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Bia Lessa propõe transcriação de Grande Sertão: Veredas para os palcos

Antes de definir papeis, todos os atores do elenco ensaiaram todos os personagens. Foto: Roberto Pontes/Divulgação

Antes de definir papeis, atores do elenco ensaiaram todos os personagens. Foto: Roberto Pontes

Grande Sertão: Veredas é um livro que impressiona por sua magnitude. Nele, Guimarães Rosa (1908-1967) empregou o máximo de sua inventividade poética para contar a história de um dos personagens mais marcantes da literatura brasileira: Riobaldo, cuja vida é um pano de fundo para mostrar a eterna tensão entre o mundo e o homem. E como trazer para os palcos uma obra importante para a literatura brasileira justamente por inovar tanto na linguagem escrita? Essa é a pergunta que Bia Lessa tenta responder em seu penúltimo trabalho (o mais recente, Pi – Panorâmica Insana, está em cartaz em São Paulo até 29 de julho, e tem no elenco Claudia Abreu, Leandra Leal, Rodrigo Pandolfo e Luiz Henrique Nogueira) baseado diretamente no clássico de Guimarães. Grande Sertão: Veredas, a peça-instalação, tem única apresentação no dia 8 de julho, domingo, no Centro de Convenções, em Olinda.

Cancelada por conta da greve dos caminhoneiros, em maio passado, a peça finalmente se apresenta em Pernambuco após pouco mais de um mês de espera. A diretora e cenógrafa, que tem o Paço do Frevo em seu portfólio, optou por fazer mais uma transcriação da obra rosiana do que a adaptação do livro, embora toda a dramaturgia do espetáculo seja composta por passagens de Grande Sertão: Veredas, sem adições de fora desse universo. Para isso, ela e sua equipe imaginaram uma estrutura em U, parecida com uma gaiola, onde ficam sempre em cena os dez atores do elenco. Estão nele desde nomes bastante conhecidos do público, como Caio Blat e Luiza Arraes, até atores “verdes”, com pouca experiência no palco. Todos eles ensaiaram todos os personagens antes de definirem seus papeis. Cerca de 250 bonecos de feltro em tamanho natural também estarão no palco-instalação e poderão ser vistos por quem circular pelo Centro de Convenções no domingo, durante o dia.

A relação de Bia com a obra de Guimarães Rosa se estreitou em 2006, quando ela ficou encarregada da montagem da primeira exposição do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Foi só ao aceitar essa tarefa que ela leu o livro pela primeira vez. “Por uma questão óbvia, pensei em Grande Sertão: Veredas, pois Guimarães é um inventor de linguagem, um grande estudioso da tradição oral. Na época, achei empobrecedor colocar imagens naquele trabalho. Não cabia naquele momento, então resolvi fazer uma mostra só com palavras. Dez anos depois, me vi com o desejo de voltar a fazer teatro e sempre achei que essa linguagem cobra da gente uma outra vida. Escolhi retornar a essa obra porque o processo em si já seria muito rico, mesmo se não conseguíssemos montar um espetáculo”.

Cerca de 250 bonecos de feltro em tamanho natural compõem o palco-instalação. Foto: Roberto Pontes/Divulgação

Cerca de 250 bonecos de feltro em tamanho natural compõem o palco-instalação. Foto: Roberto Pontes

O processo, segundo a criadora, se desenvolveu a partir de uma provocação. “Todo mundo me desaconselhava a montar esse livro. Chamei vários escritores e eles me diziam: ‘não mexe nisso’. O fato de as pessoas me desencorajarem, na verdade, me encorajava. Peguei trechos do livro e montei como foi escrito. A adaptação foi feita durante o jogo cênico. Era importante falar sobre a linguagem, pois o estilo dessa obra me atraía tanto quanto seu conteúdo”. Já o diálogo de Grande Sertão: Veredas com o Brasil atual, segundo Bia, é fácil de ver. A história de Riobaldo, ex-jagunço que vendeu a alma ao diabo e teve uma relação delicada com Diadorim, figura andrógina das mais fascinantes da literatura brasileira, tem desdobramentos diretos na atualidade. “Estamos em um retrocesso mundial gravíssimo. Ele apresenta uma questão importante de gênero, mostra a importância do indivíduo e coloca o homem onde ele de fato deve estar: em uma relação equivalente com os bichos, os minerais, em vez de superior à natureza”.

