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Flávia Pinheiro baila com a filosofia

58 Indícios sobre o corpo é inspirado no pensamento do filósofo francês Jean Luc Nancy. Foto: Leandro Olivan

58 Indícios sobre o corpo é inspirado no pensamento do filósofo francês Jean Luc Nancy. Foto: Leandro Oliván

Uma quase amiga comentou que a artista Flávia Pinheiro é “cabeçuda”.

Não, ela não estava dizendo que a atriz/bailarina se parece com as tanajuras, aqueles “frutos” que caem do céu em determinada época do ano, que deliciavam os indígenas na época da colonização portuguesa e prosseguem valorizados até hoje em algumas regiões. Dizem que o gosto lembra o do camarão e tem alto valor proteico.

Mas a expressão não se refere à fina iguaria da culinária cabocla.

Ser “cabeçuda” é um elogio, mesmo que o termo seja um pouco antiquado.

58 Indícios sobre o corpo Foto: Leandro Olivan

Imagem e filosofia estão na base da performance. Foto: Leandro Oliván

Os trabalhos de Flávia forçam à expansão de pensamentos e de reflexões sobre corpo, movimento, presenças, ausências e um punhado de coisas que dizem respeito ao existir contemporâneo.

Nas pegadas de Giles Deleuze, suas obras testam a deformação do chichê e buscam truncar o “conjunto visual provável” para fazer emergir a imagem, contaminada de sensações de diferentes níveis. “Só transformando o clichê, ou, como dizia Lawrence, maltratando a imagem, isso poderia ocorrer, como nas imagens-cinema de Eisenstein, ou nas imagens-foto de Muybridge,” provoca Deleuze em Francis Bacon: Lógica da Sensação.

Imagem e a filosofia estão na base da criação 58 indices sur le corps, performance inspirada no texto do filósofo francês Jean-Luc Nancy, professor emérito da Universidade Marc Bloch, de Estrasburgo. Ele é autor de livros sobre muitos pensadores, entre eles Hegel, Kant, Descartes e Heidegger. Entre as principais influências de Nancy estão Derrida, Bataille, Blanchot e Nietzsche.

Nesta sexta (27/05) e sábado (28/05) Flávia Pinheiro apresenta 58 Indícios sobre o corpo, na Aliança Francesa Derby, com entrada gratuita.

O ensaio de Nancy sobre o corpo, um escrito anti-cartesiano em forma e conteúdo publicado em 2006, medita sobre os problemas do mundo. E é partir dele que a atriz/bailarina traça uma cartografia sobre a corporeidade.

O corpo de J-L.Nancy é o corpo que transborda. No fragmento 52, ele diz: “O corpo funciona por espasmos, contrações e distensões, dobras, desdobramentos, nós e desenlaces, torções, sobressaltos, soluços, descargas elétricas, distensões, contrações, estremecimentos, sacolejos, tremores, horripilações, ereções, arquejos, arroubos”.

Na performance de Flávia Pinheiro a dança é praticada como uma arte de todos e de qualquer pessoa, mas que desobstrui o gesto e movimento de marcas narrativas. Esse corpo que “grita”, até exceder o limite do próprio corpo, está tomado por intensidades.

Alguns fragmentos de Nancy impregnados no corpo vivo e desejante de Flávia Pinheiro.

1.  O corpo é
material. É denso.
Impenetrável. Se
o penetram, fica
desarticulado,
furado, rasgado.

3.  Um corpo não
é vazio. Está cheio
de outros corpos,
pedaços, órgãos,
peças, tecidos,
rótulas, anéis,
tubos, alavancas
e foles. Também
está cheio de si
mesmo: é tudo o
que é.

