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Estratégias do teatro de periferia de São Paulo

O Ensaio Invisível, do Coletivo de Teatro Off Off Broadway, integra Mostra Teatro em Trânsito. Foto Bianca Fina / Divulgação

Refinaria Teatral apresenta trechos de quatro peças. Foto: Divulgação

Pirajussara do Bando Trapos, Foto: Will Cavagnolli / Divulgação

Pulsa mais arte da cena em São Paulo do que possa imaginar os circuitos centralizais. Feliz exemplo disso é a segunda edição da Mostra Teatro em Trânsito, que promove a circulação de oito coletivos parceiros em16 apresentações, por oito endereços da cidade. A ideia é movimentar trabalhos artísticos da capital paulista e realizar intercâmbio entre os grupos participantes. A programação ocorre durante os finais de semana entre março e abril.

Integram a programação os espetáculos Show do Pimpão, da Brava Companhia; O Ensaio Invisível, do Coletivo de Teatro Off Off Broadway; Mitos e Lendas Caiçara, da Cia. O Castelo das Artes; e Pirajussara: Vozes à margem, do Bando Trapos. E os infanto-juvenis Ladeira das Crianças – Teatro Funk, do grupo Rosas Periféricas e Menina Bonita do Laço de Fita em Ritmo de Palhaçaria, da Companhia de Teatro Flor do Asfalto. Além de Compendiado Refinaria, com cenas de um novo trabalho da Refinaria Teatral e uma ação cênica da atual pesquisa da Companhia de Teatro Heliópolis, com texto de Dione Carlos. 

O projeto Teatro em Trânsito é idealizado pela CTI – Cia. Teatro da Investigação e pode ser acompanhado de 5 de março a 24 de abril. A entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados uma hora antes de cada sessão.

A Mostra Teatro em Trânsito faz parte do Teatro-Baile, uma poética em construção, o caminho se faz caminhando, uma estratégia de difundir e democratizar o acesso à cultura. Os grupos colaboradores se exibem em bairros diferentes de suas sedes, servindo como troca entre essas trupes.

O deslocamento das companhias é realizado pela SARAVAN (como é chamada a van da CTI). No percurso para o espaço das apresentações a SARAVAN vira SARAWEB (uma entrevista online, transmitida pelo Instagram da CTI – @teatrobaile), no intuito de dar mais visibilidade às companhias. Essas conversas serão incluídas no documentário sobre o projeto.

As informações com toda a programação, horários e locais estão em www.teatrobaile.com. O projeto recebeu o apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.

II Mostra Teatro em Trânsito
De 05 de março a 24 de abril de 2022
Grátis
Retirada de ingressos uma hora antes de cada sessão, nos locais de apresentação
Mais informações em www.teatrobaile.com

Grupo Rosas Periféricas apresenta Ladeira das Crianças – Teatro Funk. Foto: Divulgação

Ladeira das Crianças – Teatro Funk, com grupo Rosas Periféricas
Duração: 50 minutos
Classificação: Livre
Criação e Direção: O Grupo
Dramaturgia: Marcelo Romagnoli
Elenco: Rogerio Nascimento, Mônica Soares, Gabriela Cerqueira, Paulo Reis e Michele Araújo
As histórias de crianças periféricas ganham a cena e revelam seus desejos e sonhos, embalados pelo ritmo do funk.
Rosas Periféricas é um grupo de teatro que desenvolve suas pesquisas em São Paulo desde 2008. Tem sede no Parque São Rafael. Os temas dos trabalhos pulsam da periferia onde vivem: desigualdade social, machismo, feira livre etc

Brava Companhia participa com Show do Pimpão – Uma intervenção cênica (ou cínica). Foto Divulgação

Show do Pimpão – Uma intervenção cênica (ou cínica), da Brava Companhia
Duração: 55 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Concepção cênica: Show do Pimpão
Direção e Dramaturgia: Ademir de Almeida 
Direção Musical: Joel Carozzi 
Elenco: Fábio Resende, Max Raimundo e Márcio Rodrigues
Três miseráveis artistas se juntam para tentar arrecadar algum que lhes garanta a refeição do dia. Fazer graça com a própria desgraça foi o que lhes restou como forma de sobrevivência.
A Brava Companhia de Teatro foi fundada em 1998 e suas atividades e apresentações usam o teatro para combateras injustiças, desigualdades e violência nas periferias da cidade.

