Arquivo mensais:agosto 2015

Teatro do Parque – Um memorial afetivo

Reprodução Facebook / Sônia Braga

Reprodução Facebook / Sônia Braga

“Eita Teatro do Parque…obrigado pela oportunidade de ter assistido boas peças de teatro e ter sido a casa de saudosos festivais. Obrigado por ter me recebido no seu palco quando ainda verde eu fazia Lisandro de Sonho de uma noite de verão. Obrigado por ter me oferecido aquele ingresso baratinho pra assistir O céu de Suely, Deserto feliz, Bastardos inglórios, entre outros. Obrigado por ter me oferecido a sua cabine de luz pra aprender como se operava aquela mesa. Obrigado, tá? E desculpa esse povo que não sabe cuidar de você. É que talvez eles nunca assistiram nada lá pra poder criar esse carinho… ou, talvez, até já foram lá, mas esse povo não tem carinho por ninguém, ou melhor, só pela grama da calçada do prédio dele! Mas vai passar. Um dia você vai estar brilhando de novo”

Giordano Castro, ator do grupo Magiluth

“A minha formação cultural passou pelo Teatro do Parque. Na Boa Vista, onde hoje só vemos lixo, dependentes de craque e abandono, pulsava um circuito que interligava a Livraria Livro 7, Cinema Veneza e o Teatro do Parque. Em frente à casa de espetáculos, bares simples, mas sem lixo! Havia como você chegar cedo, comprar seu ingresso e dar um tempo por ali. Foi no Teatro do Parque onde conheci Akira Kurosawa. Assisti a todos seus filmes! Ali também assisti inúmeros shows de músicos consagrados da MPB, como Angela Ro Ro, no querido Projeto Seis e Meia! Quantas vezes não saí correndo da universidade para assistir aos shows e depois íamos caminhando pela cidade com uma alegria imensa no peito. Não tinha porque ser diferente, afinal, ainda era cedo e o bairro era frequentado por boêmios e nada mais. O Projeto Seis e Meia era mensal e sempre tinha um artista local que abria os shows. Fora os tantos espetáculos adultos e infantis, locais e nacionais que também assisti ali. O ecletismo e a alta qualidade da programação do Teatro do Parque estavam sempre alinhados a um baixo custo. Isso era maravilhoso: ali se encontravam intelectuais, estudantes, políticos, pipoqueiros, o povo – independente de classe social – frequentava o espaço. Era maravilhoso frequentar o Teatro do Parque, como é maravilhoso o espaço em si, sua arquitetura que, além de bela, é muito acolhedora porque é um teatro com varandas, parece quintal de casa de infância. Hoje confesso: dá um aperto no peito, especialmente hoje, fico com os olhos marejados escrevendo isso porque o que tento descrever nessas linhas não traduz o quanto, por décadas, esse teatro contribuiu na formação de pessoas tão diferentes da nossa cidade. É com os olhos marejados que grito essas memórias, na esperança de despertar a sensibilidade dos governantes, para não deixar que aquela casa tão cheia de vida vire mais um prêmio desta corrida imobiliária desenfreada, que só descaracteriza nossa cidade! Um grito, para que os tão talentosos jovens artistas desta cidade possam ter mais um espaço de estudo e trabalho! Um grito que clama para que se devolva a vida ao centro da cidade!!! Vida ao Teatro do Parque”

Márcia Cruz, atriz e arte-educadora da Cia Maravilhas

“Desde 2010 a reabertura do Teatro do Parque vem sendo prometida para ‘o ano que vem’. Pelo andar da carruagem, fica difícil acreditar que em 2016 volte a funcionar. Se iniciada hoje, uma readequação digital consumiria no mínimo dois anos. Mas datas não importam, desde que o processo de restauro seja conduzido de forma séria e comprometida, trazendo de volta este espaço essencial para a cultura pernambucana e uma das mais antigas e importantes salas de cinema do Brasil. É importante também lembrar que 2015 marca os 40 anos de criação e imediato abandono da filmoteca Alberto Cavalcanti, que deveria funcionar no Parque”.

