Convocatória MITbr: últimos dias
de inscrições na Plataforma Brasil 2026

Grupo Cena 11, de Florianópolis (SC)  na MITbr 2024 com Eu não sou só eu em mim. Foto: Silvia Machado

A contagem regressiva começou. Entram na reta final as inscrições para a MITbr – Plataforma Brasil 2026, vitrine estratégica da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) dedicada a dar projeção internacional às artes cênicas brasileiras. O prazo se encerra em 15 de setembro no mitsp.org, e a convocatória — gratuita — é um convite a artistas, coletivos e companhias do país que queiram dialogar com curadores e programadores do circuito global.

Esta chamada é uma oportunidade de circulação, articulação e troca. Ao reunir espetáculos e proposições que refletem a diversidade estética e territorial do Brasil, a MITbr funciona como pontilhão entre a criação brasileira e os palcos do mundo.

Em 2025, a MITbr registrou 454 inscrições, um termômetro da vitalidade do setor e do interesse crescente pela plataforma. Para 2026, a expectativa é de ampliação desse alcance.

O que é a MITbr e por que ela importa 

  • É a plataforma da MITsp dedicada a apresentar um recorte curatorial da produção contemporânea brasileira (teatro, dança, performance) para programadores nacionais e internacionais.
  • O objetivo é acelerar convites, turnês, coproduções e residências, fortalecendo a internacionalização de artistas, companhias e coletivos do Brasil.
  • A curadoria é independente, e a seleção privilegia diversidade de estéticas, territórios e vozes, com atenção a grupos historicamente sub-representados.
  • Aumento da presença de artistas brasileiros em festivais e temporadas no exterior.
  • Fortalecimento de parcerias e coproduções, com impacto na sustentabilidade dos projetos.
  • Curadoria atenta a diversidade de linguagens (teatro, dança, performance e hibridismos), trazendo obras que tensionam formas e discursos.
  • Ampliação do olhar para além dos grandes centros, com maior atenção a territorialidades múltiplas.

Desafios em pauta

  • Logística e financiamento: a viabilização de turnês e deslocamentos segue como grande gargalo, especialmente para projetos de regiões distantes dos principais eixos de transporte.
  • Representatividade e acesso: refletir a pluralidade brasileira na programação exige políticas ativas e contínuas, considerando recortes étnico-raciais, de gênero, de deficiência e de território.
  • Diferenças de escala: obras intimistas e de pequeno porte competem, no radar internacional, com produções de maior orçamento — um equilíbrio que demanda mediação curatorial e negociação com a rede de programadores.
  • Sustentabilidade: pensar circulação de modo mais responsável (carbono, materiais, logística) tornou-se pauta transversal.
  • Apesar dos obstáculos, a MITbr vem acumulando resultados concretos: maior visibilidade no exterior, redes de colaboração mais densas e um diálogo curatorial que se atualiza a cada edição.

O que os curadores costumam observar

  • Intelecção artística: uma obra com proposição estética nítida e coerência entre linguagem, tema e dispositivo cênico.
  • Potencial de circulação: condições técnicas claras, adaptabilidade a diferentes espaços, e documentação audiovisual que reflita a experiência de público.
  • Singularidade e contexto: projetos que tragam vozes, territorialidades e imaginários pouco vistos no circuito internacional chamam atenção — especialmente quando articulam rigor formal e potência política                                                                                                                                   

Serviço — MITbr 2026

MITbr – Plataforma Brasil 2026 (chamada pública)
Inscrições: Até 15 de setembro de 2025
Divulgação dos selecionados: até 1º de dezembro de 2025
Apresentações: de 5 a 15 de março de 2026, em São Paulo
Taxa: inscrições gratuitas
Onde: site oficial da MITsp — mitsp.org

 

A MITsp em Avignon 2025:
Projeção Cultural Brasileira e Seus Desdobramentos

História do Olho, de Janaina Leite (São Paulo/SP). Foto: Reproduão do Instagram

A participação da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) no Festival Off Avignon, realizada entre 5 e 13 de julho de 2025, constituiu um esforço notável na estratégia de projeção cultural brasileira no cenário internacional. Organizada no âmbito da Temporada Brasil França 2025 e respaldada por financiamento do Ministério da Cultura e patrocínio da Petrobras, a iniciativa buscou estabelecer um intercâmbio substancial, apresentando um recorte da produção nacional a um público e a programadores globais.

A delegação brasileira em Avignon foi composta por um programa com quatro espetáculos de teatro e dança, três filmes e três conferências. No palco francês, obras como História do Olho, de Janaina Leite (São Paulo/SP), foram apresentadas, explorando a fronteira entre o ficcional e o documental. AZIRA’I – Um Musical de Memórias, da atriz indígena Zahy Tentehar, trouxe à cena narrativas que ressoaram pela sua pertinência e pela performance de sua criadora. Fábio Osório Monteiro, com Bola de Fogo, propôs uma interação que mesclava o preparo de um quitute tradicional com discussões sobre identidades, enquanto Eles Fazem Dança Contemporânea, de Leandro Souza, abordou questões sobre a presença negra na arte contemporânea ocidental. Foram exibidos os filmes O Diabo na Rua no Meio do Redemunho, de Bia Lessa; A Queda do Céu, de Éryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha; e As Cadeiras, de Luís Fernando Libonati. A programação foi enriquecida por conferências com intelectuais como Geni Núñez, Rosane Borges e Vladimir Safatle, que ofereceram análises sobre o Brasil contemporâneo sob perspectivas indígenas, raciais, de gênero e políticas.

Passados dois meses do evento, a recepção da presença brasileira em Avignon registrou resultados observáveis. A crítica especializada francesa dedicou cobertura às obras brasileiras, com comentários que abordaram a diversidade de temas, a inventividade das linguagens e a performance dos artistas. Sessões nas salas de La Manufacture registraram presença de público compatível com as expectativas, especialmente para os espetáculos que já possuíam um histórico de apresentações em festivais no Brasil. A imprensa francesa, incluindo publicações como Le Monde e Libération, veiculou comentários sobre a abordagem curatorial da MITsp, que procurou apresentar aspectos variados da cultura brasileira.

No que tange aos programadores e profissionais do setor, a exposição das obras brasileiras foi um objetivo cumprido. Relatos da própria MITsp e informações veiculadas indicam que discussões foram iniciadas com diversos programadores de festivais e espaços culturais de distintos países para possíveis futuras apresentações e parcerias. Guilherme Marques, diretor geral de produção da MITsp, indicou que o nível de engajamento alcançado foi significativo. As conferências e sessões de filmes também registraram participação considerável, o que agregou um componente de debate e reflexão à apresentação artística.

Em relação ao investimento e à percepção pública, a participação da MITsp em Avignon foi sustentada por financiamento público e privado. A repercussão da imprensa brasileira, tanto no período pré-evento quanto no pós-evento, focou predominantemente nos anúncios e na apresentação da iniciativa, com alguns veículos indicando desdobramentos positivos em termos de interesse e visibilidade para os espetáculos. 

A narrativa observada na cobertura midiática sugere que o aporte financeiro é contextualizado pela projeção da cultura brasileira e pela busca de novas avenidas de intercâmbio, cujos resultados tangíveis, como convites concretos para novas apresentações, ainda se encontram em fase de maturação e negociação. Tal perspectiva alinha-se à compreensão de que ações de projeção internacional, especialmente no campo cultural, demandam tempo para que seus impactos e retornos se manifestem plenamente.

 

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , ,

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *