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Teatro que ousa nomear o inominável
Crítica: Um Depoimento Real

José Neto Barbosa. Foto: Ivana Moura

O abuso infantil, esse assunto perverso só de pensar, constitui uma ferida social que insiste em sangrar no silêncio. Essa violência encontra terreno fértil na negação coletiva, no olhar que se desvia, na palavra que não se pronuncia. É preciso reconhecer nessa barbárie a mais cruel das traições: a quebra do pacto de proteção à infância, daquilo que deveria ser inviolável na condição humana, o compromisso ético fundamental de uma geração com a seguinte. Essa violência não escolhe endereços – ela se instala tanto nos casarões quanto nos apartamentos de classe média e nas favelas, atravessa todas as geografias humanas e deixa rastros que se estendem por gerações inteiras. Diante dessa realidade, questiono-me sobre o papel que nós, como sociedade, desempenhamos nesse silenciamento.

Diante da magnitude desse silenciamento, surge a urgência de encontrar linguagens capazes de romper com a omissão coletiva. As três apresentações do espetáculo em andamento Um Depoimento Real realizadas no Recife, no formato de abertura de processo, revelam dimensões inesperadas sobre como as artes cênicas podem enfrentar temáticas tão delicadas. Tratando-se de uma abertura de processo, o trabalho está destinado a ganhar outras dimensões e aprofundamentos em suas próximas etapas de desenvolvimento.

A proposta dramatúrgica de Paola Traczuk, concretizada na direção de Monina Bonelli e na interpretação de José Neto Barbosa, configura uma aliança artística que se recusa a oferecer respostas ligeiras ou consolações fáceis. O texto original Los Titanes – título que, para mim, carrega em espanhol uma força épica e irônica muito mais impactante que sua versão em português – apresenta um menino de oito anos que parece estar numa sala à espera da psicóloga ou da mãe e conversa com seu cão Titã, elevando-o àquela categoria mágica de companheiros que a infância cria: seres que habitam a fronteira entre o real e o imaginário, depositários de nossa mais absoluta confiança, guardiões dos segredos que nem sempre conseguimos nomear. 

Na dramaturgia, o menino cita “os caras” das mitologias grega e romana – aqueles que comem os filhos, Cronos numa tradição, Saturno em outra. A encenação explora deliberadamente alguma confusão conceitual da criança, que mistura referências mitológicas com narrativas contemporâneas dos jogos, gibis, livros, séries e filmes. Traczuk utiliza essa estratégia dramatúrgica para revelar como a criança tenta dar sentido ao incompreensível através das ferramentas culturais fragmentárias que possui, criando uma linguagem híbrida e truncada para nomear o horror que não deveria existir em seu universo. O teatro aqui convoca a própria condição infantil diante do trauma: a busca desesperada por referências que ajudem a processar o improcessável.

José Neto Barbosa constrói uma atuação calcada na delicadeza. Permanecendo a maior parte do tempo sentado, o ator utiliza microfone para ecoar a intimidade de uma conversa entre criança e seu confidente animal. Do seu lado esquerdo, um cavalete sustenta folhas de papel que são viradas conforme o desenvolvimento da narrativa, numa gestualidade que remete tanto ao ambiente escolar quanto ao consultório psicológico. O ator assume múltiplas funções técnicas, controlando ele mesmo a luz e o som, numa escolha que intensifica a solidão da criança e a autonomia precária que ela precisa desenvolver. O cachorro caramelo permanece embaixo da mesa, presença silenciosa que, segundo indicações da direção, será mais acessada e desenvolvida nas próximas etapas do processo.

A direção é da argentina Monina Bonelli. Foto: Ivana Moura

A direção de Monina Bonelli provoca regiões sensíveis para acessar a inocência sem perder a maturidade reflexiva que o tema exige. Sob sua orientação, Barbosa evita a armadilha da infantilização caricatural, emprestando elementos genuínos do universo infantil – gestos, ritmos, descobertas linguísticas – sem cair no estereótipo piegas. Essa escolha interpretativa confere autoridade ética à narrativa: não é um adulto simulando ser criança, mas um artista que compreende as camadas de complexidade necessárias para expressar aqueles que foram silenciados. Bonelli orquestra uma encenação onde cada elemento técnico – desde o posicionamento do ator até o controle autônomo de luz e som – serve à narrativa central: a solidão de uma criança que precisa encontrar suas próprias estratégias de sobrevivência.

Interessante notar que a encenação escolheu transformar o golden retriever do texto original num vira-lata caramelo – escolha que, por si só, carrega simbolismo social e afetivo específico do contexto brasileiro. O cão representa o confidente ideal: aquele que escuta sem julgar, que oferece presença sem exigir explicações, que aceita a criança exatamente como ela é, sem a performance social que os adultos frequentemente demandam.

Essa atenção aos detalhes simbólicos revela como as criações artísticas se enriquecem quando conseguem traduzir questões universais através de linguagens locais específicas. A dramaturgia de Los Titanes foi desenvolvida dentro do projeto Bombón Gesell, curado por Monina Bonelli, diretora do Teatro Bombón de Buenos Aires. Em 2022, durante o Festival Reside de Paula de Renor e Celso Curi, foi realizada uma leitura do texto com José Neto Barbosa, momento em que Monina se tornou parceira do Festival Reside. O projeto Bombón Gesell propõe uma reflexão profunda sobre os dispositivos de observação na sociedade contemporânea, utilizando a câmara de Gesell – espaço usado na psicologia para observação clínica através de vidro unidirecional – tanto como metáfora quanto como estrutura dramatúrgica.

Bonelli compreende que vivemos numa sociedade de vigilância constante, onde somos simultaneamente observadores e observados, numa dinâmica que ecoa os mecanismos de poder que permitem e perpetuam violências como o abuso infantil. Sua trajetória no Teatro Bombón, iniciada em 2014, consolidou uma metodologia de criação que privilegia espaços não convencionais e temáticas socialmente urgentes, desenvolvendo uma estética da proximidade perigosa – aquela que nos coloca face a face com aquilo que preferíamos manter distante.

A experiência da primeira apresentação revelou algo extraordinário sobre o poder transformador do teatro: o clima de confiança estabelecido foi tamanho que algumas pessoas da plateia compartilharam seus próprios traumas de infância durante o debate. Esse fenômeno demonstra como o teatro pode funcionar como espaço de elaboração coletiva, onde traumas individuais encontram possibilidade de partilha através da experiência compartilhada. A presença da psicóloga mediando esses momentos não é apenas protocolo de segurança, mas reconhecimento de que abordar o abuso infantil através da arte exige responsabilidade clínica e ética.

A colaboração entre Bonelli e a S.E.M. Cia. de Teatro concretiza um projeto de circulação que potencializa o alcance social da obra. Enquanto a companhia brasileira, com seus 13 anos de arte militante, oferece conhecimento sobre o público nacional, Bonelli contribui com metodologia de criação e reflexão teórica desenvolvidas em mais de uma década de experimentos cênicos. Essa colaboração se configura como resistência estética contra a globalização do silêncio sobre violências estruturais.

