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Tragédia nossa de cada dia

Walderez de Barros encabeça elenco de Hécuba. Foto: João Caldas

“Filho adotivo mata pai e mãe a facadas”. “Cinco pessoas de uma mesma família morrem em acidente de trânsito”. “Tsunami atinge Japão”. São as tragédias com as quais nos deparamos todos os dias. Nesse mundo do Facebook e do Twitter, parece que elas nos perseguem. Não passamos incólumes. E se sobrepõem de tal maneira que talvez tenham perdido a capacidade de nos fazer pensar. Só chocam – por pouco tempo, claro. Até que uma nova tome conta das manchetes.

Na arte, a tragédia se confunde com a própria origem do teatro na Grécia do século VI a.C. Tanto tempo se passou e esses mitos gregos reelaborados por Ésquilo, Sófocles e Eurípedes continuam nos palcos. Mas ainda faz sentido montar um texto deles? Ainda existe tragédia? Como o teatro contemporâneo pode dialogar com a tragédia?

Para a atriz Walderez de Barros, 71 anos, protagonista de Hécuba, esses mitos mantêm a capacidade de promover no leitor, no espectador, “um movimento interior intenso. Falam de coisas que nos pertencem, com as quais nos identificamos”, avalia. Walderez concorda com Gilson Motta, autor do livro O espaço da tragédia, lançado ano passado. Ele diz que “a montagem de uma tragédia grega sempre envolve uma relação com o teatro em sua origem. Herdamos dos gregos todo um modo de pensar e fazer teatro – o texto, o ator, as convenções cênicas, a encenação, a teoria sobre o sentido da tragédia”.

Expedito Araújo, curador do programa cultural Vivo EnCena, espera que, de alguma forma, as remontagens possam trazer discussões sobre a relação entre o teatro e o público. “As pessoas reagiam, choravam, era uma plateia ativa. E o teatro era algo com um poder de construção do sujeito muito grande. E, mesmo com todas as subversões que promovemos no clássico, o público ainda está no lugar da passividade. Não fazemos teatro nos estádios, mas não podemos esquecer que a arte é um ato de comunicação”, diz.

Neste sábado, o curador comanda um debate sobre o tema O trágico na contemporaneidade, com as participações dos atores Cláudio Fontana, Xuxa Lopes, Juliana Galdino, Ceronha Pontes e mediação do jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto.

Juliana Galdino, por exemplo, atriz do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) por muitos anos, participou de tragédias como Medeia I e Medeia II (ganhou o Prêmio Shell de melhor atriz com as duas) e Antígona, com direção de Antunes Filho. A relação do encenador com as tragédias é um dos tópicos do livro de Gilson Motta. Depois de 50 anos de teatro, em 1999, Antunes encenou quatro espetáculos com autores gregos.

Antunes Filho montou Medeia I e Medeia II

Expedito Araújo lembra outra montagem que também foi estudada por Motta – Oresteia, o canto do bode, do Grupo Folias D’Arte, de São Paulo. “Não basta montar um espetáculo. O teatro está para além do espetáculo. Em Oresteia, o grupo nos transporta para outra dimensão, que toma conta da gente”, avalia.

Debate Vivo EnCena – O trágico na contemporaneidade
Quando: Sábado, das 17h às 18h30
Quando: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Quanto: Entrada franca. Os ingressos podem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro
Informações: (81) 3355-3323

Antígona, direção de Antunes Filho, montagem de 2005

Rede Vivo EnCena

Desde o ano passado, Pernambuco é um dos estados membros da rede Vivo EnCena. Já existem vários projetos na agulha, tanto para a capital pernambucana quanto para o interior. No mês de fevereiro, por exemplo, um grupo de Lagoa do Carro, a 61 km do Recife, recebeu uma oficina do diretor Felipe Vidal. Houve também um workshop em Limoeiro – local que deve virar foco de ações do projeto. Certamente, acontecerão lá algumas ações com o grupo Ponto de Partida, de Barbacena, Minas Gerais. Eles vem para apresentar dois espetáculos: um infantil e outro adulto – Travessia.

Expedito Araújo, curador do Vivo EnCena, tem muitas ideias para Pernambuco

Ainda no primeiro semestre, Recife receberá um desdobramento do festival Horizontes Urbanos, que acontece em Belo Horizonte. “Teremos apresentações e oficinas. Há sempre uma ideia de troca, de intercâmbio”, conta Expedito Araújo, curador do Vivo EnCena.

