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Passeio pelo teatro adulto em Garanhuns

Espetáculo Gonzagão a Lenda, da companhia Barca dos corações partidos. Foto: Costa Neto/Secult-PE

Espetáculo Gonzagão a Lenda, da companhia Barca dos corações partidos. Foto: Costa Neto/Secult-PE

logo garanhunsA dois dias de encerrar o 25º Festival de Inverno de Garanhuns podemos dizer que a programação de teatro adulto foi boa. Não ótima, nem regular. Mas boa, puxada por três excelentes encenações: o musical Gonzagão, a lenda, da companhia carioca Barca dos Corações Partidos; Jacy, do Grupo Carmin, de Natal (RN) e Oleanna, montagem carioca de texto do dramaturgo David Mamet . Cada uma com atores afinadíssimos e que conquistam o público por várias outras qualidades.

O musical Gonzagão, a lenda, de João Falcão, iniciou para cima o Festival. Foi aquela festa no Palco Pop. Alegria no palco e emoção na plateia, músicas lindas, elenco jovem e vibrante, músicos virtuosos. É daqueles espetáculos que a gente gosta de ver e rever, porque chega como doses de energia para um público diversificado.

Peça Jacy do grupo Carmin (RN), no teatro Luiz Souto Dourado. Foto: Costa Neto/Secul-PE

Peça Jacy do grupo Carmin (RN), no teatro Luiz Souto Dourado. Foto: Costa Neto/Secul-PE

Real e ficção. Jacy borra esses limites de forma delicada e instigante. Ao tratar da vida de uma mulher que nasceu em Natal, teve uma vida pacata com alguns episódios dignos de romance, o grupo valoriza a arte do teatro. E nos embala com coisas simples. Dois atores em cena, Henrique Fontes e Quitéria Kelly. Além do videomaker Pedro Fiuza, que funciona com o terceiro intérprete, cortando, justapondo, colando os valiosos objetos da frasqueira de Jacy ou da memória da capital potiguar.

Desde o início da pesquisa, que começou por acaso, quando o ator Henrique Fontes encontrou no lixo vestígios da vida da protagonista, a trupe injeta potências criativas das mais diversas ordens nesse trabalho. Ele expõe o processo criativo, o resgate biográfico e os paralelos com a capital do Rio Grande do Norte.

Um duelo magistral entre Luciana Fávero e Miwa Yanagizawa, no  espetáculo Oleanna. Foto: Jorge Farias

Um duelo magistral entre Luciana Fávero e Miwa Yanagizawa, no espetáculo Oleanna. Foto: Jorge Farias

A montagem Oleanna desestabiliza as nossas certezas. Com texto provocador do dramaturgo norte-americano David Mamet, a peça põe em lados opostos uma professora e uma aluna. A estudante vai ao gabinete da mestra para saber porque recebeu uma nota baixa. Em princípio Carol parece que tem dificuldade de compreensão. E a educadora se mostra preocupada com seus próprios problemas de promoção, familiares etc.

A conversa, em três tempos, vai por um caminho sem volta. A incomunicabilidade entre dois seres que tem lógicas diferentes, a busca pelo poder e o politicamente correto faz com que esses personagens entrem em rota de colisão, com um final desastroso para ambas.

Espetáculo Quincas fez duas sessões no FIG 2015. Foto: Costa Neto/Secult-PE

Espetáculo Quincas fez duas sessões no FIG 2015. Foto: Costa Neto/Secult-PE

Quincas, do grupo Osfodidário de João Pessoa, encarou o desafio de contar a história A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água, de Jorge Amado, com quatro atores se multiplicando por todos os personagens. Com um elenco versátil (Fabíola Morais, Dudha Moreira, Odécio Antonio e Thardelly Lima), a trupe elegeu a água como grande aliada. Da água eles tiram sonoridade e significados.

Arrancam graça da trajetória de desvalidos. E faz o público rir com a astúcia da ralé. Mas vendo pela segunda vez, parece que falta ao espetáculo as nuanças, as riquezas e as incongruências na trajetória do cidadão Joaquim Soares da Cunha de passado burguês que se reinventou entre personagens desamparados que encontram na cachaça a senha para a felicidade.

Espetáculo As Bondosas, com três pernambucanos que moram no Rio. Foto: Ivana Moura

Espetáculo As Bondosas, com três pernambucanos que moram no Rio. Foto: Ivana Moura

Prudência (Sidcley Batista), Angústia (Gerson Lobo) e Astúcia (Leandro Mariz) são três carpideiras inseridas num fim de mundo desse Brasil de Deus. Elas são As bondosas do título, que choram os mortos alheios sob encomenda. Sob a aparência mulheres virtuosas, elas escondem (delas mesmas, inclusive) desejos e pecados que condenam na humanidade.

