Arquivo da categoria: Entrevistas

Bolhas de poesia na cena para as crianças

Vento Forte para Água e Sabão, montagem da Cia Fiandeiros de Teatro. Foto: Divulgação

Vento Forte para Água e Sabão, montagem da Companhia Fiandeiros de Teatro. Foto: Rogério Alves/Divulgação

Intensidade ou permanência. Há gente para tudo neste mundo. Uns preferem o furor e desfrutam com a máxima magnitude tudo que a existência oferece. Outros optam pela duração, sem grandes riscos. Na ficção também acontecem lances assim. Com muitas possibilidades de gradação nas escolhas entre os dois pontos. Em Vento forte para água e sabão, oitavo espetáculo e o segundo infanto-juvenil (o primeiro foi Outra Vez, Era Uma Vez, de 2008) da Companhia Fiandeiros de Teatro, a bolha Bolonhesa tentou se preservar, ficar parada no seu cantinho, sem grandes emoções. Mas Arlindo, a rajada de vento, a seduziu com o anúncio dos encantos do mundo. E Bolonhesa aceitou viver uma aventura incrível, de tocar e ser tocada pela essência das coisas.

A partir da metáfora dessa excêntrica amizade entre uma bolha de sabão e uma rajada de vento, os dramaturgos Giordano Castro e Amanda Torres criaram um texto que descama o sentido errático da vida e inexorável da morte, com uma roupagem lúdica. O musical trata de assuntos considerados mais espinhosos para os pequenos, como rompimentos de relações, traições, dificuldades, decepções e luto.

O diretor da companhia e do espetáculo André Filho aposta que é possível dialogar sobre absolutamente tudo com os miúdos. A dramaturgia toma corpo com músicas originais, nutridas de jazz e referências populares. E lembra que é preciso nos reconciliarmos com nossas crianças interiores, mais puras e frágeis, mas também repletas de coragem.

A peça está em cartaz no Teatro Hermilo Borba Filho, aos sábados e domingos, às 16h, até o final de maio. Participam dessa empreitada os atores Tiago Gondim, Daniela Travassos, Geysa Barlavento, Kéllia Phayza, Victor Chitunda e Ricardo Angeiras.

Na entrevista que segue, André Filho fala sobre a montagem de Vento Forte para Água e Sabão, além de temas como criação teatral e política cultural no Recife.

Serviço
Peça Vento forte para água e sabão
Quando: Sábados de domingos de maio, às 16h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho – Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife
Quanto: R$ 5 (meia-entrada para todos nos dois primeiros fins de semana); R$ 10 (restante da temporada)
Mais informações: (81) 4141.2431 e 3355.3320

André Filho é diretor da Cia. Fiandeiros. Foto: Daniela Travassos

ENTREVISTA // ANDRÉ FILHO

A passagem do texto à cena é um momento de escolhas. Quais as opções em Vento Forte para Água e Sabão?

Vento Forte para Água e Sabão é um texto que traz várias discussões interessantes. Uma delas, se não a mais importante, é a temática da morte. Este tema é sempre repleto de muito tabu quando se escreve ou quando se encena para esse público específico. Mas a maneira inteligente e lúdica que os autores encontraram me cativou. Resolvi seguir então o caminho dessa discussão justamente pela contramão, ou seja falar sobre morte a partir da vida, o sopro da criação, a relação com o divino que vem de nosso pulmão. Procurei contrastar o macrocosmo e o microcosmo, aqui simbolizado pelo clássico e pelo popular respectivamente, mas sem mensurar valores de importância. Vida e morte, luz e sombra, ausência e conteúdo, tudo se complementa, assim como tudo que existe no universo. Gosto muito da musicalidade que a peça me propõe, neste sentido também procuramos dialogar com partituras populares e clássicas, fazendo referências que vão desde as antigas bandas de Jazz, até musicais mais contemporâneos.

Quais os caminhos que o texto indica?

O texto indica várias possibilidades de discussão além da vida e morte. Conceitos como tempo e espaço, novas descobertas, eternidade e efemeridade. Estas são apenas algumas possibilidades. É uma dramaturgia que não se prende apenas a cores, à magia, ao encantamento.

Giordano Castro já disse que quando escreve não se preocupa com a cena, como as coisas vão ser materializadas na cena. Como foi o processo de construção da peça?

Começamos pela desconstrução de que teatro para criança tem que ser bobo. Um texto como Vento Forte para Água e Sabão requer um olhar desprovido de preconceitos sobre o que deve ser dialogado com o universo da criança. Nosso processo iniciou-se a partir da ideia do sopro da criação, o sopro da palavra, do canto. Construir pontes entre coisas simples, como bolhas de sabão, planetas, estrelas. Brincar com o clássico e o popular esse foi o inicio do processo de construção, que ainda está em processo.

Que valores você destaca na peça?

Não gosto muito de destacar valores em uma obra de arte, prefiro falar em sintomas, valores soa para mim como algo pré-definido e majorado como sendo o politicamente correto. É uma história muito simples, de uma bolha de sabão e sua amizade com uma rajada de vento, duas entidades com essências tão diferentes uma da outra, mas que ao mesmo tempo se complementam. A bolha necessita do vento para existir e por sua vez o ar necessita da bolha para justificar a sua função de sopro, de flutuação. Talvez esse seja o grande sintoma, a tolerância às diferenças. Esse fator que é cada vez mais raro em nosso mundo de hoje.

Como a peça dialoga com o Brasil de hoje?

O Brasil de hoje é um país sem rumo político, com pessoas se agredindo mutuamente por diferenças raciais, religiosas, sexuais, políticas. Falta-nos a capacidade da tolerância, a compreensão de que por alguém ser, ou pensar, diferente de nós ele não precisa ser reprimido por isso. Nesse sentido acho a peça bem antenada com nosso momento atual. Falta-nos a capacidade de “poetizar”, de olhar o outro não como um estrangeiro mas como um parceiro na construção de uma sociedade mais justa. Que os ventos de um novo tempo nos levem, como bolhas de sabão, a conhecer outros ares melhores que este em que estamos vivendo.

 É mais difícil encenar para crianças do que para adultos?

Sim, muito mais. Não apenas pela questão do critério da observação que a criança tem sobre a peça. O olhar da criança é sempre mais vertical que o olhar do adulto, justamente por estar livre de conceitos pré-concebidos. Mas é difícil principalmente porque precisamos primeiro agradar a nossa criança interior, e esta muitas vezes está adormecida há bastante tempo. Trilhar este caminho até a criança que está dentro de nós é um labirinto escondido entre tantos preconceitos de adultos que às vezes, durante esse caminho de descoberta, dá vontade de desistir e queremos ir pelo caminho mais fácil da caricatura. Esse foi, é e sempre será o maior desafio para quem trabalha com teatro para crianças. É um processo que leva tempo, mas bastante enriquecedor.

 

                      “A capacidade criativa dos nossos artistas de teatro                                                      é inversamente proporcional às ações                                    de nossos gestores públicos para a cultura”

 

O que percebe do teatro pernambucano atual?