A passagem do tour de force cênico pelo Recife faz parte de uma turnê nacional – sem patrocínio, é bom que se diga. Sem subsídio, os ingressos ficaram com um preço acima da média mesmo em comparação a outros espetáculos nacionais de grande porte. O valor deles também está diretamente atrelado à experiência do público. Ao contrário das temporadas no Rio e em São Paulo, que foram encenadas em locais nos quais a plateia ficava muito próxima dos atores, respectivamente no Centro Cultural Banco do Brasil e no Sesc Consolação, a apresentação no Recife vai ocupar uma casa de espetáculos que pode ser tudo, menos intimista.

Os mais de 2 mil lugares do Teatro Guararapes devem alterar de forma radical a experiência proporcionada pela montagem. Apenas 200 pessoas que pagarem o valor mais elevado – R$ 200, sem direito a meia-entrada – poderão ficar no palco em uma estrutura similar à original. Elas terão direito a fones de ouvido com um desenho de som que mistura as falas dos atores, a trilha de Egberto Gismonti e os efeitos sonoros do sertão. Já o restante da plateia, que terá uma experiência menos imersiva, terá acesso a uma paisagem sonora diferente, com as vozes amplificadas dos atores preenchendo o espaço.

Serviço:
Grande Sertão: Veredas
Quando: 08 de julho (domingo), às 19h
Onde: Teatro Guararapes – Centro de Convenções, s/n, Salgadinho, Olinda
Ingressos: R$ 200 (assentos na plateia com fone de ouvido, sem meia-entrada); R$ 160 e R$ 80 (meia) para plateia AA até BB; R$ 140 e R$ 70 (meia) da plateia BC em diante e R$ 100 e R$ 50 (meia) para o balcão, com ingressos à venda pelo site Eventim e na bilheteria do teatro
Informações: (81) 3182-8020

Ficha Técnica
Concepção, Direção Geral, Adaptação e Desenho de Luz: Bia Lessa
Elenco: Balbino de Paula, Caio Blat, Daniel Passi, Elias de Castro, José Maria Rodrigues, Leonardo Miggiorin, Lucas Oranmian, Luisa Arraes, Luiza Lemmertz, Clara Lessa
Concepção espacial: Camila Toledo, com colaboração de Paulo Mendes da Rocha
Música: Egberto Gismonti
Colaboração: Dany Roland
Desenho de som: Fernando Henna e Daniel Turini
Adereços: Fernando Mello Da Costa
Figurino: Sylvie Leblanc
Desenho de luz: Binho Schaefer
Projeto de áudio: Marcio Pilot
Diretor assistente: Bruno Siniscalchi
Assistente de direção: Amália Lima
Direção executiva: Maria Duarte
Produtor executivo: Arlindo Hartz
Colaboração: Flora Sussekind, Marília Rothier, Silviano Santiago, Ana Luiza Martins Costa, Roberto Machado
Idealização e realização: 2+3 Produções Artísticas Ltda
Apoio institucional : Banco do Brasil | Globosat
Duração: 140 minutos
Classificação: 18 anos
Apoio: BMA Advogados | Instituto-E | Om Art
Agradecimento especial à viúva do autor, a quem a obra foi dedicada, Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, à Nonada Cultural e a Tess Advogados

 

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A Visita da Velha Senhora reacende debate entre ética e sobrevivência

Denise Fraga protagoniza espetáculo de Friedrich Dürrenmatt e divide a cena com mais doze atores, incluindo o pernambucano Tuca Andrada. Foto: Cacá Bernardes

Denise Fraga protagoniza espetáculo de Friedrich Dürrenmatt e divide a cena com mais doze atores, incluindo o pernambucano Tuca Andrada. Foto: Cacá Bernardes

