Arquivo mensais:setembro 2011

Quando o dinossauro está no meio da sala

Em Pterodátilos, Nanini interpreta uma adolescente e um presidente de banco. Fotos: Ivana Moura

O chão da sala ainda está inteiro quando a peça começa. O teatro lotadíssimo. Depois vão se abrindo fendas que se transformam em buracos enormes, até que tudo esteja destruído e o público também seja levado a se sentir caindo ali dentro. Todos acompanham com risos – que podem ser nervosos – ou num silêncio cheio de expectativa e espanto. A cenografia construída por Daniela Thomas não é só um elemento de apoio, complementa a dramaturgia, serve como metáfora e reflexo do espetáculo Pterodátilos, que ganhou três prêmios Shell de teatro (levou a estatueta nas três categorias em que concorreu: melhor ator, melhor atriz e cenário) e quatro categorias no APTR: melhor espetáculo, produção, ator protagonista e cenografia. A montagem estrelada por Marco Nanini, Mariana Lima, Alamo Facó e Felipe Abib foi apresentada ontem no Porto Alegre em Cena no Salão de Atos da UFRGS. A direção é de Felipe Hirsch. A peça deve chegar ao Recife nos dias 28 e 29 de outubro, no Teatro da UFPE.

O texto de Nicky Silver é desconcertante. Tem tiradas rápidas e frases de efeito que surpreendem. Toca em questões como esfacelamento das relações, consumismo exacerbado, ditadura da beleza, sexualidade. Aliás, não é a primeira vez que Nanini entra em contato com esse texto. Em 2002, ele e Marieta Severo encenaram Os solitários, que era formado por dois textos do norte-americano: Pterodátilos e Homens gordos de saia. (Alguém viu essa peça?)

Todd voltou para casa com uma notícia: está com Aids

Na família de Pterodátilos, em determinado momento os laços de afeto parecem inexistir. Ou melhor, cada um foi se isolando no seu mundo e depois que os nós que os uniam foram sendo afrouxados, não tinha mais como apertar. Se é que algum dia eles estiveram rígidos. Nanini interpreta Ema e Artur, pai e filha. Depois de uma relação ‘intensa’ de três semanas, Ema decide se casar. Vai apresentar o namorado garçom (Felipe Abib) à mãe (Mariana Lima) viciada em grifes e whisky e o garoto acaba virando empregada da casa. O filho Todd (Alamo Facó) chega de uma longa temporada em Londres com a notícia de que tem Aids. E o pai que só queria ser locutor de rádio até tenta se aproximar do filho (ouvindo detalhadamente as descrições de suas relações) e perde o emprego como presidente de uma grande empresa. Tudo é instável, está em ruínas, mas há egoísmo demais para que alguém consiga olhar para o outro.

Nanini alterna o histerismo da garotinha de 15 anos à austeridade do pai de família apenas com a rápida troca de roupas. E a sua interpretação deixa à mostra a superficialidade dos dois personagens. Quando está no palco, o pernambucano de nascimento concentra as atenções: tem pleno domínio do que faz e das suas potencialidades, seja usando terno ou envergando um vestido de noiva.

Montagem fez temporadas premiadas no Rio e em São Paulo

Já o papel da Mariana Lima (a rainha Helena em Cordel encantado) parece ‘exigir’ muito mais dela. E ela não deixa barato. É uma mãe louca, que desprezava a filha gorda, tinha adoração pelo filho e (sexual) pelos amiguinhos de adolescência dele, uma mulher que prefere que o marido tenha amantes do que seja um desempregado. Além disso, está sempre com um copo de whisky na mão. Mariana achou o tom certo para que o personagem não virasse uma caricatura. Os outros dois atores – Álamo e Felipe – também estão bem em cena.

Cenografia – Tenho que voltar a falar da cenografia, que é de Daniela Thomas; e da iluminação de Beto Bruel. Daniela imaginou uma sala que é uma plataforma suspensa; como já disse, as madeiras do chão vão sendo retiradas pelos atores e valas se abrem no assoalho. Lá estão os ossos do pterodátilo do título. Além disso, a plataforma pende para um lado ou outro, o que faz com que os atores tenham que lidar com o desequilíbrio e que essa mesma característica na história seja acentuada. A sala tem só três sofás austeros, pretos. Já a iluminação é bastante precisa. Tem sempre uma névoa cobrindo aquelas pessoas e a distância entre elas pode aumentar bastante dependendo da iluminação, mesmo que elas teoricamente estejam travando uma conversa que deveria ser íntima. Como? Se pai nem olha no olho do filho? Foram as relações humanas que entraram em extinção. Não os dinossauros.

