Arquivo da tag: Feteag

Recife intensifica calendário cultural
com programação internacional

Germaine Acogny encerra dois festivais simultâneos, Foto: Thomas Dorn

O último terço do ano confirma a vocação do Recife como palco de experiências cênicas diversificadas. Nos próximos dias a cidade recebe simultaneamente festivais consolidados e estreias nacionais, criando densidade artística que atravessa teatros, parques e espaços alternativos. A programação reúne desde a presença singular de Germaine Acogny, figura seminal da dança contemporânea africana, até companhias europeias que investigam novas possibilidades do circo contemporâneo.

Aos 81 anos, Germaine Acogny chega ao Teatro Santa Isabel como ponto de convergência entre o Festival Internacional de Dança do Recife e o Festival de Teatro do Agreste – Feteag. Fundadora da École des Sables no Senegal, considerada a mais importante escola de dança contemporânea da África, ela desenvolveu metodologia própria que associa técnicas tradicionais senegalesas com formação moderna adquirida em Nova York nos anos 1970.

À un endroit du début surge como síntese autobiográfica onde Acogny revisita suas origens através do prisma da tragédia grega. A montagem, criada em colaboração com o diretor franco-alemão Mikaël Serre, conecta as palavras proféticas de sua avó, a sacerdotisa Aloopho, com o sofrimento de Medeia. A dramaturgia corporal e os elementos cênicos incluem projeções que potencializam a gestualidade ancestral, criando diálogo temporal entre cosmogonia iorubá e dramaturgia clássica ocidental. Ganhadora do Leão de Ouro na Bienal de Dança de Veneza em 2021, Acogny transforma o palco em território onde sua técnica singular ganha dimensão ritualística.

Antes da chegada da mestre senegalesa, o Festival de Dança do Recife apresenta criações que exploram identidade e ancestralidade através da corporeidade. Orun Santana desenvolve em “Orunmilá” um paralelo poético entre sua identidade pessoal e a divindade iorubá da sabedoria e adivinhação. O espetáculo incorpora o jogo de búzios como elemento dramatúrgico, encarnando figuras diferentes e construindo caminhos para lidar com o tempo em seu caráter espiralar, conectando-se à pesquisa do artista sobre A ancestralidade do presente.

Na mesma linha investigativa, Marcos Teófilo questiona expectativas sociais em Para Expectativa Somente Desvios, utilizando narrativas corporais complexas que propõem caminhos alternativos através do movimento. Enquanto isso, a Batalha da Escadaria no Compaz Eduardo Campos reúne vertentes da cultura urbana metropolitana: Serafin’s Company mistura afrobeats com hip hop local, criando sonoridade que reflete a diversidade cultural da região; a Batalha de All Style reúne dançarinos de diferentes vertentes; e o Baile Charme manifesta a cultura de rua que mescla dança, música e sociabilidade urbana.

Paralelamente, o Feteag 2025 examina questões contemporâneas através de obras que interrogam estruturas sociais. Bolor, de Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi, emprega fungos como protagonistas metafóricos de processos de decomposição e renascimento, confrontando diretamente a mitologia freyreana do açúcar. A criação expõe a violência estrutural da plantation açucareira através de estética que valoriza redes subterrâneas de resistência, dialogando com pensadores como Malcom Ferdinand e Anna Tsing para imaginar futuros decoloniais.

Nessa perspectiva crítica, Les Sans (Os sem), do coletivo Les Récréâtrales-ELAN de Burkina Faso, adapta o pensamento de Frantz Fanon para o teatro através do reencontro de dois ex-companheiros de luta. Ali Kiswinsida Ouédraogo explora o conflito entre Franck e Tiibo, onde um mantém ideais de transformação social enquanto o outro foi cooptado pelo sistema que combatiam, interrogando as limitações da independência burkinabê e questionando se a libertação formal constitui verdadeira descolonização.

Cia Etc reflete sobre as pulsões contemporâneas com O Tempo das Lebres. Foto: Divulgação

Enquanto os festivais investem em questões identitárias e pós-coloniais, a Cia. Etc. celebra 25 anos de trajetória com uma reflexão sobre o tempo contemporâneo. O Tempo das Lebres, investigação artística iniciada em 2019 e inspirada no livro homônimo do filósofo José Antônio Feitosa Apolinário, nasce da urgência de examinar o estado contemporâneo onde pressa e produtividade atingem níveis que empurram o mundo a um estado permanente de exaustão, ansiedade e desconexão, mesmo após a crise provocada pela pandemia.

A estética techno atravessa a montagem, reforçando a pulsação frenética das cidades e das telas presentes na sociedade contemporânea. Dirigida por Marcelo Sena e Filipe Marcena, a obra questiona o culto à velocidade e pergunta sobre o que acontece com quem não acompanha o ritmo imposto. Nesse contexto, a escolha do estúdio da TV Universitária como espaço cênico permite mesclar linguagens da dança, performance, audiovisual, instalação e música, criando imersão inédita onde o audiovisual torna-se parte essencial dos processos de aceleração tecnológica.

Importante destacar que a acessibilidade integra a dramaturgia: audiodescritoras caminham junto ao público composto por pessoas cegas e com baixa visão, narrando cada cena em tempo real no pé do ouvido. Essa escolhas técnica dialoga com as apresentações que sucedem uma série de performances urbanas que serviram como laboratório criativo – Tempo Morto, Fast Foda, Escape e Memória do Mundo – intervenções que discutiram corpo, ritmo e desconforto em espaços públicos.

Experimentações Autorais no Espaço O Poste

Luanda Ruanda – histórias africanas. Foto: Tatá Costa

Fabíola Nansurê em Barro Mulher

Negaça

Em outro território de criação, o Espaço O Poste funciona como laboratório de produções autorais que desenvolvem pesquisas continuadas sobre identidade, memória e resistência. Nessa programação curada, Fabíola Nansurê, reconhecida por suas pesquisas sobre corpo e território, constrói em Barro Mulher uma dramaturgia sensorial que utiliza barro como elemento cênico central. A obra explora texturas, plasticidade e simbolismo do material para questionar padrões estéticos e sociais impostos aos corpos femininos, propondo reflexão sobre resistência, autoconhecimento e reconexão com elementos primordiais da natureza.

A encenação dialoga com tradições ceramistas nordestinas e práticas rituais ancestrais, criando pontes entre saberes populares e linguagem cênica contemporânea. Essa mesma busca por conectar tradições e contemporaneidade aparece em Luanda Ruanda: Histórias Africanas, onde Stephany Metódio, especializada em culturas africanas e afro-brasileiras, apresenta experiência que resgata narrativas africanas através de contação que conecta tradições orais do continente com experiências da diáspora no Brasil.

A artista desenvolve dramaturgia que articula contos tradicionais de diferentes regiões da África com reflexões sobre identidade, pertencimento e resistência cultural, utilizando música, dança e elementos visuais para criar atmosfera que transporta o público para universos narrativos ricos em simbolismo e ensinamentos ancestrais. A montagem possui relevância educativa e cultural, funcionando como instrumento de valorização da herança africana e combate ao racismo através da arte. Contemplado três vezes pelo Funcultura-PE, o espetáculo já percorreu mais de 15 comunidades quilombolas e foi vencedor do Prêmio Pernalonga de Teatro 2024 na categoria Teatro para Infância.

Fechando essa trilogia de investigações identitárias, Urubatan Miranda encerra a programação mensal com Negaça, solo que explora construções de masculinidade no contexto nordestino através de autobiografia cênica que articula memória pessoal com questões coletivas sobre identidade de gênero e afetividade. O trabalho questiona estereótipos sobre homens nordestinos, explorando sensibilidades, vulnerabilidades e formas de amar que escapam aos padrões heteronormativos dominantes, utilizando humor, poesia e crítica social para desconstruir imagens cristalizadas sobre masculinidade sertaneja.

Diálogo Entre Arte e Ciência

Frankinh@ em cartaz na Caixa Cultural Recife. Foto vilmar carvalho

Transitando para um território conceitual diferente, o Coletivo Gompa apresenta na CAIXA Cultural temporada dupla que coloca arte em diálogo direto com ciência, biologia, literatura e física. Frankinh@, vencedor do Prêmio SESC de Artes Cênicas e já apresentado em 18 cidades brasileiras, além de Rússia e Cuba, mescla narração, teatro, dança, artes visuais e trilha sonora original para reinventar a primeira obra de ficção científica da história.

A montagem busca despertar o imaginário infantil e sua capacidade criativa através da história de Victor Frankenstein, jovem esquisito e solitário que acaba criando alguém para lhe fazer companhia, desafiando os limites da ciência. A Criatura não sai exatamente como planejado, ensinando Victor a lidar com surpresas e transformações.

Em contrapartida, a versão adulta Frankenstein revisita o clássico de Mary Shelley com olhar contemporâneo, criando paralelos entre corpo feminino e Amazônia, explorando questões como pertencimento, violência e identidade. No palco, os bailarinos Fabiane Severo e Alexsander Vidaleti dão vida às vozes de Sandra Dani e Elcio Rossini, em encenação que combina textos, cenário, figurinos e iluminação com narrativa decolonial. A trilha sonora, assinada por Álvaro Rosa Costa, é manipulada ao vivo buscando criar “dissonância Frankenstein”, unindo samples, ruídos e improvisações.

Sonho Encantado de Cordel – O Musical é inspirado no enredo da Escola Imperatriz Leopoldinense 

No circuito dos grandes espetáculos, Sonho Encantado de Cordel – O Musical se apresenta como uma das mais ambiciosas produções teatrais da temporada. O espetáculo, inspirado no enredo Uma Delirante Confusão Fabulística de 2005, criado por Rosa Magalhães para a Imperatriz Leopoldinense em homenagem ao centenário de Hans Christian Andersen, funde elementos da cultura nordestina com o universo dos contos de fadas dinamarqueses.

A produção de Thereza Falcão conta com mais de 10 cenários e 50 figurinos criados pela carnavalesca Rosa Magalhães – obra póstuma da artista, que faleceu em julho deste ano aos 77 anos, deixando todos os desenhos prontos na noite anterior à sua partida. Mauro Leite, braço direito de Rosa, conduz a execução dos figurinos, dialogando com projeções e vídeos dirigidos por Batman Zavareze. As coreografias são assinadas por Renato Vieira, enquanto Marcelo Alonso Neves assina a direção musical.

O diferencial musical reside nas 10 composições inéditas de Paulinho Moska, Chico César e Zeca Baleiro, criando linguagem sonora que honra raízes nordestinas e universalidade fabular. A história gira em torno de Rosa Cordelista, jovem que sonha em se tornar grande cordelista e, através de sonho mágico, encontra Hans Christian Andersen em jornada repleta de personagens míticos.

Jeison Walace como Cinderela. Foto: Divulgação

Também investindo no humor como linguagem, o Teatro do Parque recebe Jeison Wallace em Cinderela em: Toda Cidade Tem, espetáculo que explora com inteligência as peculiaridades e situações do cotidiano encontradas em qualquer cidade brasileira. O comediante, consolidado como uma das principais referências da comédia nacional, constrói esquetes que abordam desde fofoca de bairro até personagens que marcam o dia a dia local, criando identificação imediata com públicos diversos através de piadas que fazem aquela mistura.

Na mesma linha de entretenimento familiar, Os 3 Super Porquinhos, também no Teatro do Parque, recebe tratamento contemporâneo de Roberto Costa, transformando o conto clássico em comédia musical que aborda preservação ambiental. A adaptação inverte arquétipos tradicionais: o Lobo torna-se personagem cômico e educativo, interagindo com crianças e se mostrando bobalhão, enquanto a caminhada final pela paz e preservação na floresta propõe conscientização sobre causas ambientais atuais.

Tom na Fazenda, sucesso de público e crítica no Brasil e exterior

Por outro lado, o Teatro Luiz Mendonça recebe produções de maior densidade dramática, como Tom na Fazenda, adaptação da peça de Michel Marc Bouchard que retorna ao Recife após turnê europeia de cinco meses, incluindo temporada de um mês em Paris com recorde de público e bilheteria, além de participação no Festival de Edimburgo. O espetáculo, visto por mais de 150.000 pessoas em mais de 450 apresentações desde 2017, explora sobrevivência emocional em ambiente rural hostil.

A trama acompanha Tom, que viaja para fazenda no interior após morte de seu companheiro para participar do funeral. Lá encontra a mãe, que desconhece a orientação sexual do filho falecido, e o irmão, camponês violento que insiste através de agressão que Tom esconda o relacionamento da mãe enlutada. Na fazenda, mentir torna-se primeira condição de sobrevivência, criando dramaturgia visceral que mistura realismo e expressionismo para abordar homofobia interiorizada e construção de masculinidades.