Uma tragicomédia que explora o efeito risível, com frases de teor preconceituoso ou condenatório. O texto é de Ueliton Rocon. A direção de Tom Pires valoriza a interpretação dos três atores, que tiram partido dessas camadas de hipocrisia.

GPS Gaza, com Sandra Dani e Deborah Finocchiaro. Foto: Normando Siqueira

GPS Gaza, com Sandra Dani e Deborah Finocchiaro. Foto: Normando Siqueira

GPS Gaza tem uma ideia ambiciosa, de levar ao palco os conflitos contemporâneos do cotidiano. Tendo como ponto de referência as questões de intolerância de lado a lado entre árabes e judeus, a montagem da Companhia de Solos & Bem Acompanhados mostra em quadros que se interligam ou não (depende do preenchimento do espectador) as dores de mães, de pessoas que se solidarizam, que sofrem violência. Num outro registro Deborah Finocchiaro interpreta uma apresentadora, que poderia ter saído do liquidificador de todos esses que vemos na TV.

Deborah divide a cena com outra atriz gaúcha Sandra Dani e ambas estão ótimas nos seus papeis. Com momentos muitos bonitos, a cena promove reflexões esse mundo tão problemático. Mas a dramaturgia ainda é confusa, mesmo que a encenação tenha essa dado vivo de estar sempre se renovando.

Alexandre Lino e Kátia Camello em O Pastor

Alexandre Lino e Kátia Camello em O Pastor

A expectativa foi maior que o espetáculo O Pastor no 25º Festival de Inverno de Garanhuns. A história de um líder religioso praticamente reproduziu um culto evangélico, de uma linha mais agressiva no discurso de convencimento. O ator Alexandre Lino, pernambucano que mora no Rio há mais de duas décadas, está totalmente apossado do papel.

Estão lá as palavras de ordem, as demonstrações de fanatismo e exorcismo, a astúcia do personagem principal em arrancar dinheiro dos novos e antigos fiéis. A plateia riu da sequência em que o dízimo é cobrado, e o pastor apresenta outras modalidades de doações (30%, por exemplo).

Mas a crítica ficou totalmente diluída nesse espetáculo-culto. Há vários elementos de várias vertentes de igrejas evangélicas, como também católica, no discurso e também em material cenográfico (que estão no palco como decoração). Mas o debate sobre o fundamentalismo de todas as ordens, que incita à intolerância, passou longe do Teatro Luiz Souto Dourado.

Não veremos nem Frei Molambo, nem No Buraco. Fica para a próxima.

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A repressão risível do desejo

As Bondosas, com os atores Leandro Mariz, Sidcley Batista, Gerson Lobo. Fotos: Ivana Moura

As Bondosas, com os atores Leandro Mariz, Sidcley Batista, Gerson Lobo. Fotos: Ivana Moura

logo garanhunsSidcley Batista, Gerson Lobo, Leandro Mariz e Tom Pires são quatro artistas pernambucanos que migraram para o Rio de Janeiro para trabalhar com arte. Eles são os três atores e o diretor da peça As Bondosas, da Cia SOS de Teatro Investigativo, que foi apresentada nessa terça-feira, no 25º Festival de Inverno de Garanhuns. Ao final da sessão, Gerson Lobo dedicou o espetáculo ao artista de teatro pernambucano, na intenção de que ele seja valorizado aqui e não precise sair para só ser reconhecido pelas instituições quando está lá fora. Recado dado.

Espetáculo lotou o Teatro Luiz Souto Dourado e ainda voltaram cerca de 200 pessoas

Espetáculo lotou o Teatro Luiz Souto Dourado e ainda voltaram cerca de 200 pessoas

As Bondosas do título são Prudência (Sidcley Batista), Angústia (Gerson Lobo) e Astúcia (Leandro Mariz). Essas mulheres contratadas para prantear os mortos alheios guardam vontades secretas, presas por represas frágeis e por isso prestes a explodir.

A história das três carpideiras é à primeira vista muito engraçada. Mas traz em si uma dobra de reflexão, quando impregnam no corpo dessas figuras noções de pecado e de uma moral castradora. As frases absurdas causam aquele efeito risível, se as posições retrógradas são consideradas como um quadro distante da realidade da plateia.

É uma longa jornada noite adentro em que as rezadeiras são atingidas pelo desprezo da família da menina morta. E entre cânticos piedosos, elas julgam o grupo social que as contratou e passam a fazer conjecturas sobre traições, ligações clandestinas e até mesmo as razões da jovem defunta. E algo detona dentro delas, que revelam em doses homeopáticas seus próprios segredos.

