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Canto das Gerais abre Mostra de Dança

Espetáculo Entre o Céu e as Serras. Fotos: Wellington Dantas

Espetáculo Entre o Céu e as Serras. Fotos: Wellington Dantas

mbd-22233As cantilenas místicas acenam para a origem barroca das Minas Gerais. As cores, de terra batida, se apoderam dos corpos dos bailarinos no espetáculo Entre o Céu e as Serras, da Cia. de Dança Palácio das Artes (MG). A encenação abriu a 12ª edição da Mostra Brasileira de Dança, ontem, no Teatro de Santa Isabel. Uma montagem com ambições épicas. Traçar as riquezas históricas do estado de Guimarães Rosa, realiza um mergulho na formação da cultura mineira imbricada com a identidade de dança contemporânea da companhia, dirigida por Cristina Machado.

Entre o Céu e as Serras faz a segunda apresentação hoje, às 20h30, também no Santa Isabel. É um espetáculo bonito, de muito fôlego dos bailarinos e tem uma narrativa de brasilidade, com cenas simultâneas e quadros visualmente muito tocantes. E a música é um deleite para os ouvidos

A criação contemporânea da Cia. de Dança Palácio das Artes seguiu um caminho pedregoso e ousado de retraçar um curso de mineiridade e dispor no corpo da cena. Para realizar o feito aglutinou um série de profissionais que estabelecem uma tensão estética muito produtiva ao espetáculo. As manifestações populares do congado (Glaura Lucas) a pesquisa sobre o bailarino-intérprete (Graziela Rodrigues), a sonoridade urbana (Claudia Cimbleris).

De uma pesquisa exaustiva fez grudar episódios na memória corporal do bailarino. O rumo de investigação incluiu experimentações e vivências para aflorar a subjetividade do coreógrafo e também deixar brechas para o espectador ressignificar a obra que pulsa nesse mundo da ruptura e do fragmento.

Os bailarinos têm o corpo pintados por um pigmento marrom avermelhado e usam tratamento especial no cabelo para endurecer

Os bailarinos têm os corpos pintados por uma tinta marrom avermelhada

Entre os Céus e as Serras é marcado por três etapas. Na primeira situação o humano está envolvido com seu habitat natural, reforçado por sons de tambores e de gritos guturais e os movimentos coreográficos de ataque e defesa.

Na segunda fase da rota, as tradições familiares e os interesses econômicos da coroa portuguesa no Brasil e a influência da igreja católica produzem marcas socioculturais naquele século 18 da exploração do ouro. A terceira parte desse roteiro, assinado por Walmir José e Cândida Najar, direciona para novos horizontes e inquietações que dialogam com o mundo .

Com 21 bailarinos em cena, a rede de contrastes e o jogo de atração e resistência é reforçada pelo projeto de iluminação do cantor Ney Matogrosso e dos figurinos de Marco Paulo. Os intérpretes estão cobertos com um pigmento marrom avermelhado, alusão aos minérios e barro das Gerais.

Há sequências de elementos da corrida, saltos, rolamentos de outros festivais. Mas a reflexão do movimento avança numa pesquisa mais subjetiva, numa dança mais autoral em que incorpora as fronteiras borradas entre os fenômenos artísticos.

A narrativa leva ao palco personagens típicos da história de Minas e do Brasil: famílias tradicionais, senhorinhas, aristocratas, escravos, mineradores, religiosos, santos e as esculturas. O ouro, o sangue, as paixões, a violência,a alegria, a religiosidade, a dança típica, os embates, a sensualidade são reveladas com potência, nessa montagem que guarda uma surpresa para o final.

A religiosidade foi explorada na dança

A religiosidade foi explorada na dança

A Mostra Brasileira de atrasou cerca de 40 minutos da abertura oficial. Os organizadores Íris Macedo e Paulo de Castro, em seus discursos, seguiram por caminhos distintos. Ela fez as honras do evento, agradecendo aos patrocinadores. E Paulo resolveu reclamar dos ausentes, já que algumas cadeiras do Teatro de Santa Isabel estavam vazias, porque muita gente confirmou a reserva e não apareceu.

Uma sugestão para a direção da Mostra. A leitura do release com dados do grupo ficou enfadonha, longa e causou impaciência. Já existe um catálogo em que o público pode conferir detalhes sobre as companhias. Ou então é melhor fazer uma apresentação mais sucinta.

FICHA TÉCNICA
Entre o Céu e as Serras
Direção:
Cristina Machado
Orientação de pesquisa de movimento:
Luiz Mendonça
Cocriação coreográfica original:
Suzana Mafra, Marcio Alves, Lydia del Picchia e bailarinos da Cia. de Dança Palácio das Artes
Concepção musical:
Glaura Lucas e Cláudia Cimbleris
Roteiro:
Walmir José e Cândida Najar
Direção de laboratórios de pesquisa de campo:
Graziela Rodrigues
Trilha sonora original:
Cláudia Cimbleris
Cenário:
Wanda Sgarbi
Figurino:
Marco Paulo Rolla
Vídeo:
Chico de Paula
Design de luz:
Ney Matogrosso e Juarez Farinon
Operação de luz:
Elias do Carmo
Remontagem da coreografia:
Suzana Mafra e Rodrigo Giése
Figurino:
Marco Paulo Rolla
Assistente de figurino:
Miriam Menezes
Pesquisa histórica:
Mauro Werkema
Coordenação técnica:
Márcio Alves
Camareiras:
Cláudia de Sousa e Marcela Moreirah
Pesquisa de maquiagem:
Regina Mahia, Marco Paulo Rolla e bailarinos da CDPA
Elenco:
Alex Silva, Amanda Sant’ana, Andréa Faria, Ariane de Freitas, Carlos Gomes, Christiano Castro, Cláudia Lobo, Fernando Cordeiro, Gustavo Silvestre, Igor Pitangui, Ivan Sodré, Lívia Espírito Santo, Lucas Medeiros, Lucas Roque, Mariângela Caramati, Naline Ferraz e Paulo Chamone

SERVIÇO
12ª Mostra Brasileira de Dança
Espetáculo Entre o Céu e as Serras
Quando: Hoje, às 20h30
Onde: Teatro de Santa Isabel.
Ingressos: R$ 20 e R$ 10.

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