Arquivo mensais:novembro 2014

Militância na gestão pública

Romildo Moreira, chefe da Divisão de Artes Cênicas da Fundação de Cultura Cidade do Recife

Romildo Moreira, chefe da Divisão de Artes Cênicas da Fundação de Cultura Cidade do Recife

O nome dele está vinculado a ações significativas no teatro pernambucano. Idealizou o Janeiro de Grandes Espetáculos, o Festival Recife do Teatro Nacional, o Circuito Pernambucano de Artes Cênicas, realizado entre 2001 e 2006, participou da criação do Centro Apolo-Hermilo, lutou pela climatização do Teatro do Parque e pela reforma do Teatro de Santa Isabel. Como gestor, o dramaturgo, diretor e ator Romildo Moreira já passou pela Prefeitura do Recife, pelo Governo do Estado de Pernambuco, pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria da Cultura do Governo do Distrito Federal.

Atualmente, Romildo Moreira é o chefe da divisão de Artes Cênicas, na Fundação de Cultura Cidade do Recife. Por ironia, recentemente viu seus superiores tomarem a decisão de cancelar a edição 2014 do Festival Recife do Teatro Nacional e ainda de torná-lo bienal, sendo realizado alternadamente com o Festival Internacional de Dança do Recife, evento que hoje está sob a responsabilidade de Moreira e que foi realizado no mês passado com apenas R$ 200 mil de desembolso da Prefeitura do Recife. O restante, R$ 450 mil, veio de parcerias construídas pelo gestor e por sua equipe.

Em entrevista ao Satisfeita, Yolanda?, Romildo Moreira diz que não foi consultado sobre as mudanças nos festivais, admite que a Prefeitura do Recife possui um déficit de atuação na área da cultura, mas se diz motivado a continuar militando na atual gestão. A entrevista foi concedida ao blog na semana passada.

ENTREVISTA // ROMILDO MOREIRA

O que você achou do cancelamento do festival deste ano e da transformação do festival em bienal? Como você, enquanto gestor que criou o festival, enxerga isso?
Não dá para separar o artista Romildo Moreira, que esteve na gestão que criou o festival e que coordenou três edições, do atual gestor, que voltou para a Fundação de Cultura, 13 anos depois. Acho que é lamentável. Depois de tanto tempo que o festival se mantém como projeto anual, que ele tenha essa interrupção. Já tive uma experiência parecida: no terceiro ano consecutivo do festival, a gente optou por não torná-lo bienal, quando surgiu essa proposta, porque nós estávamos com pouca verba e tínhamos o compromisso com o Ministério da Cultura para a reforma do Teatro de Santa Isabel. O festival era o único recurso disponível na prefeitura até então para a área das artes cênicas. Então nós nos reunimos com as entidades, chamamos algumas pessoas notórias das artes cênicas, eu lembro bem, Germano Haiut, Reinaldo de Oliveira, discutimos essa proposta e vimos que não seria a melhor opção. Uma das discussões que a gente levantava era: havendo uma crise por algum motivo, no ano em que ele seria executado, o festival deixaria de acontecer não só um ano, mas por três anos. Nesta situação atual, não sei quais os discursos de defesa dessa proposta e quais os discursos que foram postos contrários a essa bienalidade. Talvez tenham até me poupado, em função de que eu estava muito atarefado com a realização do Festival Internacional de Dança.

Você foi consultado com relação a essa decisão?
Eu não fui consultado. Precisamos esclarecer: mesmo que a gestão cultural da Prefeitura seja uma só para a sociedade de modo geral, existem duas instituições públicas que trabalham com ela. O Festival é ligado ao Centro Apolo-Hermilo e o Centro Apolo-Hermilo é ligado diretamente ao gabinete da secretária. Na minha instância de hierarquia, eu passo por outro segmento, que é o da Fundação de Cultura. Isso também não impede que a gente sente, em comum acordo, para discutir. Mas eu não fui consultado; e aí, repito, talvez até em função das minhas atividades, que estavam muito fortes nesse período, em função do festival. Agora, se eu tivesse sido consultado, certamente teria defendido o contrário. Acho que não teria sido difícil mostrar até o ponto de vista do prejuízo político para a instituição. Dezoito anos depois, tornar o festival bienal, quando nenhuma gestão anterior se colocou neste lugar.

Qual o prejuízo político dessa decisão?
A Prefeitura do Recife está com um déficit muito grande dentro da história de sua participação no universo cultural da cidade, em especial nas artes cênicas, que é onde milito. Esse prejuízo é político, quando isso acontece exatamente numa gestão em que a secretária de Cultura é uma pessoa de teatro, sensível às questões teatrais, uma gestão cheia de pessoas de artes cênicas. É difícil para a sociedade entender como o cancelamento do festival é uma necessidade inadiável; não fica muito claro. Esse prejuízo se estende também ao lado artístico, porque passar dois anos alheios ao que está acontecendo em cena no país inteiro é ruim para a história local, como uma cidade receptora de grandes espetáculos, através exatamente do Festival Recife do Teatro Nacional e do Janeiro de Grandes Espetáculos. O Janeiro de Grandes Espetáculos não supre sozinho essa necessidade.

