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Dramaturgia espanhola no Janeiro

Os corpos perdidos trata do extermínio de mulheres. Com o Angu de Teatro e convidados

Os corpos perdidos trata do extermínio de mulheres. Com o Angu de Teatro e convidados

janeiro-de-grandes-espetáculos-SSSSCiudad Juárez é um dos lugares mais violentos do México na década de 1990. A obra dramática Os corpos perdidos, de José Manuel Mora com tradução de Cibele Forjaz, trata da torrente de assassinatos de mulheres. Impera a impunidade para os criminosos e a negligência do governo. A peça mergulha nessa pungente memória de mais de 300 mulheres executadas.

O texto integra a Coleção Dramaturgia Espanhola, da Editora Cobogó, que tem lançamento hoje e amanhã (ao preço de R$ 30 cada). O lançamento ocorre junto com leituras dramatizadas, com entrada franca.

A leitura de Os corpos perdidos conta com a participação do o elenco do Coletivo Angu de Teatro e convidados (Marcondes Lima, Arilson Lopes, André Brasileiro,Gheuza Sena, Nínive Caldas, Ivo Barreto, Daniel Barros, Hermínia Mendes,Márcio Antônio Fecher Junior, Paulo De Pontes e Lúcia Machado). E tem direção de  Cibele Forjaz. Nesta quarta, às 20h, no Teatro Arraial Ariano Suassuna.

O programa reserva para quinta-feira a leitura dramatizada da obra A Paz Perpétua, de Juan Mayorga, dirigida pelo gaúcho Fernando Philbert. A intriga que envolve violência, poder e autoridade é defendida pelos atores do Grupo Magiluth (Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Erivaldo Oliveira, Lucas Torres Magiluth e Bruno Parmera). Às 20h de amanhã, no palco do Teatro de Santa Isabel (entrada pela administração).

O Projeto de Internacionalização da Dramaturgia Espanhola promovida pela Acción Cultural Española – AC/E, conta com o envolvimento do TEMPO_FESTIVAL (Rio de Janeiro), Editora Cobogó, Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas; Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília; Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia – FIAC; e Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco.

 

Leitura Dramatizada e Lançamento de Livros

Dia 20 de janeiro de 2016 (quarta), 20h, gratuito
Teatro Arraial Ariano Suassuna
Leitura dramatizada do texto Os Corpos Perdidos, de José Manuel Mora, pela encenadora Cibele Forjaz e participação do Coletivo Angu de Teatro e atores convidados.

Lançamento dos livros A Paz Perpétua, de Juan Mayorga, com tradução de Aderbal Freire-Filho, e Os Corpos Perdidos, de José Manuel Mora, com tradução de Cibele Forjaz e colaboração de Kako Arancibia.

 

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No Janeiro // Todas do Angu

Coletivo Angu de Teatro apresenta repertório no Janeiro de Grandes Espetáculos 2014

Os quatro espetáculos do coletivo Angu de Teatro estão na programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. De hoje até domingo é possível conferir as encenações Essa febre que não passa, Ópera, Rasif – Mar que arrebenta e Angu de sangue. Oportunidade de conhecer ou rever o repertório de um dos grupos mais atuantes de Pernambuco nos últimos dez anos.

“Essa febre que não passa” é um verso da música Via Láctea, da banda Legião Urbana, que a jornalista e escritora Luce Pereira tomou de empréstimo para dar título ao seu primeiro livro de ficção.

Com cinco contos de Essa febre que não passa, a montagem teatral mergulha na delicadeza do universo feminino na contemporaneidade, com humor, perspicácia, crítica e doses de realidade, a partir da história das atrizes envolvidas na peça. São elas: Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Quitéria Kelly, Mayra Waquim, Nínive Caldas e Lilli Rocha (stand in). A direção é assinada por André Brasileiro e Marcondes Lima.

Serviço:
Essa Febre Que Não Passa (Recife/PE)
Quando: Hoje,
16 de janeiro, 21h
Onde: Teatro Apolo
Ingresso: R$ 20 e R$ 10
Indicação: a partir de 16 anos

Ceronha Pontes e Hermila Guedes em Essa febre que não passa. Foto: Ivana Moura

Ficha técnica
Texto: Luce Pereira.
Direção: André Brasileiro e Marcondes Lima.
Assistência de direção: Maria do Céu Cezar.
Direção de arte: Marcondes Lima.
Direção musical e trilha sonora original: Henrique Macedo
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: Dani Varjal, Ivo Barreto e Nínive Caldas
Iluminação: Luciana Raposo
Vídeos: Tuca Siqueira e Cabra Quente Filmes
Musicista: Josi Guimarães
Elenco: Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Quitéria Kelly, Mayra Waquim, Nínive Caldas e Lilli Rocha (stand in)

Essa febre que não passa. Foto: Ivana Moura

Sobre Essa febre que não passa eu escrevi para o caderno Viver, do Diario de Pernambuco, publicado em 9 de maio de 2011:

Das feridas sociais de Angu de sangue e Rasif – mar que arrebenta, passando pela temática gay de Ópera, o grupo chega às dores pessoais à partir do olhar feminino da escritora Luce Pereira e das seis atrizes – Ceronha Pontes, Hermila Guedes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim e Nínive Caldas e da violoncelista Josi Guimarães. A beleza, a urgência, o ritmo, as tiradas engraçadas, o humor das situações mais incríveis dos contos de Luce Pereira já eram conhecidos de alguns de nós, desde 2006, quando o livro foi lançado. O desafio era dar corpo a essas personagens feitas das palavras da escritora. O resultado superou as expectativas. É tocante. E tem um pouco de suavidade e delicadeza, de ironia e corte seco, de graça e elegância, e de uma simplicidade arrebatadora.

Essas criaturas febris apresentam suas situações-limite, carentes ou transbordantes de afeto.

Essa febre que não passa tem uma comunicação fácil e contagiante, que vem do texto. Ela encontra a beleza no prosaico e insiste que é preciso prestar atenção nas pequenas coisas. Esse material textual foi respeitado e valorizado na peça dirigida por André Brasileiro e Marcondes Lima.

A montagem do coletivo Angu insiste em algumas características investigativas do coletivo, com o ator-narrador. Mas traz algumas variações.

A peça fala do fim de relacionamento entre duas mulheres; na adoração de uma figura por nomes bonitos com uma pontinha de crítica social; nas dívidas de afeto com uma velha tia; no acerto de contas entre duas irmãs e no desespero da dor da perda.

O cenário é formado por camadas de cortinas, que remetem a outras camadas. Isso cria um ambiente etéreo, ora revelando, ora escondendo.

A trilha sonora e direção musical são de Henrique Macedo que ajudam a expandir ou comprimir os tempos e dar as atmosferas dos contos.

O elenco é o grande trunfo dessa montagem. Ceronha Pontes e Hermila Guedes protagonizam o casal de Clóvis. Nesse quadro, a promessa de felicidade já desmoronou quando o bichano é convidado. Mayra Waquim faz a artista plástica que errou no nome desde o nascimento e prossegue nas suas escolhas erradas.

Marcia Cruz incorpora não apenas uma velha, mas toda a velhice do mundo. Hilda Torres faz a sobrinha que narra a história de Bernarda e de sua inabilidade com os afagos. Em Um tango com Frida Kahlo Ceronha Pontes volta à cena para se digladiar com Mayra Waquim, esta no papel de Sofia. E o conto que encerra o espetáculo, protagonizado por Hermila Guedes, atesta que uma dor de amor pode ser fatal. É um espetáculo para quem não tem medo das emoções.

Ópera tem texto de Newton Moreno

Sobre Ópera:

Uma das características do Angu de Teatro é levar ao palco textos da literatura contemporânea, por sinal de autores pernambucanos. A escritura de Ópera é de Newton Moreno e debruça-se sobre a temática homoerótica.

São quatro contos que questionam identidades com um humor cáustico, às vezes cruel, e as reações sociais perante posturas homoafetivas. É muito contundente para falar desses tempos que correm, nos quadros O Cão, O Troféu, Culpa e Ópera. A direção é de Marcondes Lima. No palco estão Arilson Lopes, Carlos Ferrera, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni, Dirceu Siqueira e Ellen Roche.

