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Recife do teatro nacional
11 dias de festival

Peça Traidor, com Marco Nanini, abre Festival Recife do Teatro Nacional. Foto: Annelize Tozetto / Divulgação

A 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional começa nesta quinta-feira, 21 de novembro, prometendo uma intensa maratona cultural até o dia 1º de dezembro. Este evento, que se firmou como um dos mais significativos no panorama teatral brasileiro, reúne 31 espetáculos de companhias pernambucanas e de outros estados, em diversos teatros e espaços públicos do Recife. A programação inclui apresentações gratuitas, oficinas e rodas de diálogo, com ingressos distribuídos mediante a doação de um quilo de alimento não perecível, promovendo uma ação solidária que beneficia a comunidade local.

Este ano, o festival presta homenagem a Marco Nanini e Ivonete Melo (in memoriam).

Marco Nanini é uma figura icônica no cenário artístico brasileiro, com uma carreira que se estende por mais de seis décadas. Nascido no Recife, Nanini se mudou ainda criança para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua trajetória no teatro, televisão e cinema. Ele é amplamente reconhecido por sua versatilidade como ator, capaz de transitar entre o drama e a comédia com maestria. Nanini ganhou destaque nacional por seu papel na série de televisão A Grande Família, onde interpretou o personagem Lineu Silva, conquistando o carinho do público brasileiro.

No teatro, Nanini é conhecido por sua dedicação e paixão pela arte cênica. Ele já participou de inúmeras produções teatrais, muitas delas ao lado de outros grandes nomes do teatro brasileiro. Sua contribuição para as artes cênicas é inestimável, e sua presença no Festival Recife do Teatro Nacional é uma celebração de suas raízes pernambucanas e de sua trajetória.

Ivonete Melo. Foto: Reprodução

Ivonete Melo é lembrada como uma das grandes referências do teatro pernambucano. Com uma carreira marcada pela militância e dedicação, Ivonete presidiu o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Pernambuco (SATED-PE) por mais de 20 anos. Ela foi uma figura central no grupo Vivencial, conhecido por sua atuação inovadora e provocativa no teatro entre as décadas de 1970 e 1980, frequentemente desafiando normas sociais e artísticas da época.

A influência de Ivonete Melo no teatro pernambucano é inegável, refletindo seu compromisso inabalável com a defesa dos direitos dos artistas e a promoção da cultura local. Admirada por sua habilidade em inspirar e liderar, ela desempenhou um papel crucial no fortalecimento da comunidade artística. A homenagem a Ivonete no festival celebra sua dedicação e militância, ao mesmo tempo em que reconhece o impacto duradouro de seu legado na cena teatral pernambucana.

Foto: Matheus José Maria / Divulgação

Traidor é uma peça que marca a abertura do Festival Recife do Teatro Nacional, estrelada por Marco Nanini e dirigida por Gerald Thomas.

Marco Nanini, em uma performance tour de force, encarna um náufrago da própria mente, isolado em uma ilha que é tanto física quanto metafórica. Seu personagem, batizado com seu próprio sobrenome, “Nanini”, navega por um mar de memórias fragmentadas e delírios vívidos, confrontando sua identidade como ator e a própria essência do que significa ser humano em um mundo cada vez mais desconexo.

A frase que norteia Traidor, citada várias vezes ao longo da peça, é justamente aquela que encerrava Um Circo de Rins e Fígados, outra parceria Nanini Thomas: “A gente se emociona, a gente se emociona sim.” Esta declaração ressoa como um manifesto da arte da interpretação, ecoando através do tempo e das obras de Gerald Thomas. Em Traidor, que estreou em novembro de 2023 em São Paulo, essa afirmação ganha novas camadas de significado, transformando-se em um farol que ilumina a jornada labiríntica de um ator perdido entre realidade e ficção.

A dramaturgia fragmentada de Thomas encontra em Nanini um intérprete capaz de dar corpo e voz às angústias e contradições de um artista acusado de um crime que não cometeu, mas que talvez tenha cometido em alguma de suas múltiplas personas teatrais. A peça trata de muitos assuntos, refletindo o caos contemporâneo, a ansiedade gerada pelo excesso de informações e o uso viciante das redes sociais, enquanto simultaneamente se apresenta como uma declaração de amor ao ofício da representação. 

