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PEBA borra fronteiras em dança festiva

Foto: Saluá Oliveira / Divulgação

Bailarina e performer Iara Sales e o músico-performer Tonlin Cheng encerram temporada. Foto: Saluá Oliveira 

Peba é uma gíria de sonoridade engraçada e que quer dizer algo sem qualidade ou de baixa qualificação, precário, produto barato. Mas também se aplica aos humanos. É apontada como a junção das sigas dos estados de Pernambuco e Bahia. Em tupi-guarani significa nanico, curto das pernas. PEBA é o espetáculo com a bailarina e performer Iara Sales e o músico-performer Tonlin Cheng que transita entre brincadeiras, folguedos de ruas e festas populares do Nordeste. A peça faz uma apresentação extra no Recife neste dia 29 de novembro, às 19h, na sede da Compassos Cia de Dança no Bairro do Recife,  dentro do projeto Dança de Algibeira, da Compassos.

A proposta entre performance e arquitetura sonora tem dramaturgia assinada por Iara Sales e Sérgio Andrade e reflete sobre a dança como um espaço de debate, que traça provocações críticas sobre as noções de fronteira, de identidades, de cultura popular e de cultura de massa, de espaço individual e de espaço coletivo. Ergue uma zona de convergência entre elementos da cultura popular e pulsão inventiva da dança contemporânea.

Para fazer o elogio à fuleiragem como força de criação, quebra com dicotomias e investiga o que há de artesanal, grotesco e despretensioso no corpo brincante que escapa a enquadramentos de mercado.

PEBA irradia a liberdade de um corpo que sofreu muitas influências, mas não se dobra a uma única técnica. Absorve muitas, reprocessa as que convém e subverte seus artifícios para criar uma dança sua. De um corpo brincante e festivo, que aglutina traços de capoeira e do frevo, do samba de roda e do cavalo-marinho, do trio elétrico baiano e dos blocos de rua pernambucanos.

Lara Perl / Labfot

Tonlin Cheng. Foto: Lara Perl / Labfot

A trilha sonora original do projeto é assinada por Tonlin Cheng e é executada pelo princípio “live P.A” (Performance Artist), que emprega peças musicais, improvisação e composição ao vivo. O som inclui experimentações eletroacústicas, batidas, samplers e citações incidentais de charangas, tecnobregas, sambas, axé, MPB, dentre outras músicas que contribuem com o humor festivo e lírico do espetáculo.

peba. Foto: Lara Per -labfoto

Memórias de Iara Sales são processadas no espetáculo. Foto: Lara Per -labfoto

Essa brincante-errante problematiza as danças populares articuladas com suas memórias e suas pesquisas. Iara Sales joga, no sentido dinâmico, com gestualidades, territórios e subjetividades. PEBA se desloca entre fronteiras que se distinguem e se dissolvem. Nesse trânsito, os territórios identitários, mitos, desejos e afetos se carnalizam em gestos expostos nessa dança que se pretende ordinária, embora carregue alto teor de sofisticação.

O público se distribui de forma desorganizada. As “andadas” ocorrem em fluxos sem regras aparentes. Iara empurra os presentes para dentro de sua folia e eles se tornam participantes dessa brincadeira em que leves toques e suores são combustíveis para movimentos que oscilam entre pertencimento e estranhamento da tradição.

O gatilho desse trabalho foi a explosão de um botijão de gás, que interrompeu a brincadeira de um carnaval, e deixou marcas na pele de Iara Sales. Essa memória autobiográfica de 1999 impulsionou a pesquisa.

PEBA começou como projeto de investigação artística que se desdobrou em espetáculo, catálogo (livro-objeto), seminários, oficinas, temporada itinerante – 2015 (pela região metropolitana do Recife) e circulação nacional. Foi contemplado por editais regionais de Pesquisa em Dança – FUNDARPE/FUNCULTURA (2012) e de Manutenção de Temporada – FUNDARPE/FUNCULTURA (2014), pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2015, na categoria circulação nacional de espetáculos. 