SERVIÇO
Ópera, do Coletivo Angu de Teatro e Atos Produções Artísticas (Recife/PE)
Quando: Amanhã, 17 de janeiro (sexta), 21h
Onde: Teatro Apolo
Ingresso: R$ 20 e R$ 10
Indicação: a partir de 18 anos

Foto da estreia de Ópera, em 2007, com Tatto Medinni e Arilson Lopes

Ficha técnica
Texto: Newton Moreno
Encenação e direção de arte: Marcondes Lima
Direção musical e trilha sonora original: Henrique Macedo
Preparação corporal e assistência de direção: Vavá Schön-Paulino
Plano de Luz: Játhyles Miranda
Direção de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: Lilli Rocha e Nínive Caldas
Elenco: Arilson Lopes, Carlos Ferrera, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni, Dirceu Siqueira e Ellen Roche

Rasif – Mar que arrebenta, sábado, no Teatro Hermilo Borba Filho

Sobre Rasif – Mar que arrebenta:

Marcelino Freire tem uma prosa lírica, mas não é afago, é porrada. Seus personagens passam por humilhações, mas um dia explodem ou se vingam. Eles estão nas bordas, seja lá onde fique isso. Suas palavras são punhais cortantes, lâminas afiadas que manifestam a revolta de figuras que correm contra um destino ruim.

Em estado de miséria existencial ou econômica, esses farrapos humanos lutam no dia-a-dia contra o que estamos cansados de saber. Além da arrogância do patrão (quando existe um) e as tramóias dos poderosos (qualquer mísero poder). E eles no anonimato.

Marcelino Freire coloca um lupa sobre esses seres cansados da crueldade da vida em Rasif– Mar que arrebenta. As histórias sao episódicas e o tratamento do autor é virulento numa resposta à altura da violência da sociedade.

SERVIÇO
Rasif – Mar Que Arrebenta / Coletivo Angu de Teatro e Atos Produções Artísticas (Recife/PE)
Quando: 18 de janeiro (sábado), 21h
Quanto: R$ 20 e R$ 10
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Indicação: a partir de 14 anos

Ficha técnica
Texto: Marcelino Freire
Encenação e direção de arte: Marcondes Lima
Direção musical e trilha sonora original: Henrique Macedo
Preparação corporal: Vavá Schön-Paulino
Iluminação: Játhyles Miranda
Vídeos: Oscar Malta e Tuca Siqueira
Direção de produção: André Brasileiro
Produção executiva: Tadeu Gondim, Gheuza Sena, Ivo Barreto, Fábio Caio, Marcondes Lima e Maria Helena Carvalho
Músicos: Marcondes Lima, Tarcísio Resende, Luziano André e Eugênio Gomes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Fábio Caio, Ivo Barreto, Márcia Cruz, Vavá Schön-Paulino e Tatto Medinni (stand in)

Espetáculo Angu de sangue, que deu origem ao coletivo foto: Tuca Siqueira

Sobre Angu de sangue:

Não tem mocinho em cena na peça Angu de Sangue, primeira montagem do coletivo a partir do livro de Marcelino Freire. Em dez quadros o autor e os atores expõem o lado mais mais desumano de figuras que lutam para sobreviver, muitas vezes matando o sentimento do outro. São seres cruéis, egoístas ou vítimas de doenças sociais. Entre eles, uma mídia que explora a miséria e ganha a vida com a dor alheia.

SERVIÇO
Angu de Sangue / Coletivo Angu de Teatro e Atos Produções Artísticas (Recife/PE)
Quando: 19 de janeiro (domingo), 20h,
Quanto: R$ 20 e R$ 10
Onde: Teatro Apolo
Indicação: a partir de 16 anos

Ficha técnica
Texto: Marcelino Freire
Encenação e direção de arte: Marcondes Lima
Direção musical e trilha sonora original: Henrique Macedo
Preparação corporal: Peter Dietz
Plano de luz: Játhyles Miranda
Criação e edição de vídeos: Oscar Malta e Tuca Siqueira
Direção de produção: André Brasileiro
Produção executiva: Tadeu Gondim. Elenco: Arilson Lopes, Fábio Caio, Ivo Barreto, Gheuza Sena e Hermila Guedes

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Hoje a festa é do Angu

Espetáculo Angu de sangue, que deu origem ao coletivo  foto: Tuca-Siqueira

Espetáculo Angu de sangue, que deu origem ao coletivo foto: Tuca Siqueira

Dez anos de teatro merece uma grande festa. E se esse feito acontece no Nordeste do Brasil, mais um motivo. E os meninos do Coletivo Angu de Teatro são festeiros e realizam hoje, a partir das 22h uma big party imperdível, no Bar Vapor 48 localizado na Praça das 5 Pontas, 145. Promete não ter hora para acabar. E como amanhã é feriado para a maioria dos mortais, vamos nos jogar.

