Arquivo mensais:outubro 2015

O malandro nosso de cada dia

 

Elenco praticamente todo masculino propõe um distanciamento brechtiano. Foto: Leo Aversa/Divulgação.

Elenco praticamente todo masculino propõe um distanciamento brechtiano. Fotos: Leo Aversa/Divulgação.

Desde Muito pelo contrário, montado no Recife em 1981, que João Falcão faz experimentos musicais com acento bem brasileiro. Em Ópera do Malandro, clássico musical de Chico Buarque, que faz duas sessões no Teatro Guararapes, sábado às 17h e às 21h, o encenador conservou praticamente todas as músicas do espetáculo original, de 1978, e adicionou composições do disco Malandro e do filme homônimo, dirigido por Ruy Guerra em 1985.

Além disso, João Falcão fez pequenas intervenções no texto original, invertendo e excluindo cenas, valorizando personagens secundários, como Barrabás, funcionário do malandro que “vira a casaca”.

Na montagem, todos os personagens são interpretados por atores, com exceção de Larissa Luz, que assume o papel de João Alegre, o narrador, nome que remete a John Gay. Depois da experiência bem-sucedida de Gonzagão – A Lenda, Falcão queria conservar a trupe de atores – oito homens e apenas uma atriz – nesse mergulho.

O mundo do crime e do contrabando é explorado na peça, que se passa no Rio de Janeiro, mais especificamente na Lapa de 1940, durante a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e no apogeu da 2ª Guerra Mundial. Um ambiente apinhado de bordéis, agiotas, cafetões, contrabandistas e policias corruptos. Até que ponto o poder, com suas armas de chantagem e persuasão, pode atingir as pessoas idôneas? Boa pergunta.

No papel de Geni

Eduardo Landim no papel de Geni

O casal Fernandes de Duran (Ricca Barros) e Vitória Régia (Adrén Alves) são os proprietários de um bordel da Lapa carioca, frequentado por “bandidos da lei” e foras da lei. Teresinha, a filha de Duran e Vitória cresceu no exterior, longe da bandidagem. Esses cuidados dos pais não foram suficientes para impedir que a garota se casasse com o malandro Max Overseas, sob as bênçãos do inspetor Chaves, o Tigrão (Alfredo del Penho). E talento para a contravenção parece que está no sangue da família e a mocinha se revela na chefia desse submundo.

O texto de Chico Buarque é inspirado A Ópera dos Três Vinténs (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill; que por sua vez se baseou na A Ópera do Mendigo (1728), de John Gay.

Segundo o diretor, “Brecht e Chico falam da ambição movida pelo dinheiro, que se transforma em um meio de opressão e provoca a mercantilização dos corpos e a manipulação do povo”. No segundo ato da peça, Falcão reforça a atualidade da obra de Chico, com as manifestações, protestos e até uma bandeira do Ocupe Estelita, agitada pelo ator pernambucano Thomas Aquino.

João Falcão é um descobridor/ impulsionador de talentos e na sua lista estão nomes como Wagner Moura, Vladimir Brichta, Lázaro Ramos, Laila Garin, entre outros. Fabio Enriquez foi revelado em Clandestinos, projeto de João com jovens atores que rendeu peça e série na TV Globo. Ele interpreta Teresinha. Já Moyseis Marques, que defende o papel de Max Overseas, o malandro do título, é um experiente sambista e cantor de shows nos bares da Lapa. Falcão assistiu a um show dele e o convidou para um teste. Esbanja carisma e gingado.

Malandro e Teresinha

Moyseis Marques defende o papel de Max Overseas e Fabio Enriquez interpreta Teresinha

Integrantes do elenco de Gonzagão – a lenda, Adren Alves, Alfredo Del Penho, Eduardo Rios, Fabio Enriquez, Larissa Luz, Renato Luciano e Ricca Barros estão novamente em cena, ao lado de atores selecionados em uma concorrida audição: Bruce de Araújo, Rafael Cavalcanti, Thomas Aquino e Eduardo Landim, que interpreta uma Geni muito aplaudida.

A direção musical e os arranjos de Beto Lemos garantem ótimos momentos em interpretações de canções como FolhetimTeresinha e Geni e o Zepelim, O Meu Amor, Pedaço de Mim, Sentimental, Hino da Repressão e Uma Canção Desnaturada.

