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“Amem-se, exageradamente. Jesus, já veio!”
Crítica de Pontilhados em Olinda

Pontilhados Olinda. Fotos: Rogério Alves / Divulgação

Cena inicial, com a noiva em frente à Igreja da Sé, de Olinda. Fotos: Rogério Alves / Divulgação

Sinalizações das cenas. Foto: Rogério Alves / Divulgação

Pontilhados – Intervenções humanas em ambientes urbanos é travessia. Uma experiência performática-urbana tecida pelo Grupo Experimental, do Recife, sob direção de Mônica Lira, que mergulha na pesquisa entre corpo, cidade, memória e presença. Trata-se de um espetáculo com roteiro, dramaturgia, direção e trilha sonora cuidadosamente elaborados: intérpretes e dançarinos apresentam cenas enquanto o público os acompanha pelas ruas. A obra integra som, poesia, música, deslocamentos, paradas e ações coreográficas. Contudo, é no processo subjetivo de cada participante que Pontilhados se amplia e se reinventa: percepções, lembranças e afetos individuais se entrelaçam ao tecido coletivo da experiência. Pontilhados é dança, caminhada, peregrinação, rito de passagem, arte do encontro e da escuta — e é desse diálogo entre estrutura e vivência que a obra se mantém viva a cada edição.

A peça é proposição sensorial: o convite propõe ver e sentir, habitar, perder-se, reconhecer-se, reaprender a olhar e escutar. A rota nunca é neutra: há camadas urbanas, marcas sociais, marcas no corpo da cidade e dos dançadores, marcas nos olhos de quem caminha junto; memórias pessoais colidem com memórias coletivas, criando uma trama plural e aberta.

Pontilhados, que teve sua primeira edição em 2016, surge com a urgência de existir poeticamente no espaço público, em tensão constante com os desafios das grandes cidades: suas dores, abismos sociais, festas de resistência e histórias de apagamento e reinvenção. É obra afetiva, política e profundamente viva, tornando-se sempre diferente, pois cada cidade, chão, grupo e plateia refaz o bordado de suas linhas a cada montagem.

O Grupo Experimental já apresentou Pontilhados no Recife (duas versões), São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Garanhuns, Fortaleza, Arcoverde e Medellín (Colômbia), levando para cada espaço um processo singular de reinvenção. Nesta 10ª edição, em Olinda (que ocorreu nos dias 9, 10 e 11 de maio), uma residência reuniu 20 artistas de diferentes territórios – entre eles Jean Souza (participante de Pontilhados em Salvador), Georgia Palomino (de São Paulo, que atuou em Salvador e Garanhuns) e Álefe Passarin (no elenco de Arcoverde), que trouxeram sabedoria de outros territórios para costurar junto o fluxo olindense.

O espetáculo conta com os intérpretes-criadores Rafaella Trindade, Everton Gomes, Henrique Braz, Marcos Teófilo e Anne Costa (convidada). A coordenação de Mônica Lira, fundadora do grupo, potencializa o intercâmbio de saberes, integrando diferentes trajetórias e experiências em uma mesma tessitura cênica. A participação dos residentes — Aline Sou, Camila Ribeiro, Dadinha Gomes, Daniel Dias, Isaac Souza, Jair Simão, Jonas Alves, Marcela Rabelo, Marcia Luz, Márcio Allan, Marcos Júnior, Maya Ferreira, Maysa Toledo, Natália Marinho, Salomé Archanjo, Yanca Lima e Yuri Barbosa — amplia ainda mais o coro de vozes e corpos.

Público percorre sítio histórico de Olinda, com a audioguia Paula Call e a diretora Mônica Lira à frente. 

A caminhada propõe um mergulho sensorial mediado pela tecnologia: o público percorre as ruas com fones de ouvido, ouvindo um audioguia transmitido em tempo real. Vozes poéticas, trilhas cuidadosamente escolhidas e palavras emergem misturadas ao som da cidade. O desafio exige presença: é preciso subir e descer ladeiras, caminhar por calçadas antigas, enfrentar o calor, o vento ou a chuva inesperada que altera o percurso, sentir o cheiro da terra e perceber o tempo próprio da cidade.

Olinda acolheu Pontilhados de maneira intensa e singular. Suas ladeiras sinuosas, casarios coloniais e mirantes oferecem terrenos irregulares ao corpo, impondo a cada passo um novo ritmo e convidando a respirar no compasso da cidade. Lá, raízes indígenas e o legado africano se manifestam em cada traço urbano e na força vibrante da cultura popular. Esta edição constrói pontes entre histórias de resistência, convivência e transformação.

Mais profundamente, Olinda carrega a radicalidade da sobrevivência: o peso das invasões, o legado das festas populares — carnavais de maracatus, frevos, caboclinhos — e o misticismo de seus santos e orixás. É raro encontrar um lugar onde arquitetura, história, resistência cultural e religiosidade dancem tão em harmonia. Em Olinda, Pontilhados se reinventa como um tecido que recebe novos fios e cores sem perder o desenho-matriz.

