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Sérgio Britto, um artista brasileiro

Em Jung e Eu, Britto interpretava o ator Leonardo Svoba, que desejava encenar um espetáculo sobre Jung. Monólogo com dramaturgia e direção de Domingos Oliveira ficou em cartaz no Sesc Belenzinho, em São Paulo, em 2006.

O sábado foi dia de perdas de pessoas caras para a cultura. O Brasil perdeu o ator e diretor Sérgio Britto e Joãozinho Trinta, a música ficou de luto por Cesária Évora. O ator pernambucano Ronaldo Brian, da Tropa do Balaco Baco foi assassinado em Arcoverde. Fiquei triste, de luto. O corpo de Sérgio Britto foi enterrado nesta manhã, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, zona portuária do Rio de Janeiro.

Fico aqui pensado nele. Como vai fazer falta. Não tive a mesma sorte que a querida Deolinda Vilhena que gozou da companhia e assistiu a praticamente todas as peças de Britto (depois que ela se entendeu por gente). Assisti a alguns espetáculos, poucos de sua profícua carreira, o suficiente para virar fã de carteirinha. Admirava aquele ator que se dedicou ao teatro como poucos, aquele homem apaixonado por essa arte e dono de uma vasta cultura, mas sem o pedantismo de alguns. Fiquei especialmente tocada ao ver pela televisão e nas fotos a minha musa Nathália Thimberg quase desabando e confessando que morria um pouco com ele.

No velório hoje pela manhã na Assembleia Legislativa do Rio, Nathália com aquela sua generosidade comentou: “Que de seu legado brote algo bom para as novas gerações. Tive muito prazer de estar com ele. Ele tinha sede de conhecimento. Acompanhou sua geração e se adiantou a ela”.

Ontem a atriz Fernanda Montenegro disse que havia perdido um irmão. “Ele é uma peça que não tem reposição. Do seu legado fica um acervo maravilhoso. Vai fazer uma eterna falta”.

Sabíamos que Britto estava doente, internado desde novembro no Hospital Copa D’or, no Rio. Mas sempre existe a esperança de que o quadro se reverta. E ele tinha tantos planos, tanta garra e tanto amor pelo teatro. Afinal, era um vulcão criativo. Nos últimos anos, trabalhou com linguagens e dramaturgias diferentes. De 2002 até 2009, fez Longa jornada dia e noite adentro (do norte-americano Eugene O’Neill), As pequenas raposas (da norte-americana Lilian Helman), Sérgio 80 (monólogo do carioca Domingos de Oliveira), Outono e inverno (do sueco Lars Norén) e Jung e eu (também de Domingos Oliveira). Este ano, dividiu os palcos com Suely Franco em Recordar é viver, dirigida por Eduardo Tolentino, texto de Hélio Sussekind. Planejava um Tchekhov. Mas saiu de cena, sábado, aos 88 anos.

O sobrinho do artista, Paulo Brito disse que “agora é cuidar de sua memória e de seu acervo”. O Teatro dos Quatro, localizado no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, um dos teatros que o ator e diretor criou em vida passará a se chamar Teatro Sérgio Britto, segundo informou a gestora do espaço, Lúcia Freitas. “O Teatro dos Quatro sempre será a casa de Sérgio Britto”, afirmou ela.

Longa jornada do dia noite adentro, do norte-americano Eugene O'Neill, com Cleyde Yáconis no centro e Britto à direita

ATO EM PALAVRAS – SÉRGIO BRITTO from Célia Freitas on Vimeo.

Imagens da preparação e do espetáculo Ato sem Palavras I e A Última Gravação de Krapp, de Samuel Beckett, dirigido por Isabel Cavalcanti.
Edição e imagens de Isabel Cavalcanti, Célia Freitas e João Araújo.

Sérgio Brito convidou o diretor Gerald Thomas para dirigir Quatro Vezes Beckett, em 1985, no Teatro dos Quatro. Foi a primeira montagem de Thomas no Rio de Janeiro, que acrescentou o texto Nada à Trilogia Beckett,.No elenco estavam Rubens Corrêa, o próprio Britto e Ítalo Rossi.

Entrevista de Gerald Thomas com Sérgio Britto. Aula de teatro. Aula de cultura. Aula de história. Feita para o UOL

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Gerald Thomas está de volta

Gerald Thomas voltou à cena. Estreou Throats (Gargantas) sexta-feira passada no Pleasance Theatre, em Londres. Segundo o jornal O Globo, “um teatro independente localizado num beco de Islington, bairro do norte da capital britânica, e que há 14 anos já nasceu na corda-bamba financeira por não fazer parte da lista de estabelecimentos que recebem subsídios do governo”.

Throats é sobre o mundo pós-11 de Setembro. Um atentado terrorista se confunde com um acidente de trânsito. Ou um “atropelamento de sentidos”. Segundo a Folha de São Paulo, “os mortos se encontram numa espécie de banquete, onde o vinho servido é o sangue de outros atentados e de outras datas de conflitos históricos”.

A estreia foi numa noite gelada do inverno londrino e Throats foi apresentado num espaço para 280 pessoas, praticamente lotado. O espetáculo fica em cartaz até 27 de março como parte de uma série de espetáculos batizados de “Uma noite menos ordinária”.

Essa é a primeira montagem da companhia Ópera Seca, London Dry Opera, composta por sete atores selecionados depois da audição de mais de 600 candidatos.

A trilha sonora é assinada por John Paul Jones, baixista do Led Zeppelin, que compareceu à estreia ao lado da mulher, Maureen. Jones pretende desenvolver em parceria com Thomas o projeto de uma ópera, prevista para 2013.

Há um ano e meio (setembro de 2009), Gerald Thomas anunciou sua aposentadoria com manifesto de independência (http://geraldthomasblog.wordpress.com/manifesto/) . Dizia-se desiludido, petrificado, perdido. E que as artes haviam se transformado numa “mera repetição medíocre e menor de algo que já teve um gosto bom e novo”.

Se muita coisa não mudou no mundo desde então, Gerald reconhece que não aguentou ficar muito tempo longe dos palcos, por não saber fazer outra coisa. “Se existisse um ‘rehab’ para alguém se curar do vício do teatro, eu me internaria nele”.

Que bom que o Gerald Thomas voltou. O turbilhão de ideias do artista fazia falta. E que o espetáculo chegue ao Brasil.

As matérias do Globo e da Folha estão disponíveis no blog do Gerald.

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