Já no segundo semestre, deve ser realizada também uma segunda edição do seminário A sociedade em rede e o teatro (a primeira foi ano passado). “Os grandes protagonistas serão os artistas desta região e de outras, que estão fazendo, criando caminhos. Que estão ligados ao pioneirismo e empreendedorismo”, explica o curador. Também virá ao Recife uma montagem que ainda está em ensaio: Razões para ser bonita, texto de Neil Labute, com Ingrid Guimarães. É quando teremos uma nova edição dos debates Vivo EnCena.

Curitiba – Nos dias 30, 31 e 1º de abril, os debates Vivo EnCena serão realizados no Festival de Curitiba. Diretores, artistas, especialistas em economia criativa, sustentabilidade, vão discutir a mostra paralela Fringe. Neste ano, serão 368 espetáculos participando da Fringe. Pernambuco estará na mostra oficial de Curitiba com as peças Essa febre que não passa, do Coletivo Angu de Teatro, e Aquilo que meu olhar guardou para você, do Magiluth. Esse último participará também da Fringe com 1 Torto e O canto de Gregório.

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Doses fortes, mas em pílulas

Ceronha Pontes em O comedor de ópio. Foto: Ivana Moura

Depois da pré-estreia (com a benção das Yolandas!) no último sábado, o Coletivo Angu de Teatro inicia hoje o projeto de cenas curtas Angu Mix. São três solos – dois de teatro e um de dança: O comedor de ópio, com Ceronha Pontes (ela arrasa muito!); Ela sobre o silêncio, de Helijane Rocha; e Vestido longo, com Márcia Cruz e Ceronha Pontes.

Ceronha emociona ao falar de dor e da tentativa, tantas vezes vã, de amenizar o sofrimento. Aquele cotidiano, que escondemos para baixo do tapete, mas que depois volta com toda força ao menor impulso. Helijane tenta se livrar de amarras e, mesmo quando consegue, ainda tem as marcas que ficaram no corpo; quem sabe tudo fique mais leve depois de um jardim de girassóis? E Márcia e Ceronha falam de abuso, de infância, de rupturas e sentimentos devastados. De meia-calça, mas completamente despida – e nem é de roupa que estamos falando.

O Angu Mix disponibiliza apenas 60 ingressos. Cada um custa R$ 20. Para reservar, é só mandar um e-mail para reservas.angu@gmail.com . As sessões serão hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Bairro do Recife).

Ela sobre o silêncio. Foto: Tadeu Gondim

Ah….falando em Angu, claro que lembramos de festinha! 😉
A entrega dos prêmios Apacepe será no domingo, às 21h, no Teatro Apolo. Quem está organizando é o Coletivo. Os mestres de cerimônia serão personagens das montagens do grupo e, ao final, ainda vai ter festinha com o DJ Pepe Jordão (o mesmo da festinha do Yolanda!!! eba!!). A gente se encontra lá, claro!

Prêmio Apacepe de Teatro e Dança

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Satisfeita, Yolanda? – ANO I

Yolanda e sua amiga

Estamos muito felizes! O Satisfeita, Yolanda? está comemorando o seu primeiro ano de atividades. Até parece que tem mais idade…mas essa velhinha só tem 1 aninho! E está nos fazendo muito mais felizes. Porque, mesmo sem postar todos os dias como queríamos, escrever sobre absolutamente todas as peças, acho que estamos conseguindo acompanhar e, mais do que isso, refletir e compartilhar ideias sobre o teatro feito não só aqui em Pernambuco, mas no Brasil. Temos muitos projetos, vontades, desejos com essa nova possibilidade que se abriu com o Satisfeita, Yolanda?. E temos certeza de que, aos pouquinhos, e com a ajuda de quem entra aqui diariamente, comenta, discorda, cobra que a gente vá ver aquela tal peça, eles vão se concretizando.

Mas… sem mais blablabla… queremos comemorar! E a celebração, claro, não poderia ser de outra forma: com teatro. A festa, que tem o apoio do festival Janeiro de Grandes Espetáculos, será realizada neste sábado, dia 21 de janeiro, às 21h, no novo espaço do Coletivo Angu de Teatro (Rua Tomazina, 199, Recife Antigo).

