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Igual a carinho de “vó”

Interior, emocionante espetáculo do grupo Bagaceira de Teatro. Fotos:  Carol Veras

Interior, emocionante espetáculo do grupo Bagaceira de Teatro. Fotos: Carol Veras

X Festival de Teatro de Fortaleza

Cartola, para mim, sempre teve gosto de carinho de “vó”. Para quem não sabe, cartola é uma sobremesa feita com banana, manteiga, queijo do sertão (chamado também de queijo manteiga), açúcar cristal e canela. É Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco (Lei 13.751, de abril de 2009). Pesquisadores atestam que a iguaria é originária das casas-grandes dos engenhos e que sua receita é fruto da “mistura de ingredientes, técnicas e hábitos culturais dos colonizadores portugueses, dos indígenas e dos escravos africanos”. O gosto da cartola e a sensação de conforto invadiram mente e corpo durante a apresentação do espetáculo Interior, do grupo Bagaceira. A ligação foi imediata quando o elenco distribuiu pequenos pedaços de bolo para a plateia.

O mais recente trabalho do bando cearense tem tudo a ver a com as melhores lembranças do convívio com avós, essas criaturas sempre amorosas. E eles usam chaves delicadas para incluir o público nessa empreitada.

A exibição de Interior, dentro da programação do X Festival de Teatro de Fortaleza, ocorreu no Sesc Senac Iracema, ontem. Hoje tem outra sessão no mesmo local, às 20h. O espaço de pé direito altíssimo se presta à mudança na configuração da plateia – a exemplo do que ocorria com o Teatro Armazém (ai que saudade desse espaço, Paula de Renor) ou como funciona o Teatro Hermilo Borba Filho, ambos no Recife.

Proximidade entre atores e público, como uma conversa ao pé de ouvido

Proximidade entre atores e público, como uma conversa ao pé de ouvido

A produção do Bagaceira utiliza três arquibancadas. Duas frente a frente, com uma distância de cerca de um metro entre elas. A terceira fica um pouco mais longe, transversal com as outras duas. A proximidade do elenco com o público faz parte da proposta de encenação e do “encontro”. O cenário borra limites entre ator e espectador, assim como ocorreu em A mão na face (que lança luz sobre duas criaturas da noite, uma cantora de cabaré e um travesti, que se deparam no camarim. Uma saindo de cena e outra se preparando para estrear; em que a plateia fica bem juntinho da cena). Mas, se A mão na face é bem urbano, Interior tem traços, digamos, bem rurais. O diretor coloca a plateia ainda mais perto em Interior, criando um clima de conversa de pé do ouvido, rapsódias com ternura e canto.

Em cena duas velhinhas, já mortas, que se recusam a serem enterradas. Uma é avó, a outra é neta. Primeiro chega uma e se aboleta no centro de uma arquibancada. Distribui pedaços de bolo e passa a falar de sua vitalidade, como escapou de vários sepultamentos. Sua netinha aparece depois. A segunda chega e se instala no outro poleiro, no meio da plateia. A memória partilhada entre elas é narrada de forma delicada, engraçada, com uma pertinência na nostalgia. São conversas cheias de calor humano e as atrizes compartilham esses pertencimentos para a plateia. Os diálogos estão recheados de dialeto cotidiano de um Brasil profundo (mas aqui as referências específicas são do Ceará).

São figuras centenárias, que andam curvadas pelo peso do tempo. Carregam histórias imemoriais, que saem desfiando. Utilizam máscaras para marcar os rostos encarquilhados.

Máscaras feitas de camisetas retorcidas

Máscaras feitas de camisetas retorcidas

Em um momento da peça, uma das personagens pede à plateia para escrever o nome e a cidade onde nasceu a avó. Ela explica que é para dobrar o papel e colocar numa pequena caixa. O espetáculo corre e a caixinha também. Lá para as tantas ela recupera a caixa e vai extrair as memórias do público. Já acompanhei outros espetáculos em que a assistência era convocada a participar com suas lembranças. É sempre muito precioso.

Comunhão com as emoções do público

Comunhão com as emoções do público

A pesquisa para erguer o espetáculo levou mais de um ano, de dois que conseguiram patrocínio da Petrobras para o projeto. Nessa incursão pelas cidades de dentro do Ceará eles colheram subsídios, elementos materiais e imateriais para construção da cena. As máscaras que envelhecem os intérpretes foram criadas a partir da caracterização do reisado, dos caretas e dos tremembés de Itarema (237 km de Fortaleza). Agricultores idosos inventam as alegorias e traçam figurinos a partir de camisas, coco e borracha.

