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Na vertigem do real em 900 frases

Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases. Fotos: Rogério Alves/divulgação

“Certa vez ouvi de Roberto Alvim que ele só faz o teatro que faz porque está em São Paulo. Porque lá tem público para esse tipo de teatro – cabeção, hermético, contemporâneo pra caralho”, lembra o diretor Rodrigo Dourado. Depois de montar em 2009 um fracasso de público e, segundo ele mesmo, de crítica também – o texto Chat, do venezuelano Gustavo Ott -, Rodrigo Dourado decidiu que queria agradar o público pernambucano. Mas sem desagradar a si mesmo. Primeiro, precisava de um espetáculo mais intimista – dois atores, de preferência – para que ele pudesse realmente se debruçar sob o trabalho do intérprete. Foi quando Dourado, que adora cascavilhar textos contemporâneos; tem mais de 200 no computador, descobriu Les drôles (algo como ‘os engraçados’).

O texto é da francesa Elizabeth Mazev e é autobiográfico; conta a história dela, que é atriz e dramaturga, e de Olivier Py, também ator, dramaturgo e diretor. Os dois cresceram juntos, viveram as mais diversas experiências, se apaixonaram pelo teatro na mesma época. A escrita, no entanto, não é tradicional. Ou ao menos não era na época em que o texto foi escrito – quando o Twitter e os seus 140 caracteres ainda não faziam parte da nossa vida. A história não tem personagens tradicionais. São frases narrativas, na terceira pessoa; como um diário. Tanto é que Rodrigo enfatiza que poderia ter montado com vários atores.

Quando foi fazer a tradução, o diretor se deparou com um desafio que marcou os rumos que tomaram a encenação: havia muitas referências à França dos anos 1970 e 80. Nomes de programas de tv, por exemplo. Foi aí que a memória – que já estava no espetáculo, claro, porque o texto é autobiográfico – e a mistura entre realidade e ficção se espalharam de forma irrevogável.

É assim que quem for conferir o espetáculo vai conhecer não só a história de Olivier e Lili; mas também a de Leidson Ferraz e Fátima Pontes. É o que Rodrigo chama de “vertigem do real e do ficcional”. Para problematizar – não sei se essa seria a melhor palavra, já que o espetáculo é leve – ainda mais, o diretor decidiu colocar em cena, através do vídeo, Olivier e Lili, ‘os verdadeiros’. Foi um processo de amadurecimento para os atores; de esquadrinhar as próprias histórias. Para Leidson uma mudança marcante: pintou os cabelos e perdeu a barba. Já Fátima, terá em cena, por exemplo, objetos do pai falecido – e a história de quando o perdeu.

O que era Les drôles virou Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases (no original, na realidade, são mil frases). Leidson Ferraz aposta que a montagem Olivier e Lili vai abocanhar não só o público mais velho, de teatro, que já tem referências do trabalho do trio, mas também um público jovem. É pop, divertido, engraçado – ele faz a propaganda. Sem deixar de lado, claro, a pegada contemporânea e performática que Rodrigo Dourado tanto gosta. Tem tudo pra dar certo.

Espetáculo traz memória, ficção e realidade

Ficha técnica:
Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases
Texto: Elizabeth Mazev
Direção e tradução: Rodrigo Dourado
Dramaturgismo: Wellington Júnior
Preparação de elenco: Marianne Consentino
Videomaker: Márcio Andrade
Iluminação: Játhyles Miranda
Direção musical: Marcelo Sena
Preparação vocal/corpo: Carlos Ferrera
Maquiagem: Gera Cyber
Direção de arte: Júlia Fontes

Serviço:
Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases
Quando: estreia quinta-feira (30). Temporada: de quinta-feira a domingo, às 20h, até 9 de setembro. Depois a temporada dá um intervalo e retoma no dia 26 de setembro, ficando em cartaz de quarta a sexta-feira, às 20h, até 12 de outubro.
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Avenida Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3222-0025

Rodrigo Dourado e os atores de Olivier e Lili

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Auto de Natal com alma brasileira

Baile do menino Deus, no Marco Zero. Foto: Ivana Moura

A ópera popular de rua Baile do Menino Deus – Uma brincadeira de Natal, como define seu dramaturgo e diretor Ronaldo Correia de Brito, é um espetáculo que agrega manifestações nordestinas. Nesta peça Papai Noel não entra não é porque se tenha algo contra o bom velhinho. Mas aqui a história é contada de forma diferente. Estamos também em volta do nascimento de Jesus, e como todos sabem, existia uma ameaça de Herodes de exterminar as crianças menores de dois anos nascidas em Belém ou cercanias. Talvez por isso, os dois Mateus da peça levem tanto tempo para encontrar a casa da santa família e organizar o baile.