Ao mesmo tempo, Olinda se torna protagonista e interlocutora do espetáculo. Cada recanto, cada curva das ruas, cada memória do povo dialoga com as perguntas lançadas pelo Grupo Experimental. A cidade responde – seja no silêncio, seja nas palavras recolhidas pela dramaturgia -, abrindo novas possibilidades de encontro entre intenções artísticas e vida real.

As atrizes dançarinas trazem questões do feminino: da luta por existir à violência sofrida. Foto: Rogério Alves

Os cães de rua entram na cena e parecem guardar a integridade do corpo. Foto: Rogério Alves / Divulgação

O itinerário de Pontilhados atravessa marcos emblemáticos do Sítio Histórico, transformando o espaço em dramaturgia viva. A caminhada começa na imponente Catedral da Sé – São Salvador do Mundo. O toque dos sinos, ouvido pelos fones ou imaginado em nossas mentes, marca um mergulho poético no início do trânsito.

Ali, diante da Catedral, uma mulher vestida de branco – figura tradicional dos rituais de casamento – surge sozinha, evocando mistério e poesia. Sob o olhar feminista e antimisógino de Pontilhados, essa presença solitária transforma-se em protagonista da própria história. Muito além do clichê da mulher abandonada, ela se revela sinal de autonomia, resistência e reinvenção. Suas emoções e silêncios se abrem a muitas leituras: não à espera da perda, mas afirmando a potência do feminino em sua complexidade, longe de narrativas engessadas.

O trajeto segue pela Ladeira da Sé, com o Palácio de Iemanjá testemunhando as águas e heranças de matriz africana. No Alto da Sé, a escadaria diante do Preto Velho convida a uma pausa de espiritualidade e ancestralidade: a cidade e o mar se revelam como paisagem e memória.

No Mirante do Observatório Astronômico – onde Emmanuel Liais, em 26 de fevereiro de 1860, observou e registrou o cometa Olinda (primeira descoberta do gênero na América do Sul e no Brasil) -, o horizonte se desdobra e o céu flerta com a dramaturgia dos corpos. Assistimos atentamente aos movimentos das bailarinas de vermelho, que encarnam a luta cotidiana das mulheres por existência e visibilidade.

Durante a caminhada, ouvimos em nossos fones, na voz de Silvinha Goes, evocação da trajetória de Branca Dias, mulher que desafiou opressões e lutou por direitos femininos ao lado de tantas companheiras. Em cena e na vida, essas mulheres dançam e enfrentam os algozes patriarcais — corpo a corpo, passo a passo, constroem uma coreografia de coragem e resistência. Até mesmo cães, vigias silenciosos das ruas, parecem zelar pela dignidade dos corpos que ali circulam ou já circularam.

O percurso se expande em paradas marcantes: a porta da Igreja da Misericórdia, a sombra generosa do Mirante das Flores, o popular Beco do Bajado, a Rua do Amparo, a calçada da Bodega do Veio, a varanda do Amparo, a Sede do Homem da Meia-Noite, até culminar na ladeira que leva à Igreja do Rosário. Cada etapa é imersão no sagrado e no profano, reconhecendo a cidade em sua vitalidade pulsante.

Irreverêcia inspirada no Grupo Vivencial. Foto: Rogério Alves

Maracatu no Largo do Amparo. Foto: Rogério Alves

Quando o cortejo chega à Varanda do Amparo, a atmosfera carnavalesca se intensifica. Os artistas ocupam os dois níveis — em cima e embaixo — evocando o espírito irreverente do icônico Grupo Vivencial, referência fundamental da cena alternativa olindense/recifense, cuja ousadia inspirou o filme Tatuagem. No espaço, poesia e performance se cruzam em cenas que desconstroem a caretice de ontem e de hoje, colocando em xeque todas as normatividades. O audioguia ecoa essa energia subversiva em frases provocativas, como: “Tenho a mim mesma de coração exposto…cago nessa humanidade inteira, essa humanidade de coração engolido, cheio de proteção.” A irreverência ganha ainda mais força com a trilha sonora Polka do Cu (Cuica Feat – Tatuagem), entre risos, corpos em trânsito e afronta criativa.

Em seguida, no Largo do Amparo, o espetáculo mergulha na celebração coletiva do carnaval pernambucano. Enquanto os clássicos — como o Hino de Pernambuco, Maracatu Nação, Hino do Elefante de Olinda, orquestras e frevos — embalam o ambiente, o audioguia celebra a multidão, a alegria que brota da esperança e a força coletiva da festa: a cidade, feita de arte, gente e contrastes, se transforma em cenário e personagem, revelando todo o vigor do carnaval. Neste trecho, foliões solitários, pequenos grupos de passistas e agremiações de maracatu ocupam os espaços, surgindo em aparições fugazes e surpreendentes, como se fossem sonhos de carnaval materializados no caminho. A música, os corpos e os sentidos se fundem, tornando o percurso uma ode à criatividade popular e à vitalidade urbana.