De Beberibe (83,3 Km de Fortaleza) o grupo tomou emprestado duas músicas do grupo Acasos das Dramistas. Em Tauá (344,7 Km de Fortaleza) e Icó (358,1 Km de Fortaleza), a trupe fez intercâmbio com companhias teatrais. O ator francês Maurice Durozier (do Théâtre du Soleil) indicou a direção da figura da avó e as mais afetuosas perspectivas.

As duas velhas são defendidas em atuações excelentes das atrizes Tatiana Amorim e Samya de Lavor. Rafael Martins e Rogério Mesquita trabalham no apoio e na contrarregragem, assegurando o clima.

Atores Rogério Mesquita, Tatiana Amorim, Samya de Lavor e Rafael Martins. Foto: Diego Souza.

Atores Rogério Mesquita, Tatiana Amorim, Samya de Lavor e Rafael Martins. Foto: Diego Souza.

O texto de Rafael Martins e a direção de Yuri Yamamoto caminham pelas veredas da delicadeza. A aparência do trabalho é de muita simplicidade. Mas a força emotiva revela um processo sofisticado, em que o elenco recorre a fotografias antigas e canções que envolvem a plateia.

Yuri Yamamoto constrói categorias de significados. A primeira vista estão a poesia da velhice, e o susto diante da morte. E na plataforma das centenárias senhoras, cheias de humor que insistem em não sucumbir. Em torno disso há a película do tempo, um tempo estendido e ameno.

Mas existem outras camadas que podem ser apontadas. Uma delas é bizurada pelas personagens, que já foram artistas, vem de famílias de artistas e mostram isso através de fotografias antigas. Nesse jogo cênico, também entram as questões da arte que brota em qualquer lugar e resiste longe dos incentivos oficiais.

A arte pode brotar em qualquer parte

A arte pode brotar em qualquer parte

Um espetáculo singelo, tocante, suas personagens de velhas com suas rabecas e seus bolos de banana, que carregam sacos plásticos e brincam com a ignorância com relação a tecnologia, que implicam uma com a outra e fazem divertir com tanto sentimento bom.

SERVIÇO
Interior, espetáculo do Grupo Bagaceira de Teatro
Texto: Rafael Martins
Direção: Yuri Yamamoto
Elenco: Samya de Lavor, Tatiana Amorim, Rogério Mesquita e Rafael Martins

Quando: Hoje, às 20h, no SESC Senac Iracema (Rua Bóris, 90C, Praia de Iracema.
Fone: 85 3252-2215)
Quanto: Grátis
Outras informações: Facebook.com/Grupo Bagaceira de Teatro

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O que vi do FRTN – Parte I

Abertura do 15º Festival Recife do Teatro Nacional. Fotos: Victor Jucá/Divulgação e Pollyanna Diniz

A abertura

Não foi nada fácil colocar o Festival Recife do Teatro Nacional nas ruas este ano. Reconhecidamente foi um empenho pessoal de André Brasileiro, ator, diretor, produtor e também presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, de Simone Figueiredo, atriz e produtora antes de tudo, e secretária de Cultura do Recife, e da equipe envolvida na produção. As dificuldades estavam estampadas – eles assumiram os cargos já no segundo trimestre do ano; a classe estava desmotivada, com raiva até, principalmente por conta dos descasos com os pagamentos de cachês; os teatros com muitos problemas de equipamentos. Um prefeito ‘muito difícil’, para ser gentil, que não teve nem a oportunidade de disputar a reeleição.

Então diante de todo esse cenário, fazer um festival que homenageia Marcus Siqueira (1940-1981), como disse Roberto Lúcio, gerente operacional de artes cênicas da Prefeitura do Recife, no catálogo da mostra, é um ato político. “(…) um ator e diretor teatral marcante, combativo, questionador, amante e defensor do teatro de grupo e do aspecto pedagógico da arte do teatro”.

É preciso mesmo contextualizar para entender a emoção de Simone Figueiredo na abertura do festival, no palco do teatro de Santa Isabel, casa que ela já dirigiu. Para entender o porquê da importância ainda maior da celebração, da reunião, de lotar o Santa Isabel logo na abertura. De ver as pessoas rindo e chorando. Vivendo o teatro.

