Arquivo mensais:maio 2011

Palco em capítulos

As atrizes Fabiana Pirro e Lívia Falcão

Foi quase um mês de programação teatral. O Palco Giratório deste ano no Recife lotou teatros e articulou conversas entre criadores e o público. Promoveu oficinas. Ganhou reforço da Cena Bacante (no Espaço Muda) e da Cena Gastrô (em vários restaurantes). E encerrou sábado com o Over 12, no Sesc de Casa Amarela, com 12 horas de programações artísticas (teatro, artes plásticas, cinema, lançamento de livro e mais). Vamos começar a postar sobre alguns espetáculos que ainda não comentamos. Aos pouquinhos, como que em pequenos capítulos.

Caetana

A montagem Caetana, do grupo Duas Companhias, abriu o programa no Teatro Luis Mendonça (no Parque Dona Lindu), no dia 6 de maio. Lotado. A peça já percorreu uma longa estrada de sete anos e esse tempo de experiência e convivência entre as atrizes Lívia Falcão e Fabiana Pirro azeitou a peça.

A Caetana do título vai buscar inspiração armorialista, da figura utilizada pelo dramaturgo Ariano Suassuna em suas obras e poemas, como identidade da morte. Na peça dirigida pelo espanhol Moncho Rodriguez, com texto de Rodriguez e do poeta Weydson Barros Leal, Benta (Lívia Falcão) é uma rezadeira, que ganha dinheiro encomendando as almas paraseu destino. Mas Caetana aparece para cobrar a sua parte. Para buscar Benta.

O jogo que se segue é divertido e se mostra herdeiro de uma tradição ibérica. Benta tenta engabelar a morte. Enquanto Lívia puxa para o lado mais cômico, Fabiana envereda pelo imagens sombrias dessa figura que amedronta os humanos.

Caetana tem direção de Moncho Rodriguez, com texto de Rodriguez e do poeta Weydson Barros Leal

Postado com as tags: , , , , , , , , , ,

Gritos de Artaud

Cartas de Rodez é apresentado hoje, no Teatro Barreto Júnior

Cartas de Rodez participou do Palco Giratório de 2005, com sessões lotadas no Teatro Hermilo Borba Filho.

Saí encantada como a maioria do público, mas cheguei a fazer comparações com a legendária montagem do ator Rubem Correia na década de 1980.

Na época, escrevi: “Enquanto Correia interpretava um Artaud arrebatador, delirante e mágico, o gênio incompreendido que sofria violentas agressões e reagia fisicamente, Stéphane Brodt trabalha com uma interpretação mais cerebral, que exibe repetições de gestos delirantes, tudo minuciosamente estudado para expor Artaud em momentos de crise, que vão das súplicas às revoltas de quem está encurralado”.

As duas peças estão guardadas na memória, hoje, sem comparações.

Cartas de Rodez
volta agora pelo mesmo Palco Giratório, em sessão única hoje, às 21h, no Teatro Barreto Júnior.

As cartas do título foram escritas entre 1943 a 1946 pelo poeta, dramaturgo, ator e teórico francês Antonin Artaud (1895-1948) e endereçadas ao Dr. Fediére, médico responsável pelo manicômio de Rodez.

Antonin Artaud que desde os 15 anos já manifestava seu sofrimento e se viciou, por prescrição médica, em drogas como o ópio, em 1937, no auge de seu envolvimento com o que acreditava serem forças mágicas, foi internado como louco. Passou nove anos de sua vida em manicômios, os seis últimos no Hospital Psiquiátrico de Rodez.

O doutor Ferdière reconheceu sua importância intelectual, o livrou dos maus-tratos do hospício Ville-Évard e o transferiu para Rodez, numa zona da França não atingida pela ocupação alemã na Segunda Guerra. O médico incentiva Artaud a retomar a atividade literária. Mas o poeta genial apresentava outra face para seu salvador, o de algoz.

No espetáculo, são exibidas as reivindicações de Artaud a seu médico, os momentos em que foi submetido a eletrochoques e instantes febris em que deu vazão a sua genialidade delirante.