5.  Um corpo é
imaterial. É um
desenho, um con-
torno, uma ideia.

9.  O corpo é visível, a alma, não. Vemos que um paralítico não pode mexer sua perna direito. Não vemos que um homem mau não pode mexer sua alma direito: mas devemos pensar que isto é o efeito de uma paralisia da alma. E que é preciso lutar contra ela e obrigá-la a obedecer. Eis aí o fundamento da ética, meu caro Nicômaco.

43.  Por que indícios em vez de
caracteres, signos, marcas distintivas?
Porque o corpo escapa, nunca está
bem seguro, deixa-se suspeitar, mas
não identificar. Poderia sempre ser
não mais que uma parte de um corpo
maior, que supomos ser sua casa, seu
carro ou seu cavalo, seu burro, seu
colchão. Poderia não ser mais que um
duplo desse outro corpo tão pequeno e
vaporoso que chamamos de sua alma e
que sai de sua boca quando ele morre.
Só dispomos de indicações, traços,
pegadas, vestígios

58.  Por que 58 indícios? Porque 5 + 8
= os membros do corpo, braços, pernas e
cabeça, e as 8 regiões do corpo: as costas,
o ventre, o crânio, o rosto, as nádegas,
o sexo, o ânus, a garganta. Ou, senão,
porque 5 + 8 = 13 e 13 = 1 & 3, 1 valendo
pela unidade (um corpo) e 3 valendo
pela incessante agitação e transformação
que circula, se divide e se excita entre a
matéria do corpo, sua alma e seu espíri-
to… Ou, senão, ainda: o arcano XIII do
tarô designa a morte e a morte incorpora
o corpo no inconsumível corpo univer-
sal dos lodos e dos ciclos químicos, dos
calores e dos brilhos estelares.

59.  Surge, por conseguinte, o quinquagésimo-nono indício, o
supranumerário, o excedente, o sexual: os corpos são sexuados.
Não existe corpo unissex como hoje se diz de certas peças de
roupa. Ao contrário, um corpo é por toda parte também um sexo:
assim os seios, um membro, uma vulva, os testículos, os ovários,
as características ósseas, morfológicas, fisiológicas, um tipo de
cromossoma. O corpo é sexuado em essência. Esta essência é de-
terminada como a essência de uma relação com a outra essência.
O corpo é assim determinado como essencialmente relação, ou em
relação. O corpo é relacionado com o corpo do outro sexo. Nessa
relação, trata-se da sua corporeidade à medida que ela toca pelo
sexo em seu limite: ela goza, quer dizer, o corpo é sacudido fora
de si mesmo. Cada uma de suas zonas, gozando por si mesma,
emite no fim o mesmo clarão. Isto se chama uma alma. Porém,
mais frequentemente, isto permanece apreendido pelo espasmo,
no soluço ou no suspiro. O finito e o infinito se cruzaram, inter-
cambiaram-se por um instante. Cada um dos sexos pode ocupar a
posição do finito ou do infinito

Sessões gratuitas na Aliança Francesa do Derby, Foto: Leandro

Sessões gratuitas sexta (27) e sábado (28), na Aliança Francesa do Derby, Foto: Leandro Oliván

Ficha Técnica:
Performer: Flavia Pinheiro
Imagens : Leandro Olivan
Produção : Coletivo Mazdita
Apoio: Aliança Francesa

SERVIÇO
58 Indícios sobre o corpo
Onde: Aliança Francesa Derby (Rua Amaro Bezerra 466)
Quando: Sexta-feira 27 às 17h; Sábado 28, às 19h
Quanto: Grátis

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Dança da acessibilidade

Equipe Acupe

Equipe Acupe que assina a realizaçao do Seminário Nacional de Dança e Educação em Pernambuco

A acessibilidade é o principal tema da 4ª edição do Seminário Nacional de Dança e Educação de Pernambuco. De 30 de maio a 2 de junho, a programação é construída com palestras, workshops, performances, coreografias e espetáculos gratuitos. O encontro, intitulado Por Uma Dança Acessível, pretende mapear, ampliar e aprofundar territórios e fronteiras entre a dança, educação e a acessibilidade, unindo todos os agentes da área: estudantes, professores, bailarinos, pesquisadores, deficientes ou não.