O DJ Pepe Jordão, velho parceiro nas baladas do coletivo, anima o encontro e vai contar com o reforço de Dick Dickinson e Claude Marmotágge, dois DJs performáticos, de gogo boys e gogo girls e muitas surpresas. O ingresso tem preço único de R$ 30.

Desde Angu de Sangue, que tem texto do escritor pernambucano Marcelino Freire, espetáculo que por sinal está em cartaz no Teatro Teatro Eva Herz, do Shopping Riomar (sextas e sábados, às 20h e domingos, às 19h), a trupe criou uma identidade que mistura denúncia social, inquietações filosóficas, pulsar contemporâneo, e muito humor para falar da realidade a partir do Recife. Depois de Angu de Sangue vieram Rasif – Mar que arrebenta, Ópera e Essa febre que não passa.

O coletivo é uma das referências teatrais em Pernambuco. E foi criado em 2003, pelos atores André Brasileiro, Fábio Caio, Gheuza Sena, Hermila Guedes e Ivo Barreto, e o diretor Marcondes Lima, a partir da montagem do Angu de Sangue.

 

festa-angu

 

Serviço:

ANGU, A FESTA
Quando: Nesta sexta-feira (11/10), a partir das 22h até o sol raiar
Onde: Bar Vapor 48, localizado na Praça das 5 Pontas, 145
Quanto: R$ 30

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Ópera contra o preconceito

Ópera, segunda montagem do Coletivo Angu de Teatro, faz duas apresentações no Santa Isabel

Montagem do Coletivo Angu de Teatro faz apresentações no Teatro de Santa Isabel

Ópera é um dos mais queridos espetáculos da recente cena teatral pernambucana. E querido quer dizer aplaudido, com casa lotada e espectador que já viu até mais de seis sessões. Foi sucesso em janeiro no Teatro Glauce Rocha, dentro do projeto Visões Coletivas – Nordeste Contemporâneo. Depois dessa temporada no Rio de Janeiro, Ópera tem duas apresentações marcadas, nos dias 20 e 21 de abril, às 20h, no Teatro de Santa Isabel.

Mas o que é mesmo que essa montagem tem de especial? Bem, são algumas conjugações, como a criatividade do diretor Marcondes Lima, o talento do Coletivo Angu de Teatro, a verve cômica puxado para ácida do autor Newton Moreno e a temática gay, nem vilanizada nem vitimizada. É assim. E os recortes que o dramaturgo utiliza em seus contos para narrar as quatro histórias são divertidos, com criticidade aguda e até com doses de crueldade para todos os lados.

As quatro histórias são trabalhadas de forma diferente, como radionovela dos anos 1950, fotonovela, telenovela e, por último, uma ópera.  A primeira é O cão, que mostra as consequências no seio da família após a descoberta da condição gay de Surpresa, o cachorrinho da casa.

Em O troféu, episódio em forma de uma fotonovela dos anos 1960, expõe o drama de Pedro (ou Petra), que não se sente adequado em seu corpo masculino. Já em Culpa, inspirado nas telenovelas da década de 1980, o personagem soropositivo tenta encontrar um novo parceiro para o namorado. O último quadro trata da submissão de um barítono apaixonado por michê. Nesta temporada, desde janeiro, Carlos Ferrera substitui André Brasileiro como o cantor. A peça também tem a participação da transex carioca Jakellyne Ushôa.

SERVIÇO

Ópera

Quando: sábado e domingo, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel, Praça da República, s/n
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Informações: 3355-3322

Ópera – Ficha Técnica
Realização: Atos Produções Artísticas / Coletivo Angu de Teatro
Texto: Newton Moreno
Encenação e direção de arte: Marcondes Lima
Direção musical e trilha sonora original: Henrique Macedo
Preparação Corporal e assistência de Direção: Vavá Schön Paulino
Plano de Luz: Jathyles Miranda
Elenco: Arilson Lopes, Andre Brasileiro (Carlos Ferrera), Dirceu Siqueira, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni e Jakellyne Ushôa
Direção de Produção: Tadeu Gondim
Produção Executiva: André Brasileiro / Luciana Bispo / Nínive Caldas
Identidade Visual / Operador de Luz: Sávio Uchôa
Operador de Som: Tadeu Gondim
Camareiras: Irani Galdino e Nine Brasil
Confecção de Figurinos: Maria Lima e Helena Beltrão
Gravação, mixagem e masterização: Henrique Macedo
Fotografias: Tuca Siqueira
Contra-regras: Vavá Schön Paulino e Gustavo Teixeira