Ao chegar ao Recife em 2016 com a peça Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, Denise Fraga disse, em mais de uma entrevista, que encenou o espetáculo para refletir sobre o incômodo que sentia ao ver pessoas justificando o injustificável e fazendo cara de paisagem para os mais diversos absurdos. É com o mesmo espírito que ela vem novamente ao Recife com o espetáculo A Visita da Velha Senhora, peça de Friedrich Dürrenmatt que se tornou um clássico instantâneo do teatro contemporâneo. A peça terá quatro sessões no Teatro de Santa Isabel, desta quinta (24) até o domingo (27). Junto com A alma boa de Setsuan, que a atriz protagonizou em 2008, Denise diz ter encenado uma trilogia que põe no palco o dilema entre ser ético e sobreviver em um mundo que incentiva a injustiça.

Quem conta essa história é um elenco de 13 pessoas, incluindo, além de Denise, o pernambucano Tuca Andrada. A bilionária Claire Zahanassian chega a Güllen, cidade onde viveu os primeiros anos de sua vida, e a encontra falida. Seu objetivo é colocar a localidade inteira a serviço de seu plano de vingança, propondo doar um bilhão aos seus habitantes se eles matarem Alfred Krank, uma antiga paixão que a abandonou grávida para se casar com outra por interesse. De início, todos acham a oferta um absurdo, mas a ricaça desarma, aos poucos, a resistência da cidade com a frase “eu posso esperar”, instalando-se no hotel da cidade com seu séquito. Previsivelmente, a morte de Krank passa de algo absurdo a necessário.

Como poucas coisas no mundo, o humor pode servir, ao mesmo tempo, como instrumento de cumplicidade e reflexão. É o que parece ser a opinião de Denise, mais uma vez mergulhando no teatro épico. “A peça não só é atual como dá a impressão de ser quase encomendada para os dias de hoje. Dürrenmatt escreve uma série de cenas que demonstram como nossos valores morais vão se adequando ao poder econômico. Ele é genial porque escreveu uma tragédia em timing cômico. A Claire é a encarnação do capital na figura de uma mulher que foi massacrada. O autor não a concebeu como uma vilã absoluta. Ela é simpática, espirituosa, muito carismática e, além disso, a dor dela está em cena. Luiz Vilaça [diretor do espetáculo] inclui a plateia como cidadãos dessa cidade. Quem vê a peça fica dividido, pois fica com raiva mas diz entender o lado dela”.

O pernambucano Tuca Andrada, que interpreta Alfred Krank, volta à cidade com A visita da velha senhora após mais de dez anos longe dos palcos locais. De acordo com o ator, o caráter duvidoso do personagem vai sofrer uma transformação profunda ao longo do espetáculo. “Krank é o único personagem verdadeiramente trágico da peça. Os outros são o que são. Ele percebe a amplitude de seu crime e começa a refletir quando não encontra mais saída. É preciso ter muita atenção ao fazer um personagem como esse, pois ele não é vilão e nem mocinho. Todos nós cometemos erros, todos nós somos vítimas. A situação dele é uma metáfora da sociedade, pois o texto traz uma discussão muito inteligente sobre o que é justiça e a quem ela serve. No Brasil, por exemplo, quem rouba milhões não vai preso, mas um pobre que rouba um pão morre dentro da cadeia. São muitas discussões e recusei outros trabalhos para vivenciar isso, especialmente com um elenco tão bom de 13 pessoas. Não sei quando vou ter essa chance de novo”.

Denise também diz ser questionada pelas pessoas sobre o porquê de ser vista muito mais em trabalhos cômicos. Embora, em A visita da velha senhora, o tema tenha um quê trágico, a atriz afirma que o humor é uma escolha ética, além de estética, para sua carreira. “Acredito no humor e na ironia como trilha para o pensamento. A peça diverte e, ao mesmo tempo, dá voz à nossa angústia. Talvez essa seja uma das maiores funções do teatro hoje: dar a palavra às pessoas. A arte funciona como um espelho para a gente se ver”.