O Ensaio Invisível. Foto Bianca Fina / Divulgação

O Ensaio Invisível, com Coletivo de Teatro Off Off Broadway (exibição e bate-papo)
Duração: 35 minutos
Classificação: 18 anos
Direção e Dramaturgia: Samanta Precioso 
Direção Musical: Gustavo Sarzi
Elenco: Morgana Sales, Fábio Teixeira, Carla Zanini, Fernanda Faria, Josias Fabian e Guigo Ribeiro
Direção de Movimento:Felipe Cirilo
Voz: Mila Valle
Produção Executiva: Lia Levin 
Vídeo e Arte Gráfica: Natasha Precioso e Bianca Fina 
Direção de Arte: Hobjeto
Num futuro distópico marcado por um acidente não identificado, um grupo de pessoas encontra-se clandestinamente para usufruir do toque, do afeto, e da presença física, correndo riscos em nome do que sentem. O espectador pode apenas assistir participar ativamente deste experimento cênico.
O Coletivo de Teatro Off Off Broadway é um grupo de 19 anos de trajetória, oriundo da fundação do Programa Teatro Vocacional. Depois de aventurar-se pela linguagem do palhaço e da rua, o grupo debruça-se, em sua pesquisa atual, sobre a escuta e atuação junto aos moradores em situação de rua tentando entender as narrativas de invisibilização e marginalização de alguns corpos.

Mitos e Lendas Caiçara. Foto: Divulgação

Mitos e Lendas Caiçara, com a Cia. O Castelo das Artes
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: livre
Dramaturgia e Direção teatral: Henrique Cardim
Elenco: Henrique Cardim, Jessyca Biazini, Mário Farias e André Nunes
A peça reúne histórias contadas por caiçaras, passadas de pais para filhos, registradas em livros, e que não podem cair no esquecimento. A companhia leva ao palco as mais conhecidas lendas e mitos da cidade de São Sebastião, entre elas, A Lenda do Amor, A Lenda do Boi que Falou, O Dia que o Santo Pecou, como também contos de lobisomem, de pescador, entre outros.
A Cia. O Castelo das Artes é uma evolução do Grupo Artístico Fazarte, de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. O grupo teve início em 2004 e, além de diversos espetáculos teatrais, tem mais de 10 anos de pesquisa sobre a cultura caiçara e o teatro popular, o que resultou em peças, como “O dia que eu peguei o lobisomem” e “Caiçaras: o povo do mar”.

Pirajussara , com o Bando Trapos. Foto: Will Cavagnolli

Pirajussara: Vozes à margem, com Bando Trapos
Duração: 75 minutos
Classificação indicativa: livre
Orientação dramatúrgica: Rudinei Borges 
Direção: Cleydson Catarina 
Assistência de direção: Eduarda Alves 
Elenco: Daniel Trevo, Dêssa Souza, Deco Morais, Joka Andrade, Stefany Veloso, Welton Silva
São releituras de histórias de moradores da região de Campo Limpo e Taboão da Serra em fragmentos criados pelos atores do grupo em período de afastamento social.
Bando Trapos mescla a pesquisa em torno do universo da máscara e os trabalhos de arte-educação com a linguagem do teatro de rua, do bufão e da cultura popular vivenciadas no bairro do Campo Limpo – Zona Sul da Cidade de São Paulo.

Companhia de Teatro Heliópolis apresenta pesquisa. Foto: Divulgação 

Ação cênica sobre a atual pesquisa do grupo sobre o Cárcere, com Companhia de Teatro Heliópolis
Duração: 30 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: Miguel Rocha 
Texto: Dione Carlos 
Elenco: Dalma Régia, Davi Guimarães e Walmir Bess
Ação cênica da atual pesquisa do grupo Cárcere- Aprisionamento em Massa e seus Desdobramentos.
A Companhia de Teatro Heliópolis, em 20 anos de existência, realizou 11 espetáculos, criados em diálogo com os anseios e as vivências que permeiam a realidade de Heliópolis. 

