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Memória da teatro infantil no Recife

 

Pesquisador e jornalista Leidson lança livro sobre produção para crianças em Pernambuco. Foto: Roberto MoreiraDias

Pesquisador Leidson Ferraz lança livro sobre produção para crianças na cidade. Foto: Roberto Moreira Dias

O jornalista e pesquisador teatral Leidson Ferraz vem cavoucando a memória das artes cênicas pernambucana há mais de uma década. Nesta segunda-feira, (dia 29 de agosto de 2016), às 19h30, no Teatro Marco Camarotti, lança o livro Teatro Para Crianças no Recife – 60 Anos de História no Século XX (Volume 01). Nele, o estudioso faz um mapeamento histórico, abarrotado de fotos raras de peças, programas de espetáculos, personalidades ligadas ao universo cênico e anúncios publicitários.

A publicação também inclui trechos de críticas e artigos jornalísticos das produções para o público infantil no Recife. O registro aponta que a primeira montagem feita por e para crianças ocorreu em 1939, pelo Grêmio Cênico Espinheirense, que estreou em 5 de março daquele ano a temporada de Branca de Neve e os 7 Anões, no Teatro de Santa Isabel. O projeto foi idealizado pelo teatrólogo Valdemar de Oliveira.

A produção infanto-juvenil dos anos 1940, 1950, 1960 até final dos anos 1970, é visitada como um painel deste segmento tanto na produção amadora quanto profissional. O autor destaca os repertórios, festivais, artistas, técnicos e projetos dirigidos à infância e juventude no Recife. Mas não faltam as polêmicas.

Branca de Neve e os Sete Anões. Foto: Acervo projeto memorias da cena pernambucana

Branca de Neve e os Sete Anões. Foto: Acervo projeto Memórias da Cena Pernambucana

A edição tem 216 páginas e conta com design bem colorido de Claudio Lira e orelha assinada pelo dramaturgo e diretor Luiz Felipe Botelho. Foi numa montagem de Botelho, Memórias da Emília, de 1995, adaptada da obra de Monteiro Lobato, que Leidson ingressou no palco como ator profissional.

A impressão do livro é da Gráfica Santa Marta e a obra recebe o incentivo do Funcultura e a parceria cultural do SESC Pernambuco. A publicação custa R$ 25 e foi lançada originalmente em DVD em 2013. Parte dos exemplares já foi doado a bibliotecas como da UFPE, SESCs, Central do Estado e Arquivo Público Estadual, além de instituições de pesquisa e sedes de companhias teatrais.

O Volume 02 já está preparado, mas ainda falta incentivo para poder ser publicado.

Leidson Ferraz é organizador da coleção Memórias da Cena Pernambucana, em quatro volumes, e do livro Panorama do Teatro Para Crianças em Pernambuco (2000-2010), além da pesquisa Um Teatro Quase Esquecido – Painel das Décadas de 1930 e 1940 no Recife. Atualmente prepara o projeto de salvaguarda de programas teatrais, Teatro Tem Programa!, com mais de 750 deles já catalogados.

SERVIÇO
Lançamento do livro Teatro Para Crianças no Recife – 60 Anos de História no Século XX (Volume 01)
Quando: Nesta segunda-feira, dia 29 de agosto, às 19h30, dentro da VI Mostra Marco Camarotti de Teatro Para a Infância e Juventude
Onde: Teatro Marco Camarotti (Rua 13 de Maio, 455, Santo Amaro. Fone: 3216 1728),
Quanto: R$ 25, o exemplar

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Das rendas da amizade e do amor

Atrizes Zuleika Ferreira e Celia Regina no espetáculo Sebastiana e Severina. Fotos: Pedro Portugal

Atrizes Zuleika Ferreira e Celia Regina no espetáculo Sebastiana e Severina. Fotos: Pedro Portugal

Duas amigas rendeiras, moradoras do interior da Paraíba sonham com um príncipe encantado. É tempo de festa para o padroeiro de Umbuzeiro, São Sebastião, quando aparece um forasteiro na cidade. O problema é que ambas ficam interessadas no mesmo homem e com isso a amizade delas fica balançada. E elas passaram a disputar a atenção do bandoleiro de todas as formas. Desde cantar, fazer rendas e até conclamar os poderes mágico de Dona Zefinha, a feiticeira da cidade. A versão pernambucana da peça Sebastiana e Severina, assinada por Claudio Lira, fica em cartaz no Teatro Hermilo Borba Filho aos sábados e domingos, às 16h, a partir deste final de semana.

“Fiquei encantado pela obra por me proporcionar uma volta ao interior. Lembrei muito da minha meninice, das festas de reis de São José do Egito, cidade dos meus pais onde vivi grande parte da minha infância”, relembra o encenador Claudio Lira, natural de Petrolina, no Sertão.

