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Território da palavra
Crítica: O Céu da Língua

Gregório Duvivier em O Céu da Língua. Foto: Adriano Escanhuela / Divulgação

“A verdade é que a poesia é inútil. Nunca estive num avião em que alguém se levantou e disse: tem algum poeta nesse voo? Meu marido! Ele está sentindo alguma coisa que ele não sabe o nome. Ele enxergou o abismo da existência e precisa de alguma metáfora. Uma assonância, uma aliteração, qualquer coisa.”

A provocação de Gregório Duvivier em O Céu da Língua, logo após citar trecho de Os Lusíadas (Canto Primeiro) de Luís Vaz de Camões — “As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana, / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana” — funciona como ironia refinada que questiona frontalmente a lógica utilitarista do mundo contemporâneo. Ao declarar inútil aquilo que a montagem inteira se dedica a exaltar, Duvivier estabelece posicionamento contra o senso comum que relega a poesia à marginalidade diante das necessidades práticas. Esta estratégia retórica prepara o terreno para a descoberta central do espetáculo: mostrar como a poesia habita secretamente cada palavra nossa, transformando o cotidiano em território poético inexplorado. É precisamente nessa capacidade de transformar o familiar em descoberta que reside o brilho deste monólogo de noventa minutos.

Já próximo ao final da peça, Duvivier confessa “Decassílabos. Esse é o real motivo de eu fazer essa peça. Tenho obsessão por eles…”, expondo a arquitetura do projeto: uma homenagem à métrica que atravessa séculos, conectando Camões aos grandes letristas populares, a tradição clássica à música popular brasileira. Quando demonstra como Chão de Estrelas, de Orestes Barbosa, gravada primeiramente por Silvio Caldas e que se tornou grande sucesso, esconde decassílabos perfeitos em sua melodia, ou quando descortina a sofisticação métrica na canção Língua de Caetano Veloso, Duvivier constrói ponte poética que une tradição literária e cultura popular, passado e presente. Assim, esta obsessão pelos decassílabos atua como fio condutor invisível que costura toda a apresentação.

Estreado em Lisboa no contexto das comemorações dos 500 anos de Camões, O Céu da Língua fez temporadas de sucesso em São Paulo e outras cidades e foi visto por mais de 80 mil espectadores em sua circulação nacional. A calorosa recepção no Recife, com três sessões esgotadas, motivou o próprio Duvivier a anunciar novas apresentações na capital pernambucana ainda em 2025.

Público se reconhece nas convicções do artista. Foto: Adriano Escanhuela / Divulgação

Público e Recepção: O Filtro da Audiência

A audiência de O Céu da Língua constitui segmento majoritariamente urbano, escolarizado, de classe média, culturalmente interessada, que acompanha e admira o trabalho de Duvivier. Esta plateia conhece seu percurso no YouTube, suas participações televisivas no Porta dos Fundos e Greg News, sua presença combativa nas redes sociais, sua literatura e seu posicionamento político inequívoco.

São espectadores que se identificam com suas ideias progressistas, sua oposição consistente ao projeto bolsonarista e sua defesa de valores democráticos e inclusivos. A recepção entusiástica deriva, além da qualidade da obra, da capacidade de validar e expandir referências culturais já presentes neste público que se reconhece no artista e em suas convicções.

Por outro lado, aqueles que rejeitam Duvivier pelas mesmas razões políticas que o tornam admirado por seus seguidores simplesmente não frequentam o tipo de teatro que ele faz. Esta segmentação da audiência cria um fenômeno interessante: embora O Céu da Língua não se configure como peça explicitamente política, existe uma dimensão política substancial na própria composição de sua plateia e na valorização democrática da linguagem que propõe.

Duvivier transita entre reflexões linguísticas, declamações poéticas e observações humorísticas Foto: Adriano Escanhuela / Divulgação

Gregório Duvivier constrói uma interpretação de ator tecnicamente maduro, capaz de sustentar interesse por hora e meia apoiado fundamentalmente na palavra. Sua movimentação pelo palco demonstra consciência espacial aguçada: aproxima-se da plateia para criar intimidade, recua para observações panorâmicas, utiliza pausas como pontuação dramática. O timing cômico prospera especialmente quando emerge das próprias contradições e absurdos inerentes aos fenômenos linguísticos.

