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A palavra cortante de Hilda Hilst

Hilda Hilst é homenageada em mostra no Recife

Hilda Hilst é homenageada em mostra no Recife

Com palavras, gestos e atitudes Hilda Hilst (21 de abril de 1930 – 4 de fevereiro de 2004) deixou sua marca revolucionária na literatura. Mas não foi fácil o reconhecimento tanto na poesia, quanto na dramaturgia e na prosa narrativa.

“Quero ser lida em profundidade e não como distração, porque não leio os outros para me distrair mas para compreender, para me comunicar. Não quero ser distraída. Penso que é a última coisa que se devia pedir a um escritor: novelinhas para ler no bonde, no carro, no avião. Parece que as pessoas querem livrar-se assim de si mesmas, que têm medo da ideia, da extensão metafísica de um texto, da pergunta, enfim”, argumentou a escritora em entrevista publicada no Estado de São Paulo, em 1975.

Mesmo uma obra profunda, complexa e rica, suas peças não eram montadas nem seus livros ganhavam novas edições. Ela resolveu, então, apelar para o que chamava de “bandalheira” e escreveu livros pornográficos. Mas não era uma pornografia qualquer, e sim textos repletos de ironia, com críticas afiadas a esse mundo dominado pelo capital.

Hilda Hilst escreveu a trilogia obscena e pornográfica: O caderno rosa de Lori Lamby (1990), Cartas de um sedutor (1991), Contos d’escárnio/ Textos grotescos (1992).

Surtiu efeito e toda sua obra foi relançada pela Globo Livros a partir de 2001. Mas ela veio a morrer em 2004,

A escritora teve uma vida social intensa na São Paulo dos anos 1950. Ela participou das farras da alta sociedade paulistana desfrutando de viagens, festas e amantes.

Quando cansou dessa roda, optou por um exílio voluntário, na década de 1960, numa propriedade da mãe, em Campinas, batizada de Casa do Sol.

Os grupos artísticos Duas Companhias, Unaluna e Coletivo Lugar Comum, em parceria com a Decanter Articulações Culturais e patrocínio da Inteligência XXI, celebram Hilda Hilst com uma programação de dois dias, na Galeria Café Castro Alves, com leituras dramatizadas, desenhos, instalações e cenários inspirados na escritora e sua obra. Vão entrar em cena Fabiana Pirro, Ceronha Pontes, Luciana Lyra, Silvia Góes, Samarone Lima e Conrado Falbo.

polêmica e deliciosa, obra da escritora ganha leitura dramatizada na Galeria Café Castro Alves Obra da escritora ganha leitura dramatizada na Galeria Café Castro Alves
Serviço:
Mostra Hilda Hilst
Onde: Café Castro Alves (Rua Capitão Lima, 280, Santo Amaro)
Quanto: R$ 10 por noite

Terça-feira, às 20h – Fabiana Pirro, Ceronha Pontes, Luciana Lyra fazem leituras dramáticas. Em seguida, o Grupo Obscena conversa com o diretor do Instituto Hilda Hilst e amigo pessoal da escritora, Jurandy Valença

Quarta-feira, às 20h – O professor e psicanalista Pedro Gabriel fala sobre o Eros na obra de Hilda Hilst. Silvia Góes, Samarone Lima e Fabiana Pirro fazem leituras dramáticas

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Palhaças cheias de graça

Divinas, na VI Mostra Capiba. Foto: Pollyanna Diniz

Estas palhaças nos ensinam muito com a leveza e a poesia despretensiosa. Elas seguem o mesmo caminho. Contam histórias. Trocam farpas. Consentem e negam – até um golinho de água. Muitas vezes pensam em desistir. Mas algo é maior; e Uruba (Fabiana Pirro), Bandeira (Odília Nunes) e Zanoia (Lívia Falcão) continuam a jornada juntas. Divinas é um espetáculo simples, singelo e delicioso.

A dramaturgia de Marcelo Pelizzoli, Samarone Lima e Silvia Góes é a ponta de um novelo de lã para o que se vê no palco com a Duas Companhias. São pequenas histórias de palhaças que não sabem para onde vão, mas seguem. Com humor e sensibilidade na medida, o texto é o suporte para que as atrizes se aproximem do público; já a quase inevitável conquista é resultado do trabalho de atrizes que amadureceram com a experiência, mas ao mesmo tempo esbanjam frescor.