Serviço:
A Visita da Velha Senhora, de Friedrich Dürrenmatt
Quando: Dias 24, 25, 26 e 27 de maio – quinta a sábado, às 20h; domingo, às 18h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 120 min
Gênero: Comédia Trágica
Ingressos: R$ 70 e R$ 35 (meia) para a plateia e R$ 50 e R$ 25 (meia) para o terceiro piso
Informações: (81) 3355-3323

Ficha Técnica: 
Autor: Friedrich Dürrenmatt
Stage rights by Diogenes Verlag AG Zürich
Tradução: Christine Röhrig
Adaptação: Christine Röhrig, Denise Fraga e Maristela Chelala
Direção Geral: Luiz Villaça
Direção de Produção: José Maria
Elenco: Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, Romis Ferreira, Eduardo Estrela, Maristela Chelala, Renato Caldas, Beto Matos, David Taiyu, Luiz Ramalho, Fernando Neves, Fábio Nassar e Rafael Faustino
Direção de Arte: Ronaldo Fraga
Direção Musical: Dimi Kireeff
Trilha Sonora Original: Dimi Kireeff e Rafael Faustino
Desenho de Luz: Nadja Naira
Produção Executiva: Marita Prado
Preparação Corporal e Coreografias: Keila Bueno
Direção Vocal: Lucia Gayotto
Preparação Vocal: Andrea Drigo
Visagismo: Simone Batata
Assistente de Direção: André Dib
Assistente de Produção Musical: Nara Guimarães
Engenheiro de Mixagem: Fernando Gressler
Camareira: Cristiane Ferreira
Assistente de Iluminação e Operador de Luz: Robson Lima
Operador de Som: Janice Rodrigues
Cenotécnicos: Jeferson Batista de Santana, Edmilson Ferreira da Silva
Assessoria Financeira: Cristiane Souza
Fotografia: Cacá Bernardes
Making Of: Pedro Villaça e Flávio Torres
Redes Sociais: Nino Villaça
Programação visual: Gustavo Xella
Assessoria de Imprensa BH: Personal Press
Projeto realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura
Produção Original: SESI São Paulo
Patrocínio Exclusivo: Bradesco
Realização: NIA Teatro, Ministério da Cultura e Governo Federal

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Teatro de Fronteira encena Ligações Perigosas para falar da sociedade de hoje

Rodrigo Dourado (à esq.) e Rafael Almeida voltam a trabalhar como atores após anos afastados a partir do texto clássico de Choderlos de Laclos, com direção de João Denys. Foto: Ricardo Maciel

Rodrigo Dourado (à esq.) e Rafael Almeida voltam a trabalhar como atores após anos afastados a partir do texto clássico de Choderlos de Laclos, com direção de João Denys. Foto: Ricardo Maciel

O livro As ligações perigosas, clássico de Choderlos de Laclos, já seduziu muitos artistas no cinema e no teatro. Basta lembrar da versão levada ao cinema por Stephen Frears em 1988, que tomou um lugar cativo na cultura pop. A marquesa de Mertreuil e o conde de Valmont são mais do que personagens, mas arquétipos de uma elite insensível e libertina, que destrói vidas por pura diversão. O Teatro de Fronteira, que sempre apostou em uma linguagem mais documental, baseada no biodrama, usa o mesmo material para dar um ponto de inflexão em sua trajetória.

Em Ligações perigosas, que estreia nesta sexta (18) e fica em temporada até o próximo dia 29, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife, o vazio barroco da aristocracia pré-Revolução Francesa é mostrado em uma encenação mais próxima das origens do livro, um romance epistolar, focado na troca de cartas entre os aristocratas. Para quem não leu o livro nem viu as várias adaptações para o cinema, os ex-amantes competem entre si para ver quem corrompe garotas ou jovens mulheres, fazendo-as trair suas convicções de castidade e fidelidade.

