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Turnê de Sonho Elétrico,
com Jesuíta Barbosa, começa no Recife

Sonho Elétrico marca o retorno do ator pernambucano aos palcos após seis anos e explora temas como consciência, memória e futuro coletivo. Foto: Isadora Quintana / Divulgação

A companhia brasileira de teatro inicia a circulação nacional de Sonho Elétrico pelo Recife. O espetáculo será apresentado no Teatro de Santa Isabel nos dias 12, 13 e 14 de dezembro, trazendo o ator Jesuíta Barbosa de volta ao teatro após seis anos longe dos palcos. Estreada em junho no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, a produção vem com uma proposta que entrelaça arte e ciência. Marcio Abreu assina texto e direção de um trabalho inspirado no livro Sonho Manifesto, do neurocientista Sidarta Ribeiro.

A narrativa acompanha um músico fulminado por um raio que mergulha em coma profundo. Suspenso entre vida e morte, ele percorre memórias fragmentadas, sonhos e a possibilidade de um novo despertar. Essa jornada individual opera como espelho para questões contemporâneas sobre transformação social e futuro planetário.

Para o ator pernambucano Jesuíta Barbosa, o trabalho representa o reencontro com o teatro desde Lazarus, o musical de David Bowie que esteve em cartaz entre 2019 e 2020 em São Paulo. Durante esses seis anos, consolidou sua presença no audiovisual, participando mais recentemente de Homem com H e diversas séries televisivas, tornando-se um dos nomes mais reconhecidos de sua geração.

O elenco reúne Jessyca Meyreles, Idylla Silmarovi e Cleomácio Inácio.

A companhia brasileira de teatro celebra 25 anos em 2025 com Sonho Elétrico. Foto: Isadora Quintana

O projeto se desenvolveu a partir da plataforma Voo Livre, criada em 2023 pela companhia. Sidarta Ribeiro participou de três encontros fundamentais entre 2023 e 2024, em eventos realizados no Rio de Janeiro e São Paulo, incluindo uma residência artística que reuniu 30 jovens artistas.

A obra dá continuidade à investigação da companhia sobre sonho, história e memória, iniciada em AO VIVO [dentro da cabeça de alguém], de 2024.

O espetáculo nasce do trabalho colaborativo que marca a trajetória da companhia brasileira de teatro. Key Sawao traduz os estados alterados de consciência em movimentos, criando uma fisicalidade que dialoga com o território mental explorado na peça. A bailarina e artista da cena desenvolve uma linguagem corporal específica para navegar entre o coma e o despertar.

Felipe Storino constrói a paisagem sonora que sustenta essa jornada. O multi-instrumentista e compositor cria trilha original em parceria com Juliana Linhares, estabelecendo camadas musicais que acompanham as transformações do protagonista. Composições como Armadilha (Juliana Linhares e Caio Riscado), Emaranhada (Juliano Holanda) e Sonho Elétrico (Juliana Linhares e Marcio Abreu) estão na trilha. Luís Chamis executa piano ao vivo durante as apresentações.

Os figurinos de Luiz Cláudio Silva (Apartamento 03) vestem os diferentes estados de consciência dos personagens. Nadja Naira esculpe com a luz os espaços da mente, criando atmosferas que transitam entre o real e o onírico, além de coordenar tecnicamente todo o aparato cênico.

A cenografia surge do diálogo entre Marcio Abreu, José Maria e Nadja Naira, transformando o palco em território mental onde memórias e sonhos ganham forma física. Fábio Osório Monteiro, como assistente de direção, integra essa rede criativa que sustenta a complexidade conceitual do trabalho.

Duas Décadas e Meia de Teatro

Fundada em 2000 por Marcio Abreu em Curitiba, a companhia brasileira de teatro celebra 25 anos em 2025. Seu repertório inclui títulos como PRETO (2017), PROJETO bRASIL (2015) e Vida (2010), além de adaptações como POR QUE NÃO VIVEMOS? (2019), baseada em Platonov de Tchekhov.

Atualmente, o núcleo criativo é formado por Marcio Abreu, Nadja Naira, Cássia Damasceno e José Maria. O grupo mantém circulação constante pelo Brasil e Europa.

Democratização do Acesso

Todas as sessões contarão com intérprete de LIBRAS, audiodescrição e monitoria para pessoas neurodivergentes. O Teatro de Santa Isabel disponibiliza estrutura adequada para cadeirantes e pessoas obesas. Solicitações de serviços especiais podem ser feitas pelo e-mail companhiabrasileira@gmail.com.