Apesar da excelência geral do desempenho, alguns aspectos técnicos pontuais merecem atenção. Em determinados momentos, a dicção de Duvivier apresenta desafios que podem comprometer a compreensão parcial do texto. A velocidade acelerada em certas passagens, combinada com uma articulação ocasionalmente menos precisa, resulta na perda de vocábulos ou trechos. Isso é particularmente relevante em uma encenação que se baseia na palavra e em suas nuances semânticas e sonoras. Ajustes pontuais no ritmo da fala e maior atenção à clareza articulatória poderiam aprimorar a recepção da montagem, garantindo que a riqueza do texto seja plenamente acessível.

A arquitetura de O Céu da Língua revela uma articulação meticulosamente planejada onde os temas se entrelaçam de maneira fluida e coerente. Duvivier demonstra maestria ao transitar entre reflexões linguísticas, declamações líricas e observações humorísticas. O roteiro, integralmente publicado no livro-libreto-programa-zine, incorpora conceitos complexos de linguística, semântica, métrica e fonética de forma subliminar, convocando teóricos sem citá-los explicitamente, evitando que o conteúdo se torne árido ou excessivamente acadêmico.

Esta abordagem textual permite que o trabalho mantenha seu caráter despretensioso sem abdicar da profundidade intelectual. As transições entre os diferentes blocos temáticos são costuradas através de associações livres, jogos verbais e conexões inesperadas que mostram a inteligência do texto e a habilidade do intérprete. O mérito consiste em manter atenção em monólogo de noventa minutos sem narrativa convencional, personagens ou conflitos tradicionais.

A dramaturgia incorpora conceitos de linguística, semântica, métrica e fonética. Foto: Adriano Escanhuela

O humor chega em camadas. Nos momentos mais felizes, a comicidade emerge dos próprios absurdos da língua portuguesa, como termos que provocam desconforto inexplicável: “afta”, “íngua” e “seborreia”.

Sob a direção de Luciana Paes, a montagem adota uma estética conscientemente minimalista que intensifica o foco na performance de Duvivier. O palco é mantido despojado, sem cenários elaborados ou elementos que possam competir com a centralidade da palavra e do intérprete.

As projeções visuais, criadas por Theodora Duvivier, formam imagens que dialogam poeticamente com as expressões ditas. A iluminação de Ana Luzia de Simoni emprega contrastes cromáticos e variações de intensidade que estabelecem ambientes distintos conforme o tom das diferentes passagens.

A dimensão musical da peça, com o contrabaixista Pedro Aune, amplifica o clima criado pelo texto. Canções como Chão de Estrelas e Livros são integradas com precisão, destacando a presença da poesia na cultura popular brasileira.

Theodora Duvivier trabalha as imagens no retroprojetor. Foto: Adriano Escanhuela / Divulgação 

Pedro Aune ao contrabaixo desenvolve a trilha sonora. Foto: Adriano Escanhuela / Divulgação

O figurino de Elisa Faulhaber e Brunella Provvidente materializa visualmente a proposta conceitual através da combinação entre jaqueta de inspiração esportiva contemporânea com zíper e gola de rufos elisabetana. Esta justaposição temporal comunica eficazmente a ideia central: como a língua portuguesa conecta diferentes épocas históricas. Durante a apresentação, Duvivier explica a origem da gola através de anedota cômica sobre a Rainha Elisabeth e sua suposta sarna, demonstrando como elementos aparentemente arbitrários da moda carregam histórias fascinantes.

Duvivier conduz o público por questionamentos sobre como os vocábulos moldam nossa percepção da realidade. O ator cria momentos teatrais prazerosos que exibem riquezas linguísticas cotidianamente ignoradas, construindo comunidade cultural através da celebração da palavra compartilhada. 