A dramaturgia de Los Titanes funciona através de uma poética da sugestão onde o horror se insinua sem se explicitar. Traczuk constrói uma narrativa que se desenvolve em múltiplas camadas: algumas acessíveis ao público geral, outras que se revelam apenas para aqueles que conhecem intimamente a realidade do abuso. Essa arquitetura textual permite que a peça dialogue simultaneamente com diferentes públicos, criando conexões empáticas sem explorar voyeuristicamente a dor alheia. A escolha de um cachorro como confidente da criança oferece algumas dicas: numa sociedade onde adultos falharam em oferecer proteção, onde instituições se mostraram omissas e onde o silêncio se tornou regra, o animal pode manter a pureza da escuta incondicional.

Um Depoimento Real nos convida a pensar sobre aquilo que a filosofia crítica já apontou: a necessidade de reconhecer as contradições sociais, sem acreditar em reconciliações que apaziguem prematuramente nossa consciência. O espetáculo se recusa a oferecer catarse consoladora ou final redentor, exibindo as feridas abertas que a sociedade produz. Essa escolha estética e ética aposta que arte verdadeiramente crítica deve resistir à tentação de transformar o horror em espetáculo consumível. A peça mantém as tensões irresolvidas – a inocência violentada, o silêncio cúmplice, as instituições falhas –, recusando-se a domesticar o trauma em narrativas que tranquilizem a audiência.

A necessidade da arte não se fundamenta em alguma capacidade de curar, conceito que pode soar ingênuo, mas em sua potência de despertar consciências adormecidas pela naturalização da barbárie. O teatro, neste caso, não promete cura, mas oferece algo valioso: a possibilidade de romper o silêncio que protege os algozes e abandona as vítimas. A arte se torna, assim, não consolação, mas inquietação necessária – uma força que mantém as feridas abertas para que não se esqueçam, para que não se naturalizem, para que as contradições da sociedade permaneçam visíveis e incontornáveis.

 

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Programação teatral no Recife
em intenso movimento
neste fim de setembro

Focus Cia de Dança celebra marco histórico de 25 anos . De Bach a Nirvana. Foto: Dan Coelho / Divulgação

Carlota. Foto: Cristina Granato

Trupe. Foto: Babi-Furtado

A cena teatral no Recife se mexe em diversidade artística que contempla dança contemporânea, humor, experimentação, teatro infantil e produções nacionais. A programação demonstra vitalidade cultural que posiciona Recife como importante centro de produção e circulação das artes cênicas no país.

Celebrando marco histórico de 25 anos de trajetória artística, a Focus Cia de Dança traz ao Recife uma programação especial dentro do Cena Cumplicidades. A companhia carioca, que possui reconhecimento internacional tendo se apresentado em mais de 100 cidades brasileiras e países como Colômbia, México, Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha e Itália, oferece três espetáculos gratuitos que demonstram a maturidade de um dos grupos mais respeitados da dança contemporânea brasileira.

Com 26 obras e 16 espetáculos em repertório, a Focus, sob direção de Alex Neoral, consolidou linguagem coreográfica única que combina técnica refinada com experimentação estética.

Trupe evoca tradição dos artistas mambembes através de cortejo coreográfico onde dez bailarinos fazem um cortejo para transformar espaço urbano em palco. De Bach a Nirvana realiza encontro improvável entre épocas musicais distintas, conectando música barroca de Johann Sebastian Bach (1685-1750) com rock visceral do Nirvana de Kurt Cobain (1967-1994) através de coreografia. Carlota – Focus Dança Piazzolla, criação de 2023, homenageia Carlota Portella (1940-2024) utilizando 11 tangos de Astor Piazzolla para reconfigurar matrizes tradicionais do ritmo argentino, explorando melancolia, abandono e paixão através de linguagem corporal que celebra o corpo como obra de arte suprema.

Anjo Negro combina dança contemporânea, artes circenses, balé clássico e teatro físico

Ave, Guriatã! encerra o festival

O Festival Estudantil de Teatro e Dança de PernambucoFETED representa importante plataforma de formação artística que revela novos talentos enquanto aborda temas urgentes da sociedade brasileira. De 24 a 28 de setembro no Teatro Apolo, sete espetáculos resultam de processos formativos que incluem trabalhos de conclusão de cursos e criações coletivas, evidenciando o caráter pedagógico fundamental do festival.

O Sequestro da Leitura funciona como julgamento cênico onde a “Escola” é acusada de sequestrar a Leitura, questionando métodos educacionais tradicionais. Anjo Negro combina dança contemporânea, artes circenses, balé clássico e teatro físico através de dez cenas intensas com liras e tecidos acrobáticos para explorar trajetória de mulher negra em busca de identidade. Canto de Negro celebra ancestralidade afro-brasileira percorrendo trajetória “dos porões dos navios aos terreiros, quilombos e ruas”, criando diálogo temporal que ressalta resistência cultural.

Para o público infantil, As Crônicas dos Gatos Sem Lar apresenta Sophia, gatinha com autismo que ensina sobre amizade, empatia e respeito às diferenças, funcionando como ponte educativa. Escolinha de Bruxas, resultado do Curso de Iniciação Despertar Teatral da Cênicas Cia de Repertório, adapta Maria Clara Machado para abordar bullying e empatia através da história de Ângela, jovem bruxa bondosa. “Ave Guriatã“, emerge do Curso de Interpretação para Teatro do Sesc sob direção de José Manoel Sobrinho e Samuel Bennaton, baseando-se em Guriatã, um Cordel para Menino de Marcus Accioly para celebrar cultura brasileira através de narrativa poética sobre menino em busca de identidade.

Sala de Jantar. Foto Mônica Maria

A experimentação teatral encontra uma expressão delicada e envolvente em Sala de Jantar, criação onde Ruy Aguiar realiza alquimia cênica transformando o ordinário em extraordinário. Neste universo, pratos, talheres, toalhas e guardanapos abandonam sua condição de utensílios para se transformar em personagens dotados de desejos, ansiedades e sonhos próprios. O elenco formado por Edivane Bactista, Adilson Di Carvalho, Fabiana Coelho, Ryan Rodrigues e o próprio Ruy Aguiar desenvolve técnica de manipulação que exige simultaneamente precisão e sensibilidade artística aguçada, conferindo alma e personalidade a cada objeto durante preparativos para jantar elegante orquestrado por figura enigmática do lacaio misterioso.

A dramaturgia desenvolve narrativa onde os objetos aguardam ansiosamente a chegada dos convidados, transformando arrumação doméstica em jornada emocional. Lailson Cavalcante desenvolve pesquisa musical que dialoga harmoniosamente com cada metamorfose cênica, criando paisagem sonora que amplifica a magia inerente aos momentos de transformação, enquanto Saulo Uchoa assina desenho de luz buscando dramaticidade essencial aos instantes em que objetos inanimados ganham vida pulsante.