A produtora de Gonzagão – a lenda e diretora da Sarau Agência Andrea Alves é a Idealizadora do projeto. Completam o quadro a figurinista Kika Lopes, o iluminador Cesar de Ramires, coreógrafo Rodrigo Marques e a cenógrafa Aurora dos Campos.

A primeira versão de Ópera do Malandro, que estreou em junho de 1978 no Teatro Ginástico, recebeu direção de Luís Antonio Martinez Correa e contou no elenco com Ary Fontoura (Duran), Claudia Jimenez (Mimi Bibelô), Elba Ramalho (Lucia), Emiliano Queiroz (Geni), Maria Alice Vergueiro (Vitória), Marieta Severo (Teresinha). A direção musical ficou a cargo do maestro John Neshling, que também assinou os arranjos. A cenografia e os figurinos eram de Maurício Sette e a iluminação de Jorginho de Carvalho. Uma turma da pesada. As últimas montagens foram assinadas por Gabriel Villela (em 2000) e pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho (2003).

FICHA TÉCNICA
Adaptação e Direção: João Falcão
Direção Musical: Beto Lemos
Direção de Produção e Idealização: Andréa Alves
Elenco: Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Bruce de Araújo, Davi Guilhermme, Eduardo Landim, Eduardo Rios, Fábio Enriquez, Guilherme Borges, Larissa Luz,  Rafael Cavalcanti, Renato Luciano, Ricca Barros e Thomás Aquino.
Apresentando: Moyseis Marques
Músicos: Beto Lemos (violão, rabeca, bandolim, viola e guitarra), Daniel Silva (violoncelo e baixo elétrico), Rick de la Torre (bateria e percussão), Roberto Kauffmann (teclado e acordeon), Frederico Cavaliere (clarineta) e Dudu Oliveira (flauta, sax e bandolim).
Cenografia: Aurora dos Campos
Figurinos: Kika Lopes
Iluminação: Cesar de Ramires
Coreografia: Rodrigo Marques
Projeto de Som: Fernando Fortes
Visagismo: Uirandê de Holanda
Assistente de Direção: Clayton Marques
Preparação Vocal: Maria Teresa Madeira
Programação Visual: Gabriela Rocha
Produção Local: Art Rec Produções

SERVIÇO
Ópera do Malandro
Quando: Dia 24 de outubro, às 17h e às 21h
Onde: Teatro Guararapes: Centro de Convenções de Pernambuco
Informações: (81) 3182.8020
Ingressos:
Plateia: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia)
Balcão: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia)
À venda na bilheteria do teatro, lojas Reserva dos shoppings Recife e Plaza, Livraria Jaqueira ewww.ingressorapido.com.br.
Classificação: 14 anos
Duração: 180 minutos (já com intervalo de 15 minutos)

 

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Oficina gratuita com a Cia. Físico de Teatro

Atores do espetáculo Savana glacial ministram curso gratuito

Atores do espetáculo Savana glacial ministram curso

Savana Glacial foi apontado como um dos melhores espetáculos teatrais de 2010. Ganhou o Prêmio Shell carioca de Melhor Dramaturgo daquele ano, para o texto de Jô Bilac. A montagem, da Cia. Físico de Teatro, faz três apresentações no Recife, de quinta-feira a sábado, às 20h, na Caixa Cultural Recife.

Renato Livera e Camila Gama, atores da peça, aproveitam a temporada para ministrar uma oficina gratuita nos dias 22 e 23 das 14h30 às 18h30 na Caixa Cultural. As inscrições  estão abertas para atores e também para o público em geral, com alguma experiência artística.

Podem participar jovens e adultos de ambos os sexos, a partir de 16 anos. Os dois encontros terão práticas de exercícios empregados nos processos de criação da companhia, trabalhando diferentes potências corporais, tais como: equilíbrio, tensão, relaxamento e explosão, que serão aplicadas em vários estágios. Na segunda etapa, a fisicalidade será utilizada para a criação e composição cênica.

Interessados entrar em contato pelo e-mail gentearteirape@gmail. com. Informações pelo telefone (81) 3425-1902.