Festival de Circo

espetaculo-fragmentos-bra

Nove Tentativas de Não Sucumbir, da Cia Devir 

Espetáculo Juventud da Cie NDE funde dança e malabarismo

Completando esse panorama diversificado, o Festival de Circo do Brasil democratiza acesso ao circo contemporâneo através de programação com espetáculos espalhados por teatros, parques e espaços públicos, sendo 9 totalmente gratuitos. Abrindo essa celebração circense, a Cia Devir apresenta Nove Tentativas de Não Sucumbir, obra dirigida por Jean Michel Guy que transforma o ato de equilibrar-se no trapézio em metáfora sobre reconhecimento, resistência e reinvenção. Entre técnica, vulnerabilidade e humor, o espetáculo investiga o que mantém corpos em movimento e a força de tentar – mais uma vez – não sucumbir.

Da esfera internacional, a programação inclui Copyleft da Cie. NDE, que reúne dream team de cinco países – Juan Duarte Mateos (Uruguai), Lucas Castelo Branco (Brasil), Nahuel Desanto (Argentina), Gonzalo Fernandez Rodriguez (Espanha) e Walid El Yafi (França) – em turbilhão de malabarismo e dança com 45 minutos de duração. Criada para espaços públicos e terrenos diversos, a obra combina precisão técnica e energia coletiva sob direção de Nicanor de Elia.

Retornando à produção nacional, o Grupo Esparrama traz Esparrama Circo, homenagem à tradição popular do circo que transforma o cotidiano em espetáculo. Os palhaços convidam o público a tornar-se protagonista da cena, despertando memórias afetivas ligadas ao riso, ao jogo e à convivência coletiva. Nessa mesma linha participativa, o Coletivo Fuscirco apresenta A Risita, onde Rupi e Pitchula chegam com Fusca Azul 1974 trazendo circo completo: música, malabares, equilibrismo e humor cearense. Do carro que é transporte e lar surgem todos os elementos, transformando o picadeiro em espetáculo que garante interação e alegria do início ao fim.

Valorizando a produção local, a Mostra PE celebra talentos pernambucanos com cinco números: Aura Duo de Jéssica Moura e Fernanda Victor em lira acrobática baseada em confiança e sincronia; Malabares da Família Malanarquista celebrando malabarismo e arte de rua; Balanceiro de Paiace Brotin com habilidades bambolísticas no trânsito; Escada Sem Limites de Xixa Morales com uma das maiores escadas de equilíbrio do Brasil (4,5 metros); e Eclipse: Dança dos Astros de Jimmy Sá, onde artista e lira criam analogia ao fenômeno astronômico.

Explorando territórios experimentais, Hyperboles da Cie. SCoM busca aprofundar interseções entre skate e acrobacia, conectando essas linguagens a reflexão sobre o lugar das mulheres em práticas historicamente dominadas por homens. Reunindo artistas circenses e skatistas de diferentes culturas, o projeto propõe criação de espaço de troca onde cada corpo contribui para enriquecimento artístico mútuo.

Ainda na linha de espetáculos itinerantes, How Much We Carry? do Cirque Immersif convida à pausa e ao encontro ao redor de aparelho circense inusitado: a percha gigante em constante desequilíbrio. Com olhar sensível sobre o verbo “carry” – que significa tanto carregar quanto cuidar –, dois personagens conduzem tudo que encontraram pelo caminho, criando homenagem às caminhadas e àqueles que cruzam nossa trajetória.

Representando a pesquisa continuada brasileira, a Cia Nós No Bambu apresenta dois solos de Poema Mühlenberg que consolidam mais de quinze anos de pesquisa em arte-corpo-bambu. Sarayvara celebra 21 anos de dedicação, enquanto O Vazio É Cheio de Coisa constitui síntese de sua investigação, criando dramaturgia de imagens e significados que emergem da relação sensível entre humano e vegetal. Artista e artesã, Poema cuida de bambuzal: colhe, projeta, trata e constrói instrumentos, transpondo saberes artesanais para corpo cênico.

Nas criações internacionais mais conceituais, Fragmentos da La Víspera explora distorções e desintegrações corporais, transformando dor em linguagem cênica através de máscaras, marionetes e experimentações com luz. O espetáculo aborda fragmentação como alívio paradoxal ao sofrimento, criando thriller circense sobre processo de transformação contínua entre escolhas pessoais e atravessamentos externos.

Por outro lado, Vermelho, Branco e Preto de Cibele Mateus dá vida à figura cômica “Mateu” do Cavalo Marinho pernambucano, construindo brincadeira-manifesto que celebra alegria como tecnologia de reexistência, misturando riso, poesia e encantamento popular para questionar padrões coloniais e afirmar ancestralidade.

Em outra abordagem crítica, Le Bruit des Pierres do Collectif Maison Courbe entrelaça circo coreográfico, artes visuais e teatro físico para examinar ganância da sociedade ocidental pelo ouro. Duas mulheres personificam essa obsessão: uma cobre pedras com folhas douradas em gesto ritual repetitivo, enquanto outra as devora freneticamente até a overdose. Entre pedras e corpos surgem coreografias que exploram suspensão, desequilíbrio e queda, trazendo reflexão sobre exaustão capitalista e fragilidade ambiental.

Encerrando essa mostra circense, Juventud da Cie NDE funde dança e malabarismo, transformando fisicalidade circense em campo de experimentação e liberdade. A obra propõe manifestação em movimento constante, onde beleza não está na ordem ou perfeição, mas na complexidade do coletivo, em que indivíduo e grupo se complementam sem se anular.

Serviço 

Encerramento dos Festivais (Dança e Feteag)

À un endroit du début (Germaine Acogny)
Síntese autobiográfica entre cosmogonia iorubá e tragédia grega
Data: 26 de outubro de 2025 (Domingo) | Horário: 19h
Local: Teatro Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Ingressos: Gratuito (retirada 1h antes, mediante doação de 1 kg de alimento não perecível)

Festival Internacional de Dança do Recife

Orunmilá (Orun Santana) | Jogo de búzios como dramaturgia espiralar sobre ancestralidade
Data: 24 de outubro de 2025 (Sexta-feira) | Horário: 14h e 19h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho | Acessibilidade: Libras
Para Expectativa Somente Desvios (Marcos Teófilo) | Narrativas corporais complexas questionam expectativas sociais
Data: 24 de outubro de 2025 (Sexta-feira) | Horário: 20h30
Local: Teatro Apolo | Acessibilidade: Libras
Cavalo Marinho Estrela Brilhante | Manifestação popular nordestina mistura teatro, dança e improviso
Data: 26 de outubro de 2025 (Domingo) | Horário: 16h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Circo Experimental Negro – O Encontro da Tempestade e a Guerra | Intersecção afrocentrada entre circo, dança e teatro
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 17h
Local: Teatro Apolo
Lúden Cia de Dança – Ciclobrega” | Fusão inusitada entre dança contemporânea e cultura do brega
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 18h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Batalha da Escadaria” | Cultura urbana pernambucana em afrobeats, hip hop e baile charme
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 15h às 21h
Local: Compaz Eduardo Campos

FETEAG 2025

Bolor” (Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi) | Fungos como metáfora da decomposição da mitologia açucareira
Data: 24 de outubro de 2025 (Sexta-feira) | Horário: 19h
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Ingressos: Gratuito
Les Sans (Os sem)” (Les Récréâtrales-ELAN) | Pensamento fanoniano questiona limitações da independência africana
Data: 24 de outubro de 2025 (Sexta-feira) | Horário: 21h
Local: Teatro Lycio Neves | Ingressos: Gratuito
L’Opéra du villageois” (Compagnie Zora Snake) | Performance-ritual ressuscita máscaras africanas roubadas pelos museus europeus
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 17h
Local: Estação Ferroviária | Ingressos: Gratuito
Corpos” (Cie Mangrove) | Laboratório coreográfico entre culturas caribenhas e brasileiras
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 19h
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Ingressos: Gratuito
Inquieta (Música)” (Larissa Lisboa com Gabi da Pele Preta) | Nova cena musical pernambucana negra e LGBTQIA+
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 21h
Local: Teatro Lycio Neves | Ingressos: Gratuito

Cia. Etc. – 25 Anos

O Tempo das Lebres” | Estética techno examina aceleração contemporânea e exaustão sistêmica
Datas: 24 e 25 de outubro (Recife) | 30 e 31 de outubro (Triunfo)
Horário: 20h (Recife) | 19h (Triunfo)
Local: TV Universitária – Estúdio B (Recife) | Sociedade Triunfense de Cultura (Triunfo)
Ingressos: R30(inteira)/R 15 (meia) – Recife | Gratuito – Triunfo
Classificação: 12 anos | Mais informações: @ciaetc

Espaço O Poste – Laboratório Autoral

Barro Mulher” (Fabíola Nansurê) | Dramaturgia sensorial questiona padrões estéticos através do barro
Data: 24 de outubro de 2025 (Sexta-feira) | Horário: 19h
Local: Espaço O Poste (Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista)
Ingressos: R30(inteira)/R 15 (meia)
Luanda Ruanda: Histórias Africanas” (Stephany Metódio) | Contação antirracista conecta tradições africanas com diáspora brasileira
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 16h
Local: Espaço O Poste | Ingressos: Gratuito | Classificação: Livre
Negaça” (Urubatan Miranda) | Solo autobiográfico desconstrói estereótipos da masculinidade nordestina
Data: 31 de outubro de 2025 (Quinta-feira) | Horário: 19h
Local: Espaço O Poste | Ingressos: R30(inteira)/R 15 (meia)

CAIXA Cultural Recife – Coletivo Gompa

Frankinh@ – Uma história em pedacinhos” | Primeira ficção científica da história adaptada para despertar imaginário infantil
Datas: 25 e 26 de outubro e 1º de novembro | Horários: 17h (sábado) | 11h (domingo)
Local: CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Ingressos: R30(inteira)/R 15 (meia) | Classificação: Livre
Acessibilidade: Sessão de 26/10 com Libras | Informações: (81) 3425-1915
Frankenstein” | Perspectiva decolonial conecta corpo feminino e Amazônia
Datas: 30 de outubro (Quinta-feira), 31 de outubro (Sexta-feira) e 1º de novembro (Sábado) | Horário: 20h
Local: CAIXA Cultural Recife | Classificação: A partir de 16 anos
Ingressos: R30(inteira)/R 15 (meia) | Acessibilidade: Sessão de 31/10 com Libras

Produções Teatrais

Sonho Encantado de Cordel – O Musical” | Fusão entre Hans Christian Andersen e cultura nordestina inspirada na Imperatriz Leopoldinense
Datas: 25 de outubro (Sábado) e 26 de outubro (Domingo) | Horários: Sábado: 17h | Domingo: 15h e 17h
Local: Teatro Luiz Mendonça (Av. Boa Viagem, s/n, Boa Viagem)
Patrocínio: Ministério da Cultura e CAIXA Vida e Previdência
Cinderela em: Toda Cidade Tem” (Jeison Wallace) | Humor inteligente sobre peculiaridades do cotidiano urbano brasileiro
Data: 25 de outubro de 2025 (Sábado) | Horário: 18h30
Local: Teatro do Parque (R. do Hospício, 81, Recife)
Ingressos: R120(inteira)/R 60 (meia) / R$ 80 (social com 1kg alimento)
Classificação: 14 anos | Informações: (81) 98463-8388
Os 3 Super Porquinhos” | Comédia musical inverte arquétipos para conscientização ambiental
Data: 26 de outubro de 2025 (Domingo) | Horário: 11h
Local: Teatro do Parque | Ingressos: R100(inteira)/R 50 (meia) / R$ 70 (social)
Acessibilidade: Libras | Informações: @robertocostaproducoes
Tom na Fazenda” | Sobrevivência emocional em ambiente rural hostil após turnê europeia
Datas: 7 de novembro (Sexta-feira), 8 de novembro (Sábado) e 9 de novembro (Domingo) | Horários: Sex/Sáb: 20h | Dom: 19h
Local: Teatro Luiz Mendonça
Chapeuzinho de Neve Adormecida” | Confusão divertida entre múltiplos contos clássicos
Data: 1º de novembro (Sábado) | Horário: 16h30 | Ingressos: R50 a R 100
Local: Teatro Luiz Mendonça
A Princesa dos Mares – O Musical” | Jornada épica oceânica com mensagem de preservação ambiental
Data: 2 de novembro (Domingo) | Horário: 16h30 | Ingressos: R50 a R 100
Local: Teatro Luiz Mendonça