Ficha Técnica 

Texto e Direção: Marcio Abreu
Elenco: Jesuíta Barbosa, Jessyca Meyreles, Idylla Silmarovi, Cleomácio Inácio
Direção de Movimento: Key Sawao
Música: Felipe Storino e Juliana Linhares
Figurinos: Luiz Cláudio Silva
Iluminação: Nadja Naira
Interlocução: Sidarta Ribeiro

SERVIÇO

Local: Teatro de Santa Isabel – Praça da República, s/nº
Datas: 12, 13 e 14 de dezembro
Horários: Sex e Sáb, 20h; Dom, 18h
Ingressos: R$ 25 a R$ 100 – Sympla ou bilheteria
Duração: 90 min
Classificação: 14 anos
Capacidade: 500 lugares

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Lady Tempestade, com Andrea Beltrão
abre Festival Recife do Teatro Nacional
celebrando vozes femininas

Andrea Beltrão em Lady Tempestade. Foto: Nana Moraes / Divulgação

Atriz interpreta a advogada pernambucana Mércia de Albuquerque. Foto: Nana Moraes / Divulgação

2 de abril de 1964. Uma cena de horror se desenrolava pelas ruas do Recife e mudaria para sempre a vida de uma jovem advogada. Gregório Bezerra, comunista histórico e líder das Ligas Camponesas, ferrenho opositor do recém-instalado regime militar, estava sendo arrastado seminu pelo asfalto, amarrado ao para-choque de um jipe. O coronel Darcy Villocq comandava aquela demonstração de brutalidade que seria transmitida pelo Repórter Esso para todo o país – o primeiro caso documentado de tortura política pós-golpe.

Entre os que testemunharam aquela barbárie estava Mércia de Albuquerque, advogada de 30 anos. Aquela imagem ficou cravada em sua retina. Ao chegar em casa, ela comunicou ao marido Octávio uma decisão que mudaria sua vida: defenderia Gregório Bezerra e qualquer pessoa que necessitasse de proteção contra as arbitrariedades do novo regime.

Mais de sessenta anos depois, essa história de coragem chega ao 24º Festival Recife do Teatro Nacional através do espetáculo Lady Tempestade, que abre a programação no dia 20 de novembro no Teatro de Santa Isabel. Andrea Beltrão protagoniza o monólogo sobre a advogada que defendeu mais de 500 presos políticos.

Com texto de Sílvia Gomez e direção de Yara de Novaes, o espetáculo parte dos diários que Mércia escreveu durante os anos mais duros da ditadura. Passado, presente e futuro se embaralham na narrativa, que utiliza uma estrutura “diário dentro do diário”.

Andrea Beltrão interpreta A., mulher que recebe misteriosamente os escritos de Mércia e gradualmente se envolve com aquelas histórias de resistência. A protagonista encara o dilema de se aprofundar ou não naquela realidade, mas acaba mergulhando nas memórias que revelam a busca por justiça e o paradeiro de desaparecidos, ecoando as súplicas de mães desesperadas.

A dramaturgia explora a ideia de que alguém do presente recebe uma convocação do passado, criando um tempo verbal instável que oscila entre passado, presente e futuro. Essa estrutura temporal reflete como o Brasil permanece reincidente no esquecimento de sua própria história. Uma frase se torna leitmotiv da montagem, repetida após trechos dramáticos do diário: “Essas coisas acontecem, aconteceram, acontecerão”. Para materializar esse conceito em cena, a direção de Yara de Novaes constrói uma jornada visual que espelha a própria transformação de Mércia.

O espetáculo inicia em um ambiente doméstico deteriorado – mobiliário gasto, cores apagadas, iluminação que sugere clausura e melancolia. Conforme a narrativa avança e o passado invade o presente, essa cenografia se reinventa: sons de violência cedem lugar a celebração, a decadência visual dá espaço à luminosidade, e o palco se torna território de resistência e esperança.

Complementando essa atmosfera de encontro entre tempos, a presença de Chico Beltrão, filho de Andrea, adiciona uma camada geracional ao espetáculo. Responsável pela trilha sonora e por momentos pontuais de diálogo, sua participação surgiu de uma proposta da diretora. Embora Andrea inicialmente tenha hesitado em envolver o filho – produtor musical, não ator – no projeto teatral, Yara identificou que essa configuração familiar ampliaria o impacto emocional da montagem. 

Lady Tempestade consolidou-se como um dos maiores sucessos teatrais contemporâneos e já circulou por várias cidades brasileiras. Desde sua estreia em 2024, a montagem realizou cerca de 150 apresentações e ultrapassou a marca dos 70 mil espectadores, registrando sessões esgotadas e repercussão positiva na imprensa.

O alcance da obra expandiu-se além dos palcos. A dramaturgia foi publicada pela Editora Cobogó em 2024, enquanto uma versão cinematográfica, dirigida por Maurício Farias, já teve suas filmagens concluídas em janeiro e fevereiro de 2025. O filme conta com direção de fotografia de Chico Rufino, direção de arte de Luciane Nicolino, desenho de som de Arthur Ferreira, participação de Chico Beltrão e produção da Taba Filmes, Boa Vida e Quintal Produções.