 

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Espaço em obras da Fundaj abriga espetáculo

Atores que fizeram o curso Roteiro para construir EUdifícios, ministrado pela Fundação Joaquim Nabuco, dentro do projeto Arte, Reforma e Revolução, apresentam somente hoje, em duas sessões, às 18h30 e 20h30, uma montagem com o mesmo título do curso. São 20 atores em cena – Adilson de Carvalho, Alexandre Sampaio, Ana Cláudia Wanguestel, Anaterra Veloso, Brunna Raphaela, Edivane Bactista, Gera Monteiro, Gil Paz, Greyce Braga, Hermínia Mendes, Iara Campos, Igor Lopes, Jonata Sena, Jorge Féo, Juliana Montenegro, Júnior Foster, Lu Jordani, Mônica Maria, Natali Assunção e Paulo Lima. De acordo com o diretor e dramaturgo Luiz Felipe Botelho, coordenador do curso, a montagem traz criações de personagens associados à ideia de reforma e revolução.

A peça será apresentada, inclusive, no espaço da reforma do edifício Ulisses Pernambucano (Fundaj do Derby). A disponibilidade do local é de apenas 40 lugares. Por medida de segurança, a produção solicita que o público use sapatos fechados.

Já na próxima segunda-feira (5), o público em geral está convidado para debater a montagem do sábado; os participantes vão trazer para a discussão elementos do próprio curso.

Na segunda feira (05/10 – 15h, no Memorial de Medicina, Derby) acontecerá o debate sobre o curso, abordando as técnicas utilizadas e os resultados apresentados no sábado. O debate será no Memorial de Medicina da UFPE, no Derby, ao lado da Fundaj.

Serviço:
Roteiro para construir EUdifícios
Quando: hoje (3), às 18h30 e 20h30
Onde: Fundaj (Derby)
Quanto: Entrada gratuita. A bilheteria será aberta com uma hora de antecedência.

Roteiro para construir EUdifícios

Roteiro para construir EUdifícios

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Tchekov no palco da Fiandeiros

Manuel Carlos atua no solo O Canto do Cisne, com direção de João Denys. Fotos: Carla Sellan.

Manuel Carlos atua no solo O Canto do Cisne, com direção de João Denys. Fotos: Carla Sellan.

Prazer e dor de estar no palco. Mágoas e alegrias de interpretar muitos papeis. Nostalgia e euforia de uma carreira teatral.  O Canto do Cisne, de Anton Tchekhov (1860-1904), expõe a história de Vassíli Vassílitch Svetlovíd num balanço de seus 78 anos de vida, dos quais 55 dedicados ao ofício de ator. É no teatro que encontra sentido para permanecer vivo. Essa peça do autor russo é uma ode a arte efêmera do teatro e carrega os elementos da poética tchekhoviana:  aprofundamento psicológico da personagem, marcação do sentido de brevidade, a economia dos procedimentos, dilatação do tempo, despojamento de linguagem, ironia e humor.

Na segunda semana da série de performances teatrais do projeto Dramaturgia Clássica, da Cia Fiandeiros de Teatro, o ator Manuel Carlos apresenta solo inspirado em O Canto do Cisne, com direção é de João Denys.  A apresentação ocorre neste sábado e domingo (4), às 19h, no Espaço Cultural Fiandeiros. A entrada é gratuita. E o projeto tem incentivo do Funcultura.

O velho ator Vassíli Vassílitch Svetlovíd, esquecido no camarim e com o teatro fechado, passa a refletir sobre a vida, profissão, a morte e o vazio da existência que a velhice ressalta. Denys adianta que “Manuel Carlos, enquanto ator, é posto em xeque. Ele se enfrenta em cena e não fica claro se ali ele é o personagem ou o ator”. O próprio diretor participa da performance como o ‘maestro ponto’.

O protagonista expõe coração, vísceras, nervos, alma ao reviver grandes personagens da dramaturgia universal revelar suas aspirações e seus desencantos.

O projeto estreou semana passada com três sessões lotadas de “Antígona” (atuação de Daniela Travassos e direção de Luís Reis e Durval Cristovão). Na próxima semana, dias 10 e 11 de outubro, André Filho assume performance de A Tempestade, de William Shakespeare, com direção de Marianne Consentino.

Dani Travassos em Antígona

Daniela Travassos no poema cênico Um Antígona para Lúcia

Duas palavras sobre Antígona

Antígona, de Sófocles, foi desconstruída na primeira performance do projeto Dramaturgia Clássica, semana passada. Supressão de texto, de falas da protagonista, subversão da ordem dos diálogos e da sequência temporal. Sozinha no palco, trajando um elegante figurino escuro (de Manuel Carlos), Daniela Travassos interpretou os principais papeis.