Esse drama amoroso é recheado de saudade de um Brasil mais profundo. O espetáculo Sebastiana e Severina é inspirado no livro do escritor e ilustrador pernambucano André Neves, publicado em 2002, pela editora DCL. O autor passava as férias escolares na cidade de Umbuzeiro, na casa de sua avó, quando era criança. Essas lembranças das festas do padroeiro serviram de inspiração para a história.

“O mais interessante do texto de André Neves foi vê-lo tratar o homem do interior não só no âmbito da seca, do sofrimento, mas também pelo lúdico, abordando, inclusive, suas alegrias”, diz Claudio Lira.

Em cena, os atores-músicos Célia Regina, Demétrio Rangel, Luiz Manuel e Zuleika Ferreira cantam e tocam instrumentos e expõem o processo da criação, pois eles interpretam uma trupe que chega para contar a história das solteironas. Uma espécie de oratório guarda e revela os elementos da encenação.

A montagem busca destacar o que o “interior” tem de belo. E para isso incorpora a alegria das manifestações populares, a arte do cavalo-marinho e do mamulengo e as brincadeiras de rua.

Sebastiana e Severina traz clima de festa de interior

Sebastiana e Severina traz clima de festa de interior

SERVIÇO
Sebastiana e Severina
Quando: sábados e domingos, às 16h, até dia 10 de maio
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Av. Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife. Fone: 3355 3321)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (crianças até 10 anos, estudantes, professores e maiores de 65 anos).
Realização: Claudio Lira e Teatro Kamikaze

Ficha Técnica
Assistência de direção, trabalho de construção prosódica e direção de produção: Andrêzza Alves
Assistência de Produção: Ivo Barreto
Iluminação: Játhyles Miranda
Direção Musical e Preparação Vocal (canto): Demétrio Rangel
Direção de Arte: Marcondes Lima
Preparação Corporal: Quiercles Santana
Programação Visual: Claudio Lira
Assessoria de Comunicação: Leidson Ferraz
Mestres Artesãos:
Máscara:
Giorgio De Marchi
Calçados: Expedito Seleiro
Malas: Zé das Malas

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Os espaços bem delimitados entre ficção e realidade

Fátima Pontes e Leidson Ferraz em Olivier e Lili: Uma história de amor em 900 frases. Foto: Pollyanna Diniz

O que o espectador de hoje busca no teatro? No tempo das emoções afloradas, da “felicidade” estampada virtualmente, do simultâneo? Em Olivier e Lili: Uma história de amor em 900 frases, montagem com direção de Rodrigo Dourado e Fátima Pontes e Leidson Ferraz no elenco, há uma projeção de universos particulares no palco. O tom autobiográfico e confessional permeia o espetáculo, que vi quase no fim da temporada no Teatro Hermilo Borba Filho e agora mais recentemente na VI Mostra Capiba.

O texto base é da atriz francesa Elizabeth Mazev; ela conta, desde a infância, a sua relação com o diretor Olivier Py. Os dois estudaram na mesma escola, descobriram o teatro juntos, viveram perdas e amores. A partir das memórias evocadas pelos personagens, surgiram aquelas dos próprios atores e do diretor, que também foram transformadas em dramaturgia, numa tentativa de trilhar os limites da ficção-realidade.

Estão em cena a infância de Leidson Ferraz e Fátima Pontes, os aniversários, as lembranças da casa de quando criança, o colégio, o teatro, a morte de alguém muito querido. E aí preciso fazer um adendo: é bom explicar que esta é uma apreciação escrita sem imparcialidade; muitas daquelas memórias, principalmente as Leidson, me são muito próximas. Tanto eu quanto ele somos de Petrolina; e ele fala da cidade, do colégio tradicional de freiras, do padre Bernardino. Além disso, nós nos conhecemos desde que entrei no curso de Jornalismo; então a narrativa dele me cativa muito.

Independente disso, da maneira como foi construída a dramaturgia, em algum momento você vai se sentir tocado – e me parece muito deliberada e perceptível ao espectador essa intenção de fazer o público se emocionar, se reconhecer no palco em alguma daquelas histórias.

O que queria discutir é o quanto a montagem se tornou muito mais autobiográfica do que qualquer outra coisa. Em determinado momento cheguei a me questionar: mas e Olivier e Lili? Quem são esses personagens? O tratamento dado à dramaturgia, por exemplo, é claramente distinto.