Pterodátilos será apresentada no Recife nos dias 28 e 29 de outubro, no Teatro da UFPE

Ah…achei esse link no New York Times. É o autor Nicky Silver falando sobre os seus personagens: http://nyti.ms/pKmSiK

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Ator do Théâtre du Soleil ministra oficina no Recife

Maurice Durozier ministra oficina O teatro é o outro

Assisti ao espetáculo Les éphémères três vezes. Duas sessões no Porto Alegre em Cena, uma na íntegra (de seis horas de duração) e outra dividida em duas partes. A terceira na sede do Théâtre du Soleil, na Cartoucherie, nos arredores de Paris, na França. Tive oportunidade de acompanhar a performance de Maurice Durozier em momentos diferentes. Lembro vivamente da atuação dele ao lado de Juliana Carneiro da Cunha numa cena em que ele fazia um marido meio nervoso, cheio de tiques. Atuações em outras peças só vi por DVD.

Mas fiquei encantada com seu desempenho, humano e sempre com um toque de humor.

Aguardamos ansiosos a segunda temporada no Brasil do Théâtre du Soleil, dirigido por Ariane Mnouchkine. Les Naufragés du fol espoir tem apresentações marcadas em São Paulo (5 a 23 outubro), Rio de Janeiro (de 8 a 19 novembro) e Porto Alegre (5 a 11 dezembro).

Antes disso, porém, o ator e diretor Maurice Durozier ministra oficina no Recife.

A paquera do Coletivo Angu de Teatro com o ator do Soleil vem há quase dois anos. E juntou o útil ao agradável. A oficina será aberta a outros participantes, além dos integrantes do Coletivo Angu. Isso foi possível porque a trupe conseguiu patrocínio da Prefeitura do Recife e do Sesc Pernambuco para a oficina.

O teatro é o outro é nome do programa ministrado por Durozier (e terá como assistente a atriz do do Théâtre du Soleil, Aline Borsari), e está marcado para o período de 19 a 30 de setembro, das 16 às 22h, segunda a sexta, nos Teatros Hermilo Borba Filho e Marco Camarotti. É um curso prático de interpretação e que tem por base o método de trabalho de criação coletiva do Théâtre du Soleil.

Ator está no Théâtre du Soleil desde 1980

Maurice Durozier está na companhia francesa desde 1980, e participou de inúmeras montagens, entre elas Richard II, La nuit des rois e Henry IV, de Shakespeare; L’histoire terrible mais inachevée, de Norodom Sihanuk; Roi du Cambodge, L’Indiade ou l’Inde de leurs rêves, Et soudain des nuits d’éveil, de Hélène Cixous; Les Atrides (Ciclo dos Atridas, reunindo peças de Eurípides e Ésquilo); Le dernier Caravansérail, Les éphémères, Les Naufragés du fol espoir, criações coletivas do Soleil.

Ele ministra cursos no exterior e, no Brasil, conta com três passagens por Fortaleza (CE): a primeira delas em 1988, em companhia de Georges Bigot, quando passou três meses entre Fortaleza e Cariri, trabalhando com atores locais; em 2008 e em 2010, na programação dos 100 anos do Theatro José de Alencar, ocasião em que, além de oficina, realizou um seminário sobre o Théâtre du Soleil.

O número máximo de participantes para a oficina no Recife é 50. Por isso será feita seleção de candidatos, a partir do currículo resumido e carta de intenção. As inscrições podem ser feitas até 16 de setembro, no Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife, fones: (81) 3355 3319), das 9h às 17h, com Izolda Barreto. E também até o dia 16 on line – instruções pelo blog www.oteatroeooutroemrecife.blogspot.com. A taxa de inscrição custa R$ 30. O resultado da seleção será divulgado por telefone e/ou por e-mail.

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De Tiago para Tim

Tiago Abravanel chegando ao Teatro Carlos Gomes, no Centro do Rio

A base é Dior, tá?!