O espetáculo fez sua estreia em 2007 e sempre volta à cena com casa lotada

O espetáculo fez sua estreia em 2007 e sempre volta à cena com casa lotada

A seguir, duas matérias que escrevi para o Diario de Pernambuco na época da estreia de Ópera, em 2007

Espetáculo sobre homoerotismo desafia limites da sociedade

ESTRÉIA // Peça Ópera, com textos inéditos de Newton Moreno, discute contradições da realidade brasileira, a partir de hoje, no Teatro Apolo

Apesar da intolerância e de fundamentalismos multiplicados, o mundo contemporâneo é povoado pela diversidade. Nas pulsações das identidades todos querem, cada um a seu modo, ser feliz. Mas não é bem de felicidade que trata a dramaturgia do pernambucano Newton Moreno, mas da perseguição por coisas como sobrevivência digna e um pouco de prazer, o que gera inquietações em várias modalidades, inclusive estéticas. O espetáculo Ópera, que estréia hoje no Teatro Apolo e fica em cartaz aos sábados e domingos, às 20h, até o final do mês, é uma adaptação de contos inéditos do autor, feita pelo Coletivo Angu de Teatro (o mesmo da peça Angu de Sangue, transposição de textos de Marcelino Freire), com direção geral de Marcondes Lima.

O homoerotismo é o grande tema da encenação, que se abre para discutir as contradições da realidade brasileira. Também a partir da poética marginal que caracteriza a queer culture e estética kitsch, a encenação busca uma crítica social à hipócrita visão de valores hegemônicos.A temática é assumidamente gay e o tratamento da encenação reforça essa escolha. Desde que dirigiu Angu de Sangue, há dois anos, o encenador Marcondes Lima desejava fazer uma homenagem a Pernalonga (artista transformista de Olinda, morto barbaramente em 2000) e investigar mais sobre a estética gay. “Não dava para não passar pelo Vivencial”, adverte Marcondes Lima. O Vivencial Diversiones foi um espaço experimental que funcionou em Olinda, sob forte influência do Tropicalismo.

Mais do que temática, a montagem Ópera busca ousar na definição de uma linguagem teatral, na problematização dos limites estéticos e éticos e o entrecruzamento de posturas. A condução dos temas ou ações é provocativa e alguns diálogos avançam por posições inusitadas. O primeiro dos quatro quadros, Cão, utiliza a metalinguagem de uma novela radiofônica, em que atores interpretam os conflitos de família de um cachorro gay, quando a história do animal vem a público. O pastor alemão e seu companheiro vira-lata terminam o quadro assassinados por envenenamento.

O Troféu, segundo dos quadros, trabalha com o formato de fotonovela em preto-e-branco da década de 1960, com poucos diálogos apresentados em molduras. Leva ao palco as angústias de Pedro, que sentindo-se inadequado com seu corpo masculino, comporta-se como Petra. O cúmulo dessa confusão psíquica ocorre quando o rapaz, diagnosticado com câncer de mama, comemora por acreditar que essa é a prova irrefutável do que sempre pensou, que é uma verdadeira mulher.

Dividido em três unidades, o quadro Culpa expõe três momentos de um encontro amoroso. O primeiro, em off; o segundo quando eles se encontram e o terceiro, da despedida. Soropositivo, Augusto sabe que vai morrer e anda consumido pelo remorso em saber que vai abandonar o companheiro mais jovem e tenta encontrar um novo companheiro para seu namorado, antes de morrer. O tom melodramático está afinado com o estilo predominante das novelas brasileiras da década de 1980.

O último quadro, que dá nome ao espetáculo, Ópera explora o comportamento submisso de um cantor de ópera apaixonado por um garoto de programa. O melodrama ganha o tratamento de uma micro-ópera pós-moderna. Como ligação entre os quadros, dublagens de figuras femininas que têm uma interferência no universo gay. Dalida, cantora meio francesa meio egípcia que suicidou-se, Rita Pavone e Rosana. O cenário, também assinado por Marcondes, condensa em portas e gavetas os símbolos de transposições, de saídas de armários.