Partindo da ironia de declarar inútil algo que estrutura nosso pensamento e comunicação, O Céu da Língua constitui uma experiência de redescoberta coletiva onde saímos do teatro carregando renovado apreço pela riqueza poética que habita nossa própria fala cotidiana. Neste sentido, Duvivier reverencia a língua portuguesa, oferecendo uma reflexão sobre nossa relação com as palavras, domínio onde a poesia se mantém viva e acessível para quem se dispõe a escutar com atenção renovada.

 

Ficha Técnica

Interpretação e Texto: Gregório Duvivier
Direção e Dramaturgia: Luciana Paes
Assistência de Direção e Projeções: Theodora Duvivier
Direção Musical e Execução da Trilha: Pedro Aune
Cenografia: Dina Salem Levy
Assistente de Cenografia: Alice Cruz
Figurino: Elisa Faulhaber e Brunella Provvidente
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Diretor Técnico: Lelê Siqueira
Diretor de Palco: Feee Albuquerque
Visagismo: Vanessa Andrea
Fotos de Divulgação: Demian Jacob
Fotos de Cena: Joana Calejo Pires e Raquel Pellicano
Design Gráfico Publicação: Estúdio M-CAU – Maria Cau Levy e Ana David
Identidade Visual Divulgação: Laercio Lopo
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Marketing Digital: Renato Passos
Redes Sociais: Lucas Lentini e Theodora Duvivier
Administração: Fernando Padilha e Lucas Lentini
Produção Executiva: Lucas Lentini
Direção de Produção: Clarissa Rockenbach e Fernando Padilha
Produção: Pad Rok

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Cartografia cênicas:
o teatro desses dias de setembro no Recife

-Gregório Duvivier em O céu da língua. Foto Priscila Prade / Divulgação 

Numa cidade como o Recife, que transborda manifestações culturais diariamente, nossa curadoria teatral seleciona espetáculos que merecem atenção de público implicado, apaixonado. O teatro, como linguagem que nos interessa prioritariamente, divide espaço com propostas cênicas híbridas e performances que expandem fronteiras artísticas, compondo um mosaico que vai do experimental franco-pernambucano às grandes produções nacionais que escolhem Recife como praça. Nessas sugestões também incluímos a estreia da Flup.PE (Festa Literária das Periferias) e dois shows musicais autorais – Ivyson e Pedra Letícia – que dialogam com nossos interesses.

Nosso recorte aponta a oferta de montagens na cidade que problematizam questões contemporâneas através de linguagens cênicas variadas, biografias artísticas que se transformam em dramaturgia e propostas que interrogam o próprio fazer teatral. São nossas apostas temporárias entre locais e circulação nacional, destacamos trabalhos que dialogam com urgências do presente e que buscam alguma complexidade formal.

Banquete de Amor e Falta, da (Acupe Grupo de Dança, integra programação do CumpliCidades

Operando como laboratório de questões identitárias contemporâneas, o festival Cena CumpliCidades reúne três coreografias internacionais que funcionam como tríptico sobre pertencimento cultural. Com 30 minutos de duração, Chenn com Yoghan “Hope” Tacita e Francis “Madak” Saint-Albin, articula hip-hop, break e krump como arqueologia do trauma colonial, enquanto Frida Kahlo – A Coluna Quebrada, solo de Jussandra Sobreira, investiga em 10 minutos a transcendência artística através da dor física. Completando o trio, Mes Horizons. com Shaona Legrande, propõe reflexão intimista de 15 minutos sobre identidade cultural – produção Touka Danses CDCN Guiana Francesa que dialoga diretamente com processos de descolonização cênica.

Dentro da programação local do CumpliCidades, a performance Se Eu Fosse Malcolm não se constitui como biografia, mas como diálogo crítico com o legado de Malcolm X através de teatro épico narrativo que amalgama música identitária e abordagem decolonial. I

nspirado em estudos lacanianos sobre topologia amorosa, Banquete de Amor e Falta (Acupe Grupo de Dança) traduz pesquisas do Sistema Laban em movimentação cênica que explora figuras topológicas na perspectiva do amor, mergulhando na poesia como alicerce para linguagem corporal.