Programação Diversificada

Édipo Rec. Foto: Camila Macedo / Divulgação

Márcia Luz em Antígona – A Retomada. Foto: Divulgação

Othon Bastos em Não me entrego não. Foto: Beti Niemeyer/ Divulgação

Rei Lear. Foto: Mariana Chama / Divulgação

A programação diversificada do festival inclui 13 espetáculos nacionais e 18 locais na programação principal (ver programação completa abaixo), abrangendo desde peças infantis e sátiras até musicais e dramas. Entre as produções estão Édipo REC; Eu Não Me Entrego, Não; Antígona , Rei Lear.

Édipo REC, produção do grupo recifense Magiluth, é uma releitura contemporânea da tragédia grega de Sófocles. Ambientada em um imaginário Recife de 2024, a peça explora temas como o excesso de produção de imagens e a manipulação da realidade nas redes sociais. A direção de Luiz Fernando Marques traz elementos do cinema, com referências a filmes como Édipo Rex de Pasolini. O espetáculo brinca com a cronologia e questiona a noção de tempo no teatro. 

Solo da atriz pernambucana Márcia Luz, Antígona – A Retomada reinterpreta a clássica tragédia grega de Sófocles sob uma perspectiva contemporânea e afro-brasileira. A montagem radicaliza o protagonismo feminino já presente na obra original, entrelaçando a voz da personagem Antígona com as vivências da própria atriz como mulher negra. Dirigida por Quiercles Santana, a peça busca fazer reflexões sobre raça, gênero e poder na sociedade atual.

Eu Não Me Entrego, Não marca a estreia solo do veterano ator Othon Bastos. Escrita e dirigida por Flávio Marinho, a peça percorre os principais momentos da carreira de Othon, incluindo seu papel icônico em Deus e o Diabo na Terra do Sol. E utiliza um formato  descrito como “monólogo híbrido”, onde a atriz Juliana Medella atua como uma “memória” em cena, interagindo com Othon. 

Adaptação ousada da Cia. Extemporânea, Rei Lear traz a tragédia de Shakespeare para o universo das drags queens. Com um elenco composto inteiramente por artistas drag, o trabalho funde a estética drag com a poesia trágica shakespeariana. Dirigida por Ines Bushatsky e adaptada por João Mostazo, o espetáculo utiliza elementos como lipsync (Sincronia Labial) e performances de boate para reinterpretar cenas clássicas. A produção celebra a arte drag, destaca sua capacidade de expressar emoções complexas e desafiar normas de gênero, oferecendo uma visão contemporânea de Rei Lear.

Jéssica Teixeira em Monga. Foto: Ligia Jardim / Divulgação

O evento também marca a estreia do OffREC, uma agenda dedicada a experimentos e espetáculos em processo, que ocorrerá no Teatro Hermilo Borba Filho, de 25 a 30 de novembro. Na programação estão a provocante peça Monga, da cearense radicada em São Paulo Jéssica Teixeira, o  espetáculo itinerante ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, com Marconi Bispo e Coletivos e a Roda de Diálogo Vedetes e Vivecas: Mulheres do Vivencial, uma homenagem a Ivonete Melo, com as atrizes Suzana Costa, Auriceia Fraga e Zélia Sales, com mediação de Hilda Torres. A curadoria do OffREC é assinada por Rodrigo Dourado.

Projeto Arquipélago de Crítica

Nesta 23ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional quatro profissionais ligados ao Projeto Arquipélago participam de uma ação de  prática da crítica. Kil Abreu, da Cena Aberta, Heloisa Sousa, da Farofa Crítica, Fredda Amorim (convidada) e Ivana Moura, do Satisfeita, Yolanda? tod_s com ampla experiência na produção de conteúdos críticos. 

O projeto arquipélago é uma iniciativa coletiva inovadora de fomento à crítica apoiado pela produtora Corpo Rastreado, de São Paulo, que surgiu em novembro de 2022 para fortalecer a crítica teatral independente no Brasil. Atualmente, seis casas virtuais participam do projeto: Guia Off, Farofa Crítica, ruína acesa, Satisfeita, Yolanda?, Tudo, Menos Uma Crítica, Cena Aberta e Horizonte da Cena.

Programação Principal

Quinta-feira (21 de novembro)

19h30 – Traidor, com Marco Nanini (direção: Gerald Thomas/RJ), no Teatro do Parque.

