Eclipse total do amor

Antes da estreia, tão assoberbados que estavam para cumprir prazos com o edital de financiamento, eles não imaginaram qual seria a reação do público à montagem. Não tinham nem material de divulgação. A atriz Hermila Guedes foi assistir a um dos últimos ensaios e disparou: “vocês têm uma pérola nas mãos”. Veio a estreia no Teatro Capiba, que fica dentro do Sesc de Casa Amarela, já no final da Avenida Norte. Apesar de ser um teatro estruturado, consolidado, não é uma casa tão conhecida pelo público ou de fácil acesso no fim de semana. Ainda mais com um campeonato de futebol no Arruda que deixava as ruas por ali tomadas de torcedores.

Mesmo assim, na estreia, lotação máxima. E no outro dia, no fim de semana seguinte e por toda a temporada. Mas o reconhecimento público veio mesmo no último festival Janeiro de Grandes Espetáculos, quando a peça O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas ganhou os prêmios de melhor montagem pelos júris oficial e popular.

As mocinhas de O amor de Clotilde. Fotos: Ivana Moura

Hoje, às 20h, o espetáculo da Trupe Ensaia aqui e Acolá comemora um ano de trajetória com uma apresentação especial no Santa Isabel. Por coincidência, na trama, o primeiro encontro que presenciamos entre a mocinha Clotilde e o galante Leandro Dantas é no teatro da Praça da República, reduto burguês no Recife do século 19. O comerciante Jaime Favais, pai de Clotilde, cai no sono num dos camarotes enquanto no palco a trama de E o vento levou se desenrola.

O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas é inspirada no livro A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, que conta a história de um pai que emparedou a filha viva porque ela estaria grávida. Dizem até que a lenda foi baseada em fatos verídicos. De qualquer forma, nessa releitura melodramática que bebe no circo-teatro, uma pesquisa sobre os estudos de Marco Camarotti (1974-2004), a trama toma outros rumos e merece final feliz.

Jorge de Paula, também ator, diretor e cenógrafo

Clotilde ama Leandro, um galante que jura amá-la também. Mas o seu primo português quer impedir que o dinheiro do tio comerciante vá parar em outras mãos que não as suas. A trama tem movimentos exagerados e marcados, choro ou riso desmedidos, colorido extravagante, referências à cultura pop, inclusive nas dublagens de músicas, sucessos das décadas de 1980 e 1990 – os momentos mais engraçados da peça.

No ensaio que o grupo fez na última terça-feira no Santa Isabel, pergunto o que mudou na peça desde a estreia. “Apesar da aceitação do público, nós recebemos críticas e quando elas batem muito no mesmo ponto, nós avaliamos, conversamos. A peça já mudou muito. Hoje, por exemplo, estamos estudando mudar uma das músicas da dublagem”, conta o diretor e ator Jorge de Paula, que assina ainda o cenário. A duração da montagem – que chegou a ser encenada em Arcoverde em quase duas horas – também foi modificada. Agora, a peça se desenrola em divertidas 1h30 de sessão.

O sucesso da peça em terras pernambucanas rendeu convites ao grupo. “Tomou outra dimensão. Uma repercussão interestadual”, diz o ator Tatto Medinni, para gargalhada geral do elenco. O grupo segue para o festival Cena contemporânea, em Brasília, no início de setembro, e logo depois para o Porto Alegre em Cena. Antes disso, no mês de agosto vai a Surubim, aqui mesmo em Pernambuco. A apresentação no Santa Isabel é também uma forma de arrecadar dinheiro para o transporte do cenário. Recado dado. Ao invés do cinema no sábado à noite, a programação de hoje é ir ao teatro. Até lá, o ensaio serve para deixar tudo prontinho e garantir que música e canto estejam na sincronia certa e que nenhum aplique no cabelo da mocinha vá cair justo no meio da dança.

Antes de entrar em cena

O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas
Quando: hoje, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel – Praça da República, s/n, Recife
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-3323

Na cena que acontece no Santa Isabel

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4 pensou em “Eclipse total do amor

  1. Ricardo Mourão

    Adorável encenação! Meu desejo de sucesso, sempre. É com muita felicidade que vejo grupos estruturados e estruturando-se na busca de trabalhos que, sim, podem alcançar o público através de inventividade, dedicação, alegria e talento. Parabéns pelo primeiro ano, de muitos que virão, com toda certeza!!

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  2. Yolanda

    A peça me impressionou muito! A sensibilidade do texto, a competência dos atores e atrizes, o cenário tão versátil…. Obra digna de mestre!
    Saí do teatro feliz em ser recifense, que mesmo tendo essa ‘contribuição’ do poder público irrisória é tão digno, inteligente e ousado.

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  3. Jorge de Paula

    Nunca havia me apresentado no Teatro de Santa Isabel. Ontem, pela primeira vez, tive essa orpotunidade e para minha alegria e nervosismo o teatro estava com lotação máxima. Que sensação energizante. Carinho espalhado por todos os lados. Agradeço a presença de todos as pessoas. Sintam meu cheiro acafungado no cangote de cada um.

    Especial: A Trupe Ensaia Aqui e Acolá agradece emocionada ao apoio e cuidado de Ivana Moura e Pollyana Diniz ao primeiro ano do espetáculo O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas. Vocês tiveram uma participação especial nessa tragetória. Vamos em frente.Muitas formosuras para vocês.

    Um cheiro especial também para Lina Fernandes, outra entusiasta por nosso trabalho. Muito obrigado, Lina!

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  4. Tatto Medinni

    Muito Obrigado, Yolandas! Fiquei muito feliz e emocionado em ver que tanto suor e dedicação valeu a pena! Espero o 2º, 3º, 4º… Enfim, vários! O apoio de tanta, mas tanta gente, foi superimportante para nossa celebração! Beijo em vocês e para todos que estavam lá no Santa Isabel e, também, para os que não estavam e que torcem pelo Teatro,o que é mais importante. O TEATRO!

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