A partir do romance de Rachel de Queiroz, Mouras utiliza o universo de Maria Moura como pretexto para investigação coreográfica sobre resistência feminina nordestina, transformando o palco em território vivo de luta e memória. A investigação sobre identidade prossegue em Se eu fosse eu, onde Luna Padilha convida o público a refletir sobre autopercepção através da dança, explorando a tensão entre o “eu real” e o “eu persona” num encontro com os múltiplos EUS que habitam cada corpo.

Contando Histórias é apresentado pela ONG INTEGRARTE, que favorece o desenvolvimento de pessoas com déficit de inteligência através da arte. O espetáculo nasceu do contexto da pandemia, criando trama onde artistas isolados em suas casas encontram, nos sonhos, a possibilidade de se reunir novamente. Entre abraços e reencontros imaginados, cada um compartilha sua vivência durante a Covid-19, transformando saudade, dor e resistência em poesia cênica com leveza, emoção e sensibilidade que reafirma o poder da arte como memória, encontro e cura coletiva.

Balancê Antropofágico propõe inversão simbólica onde ancestralidade nordestina “devora” modernidade europeia – projeto de YLA (19 anos de vivência francesa) com guitarrista Jeff Manuel que opera como manifesto sonoro anticolonial.

Ocupação Espaço O Poste aposta na arte continuada e formação. Na foto Helô em Busca do Baobá Sagrado

Fomentado pelo Programa FUNARTE de Apoio A Ações Continuadas 2023, a Ocupação Espaço O Poste desenvolve programação que democratiza acesso às artes cênicas através de propostas experimentais e pedagógicas. Helô em Busca do Baobá Sagrado exemplifica essa abordagem ao apresentar ensaio aberto que convida crianças e responsáveis a contribuir com olhares sobre obra em processo, transformando a menina Helô numa heroína que parte em missão para encontrar o Fruto Sagrado do Baobá e curar seu povo da tristeza ocasionada pelo racismo.

A proposta de Agrinez Melo reúne personagens encantados como Pé de Jaca, Dr. Sapão, Anahí, Corujita e Comadre Fulorzinha numa aventura que confronta Seu Quadrado e sua visão cinza do mundo, operando simultaneamente como arte e ferramenta de transformação social. O projeto Ocupação exemplifica políticas de fomento continuado que garantem pesquisa, experimentação e formação em espaços artísticos independentes, consolidando circuitos alternativos de produção na cidade.

Enquanto você voava, eu criava raízes, da Cia. Dos à Deux. Foto: Divulgação

Precedido de 60 mil espectadores e críticas que destacam sofisticação dramatúrgica, O Céu da Língua chega com Gregório Duvivier – formado em Letras, autor de três livros de poesia – utilizando stand-up como dispositivo para reflexão metalinguística sobre língua portuguesa. Sob direção de Luciana Paes (Cia. Hiato), o espetáculo opera entre comédia e ensaio, propondo “escuta afetuosa” da linguagem cotidiana.

Representando 25 anos de pesquisa franco-brasileira, Enquanto você voava, eu criava raízes (Cia. Dos à Deux) consolida linguagem de André Curti e Artur Luanda Ribeiro que prescinde da palavra para investigar corporalidades em trânsito. Premiado por APTR e Shell, o trabalho exemplifica teatro físico contemporâneo que dialoga com tradições europeias sem perder especificidade brasileira.

Memória e Biografia como Dramaturgia

Mel Lisboa como Rita Lee

Através da figura de Renato Prietto – ator consagrado da dramaturgia kardecista nacional – Chico Xavier em pessoa propõe “sabatina” com o médium que psicografou mais de 400 livros. Dirigido por Rogério Faria Jr., o formato transmídia questiona fronteiras entre encenação e documento, transformando figura histórica em personagem teatral através de dramaturgia de Rodrigo Fonseca.

Marcando retorno de Mel Lisboa ao papel que a consagrou, Rita Lee Autobiografia Musical desta vez se baseia na autobiografia da cantora (bestseller com 200 mil exemplares). Sob direção de Márcio Macena e Débora Dubois, a montagem transforma confissão editorial em partitura cênica, explorando “honestidade escancarada” como material dramatúrgico.