Festival de Circo do Brasil – 13 Espetáculos

Nove Tentativas de Não Sucumbir” (Cia Devir) | Trapézio como metáfora sobre resistência e reinvenção humana
Datas: 31 de outubro (Quinta-feira) e 1º de novembro (Sábado) | Horário: 19h
Local: Teatro Apolo | Classificação: 14 anos
Ingressos: Gratuito (retirada via Sympla) | Acessibilidade: 1º/11 com Libras
Copyleft” (Cie. NDE) | Dream team internacional em turbilhão malabarístico de cinco países
Data: 8 de novembro (Sábado) | Horário: 15h
Local: Parque Apipucos | Classificação: Livre
Ingressos: Gratuito
Esparrama Circo” (Grupo Esparrama) | Público como protagonista em homenagem à tradição circense popular
Datas: 1º de novembro (Sábado) e 2 de novembro (Domingo)
Local: Parque Santana – Ariano Suassuna | Classificação: Livre
Ingressos: Gratuito
A Risita” (Coletivo Fuscirco) | Circo completo em Fusca Azul com humor cearense
Datas:
1º de novembro (Sábado) e 2 de novembro (Domingo) | Parque Santana – Ariano Suassuna
3 de novembro (Segunda-feira) | 15h | Compaz Ariano Suassuna
4 de novembro (Terça-feira) | 16h | Vera Cruz/Aldeia – Camaragibe
Classificação: Livre | Ingressos: Gratuito
Mostra PE” | Cinco números da produção local pernambucana
Datas: 1º de novembro (Sábado) e 2 de novembro (Domingo)
Local: Parque Santana (Casa Forte) | Classificação: Livre
Ingressos: Gratuito
Hyperboles” (Cie. SCoM) | Interseção entre skate e acrobacia questionando lugar das mulheres
Datas: 1º de novembro (Sábado) e 2 de novembro (Domingo)
Local: Parque Santana – Ariano Suassuna | Classificação: Livre
Ingressos: Gratuito
How Much We Carry?” (Cirque Immersif) | Percha gigante em desequilíbrio como convite ao encontro
Datas:
1º de novembro (Sábado) e 2 de novembro (Domingo) | Parque Santana (Casa Forte)
7 de novembro (Sexta-feira) | 16h30 | Alto da Sé (Olinda)
8 de novembro (Sábado) | 15h | Oficina Francisco Brennand (Várzea)
9 de novembro (Domingo) | 16h | Praça do Arsenal (Recife Antigo)
Classificação: Livre | Ingressos: Gratuito
Sarayvara” (Cia Nós No Bambu) | 21 anos de pesquisa arte-corpo-bambu em celebração
Data: 7 de novembro (Sexta-feira) | Horário: 19h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho | Classificação: Livre
Ingressos: Gratuito (retirada via Sympla)
O Vazio É Cheio de Coisa” (Cia Nós no Bambu) | Síntese de 15 anos de investigação entre humano e vegetal
Data: 6 de novembro (Quinta-feira) | Horário: 20h
Local: Teatro de Santa Isabel | Classificação: 12 anos
Ingressos: Sympla
Fragmentos” (La Víspera) | Thriller circense explora fragmentação mental como sobrevivência
Datas: 6 de novembro (Quinta-feira) e 8 de novembro (Sábado) | Horário: 19h30
Local: Teatro Apolo | Classificação: 14 anos
Ingressos: Sympla
Vermelho, Branco e Preto” (Cibele Mateus) | Mateu do Cavalo Marinho como brincadeira-manifesto de reexistência
Datas: 5 de novembro (Quarta-feira) e 6 de novembro (Quinta-feira) | Horário: 19h30
Local: Teatro Apolo | Classificação: 12 anos
Ingressos: Sympla | Acessibilidade: 5/11 com Libras
Le Bruit des Pierres” (Collectif Maison Courbe) | Obsessão pelo ouro revela exaustão capitalista e fragilidade ambiental
Datas: 8 de novembro (Sábado) e 9 de novembro (Domingo) | Horários: Sáb: 20h | Dom: 18h
Local: Teatro de Santa Isabel | Classificação: Livre
Ingressos: Sympla
Juventud” (Cie NDE) | Energia coletiva através de malabarismo, movimento e experimentação
Data: 9 de novembro (Domingo) | Horário: 17h
Local: Teatro do Parque | Classificação: 10 anos
Ingressos: Sympla
Informações Gerais: A programação oferece sessões com Libras em múltiplos espetáculos e 9 espetáculos gratuitos no Festival de Circo (além de 4 com ingressos via Sympla), democratizando acesso à cultura de qualidade internacional.

Postado com as tags: , , , , , ,

Feteag confirma Caruaru como
epicentro de descentralização cultural
Peças dos primeiros dias

Entrado do Teatro Lycio Neves no dia da apresentação do Magiluth. Foto: Jorge Farias

Plateia do Teatro Lycio Neves no dia da apresentação de Neva. Foto: Jorge Farias

Fabio Pascoal, diretor e curador do Feteag. Foto: Jorge Farias / Divulgação

A 34ª edição do Festival de Teatro do Agreste (Feteag) acontece sob a égide de uma provocação contemporânea urgente: como manter a humanidade em um mundo hiperconectado? A resposta do Teatro Experimental de Arte (TEA), idealizador e realizador do festival, parece estar na própria escolha curatorial desta edição – uma seleção que equilibra conexão global com intimidade humana, velocidade tecnológica com desaceleração contemplativa.

Em um momento histórico em que a digitalização ameaça fragmentar experiências coletivas, o Feteag 2025 se posiciona como um laboratório de resistência. As escolhas artísticas desta edição arquitetam encontros. Encontros entre públicos diversos, entre linguagens teatrais distintas, entre o cosmopolita e o regional – mas, sobretudo, encontros genuinamente humanos. A participação de La cocina Pública, do grupo chileno Teatro Container no  Assentamento Normandia é inspiração para muitos debates políticos e estéticos.

A curadoria demonstra maturidade ao compreender que estar “conectado com o mundo” não significa necessariamente aderir aos seus ritmos sufocantes. Pelo contrário: a programação funciona como um convite à desaceleração reflexiva, criando espaços onde a experiência teatral pode operar como antídoto ao frenesi urbano contemporâneo.

A aposta em reforçar o território de Caruaru mostra-se cada vez mais acertada. A cidade, que já não corresponde às memórias mais remotas de uma urbe menor, se posiciona como metrópole cultural em potencial. O crescimento urbano veio acompanhado de uma ampla oferta de serviços, mas é no setor cultural que reside ainda o maior espaço para desenvolvimento – lacuna que o Feteag vem preenchendo sistematicamente há mais de três décadas.

O que se observa nesta edição é uma inversão de fluxos culturais tradicionalmente centrípetos. Ao invés de drenar talentos e públicos para os grandes centros, o festival transforma Caruaru em um ímã cultural, atraindo artistas, críticos, curadores e espectadores de diversas regiões. Essa descentralização é geográfica e simbólica, questionando hierarquias culturais estabelecidas.

Talvez o fenômeno mais fascinante desta edição seja o engajamento de uma legião de jovens com o teatro. Estudantes que se transformam em multiplicadores culturais, divulgando, debatendo, vibrando com as propostas artísticas. Esse movimento de apropriação juvenil do festival sugere que estamos diante de uma mudança geracional no consumo e na produção cultural da região.

À mon seul désir (Ao meu único desejo), de Gaëlle Bourges (França)

À mon seul désir, na abertura do Feteag no Recife. Foto: Walton Ribeiro / Divulgação

A abertura do Feteag no Recife (9 e 10 de outubro) com a obra À mon seul désir, de Gaëlle Bourges, sublinha a ousadia curatorial do festival. Espetáculo faz uma desconstrução crítica e performática de um dos ícones da arte medieval, a série de tapeçarias A Dama e o Unicórnio. Bourges utiliza a obra original, rica em simbolismo alegórico sobre os cinco sentidos e o “único desejo”, como ponto de partida para um exame perspicaz da representação feminina na arte ocidental e das construções sociais em torno da feminilidade, pureza e desejo.

As tapeçarias originais, datadas do século XV, apresentam uma figura feminina idealizada, cercada por animais fantásticos e elementos florais, frequentemente interpretada como um emblema de virtude e castidade. Bourges, no entanto, subverte essa leitura ao despir as intérpretes, expondo a vulnerabilidade e a força do corpo feminino em sua forma mais crua. A encenação, com quatro artistas nuas, explora a dualidade entre a figura idealizada da Dama e os simbolismos contidos no bestiário da tapeçaria, como o leão e o unicórnio. Ao vestir as intérpretes com máscaras de animais como o coelho — tradicionalmente associado à fertilidade e, por vezes, à luxúria — e questionar a virgindade da Dama através da exposição do corpo feminino em diferentes perspectivas e movimentos, Bourges provoca e convida o público a repensar os códigos morais e estéticos que moldam nossa percepção da história da arte e da identidade feminina.

A transição de um movimento gracioso e quase pictórico para uma sarabanda frenética de Coelhos pode ser interpretada como uma libertação catártica dessas convenções, um rompimento com a passividade e a idealização atribuídas historicamente à mulher na arte. É um ato de reencarnação dos símbolos, onde o corpo presente e vivo das bailarinas se torna o veículo para uma nova narrativa. A bagagem da diretora, com seu interesse no corpo feminino como ferramentas de análise e expressão sobre autonomia, permeia toda a construção cênica, promovendo a ressignificação da imagem da mulher e a crítica ao olhar patriarcal na história da arte. À mon seul désir é, portanto, uma abertura que celebra a artea, mesmo tempo que a questiona, a transforma e a recontextualiza, proposta alinhada com a escolha curatorial deste ano do Feteag de ampliar diálogos e estéticas desafiadoras.

Leia nossa crítica AQUI!

Dancemos… que o mundo se acaba! (Bailemos… que se acaba el mundo!), de BiNeural-MonoKultur (Argentina)

Florencia Baigorrí e Maximiliano Carrasco Garrido, comandam as coreografias. Foto: Kari Carvalho / Divulgação

A performance Dancemos… que o mundo se acaba! (Bailemos… que se acaba el mundo!), do coletivo argentino BiNeural-MonoKultur, apresentada em Caruaru, é um exemplo notável de teatro imersivo e participativo que dialoga diretamente com o contexto social contemporâneo. A escolha de um espaço não-convencional como a Estação Ferroviária de Caruaru adiciona camadas de significado. Uma estação, por sua natureza, é um local de trânsito, de chegadas e partidas, de encontros e despedidas, e evoca a ideia de uma jornada coletiva e individual, ressoando com a temática da peça. A proposta de uma experiência coletiva mediada por fones de ouvido ressalta o desejo de romper com as barreiras tradicionais entre palco e plateia, convidando o público a ser co-criador da obra.

A peça é particularmente ressonante por ter sido concebida durante a pandemia de COVID-19, estabelecendo um paralelo provocador com a Epidemia da Dança de Estrasburgo de 1518. Essa conexão histórica explora a dança como uma resposta primal e, por vezes, incontrolável, a momentos de crise, ansiedade coletiva e incerteza existencial. A “Epidemia da Dança” foi um fenômeno em massa, onde centenas de pessoas dançaram incontrolavelmente por dias, muitas vezes até a exaustão ou morte. A ideia de dançar “como se o mundo estivesse acabando” chega como um ato de resistência, libertação e celebração da vida em meio à incerteza, seja ela o contágio dançante de 1518, a pandemia recente, ou as crises climáticas e sociais atuais.

A companhia, conhecida por envolver o público de forma ativa, transforma cada espectador em um cocriador da experiência. Os fones de ouvido criam “bolhas” individuais de percepção sonora – cada participante ouve instruções, músicas e narrativas que guiam seus movimentos e emoções. Paradoxalmente, essa individualização auditiva fomenta uma unidade coletiva, pois todos estão sincronizados por uma mesma “voz” invisível, mas livres para interpretar e expressar-se corporalmente. A coreografia e as instruções compartilhadas forjam uma unidade coletiva, permitindo que cada participante explore sua própria relação com o movimento, a música e o corpo em um espaço compartilhado. Dancemos… é um convite à catarse, à reconexão com o prazer físico e social da dança, e à redescoberta da capacidade do corpo de se expressar e de se libertar, um poderoso antídoto em tempos de isolamento e angústia.

