Rock para liberar as ideias

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Cabeça, Um Documentário Cênico, com o grupo carioca Complexo Duplo. Fotos: Ricardo Brajterman

Cabeça © Foto Ricardo Brajterman (2)

Cabeça © Foto Ricardo Brajterman (3)

Fotos: Ricardo Brajterman

Os anos 1980 não são jurássicos. A tirar pela atualidade das 13 músicas do álbum Cabeça Dinossauro, dos Titãs, lançado em 1986. Era um momento de transição no Brasil, pós-ditadura, e a população andava com sede e fome de democracia. E a música, o rock nacional traduzia muito bem esses desejos de viver sem temor. Os atores / músicos da montagem Cabeça, Um Documentário Cênico eram uns garotos que não decidiam muito, alguns deles nem votavam. Mas todos foram marcados por esses disco.

Os artistas da peça puxam a memória do álbum e sua crítica ao capitalismo, ao estado, à religião e à família para fazer conexões com esses tempos estranhos, obscuros e de retrocessos em algumas conquistas dos direitos civis que vivemos hoje. Cabeça de Dinossauro, dos Titãs, é considerado um dos mais cáusticos discos daquele momento.

Nas pegadas das letras musicais, a dramaturgia segue o espírito contestador e tom crítico.
Dirigido por Felipe Vidal, o espetáculo estreou ano passado, como parte das comemorações dos 30 anos do álbum. Oito homens em cena executam todas as canções de Cabeça Dinossauro. A encenação utiliza também projeções que compõem um painel dos episódios emblemáticos nacionais e mundiais dos anos 1980 em conexão com os dias de hoje. O espetáculo foi o vencedor do Prêmio Shell (RJ) na categoria melhor música.

As memórias dos atuadores também servem de ingredientes da dramaturgia desse espetáculo, que integra a Trilogia Paramusical, que já ergueu a peça Contra o Vento, que celebra os musicais dos anos 1960).

Para traçar esse retrato sonoro de um disco estão em cena Felipe Antello, Felipe Vidal, Guilherme Miranda, Gui Stutz, Leonardo Corajo, Lucas Gouvêa, Luciano Moreira e Sérgio Medeiros.

O espetáculo do Coletivo Complexo Duplo (RJ) faz sessões nos dias 6 e 7 de maio, no Teatro Apolo, no Recife, dentro do Trema! Festival de Teatro.

Três perguntas para o diretor Felipe Vidal

Felipe Vidal é diretor e ator de Cabeça. Foto: Reprodução do Facebook

Felipe Vidal é diretor e ator de Cabeça. Foto: Reprodução do Facebook

O que é Cabeça?
Cabeça uma peça de teatro documentário a partir do álbum Cabeça Dinossauro dos Titãs, mas discutindo mais do que tudo esses últimos 30 anos de história, política principalmente, do Brasil e do mundo a partir dos temas que os Titãs provocaram, colocaram ali no disco, que são muito diretos assim, de contestação às instituições. As músicas têm títulos Família, Igreja, Porrada… Então Cabeça é isso. Um espetáculo que tem um diálogo com um disco de 31 anos atrás, mas que fala sobretudo sobre a história política do Brasil e a partir disso do mundo um pouco nesses últimos 30 anos.

Como está a cabeça do brasileiro hoje?
Como anda a cabeça do brasileiro agora acho que muito dividida né?! dividida em facções muito determinadas assim e também confusa com esse período que a gente tá vivendo. E uma coisa muito curiosa do espetáculo é ao mesmo tempo terrível do Brasil, mas ao mesmo tempo interessante como obra de arte de pensar na potência do que os Titãs construíram foi que um disco contestador em 1986 ele parece que foi escrito, as músicas parecem que foram compostas ontem. Então a gente rodou, rodou, girou e parece que tá indo para o mesmo lugar, E às vezes em retrocesso… Acho que a cabeça do brasileiro hoje está muito confusa e ao mesmo tempo muito dividida em posições muitas antagônicas, muito extremas.

Sobre o futuro. A partir dessa proposta musical, dessas letras, o que projeta, propõe para o futuro, enquanto luta ou enquanto alguma coisa mais esperança…
Acho que qualquer obra de arte contestadora tem como premissa mudar as coisas. Você fala que um lugar é terrível, que a instituição é assim, que a polícia é assim, que a família é assim, mas numa perspectiva de “vamos refletir sobre isso, vamos propor outros caminhos”. Então acho que os Titãs fizeram em 30 anos e a gente nesse diálogo faz essa mesma proposta. A gente está vivendo nesse lugar estranho que esses caras estavam falando há 30 anos. Voltamos um pouco para esse mesmo buraco e aí? O que é que a gente faz? Acho que a peça não tem uma proposta de solução, nada disso, mas é levantando essas perguntas e provocando, para pensar num futuro melhor. E nada melhor nesse sentido do que o rock, a música para mobilizar o corpo de uma maneira muito concreta. As pessoas ficam muito mobilizadas mesmo com a música, que tem essa potência, assim.
Uma coisa que é curiosa é que as pessoas falam assim: “Ah essa peça é boa para a gente assistir de pé”. Eu discordo um pouco. Eu acho que essa tensão de você ter vontade de levantar, de se mexer, de dançar ou alguma coisa assim, e ao mesmo tempo dialogar com o que a gente tá colocando como texto ali, como conteúdo é onde a gente estava querendo chegar. De que esse corpo ficasse tensionado e pudesse explodir no final. A gente faz no final – já dando spoiler – uma proposta de catarse para todo mundo dançar. Então acho que tem a proposta de mexer o corpo para mexer a cabeça, para pensar um futuro melhor.

FICHA TÉCNICA
DRAMATURGIA, DIREÇÃO E CENOGRAFIA: Felipe Vidal
ELENCO: Felipe Antello, Felipe Vidal, Guilherme Miranda, Gui Stutz, Leonardo Corajo, Lucas Gouvêa, Luciano Moreira
e Sergio Medeiros
DIRETOR ASSISTENTE: Rafael Sieg
DIREÇÃO MUSICAL: Luciano Moreira e Felipe Vidal
DIREÇÃO DE MOVIMENTO: Denise Stutz
FIGURINOS: Flavio Souza
ILUMINAÇÃO: Tomás Ribas
VIDEOGRAFISMO PROGRAMAÇÃO VISUAL: Eduardo Souza (PAVÊ)
INTERLOCUÇÃO DRAMATÚRGICA: Daniele Avila Small
DESENHO DE SOM | Branco Ferreira
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Luísa Barros
REALIZAÇÃO: Complexo Duplo
DURAÇÃO DO ESPETÁCULO: 1h50 (com intervalo de 10 minutos)
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 16 anos

SERVIÇO
Cabeça (Um Documentário cênico) – Coletivo Complexo Duplo (RJ)
Quando: 6 de maio, 20h e 7 de maio, às 19h
Onde: Teatro Apolo
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

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