Sexta-feira (22 de novembro)

15h – Palhaçadas – História de um Circo sem Lona (Cia. 2 em Cena/PE), no Teatro Barreto Júnior.
18h – Cara do Pai (Coletivo Opte/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
20h – Édipo REC (Magiluth/PE), no Teatro Luiz Mendonça.
20h – Traidor, com Marco Nanini (direção: Gerald Thomas/RJ), no Teatro do Parque.
20h – Eu no Controle (Cia da Baju/PE), no Teatro Apolo.

Sábado (23 de novembro)

17h – As Charlatonas (Trupe-Açu Cia. de Circo/TO), no Parque da Macaxeira.
18h – Sinapse Darwin (Cia. Casa de Zoé/RN), na Rua da Aurora.
18h – Antígona – A Retomada (Luz Criativa/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
19h – 2 Mundos (Lumiato Formas Animadas/DF), no Teatro Apolo.
20h – Rei Lear (Cia. Extemporânea/SP), no Teatro de Santa Isabel.
20h – Traidor (RJ), no Teatro do Parque.
20h – Édipo REC (Magiluth/PE), no Teatro Luiz Mendonça.

Domingo (24 de novembro)

16h – Hélio, o Balão que não consegue voar (Coletivo de Artistas/PE), no Teatro do Parque.
17h – As Charlatonas (Trupe-Açu Cia. de Circo/TO), no Parque da Tamarineira.
17h – Frankinh@ (Coletivo Gompa/RS), no Teatro Apolo.
18h – Mulheres de Nínive (Nínive Caldas/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
18h – Sinapse Darwin (Cia. Casa de Zoé/RN), na Rua da Aurora.
20h – Rei Lear (Cia. Extemporânea/SP), no Teatro de Santa Isabel.

Segunda-feira (25 de novembro)

20h – Instinto (Coletivo Gompa/RS), no Teatro Apolo.

Terça-feira (26 de novembro)

20h30 – Não me entrego não (Othon Bastos/RJ), no Teatro do Parque.

Quarta-feira (27 de novembro)

15h – Malassombros – Contos do Além Sertão (Grupo Teatro de Retalhos/PE), no Teatro Barreto Júnior.
20h30 – Não me entrego não (Othon Bastos/RJ), no Teatro do Parque.

Quinta-feira (28 de novembro)

20h – Kalash – Ensaio sobre a Extinção do Outro (Coletivo Opte/PE), no Teatro Apolo.

Sexta-feira (29 de novembro)

20h – Inacabado (Grupo Bagaceira/CE), no Teatro Luiz Mendonça.

Sábado (30 de novembro)

17h – Paraíso (Grupo Teatro Máquina/CE), no Teatro Apolo.
19h – Pequeno Monstro (Quintal Produções Artísticas, com Silvero Pereira/RJ), no Teatro do Parque.
20h – Inacabado (Grupo Bagaceira/CE), no Teatro Luiz Mendonça.
20h30 – Brás Cubas (Armazém Cia. de Teatro/RJ), no Teatro de Santa Isabel.

Domingo (1º de dezembro)

17h – Quatro Luas (O Bando Coletivo de Teatro/PE), no Teatro Apolo.
18h – Esquecidos por Deus (Cícero Belmar/PE), no Teatro Hermilo Borba Filho.
19h – Pequeno Monstro (Quintal Produções Artísticas, com Silvero Pereira/RJ), no Teatro do Parque.
20h30 – Brás Cubas (Armazém Cia. de Teatro/RJ), no Teatro de Santa Isabel.

Programação OffREC (25 a 30 de novembro, no Teatro Hermilo Borba Filho)

25 de novembro

16h às 18h – Roda de Diálogo Corporalidades e Estranhamentos, com Johnelma Lopes (UFPE), Ana Marques (UFPE) e Alexsandro Preto (Vale PCD). Mediação: Clara Camarotti.
20h – Espetáculo Monga, de Jéssica Teixeira (CE).

26 de novembro

9h às 12h – Vivência de Teatro Hip Hop, com o coletivo À Margem (PE) e Bento Francisco (PE).
15h às 17h – Espetáculo ONÁ DÚDÚ: Caminhos Negros no Bairro do Recife, com Marconi Bispo e Coletivos (PE). Espetáculo itinerante, com concentração no Teatro Apolo.
17h30 às 19h – Roda de Diálogo Teatro Negro em Perspectiva, com Marcos Alexandre (UFMG). Mediação: Jefferson Vitorino (Cia. Máscara Negra).
20h – Espetáculo Xirê, do Coletivo À Margem.

