. Entre outras coisas, Zé Celso vive o empresário Franco Zampari, que bancou o TBC. Marcelo Drummond faz Walmor Chagas, que foi marido de Cacilda.

Camila Mota no papel de Cacilda

Camila Mota no papel de Cacilda

E o Oficina, que há mais de 50 anos luta pelo seu espaço, recebeu mais um golpe recentemente, quando o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), autorizou que fossem erguidos prédios em redor do teatro pela Sisan, do Grupo Silvio Santos.

No seu blog, Zé Celso esmiúça essa nova guerra que o Oficina enfrenta. A presidente do CONDEPHAAT Ana Lucia Lanna virou tema de rap na peça. “Em vez de defender o Teatro como seu Patrimônio Cultural faz como Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal e inverte seu papel ao aprovar a construção do empreendimento da Sisan, braço da especulação imobiliária do Grupo SS, que pretende simplesmente assassinar a obra de arte de Lina Bardi e a vida em plena produtividade dos 60 atuadores multimídia do Teat(r)o Oficina”. Confiram o vídeo em que Zé Celso explica o que está acontecendo e o rap:

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