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A estrela discreta vai brilhar em outros espaços

Com a saída de Cleyde Yaconis de cena, Brasil fica mais pobre de seus talentos

Com a saída de Cleyde Yaconis de cena, Brasil fica mais pobre de seus talentos

Das atrizes maduras que amo, Cleyde Yaconis ocupa um lugar especial. A voz firme, a silhueta fina, as posturas éticas, a riqueza humana dos personagens acumulados. O grande talento. Na minha galeria de estrelas ela prossegue a brilhar pela sobriedade, pela despretensão.

Ela nunca quis ser estrela, já existia uma na família, sua irmã mais velha, Cacilda Becker. Nem ao menos pensava em ser atriz. Atuar no palco veio por acaso.

Ganhava alguns trocados cuidando do guarda-roupa do Teatro Brasileiro de Comédia – TBC. A atriz Nydia Licia adoeceu e precisavam chamar as pressas uma substituta para atuar já no dia seguinte. Cleyde se prontificou. Conhecia a peça e sabia os diálogos de todos os personagens e no elenco estava também sua irmã Cacilda Becker.

Isso foi durante a temporada de 1950 do espetáculo O anjo de pedra, de Tennessee Williams, com direção de Luciano Salce. E depois vieram outros. Desistiu do curso de medicina, para o qual se preparava e as artes ganharam uma grande atriz.

Suas últimas peças foram Elas Não Gostam de Apanhar (2012), em homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues, O Caminho para Meca de Athol Fugard (2008), A Louca de Chaillot de Jean Giroudoux (2006), Cinema Eden de Marguerite Duras (2005), Longa Jornada do Dia Noite A Dentro de Eugene O’Neill (2002).

Alguns espetáculos eram lembrados como especiais na sua carreira luminosa. Maria Stuart (1955), em que interpretava Rainha Elizabeth e Cacilda Becker a o papel-título. Nessa montagem do texto de Johann C. Friedrich Schiller e direção de Ziembinski, Cleyde ganhou o Prêmio Saci de Melhor atriz.

“Contracenar com a Cacilda foi maravilhoso, uma delícia. Toda aquela luta e a célebre cena do jardim, onde nos digladiávamos num embate feroz. E quem tinha vencido o embate – às vezes eu, às vezes ela – virava nosso assunto nos camarins. Era muito gostoso, como uma luta de florete, um jogo entre duas pessoas que se amavam. Maria Stuart era um espetáculo de três horas: matinê das 4 às 7, das 8 às 11 e das 11:30 às 2. Era um massacre e para os atores agüentarem, tinha enfermeiro de plantão dando injeção de B12”, disse a atriz non livro Cleyde Yaconis – Dama Discreta, Perfil da Coleção Aplauso.

Outro momento esplendoroso foi quando compôs a personagem Geni, de Toda Nudez Será Castigada (1965), de Nelson Rodrigues com direção de Ziembinski, que lhe rendeu o Prêmio Molière.

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“Uma revelação. É assim que o teatro foi para mim. E pensar que quando comecei não tinha a menor noção do que é ser atriz, do que é fazer teatro. Eu nem sabia o que era teatro. Estudava, queria fazer medicina, não tinha nenhuma vontade de representar. E a minha infância foi muito pobre, morava em Santos, não tinha interesse, nem dinheiro, para ver teatro ou alguma outra manifestação artística.

Sempre pensei no que eu poderia ser útil e achava que só poderia ser com a medicina. E descobri que, da mesma forma, o teatro é importante para o país, é importante para o povo. O meu interesse pelo palco veio quando aprendi o valor cultural do teatro. Eu detesto publicidade, fama, entrevista. Não dou valor a essas coisas. Gosto de ensaiar e representar. Só.

Fazendo teatro, você não precisa estudar mais nada. História universal, geografia, social, economia, política, tudo você estuda através do teatro. A cada peça é preciso se aprofundar, saber sobre o autor, de onde ele é, descobrir o país de onde ele vem. Chega a ponto de discutir se o clima daquele lugar influencia na personalidade, na alimentação, na religião daquelas pessoas. O teatro é a síntese da humanidade.

Você conhece o ser humano fazendo teatro. Se você se abrir para o teatro você melhora como gente. O Brecht diz uma coisa maravilhosa: a finalidade maior do teatro é divertir, só precisa saber o que é divertir. Divertir não é besteirol, é externar o prazer do conhecimento.

Tive muita sorte com o meu começo no TBC, com gente séria e respeito pelo público. Eu não sabia que o teatro era tanta doação.”

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Cleyde Yáconis deixa um vazio na cena

Atuação brilhante na última novela em que participou. Foto: Alex Carvalho/TV Globo/Divulgação

Atuação brilhante na última novela em que participou. Foto: Alex Carvalho/TV Globo/Divulgação

A atriz Cleyde Yáconis, de 89 anos morreu nesta segunda-feira, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde estava internada há quase seis meses. Ela deixa um espaço insubstituível nas artes cênicas brasileiras.

O Hospital Sírio Libanês deu o comunicado: “A senhora Cleyde Becker Yaconis, 89 anos, faleceu na tarde desta segunda-feira, 15 de abril de 2013, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internada desde outubro de 2012. O corpo será velado nesta terça-feira, no distrito de Jordanésia, município de Cajamar, onde será sepultado.” O município fica a 38 km de São Paulo.

A intérprete brilhou em seu último trabalho na televisão, como a personagem Brígida, da novela Passione, de Sílvio de Abreu. O papel era de uma velhinha elegante, chique, preconceituosa. Sua atuação elevou o nível da novella. No folhetim, sua personagem era casada com Antero, interpretado por Leonardo Villar, e vivia um relacionamento misterioso com seu motorista, Diógenes papel de Elias Gleiser.

Cleyde Becker Yáconis nasceu em Pirassununga, São Paulo, em 14 de novembro de 1923.
Cleyde Yáconis era irmã da atriz Cacilda Becker.

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