Nordeste múltiplo é esquadrinhado na ação Cena Agora do Itaú Cultural

Cia de Artes Fiasco, de Rondônia, apresenta Ave de Arribação. Foto: Michele Saraiva

Cia Biruta, de Petrolina, (PE) Foto: Tássio Tavares

Retalhos Mouriscos, com Maicyra Leão, de Sergipe. Foto: Daniela Carvajal

Silvero Pereira mostra seu trabalho Ser tão Nordeste. Foto: Divulgação

Ultrapassar é uma ideia boa para pensar o programa Encruzilhada Nordeste(s): (contra)narrativas poéticas do Cena Agora, que o Palco Virtual de Teatro do Itaú Cultural realiza desde abril. Muitas visões ultrapassam os limites geográficos e as construções estereotipadas ou colonizadas sobre a região, com atuação de grupos e artistas do Nordeste, do Sudeste e do Norte. Assuntos como lugar de fala e de falta, machismo, memórias ancestrais e linguagem alimentam esses olhares sobre o Nordeste, nesta última semana, com apresentações de 27 a 30 de maio (quinta-feira a domingo).

Nesta quinta-feira (27/05), a atriz, produtora, diretora e roteirista cearense Jéssica Teixeira mostra Lugar de Falta, cena que questiona a insuficiência, a escassez, a zona de sentir vazio e sentir muito.

A Coletiva Teatral Es Tetetas, composta pelas artistas Kika Sena, Sarah Bicha e Brenn Souza, do Acre, expõe na sequência uma releitura do livro A Invenção do Nordeste. A cena Sem título trabalha a perspectiva de rompimento das noções de dor e sofrimento vinculadas à imagem da região e dos nordestinos, retomando memórias ancestrais soterradas. A gestora cultural acreana Karla Martins conduz o bate-papo após as apresentações.

Enio Cavalcante (foto divulgação) e Verônica Bonfim (foto: Juliana Varajão) da Pandêmica Coletivo

A carioca Pandêmica Coletivo Temporário de Criação reflete sobre o que nos constitui como nordestinos na sexta-feira na cena Interurbana. Dirigida por Juracy de Oliveira, o trabalho indaga: quanto de você é Nordeste? Quanto de Nordeste sai de você sem precisar nem abrir a boca.

O ator cearense Silvero Pereira também comparece na sexta-feira com Ser tão Nordeste, um mini-doc povoado pelo afeto na liga de três gerações de sua família, em realidade, perspectivas e sonhos. Depois das sessões a conversa é mediada pelo diretor amazonense Francys Madson.

A poesia e a nordestinidade do rap-repente conduzem as buscas cênicas e sonoras da obra Constança, que a Cia. Pão Doce, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, mostra no sábado, 29. Já a artista sergipana Maicyra Leão leva para a roda a peça Retalhos Mouriscos, um percurso de migração, concepções de nordestinidade com resíduos de transpassamento culturais que incluem as influências árabes. Karla Martins conversa com os convidados ao final das cenas.

A programação do domingo 30, – derradeiro dia desses cruzos que prometem reverberar-, valoriza o Nordeste além das capitais e expande seus limites para outros estados fora da região. A Cia de Artes Fiasco, de Rondônia, convida o espectador a seguir a poética da revoada, de levantar o próprio corpo e a terra ao redor com Ave de Arribação.

Notícias do Dilúvio — Um Canto a Canudos, da Cia Biruta, da cidade pernambucana de Petrolina, explora um registro histórico da participação de mulheres na Guerra de Canudos, entrelaçando referências às práticas culturais populares do Sertão. O encontro mediado novamente por Francis Madson.

Karla Martins e Francys Madson são os mediadores da semana. Fotos divulgação

O recorte Encruzilhada Nordeste(s): (contra)narrativas poéticas da programação Cena Agora vem propondo “círculos dialógicos” para quebrar com ideias colonialistas e estereotipadas do Nordeste único, da história única, para se conectar com múltiplos teatros humanizados, sustentados na alteridade, no conversação e na valorização  da coautoria do outro (público). Um total de 28 grupos ou artistas teatrais do Nordeste, do Norte e do Sudeste entraram nessa roda.

Cena Agora tem se configurado numa arena pulsante que congrega poéticas e debates com muitas vozes, forjando encontros, diálogos e nos mostrando outras possibilidades de interação em meio a situação de isolamento que persiste, afetando tão fortemente nosso desejo de convivência”, considera Galiana Brasil, gerente de Artes Cênicas do Itaú Cultural. “Para além do extrato estético apurado e instigante, as encruzilhadas têm sido espaços de calor e afeto, subvertendo a ideia comum de distanciamento causada pela mediação digital, possibilitando momentos de fruição conjunta e muita prosa entre artistas e público de geografias tantas”, sustenta.

Muita interseção e partilha vêm ocorrendo no Encruzilhada Nordeste(s), desde abril, fomentando outras cumplicidades e abertura de horizonte éticos, estéticos políticos. Passaram e ficou um pouco de cada umx, do historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr., autor do livro A invenção do Nordeste e outras artes em conversa com Galiana Brasil. E muitas cenas inquietantes, provocadoras, propulsoras de muitos pontos de vista.