A temporada deste ano, na praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, começou na sexta-feira e terminou ontem, sempre o dia mais lotado. Mateus, multiplicado por dois – os atores Arilson Lopes e Sóstenes Vidal, comanda a brincadeira. Os dois convocam muitos personagens para ajudar a encontrar Jesus, José e Maria. Entre eles o Jaraguá, a Burrinha Zabilin, a Ciganinha e o Anjo Bom, a formosa Ciganinha, entre outros.

Montagem reúne quase 150 profissionais

Com 28 anos de estrada e oito anos no Marco Zero, o espetáculo escrito por Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima, ambos cearenses (o primeiro radicado no Recife e o segundo em São Paulo), e o potiguar radicado em Pernambuco, Antônio Madureira, trouxe algumas novidades.

Uma delas é a entrada dos atores Jorge de Paula e da também cantora Renata Rosa, que acompanham os protagonistas na empreitada de encontrar o menino e seus pais. Para contrapor à performance mais exteriorizada dos Mateus eles são investidos da carga poética de Arlequim, entre o terreno e o celestial. Esses dois personagens não têm fala e exercem a função de guia para mostrar o caminho da casa e da celebração. São aparições pontuais, mas bem exploradas e bonitas. Ele anda com um guarda-chuva e ela tira som de uma rabeca (que desafinou algumas vezes, devido ao vento, suponho).

A montagem reúne quase 150 profissionais, inclusive crianças. A assistência de direção é de Quiercles Santana, a direção de arte de Marcondes Lima, com um figurino rico de criatividade. A iluminação de Játhyles Miranda também acrescentou novos efeitos, como personagens luminosos – o Beija Flor e a Borboleta, por exemplo. A trilha sonora é executada ao vivo por uma orquestra de 15 instrumentistas, um coro adulto de 13 cantores (com preparação de José Renato Accioly) e infantil com 12 crianças (com preparação de Célia Oliveira), tudo sob a regência do maestro José Renato Accioly.

Além dos coros, a encenação conta com as participações dos cantores solistas Silvério Pessoa, a linda voz de Virgínia Cavalcanti, Jadiel Gomes e, estreando este ano, Renata Rosa, que também toca rabeca.

O entrosamento, a garrra, o talento e o domínio de palco da dupla Arilson Lopes e Sóstenes Vidal é para se aplaudir de pé. Esses dois Mateus comadam um grupo de crianças que tentam abrir a porta para celebrar o nascimento de Jesus. Sandra Rino e Tatto Medinni, interpretam com serenidade José e Maria.

Tatto Medinni e Sandra Rino

A coreografias também merecem destaque. E os dez bailarinos (Fláira Ferro, Isaac Souza, Inaê Silva, Jáflis Nascimento, José Valdomiro, Marcela Felipe, Renan Ferreira, Rennê Cabral, Gel Lima e Juliana Siqueira), em conjunto reforçam a alegria e a esperança desse baile.

A produção é da Relicário Produções, da produtora Carla Valença, com Patrocínio do Ministério da Cultura, governo do estado de Pernambuco e Prefeitura do Recife.

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Natal grandioso na praça, em Gravatá

Peça natalina tem coreografias aéreas e de solo, projeções e efeitos especiais

O que mais impressiona no espetáculo Sonho da pastorinha Diana (em cartaz no Parque Chucre Mussa Zarzar, em Gravatá, que fica 80 km do Recife) são as evoluções coreográficas aéreas. Com essa técnica, o artista Valerio Festi nos faz ver a pastorinha Diana fugir em seus sonhos do Demo que tenta atrapalhar o Natal de todas as crianças. Mas além dela, bailarinos orbitam em torno da Lua, outros dançam frevo no ar e têm o telão de 15 metros de altura como um grande chão virtual. Três tablados posicionados em lugares estratégicos e 2 guindastes com cabos de aços esticados sobre o pátio de possibilitam imagens oníricas.

Anjos, pastoras, borboleta e um demônio e outros seres sobrevoam as cabeças do público. Maria e José passam entre os espectadores numa grande bolha, protegidos pelo anjo que anuncia a chega do menino-deus. Estrelas são representadas por altíssimas bailarinas com seus vestidos iluminados. E no final do auto de Natal, um Papai Noel magro faz acrobacias e mergulha em meio ao público.

Peça é do artista italiano Valerio Festi com direçãoi da dramaturga italiana Monica Maimone

Além das coreografias aéreas e de solo, projeções e efeitos especiais surpreendem a plateia com uma história que é contada e recontada e cada dá o seu molho. A do renomado artista italiano Valerio Festi dirigido pela dramaturga italiana Monica Maimone, com produção do Studio Festi, vai buscar a origem do pastoril, por volta de 1600 quando um bando de franciscanos tentou importar a tradição do presépio, misturando com as manifestações populares do Nordeste.