Festival conecta vozes femininas através dos séculos

Augusta Ferraz no ensaio Sobre os Ombros de Bárbara. Foto: Reprodução do Instagram

O tema “Vozes Femininas – Histórias que Ressoam” conecta diferentes épocas e contextos. Ao longo da programação – ainda sendo ultimada pela organização, com contratos em finalização e sem divulgação oficial da prefeitura – o público encontra desde Mércia Albuquerque, que enfrentou a ditadura no século XX (Lady Tempestade, na abertura dia 20), até Bárbara de Alencar, que desafiou o império no século XIX (apresentações agendadas para os dias 29 e 30), passando por outras montagens que abordam as lutas das mulheres contemporâneas. Essas histórias revelam como a resistência feminina se reinventa em cada período, mantendo sua força através dos tempos.

Primeira presa política brasileira e protagonista da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador de 1824, Bárbara de Alencar (1760-1832) ganha vida através da interpretação de Augusta Ferraz. Sobre os Ombros de Bárbara, com dramaturgia de Brisa Rodrigues da própria Augusta, sob direção de José Manoel Sobrinho, explora as contradições de uma mulher republicana durante a monarquia.

Nascida em Exu, Bárbara quase custou a vida da mãe no parto. Aos 22 anos, casou-se e mudou-se para o Crato, onde teve cinco filhos – dois estudaram no Seminário de Olinda, epicentro do liberalismo europeu entre as elites. Organizou células revolucionárias em sua residência, articulando movimentos que desafiaram o poder imperial.

Posteriormente presa, foi transportada a pé por 600 quilômetros até Fortaleza, permaneceu três anos em calabouços, liderou um segundo levante, perdeu dois filhos nas revoltas e morreu aos 72 anos sem testemunhar a proclamação da República. Augusta Ferraz, da série Guerreiros do Sol, dá vida a essa escravocrata em crise, apresentando um corpo violentado e uma resistência ao arbítrio.

Laboratório Franco-Brasileiro

Trabalho desenvolvido pela companhia francesa ktha em Seul. Foto: Reprodução

A companhia francesa ktha chega ao Recife para desenvolver  a peça A Gente Quer com artistas locais, dentro da programação do Ano Cultural Brasil-França 2025. O grupo não carrega espetáculos prontos; ele criou uma metodologia de criação teatral que se concretiza diferentemente em cada cidade, ocupando espaços urbanos alternativos como contêineres, carrocerias de caminhões, telhados, túneis, estacionamentos, etc.

Em agosto, na Casa do Povo, no bairro do Bom Retiro em São Paulo, durante o festival ERUV, seis artistas brasileiros participaram de residência de duas semanas para criar as versões brasileiras de A Gente Quer e Tu Es Là / Você está Aqui. As apresentações lotaram o espaço, validando a potência dessa metodologia aplicada ao contexto brasileiro.

Para Recife, após analisar mais de 100 cartas de intenção, a companhia selecionou 10 artistas locais: Lucas Vinícius, Catarina Almanova, Ludmila Lopes, Anna Batista, Ana Luiza DAccioli, Rodrigo Hermínio, Maria Pepe, Guara Rios, Bruna Luiza Barros e Caru dos Santos. Durante 10 ensaios, eles vão construir uma versão que dialogue com as particularidades pernambucanas.

Desde 2021, essa metodologia se realizou em mais de 15 cidades do mundo, gerando espetáculos únicos. A dramaturgia funciona como uma matriz: uma extensa lista de desejos e reivindicações que ganha forma específica através do trabalho com performers locais, criando rituais coletivos de partilha de anseios urbanos.

Festival Recife do Teatro Nacional 2025
📅 20 a 30 de Novembro de 2025
🎭 Abertura: 20 de novembro – Lady Tempestade
📍 Teatro de Santa Isabel e outros espaços
🎫 Programação gratuita
Homenageadas: Auricéia Fraga e Augusta Ferraz

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A Insurreição Que Assombra
Sessão única de Ayiti,
com Marconi Bispo

 

Marconi Bispo desvela em Pernambuco a revolução haitiana que permanece silenciada nos livros de história. Foto: Arthur Canavarro

Existe uma lacuna imensa na educação brasileira. Uma ausência que não parece casual, mas estratégica. Enquanto aprendemos sobre diversas revoluções ao longo da formação escolar, uma permanece deliberadamente esquecida: a única insurreição escrava vitoriosa da história moderna, que aconteceu no Haiti entre 1791 e 1804. É exatamente essa ferida na memória coletiva que o experiente artista pernambucano Marconi Bispo decidiu confrontar.

Aos 30 anos de carreira — trajetória que o consolida como uma das vozes mais consistentes das artes cênicas pernambucanas —, Marconi apresenta Ayiti, a montanha que assombra o mundo, trabalho que inaugura em solo pernambucano um diálogo cênico com a Revolução Haitiana. A montagem retorna ao cartaz nesta terça-feira (14), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Recife Antigo.