Pelos julgamentos morais, pelos interditos parece que essas personagens se encontram num Brasil distante no espaço e no tempo. E como seria bom que fosse assim. Que as mulheres travadas em seus desejos estivessem só no palco. Que os julgamentos morais fossem apenas farsa a divertir o público com aquele tratado absurdo.

Na peça, essas três mulheres de reputação ilibada são dosadas em gradações de sua fé no ofício. Prudência é a mais conservadora, pronta a regular as outras duas do caminho a ser seguido. Astúcia é a mais vulnerável, a que está mais propensa a romper com aquele acordo para liberar os íntimos desejos. E Angústia é a indecisa, pendendo ora para um lado, ora para outro.

O texto de Ueliton Rocon lembra as figuras castas, culpadas e transbordantes de preconceitos de Nelson Rodrigues, com suas camadas de instintos prestes a arrebentar. Mas sem a profundidade do autor de Doroteia; Senhora dos Afogados e Perdoa-me Por Me Traíres.

A direção explora bem os recalques dessas senhoras castíssimas, que dizem que não se veem peladas para não despertar a vaidade. E sabe tirar partido de uma gestual de comunicação direta com a plateia, mantendo o jogo de cena vibrante.

O trio se movimenta carregando pequenos caixotes e traçando desenhos no palco. Os tais caixotes, juntos ou separados, traçam os lugares narrativos, e ajudam na transformação da cena. Os figurinos carregam em si a subversão que virá.

Humor cáustico para falar de desejos reprimidos.

Humor cáustico para falar de desejos reprimidos.

A interpretação dos três atores é o grande destaque de As bondosas, com a mudança de tom, com um gestual bem estruturado (inclusive com sutis movimentações de cabeça) e a força cômica do espetáculo em vários relevos. Dos pecados que elas condenam, a gula e a fofoca são os primeiros que jorram, num jogo de patrulhamento moral. Um par sapatos vermelhos é o detonador da luxúria, que explode dessas “almas ilibidas” dos confins do mundo.

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Gaza também é aqui

No elenco estão as atrizes gaúchas Sandra Dani e Deborah Finocchiaro

No elenco estão as atrizes gaúchas Sandra Dani e Deborah Finocchiaro

logo garanhunsDe cara, o título da peça GPS Gaza remete à ideia do conflito entre árabes e judeus. Mas a montagem da Companhia de Solos & Bem Acompanhados utiliza esse conhecimento que temos sobre a violência naquele território para projetar reflexões de que Gaza pode estar em qualquer lugar. Nas casas protegidas por grades, nas relações superficiais, na ditadura da beleza, onde o menino fuma crack, na adulteração de alimentos.

Com direção de Camila Bauer e atuação das atrizes gaúchas Deborah Finocchiaro e Sandra Dani, GPS Gaza faz sessão única no Festival de Inverno de Garanhuns, hoje, às 19h, no Teatro Luiz Souto Dourado.

A montagem é ambiciosa ao buscar tratar de tantas questões problemáticas ao mesmo tempo. A dramaturgia não está clara e é livremente criada a partir de fragmentos de textos, depoimentos, músicas, filmes, referências e inspirações diversas.

Na montagem, há movimento de construção e desconstrução do chamado exotismo cultural, buscando espelhar no espectador os seus próprios valores e intolerâncias.

SERVIÇO
Espetáculo GPS Gaza
Quando:
Quarta-feira, 22 de julho, às 19h
Onde: Teatro Luiz Souto Dourado
Duração:
60 minutos

FICHA TÉCNICA
GPS Gaza
Direção: Camila Bauer
Atuação: Deborah Finocchiaro e Sandra Dani
Assistência de Direção: Kevin Brezolin
Direção de Vídeo: Luiz Alberto Cassol
Direção de Fotografia: Lucas Tergolina
Câmeras: Lucas Tergolina e Mano (Josias Salvaterra)
Produção de Vídeo: Deborah Finocchiaro, Camila Bauer e Luiz Alberto Cassol
Montagem e Finalização: Lucas Tergolina
Som Direto: Kevin Brezolin, Sue Gotardo e Antonio Perra
Assistentes de Produção de vídeo: Daniela Lopes, Débora Nunes e Sue Gotardo
Entrevistas e Imagens Adicionais: Kevin Brezolin
Participação em Vídeo: Antonio Perra, Deborah Finocchiaro, João Schoninger, Leonardo Jorgelewicz, Luiz Paulo Vasconcelos e Sandra Dani
Depoimentos em Vídeo: Daisy Barella e Débora Nunes
Voz em Off: Deborah Finocchiaro e Kevin Brezolin
Trilha Sonora: Fernando Lewis de Mattos e Kevin Brezolin (com exceção das Músicas Dinheiro de Laura Finocchiaro e Leca Machado e Aestas Phantasie de Guilherme Tavares). Participação nas gravações do Grupo Música Mundana: Flávia Domingues Alves, Helena Oliveira Nunes, Lucas Alves, Fernando Lewis de Mattos
Iluminação: Carol Zimmer
Operação de Luz: Carol Zimmer e Leandro Roos Pires
Cenografia: Rodrigo Xalaco
Instalação: Tete Barachini
Figurinos: O grupo, Ricardo Santanna e Vera Santanna
Confecção de Figurinos: Naray Pereira, Ricardo Santanna e Vera Santanna
Programação Gráfica: Sandro Ká
Assessoria digital: Sue Gotardo e Vítor Leal
Produção Executiva: Daniela Lopes e Débora Nunes/Lucida Cultura
Coordenação de Produção: Daniela Lopes
Coordenação Geral: Deborah Finocchiaro
Realização: Companhia de Solos & Bem Acompanhados