Esta experiência de 45 minutos com classificação a partir de 8 anos acontece no Espaço Cultural Métron Produções (Rua Tabira, 109, Boa Vista) para 30 espectadores por sessão, criando intimidade que potencializa o impacto emocional. Estreada em 2017, a montagem integra o repertório da Métron Produções e foi contemplada pela Lei Paulo Gustavo através do Edital Multilinguagens Recife Criativo. Todas as apresentações contam com interpretação em Libras, garantindo acesso democrático a esta experiência que encontra magia nos elementos mais familiares do cotidiano.

Nega do Babado e Violetas da Aurora. Foto: Renato Filho

A Casa de Alzira sedia Palhacinhas do Brega – Vibrando no Babado, proposta artística inédita que une palhaçaria contemporânea e tradição musical pernambucana. Este evento conecta o coletivo Violetas da Aurora – consolidado através de oito anos de atividades e produções emblemáticas como Violetas da Aurora – o Encontro (2018), Mesa de GlosaR (2019) e Violetas no Parque (2021) – com Nega do Babado (Adriana Araújo da Silva), ícone do brega recifense com mais de duas décadas de trajetória que inclui sucessos populares como Milkshake e consolidação como uma das vozes mais potentes do cenário musical pernambucano.

O Violetas da Aurora, protagonizado por Ana Nogueira (Dona Pequena), Fabiana Pirro (Uruba), Mayra Waquim (Maroca) e Silvia Góes (Sema Roza Madalena), desenvolve ao longo de quase uma década linguagem cênica que articula palhaçaria, crítica social e celebração de encontros com artistas de diferentes linguagens. Colaborações anteriores com poetas como Graça Nascimento e Anaíra Mahin demonstram compromisso do coletivo em criar pontes entre expressões artísticas diversas, fortalecendo redes colaborativas que enriquecem cenário cultural pernambucano através de protagonismo feminino em campos tradicionalmente dominados por vozes masculinas.

Nega do Babado representa transformação paradigmática no universo do brega, gênero que nas últimas décadas assistiu ao surgimento de figuras femininas que redefinem códigos estéticos e narrativos. Reconhecendo conexões naturais entre sua performance musical e elementos da palhaçaria, declara: “No meu Brega, a palhaçaria está sempre presente. Eu tenho essa felicidade de ser palhaça também”. Esta declaração revela consciência artística sobre hibridismos que caracterizam sua estética, onde irreverência, humor e autenticidade popular se fundem criando linguagem única que dialoga naturalmente com propostas do Violetas da Aurora.

DJ Vibra (Virgínia Brasil) atua como ponte criativa fundamental entre universos aparentemente distintos, assumindo simultaneamente funções de diretora artística e produtora musical. Reconhecida nacionalmente por trilhas sonoras que transitam entre eletrônico, popular e afro-diaspórico, coidealizou o selo Discopreta, consolidando-se como voz criativa fundamental da cena independente brasileira. Atualmente conduzindo processo de expansão artística da Nega do Babado rumo à construção de carreira latina, Vibra preserva simultaneamente a força popular que caracteriza a artista, criando equilíbrio entre inovação estética e autenticidade regional.

A narrativa cômica satiriza oportunismo no meio artístico através de personagens que, cansadas de financiar turnês através de vaquinhas, enxergam no sucesso do brega recifense oportunidade de ascensão rápida. Convidando Nega do Babado para colaboração, descobrem que conquistar espaço na cena musical exige muito mais que simples boa vontade, revelando camadas de reflexão sobre legitimidade artística, reconhecimento profissional e complexidades envolvidas na construção de carreiras sólidas no cenário cultural brasileiro.

Inaugurando a noitada, Flávia Gomes apresenta Sarau Eroticuzinho, explorando territórios da poesia erótica que dialogam tematicamente com ousadia proposta pelo encontro principal. Completando a experiência musical, D Mingus participa como convidado especial, ampliando diversidade sonora da celebração através de performance que conecta diferentes vertentes musicais presentes na cena recifense contemporânea.

A Casa de Alzira, localizada no terceiro andar do Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro (MUAFRO), ocupa Sala Inaldete Pinheiro, espaço com capacidade para 70 pessoas equipado com recursos técnicos completos, camarim, cantina e lojinha colaborativa. O espaço funciona como laboratório cultural que incentiva experimentação e encontros transformadores entre linguagens artísticas diversas.

Tradição Cultural e Identidade Pernambucana

Canto e Encanto Pernambuco: Folia e Foliões, Carnaval de Alegria representa trabalho do Núcleo Musical Irmã Scheilla, vinculado à Fraternidade Peixotinho, organização que desenvolve atividades de ensino musical utilizando a música como ferramenta de educação e preservação cultural. O espetáculo combina batuques, orquestras, sopros e cordas com encenações teatrais em apresentação que celebra diversidade cultural pernambucana focando em ritmos e tradições carnavalescas. A entrada gratuita para crianças até 10 anos facilita acesso familiar, consolidando função social e educativa da proposta.

Teatro de Rua e Urgência Climática

Grupo Bote de Teatro faz apresentações na Praça do Sebo

Recife, cidade historicamente construída sobre ilhas e aterros, enfrenta destino inexorável ligado às águas que a constituem e ameaçam. Esta geografia insular torna ainda mais urgente a reflexão sobre crise climática numa metrópole que, segundo relatório da ONU, figura como 16ª cidade mais vulnerável do mundo ao aumento do nível do mar. Diante desta realidade alarmante, o Bote de Teatro compreende que abordar tema tão crucial exige proximidade radical com a população: “sendo uma cidade considerada uma ilha, para falar de um tema como a crise climática, não haveria outra forma a não ser ir para a rua, ir para perto das pessoas e ocupar um espaço urbano”.

Ilha:Dois materializa esta urgência transformando a Praça do Sebo em laboratório de teatro de rua, dirigido por Rafael Bacelar com dramaturgia de David Maurity, ambos integrantes da Toda Deseo, companhia mineira de teatro que desde 2013 pesquisa temas LGBTQIAPN+. Esta parceria entre Toda Deseo – com sua experiência consolidada em teatro político e narrativas de resistência – e o Bote de Teatro, do Recife, busca sensibilizar sobre a urgência climática numa perspectiva que conecta lutas identitárias com sobrevivência coletiva.

O espetáculo atua como “confrontação à cidade”, buscando “dizer à população que é preciso se ocupar em pensar sobre a crise climática”. Esta urgência se justifica pelos estudos científicos que apontam Recife como uma das primeiras metrópoles brasileiras a “desaparecer do mundo por conta do nível do mar”. A montagem utiliza estes dados científicos alarmantes para construir narrativa que conecta política, poesia e sobrevivência urbana através de Cardo Ferraz, Daniel Barros, Inês Maia e Pedro Toscano, quatro pessoas reunidas em torno de mesa de bar discutindo tempo de cidade ameaçada.

As conversas, atravessadas por copos de cerveja e cigarros, incorporam memórias locais como a enchente histórica de 1975 e os alagamentos anuais que marcam cotidiano recifense, criando ponte temporal entre experiência vivida e projeções científicas. A dramaturgia entrelaça nostalgia (consciência de que o passado se perdeu), esperança (ousadia de inventar futuros) e presente que se impõe com suas urgências climáticas e sociais.