Um dos argumentos utilizados por Carlos Carvalho, coordenador do festival, é de que não teríamos um prejuízo muito grande, já que a cidade possui muitos festivais. Mas sabemos que o Festival Recife do Teatro Nacional tem um perfil e um objetivo muito específicos.
Acho que passa exatamente pelo que você pontua: perfil. Quando o poder público percebe que ele cumpre um papel e define esse papel como uma função sua, ele não pode ser comparado a outros, tem que ter um diferencial. Temos que voltar mesmo à história do festival: quando, nas três primeiras edições, ele tinha uma curadoria enorme, um grupo grande de pessoas para pensar e realizá-lo, do ponto de vista da programação, era exatamente essa discussão que a gente levantava: qual o diferencial que o Festival Recife do Teatro Nacional tem para o Festival de Curitiba, para Porto Alegre, para os grandes festivais de teatro do país que existiam na época? E a gente via que a importância que o festival iria adquirir para o cenário brasileiro, era exatamente esse seu perfil singular. A gente queria reunir, como reunimos, grandes espetáculos, tendo como mote para cada ano um ponto de vista, a partir desse olhar viriam os convites. O primeiro ano foi a reunião de grupos consolidados. Trouxemos pela primeira vez ao Recife, o Galpão, o Latão, que estourou nacionalmente aqui no Recife, porque era muito conhecido por um gueto de intelectuais em São Paulo, mas à medida que veio para cá, com dois espetáculos, despontou para o resto do Brasil – isso está no livro que o Sérgio de Carvalho escreveu quando o grupo completou 15 anos. É este perfil de trazer o que de melhor se produz, na forma como originalmente foi produzido. Uma coisa não substitui outra. Mas sei que deve ter sido bem doloroso também para os diretores da secretaria e da fundação tomarem essa medida, mas é lamentável, porque quebra uma história.

Espetáculo belga L’AssautdesCieux não viria ao Recife através de produtores independentes. Foto: Irandi Souza/PCR

Espetáculo belga L’AssautdesCieux não viria ao Recife através de produtores independentes. Foto: Irandi Souza/PCR

O Festival Internacional de Dança foi realizado sob sua coordenação. Como você conseguiu viabilizar o festival financeiramente, já que a falta de verba seria um dos motivos pelos quais o Festival Nacional foi cancelado?
A viabilidade do Festival de Dança este ano realmente foi muito difícil. Este ano para a cultura no Brasil não foi fácil e para Recife em especial. Politicamente houve uma ruptura entre o governo federal e o governo estadual e, consequentemente, com o municipal. Isso implicou na questão de verbas da Prefeitura. Para se ter uma ideia: parte dos recursos do Ministério do Turismo para o carnaval ainda não foi liberado, da mesma forma com o ciclo junino. Ou seja: a Prefeitura teve que arcar com despesas que não estavam pré-orçadas para tal, teve que tirar de eventos próprios, como foi tirado do Festival de Dança. O Festival de Dança estava orçado em R$ 700 mil, depois baixou para R$ 500 mil. Ele foi realizado com quase R$ 650 mil em desembolso direto, dos quais R$ 200 mil apenas foram da Prefeitura. O restante foi parceria. A programação realizada no Paço Alfândega, por exemplo, se nós fôssemos pagar todas as despesas lá: aluguel de linólio, aluguel de som, aluguel do espaço, por duas semanas, isso ultrapassaria R$ 50 mil e nós conseguimos como parceria. O grupo da Bélgica, que veio com onze pessoas, o Ministério da Cultura da Bélgica pagou as passagens de ida e volta; o grupo do Sesc de Petrolina, com 22 pessoas, foram passagens de avião pagas pelo Sesc. Foram aportes que se somaram, para que o festival acontecesse, inclusive de forma grandiosa. Não foi menor do que o do ano passado, muito pelo contrário, pela opção que fizemos de espalhar a programação pela cidade inteira, essa programação que foi realizada no Paço Alfândega, diariamente, pegando outro tipo de público, no horário do almoço, resultou muitíssimo bem, tudo isso foi ampliando mesmo o volume do festival. O Paço do Frevo também, que foi outro parceiro, apoiador maravilhoso. O espetáculo da filha de Antônio Carlos Nóbrega, Maria Eugênia, apresentado lá, até o cachê do espetáculo foi o próprio Paço quem pagou. Enfim, a gente saiu buscando parceiros para que, de fato, a gente politicamente cumprisse o prometido com a categoria.

Quem buscou essas parcerias? Quem fez essa produção?
A Gerência de Artes Cênicas, nós, sob minha responsabilidade.

Vocês tiveram algum recurso vindo do setor de captação da própria Prefeitura?
A captação de recursos institucional a gente tentou através das leis de incentivos, que foram poucas, mas não tivemos resposta positiva. Isso foi negociação direta mesmo da Gerência com os apoiadores. O chefe dessa divisão de captação de recursos é Wellington Lima. Eu estive com ele, fizemos projeto para o BNDES e algum outro, que não foram aprovados. Mas essa captação que resultou em verbas alocadas para o 19° Festival Internacional de Dança do Recife veio através de negociação direta com a Gerência.