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Teatro pernambucano de fora do FIG

Plateia do espetáculo Gonzagão, a lenda, que lotou o Palco Pop/Forró. Foto: Costa Neto

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O Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) é gigantesco, com vários polos nas mais diversas linguagens, da música às artes visuais, do cinema à cultura popular. Passando por patrimônio, literatura, fotografia e artes cênicas. Durante dez dias do mês de julho, esse evento consolidado, e que já conta um quarto de século, atrai gente de todo o Brasil interessada na programação artística gratuita, na gastronomia, nas iniciativas educativas e no friozinho que confere um charme especial a essa cidade do Agreste pernambucano.

Com tantos predicados e um público faminto por consumir arte e cultura, a programação da 25ª edição FIG surpreendeu, frustrou e deixou indignada a classe teatral do Recife e de outras cidades do estado: nenhum espetáculo de teatro adulto de Pernambuco foi selecionado para participar do evento. A única peça de teatro adulto de Pernambuco que entrou nessa grade foi Frei Molambo, de Marcelo Francisco, mas na cota de Garanhuns (do mesmo modo como acontece com a música na Praça Dominguinhos, que sempre traz uma atração da cidade).

Já na categoria para infância e juventude, as três peças que compõem a programação são pernambucanas: Era Uma Vez Um Rio, da Cênicas Cia de Repertório; Haru – A Primavera do Aprendiz, de Carla Souza Navarro; e Salada Mista, da Cia 2 em Cena. Cafuringa, de José Alexandre Menezes de Andrade, também de Pernambuco, foi para a grade de teatro de rua.

Teatro Luiz Souto Dourado, que hospeda as peças adultas

Teatro Luiz Souto Dourado, que hospeda as peças adultas. Foto: Normando Siqueira

Teatro adulto – A programação de teatro adulto do FIG este ano é composta por cinco espetáculos do Rio de Janeiro (Gonzagão, A Lenda, da Companhia A Barca dos Corações Partidos; Oleanna, de Pasodarte Eventos; As Bondosas, da Cia. SOS de Teatro Investigativo; O Pastor, do Cine Teatro Produções e No Buraco, Etc e Tal Produção Cultural), um da Paraíba (Quincas, do Grupo de Teatro Osfodidário,), um do Rio Grande do Norte (Jacy, Grupo Carmin) um do Rio Grande do Sul (GPS Gaza, Cia. de Solos e Bem Acompanhados) e o já citado Frei Molambo, de Pernambuco.

A questão é delicada: não se pode pensar em barrar os bons espetáculo nacionais. E, este ano, as peças até agora tem mostrado ótima qualidade, a exemplo de Gonzagão, A Lenda; Jacy; Quincas e Oleanna. Mas o questionamento também é inevitável. Se o FIG tem todo esse destaque – até o governador faz questão de dizer que o festival valoriza a cultura pernambucana -, como não incluir os pernambucanos?! Os grupos teatrais do estado se sentiram desvalorizados. Com a dificuldade de circular pelo estado, é também uma oportunidade perdida de ver produções ganharem outros públicos.

Convocatória – A seleção de propostas para o 25º Festival de Inverno de Garanhuns – FIG 2015 foi feita através de uma Convocatória Nacional. Esse edital previa a composição da programação cultural com “oficinas, shows, cortejos, performances, intervenções, recitais, vivências criativas, espetáculos, palestras, debates, exposições, mostras, encontros, ações de patrimônio cultural e outras atividades artístico-culturais”.