Políticas Públicas, Dança e Pessoas com deficiência engrossam o intercâmbio de ideias nas palestras, que contam com nomes como o bailarino e curador nacional do seminário Edu O. (BA), a pesquisadora Lúcia Matos (BA) e a artista Estela Lapponi (SP). O curador e coordenador pernambucano do evento, Paulo Henrique (diretor do Acupe, grupo responsável pela realização do seminário no Recife) defende o fortalecimento do diálogo pedagógico entre teoria e prática do universo em questão. As mesas terão também tradução em Libras.

Além das palestras, o Seminário engloba workshops e exibições de espetáculos, com o recurso de audiodescrição. Durante os quatro dias o Teatro Hermilo Borba Filho, Caixa Cultural e Paço do Frevo recebem respectivamente os workshops Diversos Corpos Dançantes (ministrada por Carla Vendramin, RS), Audiodescrição (com Andreza Nóbrega, PE) e Danceability (com Estela Lapponi, SP).

Entre as atrações estão Sem Conservante, da Cia. Gira Dança (RN), a performance Ah, Se Eu Fosse Marilyn!, de Edu O. e a estreia Tijolos de Esquecimento, do Acupe.

Cia Potiguar Gira Dança apresenta espetáculo Sem Conservantes com direção e coreografia de Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira

Cia Potiguar Gira Dança apresenta Sem Conservantes, com direção de Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira

Sem Conservantes, da Gira Dança, tem direção e coreografia de Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira, direção artística e geral de Anderson Leão. Em fragmentos de memória, os movimentos trançam o desapego e o abandono para chegar a questão de ‘o que se relaciona com o quê?’. Essa memória está impregnada nas fotografias dos processos anteriores dos coreógrafos, tiradas de vídeos dos trabalhos Somtir (2003), Outras Formas (2004) e Clandestino (2006), para compor o “corpo fotográfico”.

Performance de Estela Lapponi

Performance de Estela Lapponi

A criadora/intérprete Estela Lapponi apresenta INTENTO 3257,5 performance+instalação que faz parte das práticas investigativas do projeto Corpo Intruso. Já a performance Ah, Se Eu Fosse Marilyn!  reflete sobre o que nos tornamos com a passagem dos anos. A partir da construção/desconstrução de imagens corporais e do cotidiano de uma travesti explora o tempo que nos consome e nos transforma

As inscrições para o seminário (100 vagas/mesa temática) e para os workshops (25 vagas/workshop) são gratuitas e devem ser feitas através do site www.acupegrupodedanca.com.br.

O seminário conta com incentivo do Prêmio Funarte Klauss Vianna 2014, apoio cultural do Paço do Frevo, Caixa Cultural Recife, SESC PE e Centro Apolo Hermilo.

Serviço

IV Seminário Nacional de Dança e Educação de Pernambuco
Por uma dança acessível
De 30 de Maio à 2 de Junho

Palestras e apresentações**: Centro Apolo Hermilo
**Distribuição de ingressos com uma hora de antecedência
Participação gratuita

Inscrições: www.acupegrupodedanca.com.br

Mais informações: acupegrupodedanca@gmail.com ou (81) 9.9145-7259

PROGRAMAÇÃO

Segunda-feira (30.05)

14h às 17h – Políticas Públicas, Dança e Pessoas com deficiência
Palestrantes: Edu O. (BA) e Lúcia Matos (BA). Mediador: Paulo Henrique Ferreira

18h- Espetáculo Sem Conservante/ Cia. Gira Dança (RN)

19h30 às 20h30- Mapeamento da Dança: diagnóstico da dança em oito capitais de cinco regiões brasileiras.
Palestrantes: Lúcia Matos (coordenadora nacional – PPGDança – UFBA),  Roberta Ramos (coordenadora do Núcleo Recife – UFPE) e Adriana Gehres (pesquisadora Núcleo Recife – UPE) 

Terça-feira (31.05)
14h às 17h – Palestras sobre Mídia e Acessibilidade
Palestrantes: Flávia Cintra (RJ) e Andreza Nóbrega(PE). Mediadora: Duda Freire

18h- Intento 3257,5 performance+instalação com Estela Lapponi

19h às 22h Palestras sobre Dança, artistas e seus fazeres
Palestrantes: Fátima Daltro (BA) e Estela Lapponi (SP). Mediador: Marcelo Sena

Quarta-feira (1° de junho)
14h às 17h  Palestras Por uma dança acessível
Palestrantes: Tereza França (PE) e Carla Vendramin (RS). Mediadora: Liana Gesteira

18h- AH, SE EU FOSSE MARILYN! Performance criada e interpretada por Edu O.

Quinta-feira (02/06)
14h às 17h
 Palestras sobre Dança e Deficiência
 Palestrantes: Ana Cecília Soares (PE) e Carolina Teixeira (RN). Mediadora: Ailce Moreira

18h- Espetáculo Tijolos de esquecimento/ Acupe Grupo de Dança

19h- JAM Session e entrega de certificados

Workshops

Diversos Corpos Dançantes com Carla Vendramin (RS)
Irá possibilitar aos participantes uma experiência sobre a metodologia de Carla Vendramin no trabalho com grupos de habilidades mistas (pessoas com e sem de/eficiência). Será abordado alguns temas, como: princípios chave de comunicação e relacionamento, elementos do ambiente e estratégias para uma prática de dança acessível;
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho
Período: 30/5 a 02/06 das 9 às 13h
Total 15 h

Audiodescrição com Andreza Nóbrega (PE)
Estudos da tradução audiovisual, envolvendo a audiodescrição (AD) como um recurso de acessibilidade para a dança. Elaboração de notas proêmias e reflexão sobre estratégias de mediação inclusiva. Universo da pessoa com deficiência visual.
Onde: Auditório da Caixa Cultural
Período: 31/05 a 02/06 das 8 às 13h
Total 15 h

Danceability com Estela Lapponi(SP)
Danceability propõe a investigação do movimento que é próprio de cada pessoa. Esta investigação se dá de maneira particular e ao mesmo tempo coletiva, possibilitando o intercâmbio criativo e a construção de um ambiente de confiança e de liberdade criativa a partir dos seguintes princípios da “Escuta Cênica”: SENSAÇÃO: é a atenção no que se passa dentro e fora do corpo, RELAÇÃO: com a pessoa ou pessoas com quem está dançando dupla, trio, quarteto e grupo, e espaço, TEMPO: a sensação do tempo interno e externo do corpo de cada um, as diferentes sensações do tempo e COMPOSIÇÃO: o desenho, composição no Espaço, coreografia.
Onde: Paço do Frevo
Período: 30/05 a 02/06 das 9 às 13h
Total 15 h

FICHA TÉCNICA

Coordenação geral e curador local: Paulo Henrique Ferreira
CuradorIa nacional: Edu O.
Consultoria: Ana Cecília Soares
Palestrantes: Ana Cecília Soares, Carolina Teixeira, Lúcia Matos, Estela Lapponni, Flávia Cintra, Andreza Nóbrega, Tereza França, Carla Vendramin, Edu O. e Fátima Daltro.
Professores dos workshops: Carla Vendramin, Estela Lapponi e Andreza Nóbrega.
Mediadores: Ailce Moreira, Duda Freire, Liana Gesteira, Marcelo Sena e Paulo Henrique Ferreira.
Coordenação das palestras: Silas Samarky
Coordenação dos espetáculos: Anne Costa
Coordenação dos workshops: Valéria Barros
Coordenação de transporte: Henrique Braz
Coordenação de credenciamento: Karla Cavalcanti
Coordenação técnica: Jadson Mendes