Ao atravessar Olinda, não se pode ignorar a dor: as marcas históricas de exclusão, violência e desumanidade inscritas nessas ladeiras. Mas Pontilhados não transforma essa realidade em espetáculo da miséria. Ao contrário, coloca a dor em diálogo com o desejo de libertação, com o corpo em festa, a política da transgressão lúdica, a força dos rituais populares e a ressurreição poética da arte. O carnaval, nos becos e ladeiras, é síntese de política, resistência, afeto e esperança uma explosão coletiva onde drama, utopia e luta se encontram sem hierarquia, no terreno fértil das subjetividades em movimento.

Na frente da Igreja da Misericórdia, em Olinda. Foto: Rogério Alves

Olinda é paisagem, personagem, cenário em constante mutação. Ao longo da caminhada, a natureza se faz presente: o cheiro das árvores, a iluminação que se transforma ao entardecer, a brisa vinda do mar. A natureza dialoga com o roteiro, os pássaros se entrelaçam à trilha sonora, o vento sopra ou leva embora palavras – tudo contribui para uma dramaturgia ampliada, convidando todos à presença atenta.

Silvia Góes, responsável pela dramaturgia (também atuante como a Noiva e a voz do audioguia, em Olinda) constrói um fluxo de sensibilidade que se adapta a cada lugar. Sua escrita dialoga com vozes recolhidas em entrevistas, documentos históricos e palavras que atravessam o tempo, como paráfrases e diálogos de autores como Clarice Lispector, Affonso Romano de Sant’Anna, Mario Quintana, Hilda Hilst e a polonesa Wisława Szymborska. São trechos que questionam a fluidez da identidade, o lugar do humano na cidade, o caos e a esperança coletiva.

Sua dramaturgia flui ora lírica, ora cortante, conduzindo do poético ao político, do íntimo ao social. Fala de liberdade sem camuflar prisões, de amor como experiência radical de alteridade, de utopia como persistência mesmo diante da falta. A palavra se reinventa em cada edição, filtrada pelo tempo, pelos gestos e pela escuta singular de cada lugar. O percurso em Olinda se faz entre perguntas -“O que é pertencer?” – em vozes, músicas, poesia e no próprio rumor da cidade.

Diálogo com a pulsação da cidade. Foto: Rogério Alves

As sonoridades dialogam com o ritmo coletivo do caminhar, fazendo ecoar o tempo da cidade, com suas pausas e abrindo passagem para o fluxo da palavra falada. Em certos momentos, a trilha se deixa atravessar pelos sons do ambiente: buzinas, conversas de moradores, latidos — autores reais da festa e do cotidiano, compondo uma orquestra viva e imprevisível.

As músicas escolhidas fazem ponte com a história e cultura pernambucana: do Afoxé Omunile Ogunja à voz de Aurinha do Coco, de Alceu Valença ao hino do carnaval, do maracatu às orquestras de frevo, e também o experimentalismo sonoro de Chico Science e Nação Zumbi. Cada trilha reverbera nos corpos, ativa memórias, convoca pertencimento. A música dialoga com a dramaturgia, ora potencializando o fluxo poético, ora criando pausas e transições, organizando o pulso do coletivo, a densidade do que é dito e sentido.

Pontilhados propõe ao público novas maneiras de pertencer e perceber o território – de modo que a cidade nunca é a mesma ao final da travessia. Cada microcena transforma-se em experiência, feita de paixão, estranhamento, dor, surpresa, comunhão, alegria e deslocamento.

Ao final, é do lado subjetivo que Pontilhados se projeta: na memória de cada participante, na marca deixada pela natureza e pela paisagem urbana, nos rastros dos que caminharam juntos e nos silêncios que residem após cada estação. Pontilhados é, sobretudo, experiência viva, plural, aberta ao imprevisto e em permanente reinvenção.