Valerio Festi e Monica Maimone pegaram a tradicional personagem da Diana, a intermediária entre os cordões de pastorinhas azul e encarnado, para contar essa história que envolve o mundo dos sonhos, para projetar que o mundo real pode ser melhor.

Além de músicas típicas do período natalino, o repertório traz canções de artistas pernambucanos, a exemplo de Lenine, misturando com a genialidade de Tom Zé, o clássico A estrela Dalva, frevos, e até Então é Natal, na voz de Simone.

A bailariana flutua

Sonho da pastorinha Diana conta a história da menina, a Diana do título, que está ansiosa para abrir os presentes de Natal. Ela nunca viu um presépio e perdeu o significado do Natal. Quer dizer, sem perceber, está mais preocupada com o consumo que marca o período. Ela termina adormecendo e sonha com a história narrada pelo avô sobre o nascimento do menino Jesus.

A atriz de Gravatá, Tallytha Cummys, 20 anos, interpreta a personagem principal.

É um espetáculo grandioso, que agrega cerca de 100 pessoas entre artistas brasileiros e italianos, e técnicos. A empresa reponsável pelo evento, a Studio Festi, há 35 anos cria e produz eventos monumentais em mais de 200 cidades do mundo. Entre outros feitos, Valerio Festi assinou a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Turim; o Campeonato Mundial de Natação, em Roma; a cerimônia de chegada da tocha Olímpica em Macau, na China; e a entrada do solstício de verão em São Petersburgo, na Rússia.

É uma montagem para agradar multidões. E para isso conta com o impacto das imagens, o trabalho coreográfico, no chão e no ar, os personagens e a iluminação de Jathyles Miranda, a empolgação do elenco. Adramaturgia fica menor, em segundo plano.Mas nesse caso, a dança, as interpretações e as imagens arrebatam, mesmo com fio de uma história fraco.

Segundo o blog do João Alberto o espetáculo teve um investimento de 2,5 milhões. Segundo a produção, o contrato assinado pelo governo do estado, em parceria com a prefeitura de Gravatá, e a Studio Festi garante a encenação de fim de ano até 2014. A cada ano, será uma produção diferente. Todas assinadas por Valerio Festi. E ainda de acordo com a produção, Sonhos da pastorinha Diana conta com o patrocínio da Secretaria de Turismo do Estado de Pernambuco e do Banco Bradesco.

A família sagrada numa bolha, protegida por anjos


FICHA TÉCNICA:
Direção Artística: Valerio Festi e Monica Maimone
Dramaturgia: Francesco Fiaschini
Diretor Criativo: Roberto Rebaudengo
Coreografias: Elisa Barrucchieri
Coreografias aéreas: Brigitte Morel e Yves Morotti
Vídeo Projeções: Matthias Schnabel
Diretor Musical: Gianni Morelenbaum Gualberto
Diretor de produção: Alessandra Rossetti
Produção: Ione Alves
Coordenação artística: Davide Veneri e Serena Martucci
Diretora de marketing: Isabela Sanchez
Direção Técnica: Daniele Cappelletti con Gabriele Dall’Osto
Iluminador: Jathyles Miranda
Coreógrafos assistentes: Wanderson José e Rosivânia Pereira
Cenógrafos: Giorgio Regina e Sarita Sassi
Figurinista: Nilson Lourenço
Roteirista: Maria Cristina De França Rocha
Atores: Tallyta Cumys (Diana) e José Martins (Velho)
Artistas: Brigitte Morel, Yves Morotti, Annabelle Kern, Serge Helias, Bruno Uytterhaeghe, Yannick Bastian, , Beatriz Soares dos Santos; Bruna Raphaela Nascimento Silva; Carla Danielle Lima Medeiros; Cintia Michele; Cirlanny do Nascimento Silva; Daffany Luana dos Santos; David Willyam; Flavia Campos da Silva; Francisco Pedro da Silva; Hewerson Batista de Oliveira; Iracele Gomes da Silva; Isabel Lùlia; Jéssica Nayara Lima; Jonathan Anderson; Luis Martins de Oliveira; Maria Ione; Meury Kelme; Leonardo Pereira da Silva; Maisa Batista Cavalcanti de Almeida; Rafaela Maria de Medeiros; Rosalba Pereira da Silva; Sheila Tavares Leite Soares; Wanderson José.
Técnicos: Lorenzo Cappelletti, Ludovico Pignatti, Karim Galo, Francesco Panelli, Giacomo Malvezzi, Daniele Rosone, Andrea Bertoli.

SERVIÇO:
Sonhos da Pastorinha Diana
Quandoi: Última apresentação, às 19h (domingo, 25/12)
Duração: 90 min.
Classificação livre
Entrada franca
Onde: Parque Chucre Mussa Zarzar
Avenida Joaquim Didier, S/N. – Gravatá – PE

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