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O Beijo no Asfalto faz temporada no Apolo

Peça volta neste fim de semana e fica em cartaz no Teatro Apolo até 5 de junho. Foto: Américo Nunes

Peça volta neste fim de semana e fica em cartaz  até 5 de junho. Foto: Américo Nunes

Jornalista de batente, o dramaturgo Nelson Rodrigues conhecia bem os mecanismos da produção de notícias nas redações. E é demolidor ao compor personagens do métier. Em Viúva porém honesta julga tanto o publisher quanto o crítico teatral fisgado do reformatório. Em O Beijo no Asfalto, a imprensa inescrupulosa, na figura do repórter Amado Ribeiro, aliada à justiça submissa – representada pelo delegado Cunha, compõem um quadro de poder em que o cidadão comum pode ser caluniado, vilipendiado, coagido, destruído diante de uma sociedade hipócrita.

Parece até teatro do real.

Mas a peça O Beijo no Asfalto foi escrita 1961 especialmente para o Teatro dos Sete e estreou naquele ano, no Rio de Janeiro, sob direção de Gianni Ratto, com Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Sérgio Britto e Ítalo Rossi no elenco, entre outros.

Na trama, um anônimo atropelado pede um beijo a um desconhecido, que foi em seu socorro após o acidente no trânsito num grande centro. O flagrante faz com que a curiosidade mórbida ganhe o lugar da indiferença que domina o caos da metrópole.

A vida do jovem Arandir, que atende ao último pedido do atropelado à beira da morte, se transforma num inferno. O repórter inescrupuloso e oportunista converte o ato de misericórdia em um caso de polícia com grande espaço na imprensa. Sem pudor em explorar com extrema crueldade, jornalistas e policiais sem ética invadem a privacidade da família, destroem a reputação de Arandir e fazem até com que nem mesmo a mulher do cidadão, Selminha, acredite na sua inocência.

A montagem acrescenta a obsessão pela internet. A cena é registrada por dezenas de pessoas munidas de aparelhos celulares e o caso ganha repercussão imediata nas redes sociais. O espetáculo reflete sobre a fabricação das celebridades instantâneas, ética e os meios de comunicação.

O espetáculo O Beijo no Asfalto utiliza do procedimento clássico do coro para expor facetas da sociedade que rumina opiniões, muitas vezes clandestinamente, nas redes sociais. São as manifestações sub-reptícias  de figuras sem identidade revelada, mas com os dentes afiados para condenar fatos e pessoas.

Assinada pelo diretor Claudio Lira, a encenação pernambucana estreou no Rio de Janeiro em agosto de 2012, como parte do projeto Nelson Brasil Rodrigues: 100 Anos do Anjo Pornográfico, organizado pela Funarte. Depois fez temporada no Recife e circulou por algumas cidades.

O Beijo no Asfalto volta neste fim de semana e fica em cartaz no Teatro Apolo, até 5 de junho, com sessões às sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h. A temporada faz parte do projeto Nelson Rodrigues e o Óbvio Ululante (Temporada Jornalística de O Beijo no Asfalto), incentivada pelo Funcultura.

No elenco estão Arthur Canavarro, Andrêzza Alves, Eduardo Japiassu, Ivo Barreto, Pascoal Filizola, Sandra Rino, Daniela Travassos e Lano de Lins.

Ingressos antecipados pelo site www.eventick.com.br/temporada-de-o-beijo-no-asfalt.