Mais do que falar sobre intrigas amorosas, o texto é uma crítica social afiada de uma sociedade à beira do colapso, nada muito diferente de hoje, segundo o Teatro de Fronteira. Além de apontar o dedo para uma elite cuja insensibilidade parece ser eterna, o grupo também coloca em xeque um certo tipo de fazer teatral por meio da paródia. A decadência da elite francesa da época, alheia ao sofrimento do povo e entretida em seus jogos de sedução é posta em cena a partir da contracena dos dois atores ao redor de uma mesa, como se estivessem em um banquete.

A dissonância desse grupo social com a realidade, segundo Rodrigo, é sublinhada pelos elementos visuais do espetáculo. “A mesa é acionada como um local do encontro e também do enfrentamento. Ao mesmo tempo, o figurino e a maquiagem nos deixam com aspecto de usados, gastos, em referência a uma elite que insiste em permanecer fazendo um teatro enquanto o resto do mundo está se explodindo. Alguém pode pensar que estamos fazendo um ‘teatrão’ de fato, mas esse é o risco de fazermos uma paródia”.

A peça também traz de volta ao palco dois artistas que não pisavam nele havia alguns anos: Rodrigo Dourado, há dez anos sem atuar, e Rafael Almeida, há seis anos fora de cena. A dupla convidou, então, o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) João Denys Araújo Leite para dirigi-los em um processo que leva a teatralidade às últimas consequências. “Queríamos esse exagero. Acho que um bom texto é atemporal. Ele sempre vai falar a quem quiser ouvi-lo. Choderlos de Laclos põe as vísceras de uma sociedade sobre a mesa. Ligações perigosas fala muito das relações sociais e podemos usar a obra como metáfora para entender também o Brasil”, reflete Rafael.

O processo da montagem foi iniciado com a vontade de Rodrigo, também professor da Universidade Federal de Pernambuco, de voltar a trabalhar como ator, após consolidar uma carreira no Recife como diretor. Rafael, por sua vez, faz doutorado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), já foi da Trupe do Barulho e trabalhou no teatro em várias frentes, seja como diretor ou como cenógrafo. O que liga ambos a João Denys é a ligação dos três com a palavra. “Sempre me interessei pelos clássicos e começamos uma pesquisa para um texto para dois atores e nos deparamos com esse texto. Minha formação é a da dramaturgia e minha escola de atuação é ‘old school’. Eu, Rafael e Denys temos em comum essa conexão com a literatura e enxergamos em As ligações perigosas uma potência teatral muito grande. Mertreuil e Valmont encenam os jogos de conquista deles. Eles brincam de interpretar”, detalha Rodrigo.

Embora o Teatro de Fronteira tenha trabalhado, em seus espetáculos, um material dramatúrgico vindo diretamente da experiência de vida dos atores ou recorrido a uma dramaturgia costurada a partir de acontecimentos reais, Rodrigo não considera uma contradição montar Ligações perigosas. “Esta adaptação é bastante literária, metafórica e até um pouco barroca. Talvez o público estranhe essa opção por uma linguagem cheia de licenças poéticas em relação ao que ele tem visto como obra do nosso coletivo, mas, no fim das contas, acho isso bom. Teatro é conflito, e o grupo está vivendo esse paradoxo”, reflete Rodrigo.

Serviço:

Ligações Perigosas, do Teatro de Fronteira
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quando: 18 a 27 de maio de 2018 (sextas e sábados às 20h; domingos, às 19h)
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Classificação Indicativa: 16 anos
Duração: 70 minutos
Informações: 3355-3320 / 3355-3321

Ficha Técnica:

Elenco: Rafael Almeida e Rodrigo Dourado
Direção: João Denys Araújo Leite
Adaptação dramatúrgica: Teatro de Fronteira
Direção de produção: Rodrigo Cavalcanti
Figurinos, adereços e maquiagem: Marcondes Lima
Confecção de adereços: Álcio Lins e Rafael Almeida
Cenografia: João Denys Araújo Leite
Assistentes de cenografia: Manuel Carlos e Rafael Almeida
Cenotecnia: Israel Marinho, Manuel Carlos e Rafael Almeida
Design e execução de luz: João Guilherme de Paula
Sonoplastia: João Denys Araújo Leite
Assistente de sonoplastia: Rafael Almeida
Execução de sonoplastia: Marconi Bispo
Identidade visual: Michel Souza
Fotos e vídeo: Ricardo Maciel
Assessoria de Imprensa: Cleyton Cabral
Realização: Teatro de Fronteira