André Dib, jornalista e crítico de cinema

“Parece que culpar o passado é mais interessante do que resolver a questão. Ao invés da gestão municipal atual ficar remoendo a história de que ‘a culpa é da gestão passada’, seria interessante mostrar que está empenhada em fazer diferente. No entanto, a situação do Teatro do Parque só piora. No próximo ano teremos eleições municipais. E aí? Será que somente lá teremos alguma promessa ‘de campanha’? Lamentável!”

Karla Martins, atriz, produtora e mestranda em Artes Cênicas

“Saudades de um tempo que minha mãe me levava ao Teatro do Parque. Na foto é possível ver que me sinto um herói ao lado do caçador da peça Chapeuzinho Vermelho. Essa foi uma entre tantas peças que assisti nesse teatro que sinto saudades e me traz lembranças de um tempo que não volta mais”.

Danilo Ribeiro, leitor do Satisfeita, Yolanda?

Danilo Ribeiro no Teatro do Parque

Danilo Ribeiro no Teatro do Parque

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Centenário sem aplausos

Teatro do Parque fechado na passagem dos 100 anos. Fotos Ivana Moura

Um velório simbólico marca hoje o centenário do Teatro do Parque. Uma imagem triste para a casa de espetáculos municipal mais popular do Recife. O grupo de teatro João Teimoso e o grupo Guerrilha Cultural lideram uma performance com flores, velas e cartazes, às 11h. Eles esperam o reforço de militantes e consumidores culturais. A passagem dos 100 anos também conta com exibições musicais e teatrais e outras ações. O ato repete os protestos realizados em 2013 e 2014.

O Teatro está fechado desde 2010. Já foram anunciadas várias datas de reabertura, não cumpridas. A reforma ampla foi anunciado em 2014. As obras começaram em janeiro de 2015. A prefeitura prevê a conclusão da obra para novembro de 2016.

Parque o teatro mais popular do Recife

Vista do camarote do Parque, o teatro mais popular do Recife

Na última sexta-feira (21) foi feita uma vistoria técnica às obras de reforma e restauro do Teatro do Parque, aberto à imprensa. Estavam lá o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, o secretário executivo de Gestão Cultural, Williams Santana, e a arquiteta da Secretaria de Projetos Especiais, Simone Osias.

Imagens da reforma

Imagens da reforma

Os representantes da Prefeitura do Recife fizeram a função deles: defenderam que a obra segue em execução e que o restauro irá resgatar as feições originais do imóvel.

“Nós tínhamos problemas sérios com água, seja no subsolo do teatro, seja nas cobertas. As infiltrações estavam por toda parte e colocavam em risco toda a infraestrutura do equipamento. Por isso, nossa primeira ação foi sanar esses pontos críticos, para poder iniciar o restauro”, explicou a arquiteta Simone Osias.

O presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, garante que o cronograma está mantido e a reforma é ‘prioridade da prefeitura. “A obra não parou, embora o número de funcionários envolvidos tenha diminuído. Há serviços que são feitos fora do teatro, por especialistas em restauro”.

O orçamento inicial da reforma estrutural foi fixado em R$ 8,2 milhões e ainda haverá uma nova licitação para a compra de equipamentos . O custo total deve subir para cerca de R$ 10 milhões.

Processo lento

Processo lento

Poucos funcionários da Concrepoxi Engenharia, responsável pela reforma, estavam exercendo alguma atividade no teatro.

“Considero a visita uma grande encenação”, diz o produtor e diretor do grupo João Teimoso, Oséas Borba Neto. “A obra estava parada. Em relação à visita do dia 10 de junho para hoje não mudou nada”, defende.

Promessa de reabertura para novembro de 2016

Promessa de reabertura para novembro de 2016

“Apesar de termos posições distintas, o presidente da Fundação de Cultura abriu diálogo. Este ano tivemos duas visitas ao Parque. Mas a cultura na cidade do Recife é um desastre. O Conselho de Cultura é só “pró-forma”, não aconselha nada; os prêmios literários acabaram; o Teatro Barreto Júnior está fechado há um ano e o Teatro do Parque está nessa situação”, analisa Borba Neto.