A equipe técnica revela colaboração multidisciplinar: Aura do Nascimento (direção de arte), Vibra (sonoplastia), Joice Paixão (consultoria ambiental e política), Priscila Siqueira (coordenação de acessibilidade), com participação especial de Nega do Babado e tradução em Libras. Esta configuração demonstra compromisso com acessibilidade integral e conhecimento especializado sobre questões ambientais.

A integração com ambiente natural da praça, onde bares funcionam durante as apresentações, busca dissolver fronteiras entre ficção teatral e realidade urbana. Espectadores são convidados a chegar cedo para garantir mesa, fazendo da experiência teatral parte orgânica do cotidiano do espaço.

Murilo Freire em Esquecidos por Deus. Foto Divulgação

Esquecidos por Deus marca 40 anos de carreira teatral de Murilo Freire, que iniciou aos 7 anos tornando-se profissional aos 8. Com especialização em Arts du Spectacle na Universidade de Paris-8 durante cinco anos de residência na França, atualmente atua como Professor de Teatro no SESC, Supervisor de Cultura e Psicoterapeuta Holístico Integrativo. O monólogo baseia-se em “O Livro das Personagens Esquecidas” de Cícero Belmar, membro da Academia Pernambucana de Letras, abordando memória, identidade, patrimônio, tradição, apagamentos e cancelamentos. A interpretação utiliza “Arquetipia Humanimal”, pesquisa prática de 20 anos que combina pré-expressividade (Barba) e trabalho sobre ações físicas (Stanislavski/Grotowski). A técnica parte da observação de animais domesticados que mimetizam comportamentos humanos, criando hipótese de que humanos podem reproduzir hábitos de outras espécies animais através de reprodução da corporeidade animal (respiração, impulsos físicos, ritmos) até alterar a corporeidade humana, criando arquétipos claramente identificáveis. Com encenação, dramaturgia e iluminação de José Manoel Sobrinho, direção musical de Fellipe Barnabé e figurinos de Ivone Nunes, representa formato intimista que preza proximidade com plateia.

Formação Continuada e Protagonismo Negro

Cecilia Chá, Larissa Lira, Sthe Vieira e Thallis Ítalo compõem elenco

O Espaço O Poste apresenta resultado concreto de política de formação artística continuada através de Àwọn Irúgbin (Sementes em iorubá), resultado de dois anos de Residência O Postinho. Seis jovens pretos das periferias participaram de processo formativo gratuito que inclui interpretação teatral, voz e preparação corporal, danças afrodiaspóricas, história do teatro negro, dramaturgia a partir de escrevivências, elaboração de projetos culturais, economia criativa e letramento étnico-racial. A equipe pedagógica conta com Naná Sodré (preparação corpo ancestral), Agrinez Melo (preparação poética matricial), Darana Nagô (danças afrodiaspóricas), Jeff Vitorino e Matheus Amador (história do teatro negro-africano). Cecilia Chá, Larissa Lira, Sthe Vieira e Thallis Ítalo compõem elenco que também assina dramaturgia e produção, demonstrando formação completa em criação teatral. A montagem aborda identidade racial, transformação social e visibilidade da mulher negra, incluindo cenas sobre Bailes Charme, com operação de som e luz ao vivo realizada pelo próprio elenco. O projeto integra Ocupação Espaço O Poste, fomentado pelo Programa FUNARTE de Apoio a Ações Continuadas 2023.

Teatro Infantil e Educação Ambiental

Floresta dos Mistérios utiliza 20 bonecos de diferentes tamanhos criados por Márcio de Pontes. Foto: Silvia Machado

A CAIXA Cultural Recife recebe criação de Márcio Araújo, um dos criadores do programa Cocoricó que marcou gerações na TV Cultura. Floresta dos Mistérios utiliza 20 bonecos de diferentes tamanhos criados por Márcio de Pontes para contar história sobre três crianças – Bel, Rafa e Duda que descobrem planos do prefeito Lúcio Fernando para desmatar área florestal e construir maior fábrica de celulares do mundo na cidade de Micrópolis. Com ajuda de seres encantados do folclore brasileiro como Saci Pererê, Iara e Boitatá, lutam para salvar a Floresta dos Mistérios. As canções originais, compostas por Tato Fischer e Márcio Araújo, são interpretadas ao vivo pelos manipuladores-cantores Clayton Bonardi, Daniela Schitini, Débora Vivan, Joaz Campos, Marcio Araújo, Matilde Menezes e Thalita Passos, com arranjos e direção musical de Gabriel Moreira. Todas as sessões são bilíngues e acessíveis, com tradução em LIBRAS e audiodescrição integradas à dramaturgia, representando abordagem inclusiva que faz parte da concepção artística. Paralelamente, acontece Workshop de Gestão e Produção Cultural Criativa ministrado pela produtora Bia Ribeiro, destinado a artistas, produtores e profissionais culturais maiores de 18 anos.

 

Teatro de urgência: espetáculo sobre violência infantil 

Ator potiguar José Neto Barbosa protagoniza peça com tema sensível

Uma obra que dialoga com uma das realidades mais dolorosas da sociedade contemporânea, Um Depoimento Real faz duas apresentações no Recife nos dias 28 e 30 de setembro, tendo como assunto o abuso infantil através da perspectiva de uma criança.

O ator potiguar José Neto Barbosa é dirigido pela argentina Monina Bonelli, do Teatro Bombón de Buenos Aires, na adaptação do texto Los Titanes, criado pela dramaturga Paola Traczuk.

A diretora define o trabalho como o resultado de um abraço artístico, político e afetivo entre artistas latino-americanos, que se propõem a abordar um tema sobre o qual a sociedade prefere não falar. Segundo ela, trata-se de um assunto doloroso que as pessoas gostariam que estivesse distante de suas realidades, mas que está presente no Brasil, na Argentina e no mundo inteiro, sem distinção de classe, gênero, raça ou povo, exigindo que seja discutido através da arte e outras linguagens.

O espetáculo apresenta a narrativa de uma criança que conta sua experiência. A montagem denuncia a negligência, expõe os silenciamentos e reforça a fundamental importância das redes de proteção na vida das crianças.

José Neto Barbosa, conhecido pelo premiado espetáculo A Mulher Monstro, que se tornou destaque no teatro pernambucano, protagoniza esta urgente discussão social. A classificação indicativa é de 14 anos, considerando a delicadeza do tema abordado.

Todas as sessões contarão com interpretação em Libras. Cada apresentação será seguida de um debate mediado por uma psicóloga especializada.

O acesso ao espetáculo é gratuito, mas requer a doação de 1kg de alimento não perecível, que será destinado a instituições de acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.

Fundada em Natal e com atuação também em Recife, a S.E.M. Cia. de Teatro completa 13 anos de atividades voltadas para a arte militante e formação cultural. Sob a direção artística de José Neto Barbosa, a companhia já alcançou mais de 70 mil pessoas em 15 estados brasileiros. Entre suas produções de destaque estão os espetáculos Borderline, Quando a Vela Apaga, Acordo de Paz e o premiado monólogo A Mulher Monstro.

