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Caminhando ao passado

Filha da anistia. Fotos: Vítor Vieira

Quando decidiram montar Filha da anistia, os atores da Caros Amigos Cia. de Teatro, de São Paulo, não queriam uma peça datada ou histórica sobre a época em que o Brasil vivenciou uma ditadura militar. Por isso mesmo, nas quatro apresentações gratuitas que o grupo fará no Recife – de hoje a domingo, sempre às 20h, no Teatro Apolo – não espere música de Geraldo Vandré ou cenas de tortura.

A intenção dos atores era trazer uma história em que as pessoas, de todas as idades, se interessassem, se identificassem e pudessem, aí sim, refletir sobre o passado. “É uma inquietação enquanto artistas e cidadãos, de olhar para o nosso passado tão recente e ver parte da história que não está esclarecida, não é conhecida de verdade”, explica o ator Alexandre Piccini, que divide a cena e a autoria do texto com Carolina Rodrigues. A direção é de João Otávio.

No enredo, Clara também não conhece a sua história. Foi criada pelos avós, ouvindo que a mãe havia morrido no parto. Quando os avós morrem, ela vai em busca do pai e descobre que tudo que sabia sobre si mesma não era bem verdade. “Criamos uma ficção, mas que é um recorte de muitas histórias de pessoas que viveram nessa época”, conta o ator.

Ele e Carolina passaram três anos pesquisando em arquivos públicos, livros, documentos e ouvindo depoimentos para montar a dramaturgia da peça, que recebeu incentivo do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura de São Paulo em 2009, estreou em 2010, e agora estabeleceu uma parceria com o projeto Marcas da memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Através dessa parceria, a peça vai passar por lugares como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Teresina e Brasília, além de Pernambuco.

Clara não sabe a sua própria história

Depois de cada apresentação, é realizado um debate com os atores, convidados e o público. “Já tivemos conversas maravilhosas, porque na plateia acontece o encontro de gerações que nos interessa muito. E assim conhecemos o nosso presente. Porque a nossa educação, cultura, segurança pública, a maneira de se comportar dentro de uma democracia, foram moldados a partir do período da ditadura”, finaliza o ator.

CURTINHAS:

Muita coisa rolando hoje na cidade. Aí vão outras dicas:

1 Torto, do Magiluth, será apresentado no Teatro Arraial, na Rua da Aurora, às 20h. O texto e a encenação são de Giordano Castro e a direção é de Pedro Wagner. O grupo propõe um jogo cênico com o cotidiano de um personagem que vive procurando palavras para dizer quem é e não consegue domar o coração. Pode ser brega e até prolixo; mas é, sobretudo, um cara comum. Aproveitem porque, por agora, esa será uma das últimas oportunidades de ver a peça, já que, por estes dias, a companhia estreia O canto de Gregório. Ingressos: R$ 10.

Giordano Castro protagoniza 1 Torto. Foto: Val Lima

– O espetáculo Separação amigável faz, nesta quinta (31) e sexta-feira (01), às 20h, as duas últimas apresentações da temporada no Teatro Valdemar de Oliveira, na Boa Vista. A montagem traz Renata Phaelante, Pascoal Filizola, Sandra Rino e Valdir Oliveira no elenco e tem direção de Kleber Lourenço. O texto é de Renata Phaelante (estreando na dramaturgia), que começou a carreira de atriz aos nove anos, em 1982, com a peça A capital federal, uma montagem do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). A montagem traz um casal em crise, depois que o marido foi “flagrado” com a vizinha piriguete no elevador. Só que ela tem um marido ciumento e muito estranho, que veio cobrar satisfação! Ingressos: R$ 10 e R$ 5.