Leia nossa crítica AQUI

Magiluth honra local da construção de Édipo REC, em Caruaru

Giordano Castro e Gabriela Cicarello, com Édipo e Jocasta, na sessão do Feteag. Foto: Jorge Farias

Édipo REC é uma releitura vibrante e provocadora da tragédia clássica, concebida pelo Grupo Magiluth como um “jogo” cênico. A peça transforma o mito de Édipo em uma experiência imersiva que dissolve a fronteira entre palco e plateia. Utilizando uma linguagem que mistura teatro, festa e cinema, a montagem transforma Tebas em um Recife contemporâneo e fantasmagórico. Com um DJ no comando da trilha sonora pop e um Corifeu que filma a ação em tempo real, o espetáculo questiona a relevância da tragédia hoje e usa a tecnologia para refletir sobre a era da superexposição e das narrativas digitais.

Em sua apresentação em Caruaru, durante o Feteag 2025, a peça envolveu o público desde antes do início, com os atores interagindo e distribuindo cervejas do lado de fora do Teatro Lycio Neves. A primeira hora se desenrolou como uma festa efervescente, com os espectadores em pé, dançando ao som de ritmos pop. A reação da plateia foi selvagem e contagiante, com uma entrega total à atmosfera de festa. No entanto, essa mesma audiência mostrou-se surpreendentemente tímida quando provocada a um “beijaço” geral, revelando as complexidades e limites da participação mesmo em um ambiente de intensa interação.

O elenco demonstrou um entrosamento comparável a uma orquestra sinfônica, onde cada músico domina seu instrumento em perfeita harmonia com o conjunto. Roberto Brandão assumiu Tirésias com um cinismo elegante e debochado, enquanto Gabriela Cicarello entregou uma Jocasta altiva, permeada por uma melancolia profunda que transbordava em cada gesto. Um momento inesperado e marcante da sessão foi a ação de um espectador anônimo que lançou lixo orgânico no palco no final do primeiro ato. O cheiro pútrido de laranjas estragadas invadiu o teatro, atacando violentamente o olfato da plateia e materializando sensorialmente a “praga” de Tebas. Embora não fizesse parte do roteiro, o gesto adicionou uma camada visceral de caos e decadência que prenunciava tragicamente o segundo ato.

Leia nossa crítica AQUI

A potência da indignação articulada em Fábulas de Nossas Fúrias

Coletivo Atores à Deriva (RN) transforma raiva em arte política. Foto: Jorge Farias

Fábulas de Nossas Fúrias, do Coletivo Atores à Deriva, do Rio GRande do Norte, foi apresentado no Feteag como um trabalho teatral que reverbera intensamente, soltando a voz de um acúmulo de silêncios e indignações historicamente reprimidas. Alex Cordeiro assina a direção e constrói a dramaturgia em parceria com Giordano Castro, criando um tecido dramatúrgico que se apropria dos conceitos de “fábula” e “fúria” como estruturas para uma análise das contradições humanas e sociais. A criação do espetáculo contou com a colaboração de Alex Cordeiro, Álvaro Dantas, Mattheus Corpo, Doc Câmara e Thuyza Fagundes, configurando um processo criativo coletivo que se reflete na multiplicidade de vozes e perspectivas presentes em cena.

A peça estabelece uma confrontação direta com a “Justa Raiva” teorizada por Paulo Freire, conceito que reconhece a indignação como um direito legítimo dos oprimidos e como força motriz para a transformação social. Essa perspectiva freireana entende a raiva como uma resposta consciente e necessária às injustiças, diferenciando-a da revolta cega ou do ódio destrutivo, posicionando-a como uma energia pedagógica e libertadora.

Os 17 anos de pesquisa do Atores à Deriva encontram neste espetáculo um tema que ressoa profundamente com as vivências e inquietações dos integrantes do grupo. O trabalho se constrói como um grito articulado, utilizando a fábula como estratagema narrativo para expor opressões contemporâneas de forma alegórica, mas impactante. 

O trabalho corporal desenvolvido pelo elenco (Álvaro Dantas, Doc Câmara, Mattheus Corpo e Alex Cordeiro), sob a direção de movimento e preparação corporal de Dudu Galvão, constitui um dos pilares fundamentais do espetáculo. O corpo em cena assume o território de expressão da fúria e da vulnerabilidade. Através de uma “animalização da existência”, os atores exploram fisicamente os impulsos e essas urgências. Movimentos que variam entre a contorção, a explosão e o recolhimento, respirações que ecoam a angústia, e olhares que carregam histórias de opressão, comunicam dimensões que a palavra sozinha não consegue abarcar. Na gestualidade que transita entre referências animais e a fragilidade humana, a peça encontra um de seus momentos mais potentes, estabelecendo uma comunicação direta e emotiva com a plateia.

Estruturada em fábulas contemporâneas protagonizadas por um macaco, uma baleia e um veado, a dramaturgia, aposta na capacidade de encarar frontalmente as violências do racismo, da misoginia e da homofobia. Cada fábula, embora autônoma, tece uma crítica direta a sistemas de poder e preconceito. A escolha de valorizar o termo “veado”, historicamente usado de forma pejorativa, para afirmar subjetividades gay e seus modos de amar, afirma-se como um ato de subversão linguística e política que espelha a proposta central da peça. Nesse contexto, ações cotidianas como “beijar na rua” adquirem caráter de “fúria” afirmativa, desafiando a heteronormatividade compulsória e as tentativas de invisibilidade. A dramaturgia inverte a lógica conservadora que hierarquiza identidades para celebrar resistências e modos diversos de existir.

A dramaturgia também evidencia a importância das redes de apoio e afetos na construção de subjetividades LGBTQIA+, demonstrando como a solidariedade coletiva se torna estratégia de sobrevivência e resistência em contextos hostis.

Grupo reflete sobre a masculinidade hegemônica. Foto: Jorge Farias

É fundamental ressaltar a relevância política de um grupo formado majoritariamente por homens que encara frontalmente as fragilidades e contradições da masculinidade hegemônica. O espetáculo desnaturaliza padrões machistas ao expor como as pressões de gênero afetam  os corpos masculinos, criando espaço para discussões sobre orientações sexuais e identidades de gênero que desafiam a rigidez dos papéis sociais impostos. Para um coletivo de homens, assumir publicamente as vulnerabilidades da masculinidade e os atravessamentos das questões de gênero constitui um ato de coragem artística e política que amplia os territórios possíveis para a expressão das diversidades.

No entanto, as próprias fissuras dramatúrgicas do espetáculo funcionam como dobras de articulação que revelam camadas complexas da experiência teatral. As transições entre as fábulas não operam por continuidade linear, mas por contaminação emocional e temática – um procedimento que exige do espectador uma disponibilidade para ir além de seus limites nessa construção receptora. Essas lacunas intencionais entre os núcleos narrativos constituem espaços de respiração onde o público processa as camadas de violência e resistência apresentadas. As aparentes descontinuidades se atuam, na verdade, como estratégias dramatúrgicas que permitem que cada fábula ressoe de forma independente antes de se articular com as demais.

Para alguns espectadores, essas dobras podem gerar momentos de desconexão; para outros, constituem territórios férteis onde as indignações pessoais encontram eco nas fúrias cênicas. A dramaturgia assume, assim, o risco de uma incompletude proposital, convidando cada plateia a preencher os intervalos com suas próprias experiências de opressão e resistência.

Beijo inspirado no espetáculo do Grupo Magiluth. Foto: Jorge Farias

Enquanto construção cênica, a dramaturgia e encenação explicitam suas influências e referências, como no beijo francamente inspirado na peça Dinamarca, do Magiluth, estabelecendo um diálogo intertextual que enriquece as camadas interpretativas do trabalho. Essas citações funcionam como reconhecimentos de uma genealogia teatral comprometida com a discussão de sexualidades e identidades dissidentes.

Apesar das questões estruturais apontadas, Fábulas de Nossas Fúrias confirma-se como um espetáculo relevante que articula um trabalho corporal consistente com uma dramaturgia provocativa. Sua capacidade de convocar o público a refletir sobre suas próprias indignações e os lugares de onde elas emergem faz da peça uma experiência marcante. O trabalho  impulsiona discussões sobre direitos de existência e expressão, consolidando o teatro como espaço fundamental para a articulação de afetos transformadores e para a celebração da resistência.

Neva, montagem de Marianne Consentino

Peça pensa a arte em tempos de colapso. Foto Jorge Farias

Neva, na montagem dirigida por Marianne Consentino apresentada no Teatro Lycio Neves durante o Feteag, afirma-se como um espetáculo de complexa densidade, que questiona os limites e contradições entre arte e política, entre a necessidade de criar e a urgência de agir. A peça, escrita pelo dramaturgo chileno Guillermo Calderón em 2005, explora paixões e desencantos que permeiam o universo teatral: a paixão pelo palco, pela arte de interpretar, pelo ofício de representar, mas também interroga as inércias que se justificam em nome da arte, os descompassos entre criação artística e compromisso político, e as dificuldades inerentes a uma arte efêmera que luta constantemente por sua própria sustentabilidade e relevância social.

No centro desta tensão encontra-se uma protagonista que insiste em encontrar o fio condutor de sua personagem enquanto o mundo literalmente desmorona do lado de fora do teatro, metáfora potente para os dilemas do artista contemporâneo diante das crises sociais e da constante necessidade de justificar a existência da arte em meio ao caos.

A escolha de Marianne Consentino por esta dramaturgia, integrada à sua pesquisa de pós-doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, sob supervisão da professora Dra. Sonia Rangel, transforma a montagem em um laboratório de investigação sobre as relações entre teatro e memória, entre criação artística e contexto histórico. A diretora constrói um espetáculo que dialoga tanto com as urgências do texto original quanto com as ressonâncias que a obra adquire no contexto brasileiro contemporâneo, especialmente em um momento de polarização política e questionamentos sobre o papel da arte em tempos de crise democrática e de constantes ataques às políticas culturais.

O elenco formado por Vika Schabbach, Igor de Almeida, Gardênia Fontes e Guilherme Mergulhão constrói a atmosfera claustrofóbica de três atores refugiados em um teatro de São Petersburgo no fatídico Domingo Sangrento de 9 de janeiro de 1905. Neste dia histórico, manifestantes que marchavam pacificamente para entregar uma petição ao Czar, reivindicando melhores condições de trabalho, foram brutalmente fuzilados pela Guarda Imperial, evento que se tornaria o estopim da Revolução Russa de 1917.

A protagonista Olga Knipper, viúva de Anton Tchekhov e primeira atriz do Teatro de Arte de Moscou, surge como uma figura emblemática desta tensão entre luto pessoal e catástrofe coletiva. Incapaz de representar após a morte do marido por tuberculose seis meses antes, ela insiste em encenar repetidamente a morte de Tchekhov com seus colegas Masha e Aleko, numa compulsão que revela tanto a necessidade de elaborar o luto quanto a incapacidade de se conectar com a tragédia histórica que se desenrola nas ruas.

Vika Schabbach constrói essa complexa protagonista com notável sensibilidade e leveza, expondo as nuances das contradições de uma atriz que exterioriza suas próprias inseguranças através da arte. Suas interações com Igor de Almeida e Gardênia Fontes criam momentos de extrema cumplicidade, recriando a intimidade peculiar de uma sala de ensaio onde os limites entre pessoa e personagem se dissolvem, tornando visíveis os segredos íntimos do ofício teatral.

Um tecido visual com referências clássicas e registros da realidade atual. Foto: Jorge Farias

O material imagético construído por Consentino constitui um dos aspectos mais ricos e provocativos da montagem. A diretora elabora um tecido visual que trabalha deliberadamente com ironias e contrastes entre o que é dito no texto e as imagens projetadas, criando camadas interpretativas que expandem temporalmente a reflexão proposta por Calderón. As referências visuais transitam das clássicas sequências do Encouraçado Potemkin de Eisenstein, com sua famosa escadaria e a violência revolucionária, passando por filmes de propaganda stalinista, até alcançar vídeos contemporâneos que documentam opressões no Brasil e em toda a Nossa América Latina no século XXI. Esta montagem imagética inclui ainda registros dos movimentos patrióticos bolsonaristas, com suas ações frequentemente risíveis e grotescas, estabelecendo uma ponte provocativa entre a repressão czarista de 1905, os autoritarismos do século XX e as manifestações neofascistas atuais.