Produções Pernambucanas em Destaque

Aurora entre vias e vida. Foto Max Levay

Inaugurando dramaturgia autoral do Centro de Artes Grupo Vida (45 anos, Rita Vieira), Aurora entre Vias e Vidas transforma toponímia recifense – Rua do Sol, Rua da Aurora – em alegoria urbana. Com direção cênica de Analice Croccia, o espetáculo reúne 60 bailarinos em proposição multigeracional que inclui intervenção de arte urbana (Teo Armando) e trilha com artistas pernambucanos, celebrando a cidade através de dança multimídia que combina jazz, sapateado, contemporâneo e danças urbanas.

Idealizado por Babi Johari em coautoria com Caio Pinheiro, Híbridos – Enlaces explora ancestralidade das conexões através de dança fusionada de base oriental árabe. A proposta gratuita no Teatro Arraial transborda inquietações através de impressões próprias sobre liberdade, movimento e som, caracterizando-se por elementos diferentes que compõem este gênero de dança híbrida.

Vencedor de Melhor Espetáculo no festival Janeiro de Grandes Espetáculos 2023, Pedras, Flor e Espinho – O Musical mergulha na cultura nordestina através da história de uma família sertaneja em fuga após emboscada que muda seus destinos. A produção traz emoção, poesia e trilha sonora autoral, transformando jornada árida em narrativa sobre violência e esperança do sertão.

As avós, com Olga Ferrario

Investigando ancestralidade feminina através de experimentação que conecta teatro e cinema, As Avós (Olga Ferrario) propõe “espiral em movimento” como metáfora para transmissão matrilinear de saberes. A montagem dialoga com tendências contemporâneas de autobiografia familiar como material cênico, convocando sentimentos, sensações e aprendizados sobre ciclos, nascimentos e mortes.

Teatro Imersivo e Novas Tecnologias
Representando adaptação brasileira de formato internacional, The Jury Experience (direção Talita Lima) transforma espectadores em jurados de caso criminal fictício. A proposta utiliza códigos QR e interatividade digital para questionar limites entre ficção e realidade, colocando decisões éticas nas mãos do público através de dramaturgia participativa de 75 minutos.

Sharlene Esse, primeira dama trans do Teatro Pernambucano participa de O Shá da Meia Noite

Destacando-se pela participação de Sharlene Esse, primeira dama trans do Teatro Pernambucano, O Shá da Meia Noite apresenta comédia vaudeville que problematiza disputas por estrelato. A presença de Sharlene representa avanço na representatividade trans nos palcos locais, consolidando carreira de mais de 40 anos que a transformou em referência LGBTQIA+ na cena pernambucana em trama de intrigas artísticas entre cantora veterana e coristas invejosos.

Música Autoral e Celebrações
Expandindo seu discurso amoroso em “Afinco“, seu novo disco, o cantor e compositor pernambucano Ivyson traz lirismo e sensibilidade raros no panorama nacional. Reconhecido pelo hit Girassol e pelo álbum O Outro Lado do Rio, o artista mistura raízes regionais com sonoridades contemporâneas numa proposta que vai do maracatu ao indie rock com letras profundamente sentimentais.

Comemorando 20 anos de trajetória no rock cômico brasileiro, Pedra Letícia chega sob comando de Fabiano Cambota para celebrar uma jornada que levou a banda goiana de bares regionais para programas de TV de grande audiência. A turnê comemorativa promete viagem pela trajetória do grupo, relembrando sucessos que incluem participação no Programa do Porchat como banda oficial e o viral Como que Ocê Pôde Abandoná Eu?.

Flup.PE, Literatura Periférica em Movimento

Estreando em Pernambuco com curadoria de Jaqueline Fraga (finalista Jabuti 2020) e coordenação de Tarciana Portella, a Festa Literária das Periferias reúne Itamar Vieira Junior, Marilene Felinto, Jesse de Souza, Carla Akotirene e muitas personalidades da literatura, das artes em geral e dos movimentos sociais, em homenagem a Solano Trindade. O evento opera como plataforma de democratização literária, expandindo circuitos tradicionais através de programação gratuita no Compaz Eduardo Campos.

 

PROGRAMAÇÃO SELECIONADA

📅 10-14 DE SETEMBRO

FLUP – Festa Literária das Periferias
📍 Compaz Governador Eduardo Campos, Alto de Santa Terezinha
🕐 Horários variados durante os 5 dias
🎫 GRATUITO | ♿ Com tradução em libras
Democratização literária através de saberes periféricos
📲 @flup.pe2025 | vempraflup.com.br/flup-pernambuco

📅 10 DE SETEMBRO 

Se Eu Fosse Malcolm
📍 Teatro Apolo | 🕐 19h
🎫 GRATUITO | 🎭 14 anos | ⏱️ 60min
Diálogo crítico com legado de Malcolm X via performance épica

Pedras, Flor e Espinho – O Musical
📍 Teatro Barreto Júnior | 🕐 19h30
🎫 R$ 40 ∣R$ 20  | 🎭 14 anos | ⏱️ 2h
Drama sertanejo premiado sobre família em fuga através do Nordeste

📅 10-21 DE SETEMBRO

Enquanto você voava, eu criava raízes – Cia. Dos à Deux (Temporada de 2 semanas)
📍 CAIXA Cultural Recife | 🕐 20h
🎫 R30(inteira)∣R 15 (meia) | 🎭 18 anos | ⏱️ 55min
25 anos de pesquisa franco-brasileira em teatro físico

📅 11 DE SETEMBRO 

Mouras
📍 Teatro Apolo | 🕐 18h
🎫 R20(inteira)∣R 10 (meia)
Resistência feminina sertaneja inspirada em Rachel de Queiroz

Chico Xavier em pessoa – Renato Prietto
📍 Teatro de Santa Isabel | 🕐 20h
🎫 R80(inteira)∣R 40 (meia/social)
Sabatina transmídia com médium que psicografou 400 livros

Três Coreografias Internacionais (Chenn/Frida Kahlo/Mes Horizons)
📍 Teatro Hermilo Borba Filho | 🕐 20h
🎫 GRATUITO | ⏱️ 55min total
Tríptico franco-guianense sobre trauma colonial e pertencimento

📅 12 DE SETEMBRO 

Se eu fosse eu – Luna Padilha
📍 Teatro Apolo | 🕐 19h
🎫 R$ 20 | 🎭 14 anos
Investigação coreográfica sobre múltiplos EUS que habitam cada corpo

O Céu da Língua – Gregório Duvivier
📍 Teatro do Parque | 🕐 20h
🎫 Plateia: R140(inteira)∣R 70 (meia) | Camarote: R120(inteira)∣R 60 (meia) | 🎭 12 anos | ⏱️ 85min
Metalinguagem cômica sobre língua portuguesa por poeta-comediante

Pedra Letícia – 20 Anos
📍 Teatro Luiz Mendonça | 🕐 21h
🎫 A partir de R$ 70
Duas décadas do rock cômico que conquistou o Brasil

📅 13 DE SETEMBRO 

Helô em Busca do Baobá Sagrado (Ensaio aberto – Ocupação Poste)
📍 Local a confirmar | 🕐 16h
🎫 GRATUITO (Sympla – sujeito à lotação)
Ensaio aberto infantil sobre aventura antirracista

O Céu da Língua – Gregório Duvivier (Sessão extra)
📍 Teatro do Parque | 🕐 17h
🎫 Plateia: R140(inteira)∣R 70 (meia) | ⏱️ 85min
Humor inteligente que transforma palavras em poesia

Contando Histórias – Grupo INTEGRARTE
📍 Teatro Apolo | 🕐 18h
🎫 R20(inteira)∣R 10 (meia) | 🎭 LIVRE
Teatro inclusivo sobre reencontros imaginados durante a pandemia

Banquete de Amor e Falta – Acupe Grupo de Dança
📍 Teatro Hermilo Borba Filho | 🕐 19h
🎫 R$ 20 | 🎭 16 anos
Figuras topológicas do amor em linguagem corporal poética

Aurora entre Vias e Vidas
📍 Teatro de Santa Isabel | 🕐 19h
🎫 A partir de R$ 60 | ⏱️ 1h30
Toponímia recifense transformada em alegoria urbana multigeracional

As Avós – Olga Ferrario
📍 Espaço Rede Moinho, Travessa Tiradentes, 148 | 🕐 19h
🎫 R$ 30 + taxa
Experimentação teatro-cinema sobre ancestralidade matrilinear

IVYSON
📍 Teatro Luiz Mendonça | 🕐 20h
🎫 R50aR 100
Lirismo pernambucano que conquistou o país com “Girassol”

📅 14 DE SETEMBRO 

Balancê Antropofágico – YLA e Jeff Manuel
Museu de Arte Sacra de Pernambuco, Olinda | 🕐 16h30
🎫 GRATUITO (50 vagas por ordem de chegada)
Manifesto sonoro anticolonial franco-pernambucano

Aurora entre Vias e Vidas
Teatro de Santa Isabel | 🕐 17h
🎫 A partir de R$ 60 | ⏱️ 1h30
Travessia sensível entre concreto e imaginário recifense

📅 18 DE SETEMBRO 

O Shá da Meia Noite
Teatro Fernando Santa Cruz | 🕐 19h30
🎫 GRATUITO (retirar pelo Sympla)
Vaudeville com Sharlene Esse, primeira dama trans do teatro pernambucano

Rita Lee Autobiografia Musical – Mel Lisboa
📍 Teatro Luiz Mendonça | 🕐 20h
🎫 A partir de R$ 110 + taxas
Bestseller editorial transformado em confissão cênica

📅 19 DE SETEMBRO 

Híbridos – Enlaces
📍 Teatro Arraial Ariano Suassuna, Rua da Aurora | 🕐 19h
🎫 GRATUITO
Dança fusionada que explora ancestralidade das conexões orientais

O Shá da Meia Noite
Teatro Fernando Santa Cruz | 🕐 19h30
🎫 GRATUITO (retirar pelo Sympla)
Vaudeville com Sharlene Esse, primeira dama trans do teatro pernambucano

Rita Lee Autobiografia Musical – Mel Lisboa
📍 Teatro Luiz Mendonça | 🕐 20h
🎫 A partir de R$ 110 + taxas
Bestseller editorial transformado em confissão cênica

📅 20 DE SETEMBRO 

Rita Lee Autobiografia Musical – Mel Lisboa
📍 Teatro Luiz Mendonça | 🕐 16h
🎫 A partir de R$ 110 + taxas
Bestseller editorial transformado em confissão cênica

Híbridos – Enlaces
📍 Teatro Arraial Ariano Suassuna, Rua da Aurora | 🕐 19h
🎫 GRATUITO
Dança fusionada que explora ancestralidade das conexões orientais

Rita Lee Autobiografia Musical – Mel Lisboa
📍 Teatro Luiz Mendonça | 🕐 20h
🎫 A partir de R$ 110 + taxas
Bestseller editorial transformado em confissão cênica

The Jury Experience: Um Julgamento Imersivo
📍 Teatro RioMar | 🕐 20h30
Com 20% OFF (válido 9-10/09) | 🎭 12 anos | ⏱️ 75min
Formato internacional que transforma espectadores em jurados

📅 21 DE SETEMBRO 

Rita Lee Autobiografia Musical – Mel Lisboa
📍 Teatro Luiz Mendonça | 🕐 18h
🎫 A partir de R$ 110 + taxas
Bestseller editorial transformado em confissão cênica

📅 26-27 DE SETEMBRO 

Híbridos – Enlaces
📍 Teatro Arraial Ariano Suassuna, Rua da Aurora | 🕐 19h
🎫 GRATUITO
Dança fusionada que explora ancestralidade das conexões orientais

📅 02 DE NOVEMBRO 

The Jury Experience: Um Julgamento Imersivo
📍 Teatro RioMar | 🕐 20h30
🎭 12 anos | ⏱️ 75min
Formato internacional que transforma espectadores em jurados

 

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“Um homem em cima do palco pensando”

Uma noite na lua, com o ator Gregório Duvivier, substituiu o belga Kiss & Cry. Fotos: Daniel Isolani

Uma noite na lua, com o ator Gregório Duvivier, substituiu o belga Kiss & Cry. Fotos: Daniel Isolani

Uma noite na lua é um espetáculo que fez muito sucesso com Marco Nanini no final dos anos 1990. A montagem com texto e direção de João Falcão utilizava recursos tecnológicos, como projeções, para contar a história de um lunático que persegue a peça perfeita, ou pelo menos sua primeira obra escrita. Mas na verdade tudo o que ele faz é para chamar a atenção de Berenice, sua ex- mulher. Seja no plano “real” ou dentro de sua cabeça, a figura busca uma explicação por ter sido largado.