Gonzagão – A lenda

Talvez tudo tenha a sua hora. E foram 15 anos de espera até que o diretor e dramaturgo pernambucano João Falcão pudesse participar do Festival Recife do Teatro Nacional. Ele disse que sentia uma pontinha de inveja dos amigos que diziam que tinham participado do festival, que iam participar do festival. Como é mesmo difícil santo de casa fazer milagre! No teatro então…santo de casa geralmente precisa se benzer bem muito! E foi lindo ver um Santa Isabel lotado aplaudindo João, em suspenso depois de uma apresentação que tomou os corpos e as emoções por inteiro. (Na realidade, foram duas sessões; como o grupo ainda está em cartaz no Rio, eles voltaram ainda na madrugada para apresentar o espetáculo lá no dia seguinte).

Gonzagão – A lenda tem o espírito da celebração, da homenagem. Como bem disse Ivana Moura, não há opções pelo risco. O caminho é muito estruturado, a partir das músicas, para que mesmo que você não tenha nenhuma relação com o mito Luiz Gonzaga, seja alcançado de alguma forma. Imagina então apresentar esse espetáculo aqui! São cerca de 50 músicas que vão alinhavando a tentativa de contar a história do Rei do Baião. Mas não há uma preocupação histórica, em seguir fatos cronológicos, ou ser verdadeiramente fiel. Fica muito claro desde o início; até pela opção dramatúrgica: é uma trupe teatral quem remonta a história de Gonzagão. Em várias cenas há um jogo rápido, eletrizante; é até difícil acompanhar, respirar, compreender todo o diálogo. A fala, o gesto, a música, a troca de papeis.

Gonzagão – A lenda. Foto: Pollyanna Diniz

É um espetáculo que se constrói a partir da força do grupo; não teria o mesmo impacto se as escolhas fossem pelos talentos individuais dos atores. E nisso João Falcão é craque, em formar um elenco que se complementa, que não briga em cena, que se acrescenta. Mas tenho que dizer quão foi bom ver Eduardo Rios, do Quadro de Cena, se superando, com um timing perfeito, levando a plateia junto com as suas histórias; e também conhecer o trabalho de outro pernambucano, petrolinense, Paulo de Melo. E, em se tratando de um musical, se há que se destacar alguém é a única mulher no elenco: que voz linda e forte tem Laila Garin.

Para completar, os figurinos de Kika Lopes são lindos, bem cuidados, um quê de pop-hippie-chic; e a iluminação de Renato Machado complementa a cena – muito bem marcada, entradas, saídas, trocas de personagens, tiradas e piadinhas, tudo no momento certo.

Uma montagem que começa sem muitas pretensões e que vai aos pouquinhos ganhando forma, invadindo qualquer espaço que o espectador, solícito ou não, tenha deixado entreaberto.

### Para quem perguntou, João Falcão disse que tem muita vontade de fazer uma temporada aqui com esse espetáculo; mas não há previsão. O grupo ainda está em cartaz no Rio e próximo ano vai para São Paulo.

Absurdo

Alguns espetáculos me lembram muito a minha mãe. Preciso dizer que embora ela goste de teatro, gosta mais de televisão porque acha que consegue perceber a expressão dos atores em todos os detalhes. Odeia espetáculo ‘cabeçudo’. Fiquei pensando que teria levado a surra que não tomei quando criança se tivesse feito minha mãe ir ao teatro ver Absurdo, da Cia Atores de Laura. Imaginei ela perguntando: “Pollyanna, o que é isso? Que história mais sem pé nem cabeça é essa?”. “Satisfeita, Yolanda?”. O espírito é esse!

Absurdo, da Cia Atores de Laura, do Rio de Janeiro. Foto: Pollyanna Diniz

Os Atores de Laura apostam nas ideias do Teatro do Absurdo; uma cena que seria cotidiana, mas descolada do real, as situações non sense, os diálogos aparentemente sem sentido. Talvez seja a dramaturgia que nem sempre consegue nos fazer caminhar pelo ilógico sem perder o interesse. Em alguns momentos, é chato mesmo.

A peça traz dois casais, que podem trocar de pares; eles dividem a mesma cena mesmo antes de se conhecerem e também, depois descobrimos, o mesmo filho. O jogo de aparências, o medo contemporâneo, o consumismo, a hipocrisia estão lá. Um cara que sai de casa há 20 anos tentando encontrar a sua “verdadeira” casa, os diálogos cujos textos dizem uma coisa, mas representam outra completamente diferente. Sob direção de Daniel Herz estão Ana Paula Secco, Anderson Mello, Luiz André Alvim, Marcio Fonseca e Verônica Reis. Todos muito bem em cena – não há desníveis ou queda nas atuações.