Lara Perl /Labfoto

Artista desafia fronteiras. Foto: Lara Perl /Labfoto

SERVIÇO:
Espetáculo PEBA
Quando: 29 de novembro, 19h.
Onde: Espaço Compassos (Rua da Moeda, 93 – Recife Antigo).
Programação livre e gratuita.
Duração: 40 min aprox.

FICHA TÉCNICA
Concepção e performance: Iara Sales.
Trilha sonora original, arquitetura e performance: Tonlin Cheng.
Direção Artística: Sérgio Andrade.
Dramaturgia: Iara Sales e Sérgio Andrade.
Gambiarras, instalações e objetos cênicos: Tonlin Cheng.
Figurino: Iara Sales e Maria Agrelli.

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A brincante-errante joga com memórias e subjetividades

Iara Sales em PEBA. Foto: Renata Pires

Iara Sales em PEBA. Foto: Renata Pires

Andanças, cicatrizes e memórias compartilhadas da bailarina e performer Iara Sales e do músico-performer Tonlin Cheng e Sérgio Andrade (RJ/BA), dramaturgista e diretor da obra, são inspirações do espetáculo Peba. A encenação começa sua temporada itinerante com duas apresentações, hoje e amanhã, às 18h, na Galeria Capibaribe, no Centro de Arte e Comunicação. As sessões encerram a programação do projeto Solo no CAC, da Universidade Federal de Pernambuco. A temporada soma 12 exibições, contando com a realização do seminário Fuleiragens na fronteira, marcado para setembro, também na UFPE. Também estão agendadas duas apresentações nos dias 26 e 28 de agosto, no Daruê Malungo, durante a 25ª Semana Afro.

Uma coisa “peba”, nas gírias entre Pernambuco e Bahia, é algo precário ou de baixa qualidade, como um produto de fabricação ruim e barata, mas que resolve provisoriamente uma demanda emergente. Ao adotar esse nome, a produção de Peba faz emergir uma fuleiragem boa, uma proposta entre dança, performance e arquitetura sonora montadas a partir de amarrações, gambiarras, reaproveitamento de caixas de som e outros objetos rearranjáveis em cada espaço.

O espetáculo transita entre corporeidade, folguedos e festas de rua dos estados de Pernambuco (PE) e Bahia (BA). A explosão de um botijão de gás está cravada nas cicatrizes desenhadas na pele de Iara Sales, que redirecionou a pesquisa. Peba fala de trânsito e transitoriedade de fronteiras.

“Nesse ir e vir fui intensificando meu olhar sobre o corpo brincante, suas festas, seus modos de mover-se e organizar-se. Percebi relações entre a capoeira e o frevo, samba de roda e cavalo-marinho, o trio elétrico baiano e os blocos de rua pernambucanos, entre outros pontos de convergências e singularidades que formam as identidades locais. Foi nesse entremanifestações culturais que passei a mergulhar nos elementos do corpo festivo, me entendendo como uma brincante-errante que joga com gestualidades, territórios, memórias e subjetividades. Foi no trânsito entre danças, cidades e estudos que vivi experiências impulsionadoras dessa pesquisa, na busca por problematizar referenciais sobre as chamadas Danças Populares”, conta Iara Sales.

FICHA TÉCNICA:
Espetáculo Peba
Concepção e performance: Iara Sales
Trilha, arquitetura sonora e performance: Tonlin Cheng
Citações musicais: Assanhado, de Ramiro Musotto; Lavagem de São Bartolomeu, da Orquestra Popular de Maragogipe.
Dramaturgia: Iara Sales e Sérgio Andrade
Direção Artística: Sérgio Andrade
Assessoria artística e preparação corporal: Gabriela Santana
Gambiarras, instalações e objetos cênicos: Tonlin Cheng
Figurino: Iara Sales e Maria Agrelli
Dramaturgista ao longo do projeto PEBA: transmutações
do corpo brincante entre Pernambuco e Bahia: Sérgio Andrade
Duração: 40 min
Classificação: Livre

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