Os artistas sofrem com o fechamento do Teatro do Parque. O público de teatro, cinema, shows também. O entorno está numa situação lamentável de decadência. Os comerciantes da Rua do Hospício reclamam. A cultura do Recife lamenta.

 

Jardim do teatro

Jardim do teatro

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Parábolas sobre o sentido da vida

Montagem de Nossa Cidade , com a turma do Curso de Interpretação para Teatro do Sesc Santo Amaro

Você sabia, pergunta um rapazinho, que a luz dessas estrelas demorou milhõesde anos para chegar até nós? Vemos o cintilar de mundos que, provavelmente, estão mortos há muito tempo… 

Talvez seja o contrário, rebate a menina. Talvez nós é que estejamos mortos para eles…

Nossa Cidade é uma peça que amplia sentimentos de coisas miúdas, de episódios cotidianos. do norte-americano Thornton Wilder (1897-1975), que retrata o dia-a-dia de uma pacata cidade, Grover’s Corners, no início do século 20. O foco vai para o cotidiano de duas famílias locais, os Gibbs e os Webb. Escrito em 1938, o texto de Wilder é uma busca de superação das contradições do drama moderno.

A montagem de Nossa Cidade, com elenco da turma de conclusão do Curso de Interpretação de Teatro (CIT) do SESC Santo Amaro, faz as últimas apresentações neste fim de semana. Hoje e amanhã, às 19h, no Teatro Marco Camarotti. São 16 atores no elenco.

Antunes Filho assinou uma montagem que rasga o nervo sobre a transitoriedade da vida recentemente. O Teatro de Amadores de Pernambuco – TAP encenou o mesmo texto em 1949.

Com o texto Nossa Cidade, o dramaturgo Thornton Wilder ganhou um dos três prêmios Pulitzer

Com o texto Nossa Cidade, o dramaturgo Thornton Wilder ganhou um dos três prêmios Pulitzer

A direção de Malú Bazán, trabalha com diversos gêneros teatrais, do épico ao drama. O próprio enredo de Thornton Wilder propõe um jogo metateatral, a partir da atuação do Diretor de Cena, que relata como tudo irá acontecer, expõe a cidade e comenta como vive a população.

Homens e mulheres da classe média norte-americana conservadora e protestante levam suas vidas. Um médico, um leiteiro, o organista da igreja, o professor, o regente do coral, a professora, o entregador de jornais, o guarda, uma vizinha. Criaturas do passado e do presente. As famílias casam seus filhos. Eles vivem felizes até a separação pela morte de um deles.

A peça tem três atos com temáticas diferentes: A Vida Diária, Amor e Casamento e Morte. A encenação  utiliza alguns objetos de como escada, cadeiras e mesas. No elenco estão Analice Croccia, Ane Lima, Caíque Ferraz, Enny Mara, Isabelle Barros, Ludmila Pessoa, Luís Bringel, Marcos Medeiros, Micheli Arantes, Natali Assunção, Nataly Sousa, Paulo Castelo Branco, Pollyanna Cabral, Raphael Bernardo, Romildo Júnior e Wilamys Rosendo.

Ficha técnica
Espetáculo Nossa Cidade
Texto: Thornton Wilder
Direção: Malú Bazán
Elenco: Analice Croccia, Ane Lima, Caíque Ferraz, Enny Mara, Isabelle Barros, Ludmila Pessoa, Luís Bringel, Marcos Medeiros, Micheli Arantes, Natali Assunção, Nataly Sousa, Paulo Castelo Branco, Pollyanna Cabral, Raphael Bernardo, Romildo Júnior e Wilamys Rosendo

Serviço
Quando: Sábados e Domingos, às 19h (última semana)
Quanto: Grátis
Onde: Teatro Marco Camarotti, Sesc Santo Amaro do Recife (Rua Marquês do Pombal, 455, Santo Amaro
Fone: (81) 3216-1609

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Arte da manipulação e da persuasão

Normando Roberto Santos (Padre Timóteo) em A Mandrágora

Normando Roberto Santos (Padre Timóteo) em A Mandrágora. Foto: Roberto Ramos

Astucioso, pérfido, ardiloso, velhaco, de má-fé são “qualidades” de quem é maquiavélico. E só quem já foi passado para trás por pessoas com esses requisitos podem saber a real dimensão do maquiavelismo. É sinistro!!! Há quem admire como brilho de inteligência e seus adeptos estão espalhados por todas as áreas. Na política e no empresariado eles se multiplicam. Na peça A Mandrágora, escrita por Nicolau Maquiavel, as artimanhas são expostas como um jogo. A adaptação de Guilherme Vasconcelos transportou o enredo para o Sertão nordestino, com seus coronéis obtusos, mulheres aparentemente de moral ilibada, mães interesseiras e figuras ardilosas que manipulam situações.