27 de novembro

9h às 12h – Vivência Criando Autoficções, com a Cia. Teatro da UFPE (PE).
16h às 17h30 – Roda de Diálogo Processos Criativos Autoficcionais, com Marcondes Lima (UFPE) e Rodrigo Dourado (UFPE). Mediação: Fátima Pontes (Escola Pernambucana de Circo).
18h – Espetáculo Não. Tá. Fácil, do Coletivo À Margem (PE).
20h – Espetáculo Palestra Babau, Pancadaria e Morte, com Marcondes Lima e Mão Molenga (PE).

28 de novembro

9h às 12h – Vivência Contornos do Tempo: Ensaio na Terceira Idade, com o grupo Memória em Chamas (PE).
16h às 18h – Roda de Diálogo Teatro, Memória e Envelhecimento, com Rodrigo Cunha (IFPB) e equipe do espetáculo Senhora. Mediação: Manu de Jesus, da Creative’se Cultural.
18h – Espetáculo Baba Yaga, da Cênicas Cia. de Repertório (PE).
20h – Espetáculo Senhora, de João Pedro Pinheiro (UFPE).

29 de novembro

9h às 12h – Vivência Dramaturgias Urgentes: Escritas e Cenas Negras, com Kléber Lourenço (PE).
18h – Espetáculo Poema – Desmontagem, da Cia do Ator Nu (PE).
20h – Espetáculo Negro de Estimação – Desmontagem, com Kléber Lourenço (PE).

30 de novembro

10h às 12h – Abertura de Processo Senhora dos Sonhos, com Ceronha Pontes e Gonzaga Leal (PE).
14h às 17h – Roda de Diálogo Teatro e Comunicação na Era Digital: por e para onde caminhamos, com Aline (Vendo Teatro), Fernanda (Teatralizei), Ricardo Maciel (Palco Pernambuco). Mediação: Márcio Bastos.
18h – Performance O Problema é a Cerca, com Renna Costa (PE).
20h – Roda de Diálogo Vedetes e Vivecas: Mulheres do Vivencial, uma homenagem a Ivonete Melo, com Suzana Costa, Auriceia Fraga e Zélia Sales. Mediação: Hilda Torres.

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

 

 

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Batendo Texto na Coxia entrega abaixo-assinado ao prefeito do Recife

Ato contra extinção do DRT de artista, foto na porta do Teatro de Santa Isabel

Ato contra extinção do DRT de artista, foto na porta do Teatro de Santa Isabel

uma das reuniões do BTC. Foto Roberto Ramos

Fazer teatro no Recife é uma luta permanente. Ora, direis, em qualquer lugar do Brasil. Pode ser. Mas no Recife tem algumas peculiaridades. Depois de duas gestões do PT (João Paulo Lima e Silva, 2001-2008) com conquistas relevantes para a área cultural, outra do PT (João da Costa, 2009-2012) bastante criticada, o PSB assumiu a prefeitura com Geraldo Júlio (2013-2020) implantando uma política cultural cada vez mais restritiva.

Começamos 2021 com mais uma administração do PSB, desta vez sob o comando do jovem João Campos, filho e herdeiro político de Eduardo Campos e que pertence ao mesmo partido do governador de Pernambuco, Paulo Câmara.

Há três anos foi criado no Recife o Movimento de Teatro Batendo Texto Na Coxia (em 6 de dezembro de 2017), que reúne atores, técnicos e produtores independentes com o intuito de fortalecer esse segmento cultural de Pernambuco. Esse grupo de atuação aberto já promoveu 30 encontros presenciais (suspensos em 2020 devido à pandemia do Coronavírus) para refletir sobre a potência artística na cidade e deliberar operações. O primeiro encontro presencial foi realizado na sede da Métron Produções por iniciativa do ator e produtor Paulo de Pontes e da atriz, diretora e produtora, Augusta Ferraz.

O trabalho do Batendo Texto na Coxia discute estratégias para ampliar o raio de atuação e ações que colaborem para melhorar a política cultural do Recife e de Pernambuco. O grupo reforçou o movimento da sociedade civil pela reabertura do Teatro do Parque, atuou contra a extinção da exigência do registro profissional dos artistas, se posicionou com uma Carta Aberta de repúdio contra a censura ao espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, de Renata Carvalho, no Festival de Inverno de Garanhuns, em julho de 2018.