Companhia de Teatro Flor do Asfalto apresenta  versão de texto de Maria Clara Machado. Foto: Divulgação

Menina Bonita do Laço de Fita em Ritmo de Palhaçaria, com Companhia de Teatro Flor do Asfalto
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: livre
Inspirado na obra de Maria Clara Machado 
Adaptação do Texto e Direção: Wagner Gama
Mostra a relação de admiração entre um coelho branco e uma menina negra. Nessa adaptação, três palhaços encontram o livro de Ana Maria Machado e decidem contar a história ao público, para falar sobre racismo estrutural e ancestralidade.
A Companhia de Teatro Flor do Asfalto nasceu no Verão de 2017 e funciona na Zona Leste de SP, com sede na Ocupação Cultural Instituto Reação Arte e Cultura. Com a orientação do dramaturgo e diretor Wagner Gama o grupo se consolidou, realizando diversos trabalhos, com destaque para a montagem de Vidas Secas.

Compêndio de quatro personagens interpretadas por Ana Szcypula, da Refinaria Teatral. Foto Divulgação

Compendiado Refinaria, com Refinaria Teatral
Duração: 30 minutos
Classificação: 14 anos
Direção e encenação: Daniel Alves Brasil 
Atuação: Ana Szcypula
Uma mesma atriz, quatro personagens, quatro encenações, quatro obras: Yeong-Gam, Meid In Brazilian, Porque as mulheres choram e Espelho.
Refinaria Teatral surge em meados de 2008 como um núcleo de investigação prática autodidata. Em 2010 estreia sua primeira obra, a peça “Espelho” e a partir daí inicia uma série de intercâmbios com grupos internacionais e nacionais e tem no currículo 11 peças. 

Serviço

II Mostra “Teatro em Trânsito”
De 05 de março a 24 de abril de 2022
Grátis
retirada de ingressos uma hora antes de cada sessão, nos locais de apresentação
Mais informações em www.teatrobaile.com

Ladeira das Crianças – Teatro Funk, com grupo Rosas Periféricas
5 de março de 2022, sábado, 16h
Praça Irmãs Nilza e Rosilene (em frente à igreja católica) – Jardim Macedônia
6 de março de 2022, domingo, 16h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)

Show do Pimpão, com Brava Companhia
12 de março de 2022, sábado, 16h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)
13 de março de 2022, domingo, 11h
Centro Cultural Arte em Construção (Av. dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes)

O Ensaio Invisível, com Coletivo de Teatro Off Off Broadway (exibição e bate-papo)
19 de março de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)
20 de março de 2022, domingo, 16h
Sede Rosas Periféricas (Rua Redução de Guarambaré 39 – Jd.Vera Cruz)

Mitos e Lendas Caiçara, com a Cia. O Castelo das Artes
26 de março de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)
27 de março de 2022, domingo, 11h
Centro Cultural Arte em Construção (Av. dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes)

Pirajussara: Vozes à margem, com Bando Trapos
2 de abril de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)
7 de abril de 2022, quinta-feira, 20h
Casa de Teatro – Maria José de Carvalho (Rua Silva Bueno, 1533, Ipiranga) 

Ação cênica sobre a atual pesquisa do grupo sobre o Cárcere, com Companhia de Teatro Heliópolis
14 de abril de 2022, quinta-feira, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)
19 de abril de 2022, terça-feira, 20h
Trapos Espaço Cultural CITA (Rua Aroldo de Azevedo, 20 – Campo Limpo)

Menina Bonita do Laço de Fita em Ritmo de Palhaçaria, com Companhia de Teatro Flor do Asfalto
16 de abril de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)
17 de abril de 2022, domingo, 16h
Refinaria (R. João de Laet, 1507 – Vila Aurora) 

Compendiado Refinaria, com Refinaria Teatral
23 de abril de 2022, sábado, 20h
Sede CTI – Teatro-baile (Rua Oti, 212 – Vila Ré)
24 de abril de 2022, domingo, 16h
Reação Arte e Cultura (Rua Giácomo Quirino 76 – Conjunto José Bonifácio)

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Poética de Hilda Hilst abre Festival Gambiarra

Fabiana Pirro em Obscena – Um Encontro com Hilda Hilst. Foto: Divulgação

Quarteto do Coletivo Gambiarra: Hugo Coutinho, Olga Ferrario, Dea Ferraz e Cláudio Ferrario. Foto Reprodução do Facebook