O espetáculo faz duas apresentações no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu, em Boa Viagem) hoje e no dia 29 de agosto, às 20h.  A montagem conta com incentivo do Governo do Estado por meio do Funcultura.

A Mandrágora, dirigida por Marcondes Lima, ganha as cores-clichês do Nordeste, com as flores das chitas do cenário, por exemplo. A trama está centrada no desejo sexual de Calímaco, um paraibano radicado no Recife, por Lucrécia, esposa de moral impoluta do Coronel Nício Calfúcio. O casal tem uma dificuldade. Não consegue ter filhos. Parênteses: Os velhacos atuam sempre na área da fragilidade dos outros. Para resolver a sua cobiça e fingir que está solucionando o problema do casal, Calímaco, se passa por médico e receita um infalível e mortal remédio à base de Mandrágora (planta afrodisíaca).

A arte de enganar e a degradação dos valores morais ganham um tom de comicidade da “mangação da casca de banana”, da “sambada sobre o cadáver”, do “aplauso para os corruptos” que na rebatida com a realidade brasileira produz irritação. Tudo é meio over no espetáculo. Exagero nas interpretações, nos figurinos, no cenário, no sotaque. Tudo isso, talvez, para destacar o ridículo de toda situação. Há quem goste dessas maquinações.

Serviço
Espetáculo A Mandrágora
Quando: 22 a 29 de agosto de 2015, às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu)
Av. Boa Viagem, s/n , bairro de Boa Viagem. (81) 3355-9821
Ingressos: R$ 20,00 (meia: R$ 10,00)

Ficha técnica
Texto: Nicolau Maquiavel
Adaptação: Guilherme Vasconcelos
Direção: Marcondes Lima
Assistente de Direção: Taveira Junior
Figurinos, Cenários e Adereços: Marcondes Lima
Assessoria de Imprensa: Gianfrancesco Mello
Programação Visual: Cláudio Lira
Plano de Iluminação: Játhiles Miranda
Execução de Iluminação: Játhiles Miranda
Pesquisa Musical: Samuel Lira
Execução de Sonoplastia: Ricardo Correia
Plano e Execução de Maquiagem: Marcondes Lima
Produção Executiva: Taveira Junior
Assistente de Produção: Thalita Gadêlha.
Elenco: Flávio Andrade (Calímaco), Mário Antônio Miranda (Coronel Nício Calfúcio), Nínive Caldas (Lucrécia), Diógenes de Lima (Ligúrio), Normando Roberto Santos (Padre Timóteo), Auricéia Fraga (Dona Sóstrata), Múcio Eduardo (Siro) e Thalita Gadêlha (Mulher).
Recomendação etária: 14 anos.
Duração: 70 minutos.

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Lampejos do Vivencial

Cabaré diversiones está em cartaz no Teatro Hermilo Borba Filho. Foto: Ivana Moura

O projeto Cabaré Diversiones foi contemplado com o Prêmio Fomento às Artes Cênicas do Recife 2014/2015. A Prefeitura do Recife deveria ter liquidado a conta com os nove projetos inéditos (três de circo, três de teatro e três de dança), no valor de R$ 33 mil (fora os descontos) para cada um há algum tempo. Não foi pago. Todo o processo de produção foi realizado com os parcos recursos de Henrique Celibi. Isso é importante destacar porque condições materiais influenciam e até determinam o resultado final de uma montagem. E, além do dinheiro, as preocupações, o estresse, o tempo desprendido para conseguir soluções. O edital também definiu o período de estreia, em conjugação com a disponibilidade de pauta.