Particularmente instigante é a incorporação da dramaturgia incidental Estudo Nº 1 Morte e Vida do Grupo Magiluth, que funciona na linha do “plágio e combinação”, seguindo a estética antropofágica de Tom Zé. Esta inserção metateatral, onde uma cena do espetáculo do Magiluth surge dentro do próprio Neva, cria um efeito de mise en abyme que questiona as fronteiras entre criação e citação, entre originalidade e apropriação. Esta estratégia reforça o questionamento central da peça sobre a relevância e a serventia do teatro, ecoando a pergunta que atravessa toda a obra: para que serve a arte quando o mundo está em chamas?

A montagem de Consentino consegue, assim, atualizar a urgência do texto de Calderón para o contexto latinoamericano destes tempos. A questão sobre a importância da memória das ditaduras para a América Latina e o papel do teatro contemporâneo no avivamento desta memória traumática encontra na encenação uma pulsação cênica complexa.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

A força política e estética do Feteag 2025

A mon seul désir, de Gaëlle Bourges (França), abre programação. Foto: Danielle Voirin / Divulgação

Cocina Publica, do Teatro Container (Chile). Foto: Adelano

Germaine Acogny, que encerra o festival, é uma das grandes referências mundiais da dança contemporânea. Foto: Thomas Dorn

Abrir um festival com uma peça francesa que reflete sobre representações femininas medievais expressa um posicionamento curatorial questionador das desigualdades. Levar teatro contemporâneo que discute a alimentação no mundo para um assentamento de luta pela terra tem também algo de subversivo. Encerrar a programação com uma bailarina senegalesa de 81 anos que revolucionou a dança em seu país afirma uma visão de mundo que aposta na circulação de saberes. O Festival de Teatro do Agreste, em sua 34ª edição, estabelece diálogos diretos entre criação artística contemporânea e as urgências sociais do nosso tempo.

Dirigido por Fabio Pascoal, o Feteag 2025 reúne 21 espetáculos de 9 e 26 de outubro, entre nacionais e internacionais, todos com entrada gratuita. A seleção das peças aponta para inquietações contemporâneas sobre exclusão, resistência e identidade que perpassam as criações escolhidas.

A seleção desta edição opera segundo uma lógica que articula diversidade geográfica com urgências temáticas. A curadoria geral, conduzida por Fabio Pascoal, aproveitou estrategicamente a Temporada França-Brasil 2025 para trazer criações de Burkina Faso (África Ocidental), Camarões (África Central) e Guadalupe (Caribe francês), além da própria França.

Esta escolha curatorial carrega uma compreensão particular sobre como usar as relações bilaterais para amplificar vozes frequentemente marginalizadas nos circuitos internacionais.

A mostra principal leva o nome de Argemiro Pascoal, um dos fundadores do Teatro Experimental de Arte – TEA, realizador do Feteag

Les Sans adapta o pensamento de Frantz Fanon para o teatro. Foto: Julie Cherki / Divulgação

Les Sans (Os Sem), do coletivo Les Récréâtrales-ELAN, de Burkina Faso, investiga diretamente a questão dos sem-teto e excluídos sociais através de linguagem cênica que combina tradições orais africanas com teatro político contemporâneo. A peça adapta o pensamento de Frantz Fanon para o teatro através do reencontro de dois ex-companheiros de luta. Ali Kiswinsida Ouédraogo explora o conflito entre Franck e Tiibo, interpretados por Ali K. Ouédraogo e Noël Minougou, onde um mantém ideais revolucionários enquanto o outro foi cooptado pelo sistema que combatiam. Sob direção de Freddy Sabimbona, a obra interroga as limitações da independência burkinabê, investigando se a libertação formal constitui verdadeira descolonização ou apenas mudança de máscaras do poder colonial.

Quando esta criação dialoga com La Cocina Pública, do grupo chileno Teatro Container, estabelece-se uma reflexão transnacional sobre precariedade e solidariedade. A obra chilena propõe a preparação coletiva de uma refeição como ato político e comunitário, questionando quem tem direito à alimentação e ao espaço público através de performance participativa que dissolve fronteiras entre arte e vida cotidiana.

Gaëlle Bourges propõe a desconstrução de Imaginários conservadores sobre o Feminino. Foto: Thomas Greil  

À mon seul désir, de Gaëlle Bourges, que abre o festival, parte da tapeçaria medieval A Dama e o Unicórnio para reavaliar construções históricas sobre feminilidade. A coreógrafa francesa examina como a cultura europeia associou mulheres ao mundo vegetal e animal, perpetuando ideais de virgindade e pureza através de imagens aparentemente poéticas.

Bourges desenvolve uma investigação coreográfica que expõe as violências simbólicas embutidas nessas representações românticas, utilizando movimento e voz para evidenciar como tapeçarias medievais funcionavam como dispositivos de controle sobre corpos femininos. Sua pesquisa conecta-se com debates contemporâneos sobre representação e autonomia feminina, oferecendo ao público brasileiro uma análise sobre como imaginários europeus ainda influenciam percepções sobre feminilidade.

Un endroit du début com Germaine Acogny. Foto: Thomas Dorn

Por sua vez, Germaine Acogny, que encerra o festival no Teatro Santa Isabel, é uma das grandes referências mundiais da dança contemporânea. Nascida no Senegal em 1944, ela fundou a primeira escola de dança contemporânea da África Ocidental em 1977 e desenvolveu uma técnica própria que combina danças tradicionais africanas com metodologias contemporâneas ocidentais.

Em Un endroit du début, criado com Mikaël Serre, ela explora memórias corporais e ancestralidade através de movimentação que articula gestualidade ritual com linguagem cênica contemporânea. Aos 81 anos, permanece ativa como pesquisadora corporal e formadora, tendo influenciado gerações de bailarinos e coreógrafos em todo o mundo através de sua escola, onde formou centenas de artistas. Escrevi uma crítica a partir do trabalho gravado da artista em vídeo e que integrou a edição de 2021 do festival Janeiro de Grandes Espetáculos. Leia texto AQUI.

Assentamento Normandia: Arte em Território de Resistência

Espetáculo trabalha a ideia de patrimônio alimentar compartilhado

A apresentação de La Cocina Pública no Assentamento Normandia, em Caruaru, estabelece uma das escolhas mais incisivas desta edição. O Assentamento Normandia constitui um território conquistado através da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), expressando décadas de organização popular pela reforma agrária na região.

Programar uma obra sobre alimentação e participação comunitária para este espaço cria camadas de significado que expandem o artístico e o político. O Teatro Container, grupo chileno responsável pela criação, desenvolve há anos pesquisas sobre arte e alimentação como atos políticos, investigando como o preparo e partilha de comida funcionam como tecnologias de organização social.

La Cocina Pública transforma o preparo coletivo de uma refeição em ritual de partilha e reflexão sobre direitos básicos, utilizando metodologia participativa que convoca o público para ações concretas. No contexto do assentamento, onde a conquista da terra relaciona-se diretamente com o direito à alimentação, a criação ganha ressonâncias particulares sobre soberania alimentar e autonomia popular.

Mostra PE: Diversidade da Cena Local

A Mostra PE, com curadoria de Vika Schabbach e Igor Lopes, selecionou cinco trabalhos entre 57 inscrições através de chamada pública. Schabbach, crítica e pesquisadora teatral, e Igor Lopes, diretor e dramaturgo, construíram uma seleção que busca evidenciar a potência criativa da produção pernambucana contemporânea.

Itaêotá, do Grupo Totem

Bolor. Foto: Morgana Narjara

Itaêotá, do Grupo Totem, apresenta o resultado de seis anos de investigação artística que conecta ancestralidade indígena e africana com urgências contemporâneas. Este espetáculo de teatro-dança utiliza rituais coletivos e elementos como urucum para propor caminhos de regeneração social diante do colapso civilizatório, materializando a pesquisa Metamorfismo de (R)existência através de performance que dissolve fronteiras entre linguagens artísticas.

Bolor (Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi) confronta diretamente a mitologia freyreana do açúcar, empregando fungos como protagonistas metafóricos de processos de decomposição e renascimento. A criação aponta a violência estrutural da plantation açucareira através de estética da decomposição que valoriza redes subterrâneas de resistência, dialogando criticamente com pensadores como Malcom Ferdinand e Anna Tsing para imaginar futuros decoloniais.

 Joesile Cordeiro navega pela memória afetiva de ser um jovem gay em busca de reconexão com sua infância perdida na encenação Tempo de vagalume. Esta performance autobiográfica criada em Garanhuns constrói pontes poéticas entre passado e presente através de teatro intimista que busca transformar experiência pessoal em pensamento coletiva sobre identidade e pertencimento LGBTQIA+.

Eron Villar e DJ Vibra protagonizam o encontro entre música contemporânea e teatro épico que ressignifica o legado político de Malcolm X para o contexto brasileiro em Se eu fosse Malcolm?  A performance articula crítica decolonial e questões de raça e gênero através de linguagem cênico-musical que dissolve fronteiras entre som e cena, construindo um perspectiva antirracista contemporânea.

Circo Godot (Cia. Circo Godot de Teatro) acompanha dois artistas de rua em suas peripécias cotidianas, explorando relações de poder e subsistência através de humor que transita entre o universal e o particular. A comédia convoca o espírito itinerante do teatro dos espaços não convencionais para questionar hierarquias sociais através da jornada de Gatropo e Tropino.

Corpo, Memória e Resistência

Aquelas – uma dieta para caber no mundo convida para um jantar para falar de uma santa popular assassinada. Foto Raissa Dourado

Monique Cardoso investiga invisibilização da beata Maria de Araújo, protagonista do Milagre da Hóstia em 1889, no espetáculo Cavucar. Foto: Henrique Cardozo / Divulgação

As criações nacionais e internacionais estabelecem diálogos temáticos que ultrapassam fronteiras geográficas, trazendo inquietações compartilhadas sobre corpo, memória e resistência. 

O Manada Teatro, do Ceará, desenvolve Cavucar, do projeto Pote e Navalha, através da performance solo de Monique Cardoso, que também assina direção em parceria com Murillo Ramos, sobre dramaturgia de Tércia Montenegro. A obra ficcionaliza possível descoberta dos restos mortais da beata Maria de Araújo, protagonista do Milagre da Hóstia em 1889, provocando e tensionando as violações eclesiásticas que resultaram no desaparecimento de seus vestígios e invisibilidade na história de Juazeiro do Norte. A encenação utiliza elemento fantástico para convocar o público a fabular os fatos e reconstruir a história através de suposições que questionam a construção de um dos maiores centros de fé católica do mundo.

Aquelas – uma dieta para caber no mundo reconstrói a trajetória de Maria de Bil, santa popular de Várzea Alegre assassinada em 1926 pelo companheiro, através de performance participativa dirigida por Murillo Ramos e interpretada por Juliana Veras e Monique Cardoso. O espetáculo convida o público a participar do preparo de jantar envolvendo facas, carne, sangue oferecidos à mesa com os corpos das próprias atrizes, construindo encenação delicada e cruel que apresenta caleidoscópio das violências machistas através de quadros performativos que misturam história da santa com pessoalidades das intérpretes.

Sonho de uma noite de verão, montagem da Trupe Ave Lola, no Paraná. Foto: Caique Cunha / Divulgação

A Trupe Ave Lola (PR) desenvolve duas experiências distintas da dramaturgia clássica e contemporânea sob direção de Ana Rosa Genari Tezza. Sonho de uma noite de verão revisita Shakespeare através de encenação popular com tradução de Bárbara Heliodora, reunindo nove artistas em cena – Cesar Matheus, Helena de Jorge Portela, Helena Tezza, Kauê Persona, Larissa de Lima, Marcelo Rodrigues, Pedro Ramires, Wenry Bueno e Willa Thomas – e música original composta por Arthur Jaime, Breno Monte Serrat e Julia Klüber, executada ao vivo pelos músicos Arthur Jaime e Breno Monte Serrat, criando atmosfera festiva que convida o público a testemunhar momentos de paixão, magia e loucura através de linguagem teatral popular.

Já com O Vira-lata, a Trupe Ave Lola explora amizade improvável entre uma jovem romântica que sonha com grande amor e um homem-cachorro maltratado pela fome e desamparo, questionando convenções sociais quando surge um pretendente desconhecido que desperta ciúmes do fiel amigo, construindo fábula contemporânea sobre solidariedade, abandono e os conflitos entre sonhos românticos e lealdade verdadeira.