A pergunta é bastante ampla. Seria preciso um recorte mais objetivo para uma resposta mais precisa. Há vários caminhos para responder. Do ponto de vista da criação, vejo que vivemos um momento bastante interessante se olhamos pela ótica dos grupos. São eles que vêm oxigenando o debate mais intenso sobre o fazer teatral em Pernambuco. Não vai aqui nenhuma crítica a produtoras convencionais, absolutamente, mas a resistência dos grupos em discutir questões espinhosas vem sendo o grande diferencial do nosso teatro. O trabalho continuado é nosso grande trunfo. É ele que nos dá identidade, que nos alimenta de novas possibilidades e nos junta em torno de algo comum. No entanto ainda persiste o déficit de políticas públicas voltadas especificamente para este segmento, houve avanços é verdade, mas ainda tímidos. Lamento profundamente que tenhamos perdido o bonde da história com a morte do Plano Municipal de Cultura. Ali tínhamos várias possibilidades de ver o Recife dar um salto qualitativo no nosso fazer teatral. O fechamento de casas de espetáculos, a precariedade dos equipamentos das que ainda funcionam, a não abertura de Edital de Ocupação para o Teatro de Santa Isabel e mais recentemente a diminuição das linhas de crédito do SIC estadual, valores que já estavam defasados há mais de dez anos, são reflexos de que a capacidade criativa dos nossos artistas de teatro é inversamente proporcional às ações de nossos gestores públicos para a cultura. Mas o grande problema do nosso teatro não está na cena e sim na nossa falta de organização política. Isso tem sido o grande entrave para uma melhoria nas nossas condições de trabalho que se refletiria sem dúvida alguma num debate mais aprofundado de nossa estética local.

E o que é feito para o público infantil no Recife?

Recife sempre teve uma tradição de teatro para criança muito interessante.  Há pessoas que trabalham sério neste segmento e fazem um trabalho com muita dignidade. A Companhia Fiandeiros, penso eu, deu uma contribuição importante para o teatro para infância em Pernambuco com a montagem do Outra Vez, Era Uma Vez… e agora estamos novamente buscando este público e estamos ávidos por encontrá-lo novamente. Mas claro que existem tentativas que buscam dialogar mais com a televisão e com o cinema do que com o teatro propriamente dito. A linguagem do teatro é densa de significados não apenas de expressão, de luzes ou de cores. Nesse sentido vejo bons trabalhos sendo feitos, apesar de toda limitação de espaço para apresentações e para ensaiar.  Vi tão bons trabalhos para a criança nos últimos anos, mas eles não conseguem se manter por um tempo mais longo. Cumprem temporada e se encerram rapidamente. Falta espaços para apresentações, espaço para discussões, organização política. O Funcultura precisa sistematizar linhas de ações que valorizem mais o teatro para infância e juventude, mas a questão não é apenas financeira, creio se tratar também, como sempre, de formação.

 

             “Quando falo em organização política me refiro                  especificamente ao nosso quintal, aqui no Recife”

 

E como você enxerga o teatro brasileiro?

Não sei se conseguiria traçar um pensamento sobre o teatro brasileiro. O que eu acho bacana de observar é que é possível identificar o fenômeno do teatro de grupo se fortalecendo em todo país. Recentemente estivemos em contato com alguns grupos do Brasil, mais especificamente do Paraná, São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro. As dificuldades são as mesmas que qualquer outro coletivo em qualquer lugar do Brasil. O que nos diferencia é a organização e mobilização política. Em lugares como São Paulo e Rio de Janeiro há avanços significativos na política pública, onde podemos ver grupos fazendo residências e participando ativamente da gestão dos equipamentos administrados pelo Estado. Só consigo ver um caminho para nosso teatro dentro do contexto nacional, é o da organização política. E quando falo em organização política me refiro especificamente ao nosso quintal, aqui no Recife. Não adianta fortalecer mobilizações nacionais e esquecer de que é aqui, a nossa casa que precisamos arrumar primeiro. É impossível não perceber que onde há um processo de formação continuado em teatro o resultado estético é nitidamente modificado.

Qual é a peça de teatro que você mais gostou de fazer? Como diretor e intérprete?

Não dá para especificar uma peça apenas, todas as peças que dirigi para a Companhia Fiandeiros têm em si momentos que foram marcantes no processo de criação, O Capataz de Salema foi um momento bacana, Vozes do Recife, o Outra Vez, Era Uma Vez…, foi um momento bem bacana porque além de dirigir também escrevi o texto e fiz as músicas, enfim. Também gostei muito do processo de Noturnos. Mas particularmente eu gostei muito da experiência de ter montado Vento Forte para Água e Sabão, foi mais uma oportunidade de mergulhar na minha criança e de olhar o mundo através de seus olhos. Fiz recentemente um trabalho como intérprete, sob a direção da professora Marianne Consentino que foi muito enriquecedor.  Fizemos um solo a partir da obra A Tempestade, de William Shakespeare. Foi um momento muito especial pra mim e que eu destacaria.

O que é preciso para ser um “bom” encenador?

Um “bom” encenador? Poxa, como responder isso se não sou nem nunca pretendi ser um. Apenas procuro fazer um teatro que busca dialogar com a plateia, ser compreendido e me sintonizar com o mundo à minha volta. Uma vez vi uma entrevista com Abujamra que ele dizia que “ser encenador é a arte de ser dispensável”. Acho que é por aí. O que é mais bacana é que nosso trabalho é completamente invisível, quem brilha no palco é o ator. O trabalho do diretor é escrever no palco uma dramaturgia, escrita ou não, de maneira poética. Eu acho que para ser um bom encenador a primeira coisa que se tem a fazer é compreender que seu trabalho é invisível e que a cada novo processo se volta à estaca zero, do aprendizado. Quando isso não acontece corremos o risco de ficarmos repetitivos e presos ao passado. O tempo do teatro passa e não volta. Não adianta. Quanto mais tentarmos voltar ao que nos deu brilho um dia, mais nossa luz se apagará. Toda vez que penso nisso sinto quanto estou distante de ser um bom encenador.

Postado com as tags: , ,

Trema! ataca com Quem tem medo de Travesti!

qtmt

Elenco conta histórias autobiográficas ou vividas por outras pessoas. Foto: Divulgação

A partir de pesquisa histórica, social, antropológica e artística sobre os papéis da travesti no teatro e na sociedade, o coletivo As Travestidas (CE) ergueu o espetáculo Quem tem medo de travesti!, atração desta sexta-feira (29), às 21h, no Teatro de Santa Isabel, do Trema! Festival de Teatro. A montagem investe na concepção da Arte Transformista desde a conquista do espaço na cena, passando pela glamourização do teatro de revista até procedimentos de marginalização da figura “trans”.

Seres da noite, vampiras, lobisomens, centauros urbanos, bichas e veados ganham outras angulações, com humor e provocação. Essas criaturas trazem narrativas repletas de dor e questionamentos inquietantes. A sociedade que assassina jovens com seus preconceitos e discriminação é descascada na encenação, que conta com sete atores em cena e músicas, dubladas ou cantadas ao vivo.

