Arquivo mensais:julho 2011

O primeiro amor

Montagem participou do Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco

A trilha sonora e as imagens do espetáculo Tá Namorando! Tá Namorando! não saem da minha cabeça. A montagem do Grupo Bagaceira de Teatro, do Ceará, foi apresentada no Teatro Luiz Mendonça, do Parque Dona Lindu, dentro da programação do 8º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco.

É impressionante como o grupo consegue traduzir os primeiros raios do desejo, a experiência inaugural do primeiro amor na infância. O medo, o receio da rejeição, aqueles gestos desengonçados, a pressão dos colegas, a inabilidade, a falta de domínio dos códigos amorosos. Isso é contado em quatro pequenas histórias de descobertas. Em seu trabalho de pesquisa experimental, a trupe explora de forma lúdica as diferenças do universo infantil de meninos e de meninas e as suas relações.

Montagem é do Grupo Bagaceira

O Grupo Bagaceira de Teatro produz praticamente um espetáculo por ano. São peças autorais com investimento na questão visual. Em Tá Namorando! Tá Namorando! , a trupe substitui o texto por gestos e onomatopeias, numa encenação imagética e divertida. E reflete sobre as pequenas tensões nas diferenças entre sexos na infância e as negociações de seus espaços.

O roteiro é de Yuri Yamamoto, que também interpreta os quatro garotos das histórias. Sua figura magra ajuda na visualização de um personagem de desenho. Samya de Lavor faz seu par romântico e traz a fortuna corporal de quem estudou dança. Para completar o elenco, Tatiana Amorim, que interpreta uma contrarregra que mostra uma dança tosca e engraçada imitando cenas de filmes, enquanto a dupla troca de roupa, além de outras pequenas intervenções.

O grupo também utiliza gravações de áudio feitas com crianças, que contam como foram seus primeiros namoricos. A iluminação competente cuida de expor e esconder pequenos segredos.

Peça fragmentada é composta por quatro histórias.

Elenco é formado por Yuri Yamamoto, Samya de Lavor e Tatiana Amorim

Espetáculo lúdico fala sobre o primeiro amor

O roteiro de ações para imitar desenhos animados ou stop emotion exploram expressões corporais repetitivas, mas numa velocidade muito mais lenta do que a possiblidade de aceleração do desenho e isso me pareceu uma crítica que eles fazem à limitação humana diante de outras artes que utilizam a tecnologia, como os animados. Cada um dos quadros da peça possui uma dinâmica corporal diferente. O jogo entre os atores também estabelece uma cumplicidade com a plateia.

Os figurinos também remetem para um futuro retrô. Quero dizer, a projeção de um futuro a partir de outro ponto do passado, o que torna a ficcionalização de um tempo que se amolda em projeções subjetivas do próprio espectador. Os óculos bizarros são marcantes.

Penso que a encenação de Tá Namorando! Tá Namorando! ganha outros sentidos pela dinâmica que pode estabelecer e pela proximidade com a plateia, num palco menor do que o do Teatro Luiz Mendonça. Talvez na próxima temporada no Recife, o grupo possa negociar um palco menor para contar essas histórias que só ganham com a cumplicidade do público.

Grupo Bagaceira é um grupo de teatro que experimenta linguagens

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Mademoiselle Julie em Avignon

Senhorita Júlia em Avignon

A atriz Juliette Binoche conquista o público e não a crítica em Avignon, diz o portal da RFI (Rádio Francesa de Informação Internacional). Seu espetáculo Senhorita Júlia, de August Strindberg, entusiasmou a plateia, mas não convenceu, no entanto, os críticos.

A famosa intérprete, Oscar de melhor coadjuvante em 1997 por seu papel no filme O Paciente Inglês, não pisava num palco de teatro francês desde 1988. E esse retorno foi cercado de muita expectativa. Juliette Binoche, aos 47 anos, chegou a comentar que estava com muito receio antes da estreia.

A adaptação contemporânea da peça do sueco Strindberg, escrita em 1888, feita pelo diretor francês Frédéric Fisbach, não conseguiu, segundo alguns críticos teatrais, “transmitir a densidade do texto, que trata não somente da paixão de uma aristocrata por seu empregado, mas principalmente da luta de classes e da relação de forças entre um homem e uma mulher”.

Fisbach colocou o conflito num apartamento moderno, “onde os convidados dançam freneticamente e os amantes discutem numa cozinha branca”, no lugar da família aristocrática da Escandinávia.

Juliette Binoche e o Nicolas Bouchaud. Foto: Divulgação

Para uns, Binoche conseguiu encarnar uma Júlia moderna, personagem trágica e complexa, contracenando com o ator francês Nicolas Bouchaud. Para outros, a caixa branca de vidro de Fisbach afastou o espectador da problemática principal da peça, a instabilidade das relações amorosas.

A crítica do Le Monde foi dura com relação à peça, apesar de destacar o trabalho de Binoche. O jornal diz que a atriz caiu numa armadilha nesse seu retorno ao teatro francês, depois da apresentação de A Gaivota, de d’Anton Tchekhov, exibida em 1988.

“O espetáculo é uma catástrofe”, prossegue o Le Monde. E a primeira razão apontada é própria escolha do texto. “Mademoiselle Julie é, na verdade, uma armadilha. Escrita em 1888 pelo sueco August Strindberg (1849-1912), ela fez escândalo na sua criação, em 1906, porque quebrou um tabu”.

Quando Strindberg escreveu o texto, diz a crítico do Le Monde, Miss Julie representava a última palavra da modernidade.

Mas “Mademoiselle Julie atravessou o século 20 com um gosto de enxofre que fascinou os diretores e ainda mais atrizes, sonhando com o papel de uma mulher em uma busca desesperada por liberdade. É porque o papel mais promete que faz… Hoje, a peça aparece em toda a sua nudez: instável, lotada de um pântano psicológico que relega Strindberg muito atrás de seu grande contemporâneo norueguês Henrik Ibsen”.

“… Assim vai o tempo em teatro, que pede, se quer enfrentar Miss Julie em 2011, para concentrar-se sobre ela um olhar firme ou iconoclasta. Não é o caso de Frédéric Fisbach”.

“… Juliette Binoche atua bem. Mas ela não pode lutar contra a encenação de Frédéric Fisbach. Nem contra essa impossível Julie, cuja a armadilha se fecha sobre ela. Apesar dela”.

Senhorita Júlia fica em cartaz no Festival de Avignon até 26 de julho. Depois, a peça deverá ser apresentada no Teatro Odéon em Paris e deverá fazer uma turnê em Londres e no Japão em 2012.

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Avignon, mais de mil espetáculos em três semanas

O palco medieval do Palácio dos Papas recebe peças do Festival de Avignon.

Avignon, uma cidade medieval da região de Provence, no sul da França, vira um imenso palco de teatro durante três semanas do mês de julho.

A 65ª edição do Festival de Teatro de Avignon foi inaugurada na sexta-feira e segue até 26 de julho com foco na criação contemporânea, na dança e na temática sobre a infância.

São cerca de 1.200 espetáculos com sessões nos teatros, nas escolas, nos conventos, nas igrejas e muita encenação nas ruas. Desse total, 35 estão na programação oficial.

Este ano, duas atrizes são celebradas pelo festival: Jeanne Moreau, de 83 anos de idade, que interpreta o poema O Condenado à morte de Jean Genet; e Juliette Binoche como protagonista da montagem Senhorita Júlia, o clássico do dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912) sobre o envolvimento de uma jovem de família aristocrática com um ambicioso serviçal. A direção do francês Fréderic Fisbach deu um tratamento bem contemporâneo ao texto.

A safra Avignon 2011 reúne medalhões da cena europeia como Patrice Chéreau, cineasta de A Rainha Margot, com Je suis le vent; Boris Charmatz com Enfant; Patrick Pineau com Le suicidé; a coreógrafa belga Anne Teresa De Keersmaekere; e o italiano Romeo Castellucci com Sur le concept du visage du fils de Dieu (Castelucci por sinal já esteve no Porto Alegre em Cena com espetáculos por duas vezes).

Avignon é um dos mais importantes festivais de teatro do mundo e na Europa pode ser comparado ao de Edimburgo, na Escócia, realizado no mês de agosto.

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Meninos pelados partem por outras geografias

A peça A terra dos meninos pelados, montada em 2002 pelo Grupo Teatral Arte em Foco, deu um impulso à carreira do diretor Samuel Santos. Lúdica e respeitando a inteligência do público, a montagem conquistou o respeito na cena teatral recifense.

A companhia volta a apresentar o espetáculo no 8º Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco nos dias 16 e 17 de julho, no Teatro Barreto Júnior, no Pina.

Antes dessas duas sessões, a trupe cumpre agenda em várias cidades, dentro do projeto Itinerância – Geografia Poética. A equipe viajou hoje e vai passar pelos estados do Rio Grande do Norte, Sergipe, Paraíba, Alagoas.

O projeto foi contemplado com Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2010- Circulação de espetáculos. E encerrará a turnê em frente à casa que foi de Graciliano Ramos, em Quebrangulo, interior de Alagoas.

A peça é baseada na novela A Terra dos Meninos Pelados, composta por Graciliano Ramos, em 1937, assim que sai da cadeia. O escritor alagoano foi perseguido graças a uma vaga acusação de subversão comunista e preso em março de 1936, bem no auge da ditadura Vargas.

Na história, Raimundo é alvo das chacotas dos colegas por ser careca e ter um olho azul, outro preto. Ele logicamente sofre com a situação. E um dia, cansado com o que atualmente chamamos de bullying, resolve partir para a terra de Tatipirun, onde “todos os caminhos são certos” e se aplainam para ele passar. Ele aprende lições de geografia e depois entende os ensinamentos ao campo da geografia política.

A terrra dos meninos pelados defende a convivência entre diferenças humanas. E que o grande barato pode ser exatamente esse: ser diferente do outro.

Serviço
A Terra dos Meninos Pelados, Grupo Teatral Arte em Foco (Recife / PE)
Quando: Dias 16 e 17de julho, às 16h30
Onde: Teatro Barreto Júnior (Rua Estudante Jeremias Bastos, 121, Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Duração: 55 minutos

A terra dos meninos pelados será exibida nos dias 16 e 17 de julho. Foto: Aryella Lira

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