Poética contra a violência

Fotos: Ivana Moura

Os depoimentos após a sessão do espetáculo Véu, uma poética do só davam o tom da urgência de discussão. A discussão começou tímida, mas depois tomou forma e todos queriam participar. O tema: a violência contra a mulher. Homens e mulheres jovens apresentaram seus pontos de vista e suas experiências de atores e testemunhas, de histórias reais, onde a covardia comparecia como protagonista.

O teatro que abrigou esse experimento foi um galpão no centro histórico de Igarassu, na última sexta-feira. Uma roda formada por pessoas do local, algumas até com filhos de colo, acompanharam a performance do baiano Luiz Antônio Jr.

No centro, um ator, uma bacia de alumínio com água, algumas velas, bonecas de pano e poucos adereços cênicos. Lá fora, o som dos carros que seguiam seus destinos indiferentes, as conversas na calçada, o som do boteco. Dentro do Centro de Artes e Cultura Poeta Manoel Bandeira (Avenida Joaquim Nabuco, s/n, no Centro, próximo à Igreja de São Sebastião), ocorria a magia do teatro.

Luiz Antônio Jr. usa bonecas de pano no espetáculo

Uma garotinha abusada pelo tio, uma mulher espancada pelo marido, uma menina estuprada por um desconhecido, um homem que mata a esposa com requinte de crueldade ou sinais de insanidade. A impunidade. Casos tão reais que nem parece ficção. Ou você nunca ouviu (ou viu) na família, na vizinhança, no círculo de amigos, nenhuma história de violência contra a mulher?

Com uma narrrativa entrecortada, Luiz Antônio Jr explorou as diversas situações e fez, inclusive, uma crítica às músicas (das cachorras, da rã, etc.) que incentivam de alguma forma a desvalorização do ser humano. A plateia riu – mas ouviu o que estava sendo dito.

A pesquisa pode crescer com outras demonstrações. Mas o que foi visto em Igarrassu já apresenta imagens bonitas, movimentos de corpos que expõem beleza e reflexos da pesquisa em teatro físico feita pelo ator. A dramaturgia parece que precisa de um pouco mais de harmonia ou amarração, o que vem sendo testado nesse processo de construção, que começou em 2007, quando o tema foi escolhido pelo ator durante um curso de teatro.

Apresentação foi em Igarassu

A construção do texto veio da parceria com Ana Paula Carneiro, que também assina a assistência de direção, cuidou da iluminação e, depois do espetáculo, ainda aqueceu o debate com seus depoimentos e questionamentos. Eduardo Machado, atualmente aluno de direção na Universidade Federal da Bahia, organizou a apresentação em Igarrassu. Quem também apareceu por lá foi o ator Adriano Cabral.

É a segunda vez que o espetáculo Véu, uma poética do só é apresentado em Pernambuco. Em dezembro do ano passado, esteve em Tuparetama. Já passou, aliás, por doze cidades nordestinas. Ainda este mês, poderá ser visto em Ilhéus e Alagoinhas, na Bahia.

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