Como foi a negociação com o Presidente da Fundação de Cultura para que o festival fosse realizado?
Quando eu soube que só tinha R$ 200 mil em desembolso para realizar o festival – porque precisa ainda computar outros gastos, por exemplo, manter um Teatro como o Santa Isabel funcionando a semana inteira em função do festival, isso tem uma despesa muito grande, energia, funcionário, hora extra de funcionário. Mas, de desembolso mesmo, de orçamento para liberação de recursos, só tinha R$ 200 mil. Então tinha duas opções: realizá-lo fazendo a multiplicação dos pães, ou não realizá-lo, porque o dinheiro, de fato, não atenderia às necessidades. E eu, com a minha equipe, resolvemos arregaçar as mangas e investir na realização dele.

Com relação à qualidade artística, não conseguimos acompanhar o festival, mas soubemos de espetáculos imperdíveis; e, ao mesmo tempo, de espetáculos questionáveis…
Realmente, nós tivemos umas oscilações, tivemos alguns espetáculos fracos mesmo. As pessoas até disseram: ‘como uma comissão de avaliação deixa passar isso?’. Mas, em compensação, tivemos outros maravilhosos. Ficamos muito felizes. A exemplo do Dois Mundos, com a atriz e bailarina Mariana Muniz. Ela faz um espetáculo onde o corpo todo se expressa em libras; inclusive ela é daqui, maravilhosa. O grupo da Bélgica, um espetáculo daquele nenhum produtor independente traz, um espetáculo que, para entrar em cena, você tem que adquirir três metros e meio de areia, um botijão de gás hélio que custou R$ 930 só para encher o balão, comprar um monte de tralhas que não dá para trazer da Bélgica, tem que comprar aqui, como pá de construção.

2 Mundos, espetáculo de Mariana Muniz, foi destaque no Festival Internacional de Dança. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

2 Mundos, espetáculo de Mariana Muniz, foi destaque no Festival Internacional de Dança. Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Voltando às decisões da Prefeitura, o que foi divulgado é que os Festivais de Dança e de Teatro serão bienais, realizados de forma alternada. Isso envolve o Festival de Dança, sob a sua batuta. Ele virou bienal à sua revelia?
Eu não diria à minha revelia porque não tenho poder de decisão. Tenho superiores. Tenho um cargo muito pequeno diante de quem tem as decisões. Lamento não ter podido estar presente, para defender a manutenção dos festivais. Talvez eu tivesse argumentos suficientes para a gente rever. Para mim, seria muito mais coerente politicamente falando dentro de uma gestão que tem esse elenco de pessoas envolvidas até a medula com a questão da cultura na cidade, como a secretária Leda Alves. Seria muito mais fácil a gente sentar com a comunidade e dizer: “olha, este ano não dá para fazer porque não tem dinheiro. A gente não quer colocar as pessoas para trabalhar e não saber se vai poder pagar. Isso não é uma coisa responsável, não seria uma atitude responsável. Mas, a gente vai se comprometer com vocês que, no ano seguinte, a gente faz o festival, tentar até alocar mais recursos, trazer mais parceiros, para fazer o festival à altura, como a cidade merece”. Acho que as pessoas entenderiam que este ano era impossível fazer, porque foi um ano de Copa, um ano que teve muitos problemas de infraestrutura na cidade, por causa das chuvas, foi um ano atípico, com coisas que justificam a queda de arrecadação da Prefeitura. Agora, o que acho que a gente fica devendo, de fato, é tomar uma medida dessas que não é fácil de ser aceita pela comunidade, sem ter tido esse diálogo, essa oportunidade.

Você já conversou com o presidente depois disso? Você acha que essa é uma decisão reversível? Você vai tentar fazer o Festival Internacional de Dança ano que vem?
Ainda não. Se for uma decisão superior, não posso me opor, muito pelo contrário, tenho que acatar, porque não sou secretário de Cultura, presidente da Fundação ou prefeito do Recife. A possibilidade de voltar a ser anual, acho que tem muito mais a ver com a mobilização da comunidade artística do que da nossa própria interferência lá dentro. Não sei quais os argumentos que levaram a se ter essa decisão, eu não ouvi, pode ser até que essa minha ausência nessa reunião também tenha me deixado sem argumentos suficientes para defender essa posição, porque não ouvi os discursos que levaram a essa decisão, não sei quais foram. Sei que falta de dinheiro existe, mas gostaria mesmo que fosse revista essa posição e que a gente tivesse no próximo ano tanto o festival de dança quanto o de teatro. Até mesmo porque ambos os festivais já têm inscrições em leis de incentivo para o ano de 2015. Então vai ficar muito difícil se um dos projetos que enviamos para uma dessas leis de incentivo for aprovado e a gente não realizá-lo. Ainda tem uma situação delicada, na medida em que se tornou público isso, porque se uma comissão que vai analisar os projetos de 2015 sabe que o nosso festival passou a ser bienal, é óbvio que ela não vai votar no nosso. Já existe um prejuízo. Politicamente é difícil tramitar agora com projetos prévios para um festival que deixou de ser anual, quando a gente já tinha perspectiva de realizá-lo ano que vem.