As propostas inscritas foram avaliadas em duas etapas: a primeira – Análise Preliminar (eliminatória), realizada por equipes técnicas da Secult-PE/Fundarpe; a segunda etapa – Análise de Mérito Artístico-Cultural (classificatória e eliminatória), consiste na avaliação do conteúdo das propostas habilitadas. A Comissão de Análise de Mérito de atividades artístico-culturais de fruição de teatro foi formada por Jorge Clésio e Wellington Júnior, indicados pela Secult-Pe; e Carlos Lira e Ronaldo Lopes Brissant, representantes da sociedade civil.

As 87 propostas aprovadas na Análise de Mérito Artístico-Cultural estão listadas por ordem alfabética. O arquivo está disponível no site Cultura.pe. A tabela inclui tanto espetáculos adultos quanto infantis.

Haru é uma das três peças da grade infantil. Foto: Costa Neto Secult-PE

Haru é uma das três peças da grade infantil. Foto: Costa Neto Secult-PE

Das propostas para teatro adulto do Recife ou de outras cidades de Pernambuco, nenhuma entrou na programação. Identificamos como pernambucanos ao menos 13 espetáculos (a lista não diz a procedência de cada obra): Abraço – Nunca Estaremos Sós, de Lívia Rodrigues Lins; Auto da Compadecida, do Teatro Experimental de Arte – Tea; A Mandrágora, de Galharufas Produções (Taveira Belo LTDA); A Visita, de José Severino Florêncio de Souza; A Receita, d’O Poste Soluções Limitadas; Borderline, de José Barbosa Neto; Em Nome do Pai, da Rec Produtores Associados; Madleia + Ou – Doida, de Henrique Celibi; Matheus e Catirina – 25 Anos de Munganga, de José Brito do Nascimento; O Pranto De Maria Parda, de José Gilberto Bezerra De Brito; Obscena, Um Encontro Com Hilda Hilst, de Fabiana Pirro; Senhora de Engenho Entre a Cruz a Torá, de Patrícia Assunção de Souza e Tapioca, de Bóris Trindade Júnior.

Debate – O questionamento dos produtores é, justamente, se nenhuma dessas encenações mereceria estar no FIG. O produtor Taveira Júnior, de A Mandrágora (Galharufas Produções) considerou a programação do Festival muito ruim, porque contemplou tão somente espetáculos de fora de Pernambuco. “Achei sem identidade com o povo pernambucano que é quem, na verdade, paga o Festival. Minha surpresa maior não foi não constar na lista, e sim saber que uns cem números de espetáculos locais e de qualidade não estavam presentes na mesma, sob a alegação de que não houve pontuação mínima”, argumentou Taveira.

“Acho que não fica claro qual o critério para essas ‘contratações’”, pontua o ator José Barbosa Neto, de Borderline. Também com um sentimento de frustração, Barbosa Neto diz que um dos motivos de ter se mudado para o Recife, além da pesquisa de um novo espetáculo, foi constatar o quanto o pernambucano consome cultura.

Duda Martins e Lívia  Lins, que atuam e dirigem Abraço, produziram musical com dinheiro do próprio bolso. Foto: Fernanda Acioly/ Divulgação

Duda Martins e Lívia Lins produziram musical com dinheiro do próprio bolso. Foto: Fernanda Acioly

As duas atrizes, diretoras e produtoras de Abraço – nunca estaremos sós, Lívia Rodrigues Lins e Duda Martins, são mais moderadas – consideram a programação boa: “diversificada em suas linguagens, traz grandes e ótimos espetáculos, como é o caso de Gonzagão – A lenda, mas deu pouco espaço para as produções locais”, ponderam.

Gilberto Brito, ator de O Pranto de Maria Parda, é mais enfático e se diz não convencido com as escolhas: “parece arrumadinho”. Outro que também discorda do resultado é o ator, dramaturgo e produtor Henrique Celibi, de Madleia + ou – doida. “O tempo passa e a política cultural dos festivais que acontecem aqui é de exclusão do teatro local”, avalia.

Fabiana Pirro, atriz de Obscena

Fabiana Pirro, atriz de Obscena, Um Encontro com Hilda Hilst

Sem desmerecer outros trabalhos, a atriz Fabiana Pirro insiste que é preciso que haja espaço para a produção do estado no FIG. “Estou com uma peça novinha – Obscena, Um Encontro Com Hilda Hilst-, pronta para ser mostrada. E que foi montada sem nenhum apoio do governo ou da prefeitura”. Fabiana lembra que a grade de música contempla os locais e acredita que a de teatro deveria fazer o mesmo. “Sem bairrismo de ser tudo de Pernambuco. Já vi coisas lindas de fora no FIG como o Galpão, Denise Stoklos, mas poxa, vamos botar para trabalhar os da casa também, a gente precisa pagar conta, a gente precisa continuar nossa atividade, porque a gente faz toda a produção para ir pro palco”.