Também apresentou uma carta aos candidatos ao cargo de governador de Pernambuco (2018), traçou ações de diálogo junto a Secult e Prefeitura. se insurgiu contra a censura velada, assinou juntamente com as entidades representativas uma nota de repúdio contra o cancelamento de apresentações do espetáculo Abrazo, do grupo Clowns de Shakespeare, pela Caixa Cultural Recife.

Nesta semana, o Batendo Texto na Coxia entrega ao prefeito João Campos um abaixo-assinado em que estão destacadas as principais preocupações e reivindicações do setor das artes cênicas do Recife. 

Abaixo o documento, na íntegra:

Link DIÁLOGO PELO RESGATE E INCREMENTO DO TEATRO RECIFENSE – PROPOSTAS AO PREFEITO DO RECIFE – MOVIMENTO DE TEATRO BATENDO TEXTO NA COXIA

https://peticaopublica.com.br/psign.aspx?pi=BR118006

Ofício nº 004/2020
Recife, 26 de dezembro de 2020.

Exmo. Sr.
João Henrique de Andrade Lima Campos
Prefeito da Cidade do Recife
NESTA

Excelentíssimo Senhor Prefeito,

O Movimento de Teatro Batendo Texto na Coxia é um coletivo de artistas, técnicos e produtores independentes, que vem trabalhando pelo resgate da credibilidade e incremento da cadeia produtiva do Teatro em Pernambuco. Considerado por décadas como o terceiro polo de produção teatral do Brasil, seus realizadores, testemunharam, ao longo dos anos, o setor teatral sendo desconstruído, e que se agravou durante a Pandemia da Covid 19. Agora, com a nova gestão, é inadiável a necessidade de resgatar o diálogo para garantir a intensidade e efervescência da cena recifense. Na oportunidade, registramos a urgência na construção de uma Política Cultural direcionada ao TEATRO. Propomos um protagonismo da Prefeitura da Cidade do Recife nessa ação.
A Pandemia da Covid 19, mostrou como os nossos artistas criadores vivem em situação vulnerável. É preciso mudar essa realidade! Somos muitos e não podemos deixar morrer uma arte milenar, uma das mais importantes formas de expressão que toca as pessoas, pois é ao VIVO! Temos que ter alternativas ao mundo tecnológico. O Teatro não pode ser esquecido e a sociedade precisa ter ofertas que possam estimular as pessoas a voltarem ou aprenderem a vivenciar as sensações e reflexões que a arte teatral propicia.

A partir do exposto e esperando que vossa excelência esteja comprometido com os artistas que trabalham no árido solo nordestino, apresentamos abaixo, propostas que poderão fazer um novo começo na cena da nossa Veneza Brasileira.

Propostas para a retomada do crescimento do Teatro Recifense

– Instituir por Lei Municipal, o Sistema Municipal de Cultura da Cidade do Recife, conforme determina o § 4° do Art. 216-A da Constituição Federal e assegurar o pleno funcionamento de todos os seus componentes;

– Promover uma política de fomento ao Teatro, por meio de editais específicos para o setor, e a consolidação do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), com a destinação de um percentual das receitas correntes do município para o Fundo de Incentivo à Cultura e o Mecenato de Incentivo à Cultura;

– Garantir um percentual das receitas correntes do município, por meio do Plano Plurianual (PPA) e da Lei Orçamentária Anual (LOA), para a pasta da cultura e suas políticas públicas, onde o fomento, formação e divulgação do Teatro estejam garantidos, onde o uso do recurso público seja acompanhado diretamente por representantes de entidades de classe e do Movimento de Teatro Batendo Texto Na Coxia;

– Desenvolver políticas de financiamento por meio da criação de edital específico para o Teatro, haja vista a grande demanda de realizadores do segmento que têm deixado de trabalhar devido à falta de incentivos e/ou patrocínio;

– Criar uma ouvidoria para acolher e encaminhar as necessidades dos fazedores de Teatro, estabelecendo uma ponte com a pasta da cultura para os devidos procedimentos cabíveis. Isto, deve-se ao fato da extinção do Departamento de Artes Cênicas na gestão do Prefeito Geraldo Júlio, impossibilitando um canal de diálogo com a categoria (artistas, produtores e técnicos);