Descolonizando a Dramaturgia 

O projeto nasce de uma inquietação que indaga por que a primeira república negra da história mundial, que derrotou militarmente França, Espanha e Inglaterra, permanece ausente dos currículos escolares? Por que essa vitória extraordinária – que antecipou em décadas os ideais de igualdade racial — foi sistematicamente apagada da historiografia oficial?

Marconi Bispo, em parceria com o pesquisador Kamai Freire, constrói uma dramaturgia que vai além da reconstituição histórica. O espetáculo avança como arqueologia da resistência, escavando memórias soterradas e devolvendo dignidade a narrativas marginalizadas. A pesquisa, baseada em 13 obras sobre o tema e amadurecida durante residência artística em Portugal, revela conexões históricas surpreendentes entre Recife e Haiti.

“A ilha era chamada de Kiskeya — Mãe de Todas as Terras — pelo povo Taíno”, explica o artista. Essa recuperação da nomenclatura original exemplifica o método do espetáculo: desconstruir sistematicamente a linguagem colonial para assumir outras formas de compreender o mundo.

Além de Marconi, estão no elenco Brunna Martins, Kadydja Erlen e os músicos Beto Xambá e Thulio Xambá

A força da montagem resulta da articulação entre diferentes linguagens artísticas afro-pernambucanas. O elenco reúne Brunna Martins, Kadydja Erlen e os músicos Beto Xambá e Thulio Xambá, do respeitado Grupo Bongar. Essa formação processa a confluência de tradições culturais que dialogam diretamente com o universo revolucionário haitiano.

A percussão assume papel dramatúrgico central, ecoando os tambores que convocaram os escravizados para a insurreição. As batidas atuam como código ancestral, linguagem cifrada que atravessou o Atlântico e permanece viva nas manifestações culturais negras contemporâneas.

Mais que criação artística, Ayiti processa como dispositivo pedagógico, que assume dimensão política fundamental. Ele democratiza o acesso a conhecimentos que as instituições de ensino tradicionalmente negam às classes populares.

A produção independente e os ingressos a preços acessíveis (R$ 25 e R$ 50)) materializam essa vocação democrática. Marconi Bispo compreende que a arte deve circular entre as comunidades que mais se beneficiam dessas narrativas de empoderamento.

Espetáculo estabelece paralelos entre a luta anticolonial caribenha e as resistências negras em Pernambuco

O conceito de “contracolonização”, desenvolvido pelo filósofo Nego Bispo, permeia toda a construção dramatúrgica. O espetáculo pratica essa contracolonização ao recusar a vitimização dos povos escravizados e celebrar sua capacidade de auto-organização política e militar.

“A Revolução Haitiana não acabou”, defende Marconi Bispo. “Ela segue reverberando como o movimento mais impactante de todos os tempos.” Essa perspectiva transforma o Haiti de símbolo de miséria — como frequentemente aparece na mídia — em farol de dignidade e resistência.

A montagem conecta passado e presente. Ao estabelecer paralelos entre a luta anticolonial caribenha e as resistências negras em Pernambuco, o espetáculo fortalece genealogias de luta que nutrem as comunidades afro-brasileiras contemporâneas.

A pergunta que atravessa toda a encenação — “Qual revolução você ainda não fez?” — sintetiza esse potencial transformador. Ayiti convoca cada espectador a refletir sobre seu papel na construção de uma sociedade antirracista e verdadeiramente democrática.

Leia a outra matéria sobre Ayiti AQUI

Serviço

Ayiti, a montanha que assombra o mundo

14 de outubro de 2025 (terça-feira), 20h
Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142 – Recife Antigo)
Ingressos: R$ 25 (meia) / R$ 50 (inteira)
Vendas: bit.ly/3L5xPQg

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Recife mantém respiração teatral
com programação atraente

 

Neste final de semana, a cidade oferece o cardápio cultural possível: do monólogo clássico ao musical biográfico, como Rita Lee – Uma Autobiografia Musical com Mel Lisboa, passando por experimentos cênicos e espetáculos para a família toda. Foto: Divulgação

Sharlene Esse no elenco de O Shá da Meia Noite. Foto: Ivana Moura

os Irmãos Gandaia apresentam Balaio na programação do Festival Cachoeira das Artes

Recife oferece por esses dias aquela programação cultural que conhecemos bem: nem revolucionária, nem inovadora, mas consistente. São atrações de teatro, música e dança que cumprem o papel de manter a cidade respirando culturalmente, oferecendo desde o solo autobiográfico até o musical infantil que agrada os pais.

A agenda não promete mudanças de paradigma, radicalidade ou experiências transformadoras, mas entrega o que se espera: espetáculos bem feitos, alguns nomes conhecidos retornando a papéis consagrados, festivais que misturam tradição e contemporaneidade, e uma dose necessária de entretenimento cultural que garante os teatros funcionando e o público frequentando.