Corações espalhados nas ladeiras de Olinda. Rogério Alves

Ficha Técnica

Realização: Grupo Experimental
Direção, concepção e dramaturgia: Mônica Lira
Assistente de direção: Rafaella Trindade
Dramaturgia, voz-guia e artista convidada: Silvia Góes
Coordenação de produção: Chris Galdino
Comunicação e intérprete-guia: Paula Caal
Assessoria de imprensa: Lança Comunicação
Elenco: Rafaella Trindade, Everton Gomes, Henrique Braz, Marcos Teófilo
Artista convidada: Anne Costa
Artistas residentes: Álefe Passarin, Aline Sou, Camila Ribeiro, Dadinha Gomes, Daniel Dias, Georgia Palomino, Isaac Souza, Jair Simão, Jean Souza, Jonas Alves, Marcela Rabelo, Marcia Luz, Márcio Allan, Marcos Júnior, Maya Ferreira, Maysa Toledo, Natália Marinho, Salomé Archanjo, Yanca Lima, Yuri Barbosa
Figurino: Carol Monteiro
Identidade visual: Carlos Moura
Montagem da trilha e apoio de produção: Silvio Barreto, Iramaia Dália, Georgia Trindade, Bianca Alencar
Pesquisa musical: Ivo Thavora
Transmissão da trilha: Alexandre Nascimento
Fotografia: Rogério Alves

Apoios: Secretaria de Patrimônio e Cultura da Prefeitura de Olinda, Homem da Meia-Noite, Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa, Catedral Sé de Olinda, Alma Arte Café, MST

Incentivo: Ministério da Cultura [Governo Federal], PNAB Pernambuco/Nacional, Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco.

O espetáculo Pontilhados Olinda foi apreentado nos dias 9,10 e 11 de maio de 2025, com concentração na Igreja da Sé, em Olinda 

Leia também a crítica da apresentação de Pontilhados em São Paulo, postada em 30 de novembro de 2018 aqui 

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

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Em Pernambuco, FETEAG chega à 33ª edição

 

Zona Franca abre a programação do Festival de Teatro do Agreste. Foto: Renato Mangolin / Divulgação

Zona Franca, vibrante espetáculo da coreógrafa brasileira Alice Ripoll e sua Cia Suave, junta danças urbanas e populares brasileiras com dança contemporânea, teatro e canto. O elenco, composto por bailarinos oriundos das favelas do Rio de Janeiro, leva ao palco as realidades da juventude brasileira em um contexto de desigualdades sociais. Utilizando elementos como balões, confetes e ritmos variados, Zona Franca cria um ambiente festivo que serve de pano de fundo para questões mais profundas. A coreografia incorpora uma ampla gama de estilos, incluindo passinho, danças afro, afrohouse, e danças regionais do Norte e Nordeste do Brasil, como pisadinha e brega funk.

Com  Zona Franca, que convida a uma reflexão sobre identidade, sociedade e o potencial transformador da arte em um contexto global cada vez mais interconectado, o Festival de Teatro do Agreste (FETEAG) abre hoje sua 33ª edição, que ocorre entre 17 a 29 de setembro de 2024, com uma programação diversificada que inclui 20 trabalhos teatrais, performances de dança em Caruaru e no Recife.

A seleção abrange produções de dez estados brasileiros, oferecendo ao público um recorte interessante da cena teatral contemporânea nacional. Com isso, o FETEAG 2024 busca manter seu compromisso com a acessibilidade cultural, disponibilizando todas as atividades gratuitamente e promovendo discussões sobre temas relevantes da atualidade através das artes cênicas.

Este ano, o FETEAG expande seu escopo, incorporando ações formativas e residências artísticas em sua programação. Ao realizar o evento em cidades do interior e na capital pernambucana, o festival contribui para a descentralização das atividades culturais, fortalecendo o papel do Agreste como um polo importante para as artes performáticas no Brasil.

Além de Zona Franca, com sessões nesta terça e quarta (17 e 18/09), no Teatro de Santa Isabel, a Mostra Recife abriga quinta e sexta (19 e 20/09), no Teatro Hermilo Borba Filho, a peça Meu Corpo Está Aqui, da Fábrica de Eventos,  que aborda as experiências afetivas e sexuais de pessoas com deficiência (PCDs). Criada pelas artistas cariocas Julia Spadaccini e Clara Kutner, a produção utiliza depoimentos ficcionalizados baseados em experiências reais para explorar temas como relacionamentos, corpos e desejos de forma aberta e direta, questionando  concepções culturais sobre “normalidade”.

O Velho Relojoeiro e as Voltas do Tempo, da Trupe Motim do Ceará. Foto: Divulgação

Manifesto Transpofágico, com Renata de Cervalho. Foto: Danilo Galvão / Divulgação

A partir do dia 21, o festival se desloca para Caruaru, onde a Mostra Argemiro Pascoal dá início às atividades, tecendo conexões entre as diversas produções que compõem sua programação. O Velho Relojoeiro e as Voltas do Tempo, da Trupe Motim/CE  (21/09), utiliza bonecos gigantes para explorar a passagem do tempo. Esse tema ressoa em Goldfish, de Alexandre Américo/RN, 23/09), onde a metáfora do peixe dourado reflete sobre memória e efemeridade. Essa reflexão sobre temporalidade encontra eco em Sal: Como durar o tempo, de Alexandre Américo e grupo/RN, 28/09), que usa o sal como símbolo de resistência e preservação. Outro diálogo com  essa linha temática se dá com Há uma festa sem começo que não termina com o fim, com  Pavilhão da Magnólia/CE, 29/09), que celebra o tempo e investiga a morte.