A peça enfoca os tormentos de Artaud num monólogo interpretado pelo francês Stéphane Brodt e dirigido por Ana Teixeira. A montagem rendeu a Brodt e Ana Teixeira os prêmios Shell de Melhor Ator e Direção, em 1998 e o Prêmio Mambembe de melhor espetáculo.

Como explicou o ator Stéphane Brodt, a pesquisa do Amok está fundamentada em dois eixos: Antonin Artaud e Etiennne Decroux, de quem a trupe herdou também uma técnica específica para o trabalho do ator, a mímica corporal dramática. Arianne Mnouchkine e o Théâtre du Soleil – grupo francês onde Stephane Brodt foi integrante durante quatro anos – são outra fonte para seu método de trabalho.

Peça do Amok Teatro

Postado com as tags: , , , , ,

Cartas de Rodez substitui Kabul

O espetáculo Cartas de Rodez, do Amok Teatro, será apresentado hoje, às 21h no Teatro Barreto Júnior, em substituição à peça Kabul, do mesmo grupo.

A mudança foi motivada por problemas com o transporte do cenário de Kabul. As informações são da coordenação do Palco Giratório Recife, que garante que em breve o Amok voltará ao Recife para exibição da encenação sobre a guerra no Afeganistão.

Postado com as tags: , , , ,

Essas dívidas serão pagas?

Deve ser liberada hoje a primeira parcela da dívida de R$ 250 mil que a Fundarpe tem com o Janeiro de Grandes Espetáculos deste ano. Na semana passada, numa das matérias da série Dívida Cultural, publicada no Viver (Diario de Pernambuco) do dia 15 ao dia 19, a produtora Paula de Renor dizia que ainda não tinha recebido a quantia e comentava as dificuldades de honrar os pagamentos com os artistas que participaram do festival.

Produtora Paula de Renor, do Janeiro de Grandes Espetáculos, aguarda pagamento

Quando questionada, a assessoria de imprensa da Fundarpe enviou um e-mail à redação afirmando que R$ 100 mil já haviam sido pagos no início do ano. A informação não era correta. Na última quinta-feira, a Fundarpe admitiu que não tinha feito o pagamento e se comprometeu a quitar a primeira parcela em, no máximo, dois dias úteis; ou seja, hoje.

Outras dívidas mostradas na série, como o Prêmio de Fomento às Artes Cênicas (da esfera municipal), que teve o resultado divulgado em março de 2010, ainda não foram pagas. “Tentei entrar em contato, mas as pessoas estavam em reunião”, afirmou, na última sexta-feira, Tatto Medinni, contemplado com R$ 20 mil. De acordo com a prefeitura, o prêmio será pago até o fim do mês.

Além de apontar as dívidas financeiras que órgãos como a Secretaria de Cultura do Recife e a Fundarpe têm com artistas, festivais e produtores, a série discutiu também as políticas (ou a ausência delas) na área cultural e ouviu gestores e secretários.

Na web – Nas redes sociais (e aqui no Satisfeita, Yolanda?), muitos artistas se pronunciaram. Giordano Castro, do grupo Magiluth, comentou: “Para tudo há sempre uma resposta por parte do poder público… falta agora atitude!”.

O diretor do grupo teatral Totem, Fred Nascimento, afirmou que “o desrespeito do poder público para com a classe é muito pior (vai além das dívidas financeiras). Os grupos sabem o que é conseguir uma pauta nos teatros municipais, espaço para ensaios, então, nem se fala. Não existe democracia, muito menos transparência de critérios. Só resta o poder”.

O artista Diogo Todé lembrou que existem dívidas também no setor de artes plásticas e, neste caso, com a população, que pagou para que artistas realizassem trabalhos para o 47º Salão de Artes Plásticas de 2008, que nunca foi realizado. “O Salão de Pernambuco distribuiu bolsas de pesquisa e não houve exibição destes trabalhos. Então a primeira gestão do atual governador sequer concluiu um único salão”.