– Garantir espaço de diálogo e escuta entre o poder público municipal e o Movimento de Teatro Batendo Texto Na Coxia, seja através do Conselho Municipal de Cultura da Cidade do Recife, que assegura na Lei Municipal número 18.659/2019 a presença de um representante de teatro eleito democraticamente, bem como asseverar diálogo e escuta em reuniões sistemáticas diretamente com o secretário da Cultura e o Prefeito;

– Promover a gestão compartilhada por meio de um modelo contemporâneo de governança dos equipamentos públicos de Teatro, com a participação da sociedade civil organizada, a exemplo do Movimento de Teatro Batendo Texto na Coxia e representantes de entidades de classe na administração, na gestão de recursos e na promoção artística;

– Fortalecer a integração do Teatro, por meio da Secretaria de Cultura, com diversas secretarias municipais como: turismo, educação, desenvolvimento econômico, tecnologia, considerando a transversalidade da Arte e da Cultura no desenvolvimento da cidade do Recife;

– Garantir a manutenção dos Teatros e espaços culturais pertencentes ao município, visando a recuperação, restauração, e revitalização dos equipamentos e seus entornos;

– Manter, valorizar e ampliar o calendário cultural da cidade, considerando o fortalecimento dos Festivais criados pelo município, bem como por produtores de Teatro da cidade, consolidando o Recife no circuito nacional e internacional da Arte Teatral;

– Promover a cultura do Teatro, assim como todas as outras linguagens das Artes Cênicas, como expressão e afirmação da identidade do cidadão recifense;

– Inserir e garantir o Teatro, assim como todas as outras linguagens das Artes Cênicas no processo econômico da cidade como fonte de geração de trabalho e distribuição de renda;

– Dar visibilidade, estimular, descentralizar e viabilizar a produção de Teatro local e sua rede criativa;

– Estimular por meio do Teatro, assim como todas as outras linguagens das Artes Cênicas, o exercício da cidadania, a autoestima, bem como a formação crítica dos cidadãos recifenses;

– Resgatar e garantir o prêmio “Auxílio Montagem” e o apoio aos grupos, companhias ou produtoras teatrais por meio de subsídio financeiro que permita a participação de espetáculos em festivais e mostras nacionais e internacionais;

– Garantir por meio de processo de convocação pública a ocupação de todos os teatros municipais, com taxas ou percentuais menores para a ocupação das produções locais, onde a participação das entidades representativas e a participação de um representante do Movimento de Teatro Batendo Texto Na coxia, estejam garantidos;

– Fortalecer e garantir recursos para o Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo/Hermilo como espaço de formação e pesquisa do Teatro, através de intercâmbio e troca de experiência entre artistas; por meio do incentivo à produção local. Desse modo, o espaço poderá concretizar sua meta maior que foi definida desde sua inauguração que é torna-se um centro de referência das Artes Cênicas, regional, nacional e internacional;

– Garantir e valorizar a participação dos artistas profissionais que tenham DRT nos processos de seleções públicas e projetos direcionadas ao Teatro;

– Otimizar o funcionamento e ocupação dos Teatros municipais nos períodos e turnos que não estejam ocupados pela seleção pública para apresentação dos espetáculos, bem como das atividades inerentes aos equipamentos;

– Realizar Concurso Público para os técnicos que sejam fundamentais para o funcionamento dos teatros municipais (iluminador, sonoplasta, maquinista, camareira, bilheteiro, porteiro, indicador de plateia, entre outros) uma vez que hoje, a grande maioria são contratados por empresas terceirizadas e estão em desvio de função. Levar em consideração a necessidade dos teatros terem no mínimo duas equipes técnicas para garantir o funcionamento dos espaços nos três expedientes.

Na certeza de contarmos com vosso empenho, elevamos votos de estimas e distintas considerações.

Atenciosamente,

Movimento de Teatro Batendo Texto na Coxia
(Coletivo de artistas, técnicos e produtores independentes)

Com os apoios:

Associação de Realizadores de Teatro e Dança de Pernambuco (ARTEPE)

Associação dos Produtores de Teatro de Pernambuco (APACEPE)

Federação de Teatro de Pernambuco (FETEAPE)

Grupo de Gestores de Espaços Culturais de Pernambuco

Movimento Virada Cultural Teatro do Parque

Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado de
Pernambuco (SATED – PE)

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