Neste fim de semana, quem procura opções culturais na capital pernambucana encontra desde Mel Lisboa revisitando Rita Lee até experimentos de teatro físico, passando por peças gratuitas e produções que custam o preço de um jantar. É a cultura como ela é no Recife-Pernambuco: nem sempre excepcional, mas presente e acessível, que pode trazer conforto ou gerar discussão.

Mel Lisboa retorna ao papel que a consagrou. E exibe no Teatro Luiz Mendonça seis sessões de Rita Lee – Uma Autobiografia Musical (18 a 21/09). Desta vez baseada na autobiografia da cantora (bestseller com 200 mil exemplares), sob direção de Márcio Macena e Débora Dubois, a montagem transforma confissão editorial em partitura cênica, explorando “honestidade escancarada” como material dramatúrgico. A produção revisita a trajetória da artista desde a infância até seus últimos dias, com orquestra ao vivo e elenco que inclui Bruno Fraga como Roberto de Carvalho. O espetáculo ocupa o teatro quinta e sexta às 20h, sábado às 16h e 20h, domingo às 15h e 18h.

Se Rita Lee explora a autobiografia através da palavra e da música, outro trabalho investiga memórias e corporeidades de forma completamente diversa. Representando 25 anos de pesquisa franco-brasileira, Enquanto você voava, eu criava raízes (Cia. Dos à Deux) consolida a linguagem de André Curti e Artur Luanda Ribeiro, que prescinde da palavra para investigar corporalidades em trânsito. Premiado por APTR e Shell, o trabalho é bonito, com pesquisa consistente e entrega física surpreendente, que reserva momentos inesperados ao público. O espetáculo dialoga com tradições europeias sem perder especificidade brasileira, seguindo a linha de investigação que caracteriza o grupo. É um dos pontos altos da agenda cultural. A intimidade do teatro pequeno potencializa a recepção.

Enquanto você voava, eu criava raízes, espetáculo de excelente qualidade técnica e pesquisa de linguagem

Também navegando entre memória e identidade, mas com outra abordagem performática, Sharlene Esse, primeira dama trans do Teatro Pernambucano e referência LGBTQIA+ consolidada há quatro décadas na cena local, retorna aos palcos em O Shá da Meia Noite, comédia que problematiza disputas por estrelato. Com 40 anos de carreira, Sharlene continua sendo presença fundamental no teatro pernambucano, em trama de intrigas artísticas entre cantora veterana e coristas invejosos.

Ainda na trilha dos solos autobiográficos, a artista Hhblynda ocupa o Espaço O Poste (Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista) nesta sexta-feira, 19/09, às 19h, com HBLYNDA EM TRANSito, criação que mescla performance, dança, música e teatro. O espetáculo compartilha suas vivências atravessando infância, descobertas da sexualidade e o florescer da identidade não binária. Ingressos: R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira).

Da performance autobiográfica para a dança como linguagem ancestral, Babi Johari e Caio Pinheiro apresentam gratuitamente no Teatro Arraial o espetáculo Híbridos – Enlaces, que explora ancestralidade das conexões através de dança fusionada de base oriental árabe, buscando liberdade nos movimento.

Contrastando com abordagens mais intimistas, a tecnologia se faz presente com The Jury Experience, adaptação brasileira de formato internacional dirigida por Talita Lima, que o Teatro RioMar apresenta no sábado (20), às 20h30. O espetáculo transforma espectadores em jurados de caso criminal fictício, utilizando códigos QR e interatividade digital para questionar limites entre ficção e realidade. A dramaturgia participativa de 75 minutos coloca decisões éticas nas mãos do público, buscando criar uma experiência imersiva onde cada sessão pode ter desfecho diferente dependendo das escolhas da plateia. Ingressos a partir de R$ 60.

Murilo Freire em Esquecidos por Deus

Voltando ao formato mais tradicional do teatro, Murilo Freire traz ao SESC Goiana nos dias 19, 20, 26 e 27/09, às 19h30, o drama Esquecidos por Deus, com entrada gratuita. O monólogo, baseado na obra O Livro das Personagens Esquecidas de Cícero Belmar, apresenta o ator interpretando diferentes personagens em uma encenação que preza pela proximidade com a plateia. O ator interpreta um bandido que se crê Deus. Lembranças saudosas de uma infância. Da irmã, do pai, da mãe… Um capanga grotesco arranca risos. Um casal é feito refém.

Enquanto o teatro explora as múltiplas facetas da linguagem cênica, a dança encontra seu espaço coletivo no Shopping Patteo Olinda, que recebe nos dias 20 e 27 de setembro, a partir das 16h, o 3º Festival de Dança e Cultura, também gratuito, reunindo mais de 30 grupos e escolas de dança com apresentações que vão do balé ao jazz.