 Lucas Torres e Bruno Parmera em Édipo REC. Foto: Estúdio Orra: Zé Rebelatto e Grabriela Passos 

O Grupo Magiluth, de Pernambuco, em seu 16º trabalho que celebra duas décadas de pesquisa continuada, comparece ao Feteag com  Édipo REC, um trabalho com direção de Luiz Fernando Marques e dramaturgia de Giordano Castro. O elenco composto por Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral, Nash Laila e Pedro Wagner constrói releitura não-linear da tragédia sofocliana que joga com a cronologia para questionar a noção de tempo no teatro.

Tebas transforma-se no Recife fantasmagórico onde o Corifeu é representado pela câmera, espelhando a produção excessiva de imagens contemporâneas das redes sociais e câmeras de segurança. A linguagem audiovisual busca inspiração no cinema experimental, desde Édipo Rex (1967) de Pasolini até Funeral das Rosas (969) de Matsumoto, questionando se teatro e cinema conseguem dar conta das múltiplas tragédias contemporâneas e por que o público sairia de casa para assistir história tão antiga.

Mas mesmo a vida sendo decepcionante, como proclama o personagem de Erivaldo Oliveira, tem festa nesta Tebas-Recife-Caruaru no primeiro ato desta peça-peste, que convoca seu povo a dançar até o pé inchar.

Cartografias Francófonas: Trabalho, Identidade e Memória Colonial

Le Quai de Ouistreham fala da situação de mulheres que trabalham em empregos precários e invisíveis

Zora Snake em L’Opéra du villageois. Foto: Agir pour le Vivant

Corpos, da Cie Mangrove, (Guadalupe/Brasil). Foto: Divulgação

As criações francófonas constroem considerações convergentes sobre precariedade, identidade e legados coloniais através de perspectivas estéticas diversificadas.

Le Quai de Ouistreham, da Compagnie la Résolue, da França, adapta investigação jornalística de Florence Aubenas sobre mulheres que trabalham em empregos precários e invisíveis, especialmente na limpeza e na manutenção, e que vivem à sombra da crise econômica. Dirigido por Louise Vignaud, com atuação de Magali Bonat.

L’Opéra du villageois, da Compagnie Zora Snake, de Camarões, manifesta resistência através de performance-ritual que ressuscita potência das máscaras africanas roubadas pelos museus europeus. Zora Snake atravessa dimensão sagrada para questionar pilhagem cultural colonial, utilizando bandeira da União Europeia, rituais com ouro e sal para despertar força ancestral das comunidades aldeãs consideradas “incivilizadas”.

Corpos (Cie Mangrove, Guadalupe/Brasil) explora estigmatização do corpo negro através de laboratório coreográfico desenvolvido por Hubert Petit-Phar e Augusto Soledade, questionando representações corporais e sexuais no cruzamento entre culturas caribenhas e brasileiras, investigando singularidades corporais diante de fronteiras estéticas e políticas contemporâneas.

palestra-performance La Vérité vaincra / A Verdade Vencerá recria entrevista de Lula a Ivana Jinkings 

La Vérité vaincra / A Verdade Vencerá, da Cie KastôrAgile, (França) desenvolve palestra-performance que adapta o livro homônimo de Luiz Inácio Lula da Silva, baseando-se nas entrevistas concedidas à editora Ivana Jinkings em janeiro de 2018, momento crucial anterior à prisão do ex-presidente. Gilles Pastor transforma documento político em teatro de resistência através das interpretações de Alizée Bingöllü e Jean-Philippe Salério, que recriam cenicamente os diálogos sobre julgamento, vida pessoal e trajetória política de Lula.

A obra materializa voz de resistência do homem afastado injustamente da arena política, expondo raiva sagrada contra injustiças através de linguagem cênica que articula testemunho pessoal com denúncia estrutural. No contexto do Feteag, esta criação francófona estabelece pontes diretas entre público brasileiro e reflexão internacional sobre democracia e autoritarismo, questionando como arte pode amplificar vozes silenciadas pelo poder judiciário e construir solidariedade transnacional diante de perseguições políticas contemporâneas.

Experiências Imersivas e Linguagens Expandidas

Dancemos… que o mundo se acaba!, da BiNeural-MonoKultur, da Argentina. Foto: Reprodução

Fábulas de nossas fúrias explora o universo gay. Foto: Rogério Alves / Divulgação

peça Neva, de Guillermo Calderón, em montagem de Marianne Consentino (PE)

Três criações exploram possibilidades de imersão e participação através de dispositivos que expandem linguagens teatrais tradicionais. Dancemos… que o mundo se acaba!, da BiNeural-MonoKultur, da Argentina, propõe áudio-obra interativa que transforma público em dançarinos, questionando coreomanias, epidemias de dança e comportamentos coletivos através de jogo que reflete sobre sedução, pandemia e medo de dançar sozinho.

Fábulas de nossas fúrias (Coletivo Atores à Deriva, RN) articula contação de histórias com afirmação política da raiva como elemento transformador, inspirando-se em Paulo Freire para questionar hierarquias conservadoras através de viados que justificam suas fúrias expondo modos de amar, invertendo lógicas que classificam “bichos” em estruturas de poder.

Neva, montagem de Marianne Consentino (PE), ambienta-se no Domingo Sangrento de 1905 em São Petersburgo, friccionando arte e política através de três atores refugiados em teatro durante massacre nas ruas. A peça de Guillermo Calderón questiona a serventia do teatro através de Olga Knipper, viúva de Tchekhov, que encena repetidamente a morte do marido enquanto cidade desaba, oscilando entre necessidade absoluta e total irrelevância da arte.

Formação de público como letramento cênico

No que se refere à formação de público, a Mostra Erenice Lisboa, voltada para estudantes da rede pública, desenvolve uma compreensão específica sobre letramento teatral. Através das apresentações de O Vira-lata, da Trupe Ave Lola, seguidas de conversas entre artistas e estudantes, o festival promove o desenvolvimento de repertórios simbólicos e críticos.

Este letramento teatral envolve a construção de ferramentas interpretativas que permitam aos jovens ter apreciar as criações teatrais em suas potencialidades expressivas. As conversas pós-apresentação funcionam como espaços de processamento coletivo da experiência estética, fundamentais para a formação de público crítico e engajado com as artes cênicas.

Atividades Formativas: Aprendizado e Troca de Saberes

Paralelamente, as oficinas propostas pelo festival desenvolvem lógicas distintas mas complementares de formação artística. A oficina com Gaëlle Bourges permite aprofundamento na pesquisa específica da artista francesa sobre feminilidade e construção de imagens corporais. Já a oficina do Teatro Container integra os participantes no processo de montagem de La Cocina Pública, criando vínculos entre formação teórica e prática artística concreta.

Vendas e Mordaças, oficina exclusiva para mulheres conduzida por Faeina Jorge, Juliana Veras e Monique Cardoso, propõe vivência sensorial e afetiva em torno de identidades femininas através de exercícios que articulam corpo, voz e memória pessoal. Por outro lado, o workshop Corpos e Territórios, ministrado por Hubert Peti-Phar, articula fundamentos culturais brasileiros e guadalupenses através de práticas corporais que dialogam com tradições ancestrais e princípios contemporâneos da dança.

Larissa Lisboa apreenta espetácuo Inquieta, com participação de Gabi da Pele Preta

A programação musical está garantida com o espetáculo Inquieta, performance de Larissa Lisboa com participação de Gabi da Pele Preta, evidenciando nova cena musical pernambucana focada em compositoras negras e LGBTQIA+. Larissa Lisboa, cantora e multi-instrumentista recifense, constrói repertório que mistura criações autorais com obras de compositoras contemporâneas locais, enquanto Gabi da Pele Preta, de Caruaru, desenvolve sonoridade inovadora que mescla maracatu, coco, afoxé com jazz, soul e reggae, celebrando identidade negra através de conscientização social musicada.

Sustentabilidade e Articulação Institucional

Quanto à sustentabilidade, a rede de apoios do FETEAG 2025 demonstra capacidade articulatória entre diferentes esferas: federal (Ministério da Cultura), estadual (Funcultura, Fundarpe), municipal (Fundação de Cultura de Caruaru) e privada (Banco do Nordeste, Rede Itaú, Vale). A parceria com o Consulado Geral da França viabiliza a programação francófona dentro da Temporada França-Brasil 2025, demonstrando como acordos bilaterais podem amplificar recursos para programação cultural.

Com 34 edições no currículo, o Feteag confirma a qualidade artística com relevância social, diversidade internacional com fortalecimento da produção local, formação de público com experimentação estética. Esta programação evidencia como festivais podem funcionar como plataformas de articulação entre diferentes mundos – artísticos, sociais, educacionais, políticos. Neste contexto, o festival afirma o teatro como necessidade social e política em tempos de urgência democrática, construindo experiências coletivas de pensamento e sensibilidade.

Programação Completa do FETEAG 2025

RECIFE
09 e 10/10

À mon seul désir (Ao meu único desejo),
de Gaëlle Bourges (França)
Local: Teatro Luiz Mendonça | Horário: 20h | Classificação: 18 anos

CARUARU
15/10

Dancemos… que o mundo se acaba!,
de BiNeural-MonoKultur (Argentina)
Local: Estação Ferroviária | Horário: 19h | Classificação: Livre

Édipo REC, do Grupo Magiluth (PE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 20h | Classificação: 18 anos

16/10

Fábulas de nossas fúrias, de Cia de Atores à Deriva (RN)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 20h | Classificação: 16 anos

17/10

NEVA,
de Marianne Consentino (PE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 20h | Classificação: 16 anos

18 e 19/10

Sonho de uma noite de verão,
da Trupe Ave Lola (PR)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 17h | Classificação: 12 anos

A Cozinha Pública (La Cocina Pública),
Teatro Container (Chile)
Local: Centro de Formação Paulo Freire (Assentamento Normandia) | Horário: 17h | Classificação: Livre

20 a 24/10

O Vira-lata,
da Trupe Ave Lola (PR) – 
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 9h | Classificação: Livre

20/10

Itaêotá,
do Grupo Totem (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 12 anos

Cavucar,
da MANADA Teatro (CE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

21/10

Circo Godot,
da Cia. Circo Godot de Teatro (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: Livre

Aquelas – uma dieta para caber no mundo,
do MANADA Teatro (CE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

22/10

Se eu fosse Malcolm?,
de Eron Villar & DJ Vibra (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 14 anos

Le Quai de Ouistreham (O cais de Ouistreham),
da Compagnie la Résolue (França)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

23/10

Tempo de vagalume,
de Joesile Cordeiro (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 14 anos

A Verdade Vencerá/LULA (La Vérité vaincra/LULA),
de Gilles Pastor – KastôrAgile (França)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

24/10

Bolor,
de Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi (PE)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 12 anos

Les Sans (Os sem),
de Les Récréâtrales-ELAN (Burkina Faso)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 14 anos

25/10

L’Opéra du villageois (A ópera do camponês),
da Compagnie Zora Snake (Camarões)
Local: Estação Ferroviária | Horário: 17h | Classificação: Livre

Corpos,
da Cie Mangrove (Guadalupe/Brasil)
Local: Teatro Rui Limeira Rosal | Horário: 19h | Classificação: 12 anos

Inquieta (Música),
de Larissa Lisboa com Gabi da Pele Preta (PE)
Local: Teatro Lycio Neves | Horário: 21h | Classificação: 16 anos

RECIFE
26/10

À un endroit du début (Em algum lugar no início),
de Germaine Acogny e Mikaël Serre (Senegal/França)
Local: Teatro de Santa Isabel | Horário: 19h | Classificação: 14 anos

Oficinas e Atividades Formativas

Workshop Corpos e Territórios – Hubert Peti-Phar
Oficina de Criação – Teatro Container
Pesquisa Corporal – Gaëlle Bourges
Vendas e Mordaças – Faeina Jorge, Juliana Veras e Monique Cardoso (exclusiva para mulheres)

Serviço

📍 Período: 09 a 26 de outubro de 2025
🎭 Entrada: Gratuita mediante retirada de ingressos no Sympla
🏛️ Locais: Teatro Santa Isabel (Recife), Teatro Luiz Mendonça (Recife), Teatro Lycio Neves (Caruaru), Teatro Rui Limeira Rosal (Caruaru), Estação Ferroviária (Caruaru), Centro de Formação Paulo Freire – Assentamento Normandia (Caruaru)
🎯 Direção Geral: Fabio Pascoal
👥 Curadoria Mostra PE: Vika Schabbach e Igor Lopes
💰 Apoio: Ministério da Cultura, Funcultura, Fundarpe, Fundação de Cultura de Caruaru, Banco do Nordeste, Rede Itaú, Vale, Consulado Geral da França
ℹ️ Mais informações: @feteag

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Recife ferve de cultura. E haja fôlego

A mon seul désir integra programação do FETEAG. Foto: Thomas Greil / Divulgação 

 A capital pernambucana vive um momento de efervescência artística com uma agenda cultural robusta que se estende por todo outubro e adentra novembro. Entre as dezenas de atrações programadas para o período, muitas que operam em diversidade de linguagens, consolidando a vocação da cidade como importante centro cultural do Nordeste e do Brasil.

