O Monstro de Olhos Azuis
Ocupação Tônia Carrero no Itaú Cultural

Tônia Carrero. Foto: Acervo Da Família / Divulgação

Tônia Carrero foi uma mulher de atitude, além de ostentar uma beleza estonteante. Depois de trilhar muitos caminhos e vencer jornadas, comentou que fez da vida o que sempre quis. Nascida Maria Antonietta de Farias Portocarrero, filha do militar Hermenegildo, e da dona de casa conservadora Zilda, ela foi incentivada pelo pai no universo das artes. Mesmo com a reprovação da mãe, Tônia seguiu sua vocação.

A atriz brilhou em todos os terrenos que pisou – teatro, cinema, televisão – e também como empresária teatral. A carioca Tônia Carrero (1922 – 2018), que, se viva, completaria 100 anos no dia 23 de agosto, é a estrela da nova Ocupação no Itaú Cultural.

A Ocupação Tônia Carrero está em cartaz de 13 de agosto até 6 de novembro com exposição e outras celebrações em sinergia durante este período, com mostra de filmes na plataforma de cinema brasileiro Itaú Cultural Play, encenação de Navalha na Carne, com Luisa Thiré no papel da prostituta Neusa Sueli interpretada por sua avó na década de 1960; leitura dramática das memórias da atriz em seu livro O Monstro de Olhos Azuis, na atuação de seus netos Luisa, Carlos Arthur, João e Miguel, e uma série de quatro episódios do teleteatro, Tônia, um corpo político, sob direção de Fabiano Dadado de Freitas.

Também fazem parte do rito de celebração um Almanaque – disponível no formato impresso e on-line –, o site e a playlist da Ocupação no Spotify, além de ações educativas diversas, presencial e virtual.

Tônia e Paulo Autran em Um Deus Dormiu Lá em Casa, de 1949. Estreia profissional dos dois. Foto: Acervo da Família / Divulgação

Tônia e Autran em Seis Personagens à Procura de Um Autor, de  1959. Foto: Acervo da Família

No filme É Proibido Beijar, de 1954, de De Ugo Lombardi. Foto: Acervo da Família

Tônia e seu filho, o ator Cecil, em A Divina Sarah, de 1984. Foto Acervo da Familia

Mais de 230 peças fazem parte da exposição, que mergulha na vida, obra e processo de criação da homenageada. Compõem o painel fotografias, audiovisuais, trechos de filmes, roteiros originais, documentos, jornais, bilhetes, cadernos de anotações da atriz, cartazes de filmes e peças, entre outros. O material vem de fontes como o próprio baú de sua família, os arquivos da Cinemateca, TV Cultura, Instituto Moreira Salles, Museu da TV, Centro Cultural São Paulo, Arquivo Nacional e a coleção de figurinos de Marcelo Del Cima.

A visita ao universo de Tônia Carrero inclui o núcleo Navalha na Carne, um dos seus papéis mais emblemáticos. Com texto de Plínio Marcos e direção de Fauzi Arap, ela estreou esta peça em 1967, plena ditadura militar, ao lado de Emiliano Queiroz e Nelson Xavier. Seu papel, o da prostituta Neusa Sueli, exigiu que engordasse e falasse palavrões. Ganhou o Prêmio Molière de Melhor Atriz por esse trabalho e expressou seu posicionamento político ao tomar frente do processo de liberação da peça, inicialmente proibida pela censura da época.

Tônia, Emiliano Queiroz e Nelson Xavier, em Navalha na Carne (1968), de Plínio Marcos. Foto: Reprodução

Marcha contra a censura realizada em 1968 no Rio de Janeiro; Tônia é a segunda mulher, da esquerda 

Sua postura foi de defesa pela liberdade de expressão e pelas peças em que acreditava. Uma foto icônica, presente na mostra, Tônia aparece em frente à passeata da greve dos artistas contra a censura e a ditadura, ao lado das atrizes Eva Todor, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengell, em 1968, no Rio de Janeiro.

O percurso da artista no mundo das artes começou pelo cinema e o teatro. Tônia se formou em educação física, casou-se com o artista visual e diretor de cinema Carlos Thiré, com quem teve o único filho, Cecil. Foi estudar na França com Jean-Louis Barrault que a desincentivou de ser atriz. Tinha 25 anos quando voltou ao Brasil e estreou no cinema com Querida Suzana, de Alberto Pieralise, ao lado de Anselmo Duarte e Nicette Bruno. Na sequência foi dirigida por Fernando de Barros em Caminhos do Sul (1949) e Perdida pela Paixão (1950).

A televisão entrou em sua vida no final da década de 1960, pelas mãos de Vicente Sesso para fazer, na extinta Excelsior, a telenovela Sangue do Meu Sangue, ao lado de Fernanda Montenegro e Francisco Cuoco, com direção de Sergio Britto.

Atriz, produtora e empresária, ela foi responsável do então aspirante a advogado Paulo Autran se tornar um reconhecido ator. Tônia participou de 19 filmes. fez 15 telenovelas, entre a Tupi, SBT e Globo, recebeu nove prêmios, encenou 25 peças com Paulo Autran e sete com seu filho. Na Companhia Tônia-Celi-Autran (CTCA), encenou outras 17. No total, a atriz participou de 54 montagens diferentes. Tônia morreu em 2018, aos 95 anos.

A exposição tem pesquisa, concepção, curadoria e realização da equipe Itaú Cultural, formada pelos núcleos de Artes Cênicas e da Enciclopédia. A cocuradoria é de Luisa Thiré e o projeto expográfico de Kleber Montanheiro.

SERVIÇO:

Ocupação Tônia Carrero
De 13 de agosto a 6 de novembro de 2022
Terças-feiras a sábado das 11h às 20h
Domingos e feriados das 11h às 19h

Pesquisa, concepção, curadoria e realização: Itaú Cultural
Cocuradoria: Luisa Thiré
Projeto expográfico: Kleber Montanheiro

Programação Cênica

Navalha na Carne – Uma homenagem a Tônia Carrero
Com Luisa Thiré, Alex Nader e Ranieri Gonzalez
Dia 23 (terça-feira), às 20h
Sala Itaú Cultural
Capacidade: 224
Duração: 1h
Classificação Indicativa: 16 anos (violência psicológica, violência física, discriminação, vocabulário chulo)
Distribuição de ingressos: INTI. Consulte o site a partir de 17 de agosto, quando serão abertas as reservas

O Monstro de Olhos Azuis – Memórias de Tônia Carrero
Com Luisa, Carlos Arthur, João e Miguel Thiré
De 25 a 27 (quinta-feira a sábado), às 20h
Dia 28 (domingo), às 19h
Sala Itaú Cultural
Capacidade: 224
Duração: 1h
Classificação Indicativa: 12 anos (vocabulário culto)
Distribuição de ingressos: INTI. Consulte o site a partir de 17 de agosto, quando serão abertas as reservas

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