Para o diretor o grande desafio da montagem para o elenco foi o de brincar com as referências. Os atores André Brasileiro, Arilson Lopes, Fábio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni encararam a dificuldade de andar de salto alto e assumir gestos mais lânguidos. Ópera conta com a participação especial de Andréa Close. Na assistência de direção do espetáculo está Vavá Paulino e a produção executiva é de Gheuza Sena.

*Esta matéria foi publicada na capa do Caderno Viver, do Diario de Pernambuco, no dia 13 de janeiro de 2007

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

Estréia de Ópera revela sua vocação para se tornar um cult
Coletivo Angu de Teatro imprime ousadia e humor na adaptação dos contos de Newton Moreno, em sintonia com questões contemporâneas e exercitando várias linguagens cênicas

Por volta das 22h30 do sábado, no pátio dos teatros Apolo e Hermilo Borba Filho, num coquetel abarrotado de gente, para comemorar a estréia do espetáculo Ópera, a cantora Elza Show anunciava com seu vozeirão: “O mundo é gay!”. Nem tanto, darling! Mas a euforia faz sentido. Vamos recuar três horas nesse tempo. 19h30. Rua do Apolo, nas imediações do teatro homônimo, o público já fazia fila e começava a disputa por ingressos para a primeira sessão da temporada da peça Ópera, adaptação de contos inéditos do dramaturgo pernambucano Newton Moreno, com direção de Marcondes Lima e produção do Coletivo Angu de Teatro. Os 290 lugares da casa não foram suficientes para atender a demanda da primeira noite. Muitos terão que voltar outro dia.

Na plateia desse teatro superlotado como há muito tempo não se via em estreia de produção pernambucana, muitas figuras do meio artístico, o secretário de Cultura do Recife, João Roberto Peixe, o cantor Silvério Pessoa. Artistas experientes, como a atriz Diva Pacheco ou a mais nova estrela do cinema nacional, Hermila Guedes (que por sinal faz parte do coletivo e integrou o elenco da montagem Angu de Sangue). Pessoas que alimentaram o Vivencial Diversions (que deu o norte estético à peça Ópera), como o escritor, cineasta e agitador cultural Jommard Muniz de Brito ou a atriz Ivonete Melo, estrela do Vivencial na década de 1970. A expectativa era grande. E o público acolheu calorosamente a estreia de Ópera. Palmas em cena aberta para vários atores. Indícios de que vai virar um espetáculo cult.

Ópera está dividida em quatro quadros, O Cão, O Troféu, Culpa e Ópera que dá título à peça além de intermezzo de dublagem. O diretor Marcondes Lima, uma dos mais festejados da cidade e também dos mais solicitados tanto para encenação quanto para direção de arte (cenários e figurinos), ousou ao dividir o espetáculo em formato de radionovela, fotonovela e uma novela televisiva, nos três primeiros quadros. O Cão é uma historieta de um cachorro de raça que a família descobre gay. Ele acaba assassinado pela tia intolerante, que está preocupada com a opinião pública (o ti-ti-ti maldoso dos vizinhos, principalmente) passa-se num estúdio de rádio. São expostos os bastidores da gravação de uma radionovela, num tom supra melodramático, onde o grande trunfo é o texto inteligente, irônico, ácido até. No intervalo dessa triste história de amor canino entre Surpresa e Benvindo, o comercial do produto Penetrol “lubrificante da família brasileira”.

Se o primeiro quadro é para os ouvidos, o segundo é para os olhos. O Troféu é focado na estética das fotonovelas em preto-e-branco de 1900 e lá vai trem, a cena apresenta Pedro, que sempre quis ser Petra. Sem falas e utilizando o recurso das legendas apresentadas em tabuletas (que por sinal muitas não dá leitura para quem estiver mais distante do palco) a ação mostra a versatilidade do ator Fábio Caio, poses exageradas e engraçadíssimas. Pedro, que desde criança sonha em ser mulher, sente-se feliz quando o médico diagnostica um câncer de mama. O quadro ainda precisa de alguns ajustes, principalmente nos enquadramentos das molduras.

O quadro Culpa trabalha com uma questão delicada, a história de um homem soropositivo, em momento terminal, que tenta arranjar um namorado para o amante. O tom, exageradamente melodramático dá sinais de cansaço. Os atores Arilson Lopes, Ivo Barreto, executam bem essa linha, mas o tratamento do tema ganha um tom quase cruel. O grande lance é participação de Fábio Caio nesta cena, como a maquiadora.