Os bastidores são um paraíso para quem gosta de maquiagem. Milhões de produtos em caixas!

Depois de um mês de temporada, Tiago diz que já tem prática: demora menos de uma hora para se transformar

Tiago interpreta Tim desde a infância até a sua morte, aos 55 anos

O espetáculo começa no último show de Tim, em Niterói. Ele passou mal durante a apresentação

Depois do Rio, Recife será a primeira parada do musical, que tem direção de João Fonseca

Foi o próprio Nelson Motta quem adaptou a sua biografia sobre Tim Maia para o teatro

Serviço:
Tim Maia – Vale tudo, o musical
Quando: sexta e sábado, às 21h
Onde: Teatro da UFPE
Quanto: Plateia – R$ 130 e R$ 65 (meia) / Balcão – R$ 100 e R$ 50 (meia), à venda na bilheteria do teatro, nas lojas Esposende dos Shoppings Recife e Tacaruna e no site ingressorapido.com.br
Informações: (81) 3207-5757

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Teatro e dança estudantis em festa

As infanticidas Maria Farrar ganhou melhor espetáculo, direção, cenário e iluminação de teatro adulto. Foto: Pedro Portugal

A festa de premiação do 9º Festival Estudantil de Teatro e Dança, realizado entre os dias 11 e 27 de agosto, foi ontem à noite, no Teatro de Santa Isabel. O festival teve uma extensa programação: 19 espetáculos teatrais e 65 coreografias.

Participaram da festa de premiação a Cia. Vias da Danças, com o trabalho Atípico, criado e dirigido por Heloísa Duque; a bailarina Patrícia Pina Cruz, da Dante Cia. de Dança e Teatro, com um solo trecho do espetáculo Sob a pele, que dialogou com um vídeo realizado por Denni Sales em homenagem às atrizes brasileiras; e o ator Asaías Lira, do Coletivo Grão Comum, com trechos do espetáculo Mucurana – de mundo afora e história adentro; além do cantor Romero Brito, de apenas 20 anos, e da sua banda.

Confira a lista de premiados:

Melhor Espetáculo de Teatro Para Crianças:
Retrato de família (Grupo Teatral Se Der Certo Continua e Escola Municipal Casa dos Ferroviários)

Melhor Diretor de Teatro Para Crianças:
Allan Shymytty (Menino Minotauro)

Melhor Ator de Teatro Para Crianças:
Cícero Manuel (Menino Minotauro)

Melhor Atriz de Teatro Para Crianças:
Inês Mendes (Retrato de família)

Melhor Ator Coadjuvante de Teatro Para Crianças:
Tiago Lourenço (O sumiço da Abelha Rainha)

Melhor Atriz Coadjuvante de Teatro Para Crianças:
Anna Catharina Barros (O Mágico de Oz)

Melhor Cenário de Teatro Para Crianças:
Allan Shymytty (Menino Minotauro)

Melhor Figurino de Teatro Para Crianças:
Anderson Gomes (Retrato de família)

Melhor Maquiagem de Teatro Para Crianças:
Lucila Fernanda Salles (O sumiço da Abelha Rainha)

Melhor Espetáculo de Teatro Adulto:
As infanticidas Maria Farrar (Curso Avançado de Teatro do SESC Santo Amaro)

Melhor Diretor de Teatro Adulto:
Rodrigo Cunha (As infanticidas Maria Farrar)

Melhor Ator de Teatro Adulto:
Raphael Bernardo (A partida)

Melhor Atriz de Teatro Adulto:
Aryella Lira (Crônicas de uma pensão)

Melhor Ator Coadjuvante de Teatro Adulto:
Anderson Leite (O amor de Zé e Mariquinha – Uma comédia regional)

Melhor Atriz Coadjuvante de Teatro Adulto:
Talita França (O Amor de Zé e Mariquinha – Uma comédia regional)

Melhor Cenário de Teatro Adulto:
Rodrigo Cunha (As infanticidas Maria Farrar)

Melhor Figurino de Teatro Adulto:
Claudio Lira (Os Pintados em: Romeu e Julieta)

Melhor Iluminação de Teatro Adulto:
Ana Catarina Maia (As infanticidas Maria Farrar)

Melhor Texto (inédito de autor pernambucano):
Anderson Abreu (Retrato de família)

Prêmio Destaque em Teatro:
Os jurados decidiram, por unanimidade, premiar Allan Shymytty em nome do trabalho desenvolvido com os moradores da cidade de Manarí, como forma de homenagear e incentivar esta iniciativa que mostra que a arte teatral é capaz de transpor quaisquer barreiras, financeiras, sociais ou geográficas.