Postado com as tags: , , , , , , , , , ,

A gaiola das loucas sem os números musicais

Miguel Falabella comanda elenco

A família reunida em A gaiola das loucas

O enredo de A gaiola das loucas tinha um componente explosivo quando foi escrita por Jean Poiret e estreou em 1973, no Théâtre du Palais Serrault, em Paris. Trazia a carga crítica contra a hipocrisia. A peça fez tanto sucesso que cinco anos depois foi levada às telas numa produção franco-italiana.

Albin e Georges são casados há mais de duas décadas. Eles mantêm A gaiola das loucas – “a jóia e o orgulho de St. Tropez” – que tem como estrela Zazá, o Albin travestido no cabaré, dirigido por Georges. A gaiola das loucas é famosa pelos seus shows de transformistas.

Tudo está naquela pasmaceira que o tempo instala, quando Laurent, de 24 anos, fruto de um breve caso de Georges com uma corista do Lido de Paris, surge para comunicar que vai se casar com Anne. Isso já seria motivo para abalar as estruturas da casa. Mas o mais grave é que a moça é filha única de Édouard Dindon, presidente do PFTM, Partido da Família, Tradição e Moralidade, que prometeu – se eleito – varrer do mapa os homossexuais da Riviera. O político pai da noiva quer conhecer a família do noivo. E isso gera uma série de confusões.

Trinta e oito anos depois aporta no Recife uma montagem carioca, em sua versão para viagem. Os 16 números musicais foram limados e Diogo Vilela não veio com o elenco. Então ficamos sem Vilela e sem as canções.

Estão lá os quiprocós para fazer rir. E Falabella comanda a brincadeira. A montagem aproxima demais a peça da linguagem da TV. E tudo é fabricado, padronizado, o que não deixa ninguém esquecer das performances do humorísticos globais Sai de baixo e Toma lá da cá.

Algo mudou no mundo desde a estreia de A gaiola das loucas. As relações homoeróticas conquistaram espaço, mas ainda brigam por respeito em qualquer lugar do planeta. Sabemos que a hipocrisia e a discriminação não evaporaram. Talvez isso faça o sucesso do texto, que exalta que “qualquer maneira de amor vale a pena”.

Temporada no Recife de A gaiola das loucas

Falabella é um ator de potência, carismático e com domínio cênico impressionante. Mas não sai da zona de conforto. Repete os velhos truques que surtem efeito na plateia. Cai no clichê, na caricatura de si mesmo. Os outros atores seguem o mesmo caminho do estereótipo, dos lugares-comuns.

Mas o público adora a comédia fácil, o riso solto, as gags, os gestos previsíveis e as piadas surradas.

E enquanto Georges (Falabella) fala do preto, do gay, e aparentemente ri de si mesmo, a plateia é contagiada por essa onda de humor rasteiro. Quando o protagonista fala “viado não se reproduz, se alastra”, o público exercita sua pretensa superioridade nas poltronas nem tão confortáveis da Teatro da UFPE. São muitas frases de efeito, ditas com uma autoridade por Falabella, que chega a dar medo. Em “Lição de masculinidade”, ele dá uma aula do que seria um homem de verdade, que anda trincado, aperta a mão do outro com violência e tem pouca sensibilidade.

As tintas são bastante exageradas. E tudo é de um mau gosto de doer.

Mas ninguém pode negar que eles sabem jogar. O elenco – formado por, além de Miguel, Sandro Christopher (Albin), Jorge Maya (Jacó), Davi Guilherme (Lourenço), Carla Martelli (Anne Dieulafoi), Eliana Rocha (Xavière), Carlos Leça (Sr. Dieulafoi), Keila Bueno (Sra. Dieulafoi) e Gustavo Klein (Francis, Mercedes e Cagelles) mostra entrosamento e garante o alcance de suas tiradas com os microfones sem fio.

Sandro Christopher (Albin) e Miguel Falabella (Georges) em ação

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , ,