Arquivo mensais:novembro 2014

Eles querem falar sobre liberdade

A flor é um símbolo de resistência e esperança na encenação

A flor é um símbolo de resistência e esperança na encenação

X Festival de Teatro de Fortaleza

Defende o filósofo Gerd Bornheim que compete à crítica teatral produzir reflexão sobre os sentidos da cena. Tarefa árdua, levando em consideração o contexto de inumeráveis tentativas de reinvenção da linguagem teatral.

A montagem A Era das Rosas, do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT), do Theatro José de Alencar (Fortaleza, Ceará), turma 2014 manhã, chega ao palco com uma carga de fúria juvenil, vontade de se expressar de forma autoral, e um pouco de desconcatenação das ideias por querer tratar de muitas e complexas questões ao mesmo tempo.

A enxurrada traz facetas do que eles consideram lutas por liberdades. Dos litígios privados do âmbito familiar, até as lutas por direitos coletivos, contra a repressão e outras bandeiras.

As manifestações de junho de 2013 (e seus desdobramentos, que ecoaram por todo o país), foram fatos contemporâneos que inspiraram o grupo. E também entraram na pauta a ditadura militar e várias naturezas de repressão.

Essas inquietações palpitam e pululam no palco, mas em excesso. A Era das Rosas fez duas sessões no 10º Festival de Teatro de Fortaleza. A primeira no Cuca Che Guevara (Cuca Barra), no dia 23/11; e a segunda no dia 25/11, no Teatro Antonieta Noronha.

A dramaturgia colaborativa, com frações das histórias de vida dos integrantes da trupe, foi algo dificultador da unidade do espetáculo. Alguns quadros têm grande apelo visual, mas falta liga ao conjunto da encenação. Os acontecimentos apresentados oscilam entre atos de tirana e a busca por libertação. A mordaça e a flor são dois elementos utilizados com efeito.

A diretora Juliana Veras cuida da orquestração com esse elenco formado por pessoas entre 15 e 70 anos. E em alguns momentos consegue imprimir ritmo e criar imagens pujantes. Eles falam em gromelô (uma língua inventada). O que pode indicar mais uma poética da cena e também cria obstáculos.

As passagens de ação militarizada são fortes e ganham reforço da sonoplastia e do tratamento do corpo dos atores, que assumem posturas belicosas. Em outros momentos, do núcleo aparentemente monolítico – aquela massa de gente – aparece um com pensamento diferente, com uma flor, a tentar convencer os demais.

Manifestações de junho de 2013 e seus desdobramentos e ditadura militar inspiraram peça

Manifestações de junho de 2013 e seus desdobramentos e ditadura militar inspiraram peça

A submissão e a violência ganham proporções políticas na moldura estereotipada de uma família. Um longo rosário delimita no chão o espaço de uma casa. Duas mulheres trocam receitas amistosas até a chegada do homem-autoridade. E aí eles investem ainda mais nos clichês.

O lance expõe passagem da refeição com o pai, a mãe e a filha a executar uma coreografa repetitiva. Até a visita de um garoto que tenta chamar a menina para o ensaio do teatro. Até a rebeldia da garota. Até a agressão do macho da casa, que serve um copo d’água à mulher obediente, até transbordar.

Essa parte da peça reforça que a montagem se apresenta mais como um painel com lapsos na sua coerência interna. É uma colcha de retalhos que requer uma melhor costura.

A parte final da apresentação traz um show de rock com seus corpos rebeldes e ousados. E depois expõe a juventude ocupando ruas como metáfora de conquista do espaço público, lugar da democratização. Lá, na representação das ruas eles picham e gritam palavras de ordem. A Era das Rosas quer da conta de um arco muito extenso, do povo brasileiro que enfrentou a barbárie na ditadura militar e recentemente veio dar outras provas do exercício da cidadania. Um pouco menos seria mais.

Elenco do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT). Foto Kekel Abreu

Elenco do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT). Foto Kekel Abreu

Ficha técnica
A Era das Rosas
Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT), do Theatro José de Alencar
Direção: Juliana Veras
Texto: Criação Coletiva
Preparador Corporal: Bio Falcão
Preparação vocal: Érica Albernaz, Juliana Veras
Iluminação: Danieli Flores, José Brígido e Luis Albuquerque
Figurino: Breno Gillespie, Érica Albernaz e Wendel Veneroso
Design Gráfico: Marina Brito e Lucas Timbó
Elenco: Beth Mitchel, Breno Gillespie, Carla Mendes, Isaías Vasconcelos, Jéssy Viana, Karolina Silva, Lucas Timbó, Lóis Jerônimo, Manuela Crisóstomo, Ozana Nunes e Wendel Veneroso

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Operário do teatro

Moacir Chaves chegou a fazer a proposta para a mulher e os dois filhos: deixar o Rio de Janeiro e virem morar no Recife. A família não aceitou. Ele diz que, mesmo sendo uma metrópole, Recife tem um ritmo mais tranquilo do que o Rio ou São Paulo. Mas o diretor que tem no currículo mais de 40 espetáculos, muitos deles premiados, não faz só elogios: acha um absurdo que a cidade não demonstre sua força cultural no teatro, o que estaria ligado, por exemplo, à ausência de um curso de formação do ator.

Na semana passada, Moacir Chaves veio a Pernambuco por dois dias para os últimos ensaios de Rei Lear, montagem que assina para a Remo Produções e que encerra curtíssima temporada neste domingo (30). É a segunda vez que o carioca trabalha com as atrizes Paula de Renor e Sandra Possani (que em Rei Lear são também acompanhadas por Bruna Castiel). A encenação de Duas Mulheres em Preto e Branco também ficou sob a responsabilidade dele; e foi dele também a ideia de encenar Shakespeare tendo apenas três mulheres no elenco.

A conversa com Ivana Moura e Pollyanna Diniz, que incluiu temas como teatro de grupo, formação do ator, atitude política e televisão, no entanto, foi realizada meses antes, em janeiro, quando Moacir trouxe ao Recife duas de suas montagens com o Grupo Alfândega 88: O Controlador de Tráfego Aéreo e A Negra Felicidade. No Janeiro de Grandes Espetáculos, ele foi também um dos jurados do prêmio Apacepe de Teatro e Dança na categoria teatro adulto. Viu de perto as deficiências do teatro pernambucano, mas também as suas possibilidades.

Moacir Chaves

Moacir Chaves

ENTREVISTA // MOACIR CHAVES

Você tem uma formação teórica e prática em teatro. Você sempre pensou no teatro? 
Não. Fiz parte de um grupo de teatro quando era garoto, em Teresópolis, mas por acaso. Um amigo que tocava violão me levou. Era um grupo bacana. Eles montavam uma peça por ano, apresentavam e, com o dinheiro, a gente ia numa pizzaria e ia ver uma peça no Rio. Eu nunca tinha ido ao teatro. Morava numa cidade de interior, Teresópolis. Mas, desde sempre, participei de qualquer coisa que tivesse a ver com teatro na escola, por uma coisa muito simples: eu era bom aluno de português e era escolhido. Nunca fui desinibido. Pelo contrário! Sempre fui muito fechado, tímido. Mas normal também… jogava bola, fazia tudo. Eu era inibido com meninas, basicamente! Nunca escolhi fazer teatro. Entrei nesse grupo e a gente foi fazendo. Depois, fui para o Rio estudar Geologia. Teatro não existia! Não era uma possibilidade! Nem sabia que existia universidade de teatro! Nesse primeiro ano no Rio, 1982, com 17 anos, descobri que, de fato, eu adorava teatro, porque era o que eu fazia. Ia ao teatro todos os dias. Vi todas as peças em cartaz aquele ano. Todas. Ninguém viu mais teatro em 1982 do que eu. Aí fiquei doido pra fazer um curso de teatro. Vi num ônibus uma propaganda de um curso. Fiz curso no Circo Voador, depois descobri que tinha uma escola de teatro chamada Martins Pena. Fiz vestibular para a Unirio e comecei Teoria do Teatro. Já entendia que eu tinha uma relação muito forte com o teatro.

Você é um espectador desde então?
É necessário ver. Vou atrás das coisas, sempre fiz isso. Bem garoto, tinha uma peça em São Paulo, eu pegava um ônibus e ia ver. Todos os primeiros dinheiros que ganhei em teatro, gastei viajando pra ver teatro. Isso é parte da minha formação. Isso é explícito. Quando eu ia ver uma peça que eu sabia que era legal, lia o texto antes. Eu sabia da carência que eu vivia, que era muito grande, ainda é muito grande, mas hoje menos, porque hoje a gente tem acesso via internet a um monte de coisa, viajar hoje é mais barato; e o que tinha para ver eu via. Eu via tudo.

Alguns encenadores rejeitam o teatro dos outros.
Eu nem era encenador! Eu era um garoto que adorava teatro. Até hoje vou ver qualquer coisa. Quando vou montar uma peça, tenho muita vontade de ir ao teatro. Quero ver como as pessoas fazem, o que elas resolvem, quais são as questões, quero comparar com o que eu estou pensando. Isso é bobagem, idiotice! Arte não tem propriedade. Não é você! São as coisas que estão através de você. Não sou eu! Estou estudando um monte de coisa, aprendendo, e tenho que soltar essas coisas todas. Daqui a pouco a gente vai embora! Daqui a pouco a gente morre. E aí? E aquilo tudo que passou por você, que você descobriu? Eu tenho um problema sério agora, tenho que terminar o doutorado. A coisa que mais me estimula a conseguir, porque eu não sou um profissional intelectual, eu leio muito, estudo muito, mas eu não sou um cara que senta, escreve, lê, que tem que ter produção intelectual. Não, minha produção é artística. O que me motiva, o que me faz ser completamente disciplinado é ensaiar, trabalhar, ensaiar, trabalhar. Para produzir escrita eu não sou nada disciplinado. Mas o que me instiga a, de fato, levar adiante o doutorado é tentar por de uma forma menos etérea, menos volúvel, pensamentos a respeito de uma obra, para que fique. Não para que eu seja o autor de alguma coisa ou que tenha originalidade. A questão da originalidade em arte é a coisa mais equivocada que existe. O artista não pode pensar em ser original. Isso é uma falácia, um equívoco. O cara tem que trabalhar com o real, não no sentido de reprodução do real, mas com a vida, com as coisas que estão aí. Isso é coisa do mercado. Quem tem que ser original é a cerveja, o carro. Eles que têm que ser originais. Nós não. Nenhum grande artista tem problema com originalidade. O cara rouba e rouba e é isso aí. O Brecht é um ladrão tremendo e assumido. E daí? Mas se não fosse o Brecht, não existiria aquela obra dele, a despeito de todos os auxiliares que ele “explorou”, ou todas as fontes que ele utilizou. Da mesma maneira Shakespeare, e etc, etc. Todo mundo!

A sua história foi baseada no teatro de grupo?
A única maneira de se trabalhar bem é trabalhar muito e em continuidade. Grupo, coletivo, companhia, não tem nenhuma ideologia nisso. É por que ou você trabalha com parcerias e desenvolve vocabulário, e cresce junto, e vai adiante, trocando, indo e voltando, ou é uma perda de tempo. Não sou nada sectário. Trabalho com quem for. Só não faço televisão porque pra fazer televisão você tem que fazer só televisão. Porque aquilo é divertido. Comecei a fazer teatro porque me divirto, porque gosto de teatro. Não comecei a fazer teatro por nenhuma outra coisa. Adoro estreia! Não fico nervoso em estreia! Gosto de saber o que as pessoas vão achar, gosto de ver se aquele negócio vai funcionar, como é que as pessoas vão receber. Quando a gente não faz bem por um ou outro motivo, quando alguma coisa ruim acontece, só fico triste porque, ai que pena, as condições não foram melhores, o ator estava doente, sei lá, qualquer coisa! Ou esse dia não foi bom…teatro é dificílimo! Teatro não fica bom. Teatro tem que ser bom, tem que ser bom todo dia. Não é como essas coisas mais ‘faceizinhas’, cinema, você fez e está pronto. Não! A gente é uma desgraceira só! Você fez e não está pronto! Tem que fazer de novo e de novo. A questão de grupo é só isso. Tem que trabalhar continuamente e tem que trabalhar seguindo um rumo. E aí infelizmente aqui a gente não tem companhias de teatro. As companhias no Brasil são duas, né? A Globo e a Record. Você não tem outra. O que de fato se mantém? Tem o Galpão, mas é tão limitado, tão fechado, porque o Galpão é só o Galpão. Claro que o Galpão dá milhares de frutos e é um trabalho sensacional, mas o Galpão tem que se renovar, porque o Galpão não pode acabar quando as pessoas do Galpão acabarem.

Como você vê outros casos…o Oficina, por exemplo, não é um grupo…é Zé Celso?
O Oficina não é um grupo. O Oficina é uma coisa que fica em torno do Zé Celso e que algumas pessoas permanecem. É um núcleo. Mas é preciso que as pessoas não se juntem para projetos e projetos e sim que vivam daquilo. E que tenham treinamento, apresentação de repertório.

O Ói Nóis, por exemplo…
O Ói Nóis talvez. Não sei como é que funciona. Claro que tem, mas é tudo muito tênue e ralo. Um grupo deveria ter 30 pessoas. Isso não é nenhum absurdo. Essa companhia de dança que veio agora no Janeiro de Grandes Espetáculos…a São Paulo Companhia de Dança. Quantos bailarinos têm contratados? Porque é que não se tem isso em teatro? Não há diversas orquestras Brasil afora sendo sustentadas pelo governo, com dinheiro do contribuinte? Então, porque não em teatro?

O que precisaria?
Dinheiro. É preciso salário. É preciso que eu viva e saiba que vivo disso, que priorize isso. Tendo dinheiro, salário, tenho rotina de trabalho. Vou todo dia lá fazer um trabalho físico, um trabalho vocal, aprender um instrumento, ler alguma coisa, ensaiar para um espetáculo e apresentar outro. É só isso. Dia a dia. Ator não é ator fazendo uma peça de tempos em tempos. Imagina um músico que toca de ano em ano… O que é isso, gente? Como é que as pessoas ficam dizendo que são atores? Fazem uma peça de ano em ano! Isso é uma aberração. A gente tem que entender que é uma aberração e não ficar triste, porque essa é a nossa realidade. O que a gente tem que fazer? Mudar! Como? Formulando políticas culturais. Berrando que isso está errado! A gente nem percebe! Porque não quer admitir o nosso fracasso individual, que não é culpa nossa. Você não é ator, meu camarada. Se você faz uma peça de dois em dois anos, você não é ator. Você é um diletante. O mundo não te permite isso. Ator é quem trabalha com constância, quem trabalha permanentemente. É difícil mesmo. Assim: o grupo Galpão, por exemplo, é um grupo de atores. Eles trabalham sem parar, há 20 anos. E a melhora individual é brutal. Eles são muito melhores atores do que quando começaram. É uma coisa impressionante! Você olha e diz: olha a maturidade. Mas maturidade não é porque ficaram velhos não! Porque você fica velho e não fica maduro. Maduro na atividade. Você só é maduro na atividade, se você fizer sem parar. Vamos parar de mentir, gente. A gente é uma civilização pobre de teatro, paupérrima. A gente mal faz teatro. Vamos olhar a realidade. A gente faz teatro de uma forma tosca. É nos grandes centros também. Não estou falando porque eu estou no Recife, ou se tivesse em Fortaleza, ou em Belém. Não! Estou pensando no Rio, na minha cidade, nos meus colegas.

O que precisa para se tornar um ator? O que é um ator?
Precisa formação. O ator é um sujeito que sabe controlar o corpo, a voz, criar sentido com os movimentos e com o som que produz, sabe respirar, sabe o que é o diafragma. Esse é o básico. O ator que souber andar a cavalo é melhor. O ator que souber lutar capoeira é melhor. Quanto mais coisa uma pessoa souber fazer, mais capacidade terá. Isso não quer dizer que o pulo do gato é saber fazer um monte de coisa. O pulo do gato é alguma coisa impalpável. Porque um ator que tem um treinamento, tem isso, tem aquilo, é excelente, e o outro que tem a mesma coisa é médio? Porque tem um pianista que é genial e outro que é excelente, que é muito bom? A musculatura de ambos é absolutamente trabalhada, eles tocam no mesmo tempo. O que difere um pianista genial de um pianista bom não é a capacidade de acessar as teclas num determinado tempo e ritmo. Não. Ambos vão conseguir o mesmo rendimento nisso. Isso é o impalpável. Isso também tem em teatro. Sendo que a nossa arte é menos objetiva até do que a musical, porque um pianista vai executar aquela partitura e a partitura não vai deixar de ser o que é. O ator é um inventor de partituras. Mas ou ele sabe tocar ou não adianta nada. Depois do momento em que ele sabe tocar, aí tem que dar o pulo do gato. Tem gente que tem essa coisa impalpável, do talento, mas não tem treinamento. Aí não adianta nada. Tem gente que tem muita sensibilidade, mas não sabe se relacionar com isso. Tem gente que não tem referência.

Já que falamos do ator, com o diretor, o encenador, é o mesmo processo?
Acho que sim. Só que diretor é mais maluco ainda. Porque é uma invenção o tempo inteiro. Claro que você sabe os códigos, etc, etc, mas é uma invenção permanente. Diretor é uma figura estranha de se ensinar. Dou aulas de direção na universidade e não sei como ensinar. Eu sou um blefe! O que faço é trocar experiência e mostrar ponto de vista. E os caras têm que estudar, óbvio. Os caras têm que ler tudo, ver tudo, saber tudo. Se eles não virem, não lerem, não estudarem, não são nada. São uns ignorantes, uns bonitinhos, uns bobos. Tem um monte de gente que dá curso de dramaturgia, que nunca leu Nelson Rodrigues, Martins Pena, França Júnior, Beckett. Ouviu falar. Isso deveria dar cadeia! Pô… Descobri outro dia que um jovem dramaturgo, trabalhou com a gente no grupo, o cara não conhecia a obra do Nelson inteira. Conhecia mal e porcamente, uma, duas peças. Pô, cara! Faz isso não! Aí você vai dar curso de dramaturgia? Coisa feia! Você não sabe nada! Você vai fazer coisa velha. Mas o interesse desse rapaz específico que estou pensando é mais televisão, fazer roteiro. Então tudo bem. Aí dá. Lá não precisa saber nada. Precisa saber aquele modelinho, aquela coisa específica. Tem um saber ali, mas…

O controlador de tráfego aéreo, montagem da Alfândega 88. Foto: Rodolfo Araújo

O controlador de tráfego aéreo, montagem da Alfândega 88. Foto: Rodolfo Araújo

Até na televisão existe uma exigência e o público já nota quando há algo diferente.
Mas televisão nunca vai chegar, né? Televisão é aquilo ali, mercado, restrito. Mercado é consumo de massa e acabou. Você entra na Globo, por exemplo, você não precisa saber nada mais do que o que eles fazem. Se você é uma pessoa talentosa numa coisa e a Globo te contrata, ela não te contrata para fazer aquela coisa que você faz. Ela te contrata porque você é talentoso. E ela vai ensinar a você o que ela faz. A Globo ensina você a fazer a Globo. E não a mudar a Globo, porque a Globo funciona. E o que eles querem é funcionar. E eles querem tirar os talentos do mercado, porque eles podem inventar coisas diferentes e isso desequilibrar…quando eles te contratam é uma forma de usar tua energia, tua inteligência, para fazer o que eles já fazem. E para ceifar a tua energia e inteligência, para não ameaçá-los noutro canal. Isso qualquer grande empresa faz. São assassinas, elas não se interessam por nada, só pelo rendimento prático da ponta, da venda.

Voltando a falar de ator, você encontrou esses atores na Alfândega 88?
Não. De jeito nenhum. Porque ali não é uma escolha de grandes atores. É uma escolha de gente para trabalhar com continuidade e aí entram questões éticas, de comportamento, de interesse. A gente vai se juntando por interesses, às vezes por falta de opção. Tem muita gente que faz teatro porque não consegue fazer outra coisa. Quando fizer outra coisa, nunca mais faz teatro. Isso é muito comum. O cara diz assim: “sou um ator de teatro”. Mentira! O cara está doido pra ficar famoso e descansar. Um cara fez teatro 20 anos… aí soube de uma fonte muito íntima que ele chorava: “eu sou tão bom ator, todo mundo diz, reconhece. Porque não sou chamado para fazer televisão?”. A resposta é: porque você é feio fisicamente, você não se enquadra no que eles precisam nessa faixa etária. Quando você ficar mais velho, isso já não vai ter tanto interesse, tanta importância. E aí você será assimilado, tenha calma. Aí o que aconteceu com esse rapaz? Foi assimilado, hoje ele faz televisão, aqui e ali. Aí eu o convidei para fazer uma peça. “Ah, não vai dar, estou gravando. Mas a gente precisa fazer teatro, né? Não dá para ficar sem teatro”. Falando como uma figura que precisa fazer teatro. Quem precisa fazer teatro, faz teatro. Você não precisa. Precisa ter o seu emprego, você está satisfeito aí. Quando digo que a gente precisa ter emprego no teatro é para possamos nos fixar no teatro, para que o teatro não perca aqueles que querem fazer teatro e não que retenha os que não querem. Porque tem muita gente que quer fazer só teatro, mas não pode. Aí qualquer contrato, aceita, vai e murcha naquele lugar. Por outro lado, tem gente que desabrocha: “agora sou feliz, sou alguém, conhecido, reconhecido”. Que é uma coisa justa. Isso não é uma questão moral.

Duas mulheres em preto e branco. Foto: Pollyanna Diniz

Duas mulheres em preto e branco. Foto: Pollyanna Diniz

Você está trabalhando com Paula e Sandra desde Duas mulheres em preto e branco. Como foi esse trabalho e como se deu essa continuidade?
A Paula e a Sandra são muito legais, dispostas, disponíveis, prontas para trabalhar, com muito gabarito, algumas deficiências de formação, mas com muita experiência. E dispostas a trabalhar essas deficiências. Isso não quer dizer que elas não sejam boas atrizes. Elas são ótimas atrizes, mas têm uma coisa da falta de formação básica. E a continuidade é só o que se precisa. Por isso que a gente pensou um segundo espetáculo. Foi uma relação muito amorosa, a gente se deu muito bem. Tivemos um resultado muito bom. Acho muito legal o resultado do Duas mulheres. É uma tarefa dificílima fazer aquele texto e acho um espetáculo muito bonito e difícil também. É muito desigual, controlar essas coisas todas, manter o lugar correto. Nada foi forjado. Tudo nasceu da gente, em conjunto. A gente foi entendendo o texto, o autor, a forma, o tipo de intervenção que ele fazia. O autor é um personagem nosso, ele não sabe, mas é. A forma vem da percepção de uma mente que organiza aquela matéria. E isso é o que molda as atividades em cena.

E a sugestão de Shakespeare? Foi sua?
Shakespeare foi uma sugestão para continuar. Trabalho com muitos textos, dou aula. Nesse semestre, trabalhei com Rei Lear, dei uma oficina no Teatro Serrador; e pensei vamos fazer Rei Lear com três atrizes. Aí propus a Paula. Mas, para isso, para continuar a relação. Eu adoraria morar no Recife. Comprar um espaço aqui, ter uma sede aqui, produzir a partir daqui. Propus isso a Mônica e ela não topou. Nem os meninos. É uma cidade linda, pessoas amorosas, um mar desses, a água é quentinha. É possível fazer um trabalho mais concentrado, porque a despeito de ser uma cidade enorme, é bem menor do que Rio e São Paulo. Gosto da cidade, da história daqui. Acho que é um lugar muito especial, muita coisa aconteceu. Sempre foi uma potência cultural; e em teatro não é. Não tem uma escola. Isso é uma vergonha. Em Salvador tem. Não pode! É como se dissesse assim: vocês não sabem o que é o Recife, vocês não entendem o sentido dessa cidade?

Rei Lear. Foto: Guga Melgar

Rei Lear. Foto: Guga Melgar

SERVIÇO:
Rei Lear (Remo Produções)
Quando: Sexta (28), às 19h; sábado (29) e domingo (30), às 20h
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ 10

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Essas mulheres carecem de argumento

Violência contra o feminino é um dos temas da encenação

Violência contra o feminino é um dos temas da encenação. Fotos: Carol Veras

X Festival de Teatro de Fortaleza

O espetáculo Essas Mulheres, do Coletivo Arremate de Teatro, nasceu como esquete e foi testado em mostras de peças curtas do Ceará. Entrou na programação do 10º Festival de Teatro de Fortaleza na cota dos novos artistas da cena local, estreantes ou resultados de conclusão de curso. É uma encenação embrionária e a equipe carece de muito treinamento para chegar a uma obra convincente. A montagem fez duas apresentações no festival: nos dias 25/11 no Cuca Chico Anysio (Cuca Mondubim) e 26/11 no Teatro Carlos Câmara.

A peça sugere que houve violência contra uma mulher, a protagonista Ione. Indica que ela sofreu, foi abandonada. Sente culpa e arrependimento. Mas também se intui presa a esse passado. A poética da cena ainda é bem primária e necessita de uma melhor definição e posicionamento das questões levantadas.

Não é qualquer violência que o grupo resolveu abordar. Mas algo realmente perturbador. Uma carga pesada traumática que não se materializa no palco, apenas é indicada. E o grupo desperdiça a potência que a temática já estabelece.

As lembranças terríveis e o sofrimento emocional são jogados. A misoginia não é explorada de forma adequada. A fantasia romantizada é lançada sem um contraponto que enriqueça o espetáculo. O texto foi escrito por Edla Maia e Mariana Elâni, duas atrizes do elenco, que perderam a chance de empoderar a personagem nas múltiplas possibilidades de caminho: de dor, de denúncia, de superação de desafios diários, de estagnação. A direção é coletiva.

Brincadeira de cabra-cega é usada no espetáculo

Brincadeira de cabra-cega é usada no espetáculo

O público foi levado ao palco do Teatro Carlos Câmara, onde ficou sentado ao redor da dramatização. As quatro personagens usam vestidos azuis, de corte modesto, com um detalhe aqui ou ali diferente. O tamanho da saia indica a idade das figuras. Duas delas brincam de cabra-cega (ou cobra-cega) aquele joguinho em que um dos participantes fica de olhos vendados, logo no início.

Depois há um teor agressivo de culpabilização da vítima. Por algo. Uma espera. Os traumas são revividos em doses homeopáticas. Existe medo e relações de poder, que se desmancham.

Há fagulhas de beleza na montagem, mas em descontinuidade

Há fagulhas de beleza na montagem, mas em descontinuidade

Há uma ação que parece o esboço de beleza na construção da cena. Quando o elenco, ao som de uma música criada especialmente para a montagem, levanta o vestido várias vezes, numa movimentação coreográfica. Há lampejos, mas desconectados entre si. Mas o grupo formado por Edla Maia, Mariana Elâni, Elaine Cristina e Antôni Cavalcante parece apaixonado por essa arte e precisa investir mais para afiar suas ferramentas.

Público e elenco dividem palco

Público e elenco dividem palco

Ficha técnica
Essas Mulheres
Coletivo Arremate de Teatro
Texto: Edla Maia e Mariana Elâni
Direção Coletiva do grupo
Elenco: Edla Maia, Mariana Elâni, Elaine Cristina e Antôni Cavalcante
Cenário e figurino: Coletivo do grupo
Iluminação: Wallace Rios
Sonoplastia: Daniel Uchoa

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O teatro infantil precisa de mais ludicidade

Espetáculo cearense Lix o super lixeiro em Chama minha mãe aííí. Fotos: Manga

Espetáculo cearense Lix, o super lixeiro em Chama minha mãe aííí. Fotos: Manga

X Festival de Teatro de Fortaleza

É difícil assistir aos espetáculos destinados ao público infantil. O quadro é aterrador e se repete em praticamente todas as cidades brasileiras. Imitações toscas de desenhos animados ou outras superproduções da mega indústria do entretenimento norte-americano povoam os palcos em fórmulas comerciais de efeito fácil. São espetáculos que fazem sucesso e ganham dinheiro. E é mais difícil encontrar uma peça que seja exceção a esse mapa.

Dentro da programação do X Festival de Teatro de Fortaleza foram selecionadas algumas montagens dirigidas às crianças. Entre elas, Lix, O Super Lixeiro em Chama a Mamãe Aííí, do Grupo Teatro Novo. A peça tem dramaturgia de Allan Duvale, direção de Leuda Bandeira e supervisão de Sidney Malveira.

Desde 2001, Sidney Malveira lidera esse importante grupo cearense, que contabiliza no seu currículo mais de 25 produções. O coletivo tem quase 50 anos de fundação e no seu nascedouro estavam os atores Marcus Miranda (falecido), Maria Luiza e Aderbal Freire Filho. Apesar disso, a trupe não montou muita coisa direcionada para a infância e juventude.

Franlixtem Jr , o robô inventado pelo lixeiro

Franlixtem Jr , o robô inventado pelo lixeiro

Lix, o Super Lixeiro em Chama a Mamãe Aííí, como o título sugere, trabalha com a ideia de que é preciso cuidar do meio-ambiente. Para isso leva ao palco o personagem Francisco Lixo na Lata Mantém – ou Franlixtem -, um catador de lixo e, nas horas vagas, um inventor, que é coagido por seu patrão a espalhar sujeira pela cidade. Para rebater a posição do chefe, o artífice cria um robô com o dom de fazer reciclagem.

A ideia de pensar a limpeza em contraponto com a sujeira é simples. Mas a história é pobre. As atuações são medianas, embora o garoto que faz o robô tenha uma pouco mais de energia (mas é chato o bordão “chama minha mãe aííí”) e efeitos visuais são bem rudimentares.

A peça foi exibida no Centro Cultural Bom Jardim, no dia 23/11 e no Teatro Antonieta Noronha, no dia 24/11. As cadeiras da plateia estavam ocupadas por crianças das escolas de Fortaleza, que não me pareceram empolgadas após a segunda apresentação.

Enquanto as ações da peça se desenvolviam, eu me perguntava “o que pode uma criança?” e não consegui visualizar de que forma aquela montagem poderia ampliar os horizontes e desdobrar potências na infância.

A didática que a encenação defende é a de que o robô, Franlixtem Jr vai descobrir que sua mãe é a natureza e, ao contrário do que o patrão ensina, não é nada divertido sujar a cidade. Mas a argumentação para chegar a essa conclusão não é instigante. E as questões ética e estética discutidas na cena são rasteiras.

O que se apresenta como produto acabado poderia ser o mote para a criação de uma dramaturgia própria. Poderia ser o ponto de partida, para gerar reflexões acerca do universo da infância e as relações com a natureza e a cidade. Como foi apresentado, o caráter pedagogizante surrupia a experiência estética por meio dos sentidos dos pequenos e refuta o prazer de compreender o mundo de forma mais lúdica.

Ficha técnica
Lix, o super lixeiro em Chama minha mãe aííí
Texto: Allan Duvale
Direção: Leuda Bandeira
Supervisão: Sidney Malveira
Elenco: Robson Aragao, Lucas Souza e Patrick Scastro
Trilha sonora: Carlinhos Crisóstomos
Iluminação: Sidney Malveira
Execução de cenário: Josué e Luz
Figurino: Marcelo Belizário
Maquiagem: O grupo
Realização: Grupo Teatro Novo

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Igual a carinho de “vó”

Interior, emocionante espetáculo do grupo Bagaceira de Teatro. Fotos:  Carol Veras

Interior, emocionante espetáculo do grupo Bagaceira de Teatro. Fotos: Carol Veras

X Festival de Teatro de Fortaleza

Cartola, para mim, sempre teve gosto de carinho de “vó”. Para quem não sabe, cartola é uma sobremesa feita com banana, manteiga, queijo do sertão (chamado também de queijo manteiga), açúcar cristal e canela. É Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco (Lei 13.751, de abril de 2009). Pesquisadores atestam que a iguaria é originária das casas-grandes dos engenhos e que sua receita é fruto da “mistura de ingredientes, técnicas e hábitos culturais dos colonizadores portugueses, dos indígenas e dos escravos africanos”. O gosto da cartola e a sensação de conforto invadiram mente e corpo durante a apresentação do espetáculo Interior, do grupo Bagaceira. A ligação foi imediata quando o elenco distribuiu pequenos pedaços de bolo para a plateia.

O mais recente trabalho do bando cearense tem tudo a ver a com as melhores lembranças do convívio com avós, essas criaturas sempre amorosas. E eles usam chaves delicadas para incluir o público nessa empreitada.

A exibição de Interior, dentro da programação do X Festival de Teatro de Fortaleza, ocorreu no Sesc Senac Iracema, ontem. Hoje tem outra sessão no mesmo local, às 20h. O espaço de pé direito altíssimo se presta à mudança na configuração da plateia – a exemplo do que ocorria com o Teatro Armazém (ai que saudade desse espaço, Paula de Renor) ou como funciona o Teatro Hermilo Borba Filho, ambos no Recife.

Proximidade entre atores e público, como uma conversa ao pé de ouvido

Proximidade entre atores e público, como uma conversa ao pé de ouvido

A produção do Bagaceira utiliza três arquibancadas. Duas frente a frente, com uma distância de cerca de um metro entre elas. A terceira fica um pouco mais longe, transversal com as outras duas. A proximidade do elenco com o público faz parte da proposta de encenação e do “encontro”. O cenário borra limites entre ator e espectador, assim como ocorreu em A mão na face (que lança luz sobre duas criaturas da noite, uma cantora de cabaré e um travesti, que se deparam no camarim. Uma saindo de cena e outra se preparando para estrear; em que a plateia fica bem juntinho da cena). Mas, se A mão na face é bem urbano, Interior tem traços, digamos, bem rurais. O diretor coloca a plateia ainda mais perto em Interior, criando um clima de conversa de pé do ouvido, rapsódias com ternura e canto.