Apoio institucional
O projeto conta com o apoio da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Secretaria de Cultura e Prefeitura do Recife, através da Lei Paulo Gustavo, uma iniciativa do Ministério da Cultura e Governo Federal para fomento das artes cênicas no país.

Universidade Federal: Meio Século de Formação

A 15ª Semana de Cênicas celebra 50 anos do curso de Licenciatura em Teatro da UFPE, meio século de formação de profissionais que atuam como professores, diretores, atores e pesquisadores em todo o Estado. O evento funciona como espaço de resistência cultural reunindo estudantes, professores, artistas e comunidade para discutir desafios e perspectivas do teatro pernambucano. A temática “Raízes Pernambucanas” conecta tradições ancestrais com práticas teatrais contemporâneas, evidenciando continuidade e transformação da arte cênica local através de seis apresentações que transitam entre experimento autobiográfico, teatro histórico, experiência imersiva, dramaturgia indígena, performance feminina e narrativa de resistência.

Humor e Musical para a família

O Teatro Barreto Júnior acolhe propostas distintas. A Fantástica Fábrica de Chocolates reúne elenco misto de amadores e profissionais incluindo crianças e adultos em três atos inspirados nos três filmes do Willy Wonka, seguidos de agradecimentos, sorteio de rifa e sessão de fotos com elenco. Plantão dos Técnicos marca encontro inédito entre Camila Cardoso (técnica de enfermagem) e Gabriel Castanheira (Tequim de Enfermagem), influenciadores com mais de 1 milhão de seguidores que transformam experiências do cotidiano médico em narrativas cômicas, rapidamente esgotando ingressos. A Vida é uma Choice apresenta Scarlat Caluête, reconhecida por timing cômico impecável e sarcasmo inteligente, transformando palco em talk show ao vivo através de stand-up interativo onde cada piada convida à gargalhada e público protagoniza momentos únicos.

O vendedor de sonhos

O Vendedor de Sonhos no Teatro RioMar representa primeira obra de Augusto Cury – psiquiatra mais lido no mundo atualmente – a receber adaptação teatral. O livro, traduzido para mais de 60 idiomas e também transformado em filme, foi adaptado pelo próprio autor com direção de Luciano Cardoso (33 anos de experiência). A montagem, vista por mais de 300 mil pessoas em mais de 400 apresentações, aborda saúde mental e prevenção ao suicídio – tema crescente na sociedade atual – através da proximidade entre atores e plateia que potencializa impacto positivo da obra. A narrativa conecta Júlio César (Mateus Carrieri), que tenta suicídio, com Mestre (Milton Levy), mendigo que lhe vende vírgula para continuar escrevendo sua história, junto a Bartolomeu (Adriano Merlini) na missão de vender sonhos e despertar sociedade doente.

VEM AÍ

Sagração. Foto: Flavio Colker

Sagração é uma releitura ousada de A Sagração da Primavera de Stravinsky, obra que em 1913 causou um dos maiores escândalos da história cultural em Paris. Deborah Colker, Prêmio Laurence Olivier (2001), Prix Benois de la Danse de Moscou (2018) e primeira mulher a criar espetáculo para o Cirque du Soleil (Ovo, 2009), além de dirigir movimento da cerimônia de abertura das Olimpíadas Rio 2016 transmitida para mais de 2 bilhões de pessoas, transforma sacrifício eslavo em cosmogonia indígena brasileira. A inspiração veio de viagem ao Xingu e encontro com cineasta indígena Takumã Kuikuro. 170 bambus de quatro metros (criações de Gringo Cardia) operam como elementos coreográficos ativos desafiando 15 bailarinos. A direção musical de Alexandre Elias propõe arqueologia sonora mantendo estrutura rítmica stravinskyana enquanto sobrepõe sons indígenas, maracá, caxixi e “paus de chuva” tocados pelos bailarinos, criando composição onde boi bumbá, coco, afoxé e samba dialogam com orquestra sinfônica.

Jeison Walace como Cinderela. Foto: Divulgação

Cinderela em: Toda Cidade Tem celebra fenômeno cultural de mais de três décadas. Jeison Wallace se confunde com criação que o tornou famoso: Cinderela não era princesa, mas menina sonhadora de um dos morros do Recife – mal educada, desaforada e engraçada – criada em 1991 na peça Cinderela, a História que sua mãe não contou. Popular em todas as classes sociais e habituado a lotar plateias, o comediante construiu mais de 30 anos de carreira transitando entre rádio, teatro, cinema, TV e sitcom. O espetáculo utiliza esquetes hilárias e interação intensa para abordar peculiaridades do cotidiano encontradas em qualquer cidade brasileira, desde fofocas de bairro até personagens marcantes do dia a dia, mesclando tradicional e contemporâneo através da irreverência que consolidou a personagem como ícone da comédia nacional.

PROGRAMAÇÃO 

SERVIÇOS
FOCUS CIA DE DANÇA – 25 ANOS
Trupe 📅 24/09, 19h – Centro de Artes UFPE | 28/09, 11h30 – Parque da Jaqueira
🎫 Gratuito | ⏱️ 35min | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

De Bach a Nirvana 📅 26/09, 20h – Teatro Luiz Mendonça
🎫 Gratuito – teatroluizmendonca.byinti.com | ⏱️ 90min | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Carlota – Focus Dança Piazzolla 📅 27/09, 20h – Teatro Luiz Mendonça
🎫 Gratuito – teatroluizmendonca.byinti.com | ⏱️ 75min | 👨‍👩‍👧‍👦 12 anos

FETED 2025
📍 Teatro Apolo – Rua do Apolo, 121
🎫 R22,50(R 20 + R2,50taxa)∣💳4xR 6,12

24/09 (19h) – O Sequestro da Leitura
25/09 (19h) – Anjo Negro
26/09 (19h) – Canto de Negro
27/09 (16h) – As Crônicas dos Gatos Sem Lar
27/09 (19h) – Auto da Barca do Inferno
28/09 (16h) – Escolinha de Bruxas
28/09 (19h) – Ave, Guriatã!