 

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Nostradamus quer ser superprodução pernambucana

Médico chamou a atenção do clero da sua época com profecias. Foto: Leandro Lima

Médico chamou a atenção do clero da sua época com profecias. Foto: Leandro Lima

O espetáculo Nostradamus, da Delfos Produções, estreia no dia 16 de maio, esta quarta-feira, com o desejo de ser uma superprodução pernambucana. Com 13 atores e um custo divulgado de R$ 150 mil, o carro-chefe do espetáculo é a dramaturgia de Doc Comparato, roteirista famoso por seus trabalhos no cinema e na TV, mas pouco visto nos palcos. O texto é uma visão pessoal de Doc sobre a figura controversa de Michel de Nostradame (1503-1566), médico francês que ficou famoso por suas profecias.

Para divulgar o espetáculo para a imprensa, a produção do espetáculo agendou uma entrevista coletiva num lugar inusitado: a Assembleia Legislativa de Pernambuco. Quem intermediou o uso do espaço foi o deputado estadual Waldemar Borges (PSB), por quem a equipe da peça e jornalistas tiveram de esperar durante uma hora para que ele começasse o evento com um breve discurso. O ambiente formal da Alepe também levou várias pessoas da equipe do espetáculo a usarem roupas sociais e maquiagem. Já o criador do texto, Doc Comparato, chegou na capital pernambucana na semana passada e foi tratado como convidado de honra. Ele estará na plateia durante a estreia e toda a sua estadia está sendo bancada pela Delfos.

Metido em terno e gravata e com uma maleta inseparável ao seu lado, Doc disse ter começado a comemoração de seus 40 anos de carreira no Recife e descreveu como esta montagem de Nostradamus passou a ganhar forma. “Vim ao Recife em 2016 para dar um curso de roteiro e acabei cedendo os direitos de duas peças da minha autoria: Jamais, Calabar, com direção de Jorge Farjalla, e esta. Criei Nostradamus em 1982, em Nova Friburgo. Estava de férias no sítio do meu pai e escrevia uma ou duas cenas por dia. Li muito sobre a época na qual ele viveu, mas depois de estar embebido daquilo, joguei fora”.

O potencial da vida de Nostradamus como material dramático, segundo Doc, foi explorado a partir da incompreensão das pessoas de sua época e do fascínio provocado por sua figura. “Imagine aquele homem falando do terceiro milênio, da 2ª Guerra Mundial no século 16. Aquilo ali não dizia respeito às pessoas daquele tempo. Também achava aquilo uma besteira e, recentemente, reli algumas profecias de Nostradamus e levei um choque. Peguei o que me chamou mais atenção, o que era mais vibrante, e o que ele falou realmente aconteceu. A grande pergunta da peça é a seguinte: nós temos destino ou cada um de nós tem poder sobre o livre-arbítrio? Ele era um visionário, um sonhador e Shakespeare diz que somos feitos da mesma matéria dos sonhos”.

A primeira montagem de Nostradamus, encenada em 1986, teve Antônio Fagundes como carro-chefe e Antonio Abujamra como diretor. A peça faz parte do que o autor chama de Trilogia do Tempo, que contém também os textos Michelangelo e O círculo das luzes. “Ninguém me encomenda peças para teatro. Eu é que sento para escrever. Sai da minha alma. É como se fosse um vestido de alta costura, dá um trabalho enorme. Já a televisão é um prêt-à-porter”, reflete Doc.