Em 2012, depois de mais de um ano batalhando por patrocínio, Gregório Duvivier montou o mesmo texto de João Falcão, que também assina a direção, a movimentação de luz e as músicas. Desta vez o palco está nu e o intérprete está sozinho.

O monólogo entrou na programação do Festival de Teatro de Curitiba para substituir a montagem belga Kiss & Cry, espetáculo este que parte da pergunta “Para onde as pessoas vão quando desaparecem de nossas vidas?”. As mãos são os personagens principais dessa jornada de lembranças para reviver o primeiro amor de uma mulher. Intrigante.

Um rapaz ao meu lado falava ao telefone e comentava com sua interlocutora que havia comprado ingresso para a encenação belga. Como ela foi cancelada e ele não trocou o ingresso, foi conferir Uma noite na lua, que não sabia nem do que se tratava. Mas a meia casa do enorme Teatro Guaíra não era só de desavisados. Havia fãs de Duvivier e do trabalho que o ator desenvolve, inclusive na internet. Os admiradores foram parabenizar o intérprete depois da apresentação.

Luz do espetáculo funciona quase como personagem

Luz do espetáculo funciona quase como personagem

Bem, de qualquer forma, foi um desafio e tanto. O protagonista parte de uma frase “Um homem em cima do palco pensando” para criar diálogos com ele mesmo, que em sua cabeça se transformam em vários seres, todos eles no fundo lutando pelo amor de Berenice. São os fluxos de pensamento do personagem. E ele vive diversas emoções, desde a sensação de fracasso por ainda não ter concluído um único texto ou peça até culpar os grandes escritores que nasceram antes. Porque o nosso herói teria aquela ideia brilhante de Shakespeare ou de Garcia Lorca.

Nesse costurado de João Falcão, o ator percorre um caminho que parece um jogo em que ele pode avançar ou retroceder. No fundo é uma peça contemporânea sobre o amor, com doses generosas de humor e poesia. E que ganha o espectador ao mostrar as fragilidades do homem que precisa de sua Berenice para viver melhor.

Duvivier se entrega totalmente ao personagem e à cena. E elogia seu encenador (quando vou conversar com ele nos camarins) dizendo que João Falcão é o melhor diretor de ator do Brasil, que nada fica fora do lugar, que o Falcão amarra bem as cenas, com palavras, entonações e gestos.

Duvivier conquistou o troféu de “ator em papel protagonista” do 7º Prêmio APTR de Teatro, promovido pela Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro

Duvivier conquistou o troféu de melhor ator do 7º Prêmio APTR de Teatro

O miolo da peça é simples. O protagonista vai a uma festa (na esperança de encontrar Berenice) e num determinado momento oferece um texto a um jovem ator em ascensão. O ator topa a parada e diz que vai pegar a obra no dia seguinte. O problema é que não existe obra nenhuma. Ele não escreveu nada ainda.

O personagem enfrenta seus fantasmas, articula histórias sem lógica, que entram pela madrugada. É o show de Gregório Duvivier. Seus deslocamentos físicos traçam desenhos coreográficos no palco. Seu gestual tanto segue por momentos grandiosos quanto investe em mínimos detalhes, sempre com muita propriedade. A voz do ator é boa e ele traça modulações enquanto o tempo passa e o seu estado de espírito vai ganhando novas camadas. É uma interpretação potente, de um jovem de 26, que mereceu o troféu de “ator em papel protagonista” do 7º Prêmio APTR de Teatro, promovido pela Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, que foi entregue na segunda-feira.

O rapaz do lado riu em alguns momentos, praticamente não se mexeu na cadeira e aplaudiu com entusiasmo ao final.

* A jornalista viajou a convite do Festival de Teatro de Curitiba

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