Na nota que anunciou o cancelamento do Festival Nacional, a Prefeitura aproveitou para anunciar o fomento às artes cênicas. Os artistas sabem do seu empenho, desde o encontro que você teve com a classe no Forte das Cinco Pontas, no início do ano, para que o fomento fosse retomado. Mas como, neste momento, você vai defender esse fomento, com um valor que não é o ideal e que pode ser visto como um ‘cala a boca’ para os artistas?
Ele já estava previsto. A gente precisa fazer um histórico disso também. No último ano que o fomento saiu foi de R$ 20 mil. Quando se descontava os percentuais de praxe, de um desembolso público, isso ficava um valor tão irrisório… Mas o poder público trabalha com orçamentos e a gente não pode pensar num orçamento ilusório, a gente tem que pensar um orçamento real, viável, possível. Então, obviamente, paulatinamente, esses valores vão melhor atendendo às necessidades. Sei que R$ 33 mil, dependendo do tipo de produção é um aporte pequeno, mas é alguma coisa. Até mesmo porque o fomento não impede que um projeto contemplado capte recursos noutras fontes, como o Funcultura. Estamos dando uma pequena parte para incentivar. Fomento não é um patrocínio, é um aporte de apoio mesmo.

Ele não viabiliza. Ele fomenta…
Não produz, ele fomenta. Ele dá o incentivo, não a produção. O Funcultura sim, se você consegue aprovar 100% do seu projeto, é um patrocínio. Agora como foi dito e discutido nesse encontro em fevereiro do ano passado, a gente tinha uma verba de R$ 300 mil. Como dividir? Até porque, ele tinha sido pensado em valores diferentes, para teatro e dança era um e para circo era outro. E lá, nesse encontro, as pessoas de circo não foram favoráveis a esse desnível de valores e conseguiram sensibilizar todos, de que não deveria ser assim. Agora a ideia é que, paulatinamente, a gente vá adequando esses valores, até mesmo porque a inflação existe, é real, está voltando, então a gente precisa fazer com que essas verbas não estacionem. Agora, nunca vai ser suficiente para a montagem. Vai ser sempre uma verba de apoio e nem é um apoio tão pequeno, para iniciar uma produção, já cumpre um bom papel.

R$ 33 mil sem descontos?
A gente está querendo que saia via Fundo, o que tem um implicador burocrático, porque o Fundo é controlado pelo Conselho Municipal de Cultura. Ele tem uma ligação direta com o Conselho. De forma que, se pudermos liberar esses recursos através do Fundo Municipal de Cultura, ele sai como prêmio; caso contrário, o fomento é dado com os descontos normais, de praxe. Mas estamos tentando que ele saia como prêmio do Fundo.

Nós sabemos que, desde sempre, a falta de espaços ou a precariedade dos espaços
Existe já há algum tempo, isso não é recente, não vem dessa gestão atual, um departamento chamado Goe, Gerência de Operação de Espaços, que não está ligada diretamente às artes cênicas. Então todos os teatros, museus, galerias, bibliotecas, os espaços físicos da área de cultura são gerenciados por esse departamento. Existe sempre algum diálogo entre a Divisão de Artes Cênicas e esse departamento. No caso do Barreto Júnior, em especial, ele não está fechado. Está em condições precárias para uso. De forma que os produtores que o buscam sabem que o ar-condicionado de lá não tem mais retorno. Já foi feito agora o processo de levantamento de custos para a compra de um novo equipamento, porque ali é em cima do mar e a maresia acabou com toda a estrutura da máquina. Agora, no Festival, nós usamos o teatro. Teve um custo enorme para colocar aqueles ar-condicionados portáteis, que são alugados para eventos. Colocamos seis aparelhos, quatro no auditório, um nos camarins e um no palco. Ficou um clima agradável. Mas, por exemplo, uma produção independente que vá cumprir temporada não vai conseguir arcar com essa despesa para tirar de bilheteria.

Qual a previsão?
A partir do primeiro semestre de 2015. Essa foi uma notícia recente, que o próprio diretor do teatro, Marcelino Dias, me passou. Que o GOE já está fazendo esse processo de custos, para abrir processo de compra, os trâmites burocráticos. Segundo Marcelino, vai ser adquirido no primeiro semestre de 2015.

Porque além dos festivais, a casa abre edital para ser ocupado, faz parte da política de ocupação do espaço. Então até o fim do primeiro semestre isso não vai acontecer?
Parece que é para bem antes, pelo que Marcelino me passou. Esse processo de compra se encerraria ainda este ano; no Janeiro de Grandes Espetáculos provavelmente ele não vai estar instalado, mas a ideia é que logo após carnaval, o teatro já esteja com o equipamento.

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Marguerite Duras no Recife

Depois de Camille Claudel, Ceronha Pontes encara outra figura feminina de grande importância artística

Depois de Camille Claudel, Ceronha Pontes encara outra figura feminina de grande importância artística

A atriz Ceronha Pontes encarna uma das escritoras mais fascinantes da literatura, Marguerite Duras em peça que celebra o centenário da autora. Não importa se tu me amas. Eu sou Duras faz uma sessão hoje para convidados e fica em temporada de oito dias na Aliança Francesa Recife (Derby), a partir de amanhã, sempre às 20h.

O amor não tem limites e para conquistá-lo vale qualquer coisa, gritam os transbordantes personagens de Duras, cuja obra é em parte autobiográfica.

O diretor e dramaturgo do monólogo Cláudio Kovacic ficciona Duras no Recife, amiga de Clarice Lispector, para investigar sobre o sentido do amor e da morte.