FICHA TÉCNICA
Direção: Claudio Lira
Elenco: Andrêzza Alves, Arthur Canavarro, Daniela Travassos, Eduardo Japiassú, Ivo Barreto, Lano de Lins, Pascoal Filizola e Sandra Rino | Participações em Vídeo: Cardinot, Clenira de Melo, Cira Ramos, Márcia Cruz, Renata Phaelante, Sônia Bierbard e Vanda Phaelante
Voz da Locução: Gino Cesar
Música Final / Voz: Lêda Oliveira e Pianista: Artur Fabiano
Direção de vídeo cenário: Tuca Siqueira
Iluminação: Luciana Raposo
Cenário: Claudio Lira
Figurinos: Andrêzza Alves e Claudio Lira
Direção Musical e Preparação Vocal: Adriana Milet
Preparação Física e Coreografias: Sandra Rino
Fotografias: Caio Franco e Américo Nunes
Programação Visual: Claudio Lira
Produção Executiva: Renata Phaelante e Andrêzza Alves

SERVIÇO:
O Beijo no Asfalto
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife. Fone: 3355 3321)
Quando: A partir desta sexta-feira (20/05) até 5 de junho. Sextas e sábados às 20h; e domingos, às 19h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Duração: 1h30m
Indicação: 16 anos

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Santa Isabel tem aniversário trivial

Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

O Santa Isabel é uma das mais belas casas de espetáculos brasileiras, um dos 14 teatros monumentos do país. E mais uma vez o equipamento cultural da Prefeitura do Recife recebe uma celebração burocrática na passagem do aniversário de 166 anos. Visitas guiadas, apresentações de dança e concerto da Banda Sinfônica do Recife fazem parte de uma programação raquítica promovido pelo executivo municipal.

Em outra época aguerrida, o Santa Isabel funcionou como centro cultural e palco do exercício da cidadania e da liberdade no Recife. Grandes oradores defenderam boas causas no tablado do TSI. Entre eles Joaquim Nabuco, Castro Alves e Tobias Barreto, que soltaram o verbo em prol da abolição e da emancipação.

O Imperador Pedro II festejou, em 1859, seu aniversário nas dependências do teatro, com um grande espetáculo de gala. Mas isso foi no século 19, da monarquia no Brasil com seu rei coroado.

Recentemente, os artistas protestaram contra o descumprimento por parte da Prefeitura do Recife, responsável por gerir o teatro, do decreto nº 21.924 de 2006, que afirma que o teatro é exclusivamente dedicado a atividades de caráter cultural, “especialmente nas linguagens artísticas da música, do teatro, da dança e da ópera”. No dia 28 de abril, o teatro foi cedido para a festa dos 199 anos da Polícia Civil de Pernambuco. Leia aqui sobre o caso. Mesmo com o levante da sociedade civil, no dia 6 de maio, o teatro voltou a ser cedido, desta vez para o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), para que a nova reitoria tomasse posse.

Comemoração morna – A Prefeitura do Recife defende que a programação de aniversário é especial, embora pareça-nos uma pauta corriqueira; de qualidade, é bom ressaltar, mas sem nenhum tratamento específico para a data.

As visitas guiadas ocorrem em três dias. A primeira, nesta terça (17), a partir das 14h, para alunos de escolas públicas e privadas, já pré-agendadas, como parte do Projeto de Educação Patrimonial. A Ópera Studio da UFPE fará uma apresentação ao final do passeio. Sábado (21) e domingo (22), as visitas são abertas ao público, sem pré-agendamento, em três horários: 14h, 15 e 16h, tem duração de 50 minutos e limite de 25 pessoas, por grupo.

Espetáculo Tres Mulheres e um Bordado de Sol. Foto: Rogério Alves / Sobrado423

Espetáculo Três Mulheres e um Bordado de Sol. Foto: Rogério Alves / Sobrado 423

Também está reservada para sábado a apresentação do espetáculo Três mulheres e um bordado de Sol, da Compassos Cia. de Dança, que intercala vida e obra da escritora pernambucana nascida na Ucrânia Clarice Lispector, da cantora francesa Edith Piaf e da artista mexicana Frida Kahlo. A direção é do bailarino e coreógrafo Raimundo Branco, com a dramaturgia em conjunto com a artista Silvia Góes, do Coletivo Lugar Comum. O trabalho explora o eco no corpo dos bailarinos dessas vivências literárias, musicais e visuais.