Quando Olivier e Lili estão no primeiro plano, as frases são mais telegráficas (como imaginei que seria a proposta do espetáculo como um todo); há um distanciamento perceptível entre ator-personagem. Quando no momento seguinte vira vida pessoal, o texto é longo, há um desprendimento de emoção, outra energia se instaura. Claro, estão falando de si mesmos. Mas isso provoca quebras na encenação.

A montagem participou da VI Mostra Capiba

Além disso, as relações são estabelecidas de forma muito clara e cúmplice com o espectador. É diferente, por exemplo, para dar uma referência próxima, do que faz o Grupo Magiluth em Aquilo que meu olhar guardou para você. Ali há uma fusão – o público não sabe o que é ficção e realidade. Em Olivier e Lili as cartas estão postas na mesa: bom, aqui estou vendo o personagem (que também é ‘real’, mas distante de mim, então personagem) e aqui é Leidson e Fátima, o que eles falam aconteceu de verdade. Talvez por isso o diretor tenha optado por colocar em cena também vídeos de Elizabeth Mazev e Olivier Py. Mas que são longos por demais, cansativos, necessários apenas para justificar essa questão do real-ficcional. Para a dramaturgia e para a montagem acrescentam muito pouco ou quase nada. E eles ainda aumentam o tempo da peça – que já é longa. Parece ter sido difícil para a direção o exercício da síntese. Vi pelo menos um momento em que a plateia se perguntou se aquele não seria o final da peça.

Enxergo tanto em Leidson quanto em Fátima muitas possibilidades interpretativas que ainda não se instauraram efetivamente. Faltam nuances e a transição para a adolescência e para a fase adulta na história também não parece muito bem resolvida. Mas são dois atores que se entregam, inteiros em cena; é como se esse projeto também fosse uma declaração de amor deles dois não só à amizade, mas a tudo que o teatro os proporcionou, ao próprio teatro.

Muitos dos elementos do teatro contemporâneo estão na montagem, desde a importância da musicalidade, a profusão de signos, o depoimento, os microfones no palco. Símbolos que juntos constróem uma obra que reverbera muita afetividade e consegue atrair o público.

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Memórias de uma estreia

Olivier e Lili – Uma história de amor em 900 frases será encenada na Mostra Capiba. Foto: Rogério Alves

A long time ago, num reino desencantado, um encenador que merece essa nomeação transformou uma criatura numa atriz. O espetáculo era Woyzeck, do alemão Georg Büchner. O encenador, Moncho Rodriguez. E aqui não estou avaliando método, processo, e relação do líder (que além de diretor de cena é diretor de ator) com o elenco, mas o resultado. O episódio da transformação. Isso sempre me volta como memória agradável e promissora. Então, é possível transformar alguém em um ator?! Bem, não sei se tanto, mas pelo menos naquela montagem a pessoa estava convincente, bela, límpida e transparente.

Assisti à montagem Olivier e Lili: Uma história de amor em 900 frases na estreia, no Teatro Hermilo Borba Filho, que foi um desastre. O som falhou, o vídeo pifou, os efeitos inventados pela equipe não funcionaram. Quer dizer, ficou um espetáculo meia boca, meia sola. Quem é de teatro sabe que essas coisas acontecem. Embora, por problemas técnicos, espetáculos já tenham sido detonados na cidade.

Sabemos também que, muitas vezes, a legitimação ou não de uma obra de arte depende de interesses extrínsecos ou obscuros; ou tão límpidos e transparentes que alguns insistem em não enxergar. É. A vida é cheia de mistérios. E os humanos, quando botam o lado podre para fora, é como um cegueira de ódio.

O texto original, Les Drôles, foi montado por Olivier Py e pela da dramaturga Elizabeth Mazev, em 1993, com direção dele. E passa pela história da amizade dos dois, o que eles enfrentaram quando mais jovens. O amor dos dois artistas franceses pelo teatro. Quem viu a encenação assinada por Py, garante que era leve, bonita e repleta de emoção.

Um parêntese. Em 2009, Ano da França no Brasil, foi apresentada em São Paulo a peça Epître aux jeunes acteurs (Epístola aos jovens atores), de Olivier Py, que além da dramaturgia assinava a direção e iluminação. Como o título sugere, trata da arte teatral e é apresentado como grande poema.

A dramaturgia de Olivier e Lili é problemática, lógico que na minha opinião, por vários aspectos. Entre eles não é possível enxergar os artistas Olivier Py, que foi diretor artístico do Odéon-Théâtre de l’Europe, em Paris, por cinco anos. E que, no ano que vem, assume o cargo de diretor do Festival de Avignon. Tampouco Elizabeth Mazev. Os personagens que dão título à peça ficam só na superfície.

Se esse teatro de fronteiras busca trabalhar com a memória dos atores, tendo por base o texto de Elizabeth, penso que eles não obtiveram êxito.