SERVIÇO
Não importa se tu me amas. Eu sou Duras
Aliança Francesa Recife
De 5 a 13 de novembro, às 20h
R$ 15

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O tempo ainda é de faxina no Centro Apolo-Hermilo

No restante da entrevista que concedeu ao blog, Carlos Carvalho fala sobre o Centro Apolo-Hermilo e sobre gestão cultural. Foto: Pollyanna Diniz

No restante da entrevista que concedeu ao blog, Carlos Carvalho fala sobre o Centro Apolo-Hermilo e sobre gestão cultural. Foto: Pollyanna Diniz

Mesmo que a gestão Geraldo Júlio tenha assumido a Prefeitura do Recife há quase dois anos, a impressão que se tem é que, na cultura, a fase ainda é de arrumação da casa. Os passos são lentos e miúdos, quando não há retrocesso, haja vista o cancelamento da edição 2014 do Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN), confirmada pelo diretor do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, Carlos Carvalho, em entrevista ao Satisfeita, Yolanda?, na semana passada.

No Apolo-Hermilo, aliás, a faxina assume o sentido literal do termo. Durante a conversa concedida a Ivana Moura e a Pollyanna Diniz (e já publicada parcialmente, com as questões que diziam respeito ao FRTN), Carlos Carvalho fala do barulho da arquibancada, do mofo dos camarins, do entulho no porão do teatro, e ainda da reestruturação técnica e de pessoal. O Teatro Hermilo Borba Filho deve, inclusive, fechar para reforma em 2015. Ainda não há, no entanto, um projeto pedagógico para o Centro. A única ação de “formação” que saiu do papel foi a abertura do espaço para que artistas da cidade (três produções no total) pudessem ensaiar nas dependências do Apolo-Hermilo.

Na entrevista, Carlos Carvalho trata das suas ações à frente do Centro de Formação, revela que não há orçamento definido para ações específicas, confessa que é bastante solicitado pela secretária de Cultura, Leda Alves, para assumir outras atividades na gestão, e cobra participação na discussão da política cultural da cidade por parte das entidades de artes cênicas e da sociedade civil.

Nesta segunda-feira (3), aliás, artistas ligados ao teatro vão se reunir no Espaço Cênicas Cia de Repertório (Rua Marquês de Olinda, 199, Bairro do Recife), para decidir como vão proceder diante do cancelamento do Festival Recife do Teatro Nacional.

ENTREVISTA // CARLOS CARVALHO

O que você planejava quando entrou aqui como gestor e o que você tem conseguido fazer?
Vir para cá não é só vir para o trabalho. É o encontro de um sonho. Vi o Centro Apolo-Hermilo nascer, desde quando aqui era um armazém. Quando Leda me chamou, eu estava na Fundarpe. E ela me disse: “Carlos, estou te chamando, quero você na minha equipe, para ir para o Centro Apolo-Hermilo, para fazer do Centro Apolo-Hermilo, de fato, um centro de formação e pesquisa”. Na hora, eu nem pestanejei. Na primeira semana, reuni todos os servidores da casa e a palavra que chamei atenção foi companheirismo, compartilhar. Não vou dizer reengenharia, mas vou dizer que a gente está tentando fazer um novo modelo de gestão, compartilhado, propositivo, fraterno. Nesse encontro com os servidores, fizemos um pacto de que não falaríamos nem Teatro Apolo, nem Teatro Hermilo, falaríamos Centro Apolo-Hermilo. Quase sempre quando você se reporta ao Teatro Apolo ou ao Hermilo, você se reporta à difusão e não à pesquisa. O Teatro sempre foi pensado e é pensado pela grande maioria dos que fazem as artes cênicas no Recife, como um lugar de difusão. E não está errado. Porque tudo que foi feito aqui pensando a formação e a pesquisa, foi pontual, mesmo que até anualizado, mas não era um programa de desenvolvimento pedagógico. A segunda coisa foi atacar o que tinha de problemas emergenciais. Vamos para a parte física. Exemplo: a arquibancada daqui, do Hermilo, todo mundo que já frequentou esse teatro sabe, quando a gente subia, estralava. Com R$ 600, conseguimos consertar. O mofo nos camarins do Teatro Hermilo. Era uma coisa recorrente, você chegava para trabalhar nos camarins e estava com cheiro de mofo. E não era por falta de zelo. Era porque estava fechado, se não estava em uso, ficava fechado. O que nós fizemos? Fizemos uma grade nas janelas, abrimos a porta. Coisas desse tipo: recuperação dos refletores, limpeza do urdimento, limpeza do porão. Nós tiramos dois caminhões de material imprestável que estava no porão do teatro. Pintamos esses dois teatros duas vezes já em um ano e meio. Não fizemos a fachada do Apolo porque precisa do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), mas o Hermilo, acabamos de pintar a fachada. Desde a inauguração do Hermilo, uma coisa simples, o letreiro do teatro não tinha luz, agora tem. Então fomos trabalhando nisso: pinturas, recuperação de equipamentos, de eletricidade. Tinham coisas que estavam a ponto de provocar um acidente. Enfim…e tivemos a sorte de ir para o monitoramento do prefeito; ele utiliza do mesmo monitoramento que o ex-governador Eduardo Campos. Leda me chamou uma vez. Falei um pouco ao prefeito da importância do Centro para Recife, para Pernambuco e para o Nordeste. Falei das dificuldades físicas. Na mesma hora, ele autorizou a Urb (Empresa de Urbanização do Recife) a começar um trabalho de visitas aqui para levantar quais eram os problemas. Foram feitas várias visitas de arquitetos e engenheiros aos dois teatros, ao Centro como um todo, e se deu preferência a começar os trabalhos pelo Teatro Hermilo. Foi feito um levantamento, que está em torno de onze grandes intervenções, desde telhado até infiltração. Fizeram uma licitação, já tem uma empresa que ganhou agora a licitação há pouco tempo, um mês, dois, para fazer os projetos. Depois tem a licitação para a execução dos projetos. De fato, o que se projeta é: em 2015, acho que lá para meados de 2015, junho, julho, a gente deve estar fechando o Hermilo para reforma. O que está acordado é tempo para fechar e tempo para abrir. Eu não sei precisar neste momento, porque os projetos de intervenção não foram feitos ainda, por quanto tempo vão se dar essas obras, mas o que está acordado, entre nós, a Secretaria, Leda e a Urb, é que a gente tenha tempo para fechar e para abrir. No processo de execução da obra do Hermilo, começa o processo de criação dos projetos de intervenção para o Teatro Apolo.