Na visita técnica ao Teatro do Parque, hoje pela manhã, o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Diego Rocha, assegurou que esses valores de editais começam a ser pagos na próxima semana. Dito isso, vamos ao espetáculo.

Espetáculo tira onda até de como se faz teatro no Recife

Henrique Celibi recrutou novos atores para compor o elenco da peça. Ele e Sharlene Esse são remanescentes do Vivencial. Além deles, compõe a trupe Carlos Mallcom, Cássio Bomfim, Carol Paz, Cindy Fragoso, Filipe Enndrio, Flávio Andrade, Ítalo Lima, Robério Lucado e Ágatha Simões. Ironia, deboche, questionamento social estão lá, ora com um, ora com outro. Mas há problemas de tom, de extensão do espetáculo, de atuação. Foi uma estreia longa, digamos assim.

O diretor resgata quadros do Grupo de Teatro Vivencial. Uns funcionam, outros precisam de atualização. E alguns poderiam ser suprimidos sem prejuízo do todo. Celibi, que entrou para a trupe com apenas 14 anos e foi um dos protagonistas do desbunde nos idos dos 1970 e 1980, aparece em vários quadros. Como a faxineira, como o fauno, na dublagem de Maria Bethânia, como a Democracia. O rapaz tem muito fôlego.

Henrique Celibi, um guerrilheiro dos palcos pernambucanos

Henrique Celibi, um guerrilheiro dos palcos pernambucanos

Além disso, ele atua, faz a direção geral, a trilha sonora, o figurino, a cenografia, a direção de arte e assina também a preparação do elenco para o Cabaré.

A dramaturgia faz uma colagem inspirada em trechos já encenados no Vivencial. Entram em cena personagens novos como Dilma Rousseff, Fuleco, e Congresso Nacional, Cleópatra. Além de figuras locais. Até as Yolandas foram inspiração para a cena.

Clima de deboche. Foto: Paulinho Mafe

A encenação carrega a semente, o sentimento, o espírito irreverente do Vivencial. Se posiciona contra a caretice generalizada., mas os temperos precisam ser harmonizados. Sobram quadros de dublagem. Aquela cena da piada é, na minha opinião, absolutamente dispensável. A das crianças correndo pelo palco também.

Ao fazer alguns ajustes a peça deverá ganhar um ritmo mais frenético, ficando mais debochada e, quem sabe até, a característica revolucionária do Vivencial inspirador será acentuada.

Mas hoje é difícil pensar em subversão, sem entender que tudo já foi feito. É bem verdade que os grupos que pregam a intolerância, o enquadramento das pessoas (principalmente sexual), às vezes fazem com que um gesto inocente possa parecer uma rebeldia.

Sharlene Esse em primeiro plano. Foto: Ivana Moura

O espírito guerrilheiro do grupo pode ser traduzido na construção da cena, feita com embalagens, plásticos, panos e material reciclado. Henrique Celibi gastou mais de R$ 10 mil do próprio bolso para adiantar o serviço.

O espetáculo abre e fecha com a música Puro teatro que, por sinal, também foi utilizada recentemente na montagem de Viúva porém honesta, do Grupo Magiluth. A montagem tem aquele toque de precário, de gambiarra, que funcionava muito bem no Vivencial.

O elenco feminino precisa ser mais ousado. As atrizes do Vivencial original (Ivonete Melo e Suzana Costa) contam que, no grupo de Olinda, sob o regime masculinista, elas tinham que “dar o truque” a para aparecer um pouco. Mas a estrela delas, de Auricéia Fraga, e de outras brilhava na disputa de palco.

As cenas das atrizes do Cabaré Diversiones são periféricas, como pano de fundo. Elas precisam reagir com graça, leveza, garra e muito mais humor. Cássio Bomfim, que estreia no teatro, tem boa presença de cena, mas precisa tomar conta do espaço e não ficar bamboleando. Sua entonação precisa ser mais cuidadosa. Algumas fragilidades do espetáculo ficaram mais evidentes na estreia, mas a criança nasceu. E precisa de cuidados para crescer saudável. Precisa equalizar e diminuir algumas cenas. Para que toda irreverência seja aplaudida.

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