Sai de cena a Diva absoluta do teatro brasileiro

Bibi Ferreira morre nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro. Foto: Wilian Aguiar / Divulgação

Bibi Ferreira morreu nesta quarta-feira, aos 96 anos, no Rio de Janeiro. Foto: Wilian Aguiar / Divulgação

Há artista que queremos que viva para sempre aqui na Terra. Um desejo pueril, é verdade. É como se fosse um totem, um farol de ilha. São seres que transbordam de talento, mas também perseguem o mais pleno domínio técnico e não negligencia da disciplina. Abigail Izquierdo Ferreira era uma dessas criaturas. Atriz, cantora, compositora e diretora, a nossa Bibi Ferreira partiu para outra dimensão no início da tarde desta quarta-feira (13/02), aos 96 anos. Ela descansava em seu apartamento no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, quando sofreu uma parada cardíaca. Em setembro do ano passado, Bibi havia anunciado aposentadoria dos palcos – por conta de recomendações médicas – quando encerrou a turnê Por Toda a Minha Vida. Ela foi internada no ano passado em três ocasiões por conta de infecções oportunistas.

“Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos a que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada!”

Bibi Ferreira anunciou sua aposentadoria em comunicado publicado em rede social, em 10 de setembro de 2018.

A professora e doutora em teatro Deolinda França de Vilhena, que foi produtora e secretária particular de Bibi, recebeu a notícia da morte em Paris e fez uma transmissão ao vivo pelo Facebook. Muito emocionada postou: “Graças a D’us eu estou no lugar certo! Estou na Cartoucherie de Vincennes, no Théâtre du Soleil, D’us sabe o que faz e a gente não sabe o que diz…”. Agradeceu: “Obrigada por tudo…te amarei eternamente! E sei que tenho mais um anjo da guarda a velar por mim!”. E pleiteou que “o velório de Bibi seja no palco do Teatro Municipal, o foyer é pequeno para a importância dela!”

Bibi Ferreira morre nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro. Foto: Wilian Aguiar / Divulgação

Uma combinação de talento e dedicação às artes cênicas. Foto: Wilian Aguiar / Divulgação

Ao longo da carreira, Bibi encarou grandes desafios, cantou Edith Piaf, Amália Rodrigues, Carlos Gardel, Dolores Duran, Chico Buarque, entre outros. Por sua atuação como a personagem Joana, da peça Gota D’Água, de Paulo Pontes e Chico Buarque (adaptação da tragédia Medéia, de Eurípedes, para os morros cariocas), com direção de Gianni Ratto, recebeu o prêmio Molière em 1975.

Bibi tinha ascendência portuguesa, espanhola e argentina. Ela nasceu no Rio em 1º de julho de 1922, filha do ator Procópio Ferreira e a bailarina Aida Izquierdo. Sua estreia nos palcos, do qual nunca iria sair por quase toda a sua vida, foi com apenas 24 dias. Em cena, ela apareceu no colo da madrinha, Abigail Maia, em encenação de Manhãs de sol, de Oduvaldo Vianna (1892-1972). Bibi substituiu uma boneca que seria usada na peça e desapareceu pouco antes do início do espetáculo.

Conta que ela foi morar na Espanha com a mãe depois da separação dos pais e lá estudou balé. De volta ao Brasil, não foi aceita no tradicional Colégio Sion, no Rio de Janeiro, por ser herdeira de um artista de teatro. Procópio então bancou os estudos em Londres.

Sua estreia profissional ocorreu no Brasil, em 1941, no papel da esfuziante Mirandolina, da peça La locandiera, de Carlo Goldoni. Três anos depois monta sua própria companhia, por onde passaram nomes como Cacilda Becker, Maria Della Costa, Henriette Morineau, Sérgio Cardoso e Nydia Licia. Foi uma das primeiras mulheres a dirigir teatro no Brasil.

Por Piaf, a Vida de uma Estrela da Canção, recebeu os prêmios Mambembe e Molière, em 1984 e da Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (APETESP) e Governador do Estado, em 1985. Nos primeiros quatro anos, dos seis que ficou em cartaz, o espetáculo atingiu a marca de um milhão de espectadores.

Bibi foi casada seis vezes. Com Carlos Lage, Armando Magno, Herval Rossano, Edson França, Paulo Porto e Paulo Pontes. A artista teve uma única filha com o ator Armando Carlos Magno: Tereza Cristina Izquierdo Magno.

Em março do ano passado, já com 95 anos, a artista foi conferir o espetáculo Bibi: uma vida em musical. Ficou emocionada com a peça escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, com direção de Tadeu Aguiar e com interpretação de Amanda Costa, e cantou sem microfone, uma música de Edith Piaf (1915-1963).

Artista multimídia, Bibi ao longo da carreira fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows. Essa artista fascinante deixa o exemplo mais perfeito de amor e dedicação a essa arte.

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