No horizonte, atualizada praticamente em tempo real pelas redes e telas, uma guerra esdrúxula ameaça a todes, em camadas diversas. Tempos medonhos, sem Carnaval, com pandemia, com o infame brasileiro e seus asseclas a prosseguir o desmonte político das artes e da cultura, da ciência e da cidadania, a ameaçar a floresta, violar direitos dos povos originários. Enquanto a fome de alimentos, de dignidade, de vergonha na cara se alastra pelo país, os partidários da necropolítica atentam contra a vida com suas canetadas e votações imorais de projetos de lei, fundos eleitorais com o Supremo com tudo…

Mas nesse cenário é preciso despertar corações e mentes, ficar atentes porque bombas explodem de todo lado.
Nesse cenário é preciso fazer o que se sabe de melhor.
O Coletivo Gambiarra, com sede em Gravatá – Pernambuco, abriu os paraquedas coloridos (imagem-proposta de Ailton Krenak, em Ideias para adiar o fim do mundo) e articula o Festival Gambiarra.

Uma investigação poética da obra de Hilda Hilst abre os caminhos. Obscena – um encontro com Hilda Hilst, interpretado pela atriz Fabiana Pirro é apresentado na plataforma Zoom nesta sexta-feira (04/03), com ingressos esgotados, e sábado (05/03), à 20h. O Festival Gambiarra conta ainda com as atrações O Último Encontro do Poeta com a sua Alma, com Claudio Ferrario e Olga Ferrario (18/03, sexta-feira, às 20h), Avós, com Olga Ferrario (08/04, sexta-feira, às 20h) e Opá, com Lívia Falcão (22/04, sexta-feira, às 20h).

Fabiana Pirro trabalha a loucura e a estranheza das figuras de Hilda Hilst. Foto Divulgação

Líria, personagem interpretada por Fabiana Pirro, é uma mulher madura, incendiada de desejos; uma figura independente, febril e poderosa como as figuras femininas criadas por Hilda Hilst. No seu fluxo de consciência fragmentado, a personagem-narradora experimenta os ânimos do sagrado e do profano, em cruzamentos de presenças e ausências.

A vida da escritora traz disparadores para a atriz somar com sua vivência, das referências da força masculina de pai, filho e Deus. “Quando em 2013 comecei a adentrar na poesia da Hilda, fiquei muito impressionada. Vi que ela se tornou escritora para dar continuidade à obra do pai Apolonio de Almeida Prado Hilst, como eu também queria fazer algo no teatro para o meu pai. Ela veio como uma luz”, testemunha Fabiana Pirro.

O projeto de Obscena começou em janeiro de 2014 com uma minuciosa pesquisa sobre a poética de Hilda Hilst feita por Fabiana Pirro e Luciana Lyra. Intérprete e diretora passaram uma temporada na Casa do Sol – chácara em Campinas (SP) onde a escritora viveu, e que hoje funciona como o Instituto Hilda Hilst. Obscena estreou no Recife em janeiro de 2015. No mesmo ano viajou para a Paraíba, Portugal e Ceará.

Coletivo Gambiarra: criação em família, arte e transformação. Foto Divulgação

O Coletivo Gambiarra foi criado em 2020, em Gravatá, Pernambuco, no auge do isolamento social causado pela pandemia da Covid-19 para desenvolver experimentações de linguagens em formato híbrido, da interseção entre a tecnologia, o teatro e o cinema.

O quarteto do Gambiarra é composto pelo ator Cláudio Ferrario, pela atriz Olga Ferrario, pelo músico Hugo Coutinho e pela cineasta Dea Ferraz.  Eles apontam que a experiência é como um atravessamento entre teatro e cinema, feita pelo jogo cênico da câmera de Dea Ferraz (Câmara de EspelhosSete Corações), que filma ao vivo, em plano sequência como “um olho-corpo presente e atuante”. A imagem ganha contornos sensoriais, que permite uma aproximaçãode presença, apesar da virtualidade.

As imagens são construídas, decupadas e ensaiadas como cenas de um filme, mas tudo ao vivo, compartilhado com o público, com o risco do erro e da falha, próprios do teatro.

O Festival Gambiarra foi aprovado na Lab Recife, Edital Joel Datz.