Sala de Jantar 📅 25, 26, 27/09 – 18h e 20h
📍 Espaço Cultural Métron Produções – Rua Tabira, 109, Boa Vista
🎫 Gratuito –
www.metronproducoes.com.br
| 👥 30 pessoas | ⏱️ 45min | 👨‍👩‍👧‍👦 8 anos
♿ Libras em todas as sessões

Palhacinhas do Brega 📅 27/09, 20h – Casa de Alzira – MUAFRO
🎫 1º lote R30∣2ºloteR 50 | 👨‍👩‍👧‍👦 16 anos | 👥 70 pessoas

Canto e Encanto Pernambuco 📅 28/09, 16h – Teatro do Parque
🎫 R$ 30 (gratuito até 10 anos) | ⏱️ 60min | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Ilha:Dois 📅 27, 28/09, 19h – Praça do Sebo, Boa Vista
🎫 Gratuito | ♿ Libras | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Esquecidos por Deus 📅 27, 28/09, 19h30 – SESC Goiana
🎫 Gratuito | ⏱️ 60min

Àwọn Irúgbin – o Poste 📅 27/09, 19h – Espaço O Poste
🎫 Inteira R30∣MeiaR 15 | 💳 3x R$ 6,25

Floresta dos Mistérios 📅 26/09 a 05/10 – CAIXA Cultural
🕒 Sextas 19h | Sáb/Dom 11h
🎫 Inteira R20∣MeiaR 10
♿ LIBRAS e audiodescrição em todas as sessões

SEMANA DE CÊNICAS UFPE – 50 ANOS
📅 23 a 26/09 – Centro de Artes UFPE
🎫 Gratuito – Todas as apresentações

TEATRO BARRETO JÚNIOR
A Fantástica Fábrica de Chocolates” 📅 27/09, 17h45 | 🎫 Inteira R55∣MeiaR 27,50 | 👨‍👩‍👧‍👦 Livre

Plantão dos Técnicos” 📅 28/09, 20h | 🎫 ESGOTADO

A Vida é uma Choice” 📅 01/10, 19h | 🎫 Duplo R27,50∣IndividualR 22,50 | 💳 6x

Um Depoimento Real, com José Neto Barbosa
📅 28/09 (domingo): 18h – Espaço Cênicas, Bairro do Recife
30/09 (terça-feira): 14h e 16h – COMPAZ Dom Helder Camara, Ilha Joana Bezerra
🎟️ Ingressos: Gratuitos no Sympla (doação de 1kg de alimento não perecível) 🔞 Classificação: 14 anos 🧏🏽‍♂️ Acessibilidade: Interpretação em Libras em todas as sessões

VEM AÍ – OUTUBRO

Sagração” – Cia. Deborah Colker 📅 07/10, 20h30 – Teatro Guararapes, Olinda
🎫 R25aR 200 | ⏱️ 70min | 👨‍👩‍👧‍👦 10 anos
⚠️ Contém luzes estroboscópicas

“Cinderela em: Toda Cidade Tem” 📅 04/10, 18h – Teatro do Parque
🎫 Inteira R120∣MeiaR 60 | Social R$ 80 | 💳 12x
⏱️ 70min | 👨‍👩‍👧‍👦 14 anos

📱 Informações gerais: Consultar sites e redes sociais dos teatros
💳 Vendas: Sympla, bilheterias locais e sites específicos

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Cuidado com a barbárie!

José Neto Barbosa em A Mulher Monstro Foto: Annelize Tozetto

José Neto Barbosa em A Mulher Monstro Foto: Annelize Tozetto

Definitivamente, não vivemos tempos de delicadeza. A intolerância predomina e quem tiver mais poder de convencimento pode até passar por cima da razão, da lei, do bom-senso. Isso ocorre no campo da política ou das relações mais estreitas. Ferir o outro que pensa diferente pode até ser um forma de exibir um pequeno troféu. Se os demônios de cada um eram domados para o convívio social, agora os monstros estão soltos.

 Um recorte da realidade político-social do Brasil é explorado no espetáculo A Mulher Monstro, que expõe a conduta de uma burguesinha perseguida pela visão intransigente de seus pares, ou seja do reflexo dela mesma. A mulher tenta domar a solidão e derrama-se em ódio que alimenta dentro de si contra o diferente, num cenário explosivo de corrupção, golpe de estado e cinismo generalizado.

Com atuação do ator José Neto Barbosa, A Mulher Monstro faz mais uma temporada no Recife, desta vez de 9 a 18 de junho (sextas, sábados e domingos) no Teatro Hermilo Borba Filho, no Recife Antigo.

A montagem estreou em 2016, motivada pelas barbáries que passou a circular nas redes sociais e na rua. O artista fez uma colagem de falas reais de figuras públicas e de anônimos, com o conto Creme de Alface de Caio Fernando Abreu. Entram também na dramaturgia suas memórias da “Mulher Monga” dos parques e circos nordestinos, e principalmente fatos e discursos impositivos na sua vida, desde infância, fruto da discriminação sentida no convívio social. 

O conto de Caio F. foi escrito em plena ditadura militar, mas só publicado em 1995: “O que me aterroriza neste conto de 1975 é a sua atualidade. Com a censura da época, seria impossível publicá-lo. Depois, cada vez que o relia, acabava por rejeitá-lo com um arrepio de repulsa pela sua absoluta violência. Assim, durante vinte anos, escondi até de mim mesmo a personagem dessa mulher monstro fabricada pelas grandes cidades. Não é exatamente uma boa sensação, hoje, perceber que as cidades ficaram ainda piores, e pessoas assim ainda mais comuns”, disse o escritor dois anos antes de sua morte.

“Se de 1975 para 1995 Caio percebeu que a sociedade estava mais intolerante, hoje, vemos que pouco avançamos com relação à intolerância e ao preconceito. E eu resolvi fazer da minha arte militância”, conta José Neto, que também dirige a peça.

SERVIÇO

A Mulher Monstro
Quando:
De  9 a 18 de junho de 2017, Sextas e sábados às 19h. Domingo às 18h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121, Recife Antigo)
Ingressos: R$ 30,00 inteira / R$ 15,00 meia (vendidos também duas horas antes do espetáculo, na Bilheteria do Teatro) 
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: pouco mais de 60 minutos.
Informações: 81 33553321 ou facebook.com/semciadeteatro

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A Mulher Monstro no Festival de Curitiba

Foto: Ivana Moura

Peça inspirada em Caio Fernando Abreu critica setores retrógrados da sociedade brasileira. Foto: Ivana Moura

A Mulher Monstro veio debater os panelaços no Festival de Curitiba. O espetáculo erguido entre Natal (RN) e Recife (PE) expõe as características de uma burguesinha intolerante que se enxerga de forma distorcida (para muito melhor). Racista, homofóbica, gordofóbica, elitista, sexista, ela destila veneno e fica cega pelo ódio. A personagem tem essas características, mas a peça faz crítica aos setores mais conservadores e retrógrados da sociedade brasileira, que foram às ruas para pedir o golpe. A peça é baseada no conto Creme de Alface, de Caio Fernando Abreu, e recheada por comentários nas redes sociais que traduzem o preconceito, descriminação, desejo de aniquilamento do outro que pensa diferente do pré-impeachment para cá. O ator José Neto Barbosa (que atua, dirige e assina a dramaturgia da peça) cruzou as opiniões de internautas com o texto de Caio para formar a dramaturgia do espetáculo.

A peça faz apresentações no Fringe, a mostra paralela do Festival de Curitiba – no Teatro Mini Guaíra, de 2 a 5 de abril, sendo, domingo às 15h; segunda, às 18h; terça às 21h; quarta às 12h. O Fringe é uma mostra aberta, sem curadoria, que pode surpreender e que alimenta a esperança dos participantes de serem “descobertos” por algum curador de festival ou receber uma crítica favorável.