Um gestual mínimo, uma pesquisa sobre o gesto da tragédia clássica, pontuava cada uma das falas de Ismene, Guarda, Tirésias, Eurídice, Hêmon, Creonte, Mensageiro. Ao embaralhar as falas monologantes, a dupla de diretores Luís Reis e Durval Cristovão ressignificou conceitos de autoridade, poder, perdas trágicas e o posicionamento ético de Antígona para a pulsação dos nossos tempos.

Outras falas, as vozes do coro foram assumidas em off por André Filho e Manuel Carlos, os dois outros pilares da Companhia Fiandeiros. A música de cena era tocada por Sandro Júnior.

Uma Antígona para Lúcia celebra uma atriz pernambucana, Lúcia Neuenschwander, que morreu no ano passado. Ela atuou como Antígona numa produção do Teatro Popular do Nordeste – TPN, nos anos 1960. Daniela Travassos falou de um encontro que teve com Lúcia e de um ensinamento da veterana atriz. Ficou emocionada ao lembrar. Jogou para o público aquela energia de cumplicidade. Quem ama o teatro sabe dos sacrifícios. Parecia o subtexto.

Uma interpretação entusiasmada e uma recepção calorosa do público, que lotou as três sessões do espaço. Um haicai cênico delicado essa Uma Antígona para Lúcia. Já sabemos que Luís Reis gosta de subversões e metateatro. Muito bem-vinda a entrada de Durval Cristovão. No mais, foram duas noites naqueles redutos de quem fala a mesma língua e ama essa arte fugidia.

Ficha Técnica de O Canto do Cisne
Autor: Anton Tchekhov
Tradução e Adaptação do Texto: André Filho e João Denys
Direção e Mise-en-scène: João Denys
Atuação: Manuel Carlos
Cenário, Maquiagem e Sonoplastia: João Denys
Cenotecnia: Ernandes Ferreira
Operação de Sonoplastia: Renata Teles
Figurino: Manuel Carlos
Confecção de Figurino: Irani Galdino e Manuel Carlos
Adereços e Boneco: Manuel Carlos
Iluminação (criação e operação): João Guilherme de Paula

Ficha Técnica do Projeto
Concepção e Coordenação Geral: Daniela Travassos
Produção Executiva: Renata Teles e Jefferson Figueirêdo
Realização: Companhia Fiandeiros de Teatro / Espaço Fiandeiros
Incentivo: Funcultura

Serviço:
O Canto do Cisne
Quando: Dias 3 e 4 de outubro, às 19h
Onde: Espaço Cultural Fiandeiros (Rua da Matriz, 46, 1º andar, Boa Vista, Recife)
Informações: (81) 4141-2431
Entrada franca
Capacidade: 60 lugares

O Canto do Cisne

O Canto do Cisne

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Segundo Bazar para Copi

Angu promove segundo encontro para levantar O Homossexual ou a dificuldade de expressar-se

Angu de Teatro promove segundo encontro para levantar O Homossexual ou a dificuldade de expressar-se

A batalha para arrecadar fundos para a encenação O Homossexual ou a dificuldade de expressar-se continua neste sábado. A peça do dramaturgo, performer e artista gráfico franco-argentino Raul Damonte Botana, mais conhecido como Copi (1939-1987) é um dos projetos do Coletivo Angu de Teatro. A primeira edição do Bazar Copi Pop da Madame Garbo ocorreu em junho, na Casa da Encruzilhada, e neste sábado é realizada a segunda edição, das 11 às 20h.

Desta vez as atrações são um pocket show com cantor Gonzaga Leal e participação de Ceronha Pontes. Os DJs Cláude Marmottáge e Marcondes Lima assinam a playlist musical durante o evento. E o bazar disponibiliza novas peças de roupas, sapatos, acessórios, CDs, DVDs.

Serviço
Bazar Copi Pop da Madame Garbo
Quando: Sábado(03/10) das 11h às 20h
Onde: Casa da Encruzilhada (Rua Dr. José de Sá Carneiro, 60, Encruzilhada. Rua da concessionária Renaut Regence)
Entrada gratuita
Informações: 99735.4241

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