A programação contempla desde manifestações populares gratuitas até montagens teatrais contemporâneas, passando por ópera, dança e circo. O calendário atende diferentes públicos e faixas etárias, com opções que vão desde R$ 15 até espetáculos gratuitos.

Carnaval do jazz 

Mardi Gras no Recife, programação intensa no bairro do Recife

Um projeto ambicioso ancontece nesta sexta-feira (3) e sábado (4) com o Mardi Gras, evento que transporta o carnaval do jazz de Nova Orleans para as ruas históricas do Bairro do Recife. A festa gratuita promove um encontro singular entre a sonoridade do jazz norte-americano e as manifestações culturais pernambucanas. A programação inclui shows na Praça do Arsenal, complementando os tradicionais cortejos pelas ruas do Bom Jesus e da Guia.

Blocos tradicionais como Galo da Madrugada, Vassourinhas de Olinda, Clube Vassourinhas de Olinda, Urso do Bairro Novo e Maracatu Pavão Misterioso participam da celebração, que também conta com sambadeiras, o Bloco Cordas e Retalhos, Papangus de Bezerros e atrações musicais como Chacon, Kind of Jazz e Boi da Macuca. A Orquestra de Jazz Mardi Gras, sob direção do maestro José Henrique, conduz musicalmente o evento.

Sertão de Zé Ramalho. Foto: Priscila Prade

Nesta sexta-feira (3), estreia no Teatro Luiz Mendonça o espetáculo O Admirável Sertão de Zé Ramalho, que percorre quatro décadas da obra do cantor paraibano. A montagem, com apresentações até domingo (5), traz dramaturgia de Pedro Kosovski organizada em cinco módulos temáticos que revisitam clássicos como Admirável Gado Novo, Chão de Giz e Avohai.

A direção de Marco André Nunes conduz um elenco formado por Duda Barata, Eli Ferreira, Cesar Werneck, Marcello Melo, Muato, Nizaj e Tiago Herz, além dos músicos Verônica Sanfoneira e Rostan Junior. O espetáculo de 70 minutos faz uma releitura cênica da trajetória artística de um dos maiores nomes da MPB nordestina.

Programação infantil 

Floresta dos Mistérios. Foto: Silvia Machado

Chapeuzinho de Neve Adormecida. Foto: RomeuSantos

Para o miúdos duas opções neste fim de semana. Floresta dos Mistérios entra na segunda semana nesta sexta (3) na Caixa Cultural Recife e segue em cartaz sábado (4) e domingo (5). O musical infantil narra a aventura de três crianças que descobrem um plano para destruir uma floresta e construir uma fábrica de celulares, contando com a ajuda de personagens da literatura popular brasileira.

O espetáculo utiliza um elenco de 20 marionetes de diferentes proporções, concebidos por Márcio Pontes. A montagem apresenta uma variedade de figuras que representam tanto a biodiversidade brasileira quanto elementos da tradição como Saci, Iara e Boitatá, desenvolvida com uma perspectiva otimista sob a criação textual e direção cênica de Márcio Araújo, idealizador do programa televisivo infantil Cocoricó.

No sábado (4), o Teatro Barreto Júnior recebe Chapeuzinho de Neve Adormecida, produção da Helena Siqueira Produções com texto e direção de Ivaldo Cunha Filho. O musical mistura personagens de diferentes contos de fadas, que se metem numa confusão criada pela protagonista Bia, interpretada por Beatriz Siqueira. O elenco inclui Jéssica Viana, Rayo Vasconcelos, Thiago Augusto, Juan Elias e os bailarinos João Alberth e Gabriel Diego, com coreografias de Leonardo Soares.

Ópera italiana La Serva Padrona explora o humor

Ainda nesta sexta (3), o Teatro Apolo apresenta A Corajosa Caça de um Covarde Caçador, comédia regional que se passa em Nordestia, cidade fictícia do interior nordestino. A trama acompanha Jeremias, um covarde que assume a missão de caçar uma criatura estranha que assombra a população local, resultando numa narrativa repleta do humor nordestino.

A semana seguinte traz a ópera La Serva Padrona de Giovanni Battista Pergolesi, com apresentações gratuitas de 8 a 11 de outubro no Teatro Hermilo Borba Filho. A montagem da 25 Produções, dirigida por Luiz Kleber Queiroz e musicalmente pela maestrina Maria Aida Barroso, incorpora elementos nordestinos como expressões populares e figurinos regionais à clássica trama cômica italiana sobre as artimanhas de uma criada para conquistar o posto de esposa do patrão.

A Mon Seul Désir, criação da artista francesa Gaëlle Bourges. Foto: Danielle Voirin / Divulgação

O Festival de Teatro do Agreste (FETEAG) chega à sua 34ª edição mantendo o espírito experimental que o caracteriza desde a fundação. Entre 9 e 26 de outubro, o evento realizado pelo TEA – Teatro Experimental de Arte apresenta 21 espetáculos em diversos teatros de Caruaru e Recife, reunindo criações de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraná, França, Argentina, Chile, Camarões, Burkina Faso e Guadalupe.

O festival é antecedido pelo Esquenta FETEAG com A Mon Seul Désir nos dias 9 e 10 de outubro no Teatro Luiz Mendonça. A criação da artista francesa Gaëlle Bourges baseia-se na tapeçaria medieval A Dama e o Unicórnio, tecida em 1500 e exposta no Museu da Idade Média em Paris. O espetáculo questiona a visão europeia histórica sobre a virgindade feminina através de quatro performers que recriam a obra em cena, explorando as ambivalências da representação das mulheres na arte ao longo dos séculos.

Improviso e criação coletiva dos Barbixas

No fim de semana seguinte (11 e 12 de outubro), o Teatro RioMar recebe Improvável, espetáculo de improvisação teatral da Cia Barbixas. O trio formado por Anderson Bizzochi, Daniel Nascimento e Elidio Sanna, com mais de duas décadas de parceria artística, cria cenas inteiramente a partir de sugestões da plateia. No sábado (11), há duas sessões às 18h30 e 21h, enquanto domingo (12) apresenta sessão única às 20h.

A companhia, que sacudiu o teatro de improviso no Brasil, trabalha com diferentes formatos cênicos incluindo musicais, westerns, novelas e até óperas, sempre mantendo o humor inteligente e a interação constante com o público. Cada apresentação é única, pois depende inteiramente da criatividade coletiva entre artistas e espectadores.

Jeison Walace como Cinderela. Foto: Divulgação

Toda Cidade Tem com Jeison Wallace, ocupa neste sábado (4), o Teatro do Parque. O comediante apresenta show de humor onde interpreta diversos personagens, incluindo uma versão cômica de Cinderela, em apresentação única às 18h. Wallace, conhecido por sua versatilidade cênica, constrói um espetáculo onde cada personagem representa diferentes tipos humanos encontrados em qualquer cidade brasileira.

Dramas contemporâneos na segunda quinzena

As Bruxas de Salem numa montagem da Cobogó das Artes

A terceira semana de outubro (15 e 16) traz duas montagens teatrais de forte apelo dramático. No Teatro Apolo, As Bruxas de Salem apresenta adaptação livre da obra clássica de Arthur Miller, dirigida por Anthony Delarte. A montagem da Cobogó das Artes, com produção executiva de Adriano Portela, ambienta a trama numa pequena vila puritana onde fé e medo se confundem, questionando verdade, manipulação e a coragem necessária para questionar autoridades.

Já o Teatro Hermilo Borba Filho recebe Imorais do Bando de Nada – Grupo de Teatro. O texto de Cristiano Primo, com adaptação e direção de Emmanuel Matheus e produção da Lynda Produções, propõe uma experiência cênica intensa sobre uma família e suas relações complexas. O elenco formado por Aline Santos, Cristiano Primo, Lynda Morais, Felipe Nunes e Tarcila Nunes conduz a narrativa que questiona se sempre temos direito à escolha, em espetáculo classificado para maiores de 18 anos.

 50 anos do Grupo Corpo

Grupo Corpo circula com dois espetáculos celebrando meio século de vida

Nos dias 17 e 18 de outubro, o Teatro Santa Isabel recebe o Grupo Corpo de Belo Horizonte em apresentações gratuitas que celebram os 50 anos da companhia, dentro da . A programação inclui dois espetáculos distintos: Parabelo, coreografia clássica de 1997 de Rodrigo Pederneiras, com com música de Tom Zé e Zé Miguel Wisnik, que celebra aspectos da vida sertaneja através de ritmos e gestos característicos da cultura nordestina. E Piracema, criação mais recente com coreografia inspirado na jornada dos peixes que enfrentam a correnteza para desovar.  O trabalho tem parceria coreográfica entre Rodrigo Pederneiras e Cassi Abranches. A trilha inédita de Clarice Assad transita do tribal ao eletrônico. Já a cenografia de Paulo Pederneiras utiliza 82 mil tampas de latas de sardinha para evocar escamas de cardumes,

As duas obras demonstram a evolução artística da companhia ao longo de cinco décadas, desde a fundação em 1975. Parabelo dialoga diretamente com as raízes culturais nordestinas, enquanto Piracema representa a constante renovação do repertório através de novas parcerias criativas.

Sonho encantado de cordel. Foto: Joao Pedro Hachiya

No último fim de semana do mês (25 e 26 de outubro), o Teatro Luiz Mendonça recebe Sonho Encantado de Cordel – O Musical. A produção de Thereza Falcão mistura cultura nordestina com contos de fadas de Hans Christian Andersen, buscando uma celebração da arte, poesia e poder dos sonhos. Os cenários e figurinos assinados por Rosa Magalhães e Mauro Leite dialogam com projeções de Batman Zavareze e coreografias de Renato Vieira.

A trilha sonora conta com 10 músicas inéditas compostas especialmente para o espetáculo por Paulinho Moska, Chico César e Zeca Baleiro, sob direção musical de Marcelo Alonso Neves. No sábado (25) há sessão às 17h, enquanto domingo (26) apresenta duas sessões, às 15h e 17h.

Festival de Circo

Vermelho Branco e Preto. Cibele Mateus. Foto: Mateus Tropo

 O Vazio é Cheio de Coisa da Cia Nós No Bambu de Brasília. Foto: Diego Bresani

Le Bruit des Pierres, do Collectif Maison Courbe da França

O mês de novembro será marcado pelo Festival de Circo do Brasil, que apresenta pelo menos três espetáculos já confirmados. Vermelho, Branco e Preto traz Cibele Mateus de São Paulo em solo que mescla riso, poesia e encantamento popular. A artista apresenta a figura cômica “Mateu”, inspirada no tradicional Cavalo-marinho pernambucano, em espetáculo-brincadeira que celebra identidade e ancestralidade. As apresentações acontecem nos dias 5 e 6 de novembro às 19h30 no Teatro Apolo.

No dia 6 de novembro, o Teatro Santa Isabel recebe O Vazio é Cheio de Coisa da Cia Nós No Bambu de Brasília. O espetáculo apresenta dança acrobática minimalista que explora a relação entre corpo humano e bambu, criando uma profusão de imagens e significados em dramaturgia poética onde simplicidade e complexidade se encontram.

A programação inclui ainda Le Bruit des Pierres do Collectif Maison Courbe da França, nos dias 8 e 9 de novembro no Teatro Santa Isabel. A criação híbrida combina circo coreográfico e teatro físico, com duas mulheres que encarnam a ganância ocidental pelo ouro através de coreografias realizadas com pedras, questionando a relação entre homem e ambiente.

Deborah Colker revisita Stravinsky

Sagração. Foto: Flavio Colker

A programação também contempla Sagração da Companhia Deborah Colker, livre adaptação de A Sagração da Primaverade Stravinsky que incorpora visões ancestrais brasileiras sobre a origem do mundo. A criação e direção de Deborah Colker, com direção executiva de João Elias e direção musical de Alexandre Elias, apresenta música clássica em diálogo com ritmos brasileiros como boi bumbá, coco, afoxé e samba. O espetáculo conta com dramaturgia de Nilton Bonder, figurinos de Claudia Kopke, desenho de luz de Beto Bruel e fotografia de Flávio Colker, no Teatro Guararapes.