Já tinha visto Divinas em pelo menos duas ocasiões: quando elas fizeram um ensaio aberto no Teatro Marco Camarotti e durante uma temporada no Teatro Barreto Júnior. E pude comprovar que o espetáculo só cresceu. Na apresentação na Mostra Capiba Fabiana Pirro estava impagável: Uruba tem um humor mais ácido, é lindamente egoísta e comilona. Lívia Falcão nos seduz com Zanoia, sua pedrinha mágica e a história da mulher touro. E como Odília Nunes é uma ótima aquisição para o grupo! A experiência de anos na arte da palhaçaria está no palco com Odília e seus estratagemas para conseguir o que quer.

Quando digo que o espetáculo é simples me refiro também a soluções cênicas que vão desde um lenço que simula uma fogueira. Tanto o cenário quanto o figurino e os adereços são assinados pelas próprias atrizes. A trilha sonora original é de Beto Lemos e Luca Teixeira está em cena com vários efeitos de percussão que complementam as histórias engraçadas e fantasiosas.

Logo quando a Duas Companhias começou o processo de montagem de Divinas, lembro que conversei com Lívia Falcão; Odília ainda não estava nem no elenco. A ideia inicial era tratar do feminino. E quem guiava esse caminho era o diretor Moncho Rodriguez, que mora em Portugal. Tempos depois, veio um projeto de formação de palhaças na Zona da Mata e o consequente encontro com Adelvane Neia, de Campinas, responsável pela preparação das palhaças-atrizes para este espetáculo.

O feminino continua em cena, claro. Mas a opção pela investigação dessa identidade dos clowns das atrizes se estabelece de forma determinante. Pode até nem ter sido o mais fácil. Pode ser que esse caminho tenha sido de muitas curvas. Mas o resultado é gratificante. O público sai do teatro feliz. Simples assim.

Zanoia (Lívia Falcão)

Uruba (Fabiana Pirro)

Bandeira (Odília Nunes)

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Que o baile continue…

O Natal comemorado com o Baile do Menino Deus, no Marco Zero, no Recife, passa ao largo das fórmulas prontas que envolvem Papai Noel e afins. Nessa celebração, o nascimento de Jesus é lembrado através da cultura popular. Com texto de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima e músicas de Antônio Madureira, o Baile do Menino Deus é considerado uma ópera popular, congregando imagens diversas da tradição natalina do Nordeste como reisados, pastoris e lapinha. A curtíssima temporada do espetáculo começou ontem (com ótimo público) e segue até o dia 25, sempre às 20h.

Neste auto de Natal, dois Mateus procuram a casa em que nasceu o menino; mas quando finalmente acham, a porta não abre; e quando abre, eles precisam da autorização dos pais da criança e donos da casa para realizar o baile. Sóstenes Vidal e Arilson Lopes interpretam os dois Mateus com graça e muita poesia. Dá para perceber o quanto eles se divertem em cena e o público é agraciado com esse jogo.

Crianças e adultos são tomados pela história, pelas imagens construídas no palco e pela musicalidade do espetáculo. Um dos solistas é Silvério Pessoa, alguém que já carrega consigo – o ano inteiro – o espírito de brincadeira, celebração e cultura popular do baile. Há ainda as belas vozes de Virgínia Cavalcanti e do casal Isadora Melo, que interpreta Maria, e Zé Barbosa, que faz José. Lindo o dueto de Isadora e Zé.

A trilha sonora é executada ao vivo por 15 músicos, regidos pelo maestro José Renato Accioly. Para completar, um coro adulto com 13 cantores e um coro infantil, coordenado por Célia Oliveira, com 12 crianças cantoras; fundamental, aliás, a participação delas no espetáculo.

As coreografias são assinadas por Sandra Rino. No palco, os bailarinos Isaac Souza, Inaê Silva, Jáflis Nascimento, José Valdomiro, Juliana Siqueira, Marcela Felipe, Renan Ferreira e Rennê Cabral. O elenco tem ainda Otávio Guerra, como o Mestre Rabequeiro e a atriz Fabiana Pirro como mestre de cerimônias.

A direção de arte é de Marcondes Lima e este ano merecem destaque os figurinos (pensado em todos os detalhes e de um efeito lindo). A direção geral é do próprio Ronaldo Correia de Brito e a assistência de direção de Quiercles Santana. A produção é da Relicário, com patrocínio do Governo do Estado de Pernambuco e da Prefeitura do Recife.

Baile do Menino Deus
Quando: hoje (24) e amanhã (25), às 20h
Onde: Marco Zero, Bairro do Recife

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Hermilo na comemoração da Duas Companhias

Mulheres palhaças em Divinas. Foto: Ivana Moura

A Duas Companhias, de Lívia Falcão e Fabiana Pirro (e de mais um bocado de gente!), está comemorando oito anos de atividades. Para marcar a data, desde o início de outubro, o coletivo está apresentando alguns dos espetáculos do repertório no Teatro Barreto Júnior, no Pina.