Mas um texto como esse tem relevância para os dias de hoje? O diretor da peça, Anderson Leite, acredita que sim. O encenador é, originalmente, do grupo São Gens de Teatro e foi chamado pela Delfos Produções para tocar o projeto e ajudar a escolher o elenco. “Nostradamus é visto sobre a ótica do tempo, em um triângulo entre passado, presente e futuro. Os três são uma coisa só. O texto tira o Nostradamus do endeusamento e o coloca como humano”. Em complemento à dramaturgia, ele diz ter tomado algumas liberdades. Uma dramaturgia paralela e não-verbal foi criada com a participação do multiartista Messias Black, que encarna um personagem misterioso. “Ele é um prisioneiro do tempo, um personagem que aparece em momentos de transição”.

A montagem, por sua vez, é a culminância de um processo que já dura dois anos, tempo necessário para montar o elenco, fazer a troca de alguns atores e levantar recursos financeiros, no caso dessa peça específica bastante volumosos para uma produção local – especialmente em tempos de crise. “Usamos recursos próprios e muita coisa não foi orçada em dinheiro, mas em serviços”, justifica Ana Patrícia Vaz Manso, produtora da peça junto com Matheus Vaz. Ela foi a responsável por comprar os direitos do texto após participar do curso de roteiro que Doc ministrou no Recife em 2016.

Os planos para a produção são ambiciosos. Os produtores dizem estar em negociações para levar o espetáculo a todas as capitais do Nordeste até janeiro de 2019, em 22 apresentações, quatro delas no Recife. A dupla também afirma estar em captação de recursos para circular pela Região Norte e colocaram outra meta que parece ainda mais difícil de realizar: levar a montagem até o Festival de Avignon, na França, um dos mais importantes do mundo, no ano que vem. “Nostradamus viveu na cidade, então tem tudo a ver. Já faz quatro anos que nenhuma peça brasileira se apresenta lá. Se não conseguirmos entrar na programação oficial, queremos encenar Nostradamus em alguma produção paralela”, sonha Ana Patrícia.

Serviço:
Nostradamus, da Delfos Produções
Quando: 16 de maio (quarta), às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel – Praça da República, s/n, Santo Antônio
Quanto: R$ 60 e R$ 30 (meia)
Informações: (81) 3355-3323 ou espetaculonostradamus@gmail.com

Ficha técnica: 
Dramaturgia: Doc Comparato
Direção: Anderson Leite
Produção executiva: Ana Patrícia Manso e Matheus Vaz
Elenco: Alberto Oliveira, Anaýra Bandeira, Cristiano Primo, Halberys Morais, Hannah Minervino, Isabela Leão, Mário Coelho, Messias Black, Patrícia Manso, Paulo César Freire, Thiago Leal, Ulisses Nascimento e Vanessa Sueidy
Trilha sonora: Raphael Souto
Cenografia: Anderson Leite
Cenotécnico: Paulo Régis
Iluminação: João Guilherme de Paula
Figurino: Deivison Maciel e Patrícia Manso
Preparação de elenco: Manoel Constantino
Programação visual: Matheus Vaz
Maquiagem: Ana Paula Oliveira
Adereços: Lourdes Alves e Paulo Régis
Assistentes de produção: Halberys Morais, Ivaldo Cunha Filho, Paulo César Freire Ulisses Nascimento
Sonoplastia: Paulo César Freire
Assistente administrativo: Magno Holanda
Música tema “Sabina”: Vanessa Sueidy
Assessoria de Imprensa: Deva Mendes
Fotografia: Leandro Lima e Matheus Vaz
Realização: Delfos Produções

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Teatrando! reconta história do Santa Isabel com jogo

Atores jogam com o público no Projeto Teatrando. Foto: Wesley D'Almeida

Atores jogam com o público no Projeto Teatrando!. Foto: Wesley D’Almeida

Terça-feira, 15h. Esse é um horário pouco habitual para a maioria das produções teatrais, mas quem passar pelo Teatro de Santa Isabel neste dia e horário e prestar atenção vai ver um grupo na frente da casa de espetáculos, inaugurada em 1850. Todas esperam pela abertura de suas portas para participar do Proscenium! Teatro Jogo, incluída em um projeto maior, chamado Teatrando!. A ação vai oferecer atividades no local até agosto, incluindo também oficinas, saraus e debates, tudo de graça.