Entre esses três primeiros quadros, as dublagens alinhavam as cenas. E são verdadeiramente hilariantes. O gestual de Arilson Lopes, como Rita Pavone é impagável, vestidinho de bolinhas e uma capa de bolinhas. O ator Ivo Barreto dubla Tina Turner que sai em embate com a Caio Fábio, que dupla Rosana (Let’s stay together versus Vício fatal, numa luta que quem sai ganhando é o público, de tanto rir. Coube a André Brasileiro a dublagem mais difícil: fazer simultaneamente a cantora Dalida e o cantor Serge Lama. Resultado interessante.

O último quadro, Ópera, revela sem piedade o amor doentio de um cantor de ópera pelo michê Paulo (que faz do tenor gato e sapato), numa crítica virulenta à dependência amorosa. Com um coral de anjos, vestindo sungas brancas e bundinhas de fora, os atores contam a história de subserviência do cantor lírico, com música original composta por Henrique Macedo, numa mistura de rap ópera e levada nordestina. Ópera é o quadro mais explícito, beijo na boca ente o michê e o cantor. O quadro mete o dedo na ferida dos valores desse homem pós-moderno, perdido em sua identidade fragmentada, que chega ao ponto de comprar o amor. Numa sociedade em que tudo está à venda, o amor passa a ser mais uma mercadoria. Caso para se refletir.

O espetáculo Ópera tem muitos pequenos problemas (e isso não escaparia a uma estreia), mas tem muito mais qualidades. A sonoplastia de André Brasileiro e Marcondes Lima funciona bem dando os climas da peça, a iluminação Játhyles Miranda também é boa. Os figurinos no geral estão de acordo com a proposta, mas a do cantor lírico está em descompasso com o resto. O elenco (os atores André Brasileiro, Arilson Lopes, Dirceu Siqueira, Fabio Caio, Ivo Barreto, Tatto Medinni, e a participação especial de Andrea Closet, com muita garra e elegância) têm garra e talento. Vale ressaltar a ousadia do coletivo em tratar desse universo homoerótico com um humor sagaz, de estar em sintonia com pulsações contemporâneas e acima de tudo exercitar várias formas de fazer teatral.

* Esta matéria foi publicada originalmente na edição de segunda-feira, 15 de janeiro de 2007, do Caderno Viver, do Diario de Pernambuco

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Coletivo Angu de Teatro reestreia Essa febre no Rio

Hermila Guedes em Essa febre que não passa. Foto: Ivana Moura

“(…) Hoje fico pensando se não foi um atraso de vida, essa minha vocação para gostar do longe. Tudo, quanto mais distante daquela nossa realidade pobrezinha, mais eu gostava. Imagina, numa ponta de rua do mundo, uma criatura crescendo completamente em desacordo! Tânia, Fátima, Goreti, todas elas sonhavam com altares, maridos, filhos, um emprego no Banco do Brasil, talvez. Você lembra? E eu não tinha com quem falar sobre como foi bonito o começo, o meio e o fim de Dolores Duran.”

Cinco contos embebidos em sensibilidade, amor, perda, força, ternura. Essa febre que não passa, montagem do Coletivo Angu de Teatro a partir do livro homônimo da jornalista Luce Pereira, transpira tudo isso. Com algumas especificidades e primeiras vezes: o elenco é todo feminino e André Brasileiro estreia na direção, sob o olhar sempre atento de Marcondes Lima, diretor das três montagens anteriores do grupo: Angu de sangue, Ópera e Rasif – Mar que arrebenta.

No palco, Ceronha Pontes, Hilda Torres, Márcia Cruz, Mayra Waquim, Nínive Caldas e também Hermila Guedes ou Lili Rocha. Desde o ano passado, quando Hermila precisou gravar novela que Lili divide o papel com ela; e agora como o filme Era ma vez eu, Verônica terá pré-estreia em alguns lugares, Lili entra em cena novamente.

Ceronha Pontes e Nínive Caldas

A peça é formada por vários quadros; esses personagens são ligados de forma muito sutil; existem de forma independente. Uma mulher que perdeu o grande amor e ouve My way no último dia do ano; outra que fez concessões e achou que um gato poderia restaurar laços rompidos; uma tia que nunca viu o mar. É uma peça entrecortada por sensibilidade, em que o voal do cenário mostra e esconde; vai sendo aberto aos pouquinhos; as memórias vão aparecendo, seja em fotos, palavras, gestos. A música é feita ao vivo, com direito até a tango.