O cenário é a sala de uma casa e, mais especificamente, como elemento (des)agregador, a mesa; onde pode acontecer um velório, um jantar sem comunicação, o esconderijo eterno do filho. Para mostrar mesmo que ninguém é normal; que a fotografia pode até dar indícios, mas o teatro consegue ser muito mais efetivo na crítica do cotidiano.

A mão na face, do grupo Bagaceira, estreou no FRTN. Foto: Pollyanna Diniz

A mão na face

O cenário da nova montagem do Grupo Bagaceira, do Ceará, é o camarim de uma boate. A cantora decadente acaba de sair do palco e agora quem se prepara para entrar é um travesti. Enquanto estão ali conversam sobre a vida. O texto de Rafael Martins nos dá vários socos no estômago ao longo da encenação; mas é na oscilação entre a comédia e o drama que está a chave para a montagem. Démick Lopes (Gina) e Marta Aurélia (Mara) conseguem segurar muito bem esse jogo. Podem sair de um embate de palavras dolorido, cheio de significados, para sonoras gargalhadas.

É um texto sensível; que traz as incompletudes, as frustrações, a falta de amor, mas também a amizade, o carinho. No meio desses dois personagens está um homem que já morreu e que, ao que parece, era dividido pela cantora e pelo travesti. E com o tempo passando, até disso eles conseguem rir ou chorar.

A direção é de Yuri Yamamoto. A construção do cenário é muito interessante. Traz o espectador pra bem pertinho; como voyer de uma relação que pode ter muitas reviravoltas; mas onde as coisas não necessariamente esão explícitas. Há paredes, mesmo que imaginárias. São os espelhos que tentam revelar, mas só mostram os personagens já montados, o batom vermelho, a luz caindo aos poucos, a fumaça do cigarro no ar.

Demick Lopes faz um travesti e Marta Aurélia uma cantora

### No dia em que vi o espetáculo, a atriz Ceronha Pontes estava na plateia. O espetáculo, inclusive, foi dedicado a ela, que também é cearense. Talvez a presença de Ceronha tenha despertado em mim algo que é por demais óbvio. Como esse trabalho é próximo do coletivo Angu de Teatro! A temática, o tratamento, a estética. Impossível não pensar que aqueles personagens cairíam como luvas em Ceronha Pontes, Márcia Cruz, Arilson Lopes, Vavá Schön-Paulino. Deu ainda mais vontade de ver o projeto Abuso, que surgiu a partir do intercâmbio que as duas companhias fizeram através do edital do Itaú Cultural, ser levado aos palcos.

Matilde, la cambiadora de cuerpos

Não vou mentir que a primeira coisa que me veio à mente quando a história de Matilde, la cambiadora de cuerpos se estabeleceu no palco foi o blockbuster brasileiro E se eu fosse você?. É meio assim mesmo. Uma bandida paraguaia tem o poder de trocar de corpo com quem ela quiser. É só beijar a pessoa. E não é que o delegado resolve apostar na história louca que o homem com corpo de mulher sentado à sua frente conta? Daí para a história invadir as televisões, jornais e programas de rádio sensacionalistas é um pulo.

As atrizes Elaine Cardim e Tatiana de Lima se revezam nos papeis; é através do gestual que incorporam os personagens, além de contar com a ajuda, por exemplo, de sapatos dispostos na lateral do cenário. É na opção dramatúrgica por transformar a história numa crítica à imprensa que para mim está o erro da montagem. Pode até dar agilidade, permitir a utilização do vídeo, tornar a história mais engraçada. Mas cai nas armadilhas reducionistas, na opção pelos caminhos menos tortuosos, por um enredo que não nos surpreende. Apesar do talento das atrizes, que arrancam gargalhadas do público.

Matilde, la cambiadora de cuerpos. Foto: Victor Jucá/Divulgação

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No outro lado do espelho

Uma colaboração de Paulo Carvalho…
A matéria saiu hoje, no Diario de Pernambuco.