Espetáculo com Neto. Foto: Jorge Almeida

Espetáculo com José Neto Barbosa. Foto: Jorge Almeida

A transeunte errante do espaço urbano inventada por Fernando Abreu capta o mundo de forma hostil e responde com violência emotiva. Creme de Alface foi escrito em 1975 e publicado 20 anos depois. José Neto Barbosa, da S.E.M. Cia de Teatro (RN), atuando no Recife, acredita que o conto é exemplar para revelar os abismos da condição humana. Mas Neto Barbosa também ajuíza que essa “mulher monstro” existe dentro de cada um de nós.

O ator leva ao palco resíduos de memória da figura da “Mulher Monga” dos parques e circos nordestinos. “Aquele fenômeno ficou na minha cabeça, pois foi a minha primeira experiência teatral. Após estudar teatro identifiquei naquela pequena encenação algo que passei acreditar: a arte relacional, como explica Nicolas Bourriaud. Aquela estética relacional da Monga, também enraizada de machismo e de exposição do corpo feminino como business, foi a inspiração para transformar não o humano em monstro, mas o monstro em humano”.

O texto de Abreu expõe uma mulher intransigente com as pessoas da sua vida. No trajeto pelas ruas na intenção de pagar alguns crediários a personagem revela sua malevolência com os outros e o mundo e a benevolência consigo mesma. Suas ações salientam principalmente duas questões: a fragilidade dos laços afetivos e o consumismo como válvula de escape. O ator também carrega a dramaturgia com suas histórias pessoais, dos preconceitos e intolerâncias sofridos.

A encenação transcorrer em três movimentos. A performance de título A Mulher Monstro. Cotidiano Contradição, uma avalanche de pensamentos e identificações da personagem. E a terceira que ele chama de Escarro Sobre Si, fincada na sequência do enredo criado pelo Caio Fernando Abreu. E se completa com o diálogo com a plateia.

SERVIÇO
A Mulher Monstro, da S.E.M. Cia de Teatro; dentro do Fringe, do Festival de Curitiba
Quando: De 2 a 5 de abril, sendo, domingo às 15h; segunda, às 18h; terça às 21h; quarta às 12h. 
Onde: Teatro Mini Guaíra, Centro Cultural Teatro Guaíra (Rua XV de Novembro, 971 – Centro)
Ingressos: R$ 20 

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A face abominável de cada um

A Mulher monstro foto: Ivana Moura ,

Conto de Caio Fernando Abreu e intolerância nas redes sociais são materiais da peça. Foto: Ivana Moura

O ator José Neto Barbosa fisgou o conto Creme de Alface, de Caio Fernando Abreu, em 2015 no ápice da tensão política que partia o Brasil em grupos “rivais”, quando o ódio escorria pelas ruas e era anunciado em panelaços ou em pedidos da volta da ditadura militar. Um quadro estarrecedor. Os comentários nas redes sociais seriam cômicos se não fossem a tradução de sentimentos reais de profundo preconceito, descriminação, desejo de aniquilamento do outro que pensa diferente. Barbosa cruzou as opiniões dos internautas com o texto de Caio para formar a dramaturgia do espetáculo A Mulher Monstro, que se apresenta neste domingo,às 20h, na 9ª Mostra Capiba de Teatro, do Sesc Casa Amarela.

Barbosa atua, dirige e assina a dramaturgia da peça. A figura do monólogo, atravessada pelo texto de Abreu e pelo pensamento conservador que assola o país, é racista, homofóbica, gordofóbica, elitista, sexista, destila veneno, fica cega pelo ódio e tem uma visão otimista e equivocada de si mesma. Seus fantasmas são medonhos. Mas Neto Barbosa faz questão de deixar claro que essa “mulher monstro” existe dentro de cada um de nós.

Creme de Alface foi escrito por Caio Fernando Abreu em 1975 e publicado 20 anos depois. Quatro décadas se passaram desde que o escritor gaúcho combinou aquelas palavras para traçar a transeunte errante do espaço urbano que sente o mundo hostil e reage à altura das suas emoções.

Amante da obra de Caio, de quem é leitor assíduo há oito anos, José Neto Barbosa, da S.E.M. Cia de Teatro (RN), aposta que o conto prossegue dilacerante e igualmente pertinente ao expor as contradições da natureza humana.

As perversidades dos brasileiros, em expressões e atitudes que denunciam o preconceito e os argumentos segregacionistas, antidemocráticos, radicalistas e fundamentalistas ocupam o palco. O ator também carrega a peça com suas memórias da “Mulher Monga” dos parques e circos nordestinos.

Ao levar o contexto do Brasil contemporâneo o artista reforça o caráter político da peça como arte militante. O trabalho foi erguido diante das barbáries lidas e ouvidas de forma despudorada no cotidiano recente do país. Neto também insere histórias pessoais, dos preconceitos e intolerâncias sofridos, dos discursos impositivos, desde infância sobre ele.

O texto de Abreu expõe uma mulher intransigente com as pessoas da sua vida. No trajeto pelas ruas na intenção de pagar alguns crediários a personagem revela sua malevolência com as outros e o mundo e a benevolência consigo mesma. Suas ações salientam principalmente duas questões: a fragilidade dos laços afetivos e o consumismo como válvula de escape.

Leia nossa primeira crítica sobre A Mulher Monstro A realidade é mais cruel que a ficção

Entrevista: José Neto Barbosa

Ator potiguar atua no Recife há dois anos. Foto: Rick Rodrigs

Ator potiguar atua no Recife há dois anos. Foto: Rick Rodrigs

Por que A Mulher Monstro como título?
O título de A Mulher Monstro surgiu de uma entrevista do autor de Creme de Alface, Caio Fernando Abreu. Ele mesmo denomina assim a personagem, que nos baseamos para montar o espetáculo. Ele disse, quando publicou o conto em 1995, sobre o texto que foi escrito em plena ditadura militar: “durante vinte anos, escondi até de mim mesmo a personagem dessa mulher monstro fabricada pelas grandes cidades. Não é exatamente uma boa sensação, hoje, perceber que as cidades ficaram ainda piores, e pessoas assim ainda mais comuns”. Achei forte o termo e acrescentei o artigo para ficar mais coerente.

Como foi a composição da peça?
O espetáculo foi surgindo como consequência de diversos fatores. Ainda em 2015 começava a explodir acontecimentos políticos no Brasil, antes mesmo do processo de impeachment da Dilma. O ódio e o desrespeito, sempre existentes passou a ganhar voz sem vergonha nas redes sociais, nas ruas e nas opiniões de figuras públicas. Os pensamentos segregacionistas e antidemocráticos estavam expostos ali, na nossa cara, carregados de intolerância nas expressões e argumentos. Fui apagar alguns arquivos do celular pessoal e me deparei com muitos prints (fotos da tela do celular) de diversas opiniões e publicações de anônimos, amigos, conhecidos e famosos. O que me espantava, o que me era monstruoso, eu guardava com uma sensação que nem sei explicar exatamente. Fazia foto e guardava. Eu tinha, então, em mãos um material que não poderia simplesmente deletar. Ao mesmo passo, venho pesquisando a vida e obra de Caio desde início de 2009. Reli o conto Creme de Alface e resolvi atualizar, levar o conto para a cena, que é uma investigação que tenho no teatro, seria um desafio necessário para o momento social e político. No momento eram 40 anos da escrita daquele conto, e me espantou sua personagem ainda ser tão atual e tão parecida conosco – com sua humanidade peculiar, mas ainda de uma monstruosidade intolerante. Juntei os prints com o conto, acrescentei mais coisas. Coloquei memórias desde a infância, fatos íntimos nunca antes relevados e agora subvertidos na dramaturgia. Em seis meses mais ou menos estava com a base do texto teatral. Após isso, os passos foram intensificar o meu treinamento de ator, beber mais da poética de tudo aquilo que tinha em mãos e que tinha vivido, experimentar e escolher estéticas em sala de ensaio, se jogar nesse abismo que é apresentar um espetáculo.