A produção de Em nome do pai (Rec Produtores Associados) atendeu aos critérios exigidos pelo edital, passou por todas as etapas, mas não houve acordo quanto à questão financeira. “Era necessário que o valor colocado (exigência do edital), fosse comprovado em vendas anteriores e como nosso espetáculo ainda não possui este currículo, pois estreou no final de abril e fez apenas uma temporada, não conseguimos uma comprovação de valor que correspondesse à apresentação mais as despesas”, explica a diretora Cira Ramos.

A proposta inicial do grupo foi de R$ 12 mil, porque a produção calculou duas diárias para toda a equipe e todas as despesas (impostos, cachês, translado, transporte de cenário, hospedagem, alimentação e outros. “Foi negociado para baixarmos para R$ 9 mil. Mas as comprovações que conseguimos, não chegaria a este valor”, expõe Cira. Em nome do pai então declinou do convite, já que, segundo os cálculos, o grupo teria prejuízo.

Pela lei de responsabilidade fiscal, todos os espetáculos precisam cumprir as mesmas regras. Mas aí entra a lógica do mercado. Espetáculos, shows, com gente mais famosa e com produtores mais articulados, conseguem maiores cachês. Ao exigir essas comprovações de apresentações feitas, as montagens mais antigas e as que tem mais poder de persuasão ganham espaço.

Cira Ramos, diretora do espetáculo Em nome do pai

Cira Ramos, diretora do espetáculo Em nome do pai. Foto: José Barbosa

Cira Ramos entende que a exigência de comprovação de cachê é excludente para as montagens locais. “Os grandes espetáculos de fora conseguem vender para o FIG com valores reais aos praticados em outras realidades”, deduz. A diretora faz questão de deixar registrado que os funcionários da Fundarpe foram cuidadosos e fizeram esforço para tentar manter o espetáculo na programação. “Enquanto não houver uma mudança neste formato, a nossa produção local continuará excluída deste Festival. Ou então a Fundarpe arque com as despesas das produções pernambucanas, para que o cachê de apresentação fique direcionado para pagamentos dos profissionais. Não é possível embutirmos todas as despesas dentro de um cachê absurdamente baixo! Principalmente sabendo que só recebemos com três ou mais meses depois de finalizado o FIG”, complementa.

O produtor Taveira Júnior sugere um percentual mínimo para espetáculos pernambucanos no FIG. Já José Barbosa Neto propõe a possibilidade de criar mostras, como ocorre em alguns festivais. “Isso poderia equilibrar e promover mais o acesso e a fruição de nossas produções”, acredita.

Lívia Rodrigues e Duda Martins atestam que não são contra a participação de grupos de fora. “Isso faz parte de um festival do porte do FIG e é bom para o intercâmbio cultural. No entanto, a prioridade deve ser das produções locais, pelos motivos óbvios de valorização da cultura local”. Para a dupla de Abraço a questão não é “incluir os espetáculos pernambucanos”. É sim “incluir alguns de fora”. “A sugestão é implantar uma cota para os nacionais e “incentivar” a comissão julgadora a conhecer mais a fundo o que está sendo produzido no estado, o que acreditamos que aconteça muito bem em outros campos artísticos, como a música”.

As atrizes  Agrinez Melo, Naná Sodré e o diretor Samuel Santos, do Grupo O Poste Soluções Luminosas

As atrizes Agrinez Melo, Naná Sodré e o diretor Samuel Santos, do Grupo O Poste Soluções Luminosas

Para o Grupo O Poste Soluções Luminosas, cujo núcleo permanente é formado pelo diretor Samuel Santos e pelas atrizes Agrinez Melo e Naná Sodré, “Se a Fundarpe, toda vez e a cada ano, vem diminuindo os espaços de escoamentos da cena local, ela está trabalhando contra o que ela mesma se destina. É dar um tiro no próprio pé. É preciso, de fato, ter esse objetivo como meta. Já ouvimos dizer que o FIG não é um festival local e sim nacional e, como nacional, a prioridade são os grupos e as atrações de fora. Mas aqui não estamos falando em termos de conceito de festival, mas sim de diretrizes da Secretaria e da Fundação. Estamos falando da Portaria Fundarpe nº 05, de 24/08/2009. Estamos falando de arte e artistas locais e seus principais campos de escoamentos”, atestam. O grupo explicita o Artigo 2º da referida Portaria: “É dever da Fundarpe preservar seu patrimônio histórico, cadastrar os seus bens culturais materiais e imateriais, apoiar e incentivar a valorização, a difusão e a fruição das suas manifestações, pluralidade da produção cultural e impulsionar a sua sustentabilidade econômica”.

“Nós, enquanto grupo de teatro, abrimos um espaço (que fica ao lado da Fundarpe, inclusive) sem nenhum apoio institucional. Como não há apoio, como sobreviver? Como manter esses novos espaços que vem fomentando Pernambuco? Como? Levando as produções locais para os festivais, mostras, municípios de Pernambuco. Criando ações fora edital do Funcultura. Aí é que entra o governamental, o pensamento do estado antenado com a arte e os artistas locais e suas prioridades”, complementam os artistas do O Poste. Eles também questionam o espaço físico disponibilizado para as apresentações. “Nem todas as peças se adequam naquele palco (Teatro Luiz Souto Dourado). Primeiro por que ele não oferece uma estrutura, está obsoleto, tem uma péssima acústica e torna qualquer peça distante do público. Mas por que não procurar outros espaços para a prática do teatro além do teatro da estação? Casarões, mercados, galpões etc. Inclusive mandamos proposta de fazer A Receita num espaço alternativo. Caso não fosse possível faríamos no palco da estação. Por que não pensar noutros espaços que não só o teatro?”

De acordo com o edital, as produções são responsáveis por todos os custos de transporte, hospedagem e alimentação; além disso, os produtores denunciam ainda a demora nos pagamentos dos cachês.

Entrevista // Jorge Clésio – Coordenador de Artes Cênicas da Fundarpe

Jorge Clésio é coordenador de Artes Cênicas da Fundarpe

Jorge Clésio é coordenador de Artes Cênicas da Fundarpe

Quantos espetáculos se inscreveram?
Das 140 propostas inscritas, 124 foram selecionadas para a análise de Mérito Artístico-Cultural, dentre elas, 87 foram habilitadas e 53 desabilitadas.

Essa convocatória foi divulgada no Brasil inteiro. De que forma? Jornais? Sindicatos de artistas?
A convocatória teve divulgação nacional, por meio do Portal da Secretaria de Cultura do Estado|Fundarpe: cultura.pe.gov.br, além do mailling de artes cênicas, inclusive para os inscritos nas convocatórias das edições anteriores do FIG.

Os pareceristas também se inscreveram, não é mesmo?
Sim, por meio de convocatória estadual para seleção de profissionais do 25º Festival de Inverno de Garanhuns – 2015. Enfatizar que essa convocatória foi aberta também para todos os segmentos artístico-culturais.

Qual a comissão que julgou o mérito artístico dos projetos, além de você como representante da Fundarpe?
A Comissão foi formada por profissionais de notório saber em suas áreas de atuação, José Carlos de Oliveira Lira e Ronaldo Lopes Brissant, selecionados pela convocatória estadual para seleção de profissionais do 25º festival de Inverno de Garanhuns – 2015, e José Wellington Fernandes Júnior, indicado pela Secult/Fundarpe, conforme previsto na convocatória nacional.

Para chegar a esse resultado, a comissão avaliou os projetos mediante o quê? Projetos em papel? Vídeos? Ou espetáculos presenciais?
As propostas foram analisadas em meio físico, mediante as informações contidas no Anexo XIII – do Formulário de Teatro FIG 2015, e do DVD contendo a gravação do espetáculo na íntegra, segundo critérios constantes na Convocatória:
a) Qualidade artística/cultural da atividade;
b) Currículo do artista, grupo, profissional ou da equipe principal;
c) Relevância da proposta/originalidade/singularidade;
d) Histórico da atividade.

Imagino que o espetáculo Gonzagão, A Lenda, da Companhia A Barca dos Corações Partidos (RJ), tenha sido convidado para abertura. Gosto muito do espetáculo. Mas gostaria que você expusesse as razões dessa escolha, por quem foi feita.
Trata-se de um espetáculo muito bem recebido pela crítica e pelo público nacional. Achamos muito pertinente que Gonzagão – A lenda, se apresentasse nessa edição do FIG 2015, no Palco Pop/Forró, o que possibilitou o acesso a um público bem maior, considerando a capacidade do Teatro Luiz Souto Dourado, de 600 lugares! Além da temática, emblemática para a cultura brasileira, e direção do consagrado pernambucano João Falcão, a disponibilidade de agenda do grupo para abertura das Artes Cênicas no FIG 2015. Além disso, o espetáculo dialoga com a cultura da região, fortalece a identidade a partir de uma narrativa de um personagem mítico. Esse foi o único espetáculo de Artes Cênicas, convidado para o FIG 2015.

Podemos citar uma dúzia de espetáculos pernambucanos que se inscreveram, passaram pela análise técnica e não entraram na lista final do festival. Você não acha estranho um festival do porte do de Garanhuns não acolher essa produção?
Seguimos criteriosamente a convocatória pública e de abrangência nacional. Nesse caso, todas as 140 propostas inscritas foram submetidas aos mesmos critérios de análise. As propostas habilitadas na Análise de Mérito Artístico-Cultural, mesmo as bem pontuadas, não têm necessariamente sua participação assegurada na programação do 25º FIG, conforme o item 7 da Convocatória. Nesse sentido, vale observar que a programação do Teatro Para Infância e Juventude está 100% pernambucana e isso se deu pelos mesmos critérios, já citados e utilizados pela Comissão de Análise de Mérito. Diante do cardápio das 87 propostas habilitadas pela Comissão, foi possível incluir na Programação de Teatro Adulto 7 espetáculos; 2 de Teatro de Rua; e 3 espetáculos Para Infância e Juventude. Esse trabalho foi feito a partir das seguintes variáveis: respeito à hierarquização da pontuação; disponibilidade de agenda do grupo para o período do FIG 2015; adequação ao espaço e, ainda, a oportunidade do espetáculo em se apresentar com recursos próprios, oriundos de prêmios/fomentos nacionais, como o Myriam Muniz e/ou Lei Rouanet. O processo de composição da programação se deu à luz da transparência, de maneira democrática, o que representa uma conquista da sociedade civil.

Essa produção citada pernambucana é realmente inferior ao que foi escolhido?
Essa afirmativa não reflete, em absoluto, nosso pensamento sobre a produção teatral no estado de Pernambuco, nem de nenhum outro estado brasileiro.

Insisto nisso porque os artistas da área ficaram bem indignados e talvez fosse legal dar uma explicação.
Concordamos com você e sabemos da importância do retorno que precisamos dar aos proponentes sobre o processo e resultado da convocatória. Estamos estudando uma forma mais ágil, por meio da internet, ou carta a ser endereçada aos artistas, além do atendimento usual que damos pelo e-mail cenicas.fundarpe@gmail.com, pelo telefone 81 3184.3077 e, de forma presencial, na Coordenadoria de Artes Cênicas.

Na sua opinião, como está a programação de artes cênicas deste ano?
Consideramos todos os espetáculos que compõem a Programação de Artes Cênicas – Circo, Dança e Teatro – do FIG 2015, com excelente qualidade artística e técnica. Convidamos o público a conferir a diversidade de temas, estilos, conceitos e visões presentes nesse recorte de 41 espetáculos da cena contemporânea brasileira, oriundos de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba, Minas Gerais e São Paulo.

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Salada mista de humor e diversão

Peça tem ingredientes para agradar púbico de todas as idades

Peça tem ingredientes para agradar púbico de todas as idades

logo garanhunsO musical Salada mista tem humor, um toque de inocência, umas gotas de rebeldia, doses generosas de alegria, com reflexões sobre o mundo dos adultos sem cair na chatice. Um grupo de amigos resolve inventar uma brincadeira diferente. E o conto de Chapeuzinho Vermelho se transforma numa telenovela, ambientada nos anos 1960. A trilha sonora traz músicas da Jovem Guarda.

O espetáculo Salada Mista está na programação de hoje do Teatro para Infância e Juventude, no Parque Euclides Dourado, às 16h, dentro da programação do 25º Festival de Inverno de Garanhuns.

A Cia. 2 em Cena de Teatro, Circo e Dança pesquisa há anos as técnicas da Palhaçaria tradicional. Nessa montagem, o grupo explora números de palhaços, entre um capítulo e outro da novela. As crianças também discutem temas como conquista, namoro, casamento, traição e separação. A violência doméstica vai parar na novela de Chapeuzinho e busca refletir sobre os métodos de educação e punição.

SERVIÇO
Espetáculo Salada Mista
Quando:
Terça, 21 de julho, às 16h
Onde:
Espaço de Dança e de Teatro para Infância – Parque Euclides Dourado
Duração:
60 minutos
Indicação:
Crianças a partir de 3 anos

Ficha Técnica
Dramaturgia e encenação: Alexsandro Silva
Atores-palhaços: Jerlane Silva, Flávio Santana, André Ramos, Arnaldo Rodrigues, Paula de Tássia e Douglas Duan
Direção de arte: Marcondes Lima
Direção Musical: Henrique Macedo
Sonoplastia ao vivo: Douglas Duan e Davison Wescley
Concepção de maquiagem: A Cia
Concepção e execução de iluminação: Cindy Fragoso
Confecção de cenário: Nenzinho
Confecção de figurino: Maria Lima
Preparação corporal: Arnaldo Rodrigues
Preparação de atores-palhaços: Alexsandro Silva
Pesquisa: A Cia
Produtores: Alexsandro Silva e Arnaldo Rodrigues
Produção executiva: Arnaldo Rodrigues
Realização: Cia. 2 Em Cena de teatro, circo e dança

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