Pascoal Filizola e Renata Phaelante interpretam casal em crise. Foto: Val Lima

-O Grupo Grial de Dança apresenta, hoje e amanhã, o espetáculo Travessia, às 20h, no recém-inaugurado Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu. Se você ainda não conheceu a nova casa, está aí uma ótima oportunidade! Segunda etapa da trilogia Uma história, duas ou três – iniciada em maio, com A barca, na Praça do Arsenal – o espetáculo celebra os contadores de histórias da atualidade, a partir do legado de Dona Militana, romanceira potiguar falecida em junho, aos 85 anos. A coreografia contempla desde as pinturas rupestres e itaquatiaras (pedra pintada, em tupi) que registram o início da história da humanidade, até as histórias transmitidas oralmente, nos dias atuais. A cantadeira Nice Teles, do Cavalo Marinho Estrela Brilhante, de Condado, canta ao vivo durante Travessia, que teve cenários criados por Dantas Suassuna. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados com duas horas de antecedência.

Grial homenageia Dona Militana, romanceira potiguar

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Do concreto ao mangue

Foto: Juliana Leitão

Escrever um texto teatral a partir de fotografias de uma cidade – que não é a sua. Para realizar essa tarefa, os integrantes do grupo Magiluth – que tem no repertório os espetáculos Corra, Ato e 1 Torto – criaram um jogo de improvisação. Deu tão certo que eles contam que voltaram à adolescência. Dividem as tardes entre o jogo, os ensaios para o novo espetáculo do grupo, que tem nome provisório de O canto de Gregório, e os trabalhos de produção.

Hoje, às 19h30, os garotos recebem o público no Teatro Joaquim Cardozo, no Centro Cultural Benfica, para apresentar a primeira cena resultante desse jogo; depois, debatem sobre o processo de criação. O jogo não é à toa – o Magiluth foi um dos contemplados pelo edital do Rumos Itaú Cultural – Teatro para realizar um intercâmbio com outra companhia brasileira, no caso, o Teatro do Concreto, de Brasília.

Durante seis meses, os dois grupos vão trocar experiências artísticas, estéticas e de criação, e também relativas à gestãodas companhias. A cada mês, cada uma das companhias tem a responsabilidade de enviar três fotos da sua cidade a outra; a partir daí, são criadas cenas curtas de, no máximo, 15 minutos. “A nossa maior dificuldade foi inventar essa metodologia de trabalho, depois de receber as imagens. Porque o Teatro do Concreto já tinha essa experiência de criar a partir de fotografias”, explica o ator Pedro Vilela.

Em junho, os pernambucanos recebem a visita dos brasilienses, sob a coordenação do diretor Luis Fernando Marques, do grupo XIX, de São Paulo, que tem experiência com investigações urbanas; depois, é o Magiluth quem vai a Brasília. Tanto aqui quanto lá, há a previsão de apresentações ao público, embora o projeto, intitulado Do concreto ao mangue – Aquilo que meu olhar guardou para você, não tenha necessariamente a intenção de montar um espetáculo único.

Pedro Vilela e Giordano Castro. Foto: Pollyanna Diniz

Teatro de pesquisa – Os integrantes do Magiluth se reuniram na Universidade Federal de Pernambuco em 2004. Talvez por isso, a pesquisa, o experimentalismo e a necessidade de se arriscar – às vezes com resultados positivos, outras nem tanto -, ao fazer teatro sejam tão presentes nos espetáculos do grupo. Os artistas do Magiluth e do Teatro do Concreto se conheceram em 2009, durante a reunião de um movimento de teatro de grupos, que visava compartilhar experiências e pesquisas. Ainda assim, ao vivo, eles nunca viram apresentações um do outro. “E mesmo assim percebemos que discutimos coisas semelhantes nos espetáculo. O grupo deles também é formado basicamente por estudantes, recém-formados, é ligado à questão da pesquisa, trabalha com dramaturgia própria”, diz o ator Giordano Castro. “Eles tem como referência o teatro da Vertigem”, complementa Pedro Wagner, também ator. No país, este edital do Itaú Cultural premiou 11 projetos, sendo 22 grupos participantes. No caso do Magiluth e Do concreto, cada grupo recebeu R$ 44 mil para viabilizar o projeto.

Serviço:

Do concreto ao mangue – Aquilo que meu olhar guardou para você
Onde: Teatro Joaquim Cardozo
Quando: hoje, às 19h30
Quanto: entrada gratuita

Pedro Vilela. Foto: Pollyanna Diniz

As experiências do intercâmbio estão registradas no blog http://doconcretoaomangue.blogspot.com/ .

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