Paralelamente, o festival recebe montagens que investem em questões de identidade e corpo como Manifesto Transpofágico, de Renata Carvalho/SP, (21/09), que desafia convenções de gênero. Já Monga, de Jéssica Teixeira/CE, (22/09) explora estereótipos através do mito da mulher gorila. Essa exploração corporal também tem espaço em Chão, da Cia de Dança do Teatro Alberto Maranhão e TORTA/RN,  (24/09), conectando o corpo à terra e à ancestralidade. Esse tema se desdobra em Ancés, de Tieta Macau PI/MA/CE, (27/09), exaltando a herança cultural nordestina.

A jornada de autoconhecimento e confronto interno é aprofundada em Dança Monstro, da Cia dos Pés/AL), (26/09), mergulhando nos monstros internos, e em Violento, de Preto Amparo e grupo/MG, (28/09), que aborda a experiência do jovem negro urbano.

Vamos pra Costa?, do Núcleo da Tribo/BA, 25/09) toca em temas como migração e esperança, enquanto Laborioso Contato – Um palhaço anuncia o fim do mundo, da Trupe Motim/CE, usa o humor para discutir questões existenciais em um cenário apocalíptico.

Marcia Luz em AnTígona – A Retomada. Foto: Divulgação

A Mostra Pernambuco, que celebra o talento de artistas pernambucanos e a riqueza cultural do estado ocorre no Teatro Rui Limeira Rosal e na Praça Coronel João Guilherme em Caruaru, de 22 a 29 de setembro. São oito espetáculos, com releituras de clássicos, como AnTígona – A Retomada de Márcia Luz (23/09) e “Dois Perdidos Numa Noite Suja” do Ágora Núcleo Teatral (25/09).

O Estopim Dourado, de Anny Rafaella Ferli, Gardênia Fontes e Taína Veríssimo (27/09) trabalha no campo do empoderamento feminino e resistência, utilizando elementos poéticos e visuais, enquando  Ensaio do Agora – Memória em Chamas, de Natali Assunção (26/09), explora a memória e a identidade, refletindo sobre o presente e as possibilidades de futuro..

A diversidade temática e estilística é um ponto marcante da Mostra Pernambuco. Enquanto Senhora do Coletivo Alfazema (24/09) e A Mulher do Fim do Mundo da Cia. Os Bobos da Corte (22/09) se dedicam às experiências e desafios enfrentados pelas mulheres em diferentes contextos, O Velho da Horta do Grupo Mamulengo Só-Riso (28/09) traz o humor e a tradição dos bonecos para o palco.

O infantil Brincando no Escuro, da Maktub Teatro e Outras Invencionices (PE), será apresentado em várias sessões no Teatro João Lyra Filho. A peça conta a história de três crianças – Frida, Ziggy e Pingo – que se encontram para brincar quando ocorre uma falta de energia. Sem acesso a aparelhos eletrônicos, elas são desafiadas a usar a imaginação, resgatando brincadeiras tradicionais.

Ações Formativas

Além das apresentações teatrais, o FETEAG 2024 promove ações formativas. A mesa Diálogos Transversais: Confabulando o Agora Para Mirar no Amanhã, uma iniciativa que promete instigar reflexões sobre o cenário artístico contemporâneo. Esta discussão contará com a palestra da Hblynda Morais, de Pernambuco, e a participação especial de Renata Carvalho, de São Paulo, sob a mediação de Lucimary Passos, também pernambucana.

Além disso, Alexandre Américo, do Rio Grande do Norte, conduzirá uma oficina de montagem do espetáculo Sal: Como durar o tempo, que culminará com os participantes subindo ao palco para apresentar o resultado do trabalho.

Espaços e Ingressos

Os espetáculos em Caruaru serão realizados no Teatro Lycio Neves, Teatro Rui Limeira Rosal, Teatro João Lyra Filho e na Estação Ferroviária. Em Recife, as apresentações ocorrem no Teatro de Santa Isabel e no Teatro Hermilo Borba Filho. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados através da plataforma Sympla, sujeitos à lotação dos espaços.

Patrocínio e Apoio

O FETEAG 2024 conta com o patrocínio da Redecard Itaú e o incentivo da Lei Paulo Gustavo Pernambuco, através do Governo do Estado de Pernambuco e Secretaria de Cultura do Estado, direcionado pelo Ministério da Cultura – Governo Federal. O festival também recebe apoio cultural da Rede Asa Branca e apoio institucional do Consulado Geral da França no Recife, Institut Français, Sesc, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Artes e Comunicação (CAC), Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Secretaria de Cultura do Recife e Prefeitura do Recife.