O Grupo Matulão de Dança ganhou o Prêmio Destaque em Dança. Foto: Reginaldo Azevedo

Melhor figurino na categoria iniciantes em dança:
Sandra Lima (coreografia Planamente, da Esquadros Cia. de Dança e Escola Municipal Três Carneiros)

Melhor figurino na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
André Aguiar e Natalie Revorêdo (coreografia Txeckuh, com alunos do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Pernambuco)

Melhor figurino na categoria avançados em dança – grupos:
Fábio Costa (coreografia Ave Poesia, do Grupo Matulão de Dança)

Prêmio Destaque em Dança:
Grupo Matulão de Dança, pelo envolvimento com a cultura popular valorizando o seu aspecto mais cênico em diálogo com outras linguagens artísticas

Melhor bailarina na categoria iniciantes em dança:
Vanessa Alcântara (pela coreografia Todo bailarino é louco, do Grupo Seis’Um de Dança e Escola Estadual Professor Jordão Emerenciano)

Melhor bailarino na categoria iniciantes em dança:
Filipe Sabóia (pela coreografia Com-Munione, do Núcleo de Danças Venícius Passos)

Melhor bailarina na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Janaína Santos (pela coreografia Ginga de matamba, do Nortess Coletivo de Dança e Escola Estadual João Pessoa Guerra)

Melhor bailarino na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Danilo Rojas (pela coreografia Uníssono, do Aria Social)

Melhor bailarina na categoria avançados em dança – grupos:
Stefany Ribeiro (pela coreografia Narciso, o reflexo do eu, da A Sós Cia. de Dança e Associação dos Moradores da UR-3 Ibura)

Melhor bailarino na categoria avançados em dança:
Diogo Lins (pela coreografia Narciso, o reflexo do eu, da A Sós Cia. de Dança e Associação dos Moradores da UR-3 Ibura)

Melhor coreógrafo ou coreógrafa na categoria iniciantes em dança:
Ana Emília Freire (pela coreografia Ubanco, do Aria Espaço de Dança e Arte)

Melhor coreografia na categoria iniciantes em dança:
Passos (1 e 2 Cia. de Dança e Colégio e Curso João Paulo I)

Melhor coreógrafo ou coreógrafa na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Carla Machado (pela coreografia Uníssono, do Aria Social)

Melhor coreografia na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Ginga de matamba, do Nortess Coletivo de Dança e Escola Estadual João Pessoa Guerra, de Igarassu

Melhor coreógrafo ou coreógrafa na categoria avançados em dança – grupos:
Inêz Lima (pela coreografia Bandolins, do Aria Clássico)

Melhor coreografia na categoria avançados em dança – grupos:
Narciso – O reflexo do eu, da A Sós Cia. de Dança e Associação dos Moradores da UR-3 Ibura

Vou aproveitar para publicar a versão completa de uma matéria minha que saiu no Diario de Pernambuco sobre o trabalho de Allan Shymytty na cidade de Manari:

Menino Minotauro ganhou melhor direção, cenário, destaque e ator de teatro para crianças

Manari sobe ao palco

Tinha sido um dia chuvoso em Manari, a 318,4 km da capital pernambucana. Mesmo assim, a família de Maria Quitéria, 16 anos, que mora no Sítio Garrote, na Zona Rural, decidiu sair de casa. Era um compromisso especial: os pais foram prestigiar a estreia da filha como atriz. Eles mesmos nunca tinham visto uma peça, ido ao teatro. Manari não tem lá muitas opções de atividades culturais e esse é só um dos problemas do município que, em 2004, ganhou as manchetes do país com uma triste estatística – era a cidade com o mais baixo índice de desenvolvimento humano do país.

Desde então, algumas iniciativas governamentais e da sociedade civil têm tentado mudar cenários de miséria. “Com o teatro, nós mostramos que, apesar de tudo, somos capazes”, diz a jovem que está no elenco de Menino Minotauro, montagem que encerrou o 9° Festival Estudantil de Teatro e Dança.