Quem tem medo de travesti!
devolve o julgamento de quem condena sem conhecer essa realidade. De quem sabe pouco das práticas e técnicas corporais, que vão desde injeções de silicone à mudança de hábitos e gestuais, na busca da sobrevivência e elevação da auto-estima dos que ousam ter o corpo modificado.

O desejo mascarado ou subterrâneo de setores da sociedade gera violência e preconceito. Como resposta, elas gritam por civilidade e respeito.

O estereótipo cede lugar ao desejo da travesti que perpassa o desejo do outro. O íntimo, a subjetividade e a dor sem caricatura ganham o primeiro plano. Mas com comicidade e deboche, que são as armas dessas figuras híbridas exibidas por trás dos aparatos da montagem.

Quem tem medo de travesti? Foto: Divulgação

Quem tem medo de travesti? Foto: Divulgação

Fragmentos de vidas reais coletados em conversas com travestis, transexuais e artistas transformistas, mesclados a relatos dos próprios atores, além de pesquisas acadêmicas, documentários em vídeos e referências que vão de Aristóteles a João Cabral de Melo Neto compõe o espetáculo. Quem tem medo de Travesti! tem texto e direção do ator e diretor cearense Silvero Pereira e Jezebel De Carli, professora e diretora gaúcha. A parceria surgiu com o espetáculo BR-TRANS, em Porto Alegre/RS em 2013.

No elenco estão Denis Lacerda (Deydianne Piaf), Verónica Valenttino (Jomar Carramanhos), Alicia Pietá, Patrícia Dawson, Italo Lopes (Karolaynne Carton) Diego Salvador (Yasmin Shirran) e Rodrigo Ferreira (Mulher Barbada).

Leia abaixo entrevista com ator, dramaturgo, diretor, professor de teatro, dançarino,   pesquisador, produtor, figurinista, maquiador,  iluminador,  sonoplasta,  aderecista e militante Silvero Pereira.

Silvero Pereira em uma cena de BRTrans. Foto: Lina Sumizono/Clix/FTC

Silvero Pereira em uma cena de BR-TRANS. Foto: Lina Sumizono/Clix/FTC

ENTREVISTA // SILVERO PEREIRA

Que você acha de ser considerado a vedete do teatro cearense?
Eu, sinceramente, não me preocupo com rótulos. Tenho mais preocupação com a construção de um teatro que possa comunicar-se com o público. Se vão dizer que sou pop, vanguardista, imitação ou transformador, para mim, depende muito de como se relacionam com a obra. Entretanto, esse título de vedete me deixa feliz, pois coloca meu trabalho entre o antigo, glamouroso e um teatro que aproxima o público.

O que dá sustentação a sua pesquisa, experimentação artística e envolvimento político com as  questões do LGBTTT?
Talvez essa sustentação venha por conta de nossa verticalização entre arte e pesquisa. Fazemos um trabalho que antes da aula, questões levantadas sobre gênero e diversidade, ele possui uma identidade artística com base na dramaturgia, encenação e atuação. Não é uma construção apenas político-militante. Antes de tudo somos artistas que acreditam no seu ofício em várias vertentes, seja ele de entretenimento ou de questão social. Entretanto, nos identificamos com esse teatro capaz de provocar novas percepções sobre determinado assunto a partir da estética que realizamos

Por que a escolha do universo trans?
Não foi exatamente uma escolha. De certa forma eu fui sendo absorvido por essa temática. Trabalhei numa comunidade no Ceará com muitas travestis e diante da realidade delas é do meu ofício, achei que seria o modo como eu poderia colaborar para mudar um pouco essa realidade, mas fui entrando no universo e me dando conta de uma série de questões que não ficaram resumidas a apenas uma obra, havendo a necessidade de novos projetos para novas discussões

Estamos vivendo um momento muito delicado no Brasil, as máscaras do preconceito contra o diferente são depostas quando se fala em conquistas e direitos. Como você enxerga a situação política e quais os receios sobre a repercussão disso tudo para o trabalho de defesa dos trans, que você está empenhado?
O Brasil é um país travestido de democracia e liberdade. Ele finge ser libertário, finge ser uma sociedade igualitária, mas é o país que mais mata LGBTTT’s no mundo. É um país racista, machista. Mas também não podemos deixar de ver que é um país que tem abertura para as lutas do movimento social e são essas brechas que nos fazem respirar e seguir lutando por mudança. Avançamos em muita coisa desde a Colônia, mas não somos, ainda, um lugar seguro e igual para todos

Fale um pouco do espetáculo Quem tem medo de travesti!. Sei que faz muito sucesso. As pessoas ficam tocadas. Vocês buscaram o lado mais humano e menos glamouroso. 
Quem tem Medo de Travesti! é um espetáculo que desnuda a caricatura marginal da travesti. Ele traz situações sobre infância, descobertas, família, a falta de afeto e a morte por assassinato e por suicídio. Não é a arte que humaniza a travesti. É a sociedade que a coloca como bicho. No nosso caso, queremos abrir esse olhar estigmatizado e fazer enxergar esse universo como um lugar de pessoas que acordam, amam, sofrem e são julgadas a cada segundo por conta de uma construção histórico-social de que elas não são humanas, mas sim animais.

O que é ser travesti na abrangência do espetáculo?
A travesti é a verdadeira filha dessa sociedade excludente. Se ela virou marginal foi porque foi parida por uma sociedade que não a aceitou na família, na religião e na educação. Logo, aceite seus filhos como você educou.

qtmt4
FICHA TÉCNICA 
Direção e dramaturgia: Jezebel De Carli e Silvero Pereira
Elenco: Denis Lacerda (Deydianne Piaf), Verónica Valenttino (Jomar Carramanhos), Alicia Pietá, Patrícia Dawson, Italo Lopes (Karolaynne Carton) Diego Salvador (Yasmin Shirran) e Rodrigo Ferreira (Mulher Barbada)
Produção: Silvero Pereira
Técnico de som: Fabio Vieira
Iluminação: Fabio Oliveira
Realização: Coletivo Artístico As Travestidas
Classificação indicativa: 18 anos
Duração: 80 minutos

SERVIÇO
Quem tem medo de travesti!
Quando: Hoje (29), às 21h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República s/n, Bairro de Santo Antonio)
Quanto: R$ 30 e R$ 15
Telefone: 3355 3322

Postado com as tags: , , , , , , , , ,

A volta da Borralheira

A Bicha Borralheira 31 anos depois. Fotos: Ítalo Lima

A Bicha Borralheira, a estória que sua mãe não contou, performance de Henrique Celibi que deu início ao megassucesso Cinderela, a estória que sua mãe não contou, inicia nesta quinta-feira (13) uma pequena temporada, no Teatro Hermilo Borba Filho, às 20h, onde fica em cartaz amanhã e na próxima semana, dias 20 e 21 de abril.

Na releitura do conto dos irmãos Grimm, a periferia recifense é representada pelo humor potente do dramaturgo, que pinta personagens que driblam a escassez financeira e os preconceitos sexuais.