Serviço

  • Período: 17 a 29 de setembro de 2024
  • Locais: Caruaru (Teatro Lycio Neves, Teatro Rui Limeira Rosal, Teatro João Lyra Filho e Estação Ferroviária) e Recife (Teatro de Santa Isabel e Teatro Hermilo Borba Filho)
  • Ingressos: Gratuitos, com retirada na Sympla (sujeitos à lotação dos espaços)
  • Informações: www.feteag.com.br e @feteag (Instagram)
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Espetáculo Noite escava os escombros da memória

 

Zuleika Ferreira, Márica Luz e arinë Ordonio, elenco da montagem Noite. Foto: Morgana Narjara / Divulgação

O espetáculo Noite, dirigido por Claudio Lira e baseado no texto de Ronaldo Correia de Brito, faz sua estreia nesta sexta-feira (12/07), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, dentro da programação da Semana Hermilo. A peça aborda os escombros da memória de duas irmãs idosas, Mariana (interpretada por Zuleika Ferreira) e Otília (interpretada por Márcia Luz), que vivem confinadas em um casarão decadente transformado em museu pela própria família. Enquanto as duas se confundem com as antiguidades expostas, sua sobrinha, interpretada por Karinë Ordonio, é o único elo que as liga ao presente. Próximo à casa, um casal de namorados se jogou na represa, e caminhões e escavadeiras varam a noite à procura dos corpos. Essa situação evoca as memórias das irmãs, enquanto resíduos de afetos do passado voltam à tona e elas refletem sobre seus valores, família e amores, desenhando nas ruínas dessas lembranças possíveis de um outro futuro.

Ronaldo Correia de Brito, autor do texto, compartilha em seu Facebook: “Duas irmãs se movem numa casa em ruínas. Sentem-se acuadas pelas lembranças do passado. Em torno delas, tratores cavam a terra para a construção de uma adutora. As máquinas remexem fantasmas da família numerosa, com seus vivos e mortos. Mariana e Otília, velhas sobreviventes, confundem-se com as tralhas da casa transformada em museu. A tarde entra pela noite. ‘Noite’ é o primeiro conto do meu livro O amor das sombras. Foi o último da coletânea a ser escrito. Eu tinha um enredo que me parecia bom, mas faltava um desfecho para a trama. Não posso revelar qual era, vocês descobrirão assistindo à encenação dessa peça, cuja dramaturgia escrevi a pedido do diretor Claudio Lira e da atriz Márcia Luz.”

O autor continua: “Às vezes acompanho a encenação dos meus textos, mas dessa vez deixei-o entregue aos artistas da equipe, conhecidos e consagrados. Fui apenas à primeira leitura, o suficiente para convencer-me de que Zuleika Ferreira, Márcia Luz e Karine Ordonio me surpreenderiam dando vida às mulheres que criei, todas elas carregadas de paixão e sofrimento. Esperei anos que a encenação se viabilizasse, sou testemunha da luta para se conseguir patrocínio e fazer arte em nossa cidade. Mas aí está Noite, um espetáculo assombroso, cheio de nuances e sombras, uma montagem tchekhoviana comovente, um respiro de teatro em meio a tantos musicais.”

Depois da estreia, a peça contará com uma breve temporada ainda neste mês de julho, aos sábados e domingos, de 20 a 28. Os ingressos para hoje são gratuitos, com retirada antecipada. A montagem é uma produção da Luz Criativa.

Márcia Cruz e Zuleika Ferreira. Foto: Divulgação

Produção: Luz Criativa
Elenco: Zuleika Ferreira, Márcia Luz, Karinë Ordonio
Direção: Claudio Lira
Texto: Ronaldo Correia de Brito

SERVIÇO

Estreia na programação da 21ª Semana Hermilo Borba Filho
Sexta, 12/julho, 20h 
Teatro Hermilo Borba Filho
Ingressos GRATUITOS – retirada na bilheteria 1h antes da sessão
Temporada no Teatro Hermilo Borba Filho
R$ 40 (inteira)/ R$ 20 (meia) – compra na bilheteria do teatro
Sábado, 20/07, 20h
Domingo, 21/07, 18h
Sexta, 26/07, 20h
Sábado, 27/07, 20h
Domingo, 28/07, 18h

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Todo texto é salvo quando é lido
Resenha da leitura dramática A Pedra do Navio
Por Sidney Rocha*

João Augusto Lira, Márcia Luz e Paulo de Pontes. Foto: Alexandre Sampaio / Divulgação

Atores leem peça de João Denys. Foto: Alexandre Sampaio / Divulgação

O texto e o contexto

João Denys escreveu A Pedra do Navio em 1979. O texto pode ser “lido” em separado, mas faz parte de uma trilogia, do Seridó, e João Denys dedicou boas décadas a esse trabalho.

Em 2007, o texto foi re-escrito e publicado na Antologia do teatro nordestino (Fundação José Augusto) e penso ser sobre essa versão que Conexão 3×4 artes & atos trabalhou a leitura dramatizada, ontem, dia 8 de junho de 2022, no Teatro Luiz Mendonça, no Recife.

Em 1979, ainda sob a ditadura, era comum, só a um passo a menos do obrigatório, no Nordeste, o texto teatral ter algo das teorias de Bertolt Brecht ou do cinema de Glauber Rocha. Da estética da seca e da fome. A Pedra do Navio se ancorava nessas vozes, tanto quanto em teorias marxistas, comunistas, sertanistas, bem ou mal digeridas por quem as encenasse ou assistisse, além de ainda ventilar um pouco da estética do romance de 30 e do modernismo que, de algum modo, terminaram por paradoxalmente atrasar a modernização do palco no Brasil.

O texto é, portanto, seu próprio contexto. Onde certo datismo não o reduz. Talvez o didatismo, a estética da manifestação, sim.

Vivia-se por aqui, na literatura, no cinema, no teatro, (não sei na pintura, mas logo falaremos dela) o máximo da ideia tosca do “resgate” cultural.

Mas, nesse ponto dos “ares de manifesto”, expressão de Alfredo Bosi, o teatro vence a literatura daqueles fins dos anos 1970, onde há bons textos, porém a dramaturgia teatral dessa época, no Nordeste, é menos ensaística ou retórica.

Vemos, hoje, de novo, um descambo dessa literatura para o discurso. O discurso pelo discurso. De novo com exceções.

Pois bem: A Pedra do Navio é mais social que sociológico. No texto, o nordestino deixa de ser resultado de um determinismo biológico, algo eugenista, para ser definido, e isso também significa “reduzido”, por um determinismo social. Eis o drama.

Já a trama começa quando um ônibus atropela a procissão de Nossa Senhora, lá em Currais Novos. Está montada em tipos populares como beatas, pedintes-pidões cegos, pagadores de promessas, padres interesseiros, crentes, viúvas, trabalhadores, príncipes e princesas do sertão mágico.

Pode-se pensar que o dramaturgo buscou criar uma atmosfera geral para contar o verdadeiro mundo dos trabalhadores, do povo oprimido por Deus e pelos “desembargadores” do capitalismo, sob a alegoria da conscientização. Pensar numa urdidura dessas salvará o texto. Mas o texto não precisa de nossas senhoras nem de salvação.

A leitura é sempre aberta. Todo texto é salvo, e só é salvo, quando é lido. O resto é opinião.

Em A Pedra do Navio faltam personagens mais definidos. E o dramaturgo sabe criá-los. Mas, e não preciso defender o texto, Denys talvez tenha preferido essa ideia mais diluída, de personagens como uma hidrameba. Ou esses tipos se escondem nas coxias de seus dramas particulares para poder melhor aparecer a viúva Teodora, heroína morta a tiros pelos donos da mineradora e, depois, tomada por santa pelo povo, outro tópos do imaginário nordestino.

Aqui há nome a se considerar no contexto, que o Conexão 3×4… pode ressuscitar em suas leituras dramatizadas: o paraibano Altimar Pimentel. Ele escreveu a peça Flor do campo, encenada em 1987. O texto traz relações claras com o assassinato da líder sindical Margarida Maria Alves, também por um tiro, por conta de sua luta pela reforma agrária, ao lado dos trabalhadores do campo. Esse feminicídio ocorreu em 1983. João Denys, como poeta, foi aí, portanto, algo profético com sua Teodora?

Rinaldo Silva, Márcia Luz, Breno Melo Paulo de Pontes, João Augusto Lira e Jeims Duarte 

A leitura

Em Conexão 3×4: artes e atos, as atrizes Augusta Ferraz e Márcia Luz e os atores João Augusto Lira e Paulo de Pontes montaram leituras dramatizadas, no Recife. Dali surgiram As Cadeiras, de Ionesco, de A História do Zoológico de Edward Albee, Fala Baixo Senão Eu Grito de Leilah Assumpção a essa A Pedra do Navio, de João Denys. Em todos, a meu ver, outra conexão, algo que me interessa muito: o teatro de texto.

Outras relações: o zoo do norte-americano Albee e as cadeiras do romeno-francês Ionesco são do tutano do Teatro do Absurdo, coisa do fim dos anos 1950. Fala baixo…, da paulista Leilah Assumpção, tem o tom confessional, íntimo, talvez mais ao gênero pictórico chamado de conversação, no drama de duas personagens (como ocorre também em As Cadeiras).

E, então vem A Pedra…, do potiguar João Denys, o mais coletivo deles. E, penso, o mais difícil de se “ler”. João Denys, diretor e cenógrafo, constrói sua cena a partir de luz e cenário muito peculiares. As cenas têm interrupções bem arbitrárias. Algumas ocorrem simultaneamente. A estrutura do texto lembra a montagem e linguagem do cinema, com indicações de luz, cortes, fade out, fade in, split screen.

