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A falsa brasileira rodou a baiana na cara da ditadura

Sorriso largo, alegria de viver e uma vivacidade contagiante são legados que atriz e cantora Elke Maravilha deixa para os seus fãs. E isso vai fazer falta. Ela sabia que a alegria também liberta. Sempre bem arrumada, maquiada com sua voz grave e forte e aquele sorriso acolhedor. Nada mais apropriado do que ser chamada de Maravilha.

Elke Grunnupp nasceu na Rússia, em 1945. Veio para o Brasil fugida da guerra ainda criança com a família, para morar em Minas Gerais.

Foi modelo e manequim. Também secretária, bibliotecária, bancária, professora e tradutora. Começou a carreira na televisão na Discoteca do Chacrinha. Depois fez novelas, filmes e espetáculos de teatro. Uma das últimas aparições na televisão foi no quadro O Grande Plano, do Fantástico, em dezembro do ano passado.

Era poliglota, sabia falar oito línguas: russo, alemão, inglês, francês, italiano, espanhol, grego e português. Escrachada, culta, politizada, humanitária. Com aquele seu jeitinho sempre tinha uma palavra de incentivo e nunca se soube que ela humilhou ninguém.

Engajou-se na luta contra a Ditadura Militar, e ao lado de Zuzu Angel denunciou o desaparecimento do filho da estilista, Stuart Angel, assassinado na Base Aérea do Galeão, no Rio. Passou seis dias presa por desacato, após rasgar um cartaz de procurado com a foto de Stuart.

A artista veio ao Recife no início do ano, com o espetáculo Elke canta e conta, com direção de Ruben Curi, dentro da programação do 22º Janeiro de Grandes Espetáculos. Acompanhada do músico Adriano Salhab ela narrou vivências e histórias que pareciam de pescador e cantou um repertório de canções em alemão, grego, espanhol e português.

Um altar uma trilha Russa de nascimento, Elke soube expressar como poucos o Brasil das misturas, da alegria e do sofrimento

Russa de nascimento, Elke soube expressar como poucos o Brasil das misturas, da alegria e do sofrimento

No perfil da artista no Facebook, foi postada a mensagem na terça pelo administrador da página:
“Avisamos que nossa Elke já não está por aqui, conosco. Como ela mesma dizia, foi brincar de outra coisa. Que todos os deuses, que ela tanto amava, estejam com ela nessa viagem. ‘Eros anikate mahan’ (O amor é invencível nas batalhas). Crianças: conviver é o grande barato da vida, aproveitem e convivam.”

Aos 71 anos, a artista morreu no Rio de Janeiro, no início da madrugada da terça-feira (16/08).Ela estava internada na Casa de Saúde Pinheiro Machado, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, desde o dia 20 de junho. Elke foi operada de uma úlcera, ficou em coma induzido, mas não se recuperou.

Como aclamou Itamar Assunção: Uma prenda / Ogã um pilar / O ar mãe e filha… Foto: Reprodução do Facebook

Casou-se várias vezes. Foi rainha de associação de prostitutas no Rio, madrinha dos veados. Veio ao mundo para brilhar. E viveu a vida intensamente. Como na música de Itamar Assumpção.

Elke mulher maravilha
Uma negra alemã um radar
Um mar uma pilha
Elke mulher maravilha
Uma branca maçã avatar
Um luar uma ilha
Elke mulher maravilha
Uma deusa pagã um sonar
Um altar uma trilha
Elke mulher maravilha
Uma prenda Ogã um pilar
O ar mãe e filha

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