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Em cena o pensamento preto, no festival Dona Ruth

Naruna Costa, no Dona Ruth Festival de Teatro Negro. Foto: José Holanda / Divulgação

Jhow Carvalho Foto: Minas Produções / 

Dona Ruth: Festival de Teatro Negro em São Paulo é uma festa cênica dedicada exclusivamente ao teatro negro produzido na capital paulista e celebra permanentemente a memória da atriz Ruth de Souza (1921-2019). A programação é online, em respeito às exigências de isolamento devido à pandemia do novo Coronavírus. Em atividade desde o último dia 7, a nova edição do festival segue até o dia 28 de novembro e conta com cerca de 25 atividades gratuitas, como giras de conversa em ações afirmativas, um quilombo artístico pedagógico, espetáculos, experimentos cênicos online, performances e shows.

Os trabalhos são transmitidos ao vivo pelo canal do Dona Ruth:FTNsp no Youtube, sempre às sextas e sábados, e com Reprises às segundas e quintas-feiras, diretamente do Centro de Culturas Negras do Jabaquara Mãe Sylvia de Oxalá e dos teatros Cacilda Becker e Alfredo Mesquita. Todas as atrações artísticas do festival tem recursos de acessibilidade com tradução e interpretação para libras.

A pulsação desta sexta-feira vibra com o espetáculo Canto ao Pé do Ouvido, concebido e com atuação da atriz e diretora Naruna Costa. É um experimento cênico com texto de Marcelino Freire. Apresenta uma mulher, cantora, compositora, preta, que sacoleja os sons de seus pensamentos-ventos-sopros. São ideias que exigem respeito. A direção musical/ sonoplastia é assinada por Dani Nega.

Os que vieram antes de nós são lembrados e saudados na Gira de Conversa Ruth de Souza: A Memória como Fundamento do Teatro, com Jhow Carvalho e Eliane Weinfurter. Nesse debate ao vivo, eles falam das inquietações que atravessam o tempo, inspirados em artistas negras e negros decisivos para o surgimento de espaços próprios de criação e de disputa de imaginários. Subjetividades, presenças e qualidades expressivas de pessoas negras nas artes cênicas, no cinema e na teledramaturgia instigam a discussão.  

Tem muita história instigante neste festival, como a Performance Retrospectiva Preta 2020, em que Grace Passô e Novíssimo Edgar acionam memórias pretas para narram “coisas” que aconteceram durante esse giro da Terra em torno do Sol. A dramaturgia é de Dione Carlos em parceria com os dois atores. Também na pauta o espetáculo Preta Rainha, escrito por Jé de Oliveira, dirigido por Flávio Rodrigues e protagonizada por Aysha Nascimento. A peça ataca a construção violenta das políticas de embranquecimento brasileiro, o epistemicídio através das políticas de miscigenação e a objetificação e coisificação do corpo da mulher negra.

O show Slam Blues – Vocigrafias da atriz-MC Roberta Estrela D’Alva junta a palavra, a música, o improviso e o “spoken-word”, numa viagem musical em que a poesia se abraça o teatro e o hip-hop e se une ao blues.

A Estrangeira, com dramaturgia, direção e sonoplastia de Daniel Veiga e atuação de Fabiana Neves, mostra a dificuldade de uma mulher que está soterrada numa terra estranha após um ataque aéreo. Com o marido soterrado sob ela, e grávida de oito meses, ela não sabe como pedir ajuda, pois não fala a língua do povo dessa terra.

O espetáculo Auto do Negrinho propõe uma reflexão sobre o genocídio da juventude negra nos tempos de hoje, misturando características da literatura de cordel com a sonoridade da congada. A peça conta a história de Negrinho do Pastoreio, uma criança escravizada no Sul do Brasil. Com os atores Cleydson Catarina, Augusto Iúna, Fábio Santos.

Mijiba, A boneca guerreira discute de forma lúdica os problemas enfrentados pelas mulheres negras na sociedade, a partir da encomenda encontrada por dois palhaços carteiros. Com Valmir Cruz e Dede Ferreira e a musicista Girlei Miranda e direção de Paula Klein. Outra para o público infantil apresenta três colhedores de contos que peregrinam pelo continente africano resgatando memórias e alegrando as pessoas no espetáculo Contando África em Contos. Eles narram histórias vividas na Etiópia, Gana e Angola e propõe uma reflexão do que foi e do que é a África e toda sua influência pelo mundo. Com Jefferson Brito e Rita Teles.

O papo é reto nas giras de conversa.

Em Tiranias da Subjetividade, Leda Maria Martins e Rosane Borges reforçam a criticidade para pensar e repensar formas, técnicas, conteúdos e referências para as criações artística das pessoas negras. Elas nos convidam a pensar sobre as armadilhas que, no contexto de uma sociedade racista e capitalista, atravessam os processos criativos.