Celibi corre atrás de sua própria história. No ano passado, ele que já foi o mascote do grupo Vivencial – trupe irreverente que marcou o teatro pernambucano dos anos 1970/1980 – montou espetáculo Cabaré Diversiones. Além dele, outra viveca veterana participou da peça, Sharlene Esse. E um bando jovens atores, que em parte compõe o elenco de A Bicha Borralheira.

A estreia original ocorreu na antiga Misty, da Rua das Ninfas, em 12 de abril de 1985. Há 31 anos, portanto. Na boate, a micropeça preenchia o intervalo dos números de dublagens. Celibi inclusive era famoso por sua Maria Bethânia.

Do lado de fora, o Brasil vivia um clima de desconfiança, de esperanças frustradas, depois da euforia de uma campanha pelas Diretas Já e de uma vitória parcial, quando foi escolhido o presidente pelo Colégio Eleitoral. Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito, depois do período de regime militar no Brasil, em eleição indireta pelo Congresso Nacional, não tomaria posse. O mineiro foi considerado clinicamente morto no dia 12, mas o óbito só foi anunciado no dia 21 de abril.  “Após 38 dias de agonia, e sete cirurgias, o primeiro presidente civil eleito desde o Golpe Militar, morre.”

O vice da chapa, José Sarney, do PFL, assume a presidência. Durante o período de comoção nacional alimentado pelas emissoras de TV, e, principalmente depois, especulou-se sobre um plano arquitetado pelas mãos do regime autoritário para que o poder permanecesse com quem já estava.

Essa discussão não vem ao caso. Mas é interessante notar como Celibi, com as antenas de artista, capta em seu título algo que merece reflexão ontem e hoje. A história que sua mãe não contou. A História subtraída e que ganha narrativas estranhas novamente pelos agentes da plutocracia.

Elenco

Elenco

Em meados da década de 1980, falar dos excluídos e de sua força de subverter lugares era um ato político muito mais arriscado. Com um humor explosivo, Henrique Celibi investia nisso. Atualmente as questões de gênero ganham outras conotações e requerem outros avanços.

Celibi, além de dirigir e produzir, atua como a fada-macumba, que tem por missão viabilizar um cartão do sistema VEM para que Cinderela vá ao baile encontrar seu Príncipe, na Rua da Concórdia, durante o Galo da Madrugada.

Henrique Celibi. Foto: Facebook

Henrique Celibi. Foto: Facebook

ENTREVISTA // HENRIQUE CELIBI

Pelas minhas contas, a Bicha Borralheira teria 31 anos. Lembro que foi na época em que Tancredo Neves agonizava e causava uma comoção nacional. O que você lembra dessa época que você escreveu?
São 31 anos mesmo. A estreia na Misty aconteceu no dia 12 de Abril de 1985. Da época, como você bem disse; eu me lembro da euforia que tomava o país e nos enchia de esperança com uma República Nova, ao contrário da insegurança que as especulações políticas de hoje, que nos assustam.

Eu escrevi alguns releases para enviar aos jornais – Valdi Coutinho, Enéas Alvarez e outros – para lhe ajudar. Estávamos juntos porque ensaiávamos uma peça de Joaquim Cardozo, acho.
Sim você ajudou muito fazendo os releases que precisei para o jornal, pois, estávamos juntos na montagem do Casamento de Catirina, da obra do Joaquim Cardozo, adaptada por Vivi Pádua pelo Haja Teatro e Grupo Bumba, com direção de Paulinho Mafe e Carlos Varela; morávamos juntos praticamente. Você faz parte desta “estória” bem no inicio…

Bem, acho que no começo era uma performance e depois você foi acrescentando outras coisas, engrossando a peça. Você recorda qual a intenção ao escrever a Bicha Borralheira?
Fui convidado por Fefé e José Carlos (donos da Misty) para dirigir um show e como eu achava muito repetitiva a fórmula, que já era muito usada nas boates, decidi fazer algo mais pras revistas com quadros de humor. Fiz primeiro o Ensaios espontâneos que contava a história de um teste para a montagem de um musical, meio que “máfia” das amigas. Deu certo e em seguida fiz a Bicha Borralheira que era pra ficar duas semanas e ficamos três meses. Depois fiz A Batalha na Guararapes e Um, dois, direita, esquerda, vou ver… E o propósito sempre foi o mesmo: trabalhar pra sobreviver!

Você esperava a repercussão que teve com a montagem da Trupe do Barulho? A que você atribui esse sucesso?
Quando Jeison Wallace (Cinderela dos palcos e midiática) pediu os direitos de montagem em 1991, nem ele mesmo imaginava o que aconteceria. E o que aconteceu, o fenômeno, eu atribuo em grande parte ao querido José Mario Austregésilo, por ter dado a oportunidade para aqueles personagens entrarem nas casas das pessoas através da cobertura do carnaval da TV Jornal, conquistando logo a simpatia de todos que lotaram o Teatro Valdemar de Oliveira durante quase uma década. Sem a projeção da mídia talvez a história fosse outra, apesar do talento dos protagonistas.

Por que montar o “marco zero” da Bicha Borralheira? O que mudou para a Bicha e para a cidade do Recife?
A montagem é uma grande celebração ao teatro. A esse “teatro” específico que é tão mal visto por muitos que fazem teatro nesta cidade. E porque eu acredito ser o teatro a arte mais agregadora, apesar de alguns, que insistem em excluir e ou classificar o teatro por “tipos”. E porque já foi mais que provado que santo de casa faz milagres sim! Na época em que o “fenômeno” aconteceu, as salas de teatros andavam vazias, como estão hoje. E por ser também o homossexualismo um assunto tão velho que ainda é para muitos, um motivo de piadas de mau gosto.
Claro que a montagem não tem a pretensão de repetir o feito, mas, será bom para o teatro as diferentes visões e versões de uma mesma “estória”…
Quando me refiro ao santo de casa fazer milagres quero dizer que a Trupe do Barulho, mesmo nunca tendo incentivos de leis, estão produzindo com investimentos próprios há vinte e cinco anos. Assim como eu agora e muitos tantos que acreditam no que de maior existe no teatro, além do dinheiro que com ele se possa ganhar. Pra mim há muitas outras satisfações.

Ficha técnica:
Texto, direção, produção: Henrique Celibi
Elenco: Carlos Mallcom (Madrasta), Filipe Enndrio (Burralheira), Flavio Andrade (Príncipe), Renê Ribeiro e Robério Lucado (as irmãs), Henrique Celibi (Bicha Madrinha), Ítalo Lima (vassalo do rei)

SERVIÇO
A Bicha Borralheira, a estória que sua mãe não contou,
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quando: 13,14, 20 e 21 de abril, às 20h
Preço único: R$ 20

Postado com as tags: , , , , , , ,

Trema! Festival de Teatro divulga programação

Jacy, do Grupo Carmin, abre o festival no Teatro Apolo. Foto: Nityama Macrini

Jacy, do Grupo Carmin, abre o festival no Teatro Apolo. Foto: Nityama Macrini

A importância de um festival de teatro não pode ser medida por sua duração ou pela quantidade de atrações. A proposta da curadoria, quando refletida na programação, é o que de fato mais importa. É nesse lugar que o Trema! Festival de Teatro se estabelece na capital pernambucana. Até então, o festival, que levava a assinatura do Magiluth, se voltava para o teatro de grupo. Agora, sob o comando da Trema! Plataforma de Teatro, tendo na coordenação Pedro Vilela, Mariana Rusu e Thiago Liberdade, a proposta foi ampliada, podendo incluir solos. Na realidade, a principal marca do festival continua: agregar montagens que tenham a pesquisa e a experimentação cênica como pressuposto.