“O teatro é um templo, uma alma. Tudo – histórias, personagens, ações boas e ruins – está inscrito nas paredes. É por isso que nós atores somos muito supersticiosos. Há forças que temos que, se não dominar, aprender a viver com elas”. Esses ensinamentos são do ator, encenador e professor do tradicional grupo parisiense Théâtre du Soleil, Maurice Durozier, e atualizam temas de sua mais recente passagem pelo Recife com a promoção da oficina O teatro é o outro (já em andamento e exclusivo para atores) e dos espetáculos-conferências Palavra do ator, nos próximos dias 24, às 20h, no teatro Marco Camarotti; e 30, às 21h, no Teatro Hermilo Borba Filho, abertos ao público e com entrada gratuita. Promovida pelo Sesc e Prefeitura do Recife, a vinda de Maurice é ladeada pela atriz e assistente Aline Borsari, uma da três brasileiras a integrar o grupo de 80 atores do Soleil em Paris.

O link com a cidade aconteceu através do cearense Grupo Bagaceira de Teatro e do nosso Coletivo Angu (mais especificamente através de um convite feito na sede do teatro francês pelo ator André Brasileiro). Neste momento, todo o grupo está em turnê, no Brasil, onde apresentam o espetáculo Os náufragos da louca esperança, a partir do dia 5 de outubro em São Paulo – com passagem prevista ainda pelo Rio de Janeiro e Porto Alegre. “Chegamos duas semanas antes desta estreia para realizar o curso e o ciclo de espetáculos-conferências no Recife”, explica Maurice, para depois oferecer algumas interpretações para o nome do curso, O teatro é o outro. Desde o último dia 19, a oficina acolhe 50 participantes pernambucanos, sendo promovida até o próximo dia 30 de setembro num total de 50 horas de convivência artística, nos teatros Hermilo e Marco Camarotti.

“São várias as interpretações para este nome. O Théâtre du Soleil trabalha muito com criações coletivas e tudo esta relacionado com o outro. Nesse sentido, a participação individual no processo de criação é uma coisa mínima em relação ao que você pode receber do outro, em relação ao estímulo de imaginação que o outro pode provocar em cena. Esse é um dos aspectos deste tema: nessa oficina trabalhamos juntos e tento transmitir o nosso método de trabalho. Outra face desse tema é a relação do ator com o seu personagem. O personagem é um outro, não é o ator. É outra personalidade que toma lugar no interior do ator e todo trabalho é chegar a essa despossessão que chamamos também de o dom de encarnação”.

Sobre a primeira conferência, a ser realizada no próximo sábado, Maurice acrescenta: “A minha família fazia teatro já há quatro gerações e então caí neste mundo quando era bebê. Não gostava de estar no palco: gritava, chorava, contaram-me depois. Fui criado por meus avós, que eram atores e, em casa, não havia separação entre as coisas da vida e do teatro. Depois, quando voltei a fazer teatro, com 16-17 anos, entrar no palco era como estar na minha casa. Mais tarde, entrei neste grupo. Nele fazemos peças muito longas. Portanto, são horas e horas nesse outro mundo, no outro lado do espelho. Nesse mundo, vivo tudo que tenho que viver como ator, mas, saindo do palco, sensações, reflexão, pensamentos, crônicas, sempre chegavam e pensei que agora era o momento para falar disso: da vida do ator, a partir do interior, do que está acontecendo dentro dele”.

Ator conversou ontem com o repórter Paulo Carvalho

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O primeiro amor

Montagem participou do Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco

A trilha sonora e as imagens do espetáculo Tá Namorando! Tá Namorando! não saem da minha cabeça. A montagem do Grupo Bagaceira de Teatro, do Ceará, foi apresentada no Teatro Luiz Mendonça, do Parque Dona Lindu, dentro da programação do 8º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco.

É impressionante como o grupo consegue traduzir os primeiros raios do desejo, a experiência inaugural do primeiro amor na infância. O medo, o receio da rejeição, aqueles gestos desengonçados, a pressão dos colegas, a inabilidade, a falta de domínio dos códigos amorosos. Isso é contado em quatro pequenas histórias de descobertas. Em seu trabalho de pesquisa experimental, a trupe explora de forma lúdica as diferenças do universo infantil de meninos e de meninas e as suas relações.

Montagem é do Grupo Bagaceira

O Grupo Bagaceira de Teatro produz praticamente um espetáculo por ano. São peças autorais com investimento na questão visual. Em Tá Namorando! Tá Namorando! , a trupe substitui o texto por gestos e onomatopeias, numa encenação imagética e divertida. E reflete sobre as pequenas tensões nas diferenças entre sexos na infância e as negociações de seus espaços.

