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A aposta do fim de semana

Ir ao teatro é sempre uma aposta. Mas a experiência normalmente compensa. Por isso, toda sexta-feira, vamos compartilhar com vocês os nossos ‘palpites’ para o fim de semana. Podem ser espetáculos que estão estreando, como esta semana, o que deixa o jogo ainda mais arriscado – já que não garantimos a qualidade. De qualquer forma, se você aceitar a dica e, porventura, não gostar, volte aqui ao Yolanda, comente, discuta. E isso que queremos!

Bom, hoje a dica é conferir o espetáculo A peleja da mãe nas terras do senhor do açúcar, com direção de Carlos Carvalho. A montagem reúne brincantes da cultura popular, como Mestre Grimário, e atores experientes, como Auricéia Fraga. O texto foi inspirado no livro A mãe, do russo Máximo Gorki. A sessão é às 21h, no Teatro Apolo, no Bairro do Recife. Ingressos: R$ 10 (preço único).

Além dessa, seguem outros palpites para o seu fim de semana:

Hoje (sexta):
O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, em duas sessões, às 19h e 21h, no Teatro Hermilo Borba Filho (já saiu crítica aqui no Yolanda). Ingressos: R$ 10.

Sábado (29):

O fio mágico, às 16h, no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. Ingressos: R$ 10 (estamos preparando a crítica, mas pode apostar!)
Dinossauros, às 19h, no Teatro Apolo (é sábado e domingo). Ingressos: R$ 10
Os fuzis da Senhora Carrar, às 21h, no Hermilo Borba Filho (também já saiu crítica por aqui)

Domingo (30):

O pássaro de papel, às 10h30, no Santa Isabel. Ingressos: R$ 10.
No meio da noite escura tem um pé de maravilha, às 16h, no Marco Camarotti. Ingressos: R$ 10
Quase sólidos, às 21h, no Barreto Júnior. Ingressos: R$ 10

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Melodrama de primeira

Foto: Val Lima/Divulgação

A lenda do emparedamento de uma moça no Recife do século 19 rendeu o romance de Carneiro Vilela, A emparedada da Rua Nova. Misto de suspense, policial, crítica de costumes e estudo sociológico de uma época, o texto de Vilela inspirou estudos acadêmicos e releituras artísticas. Os ingredientes são atraentes. Panorama de uma sociedade hipócrita que tenta esconder seus vícios e torpezas atrás das aparências, a acelerada modernização da cidade, o suspense do enredo, além de generosas pitadas das histórias policiais. O autor publicou sua obra em folhetins, entre agosto de 1909 e janeiro de 1912, no Jornal Pequeno.

O Amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas é mais uma versão de A emparedada. Mas o público pode esquecer qualquer tom sério que o suposto episódio pode despertar. A montagem teatral que fez temporada no Teatro Capiba ano passado, participou do Festival Recife do Teatro Nacional e agora também integra a grade do Janeiro de Grandes Espetáculos, utiliza a estética do circo-teatro e faz sua crítica social por outro viés: o melodrama. A Trupe Ensaia Aqui e Acolá tomou algumas liberdades com relação ao texto original. Se em A emparedada da Rua Nova, Clotilde, a mocinha do romance, é emparedada viva pelo pai, o comerciante Jaime Favais, como castigo por engravidar do galante Leandro Dantas, no espetáculo a a trágica história de amor merece outro final.

A trupe recifense abusa dos clichês encontrados até hoje em folhetins, novelas e cinema. É uma cena que prima pelo exagero. Prolonga o gesto, acentua frases, elege a chamada música brega, reforça o a dessincronia entre dublagem e gravação de falas ou de músicas, tudo com competência e jovialidade.

Os personagens recebem a estrutura dramatúrgica do melodrama e ocupam funções bem definidas. A mocinha Clotilde e seu apaixonado, Leandro Dantas, que apesar de fama de mulherengo, cai de amores pela filha do comerciante Jaime. O que ele não sabe é que o seu melhor amigo não é sincero e em vez de ajudar, vai tentar tirar proveito da situação. É o vilão fantasiado de mocinho. Aos poucos, as personagens ocupam as bandas, a dos bons e dos maus. O cenário da peça é o Recife nos idos de 1861, quando os negócios giravam em torno das ruas centrais.

Foto: Val Lima/Divulgação

A trupe dirigida por Jorge de Paula, que também está no elenco, consegue promover uma sessão teatral divertida. Fruto da pequisa do grupo com a linguagem cênica e a teatralidade. O resultado é uma comunicação vigorosa com a plateia. Para isso pequenos elementos kitsch são utilizados com muita propriedade e conseguem o efeito de riso esperado. Os momentos patéticos, os exageros provocam fascínio no espectador.

A peça elegeu o gênero popular, que sofreu com o olhar preconceituoso de plateias mais elitizadas, e ostenta técnicas corporal e vocais apuradas. Os truques desenvolvidos pelos atores são deliciosos. Participam do elenco, além do próprio diretor Jorge de Paula no papel do pai da moça; Tatto Medinni como o primo interesseiro e falso amigo do galã Leandro Dantas, interpetado por Marcelo Oliveira. O elenco feminino é formado por Andréa Rosa, Andréa Veruska, Iara Campos. É um jogo divertido que envolve totalmente o espectador.

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