O Proscenium! Teatro Jogo não é propriamente uma visita guiada, mas uma proposta de experiência imersiva e interativa na história do Santa Isabel, baseada na educação patrimonial. A intenção é atingir tanto o público espontâneo quanto grupos previamente agendados, até o limite de 50 pessoas. Na última terça, cerca de 40 alunos de uma escola de Ipojuca estavam lá, junto com mais dois adultos – uma delas era eu.

A recepção pode até parecer uma visita guiada convencional, mas logo uma série de acontecimentos leva todo mundo para dentro do teatro de uma forma inusitada. Em vez de vermos de cara toda a glória do Santa Isabel pela perspectiva de quem chega para assistir a um espetáculo, somos levados para os bastidores, conhecendo o teatro pelo seu avesso. Os personagens históricos e mitológicos que passam a aparecer aqui e ali reforçam a brincadeira, conduzida pelos atores Alexandre Sampaio, Bruna Luiza Barros, Ellis Regina, Kadydja Erlen, Luciana Lemos, Paulo de Pontes e Rafael Dyon.  A direção de Quiercles Santana e Célio Pontes usa as situações reais relacionadas ao teatro como ponto de partida para fazer o público ligar os elos por conta própria.

A construção do teatro pelo engenheiro francês Louis Vauthier e, principalmente, o incêndio sofrido pela casa em 1869, são o centro desse passeio interativo, pois detonam todos os acontecimentos que vêm a seguir. Dos porões até o sótão do teatro, passando pelos camarins, tudo pode estar em cena e guardar uma surpresa. É preciso ter um pouco de fôlego para subir e descer andares inteiros do teatro em cerca de duas horas de ação. Em certo momento, o público é dividido em três grupos diferentes, conduzidos por diferentes personagens, e o conceito de gamificação ganha ainda mais força. Assim como no RPG, cada escolha vai resultar em uma experiência única e somente no final da visita o grupo vai se reunir por inteiro novamente.

Um dos maiores méritos do Proscenium! Teatro Jogo não é apenas mostrar a história do Teatro de Santa Isabel de uma forma criativa, mas levar quem participa a fazer uma reflexão sobre a arte de forma mais ampla. Questões como a ausência de público nas casas de espetáculos ou o valor dado à cultura no Brasil são postas nos textos dos atores e no tipo de interação entre eles e o público, mostrando que esses temas são tão antigos quanto à história desse local. Em um teatro que já viu muitas histórias serem contadas, tanto em seu palco como fora dele, é bom ver que seus fantasmas também rendem uma boa narrativa.

Projeto leva à reflexão sobre arte. Foto: Wesley D'Almeida

Projeto leva à reflexão sobre arte. Foto: Wesley D’Almeida

Além do Proscenium! Teatro Jogo, agendado para todas as terças-feiras até o fim de agosto, o Teatrando! tem outras ramificações. Uma delas se chama Diálogos, com debates abertos ao público toda última terça-feira do mês, sempre às 19h. Os saraus estão previstos para ocorrer quinzenalmente e a convocatória para quem quiser se apresentar por lá está na página do teatro na internet. As oficinas, por sua vez, ainda não começaram. Fato raro nas artes cênicas da cidade, todo o valor captado para essas ações veio da Lei Rouanet, a partir do patrocínio do banco Santander. Quem executou o projeto foi o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), mesma instituição responsável pelo funcionamento do Paço do Frevo. Já as visitas guiadas do Santa Isabel continuam, sem previsão de encerramento, nos mesmos horários: domingos, às 14h, 15h e 16h, com entrada gratuita. 

Serviço:

Proscenium! Teatro Jogo
Quando: Todas as terças-feiras, às 15h, até o fim de agosto
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Quanto: Gratuito, mas é preciso fazer o agendamento por telefone
Informações: (81) 3355-3323 / 3324

Público pode agendar participação gratuitamente. Foto: Wesley D'Almeida

Público pode agendar participação gratuitamente. Foto: Wesley D’Almeida

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