Dramaturgia evidencia muito mais as histórias de Leidson e Fátima

Talvez fosse melhor chamar a peça simplesmente de Leidson e Fatinha, pelo menos, o público saberia o que o esperava lá dentro: a história de vida dessas duas pessoas. Mas vamos lá. Trabalhando nessa zona de transição, a montagem, como um todo, precisaria avançar mais do que misturar as memórias dos franceses e dos pernambucanos. O que se vê no palco é muito pouco, enquanto pesquisa e experimentação contemporânea. Falta pulsação.

Eu adoro teatro. Os meus amigos, para me provocar, dizem que eu falei que até teatro ruim é bom. Eu nunca falei isso, não exatamente assim. Mas há espetáculos que são precários. Mas uma luz, um brilho no olho do ator, a troca que ele faz com o público, uma entonação, um gesto, revela uma faísca que pode virar labaredas.

Seguindo e voltando à questão do desempenho. As atuações são fracas, dos dois atores. A dele mais do que a dela. Ele é estridente e falta-lhe a graça sugerida pelo texto original. Leidson Ferraz é alto e magro, e Fátima Pontes é baixinha. A direção poderia tirar proveito dessa determinação da natureza. Claro que os dois atores têm potencialidades e podem ser melhor aproveitados. O que enxerguei foi um gestual pouco criativo, com clichês, modulação de voz acomodada e lembranças que não foram bem exploradas cenicamente. Essas são minhas impressões da estreia.

Gente que estava nesse mesmo dia que eu e voltou depois garante que o espetáculo ganhou outro rumo. Mas também escutei a mesma opinião que a minha de outros que viram a peça com tudo de cima. Bem, a minha memória, por enquanto é da estreia. E foi assim que recebi a peça.

A participação do diretor parece forçar uma barra. É lógico que tem muitos diretores que gostam de aparecer na cena. Gerald Thomas é um deles. Mas ele acrescentava, pelo menos, nas suas encenações mais emblemáticas. Não achei que era o caso.

De qualquer forma, pretendo assistir novamente ao espetáculo. Não sei se vai dar para ser hoje, quando Olivier e Lili é apresentado dentro da Mostra Capiba, às 20h, no Sesc Casa Amarela. Se não, no Janeiro de Grandes Espetáculos, que a peça está escalada. Quem sabe não mudo de opinião? Lembrando a música de Raul Seixas, Metamorfose: “Prefiro ser / Essa metamorfose ambulante / Eu prefiro ser / Essa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião /Formada sobre tudo…”

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Funarte divulga resultado do Myriam Muniz 2012

Na solidão dos campos de algodão, com Edjalma Freitas e Tay Lopez, vai circular graças ao Myriam Muniz. Foto: Pollyanna Diniz

Pelo jeito, o domingo será de listas no Yolanda! Sexta-feira a Funarte divulgou os contemplados do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz / 2012. É um edital muito importante, principalmente porque possibilita a circulação dos espetáculos, neste país tão grande. Muitas das montagens que recebemos aqui este ano foi graças ao Myriam Muniz. Claro que ainda há uma concentração muito grande de vencedores no eixo Rio-São Paulo, mas Pernambuco teve muita representatividade.

O ator e jornalista Leidson Ferraz participou da comissão que escolheu os projetos selecionados. “Voltei muito feliz, com a sensação de dever cumprido. E foi muito bom ver na Funarte, apesar dos problemas do serviço público, gente interessada e competente. Quero que seja possível trazer Heloísa Vinadé, coordenadora de teatro, ao Janeiro de Grandes Espetáculos, para que ela conheça a nossa produção”, afirmou.

Entre os projetos de circulação aprovados está Vestígios, direção de Antonio Edson Cadengue, Encruzilhada Hamlet e Na solidão dos campos de algodão, da Cia do Ator Nu, O beijo no asfalto, direção de Claudio Lira, Duas mulheres em preto e branco, com Paula de Renor e Sandra Possani. Para montagem, entre os selecionados está o projeto Ombuela, de Samuel Santos, e De Íris ao Arco-íris, proposto por Jorge de Paula.

No total, foram 131 projetos contemplados em duas categorias: Circulação de espetáculos e Montagem de espetáculos e/ou manutenção de atividades teatrais de grupos e companhias, com premiações que variam de R$ 50 mil a R$ 150 mil. O total de recursos do programa é de R$ 12 milhões, um aumento de 20% em relação ao orçamento de 2011.

Confira a lista dos selecionados no Myriam Muniz 2012

Peça Duas mulheres em preto e branco também foi contemplada. Foto: Ivana Moura

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