Para fazer um breve retrospecto, pelo Trema!, já vimos no Recife o Teatro Kunyn, de São Paulo, a Cia Hiato, também de São Paulo, o Teatro Inominável, do Rio de Janeiro, o Grupo Espanca, de Belo Horizonte, o coletivo As Travestidas, de Fortaleza. São espetáculos de grupos que, com os seus trabalhos, têm muito a dizer sobre a realidade que vivemos e sobre os próprios procedimentos teatrais contemporâneos.

Nesta quarta edição, o Grupo Carmin, de Natal, abre a programação com a delicada Jacy, montagem de teatro-documentário que já foi vista em Garanhuns, no Festival de Inverno, mas ainda não havia chegado ao Recife. Jacy vem de uma recente temporada de sucesso no Rio de Janeiro, de uma passagem pelo Itaú Cultural (com lotação esgotada), em São Paulo, e começa agora a percorrer o Brasil pelo Palco Giratório.

De Belo Horizonte, o festival traz o grupo Primeira Campainha, com dois espetáculos do seu repertório: Isso é para Dor e Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões. Depois dos espetáculos, o grupo vai conversar sobre o processo criativo que norteou as montagens. A vinda da Primeira Campainha está sendo financiada pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2014 em parceria com o festival.

O coletivo As Travestidas volta ao Recife com o mais recente espetáculo, Quem tem medo de travesti. A montagem faz parte da pesquisa continuada sobre o universo trans no Brasil. Recentemente, foi vista no Festival de Teatro de Curitiba. O coletivo também comanda a festa Cabaré das Travestidas, que vai acontecer no Roda Cultural, no Bairro do Recife. A festa promete improviso, dublagem, talk show e a participação de DJ´s.

Grace Passô apresenta trabalho solo. Foto: Kelly Knevels

Grace Passô apresenta trabalho solo. Foto: Kelly Knevels

Por fim, uma das artistas mais interessantes da sua geração, Grace Passô, apresenta o solo Vaga carne. Depois de dez anos no Espanca, grupo que ajudou a fundar, Grace tem dirigido muitos espetáculos e participado de outros como atriz, como Krum, da Companhia Brasileira de Teatro. O solo Vaga carne, que tem direção, texto e atuação de Grace, integra o projeto Grãos da imagem, que reúne peças em torno de temas identitários.

Do Recife, a programação contará com as estreias de Retomada, do Grupo Totem, importante grupo de performance no cenário nacional, e pa(IDEIA), do Coletivo Grão Comum, um trabalho sobre Paulo Freire. Ainda estão na grade Soledad – A terra é fogo sob nossos pés (Confira a crítica), com Hilda Torres, e Vento Forte para Água e Sabão, musical para infância e juventude do Grupo Fiandeiros de Teatro, com texto de Giordano Castro e Amanda Torres.

Durante o festival, os produtores aproveitam para lançar a sexta edição da Trema! Revista, projeto que conta com o apoio do Funcultura.

Grupo Totem estreia Retomada. Foto: Fernando Figueiroa

Grupo Totem estreia Retomada. Foto: Fernando Figueiroa

Os ingressos já estão à venda pela internet, através do site www.eventick.com.br/tremafestivaldeteatro.

Tivemos uma importante conversa com Pedro Vilela, um dos produtores e idealizadores do festival. São questões sobre política cultural, resistência e permanência. Afinal, “a crise não é de agora. Para nós, trabalhadores da arte, ela sempre esteve presente”.

Pedro Vilela é um dos produtores do Trema! Festival. Foto: Bob Souza/divulgação

Pedro Vilela é um dos produtores do Trema! Festival. Foto: Bob Souza/divulgação

ENTREVISTA // PEDRO VILELA

De que maneira foi pensada a curadoria desta edição? Vocês falam, por exemplo, em (re)construção de paradigmas da nossa sociedade. Como isso se refletiu nos espetáculos escolhidos?

O teatro sempre será um espaço para enfrentamentos de ideias. Todo aquele que não se propõe a isto está fadado a ser apenas mais um mecanismo de reprodução da indústria cultural e da massificação de nosso povo. Ao pensar a curadoria do Trema! neste ano, procurei comungar trabalhos que em si carregam questões pertinentes para nosso tempo e que venham encontrando visibilidade no cenário artístico brasileiro. Poderíamos encher nossos palcos com obras de maior retorno financeiro para nós, organizadores, mas nosso compromisso ético com a ação faz com que estejamos muito atentos às reflexões que queremos propor. Ao assumir o tema (re)construção, estamos dispostos a percorrer um caminho duplo.

O primeiro está ligado à trajetória dos próprios organizadores, ao abandonarem antigos projetos artísticos na cidade e re-iniciarem novos percursos a partir da Trema! Plataforma de Teatro. (Re)construímos pois não achamos justo destruirmos algo que foi importante para nossa trajetória artística, ao passo que alimentamos o desejo por novos trajetos. O próprio nome do festival traz isto, este ano abandonamos o recorte exclusivo de “festival de teatro de grupo” e passarmos a ser apenas “Festival de Teatro”. Continuamos investindo na pesquisa de linguagem, mas ampliamos o olhar para artistas solos.

Em relação aos espetáculos, ao escolhermos espetáculos como os que compõem a programação, estamos nos propondo a reflexão em torno de temas como identidade, gênero, educação, tradição, ditadura, política, ou seja, pautas muito urgentes para nosso país. Acreditamos portanto que através do teatro podemos (re)construir nossa sociedade.

“Fechar um teatro é tão absurdo quanto fechar uma escola”

“Recife é a cidade dos festivais”. Essa frase é bastante dita quando discutimos a política cultural pernambucana, sem que a gente pare para avaliar de fato a importância de cada um dos festivais de artes cênicas da nossa cidade. No atual cenário, qual a importância do Trema!, tanto pra cidade quanto para os artistas? Porque insistir em fazer um festival, mesmo com a crise que assola os festivais no país todo?

Recife já foi a cidade dos festivais. Minha formação enquanto artista esteve muito ligada aos que aconteciam na nossa cidade. Esperava ansiosamente a cada ano e acompanhava absolutamente tudo. Os tempos são outros e o mais triste é perceber que retrocedemos. Já não temos o Palco Giratório, do SESC, e o Festival Recife virou um triste fantasma de anos anteriores, só para citar alguns. Os privados que teimam em resistir, a cada ano ou desistem pelo meio do caminho ou precisam fazer das tripas coração para serem executados. Isso é apenas uma breve demonstração do descaso do poder público para com as artes.