O roteiro é de Yuri Yamamoto, que também interpreta os quatro garotos das histórias. Sua figura magra ajuda na visualização de um personagem de desenho. Samya de Lavor faz seu par romântico e traz a fortuna corporal de quem estudou dança. Para completar o elenco, Tatiana Amorim, que interpreta uma contrarregra que mostra uma dança tosca e engraçada imitando cenas de filmes, enquanto a dupla troca de roupa, além de outras pequenas intervenções.

O grupo também utiliza gravações de áudio feitas com crianças, que contam como foram seus primeiros namoricos. A iluminação competente cuida de expor e esconder pequenos segredos.

Peça fragmentada é composta por quatro histórias.

Elenco é formado por Yuri Yamamoto, Samya de Lavor e Tatiana Amorim

Espetáculo lúdico fala sobre o primeiro amor

O roteiro de ações para imitar desenhos animados ou stop emotion exploram expressões corporais repetitivas, mas numa velocidade muito mais lenta do que a possiblidade de aceleração do desenho e isso me pareceu uma crítica que eles fazem à limitação humana diante de outras artes que utilizam a tecnologia, como os animados. Cada um dos quadros da peça possui uma dinâmica corporal diferente. O jogo entre os atores também estabelece uma cumplicidade com a plateia.

Os figurinos também remetem para um futuro retrô. Quero dizer, a projeção de um futuro a partir de outro ponto do passado, o que torna a ficcionalização de um tempo que se amolda em projeções subjetivas do próprio espectador. Os óculos bizarros são marcantes.

Penso que a encenação de Tá Namorando! Tá Namorando! ganha outros sentidos pela dinâmica que pode estabelecer e pela proximidade com a plateia, num palco menor do que o do Teatro Luiz Mendonça. Talvez na próxima temporada no Recife, o grupo possa negociar um palco menor para contar essas histórias que só ganham com a cumplicidade do público.

Grupo Bagaceira é um grupo de teatro que experimenta linguagens

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Que tal uma visitinha a São José do Rio Preto?

O Festival de São José do Rio Preto, em São Paulo, está encerrando a montagem da sua grade de programação. Os espetáculos adultos nacionais, os locais e os infantis, que vão se apresentar entre os dias 6 e 16 e julho, já foram divulgados. Agora só faltam os espetáculos de rua e os internacionais. A curadoria da mostra é formada por nomes como Marici Salomão (Coordenador do Curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro e do Núcleo de Dramaturgia Sesi-British) e José Fernando Peixoto dramaturgo e diretor da Cia. Teatro de Narradores e pesquisador do Departamento de Filosofia da USP).

Entre as montagens nacionais, já vimos por aqui, por exemplo, o espetáculo Savana glacial, da Cia. Físico de Teatro, do Rio de Janeiro, um texto de Jô Bilac. Mas ainda tem Hospital da gente, do grupo Clariô de Teatro (SP); Manter em Local Seco e Arejado, da [pH2] Estado de Teatro (SP); Banal, da Diga Sim Produções (RJ); Oxigênio, da Cia. Brasileira de Teatro (PR); Meire Love, do Grupo Bagaceira de Teatro (CE); Triptico, do Club Noir (SP); A Dócil, do Grupo Folias (SP); e Navalha na carne, da Bateia Cultura Produção Artística (RJ).

Foto: Val Lima/ Montagem carioca participará do FIT

Na seleção dos infantis, tem, por exemplo, a Cia. de Teatro Artesanal, do Rio de Janeiro, com O homem que amava as caixas; e A revolução dos bichos, da Cia. Fractal de Teatro (SP).

Navegando por aqui vi que o FIT (Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto) já está na sua 11ª edição, mas, até fevereiro, das 385 inscrições de grupos de 14 estados brasileiros para participar do festival, apenas uma tinha sido de Pernambuco. O Estado de São Paulo teve o maior número de inscrições – 198 – seguido por Rio de Janeiro (51) e Paraná (20). Também se inscreveram 47 montagens internacionais, da Espanha, França, Portugal, Itália, Argentina, México, Peru, Venezuela, Equador e Bélgica.

Vamos ficar ligadas por aqui..assim que sair a grade completa, postamos! E aí?! Alguém pretende visitar São José do Rio Preto no mês de julho?!

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