Durante esse período que o Hermilo fica fechado, vocês pensaram em alguma alternativa, algum espaço que pudesse ser um espaço alternativo?
Não. Isso não entrou no planejamento. O que estamos pensando é: o mais rápido possível termos uma resposta mais precisa de quando as obras começam; porque preciso dialogar com todos os produtores que ainda esperam que seus produtos, que seus resultados criativos, venham para cá. Esse é um problema. O segundo semestre aqui é um semestre impossível ainda – e não será no futuro, espero que a gente tenha esse diálogo bem profícuo com os fazedores daqui da cidade – porque de junho até dezembro são oito, nove festivais que acontecem. E aí você tem o tempo da montagem, da desmontagem, do espetáculo, mesmo com as outras salas que já abri, como no mezanino, mas quando acontecem esses festivais, até iniciativas nossas de formação, ficamos sem espaço. Portanto, neste momento, o Centro Apolo-Hermilo só pode funcionar com projetos próprios de formação e pesquisa no primeiro semestre; no segundo semestre não tem. Esse é um diálogo que não consegui fazer, digo eu, puxando pra mim enquanto gerente aqui do Centro. Mas é uma discussão urgente. Para pensar como encontrar alternativas do Centro ser ocupado na difusão, mas tendo como prioridade máxima a formação e a pesquisa.

Quanto vai custar essa reforma do Centro?
Não sei. Não sei quanto foi destinado. Sei que o processo está sendo puxando pela Urb. Não tenho conhecimento do valor dos recursos que estão destinados. Mas, como houve autorização do prefeito, e a Urb atendeu e já fez licitação, e já tem empresa que ganhou para fazer os projetos… Agora não sei precisar, até porque os projetos não estão prontos.

Imagem de arquivo do Teatro Apolo. Foto: Pollyanna Diniz

Imagem de arquivo do Teatro Apolo. Foto: Pollyanna Diniz

Você falou de reestruturação física da casa, mas você teve tempo para pensar os projetos de formação? Eles estão acontecendo? Quais são?
A gente está num processo, digamos assim, de planejar por etapas. Sendo bem lógico: o que a gente pode avançar antes dos diálogos estarem acordados? Já tenho pedido aqui para 2015, de vários festivais. Ou seja: que bom, que os caras estão planejando com um ano de antecedência. Isso é ótimo para a produção da cidade. Mas é preciso que eu tenha também responsabilidade para dizer a ele, se não em 2015, em 2016, se é que eu estarei aqui, “olha, em 2016 a gente só pode disponibilizar tantos meses, porque a gente já acordou, todos nós, na mesa, nós teremos um curso intensivo disso, daquilo’. Tem uma parceria que está conversada, nada no papel, com Cascais, com Sorbonne, tem umas coisas que já comecei a conversar. Mas tudo isso precisa de um ano, um ano e meio, dois anos de antecedência. Não posso celebrar nenhuma parceria com entidades de fora sem pelo menos dois anos de antecedência. A gente está pensando. Estamos criando um projeto de desenvolvimento da formação e da pesquisa das artes cênicas. Esse programa vai atingir as quatro expressões das artes cênicas, teatro, dança, circo e ópera. Isso tudo ainda está muito embrionário, mas estamos trabalhando. A gente teve uma experiência muito exitosa que estamos tentando fazer em 2015 novamente. Estamos na fase de planejamento para 2015. Até novembro, espero que a gente tenha o orçamento daqui votado, acertado. Queremos continuar o projeto espaço de criação. Não tem nada de novo, de fabuloso, mas ele conseguiu atingir seus objetivos de forma muito satisfatória: que é ter espaço para as pessoas ensaiarem ou pesquisarem. Fizemos um edital, espaço de criação, para montagens ou pesquisa, com ou sem resultados. O que nos interessava era o processo; então todos vão deixar relatórios dos três meses que ficaram aqui, quatro horas por dia, de segunda a quinta. Paula de Renor ensaiou Rei Lear; Anamaria Sobral repensou Palavras da sombra; e Raimundo Branco, com a Compassos Cia de Dança, já vai com seis meses de residência, ele está montando e estreia aqui na casa em novembro. Outra luta, que nós capitaneamos, mas conquistada por todos os outros gerentes, de todos os outros teatros da cidade, foi a vinda de técnicos terceirizados. Agora a gente tem uma equipe pela manhã, uma equipe à tarde e uma equipe à noite até 0h. Isso quer dizer que qualquer pessoa pode montar e desmontar o que quiser aqui sem pagar a mais.