“Pensamos seriamente se realizaríamos o festival neste ano. Mas percebemos que não fazer significa que os propagadores da barbárie, da corrupção, da falta de educação, estariam saindo como vencedores desta batalha”.

É meio absurdo ter que nominar a importância desses eventos. Eles alimentam uma vasta cadeia produtiva, além de todas as questões simbólicas que suportam. O grande problema é que não conseguimos sermos vistos como utilidade pública, como elementos primordiais de construção da nossa sociedade. Fechar um teatro é tão absurdo quanto fechar uma escola. Mas se vivemos numa conjuntura que nem mesmo educação e saúde são ofertadas à população de maneira digna, o que podemos dizer das artes….

O Trema! resiste e insiste há quatro edições. Pensamos seriamente se realizaríamos o festival neste ano. Mas percebemos que não fazer significa que os propagadores da barbárie, da corrupção, da falta de educação, estariam saindo como vencedores desta batalha. A crise não é de agora. Para nós, trabalhadores da arte, ela sempre esteve presente.

Tentamos captação com diversas empresa do Estado e todas negaram recursos. Empresas inclusive que recentemente aportaram em nosso Estado com slogans ligados à cultura e ao desenvolvimento de nosso povo. O capital toma conta de nossos cidadãos, jogando-os num clico vicioso de consumo e onde apenas uma parte é beneficiada, o que vende.

Ninguém chega a Berlim, Paris ou qualquer lugar do mundo onde a produção artística é efervescente e fica deslegitimando a pluralidade que encontra. A única crítica que poderíamos fazer é quando invertemos o fomento às atividades continuadas e ficamos navegando exclusivamente em eventos passageiros. E isso sim é uma prática recorrente em nossa cidade. O que gastamos com decoração de Natal daria pra fomentar inúmeros festivais que possuem trajetória comprovada, por exemplo. Palco com banda tocando no Marco Zero aos domingos nunca será construir sociedade. Talvez seja por isto que ao acabar o show se inicie recorrentemente arrastões naquele lugar. O povo tá cansado de faz de conta. Educação é a única saída. Teatro, literatura, artes plásticas…. Isso sim muda um panorama.

“Palco com banda tocando no Marco Zero aos domingos nunca será construir sociedade. Talvez seja por isto que ao acabar o show se inicie recorrentemente arrastões naquele lugar”.

Qual o orçamento do Trema!? De onde vem o recurso? Qual o apoio, efetivamente, da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado?

O Trema! neste ano tem orçamento de R$ 60 mil. Algo muito abaixo do que precisaríamos para executar o festival. Às vezes fico com a sensação de sermos malabaristas em conseguirmos realizar a ação. Mas seria injusto de nossa parte levarmos todos os méritos. O festival só será possível graças a todas as parcerias criadas e principalmente pelo desejo que a classe artística de todo o país tem por sua realização. Os grupos locais receberão apenas as bilheterias, por exemplo; nos sentimos até envergonhados ao termos que propor isso. Os grupos de fora estão vindo com cachês muito abaixo do comumente praticado. Isso mostra a seriedade com que lidamos com o Festival ao longo dos últimos anos e também a união dos artistas nesta guerrilha. Poderia não querer responder a vocês sobre questões orçamentárias, mas acho importante para que as coisas comecem a ter seu devido valor. A Fundação de Cultura entrará com algo em torno de R$ 15 mil (recursos e serviços) e o Governo do Estado com R$ 20 mil (recursos e serviços). Se dividirmos por exemplo o aporte da Prefeitura pela quantidade de habitantes na cidade daria algo em torno de R$ 0,01 por pessoa. Não chega nem a 1 centavo! Pouco, não?! O restante são parcerias criadas e principalmente recursos nossos. Em todas as edições não ganhamos absolutamente nada para realizar o Festival, mas ao mesmo tempo não queremos ver o Festival morrer! O por quê de fazermos esta loucura? Fico me perguntando a todo momento. E não sabemos por quanto tempo conseguiremos.

Talvez este também seja o momento de (re) construirmos o elo perdido com o poder público. Talvez. O que nos resta é fazemos um apelo ao público do Recife para que estejam juntos conosco nesta batalha. A melhor maneira de contribuir neste momento é compartilhar o quanto puder nossa divulgação. Os tempos são outros e sabemos o quanto juntos podemos mudar este paradigma. Ao ocuparmos os teatros, estaremos mostrando a importância da ação e, ainda que simbolicamente, requisitando o que nos é de direito. Como bem postamos ao anunciar que iríamos fazer o festival: não é por nós, é pela cidade!

“Se dividirmos por exemplo o aporte da Prefeitura pela quantidade de habitantes na cidade daria algo em torno de R$ 0,01 por pessoa. Não chega nem a 1 centavo!”

Programação Trema! Festival de Teatro:

28/4
Jacy / Grupo Carmin (RN)
Teatro Apolo – 20h

29/4
Sobre dinosauros, galinhas e dragões / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

Quem tem medo de travesti / Coletivo As Travestidas (CE)
Teatro Santa Isabel – 21h

30/4
Isso é para dor / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

Quem tem medo de travesti, do coletivo As Travestidas. Foto Allan Taissuke

Quem tem medo de travesti, do coletivo As Travestidas. Foto Allan Taissuke

FESTA: Cabaré das Travestidas / Coletivo As Travestidas (CE)
Roda cultural – a partir das 23h

01/5
Isso é para dor / Primeira Campainha (MG)
Teatro Arraial Ariano Suassuna – 19h30

03/5
Lançamento TREMA! Revista #6
Teatro Hermilo Borba Filho – a partir das 19h

pa(IDEIA) Pedagogia da autonomia / Coletivo Grão Comum (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

Coletivo Grão Comum estreia pa (IDEIA). Foto: Amanda Pietra

Coletivo Grão Comum estreia pa (IDEIA). Foto: Amanda Pietra04/5

 

04/5

Retomada / Grupo Totem (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

05/5
Soledad, A terra é fogo sob nossos pés / Cria do Palco (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

06/5
GRÃOS DA IMAGEM: Vaga Carne / Grace Passô (MG)
Teatro Hermilo Borba Filho – 20h

07/5
Vento Forte para água e sabão / Cia. Fiandeiros (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 16h

08/5
Vento Forte para água e sabão / Cia. Fiandeiros (PE)
Teatro Hermilo Borba Filho – 16h

INGRESSOS:
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), com exceção do espetáculo Quem tem medo de travesti, com sessão no Teatro de Santa Isabel ao valor de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada) e a festa Cabaré das Travestidas, com preço único de R$ 20.

Vendas antecipadas pelo site www.eventick.com.br/tremafestivaldeteatro.

Postado com as tags: , , , , ,

Sistema tibetano para atores

Junior Sampaio - Foto de Pedro Portugal

janeiro-de-grandes-espetáculos-SSSSHá mais de 20 anos, Portugal acolheu o pernambucano Júnior Sampaio. Em terras lusas, Sampaio criou o ENTREtanto TEATRO, companhia que já realizou, por exemplo, 18 mostras internacionais de teatro. Em todos esses anos, como dramaturgo, Júnior Sampaio escreveu 20 textos adultos e oito textos voltados para a infância e juventude, e coordenou 45 produções com apresentações nacionais e internacionais.