A programação de festivais ganha continuidade com o Teatro Hermilo Borba Filho, que inaugura o Festival Cachoeira das Artes na sexta (19) com O Menestrel recita ‘O Guardador de Rebanhos’, às 19h30. O espetáculo, com direção de Márcio Fecher e música ao vivo do grupo Los Negrones, recria a atmosfera lírica do heterônimo Alberto Caeiro, de Fernando Pessoa.

A música encontra protagonismo em duas noites do 18º Festival Internacional Cena CumpliCidades no Teatro do Parque. Na sexta (19), às 20h, a trombonista Neris Rodrigues apresenta Músicas do Mundo, seu primeiro projeto autoral com orquestra, explorando sonoridades que transitam entre jazz, música brasileira e world music. No sábado (20), também às 20h, a Banda Chanfrê – formação franco-brasileira que reúne músicos franceses e pernambucanos – apresenta fusão entre música francófona, jazz e ritmos do Recife, criando pontes sonoras entre duas culturas. Ingressos: R$ 20 (meia para todos).

Paulo Cesar Freire no papel de Francisco, um instrumento de paz, com texto e direção de Roberto Costa. Foto: Renan Andrade

Das fusões musicais contemporâneas para a tradição religiosa musicada, Francisco, um instrumento de paz sobe ao palco do Teatro Guararapes no dia 19/09, às 20h, com texto e direção de Roberto Costa. O musical promete uma experiência de fé e arte para todos os públicos, religiosos ou não. A história de Francisco de Assis é apresentada desde sua infância, passando pelos conflitos familiares, sua ida à guerra, a prisão e a conversão nas ruínas de São Damião. A peça narra sua poderosa transformação, que o levou a viver o evangelho na prática e a criar a ordem dos frades menores, sempre pautado pela caridade e pelo amor ao próximo. Para dar vida ao santo, o ator Paulo Cesar Freire foi convidado, e a produção conta com um grande elenco de músicos, atores e cantores. A trilha sonora será executada ao vivo, sob a direção musical da maestrina Hadassa Rossiter, do Conservatório de Música de Pernambuco. Valores: de R$ 50 a R$ 150.

A programação contempla ainda o público infantil, com o domingo (21) oferecendo três opções especiais. O Mundo Mágico de Peter Pan no Teatro Barreto Júnior (16h) traz o musical inspirado na obra de J.M. Barrie, acompanhando os irmãos Wendy, João e Miguel em sua jornada à Terra do Nunca, onde enfrentam o Capitão Gancho. Ingressos: R$ 50 (meia) e R$ 100 (inteira). Já no teatro Hermilo, a palhaça Gardênia, vivida por Luíza Fontes, embarca em uma aventura que promete ser divertida e emocionante em A Boba, uma jornada  (16h), enquanto os Irmãos Gandaia apresentam Balaio (17h30), espetáculo que celebra a cultura pernambucana com circo, dança e música.

Ainda na programação adulta do sábado, o clássico naturalista Raimundo (20h, Teatro Barreto Júnior), inspirado em O mulato de Aluísio Azevedo, ganha adaptação de Taveira Junior e direção de Filipe Enndrio. A trama acompanha Raimundo, um jovem culto que retorna da Europa e se depara com os preconceitos, segredos e hipocrisias de uma sociedade marcada pelo racismo e pelas convenções sociais do século XIX. O espetáculo marca a conclusão da Turma de Iniciação Teatral para Adultos do Espaço de Artes Teatralizar.

🎭 SERVIÇO 

QUINTA-FEIRA (18/09)

Rita Lee – Autobiografia Musical – 20h – Teatro Luiz Mendonça
Balaio de Memórias (FETED) – 19h – Teatro Apolo – R$ 20
O Shá da Meia Noite – com Sharlene Esse – 19h30 – Teatro Santa CRuz – Gratuito
Enquanto você voava, eu criava raízes – Cia. Dos à Deux – 20h – Teatro da Caixa, 15/30

SEXTA-FEIRA (19/09)

Enquanto você voava, eu criava raízes – Cia. Dos à Deux – 20h – Teatro da Caixa, 15/30
HBLYNDA EM TRANSito – 19h – Espaço O Poste – R$ 15/30
O Shá da Meia Noite – com Sharlene Esse – 19h30 – Teatro Santa CRuz – Gratuito
Esquecidos por Deus – 19h30 – SESC Goiana – GRATUITO
O Menestrel recita O Guardador de Rebanhos – 19h30 – Teatro Hermilo – R$ 15/30
Francisco, um instrumento de paz – 20h – Teatro Guararapes – R$ 50 a 150 Sessão Única
Músicas do Mundo – 20h – Teatro do Parque – R$ 20
Rita Lee – Autobiografia Musical – 20h – Teatro Luiz Mendonça
O Sistema Morreu (FETED) – 19h – Teatro Apolo – R$ 20
Híbridos – Enlaces – 19H – Teatro Arraial – GRATUITO