Já Adriana Paixão e Deise de Brito investigam os problemas antigos e as novas problemáticas que tensionam as concepções histórico-político-conceituais do Teatro Negro, atravessados pelas lutas de raça, gênero, classe, território e as construções conceituais e as produções artísticas na gira de conversa Teatros Negros e as Presenças Negras na Cena.

Ellen de Paula e Gabriel Cândido, os idealizadores do  festival, convocam para uma experimentação coletiva nesse momento em que muitos paradigmas estão sendo questionados e inclusive os próprios fundamentos do teatro enquanto arte de presença e de encontro.

Com o festival eles buscam dar outras relevâncias ao pensamento preto sobre as complexidades em movimento, a intensa produção de imagens que se retroalimentam como construtora de narrativas e imaginários hegemônicos. É um reforço para valorizar imagem do corpo negro, ampliar os espaços de articulação artísticos, pedagógicos e políticos em que predomine a humanidade de uma mudo mais justo.

A programação começou com a performance em celebração aos 45 anos do Teatro Popular Solano Trindade e dos 20 anos da Invasores Cia Experimental de Teatro Negro de Elis Trindade e Dirce Thomaz, no dia 7 de novembro. E já teve conversa com Zezé Motta, no encontro inaugural do Quilombo Artístico Pedagógico – Poéticas Cênicas. E Linn da Quebrada com o show Acusticuzinho.

Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo
de 7 a 28 de novembro.
Edição online.  Pelo canal do Dona Ruth:FTNsp no Youtube
Informações @donaruth.ftnsp

13 de novembro:

    • 19h Gira Ruth de Souza: a memória como fundamento do Teatro, com Eliane Weinfurter e Jhow Carvalho. REPRISE: 16/11 às 14h.
      Transmissão do Teatro Cacilda Becker
      Classificação: Livre.
      90min.
    • 21h Canto ao pé do ouvido, com Naruna Costa. REPRISE: 19/11 às 20h.
      Transmissão direta do Teatro Cacilda Becker
      Classificação: Livre
      40min

 14 de novembro:

    • 10h Quilombo Artístico – Pedagógico módulo Direção, com Luh Maza.
    • 14h Espetáculo Infantil Mjiba, a boneca Guerreira, com Trupe Liuds. REPRISE: 19/11 às 10h.
      Local: Transmissão do Teatro Alfredo Mesquita pelo Youtube/Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo

      Classificação: Livre
      50min
    • 21h Experimento Cênico A estrangeira de Daniel Veiga e com Fabiana Neves. REPRISE: 16/11 às 20h.
      Local: Transmissão direta do Teatro Alfredo Mesquita pelo
      Youtube/Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo
      Classificação: 14 anos
      40min

20 de novembro:

    • 19h Gira de Conversa Tiranias da Subjetividade, com Leda Maria Martins e Rosane Borges. REPRISE: 23/11 às 14h.Local: Transmissão direta do Teatro Cacilda Becker
      Classificação: Livre.
      90min.
    • 21h Espetáculo Auto do Negrinho, com Terreiro Encantado. REPRISE: 23/11 às 20h.Local: Transmissão direta do Teatro Cacilda Becker
      Classificação: 12 anos
      60min

21 de novembro: 

    • 10h Quilombo Artístico – Pedagógico módulo Performance com Ana Musidora.
    • 21h Espetáculo Preta Rainha, com Aysha Nascimento. REPRISE: 26/11 às 20h.
      Local: Transmissão direta do Teatro Alfredo Mesquita
      Classificação: 14 anos
      40min

27 de novembro:

    • 19h Gira de Conversa Teatros Negros e as Presenças Negras na Cena, com Adriana Paixão e Deise Brito. REPRISE: 29/11 às14h.
      Local: Transmissão direta do Teatro Cacilda Becker
      Classificação: Livre.
      90min.
    • 21h Espetáculo Slam Blues – Vocigrafias, com Roberta Estrela D’Alva. REPRISE: 29/11 às 21h.
      Local: Transmissão direta do Teatro Cacilda Becker
      Classificação: Livre
      60min

28 de novembro

    • 10h Quilombo Artístico-Pedagógico módulo Dramaturgia com Dione Carlos.
    • 14h Espetáculo Infantil Contando África em Contos, com Cia Colhendo Contos e Diáspora Negra. REPRISE: 29/11 às 10h.
      Local: Transmissão direta do Teatro Alfredo Mesquita
      Classificação: Livre
      45min
    • 19h Encerramento Vídeo Aquariane + CultNe.
    • 21h Performance Retrospectiva Preta 2020, com Grace Passô e Novíssimo Edgar. REPRISE: 29/11 às 19hLocal: Transmissão direta do Teatro Alfredo Mesquita
      Classificação: 16 Anos
      60 minutos.
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