O Coletivo aproveita a festa para lançar o projeto Angu Mix, que vai reunir cenas curtas e esquetes protagonizados por seus integrantes. Nesta primeira edição, a atriz Ceronha Pontes apresenta o solo O comedor de ópio; Helijane Rocha mostra Ela sobre o silêncio; e Márcia Cruz e novamente Ceronha Pontes fazem a cena Vestido longo. Essa última cena foi idealizada durante o projeto Rumos Itaú Cultural Teatro, ano passado, em que o coletivo pernambucano fez intercâmbios e trabalhou com o cearense Bagaceira a partir do tema “abuso”. A cena é um texto de Marcelino Freire, do seu livro mais recente: Amar é crime.

Projeto Abuso - Coletivo Angu de Teatro e Grupo Bagaceira

A noite ainda terá a participação da atriz Sônia Bierbard, que mostra ao público um fragmento do espetáculo Aleluia Clarice, apresentado no Recife e em várias cidades do interior pernambucano entre os anos 2000 e 2005. Trata-se de uma adaptação de parte do livro Água viva, de Clarice Lispector, sob direção da própria Sônia Bierbard. O figurino recebe a assinatura de Leopoldo Nóbrega.

Sônia Bierbard apresenta trecho de Aleluia Clarice

Germano Haiut, ator de 74 anos, um dos homenageados do Janeiro de Grandes Espetáculos, fará uma leitura de um texto de Nelson Rodrigues, pernambucano cujo centenário será comemorado este ano.

Germano Haiut vai ler Nelson Rodrigues. Foto: Ivana Moura

A celebração cênica contará ainda com a banda de palhaças As levianas, que faz parte da pesquisa de linguagem da Cia Animé. As atrizes/palhaças Enne Marx (Mary Em), Juliana de Almeida (Baju), Nara Menezes (Aurhelia) e Tâmara Floriano (Tan Tan) farão um pocket show com repertório baseado em grandes divas, como Nina Simone e Edith Piaf.

As levianas farão pocket show. Foto: Lana Pinho

A noite termina com a discotecagem do DJ Pepe Jordão. E aí, curtiram? Queríamos agradecer desde já ao Janeiro de Grandes Espetáculos e ao Coletivo Angu de Teatro, que nos incentivaram a fazer essa comemoração e, mais do que isso, estão nos dando todo o apoio! Esperamos todos lá!

Serviço:Satisfeita, Yolanda? ano I
Quando: sábado (21), às 21h
Onde: Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Recife Antigo)
Entrada gratuita
Apoio: Janeiro de Grandes Espetáculos

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Pré-estreia febril

As fotos são de Ivana Moura!

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A visita da escritora

O Coletivo Angu de Teatro, do Recife, prepara sua quarta montagem. Essa febre que não passa, tem texto baseado no livro de contos da jornalista Luce Pereira, colunista do Diario de Pernambuco. No elenco do espetáculo, estão as atrizes Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Maeve Jinkings, Márcia Cruz e Mayra Waquim.

André Brasileiro, ator e produtor das peças anteriores, estreia na direção. Marcondes Lima, que dirigiu as outras três encenações do Angu de Teatro: Angu de Sangue e Rasif – Mar que arrebenta, com textos de Marcelino Freire, e Ópera, com texto de Newton Moreno, está na supervisão do espetáculo e também assina a direção de arte.

Foto: Ivana Moura

Ontem, a escritora visitou o grupo no ensaio no Teatro Hermilo Borba Filho, no bairro do Recife. Foi uma conversa que trilhou os caminhos da memória para tentar descobrir origens, afetividades, referências. As atrizes ficaram surpresas quando perceberam que muitos dos personagens têm sim um ponto de partida real. Seja uma tia da escritora, uma situação, ou o seu estado ‘outonal’, como ela mesma disse.

Luce compartilhou suas memórias

Ainda não está decidido quantos contos farão parte da montagem e quem fará quais personagens – as atrizes, claro, já tem as suas preferências, e algumas ainda estão em processo de disputa! O diretor avisa que nada está definido! Mas há uma ideia de que, ao contrário de Angu de sangue e Rasif, os contos possam estar, de alguma forma, atrelados, seja por elementos de cena ou personagens.

“Fico muito curiosa. Conheço as minhas personagens, mas não o que está em vocês”, disse Luce ao elenco. “É muito fácil se apaixonar, se emocionar com as suas mulheres”, retrucou Hilda Torres. Essa febre que não passa está prevista para estrear no fim do mês de abril.

A autora e as atrizes

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