As sessões serão em dois horários: 18h e 20h30, com lotação para 65 lugares. Os ingressos estarão disponíveis gratuitamente na bilheteria do Santa Isabel, uma hora antes de cada apresentação, limitado a 1 (uma) entrada por pessoa.

O encerramento das celebrações ocorre domingo (22), às 18h, com um concerto da Banda Sinfônica da Cidade do Recife, sob o comando do maestro Nenéu LIberalquino. A retirada dos ingressos gratuitos pode ser feita a partir das 17h, sendo liberados dois ingressos por pessoa.

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Os exilados de Newton Moreno

Escritor, dramaturgo e diretor Newton Moreno. Foto: Divulgação

Escritor, dramaturgo e diretor pernambucano Newton Moreno. Foto: Divulgação

O vozeirão da cantora transformista Elza Show reverbera contra as posições retrógradas de machistas disfarçados de deputados/pastores que exercem ação nefasta contra um rebanho sem discernimento. Em 2007, Elza sustentava, após a estreia do espetáculo Ópera, do Coletivo Angu de Teatro, que “O mundo é gay! ”. É verdade. O mundo é gay; é feminino e feminista, é negro e índio; é plural apesar do avanço dos podres poderes. É um pouco disso que registra a publicação Ópera e outros contos (114 páginas, R$ 30), do dramaturgo pernambucano radicado em São Paulo, Newton Moreno. A sessão de autógrafos ocorre nesta segunda-feira (16), às 18h, na Livraria Cultura do Paço Alfândega, com leitura dramatizada do Coletivo Angu para alguns textos.

Composta por 25 contos, a obra pinta cenários e personagens recifenses que não correspondem aos padrões do centro normativo. Essas figuras estão enroladas em aventuras afetivas e tragédias cotidianas. O escritor escala amores desmedidos, rasgados, exagerados, entre eles os que deram origem ao espetáculo Ópera, do Coletivo Angu e O Livro, que inspirou o espetáculo homônimo, com o ator Eduardo Moscovis.

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

Tatto Medinni, Andrea Closet e Fábio Caio

A homossexualidade aparece nos contos Ópera, Surpresa, O primeiro casal, Virgem, João e Rosalinda, A despedida, O troféu e Tu nunca saberás o que é o amor.

Essa ‘margem da sociedade’ também é apresentada pelos contornos racial e econômico. Moreno dá visibilidade aos ‘exilados’, figuras que entram nas estatísticas como minoritárias; uma aquarela humana tomada pela diversidade. O autor instaura a poesia em personagens “esquisitos”, que quebram a hegemonia, que se reafirmam na sua estranheza, que mostram a força das bordas.

Entre as histórias estão a relação entre um cantor de ópera e um michê (que cede título ao livro); os dessabores da moça que perdeu a dentadura no primeiro dia do Carnaval no conto A Gaitada. Ou Surpresa, sobre o drama de uma tradicional família patriarcal pernambucana diante da descoberta da homossexualidade do cachorrinho doméstico.

Tem também Nega Sônia, que pegou uma doença que lhe embranquece e quer recuperar sua negritude, sua identidade; o escravo João que se liberta ao se assumir Rosalinda. Além de contos que utilizam recursos da literatura fantástica, do encantamento, como Ressurreição, A espera e Sem sangue.

O escritor Marcelino Freire assina o prefácio. O projeto tem incentivo do Funcultura, com produção de Daniela Varjal.

Newton Moreno coleciona prêmios, como o Shell e o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Com Guel Arraes e Claudio Paiva, ele escreveu a série Amorteamo (Rede Globo), que investe na trama de um Recife mal-assombrado e com histórias de amor entre vivos e mortos.

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