Em cena duas velhinhas, já mortas, que se recusam a serem enterradas. Uma é avó, a outra é neta. Primeiro chega uma e se aboleta no centro de uma arquibancada. Distribui pedaços de bolo e passa a falar de sua vitalidade, como escapou de vários sepultamentos. Sua netinha aparece depois. A segunda chega e se instala no outro poleiro, no meio da plateia. A memória partilhada entre elas é narrada de forma delicada, engraçada, com uma pertinência na nostalgia. São conversas cheias de calor humano e as atrizes compartilham esses pertencimentos para a plateia. Os diálogos estão recheados de dialeto cotidiano de um Brasil profundo (mas aqui as referências específicas são do Ceará).

São figuras centenárias, que andam curvadas pelo peso do tempo. Carregam histórias imemoriais, que saem desfiando. Utilizam máscaras para marcar os rostos encarquilhados.

Máscaras feitas de camisetas retorcidas

Máscaras feitas de camisetas retorcidas

Em um momento da peça, uma das personagens pede à plateia para escrever o nome e a cidade onde nasceu a avó. Ela explica que é para dobrar o papel e colocar numa pequena caixa. O espetáculo corre e a caixinha também. Lá para as tantas ela recupera a caixa e vai extrair as memórias do público. Já acompanhei outros espetáculos em que a assistência era convocada a participar com suas lembranças. É sempre muito precioso.

Comunhão com as emoções do público

Comunhão com as emoções do público

A pesquisa para erguer o espetáculo levou mais de um ano, de dois que conseguiram patrocínio da Petrobras para o projeto. Nessa incursão pelas cidades de dentro do Ceará eles colheram subsídios, elementos materiais e imateriais para construção da cena. As máscaras que envelhecem os intérpretes foram criadas a partir da caracterização do reisado, dos caretas e dos tremembés de Itarema (237 km de Fortaleza). Agricultores idosos inventam as alegorias e traçam figurinos a partir de camisas, coco e borracha.

De Beberibe (83,3 Km de Fortaleza) o grupo tomou emprestado duas músicas do grupo Acasos das Dramistas. Em Tauá (344,7 Km de Fortaleza) e Icó (358,1 Km de Fortaleza), a trupe fez intercâmbio com companhias teatrais. O ator francês Maurice Durozier (do Théâtre du Soleil) indicou a direção da figura da avó e as mais afetuosas perspectivas.

As duas velhas são defendidas em atuações excelentes das atrizes Tatiana Amorim e Samya de Lavor. Rafael Martins e Rogério Mesquita trabalham no apoio e na contrarregragem, assegurando o clima.

Atores Rogério Mesquita, Tatiana Amorim, Samya de Lavor e Rafael Martins. Foto: Diego Souza.

Atores Rogério Mesquita, Tatiana Amorim, Samya de Lavor e Rafael Martins. Foto: Diego Souza.

O texto de Rafael Martins e a direção de Yuri Yamamoto caminham pelas veredas da delicadeza. A aparência do trabalho é de muita simplicidade. Mas a força emotiva revela um processo sofisticado, em que o elenco recorre a fotografias antigas e canções que envolvem a plateia.

Yuri Yamamoto constrói categorias de significados. A primeira vista estão a poesia da velhice, e o susto diante da morte. E na plataforma das centenárias senhoras, cheias de humor que insistem em não sucumbir. Em torno disso há a película do tempo, um tempo estendido e ameno.

Mas existem outras camadas que podem ser apontadas. Uma delas é bizurada pelas personagens, que já foram artistas, vem de famílias de artistas e mostram isso através de fotografias antigas. Nesse jogo cênico, também entram as questões da arte que brota em qualquer lugar e resiste longe dos incentivos oficiais.

A arte pode brotar em qualquer parte

A arte pode brotar em qualquer parte

Um espetáculo singelo, tocante, suas personagens de velhas com suas rabecas e seus bolos de banana, que carregam sacos plásticos e brincam com a ignorância com relação a tecnologia, que implicam uma com a outra e fazem divertir com tanto sentimento bom.

SERVIÇO
Interior, espetáculo do Grupo Bagaceira de Teatro
Texto: Rafael Martins
Direção: Yuri Yamamoto
Elenco: Samya de Lavor, Tatiana Amorim, Rogério Mesquita e Rafael Martins

Quando: Hoje, às 20h, no SESC Senac Iracema (Rua Bóris, 90C, Praia de Iracema.
Fone: 85 3252-2215)
Quanto: Grátis
Outras informações: Facebook.com/Grupo Bagaceira de Teatro

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