Rei Lear, que estreou no Rio de Janeiro e fará temporada no Apolo este mês, ganhou edital de residência artística para ensaiar no Centro Apolo-Hermilo. Foto: Guga Melgar

Rei Lear, que estreou no Rio de Janeiro e fará temporada no Apolo este mês, ganhou edital de residência artística para ensaiar no Centro Apolo-Hermilo. Foto: Guga Melgar

Você é gerente do Centro Apolo-Hermilo, mas ao mesmo tempo, assume outras funções na gestão, até pela sua relação de confiança com Leda Alves. Como é isso?
Tenho assessorado Leda em muitas coisas e fico muito honrado pela confiança que ela coloca nos meus ombros. Não só eu tenho assessorado, mas outras pessoas também, noutras atividades. Tenho assessorado ela em várias questões: nos ciclos, carnaval, São João e Natal. Tenho uma ligação histórica com a cultura popular e, sem falsa modéstia, conheço razoavelmente bem o estado de Pernambuco, inclusive por conta do meu tempo na Fundarpe. Conheço muito do carnaval, do São João e do Natal, no estado e no Recife também. E outras demandas da secretaria que ela vai me chamando, né?

Você não fica assoberbado de coisas?
Fico. Mas era antes mais. O que acontecia? Planejamento. Sou virginiano, minha ascendência é virgem. Então, aparentemente, sou desorganizado, mas não sou. Agora sei que as minhas reuniões com Leda, neste momento, são à tarde. Então passo tudo para o período da manhã. Não é problema não. E agora estou mais tranquilo porque tem Ivo (Barreto) aqui e Eron (Villar) na técnica. São pessoas que conheço há muito tempo, que são parceiros meus de muito tempo, além da casa, então saio daqui com muita tranquilidade, além da equipe mesmo do teatro, que faz isso há muito tempo e sabe fazer.

A questão técnica dos teatros é antiga. Qual a situação atual? Os produtores ainda precisam alugar equipamentos para fazer temporada aqui?
A gente está recuperando, refletores que tinham problemas de toda sorte. Mas ainda há necessidade. Então o que está acontecendo agora? Está em curso um processo de licitação para compra de lâmpadas. O problema é que fornecedor de grande porte é difícil, para competir numa licitação dessas. Não é tão fácil, aqui no Recife. A maioria das empresas que fornece lâmpadas é de São Paulo. A mesma coisa é equipamento, mesa e tal. Mas a ideia é que, em dezembro, janeiro, nós estejamos com todas as lâmpadas, do que está em operação, colocadas; e mais, pra cada refletor, uma lâmpada reserva. Isso seria o ideal.

O Janeiro de Grandes Espetáculos vai precisar alugar equipamentos para acontecer aqui?
Acho que sim. Mas não tanto quanto o ano passado. E os gastos do Janeiro provavelmente serão menores com horas extras, pagamentos de técnicos, porque agora a gente tem equipe. Isso tudo vai baratear o custo operacional de quem está ocupando o teatro.

Qual o orçamento do Centro Apolo-Hermilo?
A gente tem pequenos recursos mensais que variam muito. Esses pequenos recursos, R$ 2 mil, R$ 3 mil, R$ 5 mil, R$ 6 mil, isso depende muito. Quando vem, a gente está aplicando nessas pequenas intervenções.

Mas quanto custa a manutenção do Centro?
A manutenção completa não tenho como te dizer. Porque, por exemplo, pagamento de eletricidade, pagamento de água, isso não vem pra cá, já vai para outros setores. Agora que é muito, é. Porque são dois ar-condicionados antigos, que precisam ser comprados novos, o conserto deles é caro, a manutenção, quebram com muita facilidade; são dois equipamentos desses, com 40, 50 refletores funcionando.

Mas vocês não recebem uma verba para trabalhar os projetos do Centro?
Ainda não. Está no orçamento de 2015. Nós teremos um recurso básico para cada equipamento.

Já sabe qual é o valor?
Não sei ainda.

Está circulando por aí que dona Leda vai sair da secretaria. Você sabe de alguma coisa?
Não sei. Espero que não. Ela tem muito a contribuir ainda. E, ao mesmo tempo, não posso negar, enquanto amigo, e gosto muito de Leda, que suponho que é muito puxado para ela. Apesar que Leda é mais dinâmica do que eu. Ela chega pela manhã e vai direto, almoça trabalhando. Agora…é uma pessoa que tem 80 e poucos anos, ninguém pode dizer que não. Mas acho que ela é de um dinamismo muito grande. Não gostaria que ela saísse. E não é porque sou cargo de confiança dela e ela saindo eu poderia perder esse cargo. Eu gosto muito de gestão, tenho aprendido a ser um gestor. Mas, na verdade, sou feliz é fazendo teatro. Posso dizer a vocês que, todo dia que eu chego aqui, agradeço, porque é muito bom quando você faz as coisas e você vê elas acontecendo. É um refletor, abaixar essas varas e tudo limpinho, tudo pintado, cortina. É muito bom, você ver as coisas funcionando, as pessoas agradecendo. Mas, de fato, o que eu gosto de fazer mesmo é teatro. E eu estou preparando.