Nos últimos três anos, o pernambucano com sotaque português, filho mais novo de uma família de sete irmãos de Salgueiro, se dedicou ao mestrado em Interpretação/Encenação na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo, na cidade do Porto. Foi aprovado com nota máxima por unanimidade.

Sampaio estudou as aplicações do método Kum Nye, um sistema da medicina tibetana, na criação artística. O método já foi aplicado numa produção pernambucana: A Troiana Hécuba, que estreou em 2014, com atrizes experientes da cena pernambucana. Neste 22º Janeiro de Grandes Espetáculos, Júnior Sampaio volta a trabalhar o método na oficina A Poética do Equilíbrio: O Método Kum Nye na Criação Artística, que começa nesta segunda-feira (11) e segue até o dia 22 de janeiro. No dia 22, a aula será aberta ao público. São apenas 20 vagas, voltadas para atores com experiência. As aulas serão de segunda a sexta, das 14h30 às 17h30, no Espaço Vila, em Santo Amaro. O investimento é de R$ 100. Outras informações pelo telefone 3048-6066.

Para quem ficou interessado no tema do mestrado de Sampaio, mesmo que não vá fazer a oficina, conversamos com ele sobre o método, as aplicações do procedimento para os atores e os intercâmbios entre Portugal e Brasil.

ENTREVISTA // JÚNIOR SAMPAIO

Do que se trata o método Kum Nye?
O Kum Nye é um sistema da medicina tibetana que envolve técnicas de relaxamento, através de automassagem, meditação, mantras, exercícios de respiração e movimentos sutis, adaptados aos tempos modernos e ocidentais por Tarthang Tulku – Lama-Chefe do Centro Tibetano de Meditação Nyingma e do Instituto de Nyingma de Berkeley, na Califórnia. A referência documental do Kum Nye está contida nos textos médicos tibetanos, bem como nos antigos textos do Budismo, e foca-se no viver de acordo com as leis físicas e universais, incluindo extensas descrições de práticas de tratamento.

Qual era o enfoque da sua pesquisa de mestrado?
A pesquisa A Poética do Equilíbrio: O Método Kum Nye na Criação Artística trata da análise dos resultados da experimentação e aplicação do método Kum Nye na direção de atores em três fases de uma experiência, que resultam em três montagens distintas de A Troiana Hécuba, criada a partir da tragédia grega As Troianas, de Eurípides. A experimentação e sistematização deste método com atores profissionais, formandos e amadores oriundos de diversas áreas, de variadas escolas e de diferentes fazeres teatrais, tem início em 2013, no primeiro e no segundo ano do meu mestrado, com duas fases, na cidade do Porto, em Portugal.

No ano seguinte, a análise e a construção do método são aprofundadas e aplicadas em mais um experimento artístico com atores profissionais, aqui no Recife. A pesquisa do Kum Nye para e na criação cênica é um trabalho estruturado e baseado nas competências técnicas ao nível de corpo, voz, mente, energia e interpretação, que se desenvolve enquanto experimentos dramáticos através de exercícios específicos do Kum Nye, pretendendo que o ator amplie a sua atitude reflexiva nas descobertas dos centros energéticos da vivência teatral a partir do equilíbrio.

A prática do Kum Nye requer honestidade e aceitação, paciência e disciplina e, principalmente, disponibilidade para o desconhecido, deixando o praticante perceber como, e até que ponto, este método pode aprimorar de forma sutil a interpretação versátil dos atores.

Os exercícios do Kum Nye selecionados para a pesquisa encontram-se registados nos livros Gestos de Equilíbrio (Tulku, 2009) e Kum Nye – Técnicas de Relaxamento (Tulku, 1993) e são executados conforme o ritmo suave do Kum Nye, a fim de conduzir o ator a obter um autocontrole corporal e mental, eliminando as zonas de tensões, ultrapassando as dores musculares, reorganizando a postura do corpo, entrando em contato direto com o estado emocional do momento, aumentando a serenidade e, principalmente, vivenciando os experimentos sem se importar com rótulos, visto que, neste método, o mais importante é a experiência em si.

Como o método foi aplicado especificamente no espetáculo A Troiana Hécuba, que estreou no último Janeiro de Grandes Espetáculos?
Apesar de utilizar o Kum Nye na minha experiência profissional – ator, formador e encenador, desde 1986, são as três montagens de A Troiana Hécuba que estruturam esse método para a direção de ator. Os universos do Teatro e do Kum Nye são extremamente amplos e o objetivo principal da pesquisa é apostar na articulação desses dois universos. A montagem no Recife foi intensiva e inserida dentro de um Festival Internacional de Teatro, numa residência artística, com atores profissionais convidados a experimentar o Kum Nye pela primeira vez, resultando em duas apresentações públicas no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. É preciso deixar claro que esta criação foi apresentada ao público como um exercício teatral, mas dado envolver atores reconhecidos, as expectativas geradas no meio teatral da cidade do Recife e no público em geral, com todos os prós e os contras, passam a fazer parte diretamente da experiência.

Auricéia Fraga em A Troiana Hécuba. Foto: Reprodução facebook

Auricéia Fraga em A Troiana Hécuba. Foto: Reprodução facebook

Como foi, na ocasião, trabalhar principalmente com mulheres tão experientes?
O ator, ao longo da sua carreira, pode ir adquirindo vícios – para muitos são verdadeiras descobertas da interpretação – que interferem na criação e o impedem de recomeçar um processo criativo sem as influências de tais ruídos. A necessidade de uma limpeza ordenada, nos processos de criação, torna-se crucial para que o ator adquira uma vivência cénica inusitada. O Kum Nye é por natureza um método de limpeza e a sua prática requer uma convivência espontânea com os processos naturais do cosmo, exercitando o desapego e deixando o novo surgir, tornando-se parte do experimento.

Será que o problema maior do ator, atualmente, passa por não desbloquear os seus pontos/centros energéticos, limitando a sua comunicação com os espetadores e com os outros elementos do universo teatral? Como é que o Kum Nye pode proporcionar, conscientemente, este desbloqueio?

Na nossa experiência, em princípio, cabe a cada participante descobrir, com a autoanálise, os seus limites, vícios e bloqueios, e também cabe a cada um o desejo de ultrapassar as suas próprias descobertas. O melhor mestre, neste caso, é o próprio participante. Aqui, concordando plenamente com Tarthang Tulku: “Em última análise, o nosso melhor mestre somos nós mesmos. Quando estamos abertos, atentos e alertas, então poderemos nos guiar corretamente.” (Tarthang Tulku, Gestos de Equilíbrio).

No caso, por se tratar de uma experiência artística, com prazos determinados, o diretor alerta cada participante para as suas virtudes e as suas falhas, se assim se podem qualificar, para a criação pretendida. Ao mesmo tempo, conclui-se que esta qualificação pode ser invertida na próxima criação: a virtude passa a ser falha e a falha passa a ser virtude.