Por isso, flora e zoo de João Denys exigem mais do elenco: leitores & leitoras.

O segredo da leitura (branca, dramatizada) é sempre o tom. Pouca gente saber ler bem um texto. No teatro, quando a leitura dramatizada faz brilhar mais a dramatização que o texto ele-mesmo, isso pode ser um problema, a depender da exigência da plateia.

Por conta dessa estrutura do texto, do grande número de personagens vividos por três vozes no palco, das simultaneidades, das características dos personagens, repito: tipos, em A Pedra…, o elenco teve de se esforçar muito para esses tipos não descambarem ao mundo da caricatura, especialmente na cena da feira.

Em apresentações assim, o improviso pode se tornar um pesadelo.

E se o elenco se deixar enganar pela reação da plateia, fica sujeito a aumentar mais ainda o tom e exagerar na dramatização e, daí, para a caricaturização é um passo. Nas falas-rezas, nos trechos chupados das missas e das ave-marias, faltou melhor afinação e o uníssono funcionaria mais.

Em alguns momentos, numa das velhas de Lira, no cordelista e no americano (com sotaque algo turco), de Paulo, e na Teodora e sua boneca, de Márcia, isso se pré-anuncia.

Porém, o espetáculo tem rigor próprio, atores e atrizes têm muita estrada e conseguem estabelecer essa conexão do autor com seu texto, do texto com o ouvinte e a direção respeita cada uma dessas dicções. Não vi as outras leituras, embora conheça o texto de maioria, mas esse comentário servirá para as demais experiências dessa temporada de Conexão 3×4…, creio.

E sei que João Denys gostaria de ter visto a apresentação.

O extratexto: a imagem

Esses vários intradiscursos, intratextos, intercontextos, digamos, contribuem para justificar a intenção do grupo em ligar textos e imagens, que são discursos, também. A filósofa, psicanalista, feminista Julia Kristeva já disse bem: “Todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto.”

Uma leitura é uma transformação, antes de tudo. E absorção. Ler é abstrair, adicionar e subtrair.

O Conexão 3×4: artes e atos trouxe obras de Rinaldo Silva, Breno Melo e Jeims Duarte para o palco. E sua relação com o texto de João Denys é precisa como um GPS. Elas criam um tipo de cenografia fantasmagórica para o espetáculo. Isso é bom.

O artista e escritor Breno Melo termina por nos apresentar uma tela onde se desfiguram personagens dos Currais Novos (bem velhos) do mundo. Não sei se foi a intenção, mas a pintura de Breno Melo me fez apontar para as figuras de Vicente do Rego Monteiro e me fez projetar no tempo Retirantes, o quadro de Candido Portinari. Se aquelas figuras de Portinari têm um futuro, ele está na esqueletaria pintada por Breno Melo. A “cena” se conecta bem com o contexto da peça, dos mineradores, dos explorados, do povo, que o poder atropela todos os dias.

Rinaldo Silva se apossa do verde-amarelo para sua bandeira sangrada à faca e pisoteada de coturnos para se ligar ao texto justo nos momentos de intenções políticas mais claras, quando alguém confunde a luta por direitos como “coisa de comunista”, sintoma brasileiro bem atual.

Jeims Duarte, artista e pesquisador, oferece uma atmosfera mais mitológica. Para colocar luzes nas pedintes-cegas da feira, mas também no povo cego e para trazer alguma metáfora com a justiça, o artista apresenta seu desenho Tirésias, personagem também frequente no teatro surrealista, cujo mito tanto está ligado à sexualidade quanto à capacidade de profetizar.

E a peça de João Denys tem algo de profético, no que profetiza e mostra no “Hontem”. Basta ver a relação da tragédia da peça com as tragédias recentes do Recife, das chuvas. Da “realeza” visitando as vítimas. E de como a culpa, aqui e no texto, termina sendo sempre da vítima. 

Foi bom sair de casa para ver a leitura. Ainda estou confuso ao ver os rostos alguns sem máscaras, no teatro real, e me equivoquei com uma fisionomia ou outra.

Ao final, fiquei por ali, sentado, esperando o debate. Mania da minha geração. Talvez a interação entre artes plásticas e artes cênicas pudesse aparecer melhor na voz desses outros leitores, os pintores.

Mas depois notei que o milagre já acontecera. Trazer aquele espetáculo foi essa prova.

Tomo a liberdade, aqui, de ampliar a campanha do pix solidário.

Mande um para a chave 81 999697145, da produção. O valor fica a seu critério.

A temporada se encerrou ontem, mas creia em mim, vale mesmo ainda contribuir com esse trabalho.

* Sidney Rocha é escritor. 

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