Carlos Carvalho acredita que Leda Alves ainda tem muito a contribuir à frente da Secretaria de Cultura do Recife. Foto: Ivana Moura

Carlos Carvalho acredita que Leda Alves ainda tem muito a contribuir à frente da Secretaria de Cultura do Recife. Foto: Ivana Moura

Como você avalia essa participação dos artistas, tirando por você, Leda, Ariano, os artistas que ocupam cargos nas várias gestões? As reclamações são sempre muito grandes, porque há muito por se fazer e o processo é muito lento. Fico até contagiada com o seu entusiasmo. Só que isso não é algo que se projete, nem para o grande público e nem para a classe, porque esse trabalho parece um trabalho miudinho, que é feito dentro de uma estrutura. Mas, ao mesmo tempo, precisaria de outro tipo de trabalho, outras ações, que dão sustentação…
Você falou do miudinho. Acho que precisamos ser parceiros. Mas parceiros, não é como diz: os mineiros só são solidários no câncer. Acho que política pública não é só feita por quem está fazendo a gestão. Política pública é uma parceria. Se você não discute política, mas não é a política da roupa suja, não é política do meu umbigo, não é falar do meu projeto. E a gente vê muito isso. Estou dizendo porque também já fiz isso. Não estou apontando o dedo para ninguém, aponto para mim. Penso que essa é uma discussão que precisa ser feita com estofo, com vontade. Não fazendo passeata. Passeata é bom. Mas e depois da passeata? Por que a gente não senta e discute? Estou muito tranquilo para dizer assim: ‘gente, vamos conversar?’. Por que a gente não senta para conversar? Cadê as entidades? Onde é que está a democracia dentro das próprias entidades? Não tem. Ou, se tem, é tão falha, quanto o que se acusa dos outros que não têm. Penso que está chegando o momento de sentar, como gente grande, discutir coisas como gente grande. Pernambuco tem coisas muito boas, que foram referência. A gente tem uma Lei Pública da Cultura, um antiprojeto de Lei, a gente tem um plano de gestão, da primeira gestão de Eduardo (Campos), que está pronto, que precisa ser discutido. Tive oportunidade inclusive de conversar com, eu só não, muita gente, falei coisas que acredito para Paulo Câmara. Acho que é chegado o momento. É preciso que a gente corte a carne. É preciso que a gente vá para a Feteape (Federação de Teatro de Pernambuco) e se corte a carne da Feteape. É preciso que se corte a carne da Apacepe (Associação de Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco). É preciso que se corte a carne do Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão no Estado de Pernambuco). É preciso que a gente discuta isso dentro das nossas entidades. E fórum de cidadãos. Por que não? O Centro está aqui. Estou me preparando. É como: eu estou na minha casa, vou convidar você para almoçar na minha casa se eu não tenho comida? Não, não vou. O que é que eu estou fazendo? Estou preparando esse miudinho aqui, deixando a casa confortável para as pessoas, para que elas percebam que estamos trabalhando, fazendo, que a gente acredita, e que está disposto a discutir. Discutir coisas que sejam tanto de funcionamento da casa quanto formação, formação do cidadão artista.

Já que estamos falando em discussão, sabemos que o Centro Apolo-Hermilo é ligado à Secretaria de Cultura, e a Gerência de Artes Cênicas (hoje chamada Divisão de Artes Cênicas) é vinculada à Fundação de Cultura Cidade do Recife. Mas a Gerência promoveu uma discussão sobre artes cênicas. Embora essas decisões tenham sido tomadas para a Gerência, mas como tudo é Prefeitura do Recife, uma gestão só, gostaria de saber o reflexo dessas decisões aqui. E porque as pessoas não viram você lá? Todas as entidades estavam representadas…
Não fui. Estava de cama. Tive diverticulite, quase fui operado. Fui hospitalizado de urgência e tive que ficar 15 dias em casa tomando antibiótico, com regime especial, mas acompanhei. Nós estamos agora em pleno seminário para discutir uma estratégia de gestão para a Secretaria, conjuntamente com a Fundação, sem apartheids. Fundação e Secretaria são duas coisas que se completam. A superação dos contraditórios vai se dar agora. A gente está criando um ambiente para se discutir tanto a Secretaria, quanto a Fundação. Isso é muito bom para o governo Geraldo Júlio, que abre a oportunidade para essa discussão no seu seio, internamente; é bom para a sociedade civil, porque provavelmente isso vai influir na relação com a sociedade civil. Falta também essa sociedade civil fazer coisas, discutir coisas.

Você acredita que a cultura é prioridade para a gestão Geraldo Júlio?
Acho. Acho que a cultura é prioridade. Mas quando a gente fala prioridades, há muitas prioridades. Não sei te dizer se há uma escala. Acho que a gestão está trabalhando.

Não tenho dados, mas soube que houve um corte grande de recursos na Secretaria de Cultura…
De todas as secretarias. Não foi só Cultura. Todas as secretarias receberam cortes, por questões orçamentárias mesmo. Porque a peça orçamentária é uma peça de ficção. Se você diz assim: ‘vou gastar em 2015, R$ 1 milhão para tirar isso aqui do lugar’ e você não arrecada para isso…você está projetando para o futuro algo que você não tem. Então isso ocorre.

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