A experiência comprova que todos os participantes que se disponibilizam para os experimentos, equilibram o seu corpo e a sua psique, melhoram a concentração e renovam a clareza dos sentidos. E mais, estimulam e transformam as energias correntes em energias artísticas, utilizando os exercícios de Kum Nye adaptados para e na criação artística. São encontros momentâneos que não perduram, mas ficam gravados na memória de todos.
E cabe a cada um deles saber se deseja remexer em si mesmo, remexer nos seus sentimentos, nas suas razões e continuar permitindo, mais uma vez, que a sua criatividade e a sua inteligência seja usada em prol da sua arte. E aqui, o equilíbrio pode levar o ator a uma maior versatilidade consciente ao longo da sua carreira artística, desde que fuja dos apegos que inflamam o ego.

O ator deve entrar em cena livre de julgamentos e deixar que a sua intuição, trabalhada por técnicas, o conduza a uma vivência cénica pré-estabelecida por ele e pelo encenador, deixando que as demais criações e os espetador alterem sutilmente as suas emoções. Os espaços a serem preenchidos por essas sutilezas são infinitos e, de maneira alguma, seguir as diretrizes do diretor transforma o ator em marioneta. Não o transforma em comandado porque o Kum Nye é um método que trabalha delicadezas, doses mínimas de energia, sensações e emoções.

No caso particular da nossa experiência, procurou-se a profundeza da alma de uma rainha sem chão e um mensageiro sem voz, ambos sofrendo a dor de uma guerra, onde vencedores e vencidos perdem. Um caminho difícil de percorrer, porque o percurso se dirige para o interior de cada ator, encontrando energias sutis da dor, da destruição, da solidão e do vazio, com o intuito de transformar tudo em poesia cénica, através das técnicas do Kum Nye.

Assim, durante o processo, as experimentações seguiram-se, exaustivas e aprazíveis, dolorosas e suaves, tensas e relaxadas, ricas e pobres, doces e salgadas. E o meu desejo final é de que os participantes mantenham a tão ouvida negação do verbo apegar: Não se apeguem, pois toda experiência se encerra em si e aquilo que cada um consegue hoje é exatamente aquilo que nunca mais se consegue, pois tanto no Teatro como no Kum Nye nada se repete.

Não posso deixar de agradecer publicamente aos 16 atores que participaram nesta experiência… E aqui, registro os nomes dos sete atores, Auricéia Fraga, Fátima Aguiar, Isa Fernandes, Lano de Lins, Nilza Lisboa, Sônia Bierbard, e Zuleica Ferreira. Em primeira e última análise, foram eles que disponibilizaram as suas corporificações – energia, alma, corpo, voz e interpretação… – para refletirmos sobre o ofício do Ator.

Como será a oficina que você vai ministrar no Janeiro? Existe a pretensão de que a oficina gere um espetáculo?
Os exercícios do Kum Nye, de uma maneira geral, têm como objetivo levar o praticante a uma consciência corporal e mental no instante da prática, sem se apegar a conceitos e/ou preconceitos e, ao mesmo tempo, criando e desenvolvendo uma consciência que permita uma análise em tempo real do estado corporal – corpo no sentido do Kum Nye: corpo, existência, maneira de se corporificar.

A prática do Kum Nye tem um enfoque básico na respiração e desenvolve-se pela automassagem, pelos movimentos corporais suaves, pela meditação e pelos mantras, resultando numa sensibilidade energética e possibilitando que o ator ganhe um controle sutil dos seus instrumentos de trabalho durante a sua vivência teatral. Esses exercícios estão interligados e complementam-se constantemente. Nenhum deles pode ser isolado durante a prática: um interfere no outro, que imediatamente pede auxílio a um terceiro e assim sucessivamente, tornando-os, muitas vezes, um único exercício, uma maneira de estar, com um leque ilimitado de possibilidades.

Nesta oficina para atores, A Poética do Equilíbrio – O Método Kum Nye na Criação Artística, será aplicado o método, com as suas devidas adaptações, na comédia Os Filhos da Festa, de Júnior Sampaio, a partir de Lisístrata, de Aristófanes. Os resultados dos experimentos artísticos podem se transformar num novo espetáculo teatral, mas só processo poderá indicar o caminho seguinte.

Há mais de 20 anos, o seu trânsito entre Portugal e Brasil, especificamente Pernambuco, é intenso. Como você enxerga as possibilidades de enriquecimento cultural tanto para Portugal quanto para o Brasil com esses processos de intercâmbio que parecem cada vez mais efetivos?
Esta Oficina para Atores vem dar continuidade às coproduções e aos intercâmbios culturais realizados pelo ENTREtanto TEATRO (Valongo – Portugal) e o teatro pernambucano, iniciados, em 1999, com a homenagem à atriz pernambucana Geninha da Rosa Borges no ENTREtanto MIT Valongo – 2ª Mostra Internacional de Teatro – Portugal.

Ao longo destes anos, já passaram pelos palcos da Mostra Internacional de Teatro de Valongo – Portugal vários espetáculos pernambucanos, com nomes que representam o teatro do estado e do Brasil. Entre muitos, podemos destacar Geninha da Rosa Borges, João Denys, Gilberto Brito, Irandir Santos, Arilson Lopes, Pedro Oliveira, Carlos Carvalho, Quiercles Santana, Vivi Madureira, Soraya Silva, Fabiana Pirro, Asaias Lira, Augusta Ferraz, Severino Florêncio, Andréa Rosa, Andréa Veruska, Iara Campos, Jorge de Paula, Tatto Medinni e Marcelo Oliveira.

Também podemos destacar grupos ou produtores como Remo Produções Artísticas, Trupe Ensaia Aqui e Acolá, Parcas Sertanejas, Duas Companhias, N’Útero de Criação, Unaluna, Grupo da Quinta e Teatro Casa, que levaram os seus espetáculos a Portugal, representando da melhor forma o teatro pernambucano. Estes intercâmbios enriquecem o teatro dos dois países e fortalecem culturas que de alguma forma se irmanam.

A bailarina vai às compras, montagem vista no Recife em 2012

A bailarina vai às compras, montagem vista no Recife em 2012

Desde A Bailarina Vai às Compras você não traz um espetáculo como ator ao Recife. Quando será o próximo?
Muito em breve… Um novo monólogo está sendo criado, mas pouco posso adiantar. Como a estrutura ainda se encontra embrionária, tudo que disser pode ser alterado. Assim, prefiro ir amadurecendo as ideias na solidão da criação artística. Ainda estou nos devaneios, nos sonhos, na imaginação do que pode vir a ser esta nova criação. Nesta fase, encontro-me protegido na casa de criação, na paz da meditação do Kum Nye, tentando dar largas às minhas imaginações poéticas…

Para criar, tenho que está no aconchego dos meus ninhos, interior e exterior… Neste momento, tento me alimentar da poesia cênica… Quando estiver saciado, saio dos meus ninhos particulares e volto a partilhar os alimentos com o universo cênico…

Muito em breve, espero…

Postado com as tags: , , , , ,