PROGRAMAÇÃO

Fabiana Pirro. Foto: Divulgação

Obscena – Um Encontro com Hilda Hilst – Fabiana Pirro
4 e 5 de março (sexta-feira e sábado), às 20h

Criado para o teatro, o espetáculo Obscena – um encontro com Hilda Hilst, com a atriz Fabiana Pirro, chega ao CineTeatro Gambiarra e ganha nova leitura. Agora traduzido para essa linguagem híbrida entre o teatro e o cinema.

Claudio Ferrario e Olga Ferrario. Foto: Divulgação

O Último Encontro do Poeta com a Sua Alma – Claudio Ferrario e Olga Ferrario
18 de março (sexta-feira), às 20h

Num diálogo intenso e profundo, acompanhamos o poeta num encontro com a sua alma. Ele repassa a vida que teve, seus caminhos, os medos, as escolhas amorosas e suas entregas.

Olga Ferrario. Foto: Déa Ferraz / Divulgação

Avós – Olga Ferrario
8 de abril (sexta-feira), às 20h

A vida é uma espiral em movimento e a peça faz um mergulho em sentimentos, aprendizados, nascimentos e mortes. Uma experimentação poética sobre os ciclos.

Lívia Falcão em Opá. Foto Divulgação.

Opá – Lívia Falcão
22 de abril (sexta-feira), às 20h

A Palhaça de Lívia Falcão, Xamãe Zanoia, é uma benzedeira antiga, descendente direta da xamã mais velha, de terras distantes. Um lugar de abundâncias e milagres, de onde veio sua voz e a sua Opá. Xamãe Zanoia usa de seus poderes mágicos e entra na virtualidade para conectar-se com os inúmeros mundos à sua volta, fazendo de sua Opá um lugar de encontro, riso, leveza, cura e amor.

Serviço:
Obscena – um encontro com Hilda Hilst (solo com a atriz Fabiana Pirro)

Quando: Sábado (5 de março), às 20h
Quanto: R$ 15 (social), R$ 30 (sugerido) e R$ 50 (abundante)
Bilheteria virtual: wapp (81) 995297939
Mais informações no perfil do Instagram @cineteatrogambiarra.

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Ciência versus religião:
um debate acalorado entre Freud e CS Lewis

Odilon Wagner, Claudio Fontana e Elias Andreato, atores e diretor de A Última Sessão de Freud. Foto: João Caldas Fº / Divulgação

Peça faz temporada no Itaú Cultural. Foto João Caldas Filho

Pelo que se sabe, Sigmund Freud (1856 – 1939) e o irlandês CS Lewis (1898 – 1963) nunca se conheceram. Mas o dramaturgo norte-americano Mark St. Germain deu um jeito desse encontro acontecer. Foi em 3 setembro de 1939, numa Londres prestes a receber os ataques aéreos alemães, dia em que a Inglaterra ingressou na Segunda Guerra Mundial. Os dois homens estavam no limite, sabendo que Hitler poderia bombardear Londres a qualquer minuto. Isso era algo aterrorizante para os dois personagens: o refugiado judeu de 83 anos que havia fugido da perseguição nazista na Áustria e o veterano da Primeira Guerra Mundial, de 40 anos.

Nesse encontro fictício, o pai da Psicanálise e o crítico literário debatem a questão de Deus, no espetáculo A Última Sessão de Freud, em temporada de 3 a 27 de março de quinta-feira a domingo, no Itaú Cultural. A montagem reúne os atores Odilon Wagner e Claudio Fontana, sob direção de Elias Andreato

O autor St. Germain se inspirou no livro Deus em Questão, de Armand M.Nicholi Jr, professor clínico de psiquiatria da Harvard Medical School. Na peça, o debate entre os dois intelectuais se move em torno dos argumentos de razão e crença. De um lado, a filosofia racionalista e ateia de Freud, do outro apologia cristã de Lewis.

O cenário é o consultório onde Freud – crítico implacável da crença religiosa – desenvolvia sua psicanálise e seus estudos. Os dois conversam de forma apaixonada sobre o dilema entre ateísmo e a crença em Deus. Lewis, renomado professor de Oxford, se apresenta como ex-ateu e influente defensor da fé baseada na razão.