A produção que tem texto de Luiz Felipe Botelho leva ao palco 26 atores, entre nove e 17 anos. O protagonista é Cícero Manoel Gomes da Silva, 13 anos, que interrompeu o jogo de futebol na rua para dar entrevista ao Diario. “Nunca tinha visto teatro não. E eu nem sabia, aí um colega meu passou lá em casa me chamando para fazer esse curso. Gostei muito de fazer teatro”, diz o intérprete de Guga. “Ele brinca, arruma namorada e dona Zulmira, a professora, (interpretada por Quitéria) não gosta dele”, explica o garoto.

O diretor Allan Shymytty, que deu um curso de teatro de quatro meses para 102 pessoas antes de escolher o elenco da montagem, diz que a primeira barreira foi a dificuldade com a leitura. “Começamos com interpretação de texto. Nesse caso específico, ainda cumprimos um papel importante, porque a montagem fala do primeiro beijo, primeiro amor, a descoberta do sexo e foi uma forma deles começarem a discutir e tratar desses temas, que normalmente os pais não falam em casa”, conta. Outra dificuldade superada foi o preconceito que os meninos têm com teatro. “É como se teatro fosse coisa de mulher. Mas é um tabu, uma questão pedagógica, de base. O teatro vai ensinar como esses jovens devem lidar com as diferenças, tratar as pessoas”, avança o diretor.

Bruno da Silva Amorim, 23 anos, diz que a peça o ajudou com um problema antigo: a timidez. O universitário que mora com os pais agricultores e todos os dias faz um trajeto de duas horas de ônibus para ir e duas para voltar até Arcoverde para assistir às aulas do curso de História explica que a peça vai “tirar a má impressão que as pessoas têm com a cidade. Queremos mostrar as coisas boas, a nossa arte”.

Um diretor desbravador

Allan Shymytty é acostumado a desbravar lugares onde o teatro ainda não chegou. Ano passado, com um grupo de jovens de Tupanatinga, cidade a 321 km do Recife, Shymytty montou uma versão de Os saltimbancos intitulada A revolta dos bichos, que também se apresentou no Festival Estudantil de Teatro e Dança. “Essa é a função da Equipe Teatral de Arcoverde, Etearc, que eu dirijo há dez anos. Trabalhamos com crianças carentes, comunidades e regiões menos favorecidas”. O diretor tinha 15 anos quando fez o primeiro curso de teatro em Arcoverde, ministrado por Geraldo Barros, que comandou a Etearc até 2001, quando faleceu. “Eu dava opinião da iluminação ao cenário. Então assumi essa função de diretor. A primeira peça que dirigi profissionalmente mesmo foi Pluft, o fantasminha”, relembra.

“Nós passamos alguns meses nas cidades e a ideia é, nesses lugares, preparar novos atores, diretores, interessados em continuar o trabalho”, explica. Será assim com Manari, que recebeu uma oficina de iniciação teatral por quatro meses, uma iniciativa do Ponto de cultura O resgate multicultural Manari via progresso. “Manari tem um potencial cultural muito grande. Tem grupos de mazurca, São Gonçalo, banda de pífano, sanfoneiro. E agora as próprias escolas estão começando a fazer teatro, organizar grupos”, conta Paulo Celso, professor, coordenador do ponto de cultura. Na estreia de Menino Minotauro em Manari, os 300 ingressos colocados à venda foram comprados.

Teatro com índios

Nem acabou ainda o projeto em Manari e Allan Shymytty já está envolvido numa nova empreitada: uma montagem com os índios da tribo Kambiwás, próxima à cidade de Ibimirim (339 km do Recife), na subregião do Vale do Moxotó. “É uma comunidade pequena, pego uma estrada de terra, no pau de arara, pra chegar até lá”. A peça terá 25 índios atuando e 10 na produção. O mais velho é o cacique de 42 anos. A montagem, que deve estrear em outubro, vai contar a história da própria tribo. “Cada vez mais percebo o quanto o teatro é uma linguagem universal. A história do velho Pajé vai falar do massacre que eles sofreram em Serra Negra e terá a dança típica, a dança do toré”, adianta.

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