Em abril vimos Onan Yá – A caminhada da sacerdotisa, da diretora teatral e dramaturga paulista/baiana Onisajé; O Desaparecimento do Jangadeiro Jacaré em Alcácer-Quibir, do cearense No barraco da Constância tem!; Rhizophora – Estudo nº 01, do Coletivo de Dança-teatro Agridoce, de Pernambuco; Boca, dos maranhenses Erivelto Viana e Urias de Oliveira, Web-Strips: Volume Encruzilhadas, do grupo baiano Dimenti, e o Sem título, do Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte.

Elaborando olhares sobre a migração e subjetividades , no início de maio participaram o alagoano Clowns de Quinta, com Prisioneiro do Reggae, o paraibano Alfenim, com Pequeno Inventário das Afinidades Nordestinas; o sergipano Boca de Cena em Remundados, o potiguar Casa de Zoé em Encontros, NÉ? e a dupla maranhense Brenna Maria e Ywira Ka’i em Você já Sangrou Hoje? Grupos paulistanos com DNA nordestino contribuíram para os cruzos do encontro: Estopô Balaio, com o seu EX-NE – O Sumiço, e a Cia. do Tijolo, com O Outro Nome da Amizade.

Semana passada teve a mesa Mídia e a (des)construção do imaginário NORDESTE, mediada por Aninha de Fátima Sousa, gerente do Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural. A conversa sobre atitudes xenofóbicos machistas, e racistas foi com a jornalista e atriz pernambucana Ademara Barros, que ganhou espaço na internet com seus vídeos de humor irônico e a baiana Val Benvindo, jornalista, produtora, apresentadora e consultora em diversidade racial.

Os piauienses do grupo Canteiro Teresina apresentaram Amora, o grupo pernambucano Magiluth mostrou o trabalho O Mundo Quase Acabou. O também grupo pernambucano O Poste Soluções Luminosas exibiu o experimento cênico híbrido LONGUSU XENUNPRE DUDU NORDESTINAPE, sobre falas inviabilizadas. Fractais, do Grupo Ninho de Teatro, do Ceará levou para a cena recortes de sua pesquisa sobre gênero a partir dos feminismos e das masculinidades.

Eztetyka do Sonho, do Teatro dos Novos, da Bahia, mostrou uma encenação virtual do manifesto lançado por Glauber Rocha em 1971, para revisitar questões do que seria uma linguagem para uma arte verdadeiramente revolucionária. Cabra Macho, do ator paraibano Zé Wendell, investiga com humor as repercussões do machismo no Nordeste, na construção da identidade LGBT.

As conversas foram mediadas pelo diretor Jorge Alencar e o ator Neto Machado, da Bahia; pela  diretora teatral e dramaturga paulista/baiana Onisajé; e pelo ator e diretor mineiro Rodrigo Mercadante. 

SERVIÇO:
Cena Agora – Encruzilhada Nordeste(s): (contra)narrativas poéticas
Semana 4:
De 27 a 29 de maio (quinta-feira a sábado), às 20h
Dia 30 de maio (domingo), às 19h
Todos as apresentações são seguidas de bate-papo com o elenco.
Pela plataforma Zoom. Ingressos via Sympla.
Mais informações em: www.itaucultural.org.br

PROGRAMÇÃO E SINOPSES
Semana 4

27 de maio, quinta-feira, 20h

Jéssica Teixeira, do Ceará. Foto: Igor Melo

Lugar de Falta
Com Jéssica Teixeira (CE)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com a atriz. Mediação de Karla Martins
Duração: 15 minutos
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos
Sinopse:
Lugar de falta. Não é de fala. Não é de escuta. É de falta. Aqui, a falta é pura contradição. Um
lugar escasso e cheio. Sentir vazio e sentir muito. É do nada e é demais!
Ficha Técnica:
Direção, Roteiro e Atuação: Jéssica Teixeira.
Produção Executiva: Jéssica Teixeira
Direção de Fotografia e Operação de Câmera: Camila de Almeida
Edição, Cor e Legenda: Victor di Marco
Consultoria em Acessibilidade Cultural: Gislana Vale
Trilha Sonora Original e Mixagem: Marcus Au Coêlho

Sem título
Com Coletiva Teatral Es Tetetas (AC)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com o elenco. Mediação de Karla Martins
Duração: 15 minutos
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos
Sinopse:
Uma releitura de A Invenção do Nordeste, um retorno às memórias ancestrais que foram
soterradas, numa camada bem espessa da dor. Como num resgate dessas memórias, propõe-
se um rompimento das noções de dor e sofrimento, que são intensamente vinculadas à
imagem que se faz do Nordeste e de pessoas nordestinas.
Ficha Técnica:
Performance: Kika Sena
Edição de vídeo: Sarah Bicha e Brenn Souza
Roteiro: Kika Sena, Sarah Bicha e Brenn Souza
Direção: Brenn Souza e Kika Sena
Fotografia: Sarah Bicha e Brenn Souza
Indumentária e caracterização: Sarah Bicha e Brenn Souza.

