Viagem ao coração da vida
Sobre o espetáculo Do outro lado do Mar

Premiada peça da dramaturga Jorgelina Cerritos, de El Salvador, ganha montagem brasileira dirigida por Marcio Meirelles, com Edu Coutinho e Andrea Elia no elenco. Foto: Ramon Gonçalves / Divulgação

O acaso ostenta seus caprichos. Mas você pode chamar do que quiser. Sorte, destino, imprevisto. Ou tanto mais. Penso que foi uma encruzilhada. A fome de Edu Coutinho, a generosidade de Marcio Meirelles, a poesia de Jorgelina Cerritos. Essas coisas não estão em relação. É feito o cão o rio. E o fluxo de muita água. E tem muito mais dedicação e entusiasmo nessa travessia: Andrea Elia, Caio Terra, Ramon Gonçalves, Erick Saboya, Moisés Victório, Rafael Grilo, Clara Trocoli, Adriana Balsanelli.

A encenação Do Outro Lado do Mar, explora as potencialidades do virtual e dilata as fronteiras do teatro. Feito o pacto de plausibilidade, os personagens podem estar nas nuvens (e não somente com a cabeça), se misturar as águas e seguir por lugares que a arte pode levar.

Um balcão de atendimento para serviços burocráticos é montado em uma praia deserta. Encontramos nesse cenário paradisíaco a solitária Dorotea, com sua carga de projetos interrompidos ou adiados e uma dedicação ferrenha ao cargo público. O jovem Pescador chega para quebrar a monotonia, questionar regras, e reconduzir por um estranho caminho onde a vida não se contenta com vistos, carimbos e certidões.

Dorotea é responsável pela emissão de documentos Ela alimenta a ideia de sucesso ligada à produtividade

Pescador acredita que é livre, pois vive no mar sem preocupação com uma vida “oficial”

A primeira versão brasileira da peça da autora de El Salvador Jorgelina Cerritos envereda pelos (des)sentidos da burocracia, que em espiral remete a um pesadelo kafkiano. As palavras deslizam poeticamente buscando frestas, contornando, enfrentando, furando pedras num jogo delicioso e comovente entre os dois atuantes, Andrea Elia e Edu Coutinho.

A encenação de Marcio Meirelles trafega em polifonia por palavras e sentidos, imagem, som, fúria e silêncio. A impermanência do existir ganha o primeiro plano, mas divide o protagonismo com tantos outros assuntos que mareiam em terra firme.

Sabemos que o capitalismo se fortalece de regras excludentes. As dramaturgias exploram essas restrições, os isolamentos impostos pela sociedade e as contradições desses tempos. A peça nos faz refletir sobre as tentativas de enquadramentos, as identificações rápidas por idade, nome e gênero, que descartam os mais velhos, os insubordinados. E descortina as marcas de isolamento social para garantir o melhor controle.

O público pode mergulhar nessa viagem sensível – com atuações vibrantes, um percurso povoado por poesia e beleza de imagens e palavras –, neste domingo, 20 de junho, às 19h. A última sessão desta temporada de Do Outro Lado do Mar ocorre ao vivo, no Novo Vila Virtual, palco virtual do Teatro Vila Velha, de Salvador, Bahia. O projeto é realizado pela Companhia Teatro dos Novos em parceria com o Toró Teatro.

Ficha Técnica:
Texto: Jorgelina Cerritos.
Tradução: Edu Coutinho com a colaboração de Marcio Meirelles.
Direção: Marcio Meirelles.
Elenco: Andrea Elia e Edu Coutinho.
Direção musical: Caio Terra e Ramon Gonçalves.
Cenografia: Erick Saboya.
Desenho de luz e direção de transmissão ao vivo: Moisés Victório.
Vídeos: Rafael Grilo.
Assistência de direção: Clara Trocoli.
Arte gráfica: Ramon Gonçalves.
Assessoria de imprensa local: Núcleo de Comunicação do Teatro Vila Velha.
Assessoria de imprensa nacional: Adriana Balsanelli.
Produção: Edu Coutinho.
Realização: Toró Teatro, Companhia Teatro dos Novos e Teatro Vila Velha.

Serviço:
Espetáculo Do Outro Lado do Mar
Temporada: Até 20 de junho – Domingo, às 19h.
Ingressos: a partir de R$10
Vendas em www.sympla.com.br/vilavelha
Transmissão: Novo Vila Virtual – palco virtual do Teatro Vila Velha.

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