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Paixão de Cristo de Nova Jerusalém – temporada 2011

Thiago Lacerda aos 33 anos se despede do papel de Jesus. Fotos: Ivana Moura

Para cristãos ou não, ateus, agnósticos, crentes ou descrentes, Nova Jerusalém – a cidade cenográfica onde é realizada há 44 anos a encenação da Paixão de Cristo no Agreste pernambucano – é um impacto de beleza. Só isso já valeria a pena se deslocar para conferir a representação dos derradeiros dias, morte e ressureição de Jesus. Um chamariz a mais neste ano é despedida do ator Thiago Lacerda do papel principal. Ele encarnou Jesus sete vezes, sendo duas delas em Fazenda Nova, em 2004 e 2008. Agora, aos 33 anos, ele quer fechar o ciclo. Mas deixa aberto que pode até voltar, mas para viver outros personagens.

A temporada deste ano da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém começou quinta-feira, com apresentações para convidados do governador (que levou muitos prefeitos), da produção e a imprensa. Cerca de duas mil pessoas acompanharam a primeira sessão deste ano da encenação no maior teatro ao livre do mundo, como é conhecido e admirado.

Fafá de Belém interpreta Maria no megaespetáculo do Agreste pernambucano

Fafá de Belém, a eterna musa das Diretas Já, também está no elenco, no papel de Maria. “Minha relação com Maria é de antes de eu nascer. Sou Fátima em homenagem à Nossa Senhora de Fátima”, contou depois da apresentação de quinta-feira. Ela disse que para compor o papel também levou para a cena o lado humano, da mãe. “Ela gerou o filho e ele foi pro mundo… mas quando ele volta humilhado, martirizado, ela tem, na minha leitura, o delírio humano. Da mãe que no último momento acredita que o Senhor não vai cumprir com o que ficou acordado e que vai salvá-lo”.

A encenação é grandiosa e isso requer uma sincronização entre gestual largo dos atores e o áudio gravado com antecedência. No meio disso, a emoção dos atores. A atriz Vanessa Lóes, esposa de Thiago Lacerda, que desta vez faz Madalena, comentou que isso limita a emoção do ator, mas a maioria do elenco reconhece essa dificuldade. Quem olha de longe não faz ideia. O ator Sidney Sampaio é estreante na Paixão e talvez o mais jovem Pilatos da história de Nova Jerusalém.

Vanessa lóes como Madalena. Foto: Nando Chiappetta

A atuação do protagonista é apaixonada, mas tem algo de contido. Uma maturidade para o papel que às vezes se expressa até na introspecção. Sidney Sampaio, traz um tom mais reflexivo para o seu Pilatos. Ele saboreia o texto e faz o público prestar mais atenção nas falas sobre o poder. Fafá de Belém como Maria tem dois momentos de destaque. Quando Jesus carrega a cruz e na Pietà. Vanessa tem um desempenho discreto. Os diretores Carlos Reis e Lúcio Lombardi poderiam pensar em ampliar um pouco os papéis femininos.

Os quatro atores mais famosos desta montagem foram unânimes em elogiar a mão-de-obra local. Os atores que têm papel com falas e os figurantes, recrutados entre os moradores do Brejo da Madre de Deus. “O elenco local é maravilhoso, tem pessoas que já estão na peça há 20, 30 anos, que trazem muita generosidade, eles são nossos orientadores maiores”, ressaltou Fafá de Belém. “É uma quantidade enorme de atores pernambucanos de talento, que muitas vezes a gente lá de baixo não tem oportunidade de conhecer”, complementa Lacerda.

É verdade, são muitos bons atores pernambucanos no elenco. Alguns me chamaram mais atenção desta vez, como Ricardo Mourão, Ednaldo Lucena, Severino Florêncio, Alberto Brigadeiro, Zé Barbosa (que eu já confundia com o próprio Cristo), Júlio Rocha, Jones Melo, João Ferreira. Mas tem muitos outros.

Depoimentos

“Madalena é uma personagem forte e misteriosa. É um presente para qualquer atriz. Lamento fazer em etapas esse trabalho. Primeiro a gente grava e no outro dia a gente faz a interpretação. Gostaria de fazer Madalena com liberdade de atuação como um todo… É maravilhoso trabalhar com Thiago”.
Vanessa Lóes – Madalena

“Pilatos era um grande egoísta. Fica a lição de que a omissão pode levar a consequências bem graves. É um grande desafio, nunca tive oportunidade de vivenciar algo semelhante. Eu aprendi muito nesses dias. Trocando com atores mais experientes, buscando informações, vou sair daqui com outra bagagem”.
Sidney Sampaio – Pilatos

“O grande desafio é esquecer quem somos e fazer parte de um contexto, para uma encenação como essa. É tirar o ego do artista bem-sucedido, conhecido. Vocês não sabem as coisas que a gente ouve ali…Pra mim a cena mais forte é a Pietà. Espero que essa Maria fique carinhosa no coração de todos como está no meu”.
Fafá de Belém – Maria

“Não dá pra passar por esse personagem sem repensar uma série de coisas… Meu Jesus apesar de proposta tradicional, tem subtexto revolucionário… Prefiro acreditar nesse personagem como homem a quem foi dada uma tarefa. Essa é uma história de perseverança e disciplina. Ele tem desejo, vacila, tem defeito”.
Thiago Lacerda – Jesus

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O nome do teatro

O Parque Dona Lindu será inaugurado sábado. Com ele, o recifense ganha o Teatro Luiz Mendonça, homenagem ao ator e diretor Luiz Gonzaga Lucena de Mendonça, nascido no Brejo da Madre de Deus, em 1931 e morto no Rio de Janeiro em 1995.

Ele é descendente da família Mendonça, que fundou o Teatro de Nova Jerusalém, onde é encenada a Paixão de Cristo, na qual ele interpretou Jesus de 1952 a 1968.

Em 1956, participou como ator da primeira e histórica montagem do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, pelo Teatro Adolescente do Recife, com direção de Clênio Wanderley. No Recife, a peça sai de cartaz no quinto dia. Mas no ano seguinte, obtém o primeiro lugar do 1º Festival de Amadores Nacionais, no Rio de Janeiro, consagrando o grupo e projetando para todo o Brasil o dramaturgo Suassuna.

Mendonça também participa ativamente do Movimento de Cultura Popular – MCP, no Recife, fundado por Miguel Arraes. Até sua morte montou dezenas de peças, no Recife e no Rio de Janeiro.

A programação da inauguração do Parque Dona Lindu ainda não foi divulgada pela prefeitura do Recife. A PCR já ensaiou alguns anúncios desse lançamento, o que deve ser feito hoje. (A Prefeitura anunciou hoje que a coletiva de imprensa será nesta terça. No Teatro de Santa Isabel! Oi?!)

O dramaturgo Luiz Marinho e o escritor Osman Lins também estavam no páreo para emprestarem seus nomes ao teatro.

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