Essa febre que não passa reestreia hoje no Rio de Janeiro dentro do projeto Visões Coletivas, no Teatro Glauce Rocha.

Serviço:
Essa febre que não passa
Quando: De quinta a domingo, até 16 de dezembro, às 19h
Onde: Teatro Glauce Rocha (Avenida Rio Branco, 179, Centro, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (21) 2220-0259

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Vou aproveitar para postar um texto que escrevi para a revista Continente de novembro sobre o projeto Visões Coletivas, que está levando Essa febre ao Rio:

Seis meses em cena carioca
Grupos nordestinos mostrarão produção recente dentro do projeto Visões coletivas

Texto // Pollyanna Diniz

Há três anos, o Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio de Janeiro, reabria as portas. A programação que dava as boas vindas ao público tinha sotaque pernambucano: eram montagens do Recife, do Cabo de Santo Agostinho, de Caruaru e de Arcoverde. O Coletivo Angu de Teatro estava nessa seara apresentando Angu de sangue, texto de Marcelino Freire.

A companhia pernambucana que completa dez anos em 2013 voltou ao Glauce Rocha no último mês de março para uma curta temporada que provocou muita fila na porta do teatro – a apresentação de Essa febre que não passa, texto da jornalista Luce Pereira. Depois dessas duas experiências, o Angu agora ocupa a casa de espetáculos carioca por um tempo mais prolongado. Serão seis meses de peças de grupos nordestinos dentro de um projeto proposto pela companhia, intitulado Visões coletivas – Nordeste contemporâneo.

“Já pensávamos em fazer um projeto semelhante desde 2008. Mas não tinha ainda um formato ideal. Isso só veio com o edital de ocupação do teatro, lançado pela Funarte”, explica Tadeu Gondim, idealizador do projeto e produtor do Coletivo Angu de Teatro. Na grade de espetáculos, montagens do Recife, de Fortaleza, de Natal, de João Pessoa e ainda de Salvador. “Assim como no resto do país, o teatro de grupo também está fervilhando no Nordeste. E claro que existe a curiosidade do público do Sudeste sobre o que é feito no Nordeste. Ainda há uma visão, para quem não conhece, de que teatro nordestino é cordel e fala de seca”, avalia Gondim.

Do Recife, a programação inclui três montagens do Angu – Angu de sangue (novembro), Essa febre que não passa (dezembro) e Ópera (janeiro) – e o espetáculo O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas (novembro), da Trupe Ensaia Aqui e Acolá. Já se apresentaram, na abertura do projeto mês passado, os grupos Mão Molenga Teatro de Bonecos, com O fio mágico, e a Cia. Enlassos, com Assim me contaram, assim vou contando…

Grupo Bagaceira de Teatro apresenta repertório em fevereiro. Na foto, A mão na face, que estreou no Recife. Foto: Pollyanna Diniz

No caso de algumas companhias, o público poderá ter uma visão mais ampla da produção, com a apresentação de mais de um espetáculo do repertório. O grupo Bagaceira de Teatro, por exemplo, do Ceará, participa do projeto com quatro montagens: Tá namorando! Tá namorando!, Meire Love, A mão na face e Lesados. Da Paraíba, está na programação Deus da fortuna, do Coletivo Alfenin de teatro; do Rio Grande do Norte, A mar aberto, do Coletivo Atores a Deriva. E ainda Ricardo Guilherme (CE), com Bravíssimo e A comédia de Dante e Moacir; Fábio Vidal (BA) com o espetáculo Sebastião; Felícia de Castro (BA) com Rosário; e Ceronha Pontes (CE) com Camille Claudel. A única exceção na programação é o francês Maurice Durozier, ator do Théâtre du Soleil que mantém uma relação próxima com o Nordeste brasileiro.

“O nosso mote é discutir o teatro contemporâneo feito no Nordeste. E talvez a gente perceba que as questões contemporâneas são muito parecidas, sejam elas tratadas por espetáculos do Nordeste ou do Sudeste. Nos nossos espetáculos, por exemplo, as referências nordestinas estão sempre muito presentes. Mas se dão de outra forma – não necessariamente no tema, na estética. O discurso é contemporâneo”, finaliza Tadeu Gondim.

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