SÁBADO (20/09)

Enquanto você voava, eu criava raízes – Cia. Dos à Deux – 20h – Teatro da Caixa, 15/30
Esquecidos por Deus – 19h30 – SESC Goiana – GRATUITO
CALIUGA + Leitura Por Elise – 17h e 19h30 – Teatro Hermilo – R$ 15/30
Banda Chanfrê – 20h – Teatro do Parque – R$ 20
Raimundo – 20h – Teatro Barreto Júnior
Rita Lee – Autobiografia Musical – 16h e 20h – Teatro Luiz Mendonça
The Jury Experience – 20h30 – Teatro RioMar – A partir de R$ 60
3º Festival de Dança – 16h – Shopping Patteo Olinda – GRATUITO
Sonho de uma Noite de Verão (FETED) – 16h – Teatro Apolo – R$ 20
Sonetos para um quase amor (FETED) – 19h – Teatro Apolo – R$ 20
Híbridos – Enlaces – 19H – Teatro Arraial – GRATUITO

DOMINGO (21/09)
O Mundo Mágico de Peter Pan – 16h – Teatro Barreto Júnior – R$ 50/100
A Boba, uma jornada – 16h – Teatro Hermilo – R$ 15/30
Balaio (Irmãos Gandaia) – 17h30 – Teatro Hermilo – R$ 15/30
Rita Lee – Autobiografia Musical – 15h e 18h – Teatro Luiz Mendonça
Três Histórias (FETED) – 16h – Teatro Apolo – R$ 20
De Noite, Sombras e Ausências (FETED) – 19h – Teatro Apolo – R$ 20

INFORMAÇÕES GERAIS
FETED continua até 28/09 no Teatro Apolo
Festival Cachoeira das Artes: @cachoeiradasartes
Cena CumpliCidades: cenacumplicidades.com | @ccumplicidades
A programação cultural conta com apoio do Funcultura, Fundarpe, FUNARTE e diversos parceiros culturais da cidade.

 

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Convocatória MITbr: últimos dias
de inscrições na Plataforma Brasil 2026

Grupo Cena 11, de Florianópolis (SC)  na MITbr 2024 com Eu não sou só eu em mim. Foto: Silvia Machado

A contagem regressiva começou. Entram na reta final as inscrições para a MITbr – Plataforma Brasil 2026, vitrine estratégica da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) dedicada a dar projeção internacional às artes cênicas brasileiras. O prazo se encerra em 15 de setembro no mitsp.org, e a convocatória — gratuita — é um convite a artistas, coletivos e companhias do país que queiram dialogar com curadores e programadores do circuito global.

Esta chamada é uma oportunidade de circulação, articulação e troca. Ao reunir espetáculos e proposições que refletem a diversidade estética e territorial do Brasil, a MITbr funciona como pontilhão entre a criação brasileira e os palcos do mundo.

Em 2025, a MITbr registrou 454 inscrições, um termômetro da vitalidade do setor e do interesse crescente pela plataforma. Para 2026, a expectativa é de ampliação desse alcance.

O que é a MITbr e por que ela importa 

  • É a plataforma da MITsp dedicada a apresentar um recorte curatorial da produção contemporânea brasileira (teatro, dança, performance) para programadores nacionais e internacionais.
  • O objetivo é acelerar convites, turnês, coproduções e residências, fortalecendo a internacionalização de artistas, companhias e coletivos do Brasil.
  • A curadoria é independente, e a seleção privilegia diversidade de estéticas, territórios e vozes, com atenção a grupos historicamente sub-representados.
  • Aumento da presença de artistas brasileiros em festivais e temporadas no exterior.
  • Fortalecimento de parcerias e coproduções, com impacto na sustentabilidade dos projetos.
  • Curadoria atenta a diversidade de linguagens (teatro, dança, performance e hibridismos), trazendo obras que tensionam formas e discursos.
  • Ampliação do olhar para além dos grandes centros, com maior atenção a territorialidades múltiplas.

Desafios em pauta

  • Logística e financiamento: a viabilização de turnês e deslocamentos segue como grande gargalo, especialmente para projetos de regiões distantes dos principais eixos de transporte.
  • Representatividade e acesso: refletir a pluralidade brasileira na programação exige políticas ativas e contínuas, considerando recortes étnico-raciais, de gênero, de deficiência e de território.
  • Diferenças de escala: obras intimistas e de pequeno porte competem, no radar internacional, com produções de maior orçamento — um equilíbrio que demanda mediação curatorial e negociação com a rede de programadores.
  • Sustentabilidade: pensar circulação de modo mais responsável (carbono, materiais, logística) tornou-se pauta transversal.
  • Apesar dos obstáculos, a MITbr vem acumulando resultados concretos: maior visibilidade no exterior, redes de colaboração mais densas e um diálogo curatorial que se atualiza a cada edição.