A amplitude da programação, que engloba desde manifestações populares gratuitas até montagens de companhias internacionais, evidencia a vitalidade do cenário cultural recifense. A presença de artistas locais, nacionais e estrangeiros, somada à variedade de preços inclusive com espetáculos gratuitos, consolida a capital pernambucana como importante centro de circulação artística no Nordeste brasileiro. A produção local, mais especificamente a produção teatral recifense necessita de injeções generosas recursos, de apoios e patrocínio para mostrar-se em todo seu esplendor. 

SERVIÇO

🎷 Mardi Gras em Recife
Data: 3 e 4/10, a partir das 17h (sex) e 16h (sáb)
Local: Ruas do Bom Jesus e da Guia, Bairro do Recife + Shows na Praça do Arsenal
Preço: Gratuito

🌿 Floresta dos Mistérios
Data: 3/10 (15h), 4 e 5/10 (11h)
Local: Caixa Cultural Recife
Preço: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

🎸 O Admirável Sertão de Zé Ramalho
Data: 3/10 (20h), 4/10 (19h), 5/10 (18h)
Local: Teatro Luiz Mendonça
Preço: Sexta gratuito; sábado/domingo a partir de R$ 25

🎭 Chapeuzinho de Neve Adormecida
Data: 4/10 (16h)
Local: Teatro Barreto Júnior
Preço: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia)

🎪 A Corajosa Caça de um Covarde Caçador
Data: 3/10 (19h30)
Local: Teatro Apolo
Preço: R$ 35 + 1kg alimento
Info: @covardes.cacadores

🎭 Toda Cidade Tem com Jeison Wallace
Data: 4/10 (18h)
Local: Teatro do Parque
Preço: Sympla
Info: (81) 98463.8388

🎼 Ópera La Serva Padrona
Data: 8 a 11/10 (19h30)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Preço: Gratuito
Info: @25producoes

🎭 A Mon Seul Désir – Esquenta FETEAG
Data: 9 e 10/10 (20h)
Local: Teatro Luiz Mendonça
Preço: Gratuito

🎪 Improvável – Cia Barbixas
Data: 11/10 (18h30 e 21h), 12/10 (20h)
Local: Teatro RioMar
Preço: A partir de R$ 60

🎭 As Bruxas de Salem
Data: 15 e 16/10 (19h)
Local: Teatro Apolo
Preço: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia), R$ 40 (meia social + 1kg alimento)
Info: @anthonydelarte, @cobogodasartes

🔞 Imorais
Data: 15 e 16/10 (20h)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Preço: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Ingressos: Sympla ou Pix: bandodenada@gmail.com

🩰 Grupo CorpoParabelo e Piracema
Data: 17/10 (19h), 18/10 (20h)
Local: Teatro Santa Isabel
Preço: Gratuito (retirada 1h antes + 1kg alimento)

Sonho Encantado de Cordel
Data: 25/10 (17h), 26/10 (15h e 17h)
Local: Teatro Luiz Mendonça
Info: @sonhoencantadodecordel

🎪 Festival de Circo do Brasil
Vermelho, Branco e Preto: 5 e 6/11 (19h30) – Teatro Apolo
O Vazio é Cheio de Coisa: 6/11 (20h) – Teatro de Santa Isabel
Le Bruit des Pierres: 8/11 (20h), 9/11 (18h) – Teatro de Santa Isabel

🌟 Sagração – Cia Deborah Colker
Local: Teatro Guararapes
Data: 07/10, 20h30
Preço: R$ 25 a R$ 250

🎨 FETEAG
Data: 9 a 26/10
Locais: Diversos teatros em Caruaru e Recife
Preço: Gratuito (ingressos no Sympla)
Info: www.feteag.com.br | @feteag

Informações gerais: Sympla e bilheterias dos teatros.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , ,

Em Pernambuco, FETEAG chega à 33ª edição

 

Zona Franca abre a programação do Festival de Teatro do Agreste. Foto: Renato Mangolin / Divulgação

Zona Franca, vibrante espetáculo da coreógrafa brasileira Alice Ripoll e sua Cia Suave, junta danças urbanas e populares brasileiras com dança contemporânea, teatro e canto. O elenco, composto por bailarinos oriundos das favelas do Rio de Janeiro, leva ao palco as realidades da juventude brasileira em um contexto de desigualdades sociais. Utilizando elementos como balões, confetes e ritmos variados, Zona Franca cria um ambiente festivo que serve de pano de fundo para questões mais profundas. A coreografia incorpora uma ampla gama de estilos, incluindo passinho, danças afro, afrohouse, e danças regionais do Norte e Nordeste do Brasil, como pisadinha e brega funk.

Com  Zona Franca, que convida a uma reflexão sobre identidade, sociedade e o potencial transformador da arte em um contexto global cada vez mais interconectado, o Festival de Teatro do Agreste (FETEAG) abre hoje sua 33ª edição, que ocorre entre 17 a 29 de setembro de 2024, com uma programação diversificada que inclui 20 trabalhos teatrais, performances de dança em Caruaru e no Recife.

A seleção abrange produções de dez estados brasileiros, oferecendo ao público um recorte interessante da cena teatral contemporânea nacional. Com isso, o FETEAG 2024 busca manter seu compromisso com a acessibilidade cultural, disponibilizando todas as atividades gratuitamente e promovendo discussões sobre temas relevantes da atualidade através das artes cênicas.

Este ano, o FETEAG expande seu escopo, incorporando ações formativas e residências artísticas em sua programação. Ao realizar o evento em cidades do interior e na capital pernambucana, o festival contribui para a descentralização das atividades culturais, fortalecendo o papel do Agreste como um polo importante para as artes performáticas no Brasil.

Além de Zona Franca, com sessões nesta terça e quarta (17 e 18/09), no Teatro de Santa Isabel, a Mostra Recife abriga quinta e sexta (19 e 20/09), no Teatro Hermilo Borba Filho, a peça Meu Corpo Está Aqui, da Fábrica de Eventos,  que aborda as experiências afetivas e sexuais de pessoas com deficiência (PCDs). Criada pelas artistas cariocas Julia Spadaccini e Clara Kutner, a produção utiliza depoimentos ficcionalizados baseados em experiências reais para explorar temas como relacionamentos, corpos e desejos de forma aberta e direta, questionando  concepções culturais sobre “normalidade”.

O Velho Relojoeiro e as Voltas do Tempo, da Trupe Motim do Ceará. Foto: Divulgação

Manifesto Transpofágico, com Renata de Cervalho. Foto: Danilo Galvão / Divulgação

A partir do dia 21, o festival se desloca para Caruaru, onde a Mostra Argemiro Pascoal dá início às atividades, tecendo conexões entre as diversas produções que compõem sua programação. O Velho Relojoeiro e as Voltas do Tempo, da Trupe Motim/CE  (21/09), utiliza bonecos gigantes para explorar a passagem do tempo. Esse tema ressoa em Goldfish, de Alexandre Américo/RN, 23/09), onde a metáfora do peixe dourado reflete sobre memória e efemeridade. Essa reflexão sobre temporalidade encontra eco em Sal: Como durar o tempo, de Alexandre Américo e grupo/RN, 28/09), que usa o sal como símbolo de resistência e preservação. Outro diálogo com  essa linha temática se dá com Há uma festa sem começo que não termina com o fim, com  Pavilhão da Magnólia/CE, 29/09), que celebra o tempo e investiga a morte.

Paralelamente, o festival recebe montagens que investem em questões de identidade e corpo como Manifesto Transpofágico, de Renata Carvalho/SP, (21/09), que desafia convenções de gênero. Já Monga, de Jéssica Teixeira/CE, (22/09) explora estereótipos através do mito da mulher gorila. Essa exploração corporal também tem espaço em Chão, da Cia de Dança do Teatro Alberto Maranhão e TORTA/RN,  (24/09), conectando o corpo à terra e à ancestralidade. Esse tema se desdobra em Ancés, de Tieta Macau PI/MA/CE, (27/09), exaltando a herança cultural nordestina.

A jornada de autoconhecimento e confronto interno é aprofundada em Dança Monstro, da Cia dos Pés/AL), (26/09), mergulhando nos monstros internos, e em Violento, de Preto Amparo e grupo/MG, (28/09), que aborda a experiência do jovem negro urbano.

Vamos pra Costa?, do Núcleo da Tribo/BA, 25/09) toca em temas como migração e esperança, enquanto Laborioso Contato – Um palhaço anuncia o fim do mundo, da Trupe Motim/CE, usa o humor para discutir questões existenciais em um cenário apocalíptico.

Marcia Luz em AnTígona – A Retomada. Foto: Divulgação

A Mostra Pernambuco, que celebra o talento de artistas pernambucanos e a riqueza cultural do estado ocorre no Teatro Rui Limeira Rosal e na Praça Coronel João Guilherme em Caruaru, de 22 a 29 de setembro. São oito espetáculos, com releituras de clássicos, como AnTígona – A Retomada de Márcia Luz (23/09) e “Dois Perdidos Numa Noite Suja” do Ágora Núcleo Teatral (25/09).

O Estopim Dourado, de Anny Rafaella Ferli, Gardênia Fontes e Taína Veríssimo (27/09) trabalha no campo do empoderamento feminino e resistência, utilizando elementos poéticos e visuais, enquando  Ensaio do Agora – Memória em Chamas, de Natali Assunção (26/09), explora a memória e a identidade, refletindo sobre o presente e as possibilidades de futuro..

A diversidade temática e estilística é um ponto marcante da Mostra Pernambuco. Enquanto Senhora do Coletivo Alfazema (24/09) e A Mulher do Fim do Mundo da Cia. Os Bobos da Corte (22/09) se dedicam às experiências e desafios enfrentados pelas mulheres em diferentes contextos, O Velho da Horta do Grupo Mamulengo Só-Riso (28/09) traz o humor e a tradição dos bonecos para o palco.

O infantil Brincando no Escuro, da Maktub Teatro e Outras Invencionices (PE), será apresentado em várias sessões no Teatro João Lyra Filho. A peça conta a história de três crianças – Frida, Ziggy e Pingo – que se encontram para brincar quando ocorre uma falta de energia. Sem acesso a aparelhos eletrônicos, elas são desafiadas a usar a imaginação, resgatando brincadeiras tradicionais.

Ações Formativas

Além das apresentações teatrais, o FETEAG 2024 promove ações formativas. A mesa Diálogos Transversais: Confabulando o Agora Para Mirar no Amanhã, uma iniciativa que promete instigar reflexões sobre o cenário artístico contemporâneo. Esta discussão contará com a palestra da Hblynda Morais, de Pernambuco, e a participação especial de Renata Carvalho, de São Paulo, sob a mediação de Lucimary Passos, também pernambucana.

Além disso, Alexandre Américo, do Rio Grande do Norte, conduzirá uma oficina de montagem do espetáculo Sal: Como durar o tempo, que culminará com os participantes subindo ao palco para apresentar o resultado do trabalho.

Espaços e Ingressos

Os espetáculos em Caruaru serão realizados no Teatro Lycio Neves, Teatro Rui Limeira Rosal, Teatro João Lyra Filho e na Estação Ferroviária. Em Recife, as apresentações ocorrem no Teatro de Santa Isabel e no Teatro Hermilo Borba Filho. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados através da plataforma Sympla, sujeitos à lotação dos espaços.

Patrocínio e Apoio

O FETEAG 2024 conta com o patrocínio da Redecard Itaú e o incentivo da Lei Paulo Gustavo Pernambuco, através do Governo do Estado de Pernambuco e Secretaria de Cultura do Estado, direcionado pelo Ministério da Cultura – Governo Federal. O festival também recebe apoio cultural da Rede Asa Branca e apoio institucional do Consulado Geral da França no Recife, Institut Français, Sesc, Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Artes e Comunicação (CAC), Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Secretaria de Cultura do Recife e Prefeitura do Recife.

Serviço

  • Período: 17 a 29 de setembro de 2024
  • Locais: Caruaru (Teatro Lycio Neves, Teatro Rui Limeira Rosal, Teatro João Lyra Filho e Estação Ferroviária) e Recife (Teatro de Santa Isabel e Teatro Hermilo Borba Filho)
  • Ingressos: Gratuitos, com retirada na Sympla (sujeitos à lotação dos espaços)
  • Informações: www.feteag.com.br e @feteag (Instagram)
Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,