Não é muito difícil assumir várias funções no espetáculo – atuar, dirigir, assinar a dramaturgia?
Não foi uma escolha. A dramaturgia foi surgindo de forma bem natural. E as escolhas, os direcionamentos, surgiam como imagens, vontade de experimentar ao ler, empolgação criativa. Como sabia o que queria falar e atingir com a encenação, pensei ainda em experimentar com atores e eu iria dirigir. Algumas tentativas com atores amigos, e eu via que não era o que o processo pedia. Resolvi entrar na cena. Então não foram exatamente escolhas. É um processo mais solitário sim, foi doloroso, não só por falar de coisas que me assolam. Mas com os outros integrantes da Cia ficávamos felizes a cada experimentação por ter dessa vez um espetáculo mais a nossa cara.

A personagem fica confinada em uma jaula de uma mulher gorila de festinhas de interior? Por que essa opção?
Sim, durante o processo eu via o quanto somos monstros e destrutivos não só com o que nos rodeia, mas com nós mesmos. As palavras são armas afiadíssimas, causam medo. A Mulher Monga dos circos e parques nordestinos, por ter crescido no agreste do Rio Grande do Norte, foi a minha primeira experiência teatral. Aquele fenômeno ficou na minha cabeça. Após estudar teatro identifiquei naquela pequena encenação algo que passei acreditar: a arte relacional, como explica Nicolas Bourriaud. Aquela estética relacional da Monga, também enraizada de machismo e de exposição do corpo feminino como business, foi a inspiração para transformar não o humano em monstro, mas o monstro em humano. Fazer teatro é falar também de suas monstruosidades, essa transformação já é experimentada no artista na sociedade.

Você fala que o debate após o espetáculo é o quarto ato? Onde começa e onde termina cada um dos outros três?
Dividi a dramaturgia em três partes, mesmo não deixando tão claro para a plateia: a primeira que é uma performance de título A Mulher Monstro mesmo; outra que se chama Cotidiano Contradição, que uma chuva de pensamentos e identificações da personagem. E a terceira chamamos de Escarro Sobre Si, a sequência do enredo criado pelo Caio Fernando Abreu. Para nós que fazemos a peça, esses três atos de encenação se completam com o diálogo com a plateia. Queremos ouvir o público, não apenas o que acharam do espetáculo, não. E nem de questões técnicas apenas. Mas queremos ouvir as pessoas, fazer com que elas olhem para as outras que estão ao seu redor. Que possam expor suas opiniões acerca da temática da intolerância, como mote diversas expressões escritas na cenografia. Acreditamos que o diálogo, não só exatamente a redenção ao identificar-se como também monstro, é chave para fazer da nossa arte militância.

E o que você tem aprendido com esse diálogo com o público?
O teatro é a arte do encontro, e esse quarto ato serve para mostrar que o espetáculo não é distante e nem é, infelizmente, uma caricatura do que vemos por aí.

Você acha que as pessoas da plateia são realmente sinceras nessas conversas?
Não sei, viu? Acredito que as pessoas saem menos intolerantes, mesmo que não admitam, conseguem identificar expressões da cultura popular, da cultura familiar ou suas, que quando proferidas machucam quem está ao seu redor. Qualquer tipo de reação na plateia já nos deixa de dever cumprido, e olhe que as mais diversas reações acontecem.

Que transformações a peça já sofreu desde sua estreia?
Passou por transformações estéticas, acabamos por não modificar a poética e o que queríamos falar. Ajustamos, afinamos apenas o pensamento artístico e político. Os códigos do que e como queríamos expressar o tema e a história da personagem. O processo de criação se deu em uma ocupação que fizemos no Recife Antigo, num piso superior de uma boate na rua da Moeda. Lá fizemos leituras dramáticas fechadas para militantes de direitos humanos e movimentos sociais do Recife, e fizemos também em Natal leituras dramáticas abertas ao público. A pré-estreia aconteceu em julho no Rio Grande do Norte e a estreia no interior de Pernambuco, em um festival nordestino de teatro em Trindade.

José Neto Barbosa em A Mulher Monstro. Fotos: Ivana Moura

José Neto Barbosa em A Mulher Monstro. Fotos: Ivana Moura

A 9ª Mostra Capiba de Teatro, do Sesc Casa Amarela reúne nove montagens em torno da ideia de território do ator solidário e da vastidão proporcionada pelo palco. A programação traz nove espetáculos de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Sergipe, até o dia 22.

São eles: O Açougueiro, com Alexandre Guimarães; A Mulher Monstro, com José Neto Barbosa; Histórias Bordadas em Mim, com a atriz Agrinez Melo; Soledad – A Terra é Fogo Sob Nossos Pés, com a atriz Hilda Torres; A Receita, com Naná Sodré; O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros, Diógenes D. Lima; Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud, Samir Murad e Vulcão com Diane Velôso.

A Mostra também abriga três oficinas: A Narrativa do Contador de Histórias na Construção da Personagem, com a atriz Augusta Ferraz; O Ator no Século XXI – Uma proposta de encontro entre o Ocidente e o Oriente, comandada por Samir Murad, e Ateliê de Crítica e Reflexão Teatral, com as jornalistas e críticas Luciana Romagnolli e Ivana Moura.

Além das três oficinas, haverá a aula-espetáculo Como era bonito lá, na segunda-feira (17), às 14h, com a atriz, diretora, pesquisadora e professora Nara Keiserman.

Veja mais sobre a Mostra:
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FICHA TÉCNICA
Dramaturgia, encenação e atuação: José Neto Barbosa
Iluminação: Sergio Gurgel Filho e José Neto Barbosa
Maquiagem: Diógenes e José Neto Barbosa
Cenografia e figurino: José Neto Barbosa
Assistência de cenografia: Anderson Oliveira e Diego Alves
Sonoplastia: Diógenes, Mylena Sousa e José Neto Barbosa
Registro: Mylena Sousa
Produção: S.E.M. Cia de Teatro (Sentimento, Estéticas e Movimento)
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: aprox 60 minutos, mais bate-papo com a plateia.

SERVIÇO
A Mulher Monstro, da S.E.M. Cia de Teatro
Quando: Neste domingo, 16/10, às 20h
Onde: Teatro Capiba
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações:

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