A Última Sessão de Freud é um jogo de ideias. Mais além do conflito entre ciência e religião, os dois intelectuais expandem o embate por outros assuntos, como música, Hitler, relações humanas, morte e até a flatulência. Eles fazem piadas, se criticam mutuamente. Lewis recrimina Freud por ser obcecado por sexo; Freud caçoa da reverência de Lewis à autoridade. O diretor Elias Andreato apostou no poder da palavra nessa encenação. O debate promete.

A última sessão de Freud. Foto João Caldas Filho

FICHA TÉCNICA:
Texto: Mark St. Germain
Tradução: Clarisse Abujamra
Direção: Elias Andreato
Assistente de Direção: Raphael Gama
Elenco: Odilon Wagner (Sigmund Freud) e Claudio Fontana (C.S.Lewis)
Cenário e figurino: Fábio Namatame
Assistente de cenografia: Fernando Passetti
Desenho de Luz: Gabriel Paiva e André Prado
Trilha Sonora: Raphael Gama
Arte Gráfica: Rodolfo Juliani
Fotografia: João Caldas
Iluminador: Cauê Gouveia
Sonoplasta: André Omote
Coordenador Geral de Produção: Ronaldo Diaféria
Direção de produção: Claudia Miranda
Assistente de produção: Marcos Rinaldi
Diretor de palco: Tadeu Tosta
Contra-Regra: Vinicius Henrique
Mídias Sociais: Rodrigo Avelar
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produtores Associados: Diaféria Produções e Itaporã Comunicação

SERVIÇO
A Última Sessão de Freud
Temporada de 3 a 27 de março (sempre de quinta-feira a domingo)
Quinta-feira a sábado às 20h, e domingo às 19h
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 90 minutos
Sala Itaú Cultural (Piso Térreo)
Capacidade: 156 lugares
Entrada gratuita
Reservas de ingressos pela plataforma Inti – acesso pelo site do Itaú Cultural
www.itaucultural.org.br

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Cássia Kis interpreta Manoel de Barros

Meu quintal é maior do que o mundo, solo com Cássia Kis, com direção de Ulysses Cruz. Foto Ronaldo Gutierrez / Divulgação

A atriz inunda o palco de lirismo. Foto Luiz Romero / Divulgação

Cássia Kis e o músico Gilberto Rodrigues. Foto Nicolas Caratori / Divulgação

“Meu quintal é maior do que o mundo” é um verso do poema O apanhador de desperdícios. Nessa poesia, Manoel de Barros (1916-2014) propõe uma pausa na urgência voraz e agiganta seu terreiro para contemplar o ritmo de vida das “coisas desimportantes”. A atriz Cássia Kis leva esse olhar do encantamento, da imaginação e da inventividade ao palco do Teatro Vivo no espetáculo Meu quintal é maior do que o mundo, em cartaz de 4 a 27 de março de 2022 (sextas-feiras às 20h, sábados às 21h e domingos às 18h).

A peça estreou em janeiro de 2019, no Teatro do Sesi, marcando a volta da atriz aos palcos depois de 10 anos (sua última peça foi O Zoológico de Vidro, de 2009).

Como anotou Antônio Houaiss, a invenção poética de Manoel de Barros tem personalidade própria rara entre os nossos poetas. São palavras confundidas com imagens, que chegam para “desexplicar”. Poesia formada de restos, de sobras, que consegue com sensualismo poético “encostar o Verbo na natureza”.

Na invencionice do essencial, a intérprete anima a alma da criança, do amante dos passarinhos e do andarilho, fontes criativas do poeta. Com leveza e humor, a atriz cria um ambiente íntimo com a plateia para revelar o profundo humanismo de Manoel de Barros.

O solo de Cássia Kis tem direção de Ulysses Cruz, participação do músico Gilberto Rodrigues e está dividido em três blocos: o primeiro contempla o cenário e o espaço mítico do poeta; o segundo expõe a pessoa que descreve aqueles cenários e o terceiro indica o que inspira o escritor.

O universo poético do cerrado brasileiro é exposto em textos curtos do livro de prosa Memórias Inventadas, publicado em 2005. As mudanças de blocos são marcadas pela execução musical, alterações de cenário e iluminação e acréscimo de adereços ao figurino básico. 

O espetáculo Meu quintal é maior que o mundo está repleto de delicadezas. Com mutações de registro vocal, de posturas e do desenho coreográfico, a atriz investiga a vitalidade do poeta que cantou a Natureza e que nos convida a expandir a capacidade de observação e empatia com o cotidiano prosaico e repleto de generosidade, com suas pequenas explosões de alegrias e suas inevitáveis angústias.

Leitora atenta e conhecedora da obra de Manoel de Barros, Cássia se tornou amiga do poeta mato-grossense e inunda o palco de lirismo. A peça incita o espectador a navegar pelas frases originais, o estilo único como Barros compôs essas palavras, tão plenas de vida.

Cássia Kis. Foto Ronaldo Gutierrez / Divulgação

Ficha Técnica
Obra: Manoel de Barros.
Elenco: Cássia Kis.
Direção geral: Ulysses Cruz.
Adaptação do texto: Cássia Kis e Ulysses Cruz.
Cenário e figurinos: Ulysses Cruz.
Direção e criação musical: Gilberto Rodrigues.
Execução musical: Gilberto Rodrigues.
Iluminação: Nicolas Caratori.
Fotos: Ronaldo Gutierrez, Gal Oppido e Luiz Romero.
Direção de Movimento: Cynthia Garcia.
Costureira: Judite de Lima.
Adereços: Luis Rossi.
Coordenação da Produção: Selene Marinho e Sergio Mastropasqua.
Produtora Executiva: Isabel Gomez.
Produção Original: SESI – SP.
Projeto selecionado no Edital Proac Expresso Direto nº 37/2021 – Fomento Direto a Projetos Culturais Aprovados no Proac Expresso ICMS em 2020 e 2019.

Serviço
Meu Quintal é Maior do que o Mundo
Quando: De 4 a 27 de março de 2022 – Sextas-feiras às 20h, sábados às 21h e domingos às 18h.
Onde: Teatro Vivo – Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460 – Morumbi
Quanto: R$ 60,00 (inteira) R$ 30,00 (meia).
Duração: 70 minutos.
Classificação: Livre.
Informações: (11) 3279-1520. Vendas pelo site Ingresso Rápido.

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Morte e Vida Severina na visão do Magiluth

Estudo1 Morte e vida. Foto: Vitor Pessoa / Divulgação

Pernambuco é um celeiro de escritores e poetas, com obras importantes para a literatura brasileira. João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é um dos grandes, adverte de cara o ator Giordano Castro ao ser perguntado sobre a escolha do texto. O centenário do poeta pernambucano ocorreu em 2020 no auge do isolamento social. Se o mundo não tivesse parado, a montagem do Grupo Magiluth inspirada em Morte e Vida Severina – Um Auto de Natal teria estreado para celebrar os 100 anos do autor de O Cão Sem Plumas. Muita coisa pifou com a pandemia da Covid-19. O trabalho do Magiluth, que primeiro seria um espetáculo de rua, ganhou outras feições durante esse percurso. Chega ao palco do Teatro Ipiranga, em São Paulo, como Estudo Nº1: Morte e Vida.

Com encenação de Luiz Fernando Marques, Lubi, parceiro da trupe pernambucana desde 2012 e diretor dos espetáculos Aquilo que meu olhar guardou para você e Apenas o Fim do Mundo, esse último juntamente com Giovana Soar, essa quase “peça-palestra”, vale-se do livro como disparador para discussões das migrações contemporâneas, a questão climática, da seca, e a repercussão na vida de pessoas de várias partes do planeta. Perpassada pela política, a montagem expande a figura do Severino para fluxos mundiais de deslocamentos.

O estudo do título expõe elementos que muitas vezes ficam ocultos nas encenações, como os sistemas de som e luz. A direção musical é de Rodrigo Mercadante, que reforça a ideia dos ciclos de vida e morte da peça em sua trilha, com sonoridades originais e músicas de artistas do punk e do hardcore de Pernambuco.

O retirante Severino, protagonista da peça cabralina, se apresenta como sujeito individual e coletivo. Ao investigar as migrações forçadas, o Estudo Nº1: Morte e Vida cavouca as perspectivas geográficas, simbólicas e humanas dos impulsos que se deslocam.

Entrevista || Giordano Castro 

Por que João Cabral?