Dentro dessa programação, haverá a leitura dramatizada de Um paroquiano inevitável, texto de Hermilo Borba Filho. (Um adendo…Vale lembrar que há, talvez dois anos, a Duas Companhias mantenha um programa muito bom de leituras dramatizadas nos Correios). A leitura será hoje, às 20h, no Barreto Júnior, e estão no elenco Agrinez Melo, Bernardo Valença, Mário Sérgio Cabral, Cláudio Ferrario, Sônia Bierbard, Luciano Pontes, José Mário Austregésilo, Flávio Louzas e Fabiana Pirro. A direção é de Livia Falcão e a entrada é gratuita.

Já amanhã (19), às 20h, Lívia, Fabiana e Odília Nunes apresentam a montagem Divinas – um espetáculo de palhaças que fala do feminino, dos sonhos, do lúdico. No sábado (20), é a vez de Caxuxa, às 16h30, montagem para infância e juventude com direção de Lívia Falcão; e de Caetana, às 20h. Em Caetana estão em cena Lívia e Fabiana.

No domingo, para encerrar o projeto, mais uma sessão de Caxuxa, às 16h30, e outra de Divinas, às 20h. Os ingressos para os espetáculos custam R$ 8 e a entrada para a leitura é gratuita.

Quem for ao teatro também deve conferir a exposição Risos da memória, montada no primeiro andar do teatro, com fotos assinadas por Daniela Nader, Renata Pires, Fred Jorão, Rodolfo Araújo, Renato Filho, Roberta Guimarães e Dudu Schneider.

Caetana. Foto: Daniela Nader

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Experiência e graça de Caetana

Fabiana Pirro (em pé) e Lívia Falcão na peça Caetana. Foto: Ivana Moura

Madura, mas sem perder o viço. A peça Caetana, do Grupo Duas Companhias, de Pernambuco, mostrou no Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas, que tem as qualidades da experiência e também uma vivacidade, uma ludicidade que a montagem exige. O espetáculo que se apresentou ontem no Teatro Túlio Piva lotado, faz mais duas sessões, uma hoje e outra amanhã. O público encarou a chuva e o frio para conferir as artimanhas dessas personagens de sotaque nordestino.

O termo Caetana é a poética forma de denominar a morte, utilizada pelo dramaturgo Ariano Suassuna em suas obras e poemas. A montagem de Moncho Rodriguez agregou o título e algo da estética armorial. A peça expõe a saga da encomendadora de almas Benta (Lívia Falcão), para driblar a morte/ Caetana (Fabiana Pirro).

Espetáculo participa do Porto Alegre em Cena com três apresentações

A rezadeira já facilitou a passagem e indicou o caminho do além para várias almas perdidas, em troca de dinheiro, é claro. Mas dessa vez é ela mesma quem se vê diante da morte, e vai parar no Reino do Invisível. Lá, Benta reencontra as almas anteriormente encomendadas por ela que aparecem em forma de bonecos.

A encenação faz referências ao circo, ao teatro mambembe, à literatura de cordel, ao mamulengo e a outras manifestações populares. Parte da ação se passa dentro da estrutura em formato circense. A trilha sonora, composta pelo português Narciso Fernandes, modula os climas do espetáculo com uma partitura que junta sonoridades da música ibérica e nordestina.

Caetana estreou no dia 17 de julho de 2004, no Festival de Garanhuns/PE. Tem, portanto, oito anos, mais de 150 apresentações e já foi vista por aproximadamente 55 mil pessoas, segundo a produção. Nesse percurso, o texto, de Moncho Rodriguez e Weydson Barros, ficou mais orgânico e ajustado às necessidades da cena.

A temática do inevitável encontro com a morte e a tentativa de fuga desse destino existe desde que o mundo é mundo. Esses arquétipos narrativos remetem para a tradição ibérica, suas lendas e contos maravilhosos. Nesse universo mágico, Benta traça círculos pelo espaço com Caetana no seu encalço. Outros personagens constróem outros desenhos num enredo de situações engraçadas, inclusive a aflição de Benta.

As atrizes foram aplaudidas com entusiasmo pela plateia gaúcha

As atrizes estão cada vez mais afinadas. Lívia Falcão explora de sua Benta a graça das figuras espertinhas e o carisma do palhaço. Ela imprime leveza, ousadia e ironia à sua personagem encantadora. Fabiana Pirro interpreta Caetana com sobriedade e peso e traça com seu corpo coreografias para a personagem. Pirro também faz as outras almas que foram recomendas para o além pela benzedeira, por trás de bonecos que ganham vida nas várias vozes da atriz. As duas nos divertem com nossas próprias assombrações.

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