28 de maio, sexta-feira, 20h

Interurbana
Com Pandêmica Coletivo Temporário de Criação (RJ)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com o elenco. Mediação de Francys Madson
Duração: 15 minutos
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos
Sinopse:

Ligações interurbanas. Corpo, caju, facetas, fúria e voz. Quanto de você é Nordeste? Quanto
de Nordeste sai de você sem precisar, nem mesmo, dizê-lo?
Ficha Técnica:
Direção: Juracy de Oliveira
Performance: Alda Pessoa, Diane Veloso, Enio Cavalcante, Josyara e Verônica Bonfim.
Realização: Pandêmica Coletivo Temporário de Criação

Ser tão Nordeste
Com Silvero Pereira (CE)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com o ator. Mediação de Francys Madson
Duração: 15 minutos
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos (melhor fruição)
Sinopse:
É um registro carinhoso, um olhar cheio de afeto sobre três gerações da família do ator Silvero
Pereira: pais, ele e seu sobrinho. Um mini-doc sobre origem, sobre passado, presente e futuro,
sobre realidade, perspectivas e sonhos.
Ficha Técnica:
Argumento, Texto, Direção e edição: Silvero Pereira
Atuação: Silvero Pereira, Rita Invenção e José Alves
Colaboração: Dougllas Robson

29 de maio, sábado, 20h

Cia Pão Doce de Teatro. Foto Thyago Dantas

Constança
Com Cia. Pão Doce de Teatro (RN)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com o elenco. Mediação de Karla Martins
Duração: 15 minutos
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos
Sinopse:
Em constância na caminhada, a Cia. Pão Doce apresenta as suas buscas cênicas e sonoras,
bebendo na poesia e no rap-repente de uma nordestinidade que povoa e foge do senso
comum.
Ficha Técnica:
Direção: Cia Pão Doce
Elenco: Paulo Lima, Lígia Kiss, Romero Oliveira, Raull Davyson, Edson Saraiva e Mônica Danuta
Dramaturgia: Cia. Pão Doce
Música: Romero Oliveira
Iluminação: Paulo Lima
Imagem, edição, som direto: Ribeiro Produções
Cenografia e figurino: Cia Pão Doce
Preparação vocal: Cláudia Azevedo
Produção: Cia Pão Doce

Maicyra Leão. Foto: Marcelo Dischinger

Retalhos Mouriscos
Com Maicyra Leão (SE)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com o elenco. Mediação de Karla Martins
Duração:
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos
Sinopse:
A cena é uma epopeia subterfúgica repartida entre a história de migração no Nordeste, a
trajetória particular de sujeitos em devir retirante e, em meio a isso, a criação de uma criança
declarada nordestina. O mote é múltiplo, difuso, entrecortado e costurado como qualquer
processo de construção de uma identidade mutante. A cena foi elaborada especificamente
para o Cena Agora: Encruzilhada Nordeste, na perspectiva de povoar a noção de
nordestinidade com resíduos de atravessamentos culturais para além da tríade africano – índio
– europeu, mais precisamente com borraduras árabes.
Ficha Técnica:
Performance e concepção: Maicyra Leão
Dramaturgia visual: Rodrigo Garcia
Direção Musical: Nouras Hanana
Violino: Kayan Leão

30 de maio, domingo, 19h

Cia de Artes Fiasco. Foto Michele Saraiva

Ave de Arribação
Com Cia de Artes Fiasco (RO)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com o elenco. Mediação de Francys Madson
Duração: 15 minutos
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos
Sinopse:
É sobre pássaros/pessoas que estão soterradas em lugares de solidão, mas, também de desejo
recalcado que emerge da espera de um regresso incerto dos seus entes queridos. Para nós,
ovos-filhos, para o Estado, números e super soldados. Revoar, neste caso, é levantar o próprio
corpo e a terra ao redor. Qual revoada é possível?
Ficha Técnica:
Dramaturgia e Direção: Fabiano Barros:
Elenco : Rafaela Oliveira e Artur Nestor
Músico Compositor: Rinaldo Santos:
Produção Aline T
Administração: Emilly Lamarão 

Notícias do Dilúvio – Um Canto a Canudos
Com Cia Biruta (PE)
Após a apresentação, acontece um bate-papo com o elenco. Mediação de Francys Madson
Duração:
Capacidade: 270 lugares
Classificação Indicativa: 10 anos
Sinopse:
Entrelaço de referências às práticas culturais populares do Sertão com registros históricos da
participação de mulheres na Guerra de Canudos. A proposta é atualizar, contar e cantar o lugar
em que se forma o silêncio que luta e afronta o esquecimento. Nele estão as personagens Das
Dores e Dos Anjos, em oração, rememoração e alucinação no espaço/tempo navegante de
uma das mais importantes experiências de resistência popular do país.
Ficha Técnica:
Encenação: Antonio Veronaldo
Texto: Luis Osete Carvalho e Antonio Veronaldo
Elenco: Cristiane Crispim e Camila Rodrigues

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