É importante levar em consideração que Pernambuco é um estado com muitos escritores, muitos poetas que têm uma obra importantíssima para a literatura brasileira. E de um caráter estético muito inovador e peculiar. Cada um tem uma identidade muito forte. Dentre eles, João Cabral é um dos que chama bastante atenção para a gente por causa da questão do rebuscamento da própria escrita. Algo que ele levava com muito cuidado e muita atenção. Ele é conhecido por ser um poeta que lapidava muito os seus trabalhos e que ainda assim conseguia manter uma dureza naquilo ele falava.

Para nós, Morte e Vida Severina – apesar de ser uma obra que João Cabral não era muito carinhoso por ela – guarda uma célula muito potente de apontamentos de caminhos para abrir discussões. É como se dentro daquele poema-peça ele abrisse muitas questões. Ele não fala apenas sobre um homem que se vê na necessidade de migrar por problemas naturais e da seca, o que não seria pouca coisa, mas ele coloca questões sobre o trabalho, sobre o próprio homem, sobre a característica desse homem, sobre a terra, sobre a reforma agrária. Enfim, são muitos apontamentos e talvez esse trabalho tenha chamado a atenção da gente por causa disso. E dentro do Magiluth cada um foi atravessado por algo diferente, então acaba sendo uma poesia muito plural de abordagem. E a própria palavra, a forma como ele, João Cabral, como escolhe as palavras dentro do seu poema e como aquelas palavras têm uma maneira de organizar aquela poesia. A escolha foi por uma questão estética mesmo e também por uma questão política.

As migrações e travessias são marcas de cada tempo, que traduzem colonizações e buscas por territórios. Como o Magiluth atualiza esses movimentos nesta montagem?

As questões de migração e de travessia como você fala, de fato, são coisas que continuam acontecendo. Desde a ideia da existência humana até os dias de hoje a necessidade de migrar se faz. A gente sempre entende isso como um movimento político. Nas migrações hoje temos encontros com outros Severinos. O Severino que João Cabral aborda, nordestino, ganha ares mundiais. A gente entende hoje que os Severinos não são somente outros sotaques, mas outras línguas. As questões climáticas que fizeram com que o Severino do Morte e Vida saísse da sua região, hoje atinge e vai continuar atingindo e piorando para cada vez mais outras pessoas. Serão outros Severinos saindo de Quiribati, que vão começar a sair das cidades mais baixas do mundo depois do aquecimento global, com o derretimento das geleiras e o aumento dos oceanos. Serão Severinos americanos, italianos, recifenses. E essas questões climáticas, elas estão – hoje e ontem – absolutamente ligadas às questões políticas – como o homem politicamente usa a natureza, como como tudo isso interfere em ganhos, na estrutura, está tudo interligado

O que essa pandemia trouxe para o trabalho de vocês?
A pandemia, o que a gente consegue falar em muitas camadas. Ela foi desesperadora no começo, forçar o Magiluth a uma série de situações, parar as atividades e tudo mais. Depois ela foi uma descoberta para gente, o que gerou os três trabalhos online – (uma trilogia de experimentos sensoriais em confinamento, composta pelas obras Tudo que coube numa VHS, Todas as histórias possíveis e Virá)

Mais especificamente falando do Estudo Nº1: Morte e Vida, a pandemia deu um molde poético para o trabalho. O trabalho começou a ser pensado no final de 2019, passou por muitas possibilidades. Esse espetáculo já foi pensado, por exemplo no princípio, de um espetáculo de rua; depois foi pensado para se fazer no palco; depois ele virou o estudo. E a cada retomada por causa da pandemia, a gente também se encontrava com uma nova proposta poética. E aí eu acho que o resultado é uma soma de todos os momentos. Eu acho que a gente conseguiu amontoar todos eles.

Ficha Técnica
Criação e realização: Grupo Magiluth
Direção: Luiz Fernando Marques
Assistente de direção e direção musical: Rodrigo Mercadante
Dramaturgia: Grupo Magiluth
Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres e Mário Sergio Cabral
Produção: Grupo Magiluth e Amanda Dias Leite
Produção local: Roberto Brandão

Estudo Nº 1: Morte e Vida, com o Grupo Magiluth
Quando: De 28 de janeiro a 6 de março de 2022, sextas e sábados às 21h, domingos, às 18h
Onde: Sesc Ipiranga )Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga – São Paulo SP)
Quanto: R$ 40(inteira) e R$ 20 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos

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