O que os curadores costumam observar

  • Intelecção artística: uma obra com proposição estética nítida e coerência entre linguagem, tema e dispositivo cênico.
  • Potencial de circulação: condições técnicas claras, adaptabilidade a diferentes espaços, e documentação audiovisual que reflita a experiência de público.
  • Singularidade e contexto: projetos que tragam vozes, territorialidades e imaginários pouco vistos no circuito internacional chamam atenção — especialmente quando articulam rigor formal e potência política                                                                                                                                   

Serviço — MITbr 2026

MITbr – Plataforma Brasil 2026 (chamada pública)
Inscrições: Até 15 de setembro de 2025
Divulgação dos selecionados: até 1º de dezembro de 2025
Apresentações: de 5 a 15 de março de 2026, em São Paulo
Taxa: inscrições gratuitas
Onde: site oficial da MITsp — mitsp.org

 

A MITsp em Avignon 2025:
Projeção Cultural Brasileira e Seus Desdobramentos

História do Olho, de Janaina Leite (São Paulo/SP). Foto: Reproduão do Instagram

A participação da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) no Festival Off Avignon, realizada entre 5 e 13 de julho de 2025, constituiu um esforço notável na estratégia de projeção cultural brasileira no cenário internacional. Organizada no âmbito da Temporada Brasil França 2025 e respaldada por financiamento do Ministério da Cultura e patrocínio da Petrobras, a iniciativa buscou estabelecer um intercâmbio substancial, apresentando um recorte da produção nacional a um público e a programadores globais.

A delegação brasileira em Avignon foi composta por um programa com quatro espetáculos de teatro e dança, três filmes e três conferências. No palco francês, obras como História do Olho, de Janaina Leite (São Paulo/SP), foram apresentadas, explorando a fronteira entre o ficcional e o documental. AZIRA’I – Um Musical de Memórias, da atriz indígena Zahy Tentehar, trouxe à cena narrativas que ressoaram pela sua pertinência e pela performance de sua criadora. Fábio Osório Monteiro, com Bola de Fogo, propôs uma interação que mesclava o preparo de um quitute tradicional com discussões sobre identidades, enquanto Eles Fazem Dança Contemporânea, de Leandro Souza, abordou questões sobre a presença negra na arte contemporânea ocidental. Foram exibidos os filmes O Diabo na Rua no Meio do Redemunho, de Bia Lessa; A Queda do Céu, de Éryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha; e As Cadeiras, de Luís Fernando Libonati. A programação foi enriquecida por conferências com intelectuais como Geni Núñez, Rosane Borges e Vladimir Safatle, que ofereceram análises sobre o Brasil contemporâneo sob perspectivas indígenas, raciais, de gênero e políticas.

Passados dois meses do evento, a recepção da presença brasileira em Avignon registrou resultados observáveis. A crítica especializada francesa dedicou cobertura às obras brasileiras, com comentários que abordaram a diversidade de temas, a inventividade das linguagens e a performance dos artistas. Sessões nas salas de La Manufacture registraram presença de público compatível com as expectativas, especialmente para os espetáculos que já possuíam um histórico de apresentações em festivais no Brasil. A imprensa francesa, incluindo publicações como Le Monde e Libération, veiculou comentários sobre a abordagem curatorial da MITsp, que procurou apresentar aspectos variados da cultura brasileira.

No que tange aos programadores e profissionais do setor, a exposição das obras brasileiras foi um objetivo cumprido. Relatos da própria MITsp e informações veiculadas indicam que discussões foram iniciadas com diversos programadores de festivais e espaços culturais de distintos países para possíveis futuras apresentações e parcerias. Guilherme Marques, diretor geral de produção da MITsp, indicou que o nível de engajamento alcançado foi significativo. As conferências e sessões de filmes também registraram participação considerável, o que agregou um componente de debate e reflexão à apresentação artística.

Em relação ao investimento e à percepção pública, a participação da MITsp em Avignon foi sustentada por financiamento público e privado. A repercussão da imprensa brasileira, tanto no período pré-evento quanto no pós-evento, focou predominantemente nos anúncios e na apresentação da iniciativa, com alguns veículos indicando desdobramentos positivos em termos de interesse e visibilidade para os espetáculos. 

A narrativa observada na cobertura midiática sugere que o aporte financeiro é contextualizado pela projeção da cultura brasileira e pela busca de novas avenidas de intercâmbio, cujos resultados tangíveis, como convites concretos para novas apresentações, ainda se encontram em fase de maturação e negociação. Tal perspectiva alinha-se à compreensão de que ações de projeção internacional, especialmente no campo cultural, demandam tempo para que seus impactos e retornos se manifestem plenamente.

 

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